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A individualidade humana: ponderações acerca da concepção de individuo no

universo da tradição marxista


Sandra Regina de Abreu Pires *
*Assistente Social. Mestre e doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. Docente do Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina. E-mail:
srapires@terra.com.br ou pires@uel.br
Resumo: O presente texto tem origem em tese de doutorado da autora (Serviço Social: Função Educativa e
Abordagem Individual) defendida junto à PUC-SP em 2003. Constitui-se na apresentação parcial e concisa de
resultados obtidos nesse processo acerca da concepção de individuo no universo da tradição marxista e seu
objetivo se restringe a oferecer possíveis elementos contributivos para uma reflexão sobre a intervenção
profissional no âmbito individual. Aborda a constituição da individualidade do singular do ponto de vista ontológico
e de sua inserção nas condições concretas de existência próprias às sociedades de classes.

Palavras Chaves: ser singular, indivíduo, individualidade, indivíduo alienado.

The human individuality: Considerations about the individual conception in the Marxist tradition universe.

Abstract: The present text, originates from a doctoral thesis of the author ( Social Work: Educational Function
and Individual Approach) presented at PUC-SP in 2003. It constitutes in the partial and concise results obtained in
this process about the individual conception of the Marxist tradition and its objective restricts itself in offering
possible contributive elements for the reflection about the professional intervenience in the individual scope. It
approaches the constitution of the singular individuality from the ontological point of view and its insert in the
existence concrete conditions proper of the class societies.

Key words: singular being, individual, individuality, alienated individual

Introdução

São inquestionáveis os avanços empreendidos pela categoria nas últimas décadas, permitindo que a
profissão adentrasse no século XXI com um acúmulo crítico-reflexivo e com um amadurecimento ímpar. No
entanto, sabemos que essa configuração, em grande medida legatária de uma interlocução mais sólida com a
tradição marxista, não resulta na inexistência de desafios analíticos. Ao revés, eles são muitos, merecendo
destaque os relativos ao enfrentamento teórico-metodológico de temas mais diretamente afetos à dimensão
interventiva da profissão.

Compartilhando desse entendimento, elegemos como tema de nossa tese de doutorado, defendida junto à
PUC-SP em 2003, a abordagem individual como modalidade interventiva da prática profissional do assistente
social, questão que não tem merecido investimentos analíticos significativos, mas que, paradoxalmente, continua
sendo requerida substancialmente no cotidiano profissional. Uma avaliação, mesmo que superficial, nos mostra
que a abordagem individual é, em maior ou menor grau, uma exigência na totalidade dos espaços ocupacionais e
que as dificuldades em torno de sua concretização não se mostram pontuais ou residuais. Em assim sendo, nos
parece inquestionável que a carência de investimentos analíticos que permitam sua iluminação à base da
tradição marxista só pode fortalecer tais dificuldades e obstaculizar sua devida inserção no projeto ético-político
profissional assumido nessas últimas décadas.

Para o enfrentamento desse tema, o caminho por nós percorrido envolveu uma maior aproximação à
concepção de homem e de indivíduo no universo da tradição marxista, privilegiando o pensamento marxiano. Os
resultados obtidos por intermédio dessa aproximação são aqui apresentados de forma parcial e concisa,
resultados esses que, temos claro, não podem ser tomados como uma construção teórica substantiva sobre a
individualidade humana, mas que podem permitir o oferecimento de contributos à reflexão sobre a intervenção do
assistente social a indivíduos.

Categorias ontológicas na constituição da individualidade do singular

Embora não haja em Marx algo que possa ser qualificado de teoria da personalidade ou da individualidade (o
que, aliás, não passa nem de perto pelo objetivo de suas obras), entendemos que é nele que estão as
proposições básicas assumidas por outros pensadores inseridos na tradição marxista para responder à
recorrente pergunta “o que é o homem”, tanto em sua dimensão genérica (o gênero humano), como em sua
dimensão individual (o ser singular).

Com esse fundamento e tomando o homem em sua dimensão individual, temos que o singular é, antes de
tudo, um ser natural, corpóreo, sensível, objetivo, [...] um ser que sofre, condicionado e limitado, tal como o
animal e a planta [...] (MARX, 1989, p. 249-250) e um representante de sua espécie.

Como qualquer outro animal, o indivíduo é um ser corpóreo constituído por uma base orgânica e inorgânica
que, permitindo a efetivação de processos biofísicos, possibilita sua continuidade como ser vivente. É isso que
põe para ele poderes e capacidades dadas geneticamente, assim como necessidades orgânicas/naturais. A
satisfação dessas necessidades e, portanto, a efetivação de tais processos é, por sua vez, dependente de
elementos externos ao indivíduo – de objetos naturais porque presentes não em seu próprio corpo, mas na
natureza. Ou seja, o indivíduo não é um ser que tem capacidade de auto-satisfação: é um ser objetivo, condição

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