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ESCOLA SECUNDÁRIA EÇA DE QUEIRÓS

TEXTOS INFORMATIVOS
A Mitificação do Herói

Os Lusíadas celebram os Portugueses enquanto nação, colectividade. Para isso, o


poeta desenvolve uma história de Portugal como epopeia, seleccionando os episódios e
as figuras, de modo a fazer avultar o lado heróico e exemplar da História, cantando-a. Por
outro lado, o poema tende à universalidade, louva não só os Portugueses mas o homem
em geral: a sua capacidade realizadora, descobridora. A empresa das descobertas é a
grande prova dessas capacidades: a de se impor à natureza adversa, de desvendar o
desconhecido, de ultrapassar os limites traçados pela cultura antiga e pelo conceito
tradicional do homem e do mundo, que estavam dogmatizados e eram difíceis de superar.
Os Lusíadas celebram a capacidade de alargar e aprofundar o saber; a realização do
homem no que respeita ao amor e, por fim, talvez o mais importante, o poder de edificar a
vida face ao destino. De não ser vítima da fatalidade. De se libertar e de ser sujeito do seu
próprio destino. Por isso, um dos temas épicos consiste na comparação sistemática com
os modelos antigos, com o apogeu na divinização dos heróis.

Maria Vitalina leal de Matos, Tópicos para Uma Leitura de Os lusíadas, Editorial Verbo, Lisboa, 2003

O Homem, «bicho da terra» tão pequeno, conseguiu conquistar o mar que o


transcendia - espaço de transgressão -, vencendo as forças, personificadas pelos
Deuses. Conseguiu isso pela ousadia, pelo estudo, pelo sacrifício, por querer superar-se
a si próprio e ser «mais alto» e ir «mais longe». Os homens tornam-se deuses, fazendo
cair do pedestal as antigas divindades. A recepção dos nautas pelas ninfas significa a
confirmação dos receios de Baco: de facto, os navegantes cometeram actos tão
grandiosos que se tornam amados pelos deuses; e, de certo modo, divinizam-se também.
Temos aqui um mito construído com elementos da cultura greco- latina, mas elaborado
para o efeito específico que o autor visa. Oue diz esse mito? Reconhece a importância
excepcional do acontecimento nuclear do poema -a Viagem de Descoberta do Caminho
Marítimo para a Índia. A viagem é física, humanista, geográfica e poética. A euforia leva à
epopeia como forma elevada de imortalizar os heróis da aventura.

Mais do que explorar os mares, a viagem traduz em si mesma a contínua procura


de verdade, pois é sempre mais belo viajar do que chegar. Desta viagem resulta a
passagem do conhecido para o desconhecido, das trevas para a luz, de uma
ideologia confinada para outras e diversas realidades. Os olhos dos eleitos que viram
o raiar da aurora e a água pura das fontes ou que tiveram o privilégio de contemplar a
«máquina do Mundo» exprimem a metáfora da luz numa nova época do conhecimento. O
deslumbramento dos nautas pelo erotismo da «ilha» simbolizará também a necessidade
de uma comunhão dos homens com o divino na procura da suprema harmonia.

Assim se consubstancia a narrativa que na Ilha dos Amores revelará ao mundo que
a única via para o Futuro é o Amor e o Conhecimento. A superação advém dessa
interiorização, dos perigos e contrariedades. «Vede» -depois de tantos e tantos
perigos, chegámos aqui para voltar com o conhecimento. A descoberta verdadeira foi que
o caminho marítimo (ou terreno) é através do Amor e do Conhecimento. O desconhecido
torna-se conhecido e o mistério é desvendado, os nautas divinizados.

Professora: Isabel Caldas

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