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Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: SEMIOLOGIA ESPECIALIZADA

29: 19-31, jan./mar. 1996 Capítulo II

SEMIOTÉCNICA NEUROLÓGICA

TECHNIQUE OF THE NEUROLOGIC EXAMINATION

José Geraldo Speciali

Docente do Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo.
CORRESPONDÊNCIA: Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Campus Univer-
sitário - Ribeirão Preto - SP - CEP: 14048-900 - Fax: (016) 633.0866

SPECIALI JG Semiotécnica neurológica. Medicina, Ribeirão Preto, 29: 19-31, jan./mar. 1996.

RESUMO: O autor descreve, suscintamente, os principais passos do Exame Neurológico. Os


objetivos principais são iniciar os estudantes da área médica, especialmente os de Medicina, nas
técnicas do Exame Neurológico e padronizá-las no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

UNITERMOS: Anamnese. Diagnóstico Neurológico. Exame Físico. Exame Neurológico. Neurologia.

I. Material necessário para realizar o exame II. Roteiro e Técnica do Exame Neurológico
neurológico:
1 - Anamnese:
Para atender aos objetivos do ensino neuroló- 1.1. Queixa e duração.
gico, é necessário que os alunos disponham de instru- 1.2. História da moléstia atual.
mentos adequados que serão exigidos, por serem in-
1.2.1. Início:súbito, insidioso.
dispensáveis ao exame clínico. Consideramos essen-
cial que todo estudante tenha, para uso pessoal, o se- 1.2.2. Evolução: estacionária. Regressiva. Progressiva.
guinte material: Paroxística. Recidivante Ondulante.
1.2.3. Tratamentos anteriores.
1. Abaixador de língua
O início súbito deve ser comparado, para o pa-
2. Algodão ciente entender bem, como sendo parecido com o esta-
3. Alfinete lar de um trovão e deve ser diferenciado, por exemplo,
de um início rápido, mas que dure alguns segundos ou
4. Estilete de ponta romba poucos minutos. O primeiro caso lembra a ruptura de
5. Fita métrica um aneurisma cerebral, enquanto que o segundo lembra a
instalação de acidente vascular cerebral isquêmico.
6. Lanterna de bolso O início insidioso lembra lesão expansiva ou
7. Martelo de reflexos. doenças, lentamente, progressivas como a Doença de
Parkinson e a Doença de Alzheimer.
8. Diapasão de 128 ou 256 Hertz
O tipo de evolução ajuda no raciocínio do diag-
9. Oftalmoscópio. nóstico etiológico.

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A evolução estacionária indica uma doença que 2.3. Exame de crânio: palpação, percussão, ausculta.
deixa seqüela, como por exemplo um trauma medular 2.4. Exame da coluna: inspeção, movimentação ativa,
ou hemorragia cerebral. Se no decorrer dos meses percussão.
(dias), houver melhora dos sinais/sintomas, a evolu- 2.5. Exame de ossos e articulações. Alterações tróficas.
ção é chamada de regressiva. Pontos dolorosos.
A evolução progressiva lembra patologias que
2.6. Aparelho cardio-respiratório.
aumentam com o tempo, como as doenças degenerativas
e as lesões expansivas. 2.7. Aparelho digestivo.
A evolução paroxistica e recidivante diferem ape- 2.8. Aparelho gêniturinário.
nas na duração dos sintomas. No primeiro tipo, os si- 2.9. Pulsos arteriais: carotídeo, radial, femural, pedioso,
nais/sintomas devem durar por minutos ou poucas horas temporal superficial.
(ex. crise epiléptica, enxaqueca) enquanto no segundo
tipo, os sinais/sintomas poderão durar meses (ex. Escle- 3. Exame psíquico
rose Múltipla) e depois regredir, total ou parcialmente.
3.1. Estado de consciência: coma, confusão mental.
A evolução ondulante caracteriza algumas
Delírio. Excitação psicomotora.
doenças que sofrem influência de fatores internos, como
a hipo ou hiperglicemia, uremia, amonemia ou exter- 3.2. Estado mental: Orientação auto e alopsíquica.
nos como o frio (afetando a circulação cerebral, por Atenção. Memória (fixação, conservação, evoca-
exemplo). ção). Afetividade. Associação de idéias. Raciocí-
nio. Alucinação e ilusão.
1.3. Interrogatórios: Cefaléias. Vômitos. Alterações
visuais. Convulsões. Desmaios. Dor. Parestesias. 3.3. Estado emocional: apatia, depressão, ansiedade,
Anestesias. Fraqueza muscular. Paralisias. Atro- hiperemotividade.
fias. Tremores. Movimentos involuntários. Alte- O paciente pode estar inconsciente. Poderá es-
ração de marcha. Fala. Escrita. Distúrbios psí- tar deitado, no leito de olhos fechados, diferindo do
quicos. Alterações do apetite. Emagrecimento. sono por não ser possível despertá-lo, mesmo com es-
Alterações dos esfíncteres. Distúrbios sexuais. tímulos intensos. Neste caso, o paciente está em coma
1.4. Antecedentes Pessoais: Condições de gestação: que pode ser superficial ou profundo. A avaliação da
moléstias, febre, uso de medicamentos, traumas, profundidade do coma será visto em outro fascículo. O
exames radiológicos, tratamentos por radiações. paciente inconsciente poderá estar acordado, deambu-
Condições de nascimento e neonatais: tipo de lando ou até agitado. Neste caso, poderá não obedecer
parto, anoxia cerebral, choro, sucção, convulsões, ordens, não conseguir manter diálogo coerente (confu-
icterícia, complicações cardio-respiratórias. De- são mental) ou apresentar alucinações, ilusões ou delí-
senvolvimento psicomotor. Rendimento escolar e rios (de grandeza?). Estes casos são chamados de es-
no trabalho. Traumatismos crânio-encefálicos. tados confusionais.
Moléstias infecciosas. Teníase. Moléstias vené- Se o paciente está consciente, avaliaremos a orien-
reas. Condições de nutrição. Etilismo. Tabagis- tação no tempo (dia, mês, ano, idade, etc) e no espaço
mo. Drogas e Tóxicos. Convulsões. (endereço onde reside, onde está agora, há quanto tem-
1.5. Antecedentes familiares: Antecedentes obsté- po, etc).
tricos maternos (nº de gravidezes, abortos e fi- A atenção e a memória podem ser testadas soli-
lhos). Moléstias semelhantes e neurológicas na citando ao paciente para repetir seqüências de núme-
família. Levantamento familiar. Consangüini- ros ou palavras na ordem direta ou inversa, fazer pe-
dade dos pais. Verminose. quenos cálculos como por exemplo tirar 7 de 100, por
4 a 5 vezes, etc.
Quanto à memória, podemos testar a memória
2. Exame físico geral remota, que dificilmente é perdida (onde nasceu, onde
morou quando criança, os filhos, etc), a memória re-
2.1. Tipo constitucional. Mucosas. Estado de nutrição. cente que, freqüentemente, é comprometida nas síndro-
2.2. Alterações cutâneas: manchas hipercrônicas, hi- mes demenciais e pode ser testada, perguntando-se se
pocrônicas e vinhosas, adenomas de face, tumo- já almoçou, como veio até o hospital, que dia é hoje,
ração, alterações tróficas da pele e anexos. qual a cidade onde está, etc.

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Semiotécnica neurológica.

O raciocínio e a associação de idéias podem ser Na determinação de nível de sensibilidade, com


testados, propondo-se pequenos problemas matemá- exatidão, pode-se, entrar e sair, com os estímulos cor-
ticos ou solução de alguma situação do cotidiano. respondentes, nas áreas afetadas, solicitando-se ao pa-
Pode-se, ainda, pedir para o paciente interpretar pe- ciente dizer o momento que as sensibilidades aumentam
quenas histórias ou provérbios bem conhecidos. (quando sai da área afetada) e diminuem (quando en-
A avaliação do estado emocional é vista em de- tra na área afetada). Esta manobra poderá ser repetida
talhes no curso de Semiologia Psiquiátrica. Devemos em casos de dúvidas, várias vezes ou em dias subse-
assinalar neste ponto do exame a presença de ansie- qüentes. É necessário fazer-se um mapa das alterações
dade excessiva, depressões evidentes ou alteração da da sensibilidade em um desenho do corpo humano.
afetividade. Nota: Chama-se Disestesia, quando há uma sen-
sação alterada em relação ao estímulo. Por exemplo:
4. Exame neurológico: sensação de queimação quando o estímulo é doloroso
ou táctil.
4.1. Sensibilidade:
A sensibilidade proprioceptiva pode ser pes-
Superficial: táctil, térmica, dolorosa.
quisada através de um diapasão (de 128 ou 258 Hz),
Proprioceptiva ou profunda: Cinético-postural.
colocando-o nas saliências ósseas: dorso do pé, maléo-
Vibratória (palestésica).
los, tíbia, rótula, sínfise púbica, cristas ilíacas, falange
O exame da sensibilidade sempre é subjetivo, dos dedos, esterno, olécrono, clavícula, etc. Neste tes-
pois depende da informação prestada pelo paciente. te, a sensibilidade pode estar diminuindo ou ausente.
É necessário perguntar, antes do início do exame se Deve-se sempre comparar pontos homólogos, partindo
há alguma região que sente anestesia (ausência de qual- de pontos distais para proximais. Para melhor confia-
quer tipo de sensibilidade) ou parestesia (sensações bilidade do exame, coloca-se o diapasão ora parado,
de formigamento, queimação ou outra sem estímulos ora vibrando, solicitando-se ao paciente que faça esta
para provocá-las). Em seguida, faz-se os estímulos cor- diferença. Explicar e fazê-lo entender que ele deve per-
respondentes: ceber a vibração (sensibilidade profunda) e não a sen-
Dor, de preferência usar um alfinete que pro- sação de algo mais frio encostar na pele (sensação tér-
voca dor, mas não penetra a pele. O examinador testa mica e/ou táctil ).
em si mesmo a força que deve fazer e, depois examina Outra forma de testar a sensibilidade proprio-
o paciente. Táctil, usa-se um algodão seco, gaze ou ceptiva é colocar um dos membros numa determinada
um pedaço de lenço de papel. Térmica, usa-se dois posição estando o paciente de olhos fechados e solici-
tubos de ensaio cheios, um de água fria (+ ou - 10°C) tar para que coloque o membro homólogo na mesma
e outro de água quente (+ ou - 45°C), coloca-se de posição. Isto será feito, corretamente, se houver inte-
maneira aleatória os tubos, nos locais a serem testa- gridade da sensibilidade profunda. Uma manobra muito
dos. Os testes devem ser feitos nas regiões suspeitas, usada é balançar os dedos da mão ou do pé, de prefe-
comparando-se a sensibilidade dessas regiões com ou- rência o primeiro dedo, pegando-o pela bordas laterais
tras, consideradas normais. Uma sistematização inte- e parar com o dedo, ora em flexão, ora em extensão e
ressante pode ser usada: testar os membros iniciando-se pedir ao paciente identificar esta posição de olhos fe-
dos dedos até a raiz para detectar algum nível em “luva” chados (o dedo está para cima ou para baixo?)
ou em “bota” de perda das sensibilidades (indicaria
polineuropatia periférica) A seguir, testa-se as circun- 4. 2. Motricidade
ferências dos membros na altura da mão, antebraço, 4.2.1. Mão dominante.
braço, pé, perna e coxa para detectar alguma faixa de
perda das sensibilidades (indicaria comprometimento 4.2.2. Marcha: com ou sem apoio. Impossibilidade de
de raízes sensitivas). A seguir, pesquisa-se a sensibili- andar (abasia). Observar os movimentos associados.
dade do tronco de um lado e do outro, comparando-se Andar nos calcanhares, na ponta dos pés, de olhos fe-
áreas homólogas, ao mesmo tempo vai-se caminhando chados. Corrida. Andar num pé só. Marcha de olhos
pelo tronco, cranialmente, até a mandíbula (poderia fechados, indo e voltando três passos sem virar (Mar-
indicar níveis de alteração das sensibilidades sugesti- cha de Babinski -Weill).
vas de patologias medulares). Não esquecer de exami- As alterações mais comuns da marcha são: mar-
nar as regiões ventral e a dorsal. cha espástica (hipertonia em extensão dos membros

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inferiores, uni ou bilateral, mudando o passo com a Provas contra a força da gravidade — coloca-
abdução da coxa sobre a bacia, às vezes, ultrapassando mos os membros superiores estendidos para frente, em
a linha mediana com o membro que está na frente, ângulo de 90º com o tronco, com as mãos supinadas e
obtendo-se a marcha “em tesoura”) marcha atáxica os dedos abduzidos e estendidos. Nessa posição, o
(ebriosa) marcha talomante (batendo, fortemente, com paciente deve permanecer por mais de um minuto. Ha-
os calcanhares ao mudar o passo) marcha braquibásica vendo alterações nas posições dos braços, mesmo que
(pequenos passos, arrastando os pés, virando devagar, seja apenas a adução dos dedos ou a tendência à pro-
como se tivesse calçados de chumbo). nação das mãos, há diminuição da força muscular, prin-
cipalmente se esses achados forem unilaterais. Esta
4.2.3. Motricidade ativa dos segmentos: Verificar-se prova deverá ser feita, preferentemente, com o pacien-
há paresias ou plegias. te sentado. Se estiver deitado, os braços deverão ficar
Pedir para o paciente movimentar todas as arti- num ângulo < 90º, em relação ao tronco, para a força
culações. Por exemplo: fletir ou estender os dedos, da gravidade poder atuar sobre os mesmos. A seguir,
aduzir e abduzir os dedos, fletir e estender o punho, examinamos os membros inferiores com o paciente dei-
braço, antebraço, etc. Os movimentos em determinado(s) tado em supino. Pedimos para colocar os membros in-
segmento(s) pode(m) estar ausentes (plegia) ou dimi- feriores elevados com flexão da coxa sobre a bacia e
nuídos (paresia). De acordo com a região compro- da perna sobre a coxa em ângulos > de 90º (prova de
metida, teremos os seguintes termos: monoparesia ou manobra obstétrica ou de Mingazzini). A incapaci-
monoplegia (diminuição ou ausência de movimento num dade de manter essa posição, por mais de um minuto,
membro), paraparesia ou paraplegia (diminuição ou indica diminuição da força muscular dos membros in-
ausência de movimento em membros inferiores), dipa- feriores que pode ser uni ou bilateral. Virando-se o
resia ou diplegia (diminuição ou ausência de movimen- paciente de bruços pedimos agora para fletir a perna
tos nos membros superiores ou da face), hemiparesia sobre a coxa, mantendo em ângulo > 90º, entre os seg-
ou hemiplegia (diminuição ou ausência de movimentos mentos (prova de Barré).
na face, membro superior e membro inferior de um
lado), hemiparesia desproporcionada (quando um dos 4.2.5. Trofismo Muscular. Circunferência dos braços,
três segmentos, citados acima, estiver mais compro- antebraços, coxas e pernas. Atrofias ou hipotrofias
metido), hemiparesia ou hemiplegia alterna (dimi- musculares: primária ou miogênica, desuso, parietal.
nuição ou ausência de movimentos, envolvendo gru- Hipertrofia e pseudo-hipertrofia.
pos musculares inervados por um nervo craniano de Examina-se o trofismo muscular pela inspeção,
um lado com hemiparesia ou hemiplegia de membros olhar locais de maior comprometimento como os inte-
do lado oposto), quadriparesia ou tetraparesia ou qua- rósseos, adutor do polegar, deltóide, cintura escapular,
driplegia ou tetraplegia (diminuição ou ausência de mo- panturrilhas, coxas, etc. Quando houver dúvidas quanto
vimentos dos quatro membros). à presença de assimetria, podemos medir com fita
métrica os perímetros das coxas, pernas, braços e an-
4.2.4. Força muscular (note bem, não é a mesma coisa tebraços em lugares, previamente, marcados e simétri-
de alteração na motricidade ativa dos segmentos). Pro- cos. O trofismo muscular poderá estar aumentado em
vas de contra-resistência e contra a força da gravi- algumas doenças raras. O aumento do volume do mús-
dade. Classificar a diminuição da força muscular em culo, no entanto, pode se dar pelo aumento de tecido
graus (0,1,2,3,4 e 5). fibroso conjuntivo (pseudo-hipertrofia).
Provas de contra-resistência — colocamos nos-
sa força contra todos os movimentos articulares do 4.2.6. Tono muscular: Consistência muscular. Palpa-
paciente e medimos, subjetivamente, sua força, com- ção. Passividade: balanço do segmento distal, através
parando-a com nossos próprios padrões e com a força do proximal. Estensibilidade. Hipotonia e Hipertonia.
dos segmentos contralaterais homólogos. Exemplos: pe- (piramidal e extrapiramidal).
dimos para o paciente abduzir seus braços contra uma Examina-se o tono muscular através da: a) pal-
resistência que o examinador faz, segurando os braços pação — observar a flacidez ou o enrijecimento anor-
aduzidos contra o tronco, pedimos para o paciente aper- mal de cada músculo; b) balanceio do segmento distal,
tar nossas mãos, as duas ao mesmo tempo, compa- através do proximal — balança-se as duas mãos, soli-
rando a força das mãos, etc. citando do paciente que as relaxe o mais possível,

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através do movimento de vai e vem rápido do antebra- O paciente deve ficar em pé, com os pés encos-
ço. A amplitude do movimento das mãos será propor- tados um no outro e os braços soltos ao longo do cor-
cional ao grau de hipotonia ou hipertonia. Essa mano- po. Astasia é a incapacidade de manter-se em pé. De
bra deve ser feita, também, nos pés e será mais sensí- início, o paciente fica de olhos abertos, fixados num
vel, se houver assimetria do tono muscular. c) Esten- ponto distante, na horizontal. A seguir, pede-se para
de-se o mais possível alguns grupos musculares, se, na fechar os olhos. Se o desequilíbrio surgir ou aumentar
flexão do antebraço sobre o braço, o punho alcançar o de olhos fechados, chamamos de Sinal de Romberg
ombro há hipotonia, se, na flexão da perna sobre a positivo (indica, na maioria das vezes, comprometi-
coxa, o calcanhar alcançar a nádega, há hipotonia. Essa mento de sensibilidade proprioceptiva). A prova do
manobra poderá ser feita em todas as articulações, equilíbrio pode ser sensibilizada, empurrando-se, su-
punhos, pés, ombros, coluna, etc. bitamente, o paciente para frente, para traz ou para os
Hipertonia piramidal: estando o segmento esten- lados ou, então, pedindo para o paciente colocar o cal-
dido, na tentativa de fleti-lo (solicitando do paciente que canhar de um pé em frente dos dedos do outro, ombros
fique relaxado) há uma resistência inicial e, vencida esta ficando em linha reta.
resistência inicial o movimento fica fácil, quase espon-
tâneo até a flexão total do mesmo (sinal de canivete). 4.3.2. Taxia cinética. Prova index-nariz ou index-ore-
Hipertonia extrapiramidal: estando o segmento lha. Preensão do copo. Prova dos riscos horizontais de
fletido ou estendido, ao estendê-lo ou fleti-lo há resis- Babinski, Rebound (prova de Steward-Holmes)
tências periódicas, como se fosse uma roda denteada. Na prova index-nariz, e index-orelha solicita-se
Este tipo de hipertonia poderá ser detectada supinando ao paciente para estender e abduzir os braços e, a se-
e pronando as mãos do paciente, ficando este, passivo guir, colocar os dedos indicadores no nariz ou na ore-
em relação ao movimento imprimido pelo examinador. lha, repetidamente. A prova poderá ser realizada com
movimentos simétricos e ao mesmo tempo ou alterna-
4.2.7. Movimentos involuntários anormais. Localiza-
damente, colocando-se primeiro o índex direito no na-
ção. Freqüência. Regularidade. Amplitude. Relação
riz (ou orelha) voltando a estender o braço direito e, a
com os movimentos voluntários e emoções. Tipo:
seguir, fletir o braço esquerdo, colocando o índex es-
coréia, atetose, balismo, tremores, mioclonias, distonia,
querdo no nariz (ou orelha) repetindo-se essa seqüência
fasciculação, tiques
várias vezes, de olhos abertos e, a seguir de olhos fe-
O exame é feito pela inspeção. Coloca-se o pa- chados. Durante o movimento, observamos a harmonia,
ciente sentado, com os braços estendidos para frente, a medida e o aparecimento de tremores. Alterações:
mãos em pronação e dedos em adução. Pede-se ao mes-
a - Na harmonia do movimento com fases de movimento
mo tempo para o paciente colocar a língua para fora
mais rápidos e mais lentos, mais para o alto ou mais
da boca. Nesta posição, podem surgir movimentos
para baixo.
involuntários como tremores, asterixe, coréia, atetose,
mioclonias, etc. Depois, pede-se ao paciente para fletir b - Na medida do movimento com interrupção, antes
o antebraço e abduzir os braços, com as mãos em do alvo (nariz ou orelha) ou a ultrapassagem do
frente do rosto e os dedos indicadores estendidos, es- alvo (dismetria) e
tando os demais dedos fletidos. Os indicadores devem c - Tremor que se acentua quando o índex está parado,
estar próximos, um em frente ao outro, sem se toca- próximo do alvo (tremor de intensão).
rem. Nesta posição, observa-se melhor os tremores
posturais e o bater de asa. “Bater de asa” caracteriza-se A prova do calcanhar-joelho testa a coordenação
pelo movimento involuntário de abaixar e elevar os dos membros inferiores. Deve ser feita com o paciente,
cotovelos, mantida a posição descrita acima. Estes e em decúbito dorsal, solicitando que coloque um dos
outros tipos de movimentos involuntários anormais calcanhares no joelho oposto e, a seguir, deslize o cal-
como os tiques, balismo, distonias, fasciculação, etc. canhar encostado na região tibial da perna, até a ponta
serão descritos em doenças específicas. dos pododáctilos. Este movimento deve ser feito alter-
nado, ora com um membros, ora com o outro, com o
4.3. Coordenação paciente olhando os movimentos e, a seguir, de olhos
4.3.1. Equilíbrio estático: em pé. De olhos abertos e fechados. As alterações citadas nas provas index-nariz
fechados. e index-orelha deverão ser observadas nesta. Quando

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as alterações se acentuam, após o fechamento dos olhos, reflexos profundos. Clono de pé, rotuliano, de mandí-
há comprometimento da sensibilidade propioceptiva. bula. Tríplice flexão.
Outras provas, poderão ser feitas para avalia- Toda manobra para obtenção dos reflexos pro-
ção da coordenação muscular, por exemplo, pegar um fundos ou miotáticos tem, como objetivo único, o esti-
copo cheio de água e levá-lo à boca, vestir-se, abotoar ramento rápido do músculo ou melhor dos fusos mio-
as roupas, fazer riscos horizontais, limitados por 2 tra- neurais. Lembrar-se sempre desta afirmação, toda vez
ços verticais, escrita, etc. que estiver aprendendo a evocação de um reflexo
Diadococinesia é a capacidade de inverter, rapi- miotático. Os reflexos profundos são obtidos batendo-
damente, a direção de um movimento. As duas provas se com um martelo apropriado no tendão do músculo,
mais utilizadas para avaliação da diadococinesia são: sua distensão rápida leva à contração reflexa e ao rela-
a supinação-pronação da mão (movimentos rápidos, xamento simultâneo dos músculos antagonistas. Algu-
alternados, batendo ora com a palma, ora com o dorso mas manobras facilitam o exame:
da mão no divã ou no próprio joelho) e a do rebote
a - o estado do músculo, deve-se mantê-lo não muito
(“rebound”) solicitando-se do paciente para fazer for-
estirado nem muito frouxo, deve-se procurar um
ça de flexão do antebraço sobre o braço com o exami-
estado intermediário, distendendo-o, passivamente,
nador segurando o antebraço pelo punho e, subita-
com auxílio da mão esquerda (se o examinador for
mente, o examinador solta o antebraço; reflexiva-
destro). Por exemplo: no caso do reflexo aquileano,
mente, o paciente inverte o sentido da força que está
flete-se dorsalmente o pé, mantendo-o numa posi-
fazendo, surgindo, inclusive uma pequena extensão do
ção intermediária entre a flexão e extensão.
antebraço. Estas provas alteradas indicam que há
disdiadococinesia (incoordenação de origem cerebelar). b - a pesquisa de reflexos homólogos deve ser feita com
o mesmo procedimento, de preferência em seqüên-
4.3.3. Nistagmo: horizontal, vertical, rotatório, misto. cia e com os músculos em igual grau de contração.
Nistagmo central e periférico. Só assim terá valor uma assimetria.
c - Se um reflexo não é obtido, solicita-se do paciente
Nistagmo é melhor estudado na semiologia para contrair, voluntariamente, outros segmentos do
Otoneurológica. O clínico geral deve, de rotina pes- corpo, como por exemplo, ao se pesquisar os reflexos
quisar o nistagmo, solicitando do paciente para olhar dos membros inferiores o paciente segura uma mão
para um dos lados, depois, para o outro lado, para cima na outra e faz força com os membros superiores.
e para baixo. Nistagmo uniocular é sempre de origem
central. Nistagmo multidirecional, em geral, é de ori- Reflexos axiais da face: Orbicular das pálpe-
gem central. Movimentos oculares incoordenados, ora bras, percutir a região glabelar com interposição do
mais rápidos ora mais lentos, mas sem caracterizar um dedo indicador da outra mão; resposta, contração dos
nistagmo típico, é de origem cerebelar. músculos orbiculares das pálpebras, visível pelo pis-
car bilateral. Orbicular da boca, percutir com interpo-
4.3.4. Habilidade: Escrever. Vestir-se. Abotoar-se.
sição do dedo a região supra ou infrabucal, procurando
distender o músculo orbicular da boca, ou seja no caso
do dedo estar na região supra bucal, bater com o mar-
4. 4. Reflexos: Obtenção. Manobras de facilitação.
telo de baixo, para cima; resposta de mímica parecen-
Nível de integração. Grau de respostas (0: ausente,
do com assobio ou beijo. Masseterino, bater com o
1: hipoativo, 2: normal, 3: hiperativo, 4: policiné-
martelo no queixo de cima para baixo, com interpo-
tico).
sição de dedo distendendo, subitamente, os m. mas-
4.4.1. Reflexos profundos: Orbicular das pálpebras seteres, estando a boca relaxada e semi-aberta; respos-
(ponte). Orbicular dos lábios (ponte). Mandibular ta, fechamento da boca.
(ponte). Peitoral (C8- T2). Bicipital (C5 -6). Trici- Reflexos dos membros superiores: Peitoral,
pital (C6 - 8). Estilorradial - resposta proximal (C5 - 6) percutir o tendão do músculo peitoral na sua inserção
distal (C7 - 8). Flexor dos dedos: (C7-8-T1). Costo-ab- no úmero, ou seja na borda anterior da axila com in-
dominal (T6-9). Médio-púbico (T6-12). Adutor da coxa terposição do dedo, estando o braço um pouco abduzi-
(L2-4). Patelar (L2 -4) Aquileu (S1-2). Flexor dos de- do (cerca de 20º) e o antebraço fletido; resposta, adução
dos dos pés (S1-2). Aumento da área reflexógena dos do braço. Bicipital, percutir o tendão do bíceps na sua

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inserção na região interna do cotovelo com interposi- ter os membros inferiores relaxados, ou seja, os calca-
ção do dedo (fossa intercubital) e com o antebraço nhares ficarão apoiados na cama, (mantendo-se um .ân-
fletido em 90º em relação ao braço. Se o paciente esti- gulo de + ou - 120º, na articulação do joelho). Resposta,
ver sentado, o antebraço e as mãos ficarão apoiadas extensão da perna sobre a coxa. Aquileano com o pa-
nas coxas homolaterais, com os membros superiores ciente sentado, eleva-se um pouco o pé para manter-se
bem relaxados. Se o paciente estiver deitado, apoia-se em ângulo de + ou - 90º entre a perna e o pé e percute-se
as mãos e a região distal do antebraço sobre o abdome, o tendão na sua inserção no calcâneo. Se o paciente
estando o antebraço fletido num ângulo 90º em relação estiver deitado coloca-se o pé esquerdo, com pequena
ao braço e o braço, levemente abduzido. Resposta, con- flexão deste membro, sobre a perna direita estendida e
tração do bíceps com flexão do antebraço. Estilorradial, fletindo-se, dorsalmente, o pé com a mão esquerda, per-
a posição do antebraço é a mesma do reflexo anterior, cutir o tendão de Aquiles. Resposta, contração do mús-
percutir a cabeça distal do radio ou seja na inserção do culo triceps crural com extensão do pé. A seguir, pes-
tendão do músculo estilorradial no radio com ou sem quisa-se o reflexo contralateral, invertendo-se a posi-
interposição de dedo. Resposta, podemos observar con- ção dos membros inferiores. Flexor dos dedos dos pés,
tração do músculo estilorradial com flexão do coto- com o paciente deitado e o pé ligeiramente dorsifletido,
velo e tendência à pronação da mão e do profundo co- percutir a base dos artelhos, sem interposição do dedo.
mum dos dedos com flexão dos dedos da mão. Tricipi- Resposta, flexão dos dedos do pé.
tal, percutir o tendão do m. triceps no olécrono, sem Os reflexos miotáticos podem estar ausentes,
interposição do dedo com o braço fletido e, levemente, hipoativos, hiperativos e policinéticos (seguidas con-
abduzido (mesma posição para os reflexos trações musculares, após uma percussão). Quando os
supracitados). O paciente estando deitado, o examina- reflexos miotáticos estão hiperativos pode surgir:
dor eleva um pouco o cotovelo da cama para facilitar a a - aumento da área reflexógena; às vezes, obtém-se o
percussão. Se o paciente estiver sentado o examinador reflexo bicipital ao percutir o tendão do músculo
eleva o cotovelo de forma a manter o braço na mesma peitoral,
linha do corpo com o antebraço solto, fazendo um ân- b - tríplice flexão que é a contração reflexa dos mús-
gulo de 90º com o braço. Resposta, extensão do ante- culos flexores dos membros inferiores, provocados
braço. Flexor dos dedos, com as mãos em supinação e por estímulos mínimos ou espontaneamente (flexão
os dedos semifletidos, coloca-se o dedo indicador do da coxa sobre a bacia, da perna sobre a coxa e do
examinador, transversalmente na palma da mão do pé sobre a perna) e,
paciente e percute-se. Resposta, flexão dos dedos. Po- c - clono que são abalos rítmicos repetitivos de grupos
demos usar duas outras manobras. (Troemer e musculares que surgem espontaneamente ou pro-
Hoffmann), para obtenção deste mesmo reflexo. vocados. Provoca-se o clono do pé, com a súbita
Reflexos dos membros inferiores. Médio-pú- flexão dorsal do pé, estando o paciente deitado e o
bico percutir a sínfise púbica, com o paciente deitado e membro inferior estendido. Provoca-se o clono da
com interposição do dedo e os membros inferiores es- rótula com o paciente deitado e o membro inferior,
tendidos, abduzidos num ângulo de + ou - 20º. Res- ligeiramente, fletido. Segurando-se a rótula pela sua
posta superior, contração do musculatura abdominal, borda superior, subitamente abaixá-la, mantendo-a
resposta inferior, adução e rotação interna dos mem- nesta posição. Estes achados (reflexo policinético,
bros inferiores. Adutor das coxas, percussão dos ten- tríplice flexão e clono) indicam lesão do neurônio
dões dos adutores, na inserção, na região interna do motor superior.
fêmur, com interposição do dedo. Usualmente, percu-
te-se a região interna da coxa, logo acima do final do 4.4.2. Reflexos superficiais: cutâneos abdominais: su-
fêmur com as coxas, levemente, abduzidas e o pacien- perior (T7-9), médio (T9-11), inferior (T11-12).
te sentado ou deitado. Resposta, adução das coxas. Cremastéricos (L1-2). Cutâneo-plantar (L5-S1-2).
Patelar, percute-se o tendão do músculo quadriceps Anal. Palmo-mentual (Marinesco). Sinal de Babinski
entre a rótula e a cabeça da tíbia, com o paciente sen- e equivalentes (Oppennheim, Gordon, Chaddoc,
tado, sem interposição do dedo. Se o paciente estiver Schaeffer).
deitado, eleva-se as duas coxas com o antebraço es- Nos reflexos superficiais (cutâneos e mucosos) o
querdo sob os joelhos, pedindo ao paciente para man- estímulo provocador do reflexo é superficial, feito, em

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J. G. Speciali

geral, com um estilete de ponta romba (palito de fósforo) 4.5.2. Nervo Óptico: Acuidade visual. Campo visual:
e a resposta é a contração de um grupo muscular. escotoma, hemianopsia (homônima, hecteronima),
Reflexos cutâneos. Cutâneo abdominal, estimu- quadrantopsia. Fundo de olho. Atrofia e edema de
lação com uma ponta romba a pele da região abdomi- papila.
nal dos flancos para a cicatriz umbilical na região da Examina-se a acuidade visual colocando-se em
inervação das raízes T7-T9, T9-T10, T11-T12, estando frente do paciente, a uma distância proporcional ao
o paciente deitado. Resposta, contração da musculatura
tamanho da letra, algo escrito e pede-se para que ele
abdominal com desvio da cicatriz umbilical para o lado
identifique palavras, letras e números, ora com um olho,
estimulado. Cremastéricos, estimulação da pele da face
ora com o outro. É importante não apertar o olho que
interna da coxa com o paciente deitado. Resposta, con-
está sendo tapado para não prejudicar a visão deste
tração da musculatura cremastérica homolateral com
olho, após destapá-lo. É necessário verificar a visão
elevação de testículo. Cutâneo e plantar, estimulação
para perto e para longe. O campo visual está alterado
da planta dos pés, do calcanhar em direção aos dedos,
nas lesões quiasmáticas e retroquiasmáticas e pode ser,
pela borda lateral do pé, com o paciente deitado. Res-
avaliado, solicitando-se do paciente que olhe, fixamente,
posta, flexão dos podadáctilos. Palmomentual, estimu-
na testa do examinador, estando este bem à frente do
lação cutânea da palma da mão, na região mediana, do
examinado. A seguir, o examinador desloca o dedo in-
punho em direção aos dedos. Resposta, contração da
musculatura mentoniana homolateral. dicador de ambas as mãos, nos vários pontos do cam-
Reflexos mucosas. Anal, estímulo da mucosa po visual do examinado. O examinador olha fixamente
anal, resposta, contração do esfíncter anal. Córneo pal- no olho do examinado para ter certeza do mesmo não
pebral, ver V nervo craniano. desviar o olho da testa. As hemianopsias ou quadran-
Os reflexos superficiais nunca estão exacerba- topsias são detectadas com certa facilidade, através
dos ou hiperativos. Podem estar hipoativos ou ausen- desta prova. Chama-se hemianopsia a perda total ou
tes (por exemplo, na lesão do feixe piramidal). Neste quase total da metade do campo visual. Quando as duas
caso, o reflexo cutâneo plantar pode estar ausente e, no metades são do mesmo lado do campo visual ou seja,
seu lugar, surgir o sinal de Babinski, ou seja a exten- campo nasal de um olho e o temporal do outro olho, a
são ampla e majestosa do hálux e abdução dos demais hemianopsia é chamada de homônima. Quando houver
pododáctilos. Tal resposta pode ser obtida, apertando comprometimento dos campos bitemporais ou binasais
com a mão a musculatura da panturrilha (sinal de a hemianopsia é chamada de heterônima. A perda de ¼
Gordon), apertando com os dedos, polegar e indicador do campo visual é chamada de quadrantopsia.
o tendão de Aquiles (sinal de Schaeffer), deslizando Os escotomas centrais e amaurose surgem em
com força os dedos do examinador de cima para baixo lesões pré-quiasmáticas e são percebidas quando o pa-
na crista da tíbia (Sinal de Oppennheim) ou deslizan- ciente queixa-se de cegueira deste olho. Na amaurose,
do uma ponta romba na região lateral do pé, do maléolo a perda visual é total, enquanto que no escotoma cen-
externo até o 5º pododáctilo (Sinal de Chaddoc). tral há conservação do campo periférico. Existem situ-
ações como, por exemplo, na hipertensão intracrania-
na que a perda do campo visual é periférica e o exami-
4.5. Nervos Cranianos: nador poderá demonstrar uma visão tubular.
4.5.1. Nervo Olfativo: Provas olfativas. Anosmia. Alu- O exame do fundo de olho será visto na semio-
cinações. logia oftalmológica e consta do exame, através do
oftalmoscópio.
O olfato é pesquisado com auxílio de recipien-
tes pequenos, contendo café, baunilha, limão, canela 4.5.3. Nervos oculomotores. Movimentação ativa dos
ou outros odores suaves. Aproxima-se um dos reci-
globos oculares. Diplopia. Olhar conjugado lateral,
pientes de uma das narinas (antes, tapa-se a narina
vertical superior e vertical inferior. Vergência. Parali-
oposta) e depois, da outra narina. Repete-se a opera-
sia isolada dos nervos oculomotores. Fenda palpebral.
ção, algumas vezes, até ter certeza do olfato de ambas
Pupilas. Reflexos pupilares: fotomotor, consensual, de
as narinas do paciente. Anosmia é o termo usado para
convergência, de acomodação.
a perda do olfato. Paraosmia é o termo usado para a
percepção alterada do olfato (dizer que a baunilha tem Examina-se motilidade ocular solicitando-se do
cheiro desagradável, por exemplo). paciente que olhe de um lado, do outro, para cima e

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Semiotécnica neurológica.

para baixo, estando sua cabeça fixa, dirigida para 4.5.4. Trigêmio: sensibilidade superficial da face (pele
frente. Deve-se, também, testar a motilidade ocular em e mucosas). Motricidade: masseter, temporal, pterigo-
direção intermediária àquelas, ou seja, obliquamente deos, desvio da mandíbula. Reflexos corneo-palpebral,
para cima e para fora, para cima e para dentro, etc. A estornutatório e mandibular.
seguir, pede-se para olhar para um dedo, colocado pró- A sensibilidade superficial da face é testada como
ximo aos olhos, na linha mediana, para testar a capaci- foi explicado no exame de sensibilidade. Não esquecer
dade de convergência ocular. Nestes exames, poderão que o trigêmio, também, leva à sensibilidade da boca,
surgir anormalidades: língua até os pilares amigdalianos. A sensibilidade pro-
a - diplopia (que desaparece se um dos olhos está fe- funda vibratória da face não é pesquisada, pois este
chado), indicando que o movimento de ambos os estímulo entrará no SNC, através do VIII nervo (acús-
olhos não foram simétricos. tico). A mastigação é testada, solicitando-se ao paci-
b - a excursão de um ou de ambos os olhos não é total ente para prender um abaixador de língua entre os
para uma ou mais direção testada. dentes molares de um lado e do outro. No lado parético,
Quando um olho não excursiona, totalmente o examinador retirará o abaixador de língua com maior
para fora, o nervo abducente (VI) está lesado. Quando facilidade. Ao abrir a boca, o examinador observará
o olho tem várias limitações, exceto para a sua abdução desvio de mandíbula. Quando um dos nervos trigêmios
completa, o nervo lesado é o motor ocular comum (III). está deficiente, a mandíbula se desviará para este lado.
Neste caso, em repouso, o olho comprometido fica em O reflexo corneo-palpebral (referência é dada pelo V
abdução e em midríase. nervo) será examinado tocando-se o limbo corneano
Quando os dois olhos não excursionam, normal- (parte colorida do globo ocular) com um filete de algo-
mente, para uma direção o distúrbio é quase sempre dão. A resposta (fechamento das pálpebras) é função
no tronco cerebral ou em região mais rostral. Podemos do nervo facial; para facilitar esta pesquisa, solicita-se
ter paralisia (ou paresia) do olhar vertical (de ambos ao paciente para olhar para cima e para o lado oposto
os olhos) para cima, para baixo, ou paralisia (ou pare- ao olho examinado. O reflexo esternutatório é pesqui-
sia) do olhar horizontal para um dos lados, ou incapa- sado, colocando-se um filete de algodão nas narinas de
cidade de convergi-los. Cada uma destas deficiências um lado e, a seguir ao outro, o que provocará fuga e
corresponderá a topografias específicas. desconforto para o paciente, se a sensibilidade das ca-
Em seguida, examina-se a fenda palpebral. Po- vidades nasais (V nervo) estiver preservada. O reflexo
derá estar mais aberta nas exoftalmias, fechada par- mandibular ou masseterino foi pesquisado no capítulo
de reflexos profundos.
cialmente (lesão do simpático cervical) ou totalmente
(lesão do III nervo craniano). 4.5.5. Facial: Inspeção. Motricidade mímica da face,
As pupilas são examinados pela inspeção, ob- sensibilidade gustativa dos 2/3 anteriores da língua.
servando-se simetrias e regularidade das bordas pupi- Reflexos: nasopalpebral, córneo-palpebral, oroorbicu-
lares. Midríase, surge na lesão do III nervo e miose, na lar, palmomentual. Sinal de Chvostek. Sinal de Bell.
lesão do sistema nervoso simpático cervical. As rea- Pela inspecção, pode-se notar assimetria facial,
ções pupilares à luz devem ser testadas, solicitando-se com apagamento do sulco naso-geniano, lagoftalmo,
ao paciente olhar distante, para um ponto da parede desaparecimento das rugas e vincos faciais do lado le-
oposta e fazendo um feixe de luz (lanterna de feixe sado. A mímica facial é testada, solicitando-se ao pa-
estreito) penetrar na pupila examinada, obliquamente, ciente para fechar os olhos, enrugar a testa, assobiar,
colocando-se a lanterna lateralmente ao eixo do olho. sorrir e, com a boca aberta, mostrar os dentes (contrai
Haverá miose. Neste olho (reflexo fotomotor direto) o m. plastina). Além da inervação dos músculos da
e no olho oposto (reflexo consensual). As pupilas, mímica facial, o VII nervo recolhe a sensação gustativa
também, ficam mioticas ao se aproximar um objeto dos 2/3 anteriores da língua. Testa-se a gustação, co-
dos olhos. O examinador coloca seu dedo bem na frente locando-se num tubo capilar ou num cotonete, solu-
dos olhos do paciente à pelo menos 1 metro e vai ções salgada, doce, amarga e azeda. Toca-se, então,
aproximando o dedo do olho, à medida que isto é feito em um dos lados da língua, na sua região papilar e
os olhos vão se convergindo e as pupilas vão ficando espera-se alguns segundos, até o paciente perceber o
mióticas (reflexo de acomodação ou convergência gosto, ficando de boca aberta. A seguir, o paciente
visual). lava a boca com bochechos de água e, novamente, expõe

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J. G. Speciali

a língua, que será estimulada, do outro lado, com ou- estão alteradas nas lesões do VIII nervo (parte vestibu-
tra solução. Repete-se o procedimento até o examinador lar). Quando o paciente anda, tende a desviar-se sempre
ter certeza da presença ou não da gustação na língua. para o mesmo lado (ao contrário da lesão cerebelar, que
Os reflexos nos quais o nervo facial toma parte, pode desviar para qualquer lado). Quando se pede para
como efetor, são: nasopalpebral (ver reflexos profun- fazer a marcha de Babinski-Weill (ver exame de mar-
dos) córneo-palpebral (ver V nervo craniano) palmo- cha) o paciente desvia-se a cada segmento andado, dese-
mentual (ver reflexos cutâneos). O sinal de Chvostek nhando no chão como estrela (marcha em estrela). Quan-
que pode sugerir hipocalcemia é pesquisado, percutin- do se testa o equilíbrio, o paciente tende a cair sempre
do-se as glândulas parótidas. Em caso positivo, have- para o mesmo lado. Os labirintos, também, coordenam
rá desvio de rima bucal para o lado estimulado. os movimentos oculares, surgindo o nistagmo, quando
Quando há paralisia do nervo facial de um lado, lesados. Testa-se a presença de nistagmo solicitando-se
haverá impossibilidade do fechamento da pálpebra, pois ao paciente para manter o olhar nas extremidades da
este nervo supre o músculo orbicular das pálpebras. fenda palpebral por alguns segundos. O nistagmo pode
Na tentativa de fechar a pálpebra, esta permanece aberta ser unidirecional, multidirecional, horizontal, vertical,
e o olho roda, reflexivamente, para cima (Sinal de Bell). rotatório ou monocular (ver exame da coordenação).
O comprometimento de toda musculatura mímica uni- A semiologia mais detalhada do VIII nervo de-
lateral surge na chamada paralisia facial periférica, ou verá ser demonstrada na Neurootologia.
seja quando a lesão está no núcleo ou abaixo dele. Nas
lesões supranucleares, haverá comprometimento da 4.5.7. Glossofaríngeo e Vago: Disfagia. Sensibilidade
musculatura mímica do andar inferior da face (parali- gustativa do 1/3 posterior da língua. Desvios do palato
sia facial central). e úvula. Sensibilidade da faringe. Sinal da cortina. Re-
flexo do vômito.
4.5.6. Auditivo: ramo coclear. Alteração da acuidade Os nervos glossofaríngeo e vago podem ser exa-
auditiva, prova de Weber. Surdez de condução e per- minados juntos. Os pacientes, com lesões nestes ner-
cepção. Ramo vestibular: tonturas, vertigens, acúfe- vos, queixam-se, em geral, de dificuldade para deglu-
nos, nistagmo (espontâneo e provocado). tir (disfagia), principalmente, para alimentos líquidos
A função auditiva pode ser testada, aproximan- com engasgos e/ou refluxo para as cavidades nasais e
do-se de cada um dos ouvidos, alternadamente objetos dificuldade para falar (disartria), com voz bitonal ou
que fazem ruídos baixos como, por exemplo, relógio, anasalada. O exame de sensibilidade gustativa foi
diapasão. A acuidade auditiva poderá ser avaliada, explicado no VII nervo craniano. O exame da motrici-
comparando-se a audição do examinador com a do pa- dade do palato mole e da úvula é feito, solicitando-se
ciente. Há necessidade de sabermos se uma hipoacusia para o paciente abrir a boca, estando sentado, e depois
(diminuição da audição) é de condução ou de per- de visualizar as partes a serem examinadas, pede-se
cepção. Na surdez de condução, há diminuição da au- para o mesmo falar Ah! ou Eh! e manter esta voca-
dição aérea, enquanto que na de percepção, há dimi- lização por alguns segundos. Observa-se, neste mo-
nuição da audição aérea e óssea. Testa-se a audição mento, a contração da musculatura do palato. Quando
óssea colocando-se o cabo de um diapasão, vibrando os nervos de um lado estão paralisados, somente o pa-
nas apófises mastoídeas ou no alto da cabeça. Prova lato do lado oposto subirá, desviando a úvula para este
de Weber coloca-se o diapasão vibrando no alto da lado, do lado lesado o palato ficará hipotônico e abai-
cabeça, se o paciente acusar que ouve o som do lado xado, (sinal da cortina). Se os nervos dos dois lados
direito, isto pode indicar duas coisas: a) surdez de estiverem lesados, o som sairá anasalado, a úvula e o
percepção, à esquerda ou b) surdez de condução, à palato não subirão.
direita. O teste do diapasão, colocado perto dos ouvi- A sensibilidade da faringe é testada com um
dos, determinará se a opção a ou se a opção b está abaixador de língua, tocando os pilares amigdalianos
correta. Ouvido esquerdo surdo, opção a; ouvido di- de um lado, perguntando-se ao paciente se sentiu e,
reito surdo, opção b. depois do outro, repetindo-se a mesma pergunta. Mui-
Na alteração vestibular o paciente, em geral, tas vezes, essa pergunta é desnecessária, pois surge o
queixa-se de tonturas rotatórias (vertigens) e desequi- reflexo do vômito que confirmará a presença da sensibi-
líbrio muitas vezes acompanhadas por zumbido, estalos lidade. Outros tipos de sensibilidade como a dolorosa e
ou outros ruídos na cabeça (acúfenos). Algumas provas a térmica não são, de rotina, examinados nesta região.

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Semiotécnica neurológica.

4.5.8. Acessório: bulbar e espinhal. Inervação das cor- seqüência de distúrbio da coluna cervical, ao invés de
das vocais. Inervação do trapézio e esternoclidomas- irritação meníngea. Mantendo-se a flexão do pescoço,
tóideo. por alguns segundos, na posição máxima, poderá haver
O nervo acessório bulbar inerva, juntamente, flexão dos membros inferiores (sinal de Brudzinski).
com um ramo do nervo vago as cordas vocais. Juntos Fletindo-se os membros inferiores nas articulações
formam o nervo recorrente laríngeo. Na lesão unilate- coxo-fêmurais e nos joelhos mantendo-se ângulo de 90º
ral deste nervo, surge alteração na tonalidade da voz, entre os segmentos, haverá resistência na extensão pas-
voz bitonal. As cordas vocais podem ser examinadas, siva, feita pelo examinador, dos joelhos (sinal de
através do exame otorrinolaringológico. Kernig).
A porção espinhal do XI nervo craniano inerva Nos lactentes, os sinais meníngeos são, em ge-
os músculos trapézio e esternoclidomastoídeo. Quando ral, negativos, mesmo na presença de meningite. Nesta
há deficiência bilateral, há dificuldade para manter o faixa etária, a criança fica irritada, com abalamento
segmento cefálico ereto (se o paciente estiver sentado) da fontanela e posição em opistótono, quando há
ou levantá-lo do leito (se estiver deitado). Se a dificul- meningismo.
dade for unilateral, haverá tendência de desvio do seg-
mento cefálico para o lado comprometido. A força do
4.7. Distúrbios da Linguagem:
trapézio é avaliada, solicitando-se ao paciente para
elevar os ombros contra a resistência do examinador. 4.7.1. Linguagem falada. Dislalia. Disartria. Mutismo.
Este comparará a força de um com a do outro lado. O Disfasias. Jargonofasia.
esternoclidomastóideo é testado solicitando-se ao pa-
ciente para rodar a cabeça num eixo vertical para a 4.7.2. Linguagem escrita: grafia e leitura.
direita, com o examinador contrapondo resistência no
rosto, isto exigirá contração do músculo do lado es- 4.7.3. Cálculo numérico.
querdo. A rotação para o lado oposto testará o músculo
do lado direito. A semiologia da linguagem é muito complexa.
Existem especialistas que se dedicam a esta importante
4.5.9. Hipoglosso: aspecto, atrofias e fasciculações da
função. Veremos aqui apenas algumas definições, im-
língua. Movimentação dentro e fora da boca.
portantes para o dia-a-dia de médicos não especialis-
A inervação motora da lingua é testada obser- tas. A linguagem falada é avaliada durante todo exame
vando o trofismo e os desvios da língua. Quando a lín- neurológico. O aparecimento de tartamudez ou troca
gua é colocada para fora da boca, ela desviará para o de consoantes é chamada de dislalia, não havendo
lado paralisado. Quando a língua é puxada para o fun- substrato anatômico que explique estas deficiências de
do da boca, ela é desviada para o lado são. A seguir, linguagem.
solicita-se ao paciente para, com a língua fora da boca, Disartria é a alteração da fala, conseqüente a
dobrá-la para cima, para baixo, para os lados. Na pa- lesão do aparelho fonador, dos nervos que participam
ralisia da hemilíngua direita o paciente não conseguirá de fonação (IX, X, XI, XII) do sistema cerebelar ou
dobrá-la para o lado esquerdo. Quando houver defici- extrapiramidal. Na disartria, a fala pode ser explosiva
ência bilateral, haverá paresia ou plegia de todos os ou monótona (s. cerebelar); baixa, mal articulada e
movimentos. monótona (s. parkinsoniana), anasalada (IX e X ner-
vos cranianos), bitonal (XI nervo craniano bulbar), etc.
No mutismo, o paciente não tem iniciativa de
4.6. Sinais Meníngeos
falar, embora esteja consciente e, às vezes, compreen-
Sinais de Kernig, Brudzinski e Laségue. Carac- dendo ordens. Surge em pacientes com distúrbios psí-
terísticas dos sinais meníngeos em lactentes. quicos ou com lesão unilaterais paramedianas frontais.
Rigidez nucal é testada fletindo, subitamente, o Disfasia é a incapacidade do paciente em ex-
segmento cefálico, estando o paciente, deitado em de- pressar, através da fala, os seus pensamentos, embora
cúbito dorsal. Se o teste for positivo, é necessário veri- possa fazê-lo através de gestos. Aparecem quando são
ficar se há resistência à lateralização do segmento ce- lesados alguns locais específicos do córtex cerebral
fálico, em caso positivo, a rigidez nucal poderá ser con- (centros da fala). Na lesão da área de Brocca, o pa-

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J. G. Speciali

ciente percebe sua deficiência, se angustia na tentativa (cotovelo esquerdo, calcanhar direito, etc), examinan-
de falar, mas não consegue. Poderíamos comparar com do-se assim a somatognosia. Pede-se, ainda, para re-
a lesão da área motora, o paciente quer mover o braço, conhecer o lado (mão) direito e esquerdo do corpo (con-
mas não consegue. Às vezes, esta afasia vem acompa- fusão esquerda-direita). Às vezes, o paciente não reco-
nhada da incapacidade de escrever e outras vezes, não. nhece que está hemiplégico o que lhe traz transtornos
Na lesão da região temporoparietal do hemisfério do- sérios, tais como quedas e incompreensão por não rea-
minante, pode surgir a afasia (ou disfasia) amnéstica lizar determinados atos motores (anosognosia), a qual
ou nominativa, na qual o paciente não consegue dar surge, em geral, na lesão do lobo parietal do hemisfé-
nomes a objetos mostrados mas, no decorrer de uma rio não dominante.
conversa fala o nome deste objeto, sem dificuldade.
Na jargonofasia, o paciente fala uma linguagem, total-
mente, estranha e incompreensível e não reconhece sua III - Exame do paciente em coma
deficiência (anosognosia).
Nas lesões de determinadas regiões corticais do Um paciente em coma, que não colabora, deve
hemisfério dominante podem surgir incapacidade para a ser examinado como qualquer outro, porém, alguns
linguagem escrita, leitura e para cálculos matemáticos. testes adicionais ou substitutivos devem ser feitos.
A inspeção é um item importante neste paciente.
Observamos a cor de pele, a presença de traumatismo,
4.8. Distúrbios da Praxia
salivação sanguinolenta (mordedura de língua = con-
A praxia é a incapacidade de realizar seqüên- vulsão), respiração, bochechas, posição dos membros
cias de atos motores complexos com certa finalidade. e atitude, em geral.
Pode-se testar, solicitando-se do paciente que faça con- Na lesão do nervo facial, a bochecha do lado
tinência, dê um laço no cordão do sapato, enfie linha lesado se abaula mais quando a expiração é forçada,
numa agulha, penteie o cabelo, vista-se, desenhe algu- através da boca semifechada. Um dos membros infe-
mas figuras num papel (casa, relógio, etc), dirija um riores poderá estar rodado para fora, indicando pare-
veículo, etc. Estes testes poderão ser feitos, solicitan- sia deste segmento. O paciente poderá estar em decú-
do-se que o paciente apenas faça os movimentos, sem bito lateral com o pescoço e tronco estendidos e os
os objetos necessários para a sua realização. As apra- membros fletidos (posição em cão de espingarda), in-
xias surgem na lesão de áreas parietais do hemisfério dicando meningismo.
dominante ou no corpo caloso (surgindo, às vezes, apra- O estímulo doloroso é muito importante e se faz,
xias unilaterais, ou seja incapacidade de realizar os em geral, através de beliscões em áreas do tronco e dos
atos motores, apenas com uma das mãos). membros. Poderá, algumas vezes, haver resposta mo-
tora unilateral (demonstrando uma hemiplegia) ou bi-
lateral. Neste ultimo caso, a resposta à dor poderá ser
4.9. Distúrbios da Gnosia: adequada com retirada do segmento estimulado, glo-
Asterognosia (Holognosia). Agnosia auditiva. bal ou ausente indicando coma profundo. A resposta
Agnosia táctil. Agnosia visual. Somatognosia. motora global poderá ser com extensão da cabeça, tronco
Agnosia digital (Síndrome de Gerstmann). e membros, com pronação dos membros superiores
Agnosia é a incapacidade de reconhecer objetos (reação de descerebração) ou com flexão dos ante-
pelo tato (agnosia táctil), pela visão (agnosia visual), braços e punhos em frente ao tronco (reação de decor-
reconhecer regiões do corpo (somatoagnosia) ou defi- ticação). O estímulo doloroso poderá ser útil na de-
ciências neurológicas (anosognosia). monstração de uma lesão medular pela ausência de
Testa-se a gnosia tátil, colocando-se na mão, ora respostas à dor, abaixo do nível lesado.
na direita ora na esquerda, objetos corriqueiros (cane- A prova de força muscular, no paciente em coma,
ta, pente, chave, etc.), permanecendo o examinado de é diferente da realizada no paciente consciente. No
olhos fechados. A gnosia visual é testada, mostrando-se coma, ergue-se, passivamente, os membros superiores
um objeto para ser reconhecido através da visão. As ve- pelos punhos em ângulo de 60º com o eixo corporal e
zes agnosia visual aparece em apenas um dos hemicam- observa-se as mãos. Em geral, do lado plégico ela fica
pos. Depois, pede-se para o paciente reconhecer/no- mais caída. A seguir, solta-se os membros superiores
mear as regiões corporais tocadas pelo examinador ao mesmo tempo, o lado plégico cairá mais rápido.

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Semiotécnica neurológica.

Outra prova consiste em fletir, passivamente, os ante- rodar a cabeça para o lado direito o olho direito se
braços sobre o braço estando este, rente ao corpo e posicionará em adução e o olho esquerdo em abdução.
com o cotovelo apoiado no leito. Solta-se os antebra- O mesmo acontecerá se rodarmos a cabeça para o lado
ços ao mesmo tempo e, o hemiplégico cairá mais esquerdo, para cima ou para baixo, os olhos sempre
rápido (prova de Raimiste). Nos membros inferiores, tenderão a permanecer, olhando para frente. Detec-
dobra-se o joelho, segurando-se os dois pés unidos, ta-se assim, as deficiências dos nervos oculomotores.
apoiados na cama, o membro plégico abduzirá mais Se não houver o fenômeno dos olhos de boneca, o pa-
rapidamente que o outro. ciente não estará em coma (conversão?) ou o coma
Para examinar a motricidade ocular faz-se o teste estará muito profundo, próximo ou no estado de morte
dos olhos de boneca. Num paciente em coma, ao cerebral.

SPECIALI JG Technique of the neurologic examination. Medicina, Ribeirão Preto, 29:19-31, jan./mar. 1996.

ABSTRACT: The autor describes briefly the basic steps os neurologic examination. Main objectives
of this work are initiation of undergraduated students, specially of Medicine, in the techniques of
neurologic examination and the standardization of these techniques in the University Hospital of the
School of Medicine of Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.

UNITERMS: Medical History Taking. Diagnosis, Neurologic. Physical Examination. Neurologic


Examination. Neurology.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 2 - SANVITO WL. Propedêutica neurológica básica. Manole,


São Paulo, 246 p, 1977.

1 - BICKERSTAFF ER Exame neurológico na prática médica. Recebido para publicação em 04/03/96


Trad. JA Levy, S Saraiva & FM Braga. Atheneu, Rio de Janeiro,
375 p, 1975. Aprovado para publicação em 14/03/96

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