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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CARINA BANNWART
CAMPINAS
2006
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CARINA BANNWART
CAMPINAS
2006
© by Carina Bannwart, 2006.
Bannwart, Carina
B228f A formação politica do educador : memorial de formação / Carina
Bannwart. -- Campinas, SP : [s.n.], 2006.
06-348-BFE
“Aos educadores que não se deixam alienar, não
são apolíticos, apáticos e que, conseqüentemente,
educam para a cidadania”.
AGRADECIMENTOS
“À meus pais Edilza e Paulo, por todos os anos de esforço e de luta que passaram para
que eu chegasse até aqui; pelo apoio; pelo incentivo; e por todas as noites em que se
arriscaram para me encontrar na rodovia, chegando da faculdade,
À minha irmã amiga Bruna, por tantas leituras que ouviu e por ser minha crítica
particular que muito me auxiliou com sua sabedoria,
E a todos que comigo convivem e me entendem quando digo que “as pessoas têm
‘pobrema’!”
“A memória, onde cresce a história, que por sua
vez a alimenta, procura salvar o passado para
servir o presente e o futuro.
Devemos trabalhar de forma que a memória
coletiva sirva para a libertação e não para a
servidão dos homens”
Jacques Le Goff
SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO 07
3. POLÍTICAS EDUCACIONAIS 12
4. GESTÃO ESCOLAR 15
5. ALIENAÇÃO 17
5.1. Alienação do Professor. 17
5.2. A influência da Formação. 19
5.3. A Greve. 23
5.4. E agora? Alienação? 26
6. CONTINUIDADES E RUPTURAS. 29
6.1. Comissão de Estudos para Reestruturação do Estatuto e Plano
de Carreira do Magistério Municipal de Indaiatuba. 30
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS. 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 35
1. APRESENTAÇÃO.
“O segredo de ir em frente é começar”.
Sally Berger.
Memorial de Formação...
Aparentemente algo de fácil elaboração, por tratar de minha vivência... No
entanto, tão complexo, por referir-se a tantos erros e acertos da minha vida profissional,
que nem sempre são fáceis de reconhecer e de aceitar...
Durante esses seis semestres em que tive a oportunidade de cursar o PROESF1,
grande foi meu amadurecimento intelectual.
Um desvelar de olhos me foi propiciado e hoje afirmo com segurança: sou por
vezes mais feliz e por vezes mais receosa em relação à profissão professor.
Mais feliz ao perceber quão importante é nossa missão, e quão significativos
podemos ser na formação do indivíduo...
Mas, por vezes sou mais receosa, quando percebo alienação por grande parte de
meus colegas, que usam o belo discurso do “educar para a formação do cidadão...” ou
“possibilitar a formação crítica dos alunos...”, quando na verdade, eles (professores) não
o são cidadãos conscientes ou críticos! E seu “comportamento verbal difere do não-
verbal” parecendo tratar-se de pessoas diferentes (SKINNER, 1995, p.87). Falta
discernimento, consciência e amadurecimento para muitos...
Para outros, porém, que, não coincidentemente, tiveram ou estão tendo uma
formação continuada, os pensamentos são diferentes, mais centrados e condizentes.
Então, diante de tal realidade e com tantas indagações, exclamações e
afirmações que me cercam, sem dúvida alguma, meu Memorial de Formação tinha de
tratar a respeito da “Formação Política do Educador”.
É um tema do qual sinto prazer em tratar e que tem tudo a ver com minha
formação.
Iniciarei, então, meu Memorial com um breve histórico de minha vida até o
momento em que comecei a lecionar e, depois, quando já professora, quais as mudanças
que tenho vivenciado, seja na minha prática educativa, seja na minha formação;
1
Programa Especial para Formação de Professores em Exercício na Rede de Educação Infantil e
Primeiras Séries do Ensino Fundamental da Rede Municipal dos Municípios da Região Metropolitana de
Campinas.
7
Em seguida, reportar-me-ei à questão das Políticas Educacionais e de suas
influências em minha prática e na prática do professorado em geral;
Como seqüência, tratarei da Gestão Escolar, que, infelizmente, como verão, não
é participativa;
Não poderia deixar de explanar também a respeito da Alienação do indivíduo;
do conceito de Alienação; da Alienação do Professor; e de um aparente princípio de
mudança de atitude por parte do professorado após acontecimentos relevantes na
história local;
Por fim, dissertarei a respeito de Continuidades e Rupturas existentes no
município de Indaiatuba: o “progresso” nas atitudes por parte da administração e o
projeto até agora sem produto final da Reestruturação do Estatuto e Plano de Carreira do
Magistério Municipal.
8
2. FOI ASSIM QUE ACONTECEU...
Ser professora nunca foi o “meu sonho de criança”. Pelo contrário, essa era a
profissão da qual não desejava seguir!
Lembro-me de quando meu tio falava sobre me achar com jeito pra ser
professora e eu ficando muito brava com ele... Imaginava-me “aeromoça”, atriz,
repórter... Menos: professora.
Nem mesmo ao chegar na 8ª série (em 1994) tinha isso em mente. Porém, ao
final daquele ano, uma dúvida surgiu-me: fazer o então colegial, ou tentar o
magistério??? Eis que, então, acabei por iniciar minha carreira sem a menor intenção de
que isso ocorresse.
Na verdade, tive como formação inicial o magistério, que fiz não por crer ter
habilidades pra isso, ter o dom, mas sim por acreditar ser o magistério uma opção
melhor que um simples ensino médio. Afinal, como ainda não tinha tido nenhuma
experiência profissional, uma possibilidade a mais no mercado de trabalho faria muita
diferença.
E assim, ao longo dos quatro anos do curso, busquei uma participação ativa no
mesmo, a fim de ter uma boa formação.
Então, formei-me em 1998 com excelentes notas. E, em 1999 iniciei minha vida
profissional trabalhando como monitora num sítio de Indaiatuba. Sítio que recebia
visitas escolares.
Lá, explicava aos alunos sobre as plantas e frutas, ensinava os alunos a
semearem hortaliças, explicava sobre o minhocário, e, além disso, eles passeavam de
trator e a cavalo. Porém, era um trabalho esporádico, que não me dava condições nem
mesmo de arcar com o curso de informática que tanto tinha interesse em fazer. Por isso,
ainda em 1999, quando da publicação do concurso público de Indaiatuba, arrisquei
prestá-lo. Não que ansiasse por lecionar, mas precisava, definitivamente de um trabalho
regular! E, enquanto isso, distribuía meus currículos para outras áreas de interesse.
9
Fui aprovada...
Conseqüentemente, no início do ano de 2000, veio-me a oportunidade de
lecionar, e eu aceitei. Não que tivesse mudado de idéia e me interessado repentinamente
pela área, mas porque, dentre as oportunidades profissionais que surgiram, essa foi a
que garantiu estabilidade.
Porém, sempre pensando em seguir futuramente uma outra carreira, prestei um
vestibular para Comércio Exterior e passei!
Mas não tive condições de sozinha, arcar com as despesas. Era uma faculdade
particular e meus pais não poderiam me ajudar: minha mãe cuidava da casa e da família,
e meu pai, sendo agricultor, sempre teve uma renda baixa.
Então, não me matriculei.
Fiquei muito triste com isso, mas tinha a intenção de tentar novamente numa
próxima oportunidade...
E assim as semanas e os meses foram passando...
E eu, lecionando e me atualizando na área da educação, através de vários cursos
oferecidos pela Prefeitura Municipal de Indaiatuba, tais como: Programa de Formação
de Professores Alfabetizadores (PROFA); Piaget para Professores (ministrado pelo
pessoal do laboratório de Psicologia Genética, da Unicamp); PCN2 em Ação, módulos:
Matemática na Educação Infantil; Artes na Educação Infantil; Matemática na Educação
de Jovens e Adultos; Português na Educação de Jovens e Adultos; História no Ensino
Fundamental, entre outros.
Sei que, quanto mais experiência e formação fui adquirindo, mais me interessei e
me dediquei nessa área (ainda não percebia nesta época as políticas educacionais aí
inseridas).
E quando em 2003 surgiu a possibilidade de graduar-me em Pedagogia pela
UNICAMP, toda e qualquer dúvida que por ventura ainda sustentava, dissipou-se, e,
para substituí-la, veio o desejo de estudar mais e mais.
Muito aprendi ao longo de minha Graduação: amadureci e apurei meu olhar
sobre as coisas que antes me faziam parecer serem certas e indiscutíveis, imutáveis.
Muitas leituras e discussões me fizeram perceber isso.
Hoje procuro um embasamento maior, uma explicação mais eloqüente em tudo
que me é passado, e também no que transmito a meus alunos, já que a educação nos é
2
Parâmetros Curriculares Nacionais.
10
fundamental: “nascemos fracos, precisamos de força; nascemos carentes de tudo,
precisamos de assistência; nascemos estúpidos, precisamos de juízo. Tudo o que não
temos ao nascer e de que precisamos quando grandes nos é dado pela educação” e não
posso, de modo algum, torná-la infundada (ROUSSEAU, 1999, p. 8).
E assim, durante seis anos lecionei no ensino fundamental da rede municipal de
Indaiatuba, de 1ª a 4ª série (tendo experiência nas quatro séries) como Professora
Substituta com muitos questionamentos, planos e aspirações.
Porém, como não estava contente com a situação enfrentada enquanto Professora
Substituta (a desvalorização profissional, o desrespeito, a humilhação,...), no decorrer
desse período, além de minhas reivindicações (que pouco foram consideradas!), busquei
melhores oportunidades de trabalho, mas desta vez, como professora!
Então prestei vários concursos na região: Vinhedo, Paulínia, Campinas, Monte
Mor, porém, alguns foram cancelados, em outros minha classificação foi ruim. Até
mesmo o concurso de Indaiatuba ocorrido no final do ano passado (2005) eu prestei, na
esperança de ter minha própria sala de aula e deixar de ser substituta.
Nesse, tive uma boa classificação, mas como não tenho graduação, não poderia
assumir o cargo. Aliás, fui chamada no dia 18/05/2006 e como estava a dois meses de
concluir meu curso, perdi meu direito à vaga... o que, infelizmente eu já esperava.
Porém, agora não tem o menor problema, já que, também em 2005, em meio à correria
da construção de minha casa e de meu casamento (me casei no ano passado!), pude
prestar o concurso público para Professora do Estado de São Paulo, e graças a meus
aprendizados na graduação, passei!
Passei, e em fevereiro de 2006 fui nomeada como professora PEB I3, tendo hoje
uma turma de 1ª série, no Jardim Nova América, cidade de Campinas.
Estou muito feliz em finalmente ter a minha própria sala de aula e me empenho
para ser uma excelente professora.
Ou seja, há seis anos sou educadora. E agora, não por acomodação,
conformismo, mas sim, por opção!
3
Professora de Educação Básica
11
3. POLÍTICAS EDUCACIONAIS.
4
Grifos meus.
5
Lei nº 9.394 / 96 - Diretrizes e Bases da educação Nacional.
6
Lei nº 10.172 / 01 – Plano Nacional de Educação.
12
Foram fornecidos vários módulos (História, Geografia, Matemática,...). E
aqueles professores que se interessavam, deviam cursá-los aos sábados, fora do horário
de trabalho e sem receber nada a mais por isso, além de míseros pontos, ou melhor,
décimos de pontos, úteis nas atribuições de aula.
Porém, esses pontos tinham a validade de dois anos. Terminado o prazo,
perdiam-se os mesmos...
Eu fiz quase todos os cursos, uma vez que, sendo recém-nomeada, não tinha
nenhuma pontuação, e não tinha também conhecimento da proposta educacional da rede
de ensino. Ainda não percebia nessa época o esquema de manipulação existente,
tampouco sabia das exigências do Banco Mundial...
Bem, muitos professores não puderam participar desses cursos, uma vez que
poucos podiam disponibilizar suas manhãs inteiras de sábados para os mesmos, depois
de uma semana inteira dobrando períodos, em troca de décimos de pontos com
validade! E, aqueles que o faziam, muitas vezes sentiam-se desestimulados em
continuá-los, após alguns encontros de repetição, ministrados por coordenadores de
unidade escolar a quem fora imposto serem os “multiplicadores”, e que nem sempre
tinham tais habilidades ou preparo.
Por isso, durante nossas reuniões na escola e durante os HTPC7s, a direção
escolar tinha a postura de tentar convencer a todos sobre a necessidade de realizarem
tais cursos. Havia também certa discriminação com aqueles professores que não
participavam dos mesmos. Mas essa discriminação não vinha apenas da parte da direção
escolar: muitos professores os julgavam também.
Ainda assim, muitos não participavam dos cursos. Então, desde dezembro de
2003, a Secretaria Municipal da Educação, instituiu o “misterioso” GPAP8 no fim do
ano, destinados àqueles professores que não atingissem certo número de faltas/aula e
faltas/HTPCs, além de terem cumprido “n” carga horária de cursos que tivessem sido
oferecidos pela administração naquele ano. A partir disso, era calculado o percentual
que cada um teria para receber (100%, 50% ou 25% do salário base), sendo que a
grande maioria dos professores nem mesmo tinham direito aos 25%. No ano de sua
instituição, por exemplo, muitos não o receberam por não terem feito o PROFA daquele
ano, e, mesmo já o tendo feito em ano anterior, não se pôde contar com o mesmo na
contagem de pontos para alcançar o direito a tal benefício.
7
Hora Trabalhada Pedagógico Coletiva.
8
Gratificação de Produção e Aperfeiçoamento Profissional.
13
O fato de muitos não obterem o direito a gratificação foi divulgado pela
Secretaria da Educação nos meios de comunicação local, a fim de desmoralizar o grupo
de professores que começava a incomodar a mesma com seus descontentamentos e suas
queixas...
Vale ressaltar que além da Licença-Saúde, a Licença Gala9 e a Licença Nojo10
também impediam o direito à gratificação. O que também prejudicou a muitos...
Utilizei anteriormente do termo “misterioso” bônus, devido ao fato de não
sabermos se a verba para o mesmo é proveniente do FUNDEF (o que daria direito a
todos os professores!), ou se a verba é proveniente de outros recursos da Prefeitura (o
que daria o direito à reivindicação a todos os demais funcionários!).
Além disso, no decorrer desses 3 anos, nunca se soube logo no início do ano se
haveria o mesmo ou não. O GPAP sempre foi uma “surpresa”. Com exceção deste ano
(2006) em que se leu as regras do ano anterior na suposição de que continuarão as
mesmas - com a contagem de pontos a serem atingidos pelo professor e sua conseqüente
porcentagem no mesmo (que pode ser 0%, não havendo um mínimo a ser recebido por
todos, mas um mínimo a ser pago de 25%).
Enfim, essa gratificação de produção e aperfeiçoamento “incentivou” muitos
educadores, mas indignou uma outra parte, devido ao seu “mistério”, suas regras
excludentes e a incerteza a cada ano.
Mas o que vale é que, de certa forma, a imagem da Prefeitura através da
Secretaria da Educação, é a de quem incentiva seus professores a se aperfeiçoarem e a
não faltarem no trabalho, oferecendo assim uma educação de qualidade aos filhos da
população...
9
Licença para Matrimônio.
10
Licença por Falecimento de parentes.
14
4. GESTÃO ESCOLAR.
Uma estrutura e processo que permite maior poder de tomada de decisão com
relação às áreas de ensino, orçamento, políticas, normas e regulamentos,
corpo docente e todo assunto de governo, é um processo que envolve uma
variedade de agentes nas decisões relacionadas a uma escola concreta e
individual (HERMAM, 1990 apud SANTOS FILHO, 1998, p. 2).
15
Bem, por essas e outras a gestão escolar não é em nada democrática: a direção
escolar faz cumprir às exigências e modismos da Secretaria da Educação, uma vez que
se assim não o fizerem serão advertidos e pressionados.
Já os professores que parecem ter uma postura mais crítica11, dificilmente têm
seus questionamentos esclarecidos.
Outros, que temem pela pressão exercida “de cima pra baixo” com tantas
advertências e relatórios, preferem não questionar.
Havia ainda até o ano de 2005 um terceiro grupo, que alimentava a esperança de
uma indicação e que adotava a postura do “bom exemplo”. Esse grupo perdeu sua força
devido a Reestruturação do Estatuto, que teoricamente extinguirá as indicações...12
Sabemos que
Por isso, é lamentável verificar que uma Gestão Escolar participativa não existe
no Município de Indaiatuba. E eu tenho bem claro que a Secretaria Municipal de
Educação teme que isto ocorra.
Não é indicado para a manutenção das tendências que haja tanta autonomia na
escola... Então, melhor manter como está: as normas são ditadas e cabe à direção escolar
repassar aos professores, que devem seguí-las, preferencialmente sem muito questionar.
11
Ver “A Influência da Formação”, p.13.
12
Ver “Continuidades e Rupturas”, p.23.
16
5. ALIENAÇÃO.
13
Grifos meus.
14
Grifos meus.
17
Os riscos de alienação que ameaçam os profissionais em geral do mundo
contemporâneo atingem também os professores, profissionais que
desenvolvem um tipo de trabalho intelectual, ou trabalho não-material, muito
peculiar, [...] já que seu trabalho se desenvolve durante o ato mesmo de se
produzir (ARANHA, 1996, p. 25).
18
5.2. A Influência da Formação.
E apesar dessa influência externa, essa foi uma excelente oportunidade para que
pudéssemos aprimorar nossa formação. Afinal, “nem sempre se cuidou adequadamente
da importante questão da formação do professor. Há uma idéia corrente de que vocação
e desprendimento generoso bastam para que a pessoa se encaminhe para esta profissão”
o que significa a visão de muitos que ainda ignoram a importância da formação do
professor (ARANHA, 1996, p.152).
Por isso, todos nós, professores da Rede Municipal de Ensino de Indaiatuba,
ficamos ansiosos em relação a tal projeto.
Então, um grupo de professores concorreu ao curso Pedagogia Cidadã,
ministrado pela UNESP, apostilado e realizado em Indaiatuba mesmo, utilizando o
recurso de videoconferências. Para essa turma 50 vagas foram oferecidas...
Outro grupo de professores concorreu ao curso de Pedagogia (PROESF) da
UNICAMP, a ser realizado em Valinhos. Nesse, 20 vagas foram oferecidas...
E eu, juntamente com outros colegas, não pude concorrer a nenhuma dessas
vagas, por estar ainda em estágio probatório, sendo essa uma das condições exigidas
pela Secretaria da Educação para concorrer às vagas: ter terminado o estágio probatório,
que tem a duração de 3 anos.
19
Fiquei desapontada em saber que por faltar 3 meses para a finalização do meu
estágio probatório, não fiz jus à concorrência das mesmas. Então, durante um ano,
acompanhei meus colegas que cursavam a UNICAMP ou a UNESP trazendo suas
contribuições no âmbito escolar. Alertando-nos quanto a certas posturas adotadas pela
Secretaria da Educação...
E assim, fomos tendo uma visão mais crítica sobre nosso trabalho.
Felizmente, um ano depois, tive a oportunidade de concorrer a uma vaga na
UNICAMP e, melhor ainda, cursar na própria UNICAMP. Que alegria!
Pedi a minha amiga Marta (da primeira turma da UNICAMP) que me
emprestasse alguns livros e textos, para que pudesse estudar para a prova. Li tudo o que
constava na bibliografia e, muito orgulhosa, entrei para a 2ª turma do PROESF.
Eu e outras 19 colegas!
Para tanto, vale registrar que, além de haver cumprido o estágio probatório,
assinei (assim como os demais dessa turma e da primeira turma também!) um termo de
compromisso, do qual me comprometia a permanecer no cargo da Secretaria Municipal
de Educação durante todo o curso e por outro período igual à duração do mesmo,
totalizando 6 anos.
Caso contrário, teria de arcar com todo o gasto do município com o curso – se o
curso fosse o Pedagogia Cidadã, teria de arcar com todo o material apostilado, porém,
como se referia ao PROESF... Arcar com que gastos??? Mais um “mistério”.
Ah! E se não assinasse o termo, não receberia a Declaração de ser Professora em
Exercício do Município (exigida pela UNICAMP). Por isso, ninguém pôde se negar a
tal compromisso. Feito isso, então, pude me matricular no curso.
E a partir deste momento, muita coisa mudou.
Não só para mim, mas para a grande maioria que estava tendo alguma formação
através do PROESF ou a Pedagogia Cidadã, pelo menos na questão da conscientização.
Na verdade desde que as primeiras turmas haviam iniciado seus cursos, fui
observando uma mudança gradativa no comportamento do professorado em relação a
assuntos antes não questionados, talvez por serem considerados indiscutíveis.
A partir da formação, podíamos argumentar e criticar com embasamentos muitas
situações e aspectos que considerávamos infundados, inconsistentes.
Além disso, muitos colegas que tinham dúvidas em relação a algum assunto
voltado a nossa prática ou ao sistema instituído, procuravam-nos para esclarecimentos.
20
Havia também aqueles que preferiam ignorar nossas conversas por nos considerarem
insurgentes.
Lembro-me de que estando ainda no 1º semestre do PROESF nos foi proposto
um trabalho a respeito das políticas educacionais, e nosso grupo teve de explanar à sala
a respeito do FUNDEF15.
Nessa ocasião, eu pouco sabia do mesmo. Então, após pesquisas, informei-me
sobre o repasse do Fundo, do qual 60% devem ser aplicados em salários e capacitação
do professor que atue nesse nível de ensino.
15
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério, Lei nº
9.424, de 24 de Dezembro de 1996.
21
Art. 4º O acompanhamento e o controle social sobre a repartição,
a transferência e a aplicação dos recursos do Fundo serão exercidos,
junto aos respectivos governos, no âmbito da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, por Conselhos a serem instituídos em
cada esfera no prazo de cento e oitenta dias a contar da vigência desta
Lei.
22
5.3. A Greve.
23
O mesmo ocorria nas outras escolas em que haviam professores envolvidos no
movimento.
Mas a participação de professores nas reuniões em pouco crescia... “Para ser
alguma coisa, para ser si mesmo e sempre uno, é preciso agir como se fala; é preciso
estar sempre decidido a respeito do partido a se tomar, tomá-lo abertamente e continuar
sempre com ele” (ROUSSEAU, 1999, p.12).
Quanto ao andamento de nossas reivindicações, divulgamos em jornal e rádio
local nosso descontentamento, a perda salarial do período daquela administração que
chegou a 50% comparado à inflação. Mas também não tivemos nenhum retorno.
Diante disso, a Comissão elaborou uma “Carta Aberta À População” onde
expunha nossa realidade, com as reivindicações e informando a todos que se a
administração continuasse a ignorar nossa fala, faríamos uma paralisação como forma
de protesto.
Novamente não houve retorno. Por isso, combinamos que iríamos realizar a
paralisação.
E o dia 21 de junho de 2004 foi o primeiro dos 4 dias que entraram na história
do Município por acontecer uma paralisação dos funcionários.
Naquela manhã, acreditando em todo o “apoio” e “conscientização” dos
professores, fomos às escolas buscar adesões para a paralisação, que tínhamos certeza,
se tivesse considerável representatividade, seria eficaz.
Enquanto isso, outras categorias do funcionalismo faziam o mesmo: pessoais da
saúde, das obras, das creches, também foram aos seus locais de trabalho em busca de
adesões.
Contudo, “segundo o argumento da apatia das massas, muitas pessoas são
politicamente apáticas e ficam felizes que uma minoria que ambiciona a liderança tome
decisões em nome delas” (SANTOS FILHO, 1998, p.10).
Por isso, ao conversar com meus colegas no portão da escola, os mesmos
disseram concordar e estarem dispostos a paralisar naquele dia! Porém, quando a
diretora chegou, uma professora preferiu entrar sem nem sequer me olhar, outra se
aproveitou da situação e entrou também,... Logo, todos haviam entrado sob a
justificativa que se não parassem todos de nada adiantaria.
E eu fiquei sozinha com as monitoras que me acompanhavam do lado de fora da
escola, enquanto a diretora e os coordenadores olhavam-nos com ar de satisfação do
lado de dentro...
24
E não foi muito diferente em outras escolas...
E eu não conseguia entender aquela atitude que não condizia com nossas
conversas. Afinal, “assumir posições significa estar comprometido com o mundo e
disposto a participar, lutando contra o trabalho degradante, a submissão política, a
alienação da consciência, as exclusões injustas e as diversas formas de preconceito” e
não vi isso acontecer. (ARANHA, 1996, p.153).
Frustrada, fui com o pessoal até a Prefeitura, onde, com carro de som fizemos
barulho e cobrávamos uma posição do prefeito. Era véspera de eleição e esperávamos
que ele se preocupasse com isso.
E assim ocorreu por quatro dias: íamos às escolas, creches e postos de saúde
para conscientizar o pessoal sobre o movimento e chamá-los a juntar-se a nós. Em
todas as áreas, os funcionários sofreram muitas ameaças por parte dos superiores, e era
preciso coragem para não se deixar abater.
Felizmente o movimento ganhou alguma representatividade junto às monitoras e
ao pessoal da saúde.
Porém, apesar da boa iniciativa a Comissão não teve preparo suficiente para
liderar o movimento, o que impediu que o mesmo adquirisse mais força.
Isso porque, após os profissionais deixarem seus locais de trabalho e se reunirem
em frente à prefeitura, depois de alguns protestos e gritos, nada mais acontecia.
Ficávamos sem saber o que fazer e no período da tarde o movimento acabava se
dissolvendo. Somente nos 3º e 4º dias, depois de sermos expulsos da frente do Paço
Municipal sob a alegação de invasão (Paço financiado pelo Serviço de Previdência e
Assistência Social dos Funcionários Municipais de Indaiatuba!), fomos às ruas protestar
e mostrar à população nosso descontentamento. Esses dias sim foram proveitosos; mas
novamente no período da tarde as manifestações cessavam. Daí eu analisar como
despreparados os líderes do movimento.
E essa foi uma das principais razões para um resultado não tão eficiente.
Outro ponto que talvez tenha prejudicado foi a tentativa de mobilizar todo o
funcionalismo para o movimento. Pois, salvo a reclamação geral dos salários defasados,
as queixas tinham as suas especificidades por área.
Diante disso, como as adesões haviam cessado, e para que não terminássemos
com menos pessoas do que quando começamos, decidimos em reunião terminar com o
movimento, mas esclarecendo à população as razões de nosso protesto e a postura do
então prefeito que nos ignorou e nos expulsou da prefeitura que financiamos...
25
A população ficou dividida: alguns nos criticaram por considerarem uma ótima
administração que tantas praças construiu, outros porque sofreram sem o atendimento
integral das creches; Mas muitos nos apoiaram. E por ser essa a primeira manifestação
da história do município e apesar de ter havido pouca adesão do professorado, foi um
acontecimento notável e marcante.
E sendo eu uma das pouquíssimas representantes do professorado descontente,
muito me orgulho de ter participado dos quatro dias de paralisação ocorridos.
E esses quatro dias significaram pra mim experiência e aprendizado de uma
vida!
26
Vale ressaltar que
Razão pela qual me alegro em saber que hoje os professores estão estudando
leis, reunindo-se, debatendo, discutindo e tendo embasamento para isso.
Mas as
modificações não dependem dos indivíduos isolados e só serão possíveis caso
os professores tomem consciência política da sua situação e estejam dispostos
a se mobilizar sempre que necessário. Para tanto, é preciso que eles estejam
engajados em associações representativas de classe que defendam seus
interesses (ARANHA, 1996, p.153).
16
Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo.
27
não foi em vão. Aliás, as “iniciativas coletivas são fundamentais para desencadear
rupturas no quadro de individualismo, isolamento e corporativismo de todos os
segmentos que se envolvem na formação de professores” (LAROCA, 1999, p.31).
E a iniciativa já foi tomada!
Só não podemos nos esquecer de que a mais longa caminhada só é possível
passo a passo...
6. CONTINUIDADES E RUPTURAS.
reforma é uma palavra cujo significado varia conforme a posição que ela
ocupa, se dentro das transformações que têm ocorrido no ensino, na formação
de professores, nas ciências da educação ou na teoria do currículo a partir do
final do século XIX. Não possui um significado ou definição essencial. Nem
tampouco significa progresso, em qualquer sentido absoluto, mas implica,
sim, uma consideração das relações sociais e de poder (POPKEWITZ,
1997 apud CANDAU, 1999, p.30).
E ainda não se tem o produto final, ou seja, o Novo Estatuto. O que muito
preocupa e incomoda.
28
6.1. Comissão de Estudos para Reestruturação do Estatuto e Plano de Carreira do
Magistério Municipal de Indaiatuba.
Eis que em agosto de 2005 chega às escolas a informação de que seria criada
uma Comissão para reestruturar o então ultrapassado estatuto do Magistério vigente,
datado de 1990, e instituir o Plano de Carreira, dado às queixas cada vez mais
constantes do professorado.
Para tanto, aqueles que tivessem interesse em representar sua categoria deveriam
manifestar-se e a direção escolar enviaria o nome à Secretaria.
Cada escola podia indicar um professor por categoria. Havendo mais de um
interessado, seria feita uma votação entre o corpo docente da UE17. Seriam indicados:
um professor do ensino fundamental; um professor substituto do ensino fundamental;
um professor especialista18; um professor de educação infantil; um professor substituto
da educação infantil; e um suplente para cada um.
Então, após todas as UEs terem enviado os nomes dos indicados, marcou-se uma
reunião com os mesmos. Eu fui como indicada da escola em que trabalhava para
representar os professores substitutos do ensino fundamental. Na reunião nós votamos
em quem seriam os membros da Comissão, pois somente um professor de cada
categoria poderia participar (juntamente com seu suplente).
Então se formou a Comissão composta pelos representantes dos professores, e
toda a hierarquia da Secretaria de Educação (Secretária da Educação, Secretária
Adjunta, Coordenadora do Ensino Fundamental, Coordenadora da Educação Infantil,
Supervisora do Ensino Fundamental, Supervisora da Educação Infantil, Orientadora
Pedagógica, Diretora de Escola Fundamental, Diretora de Escola de Educação Infantil,
Coordenadora de escola do Ensino Fundamental e Coordenadora de Escola de Educação
Infantil). Não foi uma Comissão paritária, mas ao menos houve alguma
representatividade. E eu fui eleita por meus pares, professores substitutos, para
representá-los.
Essa Comissão está sendo assessorada por uma empresa que, de acordo com o
Departamento Jurídico da prefeitura foi contratada através de carta convite, pelo valor
de R$207.000,00 pagos com recursos da Educação... E conforme acordo firmado, o
prazo para encaminhamento do documento à Câmara para votação era de 90 dias a
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Unidade Escolar.
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Professor de Educação Especial; Filosofia; Educação Física; Artes.
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contar da assinatura do contrato e 150 dias para estar tudo finalizado (elaborado, votado
e aprovado)...
Então iniciamos nossas reuniões - a princípio quinzenais com 4 horas de duração
- para num primeiro momento estudarmos as leis Federais, Estaduais e Municipais
voltadas ao funcionalismo e magistério e, esclarecidas as dúvidas sobre esses pontos,
elaborarmos as sugestões de modificações permitidas por lei.
Tudo o que discutíamos nas reuniões, transmitíamos aos professores nos HTPCs,
além das leituras das atas das reuniões, que eram enviadas a todas as escolas!
Logo de início o que mais preocupava eram os cargos por indicação de
Coordenador de UE e de Diretor de UE. A maioria dos professores prefere a instituição
de concursos para todos os cargos. Já os profissionais envolvidos e a Secretaria da
Educação preferem e sugerem que continuem as indicações, ou pelo menos que não se
mude quem já está, e alterações sejam feitas a partir de novas vagas.
E ficou imposto na reunião que vamos modificar “daqui pra frente” e o que já foi
feito está sacramentado e não iremos fazer um documento retroativo...
Quanto à instituição ou não de Concurso Público, foi acertado de que será
decidido em Assembléia Geral com os professores essa e outras modificações. Mas
antes da Assembléia, fez-se necessário um levantamento em todas as escolas sobre
quais reivindicações tinham os professores. E os mesmos tinham de nos encaminhá-las
por escrito dentro do prazo estipulado pela Comissão.
Recebemos centenas de reivindicações: umas muito pertinentes; outras
totalmente distantes das atribuições do Estatuto.
Então, durante 4 reuniões socializamos e tabulamos todas as reivindicações,
inclusive as não pertinentes, para que, apoiados pela lei, pudéssemos avaliar a
viabilidade e legalidade das mesmas e, assim que terminássemos a organização das
possíveis modificações, a empresa de assessoria elaboraria uma prévia do documento e
numa Assembléia os professores iriam decidir sobre alguns pontos principais como os
cargos de Diretores e Coordenadores serem por Concurso Público ou continuarem as
indicações.
Mas, a essa altura do processo, tanto o advogado da empresa de assessoria como
a Secretária de Educação, quiseram inviabilizar a Assembléia. Protestamos e, como já
havia sido acordado a respeito disso no início de nossas reuniões, manteve-se o
compromisso.
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Fato que surpreendeu a todos os professores que estavam acostumados a ver as
imposições de até então, e sabendo que
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
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Obviamente que nada disso ocorreu, por tratar-se de alegações infundadas. Mas,
na entrevista de desligamento, fui informada que tenho uma “dívida moral” com o
município dado o acordo quebrado... (Deixo os comentários para os Senhores, caros
leitores...).
Bem, a escola continua repressora mesmo quando se diz libertadora, porque não
adianta mudar somente as técnicas de aprendizagem se o educador não mudar sua
postura.
Acredito que esteja finalmente se iniciando essa mudança no município. E se
assim o for, não será apenas um belo discurso a idéia de formação para a cidadania,
mas, será sim, o reflexo do que o educador vivencia.
Espero que a “Formação Política do Educador” são seja utópica. E espero, de
alguma forma ou de outra, ter contribuído um resquício que seja, na mudança do
comportamento do professorado em questão.
E quanto ao Memorial
Não é sobre as idéias de outrem que escrevo, mas sobre as minhas. Não vejo
as coisas como os outros homens; faz muito tempo que me chamaram a
atenção para isto. Mas dependerá de mim dar-me outros olhos e exibir outras
idéias? Não. Depende de mim não confiar excessivamente em mim mesmo,
não acreditar ser sozinho mais sábio do que todo o mundo; depende de mim
não mudar de sentimento, mas desconfiar do meu; isto é tudo o que posso
fazer, e é o que faço. Se às vezes assumo o tom afirmativo, não é para impô-
lo ao leitor, mas para fazer tal como penso. Por que proporia em forma de
dúvida aquilo sobre que, no que me diz respeito, não tenho dúvidas? Digo
exatamente o que se passa em meu espírito (ROUSSEAU, 1999, p.4).
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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARX, Karl. O Capital. Crítica da Economia Política. São Paulo: Difel, 1983.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes,
1998.
PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática,
2001.
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