Vários acontecimentos, importantes para os estudos literários, influenciaram a
literatura brasileira no século XX. Ocorreram muitas mudanças na arte, provocado pelo chamado movimento modernista. As chamadas vanguardas européias trouxeram inovações, tais como, o expressionismo, o dadaísmo, o cubismo, surrealismo e o futurismo. Sendo este ultimo o objeto de estudo deste trabalho. Mas qual a origem do termo Vanguarda Européia? Segundo Helena (1993, p.08), o termo “... vem do francês avant-garde e significa o movimento artístico que marcha na frente, anunciando a criação de um novo tipo de arte. Esta denominação tem também uma significação militar (a tropa que marcha na dianteira para atacar primeiro), que bem demonstra o caráter combativo das vanguardas, dispostas a lutar agressivamente em prol da abertura de novos caminhos artísticos”. Percebe-se, então, o caráter revolucionário, de rompimento das tradições da arte Belle Époque que era sempre “igual”, “certinha”, "comportadinha". Através de uma luta avançada, voltada ao futuro, para a modernidade, com o intuito de encontrar formas inéditas expressão da arte.
FUTURISMO
O Futurismo foi o primeiro movimento de vanguarda, literário e artístico, que
surgiu na Europa na primeira década do século XX. Influenciados com o novo espírito da era das máquinas eles buscavam uma ruptura com o moralismo e a tradição expressa nas produções artísticas da época. Teve início após a publicação do Manifeste du Futurisme, em 1909, pelo escritor italiano Filippo Marinetti no Figaro de Paris, o qual havia sido influenciado pela filosofia de Nietzsche, Sorel e Bergson, e por poetas e literários do final do século XIX, tanto decadentistas quanto simbolistas. Ele, então, começa a se interessar pelo verso livre, do qual tornar-se, mais tarde, um grande defensor. Como expressa Argan ( 1992, p.313) , “os futuristas se consideram anti- românticos e pregam um arte que expresse “estados de alma”, além de possuirem como forte lema a “liberdade para a palavra”, e desenvolverem as suas obras com foco principal na velocidade e no movimento. Foram também conhecidos pelo lado político do nacionalismo exaltado e a valoração da guerra e da violência, julgando estas como maneira de se “higienizar”o mundo, o que mais tarde resultou em uma relação equivocada entre futurismo e facismo (Enciclopédia, p.395). Num dos trechos do manifesto, Marinetti afirma: “Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia” (apud Bernardini, 1980, p. 34). No Manifesto Técnico Marinetti descreve alguns princípios da literatura futurista: a destruição da sintaxe, o emprego do verbo infinitivo, a abolição do adjetivo, a abolição do advérbio, a valorização do “duplo” do substantivo, a abolição da pontuação, a valorização das analogias, a criação de uma rede de analogias, a valorização da “desordem”, abolição do “eu” na literatura.
No Brasil, o movimento foi o desencadeador do chamado Modernismo
Brasileiro, influenciando principalmente artistas como o Oswald de Andrade e Anita Malfatti, e teve grande repercução na Semana de Arte Moderna de 1922. No entanto, não seguiu os moldes do futurismo de Marinetti. Segundo Helena (1993, p.18), nossos poetas não foram futuristas, mas captavam as tendências da época. “Suas obras são bem posteriores à década de 1920 ao início do futurismo, mas apresentam belos exemplos de algumas das inovações propostas por essa vanguarda européia e aclimadas pelos poetas brasileiros, à sua visão de arte e do Brasil”. (1993, p.18). Por aqui, houve manifestos diferentes, como o Pau-Brasil em 1924 e o Antropofágico em 1928 - mais importantes do que os manifestos italianos. Mas, de todos os manifestos, o “Prefácio Interessantíssimo”, e “Paulicéia Desvairada” do precursor Mário de Andrade, publicado meses depois da Semana de Arte Moderna, junto com o poema “Antropófago” de Oswald de Andrade, foram os que iniciaram a estética modernista. Mário de Andrade utilizou-se do estilo futurista no poema “Ode ao burguês”, criando palavras, tais como: “burguês-níquel”, “homem-nádegas”, a fim de criticar a burguesia. No poema Inspiração, Mario já no título insinua liberdade para criar, os versos são desconexos, fazendo um paralelo com o caos de São Paulo, cuja influência européia, o galicismo é anacrônico. Há, também, o contraste verão e inverno, como: cinza (inverno) e ouro (verão), bruma (inverno) e luz (verão), forno (verão), e inverno morno, que não é frio.
INSPIRAÇÃO - Mário de Andrade
São Paulo! Comoção de minha vida... Os meus amores são flores feitas de original... Arlequinal!...Traje de losangos... Cinza e ouro... Luz e bruma... Forno e inverno morno... Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes... Perfumes de Paris... Anys! Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!... São Paulo! Comoção de minha vida... Galicismo a berrar nos desertos da América! Assim, se torna fácil perceber que o futurismo foi um movimento que teve grande repercussão no Brasil pelo fato de seus ideais propagados terem se adaptado perfeitamente às mãos dos jovens artistas nacionais na época, os quais já estavam cansados de ter que imitar e seguir os padrões artísticos da Europa. Com uma multiplicidade cultural gigante como a nossa, foi fácil criar uma “nova” identidade artística, se é que algum dia já havia possuído essa “identidade” cultural, renovando as letras e as artes. REFERÊNCIAS
ENCICLOPÉDIA Barsa. Rio de Janeiro: Encyclopaedia Britannica, 1978. v.6.
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna: do Iluminismo aos movimentos
contemporâneos. 5. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
BERNARDINI, Aurora Fornoni (org.). O Futurismo Italiano. São Paulo, Perspectiva,
1980.
HELENA, Lúcia. Movimentos da vanguarda européia. São Paulo: Editora