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JULIO CESAR DOS SANTOS BARBOSA

RODRIGO FERNANDO DA SILVA

ELEIÇÕES 2010:
ANÁLISE DAS ENTREVISTAS DOS CANDIDATOS SERRA E DILMA NA
BANCADA DO JORNAL NACIONAL

LONDRINA
2010
JULIO CESAR DOS SANTOS BAROSA
RODRIGO FERNANDO DA SILVA

ELEIÇÕES 2010:
ANÁLISE DAS ENTREVISTAS DOS CANDIDATOS SERRA E DILMA NA
BANCADA DO JORNAL NACIONAL

Trabalho entregue para a Prof. Márcia


Buzalaf para a matéria 5NIC082 – Teorias
do Jornalismo, no CECA da Universidade
Estadual de Londrina.

LONDRINA
2010
1 INTRODUÇÃO

A intenção do presente trabalho é apresentar uma análise sobre as


entrevistas dadas pelos candidados a presidência da república, na bancada do Jornal Nacional
nos dois turnos das Eleições 2010.
A análise será focada nas características das perguntas direcionadas a cada
candidato e a forma com que foram feitas pelos apresentadores Willian Bonner e Fátima
Bernardes, buscando uma comparação entre candidatos e ao mesmo tempo entre possíveis
diferenção ocorridas entre o primeiro e o segundo turno.
Os métodos utilizados nessas análises buscam focar a linguagem utilizada, a
expressão corporal e o “tom” utilizados nas perguntas e respostas, tanto por parte dos
apresentadores quanto dos entrevistados. Cabe salientar que não haverá uma análise de
direcionamento político tanto da emissora em questão, Rede Globo, quanto daqueles que
fizeram as perguntas.
Os autores escolhidos estão ligados a matéria estudada, Teorias do
Jornalismo, e a característica do veículo que buscamos analisar. Entre eles estão José Luiz
Fiorin e Cremilda de Araújo Medina.
2 ANÁLISE

O conjunto de programas analisados foi dividido em pares, sendo feita uma


análise das entrevisas feitas no primeiro turno da eleição, depois a análise das entrevistas do
segundo turno e por fim uma comparação geral entre as entrevistas.
Cabe resaltar que entre as entrevistas dadas no primeiro turno houve a
participação da candidata Marina Silva (PV), que não será analisada aqui pois o objetivo era
uma comparação com o ocorrido no segundo turno, onde haviam apenas os candidatos José
Serra (PSDB) e Dilma Rousseff.

2.1 PRIMEIRO TURNO

As entrevistas com os candidatos a presidência da república na bancada do


Jornal Nacional, Rede Globo, teve início no dia 09 de agosto de 2010 e pela ordem decidida por
sorteio realizado com o partidos a primeira participante foi Dilma Rousseff (PT), sendo que no
dia 11 de agosto foi a vez de José Serra (PSDB) ir a bancada do jornal.
Nesse primeiro turno foi determinado um tempo de 12 (doze) minutos para
a duração de cada entrevista que era comandada pelos apresentadores Willian Bonner e
Fátima Bernardes.
Abaixo segue a primeira pergunta/resposta de cada candidato:
Bonner: Candidata, o seu nome como candidata do PT à presidência
foi indicado diretamente pelo Presidente, Lula, ele não esconde isso
de ninguém, algumas pessoas criticaram, disseram que foi uma
medida autoritária por não ter ouvido as bases do PT. Por outro lado,
a senhora não tem experiência eleitoral nenhuma, até este momento.
A senhora se considera preparada para governar o Brasil, longe do
Presidente Lula?

Dilma: Olha, Willian, olha, Fátima, eu considero que eu tenho


experiência administrativa suficiente. Eu fui secretaria municipal da
Fazenda, aliás, a primeira secretária de Fazenda de capital. Depois eu
fui sucessivamente, por duas vezes, secretária de energia do Rio
Grande do Sul. Assumi o ministério de Minas e Energia, também fui a
primeira mulher, e, fui coordenadora do governo, ao assumir a chefia
da Casa Civil. Como vocês sabem, é o segundo cargo mais importante
na hierarquia do governo federal. Então, eu me considero, viu Willian,
preparada para governar o país. E, mais do que isso, eu tenho
experiência, eu conheço o Brasil de ponta a ponta. Conheço os
problemas do governo brasileiro...

________________________________________________________

Bonner: Candidato, desde o início desta campanha, o senhor tem


procurado evitar críticas ao presidente Lula. O senhor acha que, e em
alguns casos fez até elogios a ele, o senhor acha que essa é a postura
que o eleitor espera de um candidato da oposição?

Serra: Olha, o Lula não é candidato a presidente. O Lula, a partir de


primeiro de janeiro, não vai ser mais presidente da República. Quem
estiver lá vai ter de conduzir o Brasil. Não há presidente que possa
governar na garupa, ouvindo terceiros ou sendo monitorado por
terceiros. Eu estou focado no futuro. Hoje tem problemas e tem
coisas boas. O que nós temos que fazer? Reforçar aquilo que está
bem e corrigir e poder melhorar aquilo que não andou direito. É por
isso que eu tenho enfatizado sempre que o Brasil precisa e que o
Brasil pode mais. Onde? Na área da saúde, na área da segurança, na
área da educação, inclusive do ensino profissionalizante. Meu foco
não é o Lula. Ele não está concorrendo comigo.

Nesse caso as entrevistas começam com rumos diferentes, mas com


características bem semelhantes. Enquanto na pergunta feita a Dilma é feita uma séria crítica a
sua falta de experiência eleitoral, no caso de Serra a pergunta trata da falta de críticas ao
"atual" presidente, citando mesmo seus elogios a ele. Para Fiorin (2001):
A linguagem é como um molde, que ordena o caos, que é a realidade
em si. Como a linguagem dá forma a esse caos, determinando o que é
uma coisa, um acontecimento, etc., cria uma imagem ordenada desse
mundo. (p.52)

Analisando as primeiras perguntas, sob esse conceito, é possível determinar


que a "coisa" tratada é a mesma - uma crítica, mas a forma como é posta nas perguntas
determina seus caminhos.
Segudo Medina uma entrevista montada em cima de um questionário
preestabelecido ou segundo idéias pré-existentes do entrevistador acaba por frustar o
receptor, pois esse facilmente perceberia a ausência de diálogo.
Ainda segundo Medina um grande obstáculo existente na comunicação
social é o direcionamento, muitas vezes dado pelo entrevistador.
Na maior parte das circunstâncias, o jornalista (comunicador)
imprime o ritmo de sua pauta e até mesmo preestabelece as
respostas: o interlocutor é conduzido a tais resultados. (MEDINA,
2004. p.6)

Enquanto na entrevista de Dilma a intensão é questionar a candidata sobre


um "defeito" seu, no caso de Serra a intensão é colocá-lo como um candidado que não procura
o embate.
Ao final dessas perguntas o retorno ao entrevistador também é diferente:
(Dilma) Bonner: Mas, a sua relação com o Presidente Lula, a senhora
faz questão de dizer que é muito afinada com ele, junto a isso, o fato
de a senhora não ter experiência, e ter tido o nome indicado
diretamente por ele, de alguma maneira a senhora acha que, isso
poderia fazer com que o eleitor a enxergasse ou enxergasse o
Presidente Lula com um tutor do seu governo, caso eleita?
________________________________________________________

(Serra) Bonner: Entendo. Agora, candidato, o senhor avalia o risco


que o senhor corre de essa sua postura ser interpretada como um
receio de ter que enfrentar a popularidade alta do presidente Lula?

É possível notar que o entrevistador volta ao tema da pergunta inicial para


dar sequência a entrevista e a personagem selecionada para essa ligação é o Presidente Lula,
mas mesmo essa figura é tratada de modo diferente nos dois trechos: no primeiro como tutor
ou ditador (pois foi dele a decisão de colocá-la como candidata) e no segundo trecho como um
presidente de alta popularidade.
Outro fato a se notar é como o retorno é dado, no caso de Dilma volta-se a
questionar sua falta de experiência antes de se formular uma pergunta. No caso de Serra a
pergunta foi finalizada com uma afirmação ou até concordância.
Para Medina (2004) a retomada feita por Bonner à Dilma poderia entrar no
gênero da espetacularização da entrevista, mais especificamente no quesito da “ironia
‘intelectualizada’”, que busca uma forma de condenação da pessoa (entrevistado) onde suas
idéias ou feitos são “ironicamente constestadas”.
Já a retomada da entrevista a Serra se encaixaria no gênero compreensão,
no quesito “perfil humanizado”, onde se busca no entrevistado uma forma de compreender
seus conceitos, valores, comportamentos, histórico de vida, isso sem “condenar” o glamorizar
o mesmo.
Em outro trecho da entrevista o apresentador questiona os candidatos
sobre alianças:
Bonner: A senhora tem nessa candidatura, além do apoio do
Presidente, a senhora têm alianças, né? Formadas para essa sua
candidatura, por exemplo, a do deputado Jader Barbalho, por
exemplo, a do senador Renan Calheiros, por exemplo, da família
Sarney, a senhora tem o apoio do ex-presidente Fernando Collor.
Figuras da política brasileira que, ao longo de muitos anos o PT, seu
partido, criticou severamente, eram considerados como oligarcas
pelo PT. Onde foi que o PT errou? Ou melhor, quando foi que ele
errou? Ele errou lá atrás quando fez aquelas críticas todas ou ele está
errando agora, quando botou todo mundo embaixo do mesmo
guarda-chuva?

Dilma: Eu vou te falar, eu perguntava outra coisa, onde foi que o PT


acertou? O PT acertou quando percebeu que, governar um país com a
complexidade do Brasil, implica necessariamente, a sua capacidade
de construir uma aliança ampla...

Bonner: Então errou lá atrás?


Dilma: Não, nós não. O PT não tinha experiência de governo, agora
tem. Nós não erramos, e vou explicar em que sentido, não é que nós
aderimos ao pensamento de quem quer que seja. O governo Lula
tinha uma diretriz, focar na questão social, fazer com que o país
tivesse a seguinte oportunidade: primeiro: um país que era
considerado dos mais desiguais do mundo, né? Diminuir em 24
milhões, a pobreza. Um país que as pessoas não subiam na vida,
elevar para as classes médias 31 milhões de brasileiros. Para fazer
isso, quem nos apoia, aceitando os nossos princípios e aceitado as
nossas diretrizes de governo, a gente aceita do nosso lado. Não nos
termos de quem quer que seja, mas nos termos de um governo que
quer levar o Brasil pra um outro patamar, para uma outra.

Bonner: O resumo é: o PT não errou, nem naquela ocasião, nem


agora.

Dilma: Não, eu acho que o PT não tinha tanta experiência, sabe,


Bonner? Eu reconheço isso. Ninguém pode achar que um partido
como o PT, que nunca tinha estado no governo federal, tenha
naquele momento, a mesma experiência que tem hoje, acho que o PT
aprendeu muito. Mudou. Porque que tem a capacidade de mudar é
importante. Mudou.

________________________________________________________

Bonner: É, é... uma questão política. Nesta eleição, existem


contradições muito claras nas alianças formadas pelos dois partidos
que têm polarizado as eleições presidenciais brasileiras aí nos últimos
16 anos, né? O PT se aliou a desafetos históricos. O seu partido, o
PSDB, está ao lado do PTB, um partido envolvido no escândalo do
mensalão petista, no escândalo que inclusive foi investigado e foi
condenado de forma muito veemente pelo seu partido, o PSDB.
Então, a pergunta é a seguinte: o PSDB errou lá atrás quando
condenou o PTB ou está errando agora quando se alia a esse partido?

Serra: William é uma boa pergunta. O PTB, no caso de São Paulo, por
exemplo, sempre esteve com o PSDB, de uma ou de outra maneira.
Isso teve uma influência grande na aliança nacional. Os partidos, você
sabe, são muito heterogêneos. O personagem principal... Os
personagens principais do mensalão nem foram do PTB. Os
personagens principais foram do PT, aliás, mediante denúncia do
Roberto Jeferson, que era então líder do PTB.

Bonner: Os nomes de petebistas, todos, uma lista muito vasta,


começando pelo Maurício Marinho.

Serra: Você tem quarenta lá no Supremo Tribunal Federal...

Bonner: Não. Exato.

Serra: O PT ganha disparado...

Bonner: Mas não há nenhum constrangimento para o senhor pelo


fato de esta aliança por parte do seu partido, o PSDB, ter sido
assinada com o PTB pelas mãos do presidente do partido que teve o
mandato cassado inclusive com votos de políticos do seu partido, o
PSDB? Isso não provoca nenhum tipo de constrangimento?
Serra: Olha, o Roberto Jefferson, é o presidente do PTB, ele não é
candidato. Ele conhece muito bem o meu programa de governo, o
meu estilo de governar. O PTB está conosco dentro dessa perspectiva.
Eu não tenho compromisso com o erro. Aliás, nunca tive na minha
vida. Tem coisa errada, as pessoas pagam, né? Quem é responsável
por si é aquele que comete o erro, é ele que deve pagar. Eu não fico
julgando. Mas eu não tenho compromisso com nenhum erro. Agora,
quem está comigo sabe o jeito que eu trabalho. Por exemplo, eu não
faço aquele loteamento de cargos. Para mim, não tem grupinho de
deputados indicando diretor financeiro de uma empresa ou indicando
diretor de compras de outra. Por quê? Para que um deputado quer
isso? Evidentemente não é pra ajudar a melhorar o desempenho. É
para corrupção. Comigo isso não acontece. Não aconteceu na saúde,
no governo de São Paulo e na prefeitura.

Nos dois casos o tema tratado é o mesmo, mas como na outra situação a
forma como é feita a pergunta aos candidatos, ou mesmo como elas são interrompidas e as
colocações do entrevistador são completamente diferentes.
Para Morin (apud Medina, 2004):
Sobre as perguntas de fato, as respostas tenderão a ser fabuladoras
e/ou dissimulativas, no que se refere às grandes regiões-tabu: o sexo,
a religião, a política. Nesse último plano, as desconfianças serão mais
ou menos grandes, de acordo com o regime do país [...] ou segundo o
caráter minoritário ou não, subversivo ou não das opiniões políticas
do entrevistado. (p.12)

Em um novo trecho é pertguntado sobre problemas do atual governo de


seu partido à candidata Dilma e no caso de Serra pergunta-se sobre uma possível proposta
caso fosse eleito.
Fátima: Candidata, vamos falar um pouquinho de outro problema,
que o saneamento. Segundo números do IBGE, o saneamento passou
no Brasil de 46,4 pra 53,2 no governo Lula, um aumento pequeno, de
um ponto percentual ao ano. O que é um resultado fraco em uma
área que é muito importante para a população.

Dilma: Porque nós vamos ter um resultado excepcional a partir dos


dados quando for feita a pesquisa em 2010. Talvez, Fátima, em 2010,
uma das áreas que eu mais me empenhei, foi a área do saneamento.
Porque o Brasil, só pra você ter uma ideia, investia menos de 300
milhões, o governo federal, menos de 300 milhões no Brasil inteiro.
Hoje aqui no Rio, em uma favela, aqui a da Rocinha, que eu estive
hoje, nós investimos mais de 270 milhões.

Fátima: Candidata, esses são dados de seis anos, quer dizer, que esse
resultado que a senhora está falando vai aparecer de um ano e meio
pra cá?

Dilma: Que que aconteceu? Nós lançamos o programa de aceleração


do crescimento, para o caso de saneamento, na metade de 2007,
começou a amadurecer, porque o país parou de fazer projetos,
prefeitos e governadores. Apresentaram os projetos agora, em torno,
é, de começo de início de 2008, e, aceleraram. Agora eu estava
vendo, recentemente, é, nós temos hoje uma execução de obras no
Brasil inteiro, aqui, Rocinha, Pavão Pavãozinho, Complexo do Alemão,
obras de saneamento, obras de habitação. A baixada Santista no Rio,
e a Baixada Fluminense aqui no Rio de Janeiro, ela teve um
investimento monumental em saneamento.

________________________________________________________

Bonner: Candidato, eu gostaria de abordar um pouquinho também


da sua passagem pelo governo de São Paulo. O senhor foi governo
em São Paulo durante quatro anos, seu partido está no poder em São
Paulo há 16 anos. Então é razoável que a gente avalie aqui algumas
dessas ações. A primeira que eu colocaria em questão aqui é um
hábito que o senhor mesmo tem de criticar o modelo de concessão
das estradas federais. De outro lado, os usuários, muitos usuários das
estradas estaduais de São Paulo que estão sob regime de concessão,
se queixam muito do preço e da frequência com que são obrigados a
parar para pedágio, quer dizer, uma quantidade de praças de
pedágio que eles consideram excessiva. Pergunta: o senhor pretende
levar para o Brasil inteiro esse modelo de concessão de estradas
estaduais de São Paulo?

Serra: Olha, antes disso. No caso de São Paulo, tem uma pesquisa da
Confederação Nacional dos Transportes, um organismo
independente: 75% dos usuários das estradas do Brasil acham as
paulistas ótimas ou boas. 75%, um índice de aprovação altíssimo. Isso
para as federais é apenas 25%. De cada dez estradas federais, sete
estão esburacadas. São as rodovias da morte. Na Bahia, em Minas,
BH, Belo Horizonte, Governador Valadares, em Santa Catarina. Enfim,
por toda a parte. O governo federal fez um tipo de concessão que não
está funcionando.

Bonner: Mas a que o senhor fez motivou críticas quanto ao preço.


Então a questão que se impõe é a seguinte, candidato: não existe um
meio termo? Ou o cidadão brasileiro tem uma estrada boa e cara ou
ele tem uma estrada ruim e barata. Não tem um meio termo nessa
história?

Serra: Eu acho que pode ter uma estrada boa que não seja cara, se
você trabalhar direito. Por exemplo, a concessão que eu fiz da Ayrton
Senna. O pedágio anterior era cobrado pelo órgão estadual. Caiu
para a metade o pedágio. É que realmente, geralmente, os exemplos
bons não veem...

Bonner: Mas esse modelo vai ser exportado para as estradas


federais?

Serra: Esse modelo que diminuiu pode ser adotado, porque você tem
critérios para ser examinados. O governo federal fez estradas
pedagiadas. Só que estão, por exemplo, no caso de São Paulo, a Régis
Bittencourt, que é federal, ela continua sendo a rodovia da morte. E a
Fernão Dias, Minas-São Paulo, está fechada. Você percebe? Nunca o
Brasil esteve com as estradas tão ruins. Agora, tem mais: em 1000 é,
é, no começo de 2003 para cá, foram arrecadados R$ 65 bilhões para
transportes, para estradas na Cide. É um imposto. Sabe quanto foi
gasto disso pelo governo federal? Vinte e cinco. Ou seja, foram R$ 40
bilhões arrecadados dos contribuintes para investir em estradas do
governo federal que não foram utilizados. A primeira coisa que eu
vou fazer, William, é utilizar esses recursos para melhorar as
estradas. Não é o assunto de concessão que está na ordem do dia. É
gastar. É entender o seguinte: por que de cada R$ 3 que o Governo
Federal arrecadou, foram 65, ele gastou um terço disso? É uma
barbaridade.

Novamente há uma contradição na entrevista, mesmo a introdução da


questão sendo diferente e feita por apresentadores diferentes a forma como são tratados os
assuntos relacionados aos governos dos quais os candidatos fazem parte é distinta.
Ao se tratar de temas distintos se atinge parcelas diferentes da população,
e por consequência necessidades também mais ou menos importantes. Para Fiorin (2001);
A linguagem tem influência também sobre os comportamentos do
homem. O discurso transmitido contém em si, como parte da visão de
mundo que veicula, um sistema de valores, isto é, estereótipos dos
comportamentos humanos que são valorizados positiva ou
negativamente. (p.55)

Nesse caso, para a grande maioria da população, seria mais necessário


tratar de saneamento básico do que concessão de estradas, mais especificamente nessa
eleição, o tema saneamento é de fundamental interesse a classe mais baixa, grande eleitorado
de Lula, e que apoiava Dilma, enquanto os dados de melhores estradas do Brasil, apesar do
pedágio, são diretamente ligadas ao eleitorado de Serra (Sul, Sudeste e Centro-oeste), que por
vezes preocupa-se mais com a qualidade da estrada, do que um preço superior no pedágio.
É possível determinar que essa primeira sessão de entrevistas foi marcada
por um direcionamento, intencional ou não, de perguntas mais críticas a um candidato e mais
questionadoras a outro.

2.2 SEGUNDO TURNO

No segundo turno a forma das entrevistas foi alterada na questão do


tempo, tanto para permitir a conclusão de um raciocínio sem interrupção quanto para a
possibilidade de uma mensagem final por parte do candidato.
Novamente por sorteio ficou determinado que a primeira entrevistada seria
Dilma Rousseff (PT) no dia 18 de outubro, e no dia seguinte, 19 de outubro foi realizada a
entrevista com o candidato José Serrá, tendo ambas 10 (dez) minutos de duração, com 1 (um)
minuto para conclusão de uma resposta sem cortes e mais 30 (trinta) segundos para a
mensagem aos telespectadores.
A primeira pergunta realizada a ambos os candidatos nesse segundo turno
dizia respeito a votação dos mesmos no primeiro turno, onde o tema poderia ser definido
como o alcance de metas: eleição em primeiro turno para um e percentual de votos de um
candidato anterior para o outro.
Fátima: Candidata, a senhora liderou grande parte da campanha,
esteve muito perto de vencer no 1º turno. Como a senhora explicaria,
essa decisão do eleitor, de levar a disputa para o 2º turno?

Dilma: Olha, Fátima, eu acho que, o eleitor queria uma oportunidade


a mais para poder refletir e para poder, cotejando as propostas, ter
uma opção, agora com mais clareza. Mas, a verdade é que nós... eu
to... é, muito grata aos eleitores que votaram em mim, porque eu tive
47 milhões de votos. E, veja que coisa curiosa, eu acredito que eu seja
a mulher mais... a segunda mulher mais votada da história do
planeta – a primeira sendo a Indira Gandhi.

________________________________________________________

Bonner: Candidato, o senhor teve no 1º turno um desempenho


inferior ao que seu colega, Geraldo Alckmin conseguiu na eleição
presidencial de 2006. Ele teve 9 pontos percentuais a mais do que o
senhor obteve dessa vez. A que o senhor atribui essa resposta dos
eleitores as suas propostas?

Serra: Olha, é, primeiro os outros candidatos eram diferentes.


Inclusive não tinha uma terceira candidata ou terceiro candidato tão
forte como a Marina. No 1º turno os eleitores fazem uma
aproximação pro voto, não é um julgamento definitivo. E, de todo o
modo, eu cheguei a ter trinta e três milhões de votos, a Marina vinte.
De maneira que isso representou a maioria da população brasileira,
mostrando que, na verdade, o Brasil quer um 2º turno, né? Porque 2º
turno tem muito mais possibilidade, entre os dois mais votados, de
ter conhecimento, de iluminar a cabeça e a mente para o dia da
eleição.

Em uma análise das respostas dos candidatos é possível perceber que


ambos tentaram responder de maneira otimista a escolha do eleitor, Dilma se referindo a ser a
segunda mulher mais votada, apesar do erro em se referir inicialmente como sendo a mais
votada. Por outro lado Serra tenta disfazer a comparação citando candidatos fortes, sem
mencionar ter conseguido chegar ao segundo turno apenas pelo crescimento do eleitorado de
Marina Silva (PV) nos útimos dias antes da eleição.
Assim como já havia sido colocado com a citação de Morin (apud Medina,
2004) as respostas foram dissimuladas, diante dos fatos realmente percebíveis na eleição do
primeiro turno, onde a candidata Dilma perdeu grande quantidade de votos próximo da
votação e o candidato Serra só conseguiu alcançar o segundo turno pelo crescimento da
terceira colocada.
Um dos fatos que poderia explicar a existência de um segundo turno foi
tratado na questão seguinte aos dois candidatos.
Bonner: Candidata, quando terminou o primeiro turno, a senhora e
alguns dos seus assessores enfim, e partidários do Partido dos
Trabalhadores chegaram a dizer que, aquela discussão, aquela
polêmica sobre o aborto, tinha motivado essa decisão do eleitor no
fim do 1º turno. Essa polêmica toda, essa discussão, não teria se dado
por causa da sua mudança de posição sobre a legislação referente ao
aborto? Eu digo isso porque, pessoalmente, a senhora sempre se
manifestou contrária ao aborto. O que a senhora fez em algumas
entrevistas, na revista Marie Claire, na Folha de S.Paulo foi dizer que,
era favorável a mudança na legislação, a legalização do aborto. Não
teria sido mais natural, num país tolerante como é o nosso, que a
senhora tivesse admitido essa mudança de opinião a respeito?

Dilma: Veja bem, Bonner. Eu acredito que nessa história do aborto,


houve muita confusão. Há uma diferença, Bonner, entre a posição
individual minha como cidadã; eu sou contra o aborto, porque eu
acho que é uma violência contra a mulher, e não acredito que mulher
alguma é a favor do aborto. Porque as pessoas que recorrem ao
aborto os fazem... o faz em situação limite, em situação limite. O que
é que acontece com o Presidente da República? Ele não pode fingir
que não existem milhares de mulheres, principalmente, até milhões,
pelos dados até publicados pelo O Globo, são milhões de mulheres,
três milhões e meio de mulheres que recorrem ao aborto. Nós não
podemos fingir que essas mulheres não existem, e mais, não podemos
fingir que essas mulheres, elas fazem isso em situações muito
precárias, e provoca, recorrer ao aborto provoca riscos de vida e em
alguns casos a morte. Pois bem, a minha posição sempre foi a
seguinte: você não pode colocar essas mulheres... prender essas
mulheres, não se trata de prender as mulheres, se trata de cuidar
delas, porque você não vai deixar três e meio milhões de mulheres,
né? Ameaçadas à sua saúde. Então, são duas posições diferentes,
quando a gente diz que o aborto é um caso de polícia, no Brasil é um
caso de saúde pública, o que nós estamos falando? Nós estamos
falando o seguinte: para prevenir, para que não haja o aborto,
primeira questão: nós temos que tratar a quantidade imensa de
gestantes adolescentes que recorrem ao aborto, ou porque tem medo
da família não aceitar ou porque, já não tem inclusive laços familiares
efetivos que podem garantir a ela o apoio para poder ter a criança.

Bonner: Agora, na semana passada, a senhora divulgou um


documento em que a senhora firmou um compromisso de não propor
nenhuma modificação na Constituição. Algumas pessoas que
defendem o aborto, como uma questão de saúde pública, como a
senhora mesmo já fez no passado, entenderam que... que esse seu
compromisso seria um recuo, uma concessão excessiva aos religiosos,
que entra em contradição com algo que a senhora mesmo defendeu,
a senhora dizia “é uma questão de saúde pública e, é um absurdo” a
senhora disse isso pra Folha de S.Paulo “é uma absurdo que não se
legalize a questão”. A senhora não vê essa contradição?

Dilma: Não, não vejo, sabe por que Bonner? Porque ninguém em sã
consciência vai propor prender três milhões e meio de mulheres, até
porque tem um problema concreto, prático. Eu não concordo com a
mudança na legislação, a legislação prevê aborto em dois casos,
prevê no caso de estupro e de risco de vida pra mulher. Então, há,
necessariamente, uma forma da gente conduzir isso sem alteração, e
acredito que um processo de autorização, por exemplo, por plebiscito
seria muito ruim, porque dividiria o Brasil de ponta a ponta. Não
levaria a uma forma de acordo e de consenso, pelo contrário, os
países que fizeram isso tiveram péssimas experiências. Então, eu fiz
uma carta, que é uma carta a todos os religiosos, mas é uma carta
pública ao povo brasileiro. No sentido de que, eu acredito que, a
legislação...

Fátima: Pode ser mantida.

Dilma: pode ser mantida e não é necessário alterar os termos da


Legislação.

______________________________________

Fátima: Agora, esse 2º turno, ele ta radicalizado. Uma mistura de


religião e política que normalmente não costuma dar certo em lugar
nenhum. A sua campanha tem explorado posições do PT e da
candidata do partido, por exemplo, em relação ao aborto. Essa
mistura, política e religião, não deveria ser evitada?

Serra: Olha, não somos nós que levantamos, nem nós exploramos.
Acontece o seguinte: a Dilma manifestou-se a favor do aborto, deu
uma entrevista que está, enfim, tem no vídeo. É, o PT no final do ano
passado fez aquele programa nacional dos direitos humanos, que
tornava transgressor, criminoso, aquele que fosse contra o aborto.
Então, eles puseram a questão no ar...

Fátima: Mas, a sua campanha também, candidato.

Serra: Eu sempre manifestei, eu sempre manifestei o seguinte: eu sou


contra a liberação do aborto. E, nunca explorei isso do ponto de vista
de que, ela estaria errada por ser a favor do aborto. O que acontece é
que, ela afirmou uma coisa, depois afirmou o oposto, nem reconhece
que disse o oposto. E, numa campanha, esses temas, Fátima, acabam
sendo postos pela própria população. Nunca me passou pela cabeça
transformar isso em um centro de campanha.

Fátima: Mas, candidato, a sua campanha tem falado insistentemente


em Deus, tem mostrado imagens de missa, de cultos religiosos.
Questões como essa do aborto, até mesmo a união civil entre
homossexuais, elas não deveriam receber um tratamento de política
pública e não uma abordagem do ponto de vista da religião, isso não
contribui, assim, para um retrocesso do debate político?

Serra: Mas, olha, eu insisto, quem introduziu esse ingrediente na


campanha foi o PT, e foi a Dilma. Como eu tenho uma posição
contrária ao aborto, eu sempre fui perguntado, e sempre disse isso...

Fátima: Mas, é um retrocesso? O senhor considera um retrocesso?

Serra: Todas as campanhas que eu fiz, eu sempre visitei igrejas. Eu


sou católico, mas sempre visitei igrejas, inclusive, cristãs...
evangélicas. Sempre falo no meu linguajar cotidiano, porque ta
incorporado, eu sempre digo “se Deus quiser”. Eu sou uma pessoa
religiosa. Não há nada forçado nesse sentido. E, aliás, a candidata
não fez outra coisa se não passar a frequentar igrejas, coisa que
habitualmente ela não fazia. Então, isso da um tipo de aquecimento,
é, que se transforma no que você falou. O que eu quero dizer é que, a
base disso está no fato de que uma hora ela disse uma coisa, outra
hora ela disse o oposto. Aliás, não é o único caso em que isso
acontece.

Novemente um caso onde o assunto se encontra em uma região-tabu como


posto por Morin (apud Medina, 2004), mas aqui como explicita Fátima Bernardes em sua
questão, a questão é tratada ao mesmo tempo pelas campanhas como religião e política.
Primeiramente a pergunta é formulada diferentemente para cada
candidato, enquanto Dilma foi inquirida sobre suas posições e contradições, com citação de
fatos em que disse ser favorável a legalização do aborto; Serra é perguntado sobre a ligação
dos temas religião e política.
Já nas respostas dos candidatos o que se viu foi a mesma situação ambos
fragmentaram as respostas, e apesar do tempo gasto com elas não deixaram claro suas
posições ou de suas campannhas.
Ainda segundo Morin (apud Medina, 2004) dependendo da situação e do
histórico, ainda mais em clima eleitoral, a reação dos entrevistados podem ser as mais
diversas, mas essas respostas se encaixariam no quesito “inibição”, traduzido como um
bloqueio natural do entrevistado ou simplesmente pela fuga, com uma “resposta lateral”.
Fátima: Candidata, os institutos de pesquisa atribuíram não a essa
questão do aborto, mas ao escândalo da sua ex-assessora, Erenice
Guerra essa sua ida para o 2º turno, ao escândalo envolvendo a
contratação de familiares, parentes e tráfico de influência. A senhora
num primeiro momento chegou a dizer que, essas denúncias eram
factoides, depois, a senhora mesma, reconheceu que a sua ex-
assessora errou e que o seu partido investiga os erros. Agora, a
questão que surge é a seguinte: como é que isso aconteceu num
ministério que a senhora ocupou, a Casa Civil, e que garantia a
senhora oferece ao eleitor de que isso não venha se repetir no caso
da senhora ser eleita?

Dilma: Olha, Fátima, a gente tem que ser muito claro com o eleitor e
não tentar enganá-lo. Erros e pessoas que erram acontecem em
todos os governos. O que diferencia um governo de outro governo, é
a atitude desse governo em relação ao erro. Nossa atitude é, nós
investigamos e punimos, por exemplo no caso da Erenice, eu não
concordo com a contratação de parentes e amigos. Sempre fui
contaria ao nepotismo, jamais deixei que se praticasse...

Fátima: Mas, ele aconteceu.

Dilma: sempre pode acontecer, as pessoas podem errar em vários


momentos, não tem como você saber que a pessoa vai errar ou não, à
priori. O que você tem que garantir é que haja punição, vou te dar um
exemplo:...

Fátima: A senhora acha que houve alguma falha, por exemplo, na


estrutura montada pela senhora na Casa Civil, para que esse erro
pudesse acontecer?

Dilma: Veja bem, ninguém controla o governo inteiro, o que você tem
que ter garantia, vou repetir, é que, havendo o mal feito, você
investiga e pune. Nós estamos, nós estamos, claramente, já dezesseis
pessoas já depuseram no caso da Erenice, e a polícia ta investigando
se houve ou não houve tráfico de influência. É, quanto a nomeação de
parentes, foram todos, os que estavam ainda no governo, porque a
grande maioria não estava, foram demitidos. Veja você, há uma
diferença entre nós e o meu adversário, o meu adversário tem uma
acusação gravíssima que é o caso, é, Paulo Vieira de Souza. O Paulo
Vieira de Souza ta investigado na operação da polícia federal,
chamada Castelo de Areia por propina, porque ele diretor do
equivalente aqui no Rio ao Departamento de Estradas, e ele cuidava
das mais importantes obras do governo do estado de São Paulo. Até
agora, não houve uma investigação, e não houve nenhum processo,
pelo contrário, há uma diferença entre quem investiga e pune e quem
acoberta e não pune. Quem acoberta e cria uma coisa que se chama
impunidade, porque a gente tem de perceber isso. Um governo é
como uma empresa, ninguém sabe de absolutamente tudo que
acontece dentro de uma empresa, mas o que você tem de ter? Você
tem de ter mecanismos para havendo conhecimento daquela
atividade, eu quero te dizer, no meu governo, eu... eu serei implacável
tanto com essa questão de nepotismo, né? que é a contratação de
parentes, quanto com tráfico de influência ou conhecimento de
qualquer malfeito relacionado a propina ou outras...outras variantes
disso.

________________________________________________________

Bonner: Candidato, na sua propaganda eleitoral o senhor tem


mostrado obras grandes que realizou como governador de São Paulo.
Rodoanel, ampliação da marginal do Tietê, essas obras foram
tocadas, em parte ou totalmente, pela DERSA, empresa estadual que
cuida disso. Quando o senhor era governador, o diretor da DERSA era
Paulo de Souza, também conhecido como Paulo Preto, por alguns.
Paulo Preto foi acusado de ter arrecado, ilegalmente, dinheiro para a
campanha do PSDB, de ter ficado com esse dinheiro pra ele. O PSDB e
o senhor já negaram essa informação, já disseram que não houve
essa arrecadação. Mas o fato é que, antes de os senhores negarem
isso, Paulo Preto ao jornal Folha de S.Paulo disse o seguinte: “não se
abandona um líder ferido na estrada”. O que ele quis dizer com isso?

Serra: Olha, Willian, antes dessa entrevista nós já tínhamos


desmentido. Não houve desvio de dinheiro na minha campanha, que
seria a vítima no caso. Ou seja, não houve ninguém que tivesse
doado, o dinheiro não tivesse chegado, e a pessoa tivesse feito chegar
a gente de que, a contribuição não tinha chegado, que tinha dado e
não chegou, isso não aconteceu.

Bonner: Mas, essa frase “não se abandona um líder ferido na


estrada”... parece ameaça.

Serra: Não, não. Porque sempre tem dentro de um partido gente que
gosta de um, gente que gosta do outro. Mas o fato é que, não houve
o essencial que é o desvio de dinheiro na minha campanha; porque eu
saberia. Em todo o caso, nós seriamos a vítima, você percebe? Quer
dizer, e ai não se trata de dinheiro do governo, é um dinheiro que foi
contribuição para uma campanha. Eu desmenti isso há muito tempo,
e o assunto volta, posto inclusive pelo PT, porque o que eles gostam
de fazer, de vir com esses ataques, às vezes, meio incompreensíveis,
para nivelar todo mundo. Como se os escândalos da Casa Civil, como
se os escândalos desse senhor, agora cardeal na Eletrobrás, como se
tudo pudesse ser também reproduzido, o que não aconteceu, do
outro lado. Eu não tenho nenhum chefe da Casa Civil que ficou do
meu lado, e aprontou tudo o que a Erenice aprontou, braço direito da
Dilma.

Bonner: Sim, mas eu tenho que observar o seguinte: primeiro: é Paulo


de Souza tinha um cargo estratégico no seu governo, não é? cargo
importante, de grandes obras. E, teve uma filha dele, inclusive,
contratada pelo senhor, tanto na prefeitura de São Paulo quanto no
governo do estado em cargo de confiança. Quer dizer, essa relação
sua com parentes, também, de alguma maneira não configura ai um
nepotismo?

Serra: Essa menina foi contratada, eu nem conhecia, não foi


diretamente por mim. Para trabalhar no cerimonial, que é, que faz
recepções, que cuida de solenidades e tudo o mais, entre muitas
outras. Tinha um currículo, sabia dois idiomas, ou, sabe dois idiomas,
sempre trabalhou corretamente, inclusive, eu só vim, a saber, que era
filha de um diretor de uma empresa, muito tempo depois. Ela não
está em nenhum cargo, é, nunca teve nenhuma acusação, nem
nenhum cargo que tome decisões, faça lobby, pegue dinheiro, como
no caso dos filhos da Erenice.

As perguntas colocadas a esse ponto buscam definir o que podemos


chamar de discurso polêmico segundo Citelli (2002), onde as perguntas feitas são dirigidas
como num embate/debate e onde “o discurso polêmico possui certo grau de investigação,
visto apresentar argumentos que podem ser contestados”. (p.39)
Assim como em um debate, mesmo os candidatos não estando frente a
frente, as respostas são dadas citando o outro e seu possível “crime” mais grave. Nessa parte
das respostas é possivel perceber que os candidatos estão tentando persuadir os
telespectadores. Ainda seundo Citelli (2002):
É possível que o persuasor não esteja trabalhando com uma verdade,
mas tão-somente com algo que se aproxime de uma certa
verossimilhança ou simplesmente a esteja manipulando. (p.13)
3 CONCLUSÃO

Como é possível perceber nesses trechos e durante todas as entrevistas dos


candidatos, a intenção é convencer os telespectadores que suas “verdades” ou posições são
melhores do que os adversários.
Mas Citelli (2002) deixa claro que há maneiras de evitar ser iludido e que
“de início é bom lembrar que persuadir não é sinônimo imediato de coerção ou mentira”.
É bom lembrar também que por se tratar de uma campanha eleitoral os
motivos para levantar temas polêmicos pelos entrevistadores são os mais diversos, tanto para
manter, e se possível aumentar a audiência, como por conceitos preestabelecidos pelos
mesmos e que possíveis colocações durante as respostas podem ou não influenciar seu
resultado.
Em uma comparação geral é possível perceber que os candidatos mantém
uma postura firme diante das perguntas, entretanto, segundo Salzer (1982) “a pessoa utiliza
seu próprio corpo para amplificar, reduzir, contradizer, ou tornar emocionante o que é dito
com a palavra” (p.65). Dessa forma por alguns detalhes é possível notar tensões em
determinadas respostas ou facilidade com outras, mesmo que na maior parte das vezes os
candidatos esquivam-se do tema central da questão.
Ainda no sentido de uma campanha eleitoral é possível observar o
momento em que as entrevistas foram feitas e de acordo com os temas em discução, é
possível observar o que diz Fiorin (2001):
A concepção do discurso como fenômeno, ao mesmo tempo,
autônomo e determinado, obriga a análise a voltar-se para dentro e
para fora, para o texto e para o contexto, para os mecanismos
internos de agenciamento de sentido e para a formação discursiva
que governa o texto. (p.77)

Assim como cita Garrett (1991), todas as pessoas são envolvidas por uma
entrevista, de uma maneira ou outra estaram ligadas aos fatos, ao entrevistado, ou ao
entrevistador. Mas cabe colocar um diferencial nesse caso, aqui todos estavam envolvidos com
algo a mais, o futuro de um país, onde sendo persuadidos ou não, acreditando ou não nos
candidatos, teriam de escolher um deles para comandar o país durante 4 (quatro) anos, ou se
abster de tal decisão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. 15.ed. São Paulo: Ática, 2002.


FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. 1.ed. São Paulo: Ática, 2001.
GARRETT, Annette Marie. A entrevista, seus princípios e métodos. tradução de Maria de
Mesquita Sampaio...[et al.]. 10.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1991.
MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista: o diálogo possível. 4.ed. São Paulo: Ática, 2004.
SALZER, Jacques. A expressão corporal: uma disciplina da comunicação. tradução Juracy Daisy
Marchese. 1.ed. São Paulo: Difel, 1982.

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