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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO

INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO1

Introdução

Desenvolvimento das relações de consumo x implemento e difusão do comércio;


–Sociedades sofisticadas e mercados complexos;
Relação de consumo: caráter público;
Criação de “necessidades” de consumo
Contexto da aprovação do Código de Defesa do Consumidor;
–Política de privatizações;
–Globalização da economia;
–Vulnerabilidade do Consumidor;
–Regulação econômica e defesa do consumidor: o novo papel do Estado frente a nova
ordem do mercado global

Introdução

Código – sistematização da proteção do consumidor;


Princípio mais importante: Vulnerabilidade do Consumidor (art. 4º, I da Lei 8.078/1990);
–Este princípio deve orientar a atividade de interpretação do Código, independente da
condição social, do grau de educação, da profissão e de outras condições do consumidor
Principal objetivo do Código: corrigir as desigualdades existentes no mercado entre
consumidor e fornecedor;
Incapacidade do mercado de consumo proteger, com suas próprias leis, o consumidor de
maneira adequada;
Intervenção do Estado, mediante atuação do Congresso, da expedição de normas
administrativas e a criação órgãos especializados de proteção do consumidor

Introdução

Mercado: Interação entre fornecedores e consumidores (ex: feira livre, shopping center,
etc.);
–Não há a necessidade do contato direto para configuração da idéia de mercado (ex: venta
por telefone, por via eletrônica, por correspondência)
Duas operações fundamentais são objetos do mercado:
–A obtenção de informação;
–A composição de interesses
O mercado possui duas dimensões:

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Material elaborado por Carlos Sérgio Gurgel da Silva – mestrando em Direito Constitucional (UFRN).
–Mercado de recursos – capital e trabalho como ingredientes no processo produtivo de
produtos e serviços;
–Mercado de Consumo – busca satisfazer às necessidades dos consumidores; (OBJETO
DO DIREITO DO CONSUMIDOR)
NECESSIDADES REAIS;
NECESSIDADES CRIADAS

Introdução

Como resultado das relações entre fornecedores e consumidores, ao longo dos anos,
percebeu-se uma série de imperfeições do mercado, levando a uma série de abusos, tais
como:
–Acidentes de consumo provocados por serviços e produtos perigosos;
–Má qualidade dos bens de consumo;
–Publicidade enganosa e abusiva;
–Práticas e cláusulas contratuais abusivas;
–Dificuldade – quando não impossibilidade – de acesso à justiça

Consumerismo

O consumidor não é uma categoria econômica, histórica e sociológica nova;


–O ser vivo perece sem consumo;
–Para Antônio Herman Benjamim “a maçã de Adão foi o primeiro bem de consumo a
verdadeiramente afetar e modificar o comportamento do ser humano”
Consumerismo (neologismo) - É o movimento organizado de consumidores, próprio da
chamada sociedade de consumo;
–São os “esforços organizados dos consumidores em busca de reparação, restituição e
solução para a insatisfação que acumularam na aquisição de seu padrão de vida” (A. H.
Benjamim)
–O termos ainda não tem respaldo nos mais modernos dicionários do país

Direito do Consumidor como Direito Social

John F. Kennedy (1962) – Somos consumidores e precisamos de proteção;


O direito do consumidor é um direito é um direito social típico das sociedades capitalistas
industrializadas, onde os riscos do progresso devem ser compensados por uma legislação
tutelar (protetiva) e subjetivamente especial;
A ONU, em 1985, estabeleceu diretrizes para esta legislação e consolidou a idéia de que
se trata de um direito humano de nova geração (ou dimensão), um direito social e
econômico, um direito de igualdade material do mais fraco, do leigo, do cidadão civil nas
suas relações privadas frente aos profissionais, os empresários, as empresas, os
fornecedores de produtos e serviços, que nesta posição são experts, parceiros considerados
“fortes” ou em posição de poder (Machtposition);

Idéia do Direito do Consumidor como Direito Social em Econômico


É o conjunto de normas e princípios especiais que visam cumprir com esse triplo
mandamento constitucional:
–1) promover a defesa dos consumidores;
–2) observar e assegurar como princípio geral da atividade econômica, como princípio
imperativo da ordem econômica constitucional, a necessária “defesa” do sujeito de direitos
“consumidor”; e
–3) sistematizar e ordenar esta tutela especial infraconstitucionalmente através de um
Código (microcodificação), que reúna e organize as normas tutelares do direito privado e
público, com base na idéia de proteção do sujeito de direitos, um código de proteção e
defesa do consumidor
Trata-se de direito subjetivo público, não só de proteção contra as atuações do Estado,
mas de atuação positiva do Estado em favor dos consumidores, direito econômico e social

Força Normativa da Constituição

Aplicação deste novo direito privado de proteção dos consumidores (institucionalizado na


ordem econômica constitucional no art. 170, V, CF/88 e incluso como direito fundamental
no art. 5º, XXXII da CF/88) sob o fundamento suficiente da Força normativa da
Constituição (Konrad Hesse);
–A CF/88 é a garantia da existência e efetividade do direito consumidor no Brasil;
–Para Konrad Hesse, “os direitos assegurados nas Constituições, em especial os direitos
humanos e fundamentais, não são meros programas ou discursos meramente retóricos,
mas sim têm força de norma, e como norma têm uma força-guia mesmo frente a ramos
como o do direito privado”;
–Não necessariamente o CDC tem a obrigação de dispor e resolver todas as demandas e
questionamentos em matéria de direitos do consumidor. Não se pode limitar tal direito, uma
vez que sua garantia é mais ampla, pois decorre da própria Constituição.

Direito do Consumidor como novo Direito Privado (Solidário)

CF/88 como marco da reconstrução de um novo direito privado, mais atento às demandas
sociais e preocupado com os vulneráveis da sociedade atual;
–Busca-se priorizar a igualdade dos mais fracos através de concretas medidas de proteção
destes grupos na sociedade globalizada;
–Direito privado solidário (doutrina alemã – Hanes Rösler);
–Direito do consumidor como valor;
–Constitucionalização do direito privado – ao mencionar direitos para os iguais, para as
relações privadas na CF/88, institucionaliza e garante estes direitos com origem
constitucional, adaptando o direito privado brasileiro aos novos tempos e a esta nova
sociedade de consumo

Direito do Consumidor como novo Direito Privado (Solidário)

“... os avanços da sociedade industrial no Brasil reclamam um novo sistema de valores


que seja recolhido pela Constituição e no qual o contrato passará a ter diretrizes internas
que refletirão as exigências do capitalismo maduro da era tecnológica e da sociedade de
consumo” (Orlando Gomes. Novos temas de direito civil, p. 64-75)
Direito do Consumidor como novo Direito Privado (Solidário)
A proteção do consumidor, como princípio da ordem econômica é um limitador da
autonomia da vontade dos fortes em relação aos fracos ou vulneráveis (debilis);
Função Social do Direito Privado;
Dignidade na relação com os mais fortes (Gilmar Mendes);
Crescente intervenção do Estado na atividade econômica dos particulares denota o
domínio das linhas de ordem pública constitucional sobre as relações estritamente privadas;
Em síntese, trata-se novo direito privado, resultado da influência dos direitos civis (ou
fundamentais da liberdade – autonomia das vontades) e dos direitos sociais e econômicos
(ou direitos fundamentais positivos de prestação);

Relativização dos Dogmas do Direito Privado

Relativização dos dogmas do direito privado:


–Autonomia de vontade;
–Contratos;
–Poderes de crédito;
–Pacta sunt servanda
Fundamento filosófico: ideários da Revolução Francesa (em contraponto às idéias da
sociedade burguesa e capitalista):
–Igualdade;
–Liberdade;
–fraternidade

Nova definição do princípio da igualdade

Surge uma nova definição de igualdade;


–Igualdade não apenas formal (frente à lei), mas material ou total, uma igualdade dos
desiguais (tratar desigualmente os desiguais e igualmente os iguais);
Igualdade material que só será alcançada com a intervenção estatal, disposta a re-
equilibrar (através de sua atuação ordenadora) esta relação desequilibrada
Favor debilis – é a superação da idéia (comum no direito civil do séc. XIX) de que basta
a igualdade formal para que todos sejam iguais na sociedade;
–É o reconhecimento que uns são mais fortes (detém mais informações, são experts, etc.) e
outros são mais fracos (leigos, não detém informações sobre os produtos e serviços
oferecidos no mercado, não conhecem as técnicas de contratação ou os materiais que
compõem os produtos ou a maneira de usar os serviços);

Favor debilis e função social dos contratos

O consumidor pode se incluir nestes tipos de vulnerabilidade:


–Vulnerabilidade técnica;
–Vulnerabilidade informacional;
–Vulnerabilidade econômica (ou jurídica);
–Vulnerabilidade fática (ou monopolista)
Superação da visão absolutista dos “poderes” dos direitos subjetivos privados, gerando
discussão sobre:
–Função social dos contratos;
–Função social dos contratos

Favor debilis e função social dos contratos

Para realizar a igualdade, como ideal do justo, o direito privado precisa de um pouco do
imperium ou da intervenção do Estado, da hierarquia de suas normas (normas de ordem
pública) e da força igualizadora dos direitos humanos;
–Para realizar a igualdade material era necessário limitar também a liberdade de alguns,
impor uma maior solidariedade no mercado (favor debilis) e assegurar direitos imperativos
aos mais fracos;
A base de todo ordenamento jurídico é a dignidade da pessoa humana;
Falácia do consumidor como “rei” do mercado;
Massificação da produção, da distribuição e do consumo;
–Marketing;
–Efeitos da publicidade e da moda;
–Métodos agressivos e sentimentais de comercialização e contratação

Consumidor x Fornecedor

Consumidor - é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final (art. 2º do CDC);
–Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja
intervindo nas relações de consumo (parágrafo único do art. 2º do CDC)
Fornecedor - É toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços (art. 3º do CDC)

Consumidor x Fornecedor

Para os finalistas (teoria de Cláudia Lima Marques), destinatário final seria aquele
destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa física ou jurídica;
–Não basta ser destinatário fático do produto, retirá-lo da cadeia de produção, levá-lo para
o escritório ou residência – é necessário ser destinatário final econômico do bem, não
adquiri-lo para revenda, não adquiri-lo para uso profissional, pois o bem seria novamente
um instrumento de produção, cujo preço estaria embutido no preço final do profissional que
o aquiriu (seria consumo intermediário, na visão do STJ)

Consumidor x Fornecedor

Para os maximalistas (teoria de Cláudia Lima Marques), a definição do art. 2º é


puramente objetiva, não importando se a pessoa física ou jurídica tem ou não fim de lucro
quando adquire um produto ou utiliza um serviço;
–Destinatário final seria o destinatário fático do produto, aquele que o retira do mercado e o
utiliza, consome;
–Defende que, diante de métodos contratuais massificados, como o uso de contratos de
adesão, todo e qualquer co-contratante seria considerado vulnerável.

Defesa do Consumidor na Constituição Federal de 1988

“Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
(...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”

Defesa do Consumidor na Constituição Federal de 1988

É significativamente relevante um direito estar incluído EXPRESSAMENTE no rol dos


direitos fundamentais, até pela garantia prevista no art. 60, §4º, IV – cláusula pétrea);
A eficácia deste direito pode se dar contra o Estado (eficácia vertical dos direitos
fundamentais) ou nas relações privadas (eficácia horizontal dos direitos fundamentais;
–O direito fundamental é norma a ser respeitada pelo Estado (eficácia vertical), mas
também impõe valores a serem respeitados nas relações entre dois iguais, dois privados
(eficácia horizontal).
Drittwirkung é a denominação do efeito dos direitos fundamentais sobre o direito privado
e as relações jurídicas privadas
Tutela do consumidor como exigência da dignidade da pessoa humana;

Defesa do Consumidor na Constituição Federal de 1988

“Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:
(...)
V - defesa do consumidor”

ADCT - “Art. 48 - O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação


da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor”

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