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Agrupamento de Escolas Dr.

Ginestal Machado
Escola Básica 1 dos Leões - Biblioteca Escolar (Pólo 3)

O Modelo de Auto-Avaliação (entre as virtudes e os contrangimentos)

«A cada encontro, constato que uma vida desabrochou, tão imprevísivel quanto a forma de uma nuvem».
(1)

Este texto pretende ser um comentário à reflexão/provocação do colega Artur Dagge sobre os efeitos
potencialmente preversos da apliacação do MAABE.

O Modelo é (a informação a que temos tido acesso, de associações/escolas/bibliotecas nos Estados


1
Unidos ou na Inglaterra torna-o evidente) uma janela diferente de olhar as Bibliotecas e a escola. É uma
oportunidade de convocar a Biblioteca para o aumento dos standards de qualidade que se exige às
qualificações dos alunos que passam pelo sistema educativo.
Não creio que a adopção por um modelo de auto-avaliação da BE que tem na recolha de evidências um
dos seus suportes tenha sido importado/adaptado na sequência «do contágio de descredibilização da
avaliação de desempenho dos docentes». O modelo de avaliação docente desenhado pelo Decreto
regulamentar 2/2000 e continuado pelo 2/2010 não foi concebido para avaliar a diferença entre
professores. Foi estruturado numa lógica de limitar economicamente os gastos com os docentes. Tem no
seu coração uma ideia de escola virada para a construção progressiva de competências sociais. Está
sobretudo organizado para realizar a desvinculação a uma ideia de escola que se pensa e valoriza como
um espaço de transmissão de uma herança cientìfica, cultural, tecnológica e artística. A conquista de
resultados escolares no modelo de avaliação dos docentes é uma estratégia final, absoluta, dependente de
valores «científicos» no campo social, improváveis e sem relação com uma real avaliação da qualidade das
organizações, isto é das escolas. Não é o modelo de avaliação de docentes que é falível, pois ele não
reconhece objectivamente, intencionalmente os critérios de credibilidade, indispensáveis a uma avaliação,
porque é essencialmente uma demosntração das formas de poder e da sua difusão.
No MAABE, não creio que estejamos a evoluir para termos perfis de desempenho, traduzíveis em cotas.
A auto-avaliação da BE é uma atitude e uma ferramenta da escola. Deve ser integrada na avaliação que a
escola faz à qualidade do que é capaz de promover nos jovens.
Evidentemente que o MAABE coloca muitas apreensões. O processo de recolha é difícil. O alargamento aos
departamentos e aos professores não é fácil. Mas penso que a questão não é «concentração dos esforços
de todos os intervenientes nas áreas que serão avaliadas», mas sim conceber os domínios como uma
ferramenta de intervenção na escola. Além disso o modelo não está a avaliar o Professor Bibliotecário, mas
a Biblioteca. E a Biblioteca é uma estrutura da escola.
A funcionarização do PB jé é uma realidade, pelas limitações que a conjuntura foi criando. A falta de
equipas, as dificuldades nas parcerias em alguns munícipios com as próprias Bibliotecas Municipais conduz
o PB a uma acção limitada e limitadora da sua acção. Acho que com o MAABE é possível contrariar esta
funcionarização se os Departamentos entenderem o papel do PB e se a Gestão souber reconhecer o valor e
a importância de uma BE no seu espaço educativo. As acções que se organizam no Plano da BE são
propostas, ou deveriam ser em função do «estado» desta e das necessidades de intervenção na leitura e
nas literacias.

– MABE: comentário (entre as virtudes e as perversidades) –


Agrupamento de Escolas Dr. Ginestal Machado
Escola Básica 1 dos Leões - Biblioteca Escolar (Pólo 3)

A genialidade, aos que a têm, pode ser sempre evidenciada nas actividades que promoverem. O
trabalho global da BE, a sua qualidade, aquilo que oferece, os serviços que promove, os recursos que
disponibiliza aos seus utilizadores pode ser medido, tem de ser medido, pelo impacto que resulta ou não
em aprendizagens significativas.
Concordo com o colega quando refere que a obtenção das evidências é uma dificuldade, uma ansiedade
pelo envolvimento que é necessário construir, mas não creio que ela vá limitar a capacidade de ouvir um
aluno, ou de o apoiar numa actividade. Isso só poderia acontecer se a avaliação for vista como um
processo absoluto, uma conquista, uma bandeira onde o desafio da curiosidade ou a alegria de 2
compreender são marginais. Aqui, ao contrário do modelo de avaliação dos docentes, existem critérios
objectivos, existe uma credibilização dos processos e podem ser realmente aferidos os impactos de várias
acções no que foram as capacitações para a organização da informação pelos alunos.
O MAABE não é exclusivamente um processo burocrático. Sem ele as Bibliotecas perdem muita da
justificação para se sustentarem no mundo e na visão de sociedade que se foi construindo. Ele é em certa
medida uma resposta ao contrário, dessa ideia de que a escola tem de reflectir sobre os processos que
operacionaliza. Não sofisticamente, como o modelo de avaliação dos docentes propunha. Mas na forma e
no conteúdo de que é preciso fazer uma quadratura de um círculo (2): o de dar respostas a um mundo
global, incerto, onde o factor crise, a perda de identidade das instituições é notória num mundo global,
onde ainda em cada aldeia é importante e essencial que cada um mantenha as suas carcterístias e formas
culturais. É o apelo à criatividade e à imaginação.
Esta é uma forma exigente, intensa, muito trabalhosa de envolver a escola na reflexão do que faz. Tal
como em cada processo de avaliação requer ponderação, equilíbrio e uma dinâmica nas estruturas, na
criação de princípios que permitam uma real reflexão sobre a aprendizagem. É um dos caminhos para
poder individualizar os conjuntos educacionais, num tempo, num País, que ainda insiste em padronizar
tudo a a partir de Lisboa. Se a cada comunidade for dada a possibilidade de construir a sua Biblioteca
escolar, a sua forma de aprender, de organizar informação, de intervir criticamente, então esta é uma
ferramenta e uma opção pedagógica que às disciplinas e aos seus fechados programas nunca foram dadas.
E é verdade que a formação dos indivíduos é a sua mais-valia enquanto cidadãos, não no sentido que a
propaganda gosta de oficializar, mas na consistência para criar ideias novas a desafios constantes. Na
consistência de despertarmos do pensamento mágico que impede o olhar livre para a descoberta e
compreensão crítica do mundo.
Enfim, foi o que me se ofereceu dizer nesta hora, já um pouco tardia.

(1) Daniel Pennac, Mágoas da Escola;


(2) Ken Robinson, Changing Education Paradigms

– MABE: comentário (entre as virtudes e as perversidades) –

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