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"Chega de aparelhamento"
Mesmo na condição de aliado histórico do PT, o governador de Pernambuco
condena o loteamento de cargos, o corporativismo e defende a meritocracia
Leonardo Coutinho
Sou candidato a fazer um governo melhor do que fiz nos últimos quatro anos.
Por ora, é só. Abrir um debate eleitoral neste momento é desrespeitar não só
quem votou em mim, mas também os que elegeram a presidente Dilma.
O PMDB terá o seu lugar no governo. A presidente eleita Dilma só não pode
deixar que esse partido faça o que bem entender - aliás, nem o PMDB, nem o
PT, nem partido algum da base aliada. Dilma terá de impor seu programa, e
quem fizer parte do governo terá de segui-lo. Não se pode mais governar o
país com cada ministro atuando baseado nos critérios de sua legenda. A
máquina pública tem de ser preenchida por pessoas que apresentem
resultados. O governo não pode mais ser aparelho de partido nenhum. Se não
impuser esse tom, perderá o controle da situação.
Uma coisa tem de ficar bem clara: Dilma é uma pessoa, Lula é outra. A relação
de Lula com o povo foi construída em quarenta anos de militância. A de Dilma
começou na campanha, e só será consolidada pelos resultados do seu
governo. Dilma vai compensar essa dificuldade na articulação ao apostar na
gestão. O que não pode é deixar que o cerco dos partidos, inclusive o meu, a
atrapalhe na montagem da sua equipe. O patrimonialismo partidário não faz
bem a governo nenhum.
A sociedade mandou um aviso geral para o nosso pessoal baixar a bola. Tudo
na nossa campanha passava um tom de arrogância. Por exemplo: como
parecia que iríamos ganhar no primeiro turno, alguns aliados transmitiram a
impressão de que poderiam atentar contra algo que, além de preceito
constitucional pétreo, é muito caro aos brasileiros: a liberdade de expressão.
Foi um debate equivocado no calor da véspera de eleição. Não há espaço para
isso no Brasil.
Nesse caso específico, o presidente Lula foi rápido. Afastou Erenice de suas
funções e orientou os órgãos de controle do governo a iniciar procedimentos
para apurar as denúncias.
Vou me ater ao caso Erenice, cuja descoberta teve um impacto negativo. Ele
colaborou para a realização do segundo turno na eleição presidencial, mas
acabará sendo positivo para a formação do futuro governo. Depois do
escândalo de Erenice, Dilma jogará duro para evitar constrangimentos como os
provocados por essa ex-assessora.
Qual é a principal diferença entre o governo atual e o que está por vir?
O presidente Lula repetia que não podia falhar, por ser o primeiro filho do povo
a governar. Da mesma forma, Dilma também não poderá falhar. Ela tem muita
clareza sobre a responsabilidade de ser a primeira mulher a governar.
Quando fui candidato pela primeira vez, disse que o combate à criminalidade
seria uma prioridade de minha administração. Depois de eleito, instituí um
programa de monitoramento do crime que reduziu em 40% a taxa de
homicídios no Recife.
No início do mês, meu partido discutiu a volta da CPMF. Quero dizer que sou
contra. É verdade que enfrentamos uma grave crise na saúde pública, mas não
aprovo a criação de nenhum tipo de contribuição. Antes de discutir um novo
imposto, é preciso melhorar a qualidade dos gastos no setor, que está entre as
piores do mundo.
Somos parte da solução brasileira. Fomos vistos por muitos anos como um
peso. Mas, nos últimos anos, é no Nordeste que o Brasil tem crescido mais.
Pernambuco é um exemplo das oportunidades que a região oferece.
Quando uma região sai do atraso, quem mais ganha são as áreas
desenvolvidas, que sofrem menos pressão sobre seus tecidos urbano e social.
A revolução nordestina terá reflexos positivos em todo o país. Descentralizar o
desenvolvimento é bom para o Brasil.