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A CARIDADE

O que é a caridade?
Caridade. [...] S.f. 1. (Ética) No vocabulário cristão, o amor que move a vontade
à busca efetiva do bem de outrem [...]. 2. Benevolência, complacência, compaixão. 3.
Beneficência, benefício, esmola. [...] – Dicionário Aurélio.

Um dos traços mais importantes, senão o mais importante, que distingue o


cristianismo é justamente a ênfase dada por seu criador à dimensão ativa do
amor, à caridade. Ele não se fechou em si, não se retirou para nenhum mosteiro ou
região especial, não fundou nem favoreceu nenhum culto, nenhuma seita. Viveu em
meio aos homens – instruídos e ignorantes, orgulhosos e humildes, pobres e ricos,
pecadores e virtuosos –, ajudando-os incessantemente com seus ensinos e reflexões,
com seus recursos curativos e mesmo com suas admoestações.

Livro As Paixões da Alma, de René Descartes, publicado em 1649. Para os


espíritas, outra referência indispensável é a seção “Paixões” do último capítulo da
terceira parte de O Livro dos Espíritos, intitulado “Da perfeição moral”.

Tanto Descartes como Kardec deixam claro que paixão é qualquer tipo de
experiência que se faz sentir em nossa alma de forma passiva. (As palavras ‘paixão’ e
‘passividade’ têm a mesma origem.) Paixões, pois, se contrapõem a ações. Ações
pressupõem a intervenção da vontade; paixões são algo que ocorre em nós
involuntariamente, quando estamos diante de certos estímulos, externos ou internos à
própria alma. Assim, por exemplo, as paixões que Descartes considera “básicas” são
o amor e o ódio, a alegria e a tristeza, a admiração e o desejo; as outras resultariam
de sua combinação ou modificação.

Descartes procurou explicar a ocorrência das paixões em termos de certos


processos psico-fisiológicos complexos, que não vem ao caso discutir aqui. É
suficiente notar que hoje em dia talvez possamos descrever esses processos como
uma espécie de automatismo. Vemos uma cena cruel e automaticamente sentimos
indignação. Ouvimos alguém gemer e sentimos pena. Lemos uma notícia boa e
ficamos alegres. Pensamos na traição de um amigo e nos entristecemos. Refletindo
sobre esses exemplos, percebemos que de fato os sentimentos descritos se
apoderam de nós sem que o desejemos e, além disso, sem que possamos
imediatamente alterá-los por nossa vontade. Descartes apontou e explicou essa
impossibilidade do controle direto das paixões.
Pois bem: parece-nos claro que, não obstante intimamente associados, os
conceitos de amor e de caridade distinguem-se justamente por serem,
respectivamente, paixão e ação. O amor é o sentimento; brota em nós
espontaneamente. A caridade é a mobilização de nossa vontade por esse sentimento,
para que algo façamos em benefício de alguém ou de alguma coisa. Essa
interpretação está inteiramente de acordo com a definição do dicionarista citada no
início deste texto. “Caridade: ... o amor que move a vontade à busca efetiva do bem
de outrem ...”.

Outro ponto importante que a análise filosófica esboçada acima esclarece é que,
como o amor é uma paixão (no sentido filosófico do termo), não temos controle direto
sobre o seu surgimento. É inútil, por exemplo, diante de um agressor simplesmente
querer amá-lo. A experiência própria confirma isso, aliás. Talvez seja essa uma das
razões pelas quais a Humanidade tem demorado tanto para seguir as recomendações
seculares de seus líderes espirituais, unânimes em pedir-nos que nos amemos uns
aos outros.

Com a noção de caridade, Jesus trouxe um elemento novo para resolvermos o


problema da conquista do amor. Na ausência do amor, ou na presença de um amor
incipiente, ainda assim podemos ser caridosos, se reconhecermos racionalmente que
é isso que nos convém. A caridade acaba, depois, desencadeando ou reavivando o
amor. O nosso automatismo se redireciona. Passamos a sentir amor, na medida em
que fazemos o bem.

Podemos, talvez, esquematizar as inter-relações entre amor e caridade por meio


do seguinte diagrama:

Quando integral, o amor implica a caridade (seta superior). Por sua vez, a
caridade desperta e reaviva o amor (seta inferior). Dada sua dimensão voluntária, a
caridade é a “porta de entrada” desse “círculo virtuoso” (seta larga).

Silvio Seno Chibeni - Caridade e Amor

A CARIDADE É “CONTAGIANTE”.
Fora Da Igreja Não Há Salvação – Fora Da Caridade Não Há Salvação

8 – Enquanto a máxima: Fora da caridade não há salvação apóia-se num


princípio universal, abrindo a todos os filhos de Deus o acesso à felicidade suprema, o
dogma: Fora da Igreja não há salvação apóia-se, não na fé fundamental em Deus e
na imortalidade da alma, fé comum a todas as religiões, mas na fé especial em
dogmas particulares. É, portanto, exclusivista e absoluto. Em vez de unir os filhos de
Deus, divide-os. Em vez de incitá-los ao amor fraterno, mantém e acaba por legitimar
a animosidade entre os sectários dos diversos cultos, que se consideram
reciprocamente malditos na eternidade, sejam embora parentes ou amigos neste
mundo; e desconhecendo a grande lei de igualdade perante o túmulo, separa-os
também no campo-santo. A máxima: Fora da caridade não há salvação é a
conseqüência do princípio de igualdade perante Deus e da liberdade de consciência.
Tendo-se esta máxima por regra, todos os homens são irmãos, e seja qual for a sua
maneira de adorar o Criador, eles se dão às mãos e oram uns pelos outros. Com o
dogma: Fora da Igreja não há salvação, anatematizam-se e perseguem-se
mutuamente, vivendo como inimigos: o pai não ora mais pelo filho, nem o filho pelo
pai, nem o amigo pelo amigo, desde que se julgam reciprocamente condenados, sem
remissão. Esse dogma é, portanto, essencialmente contrário aos ensinamentos do
Cristo e à lei evangélica.

9 – Fora da verdade não há salvação seria equivalente a Fora da Igreja não há


salvação, e também exclusivista, porque não existe uma única seita que não pretende
ter o privilégio da verdade. Qual o homem que pode jactar-se de possuí-la
integralmente, quando a área do conhecimento aumenta sem cessar, e cada dia que
passa as idéias são retificadas? A verdade absoluta só é acessível aos Espíritos da
mais elevada categoria, e a humanidade terrena não pode pretendê-la, pois que não
lhe é dado saber tudo, e ela só pode aspirar a uma verdade relativa, proporcional ao
seu adiantamento. Se Deus houvesse feito, da posse da verdade absoluta, a condição
expressa da felicidade futura, isso equivaleria a um decreto de proscrição geral,
enquanto que a caridade, mesmo na sua mais ampla acepção, pode ser praticada por
todos. O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo que a salvação,
independente da forma de crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não
estabelece: Fora do Espiritismo não há salvação, e como não pretende ensinar toda a
verdade, também não diz: Fora da verdade não há salvação, máxima que dividiria em
vez de unir, e que perpetuaria a animosidade.

Fora da caridade não há salvação”, máxima essa que consagra o princípio da


igualdade perante Deus, e da liberdade de consciência, deixando a todos a escolha
da maneira como queiram seguir adorando o Pai Celestial, não pregando que fora do
espiritismo não há salvação, pois bem sabe que o Cristo não fundou nenhuma
religião, por isso mesmo respeita a liberdade de crença de todos os seus irmãos em
humanidade, pois em qualquer corrente religiosa a que pertença o homem, terá aí
mesmo a oportunidade de seguir os ensinamentos de Jesus.
Paulo, I Coríntios, XIII: 1-7 e 13

“Se eu falar as línguas dos homens e dos anjos, e não tiver caridade, sou como
o metal que soa, ou como o sino que tine.”
Este trecho é um alerta a todos os que são oradores: de nada adianta ser belo na
palavra e pobre de ações. O exemplo de mudança íntima, de luta constante contra as
imperfeições, deve fazer parte da vida dos que se dedicam a divulgar a mensagem cristã.
Conheceremos se a árvore é boa pelos frutos, alertou Jesus. Caso contrário, a palavra será
como o sino que tine, ou seja, fará muito barulho e chamará a atenção, mas não modificará
os corações e inteligências a que é direcionada.

“E se eu tiver o dom de profecia, e conhecer todos os mistérios, e quanto se


pode saber; e se tiver toda a fé, até a ponto de transportar montanhas, e não tiver
caridade, não sou nada.”
Ter conhecimento espiritual não faz do ser um indivíduo caridoso. A mediunidade e o
entendimento das Leis do universo dão sim ao ser maior responsabilidade frente à vida, e de
posse disso devem seus detentores modificar suas condutas e buscar a humildade.
A fé também não é sinônimo de caridade, muitos de nós acreditamos que a crença
inabalável é porta aberta para ajuda do Alto. Porém, se não nos ajudarmos, praticando
aquilo em que cremos através do bom exemplo, qual a vantagem de possuir fé?

“E se eu distribuir todos os meus bens em o sustento dos pobres, e se entregar


o meu corpo para ser queimado, se todavia não tiver caridade, nada disto me
aproveita.”
Dar esmolas e acabar com a necessidade material do próximo é muito importante.
Mas preciso é alertar às pessoas que tudo depende da intenção. Se fizermos a doação
material com o objetivo de aparecermos aos outros, ou então para aliviarmos nossa
consciência, estaremos nos enganando. Além disso, corremos o risco de ajudar ao
necessitado, mas humilhá-lo ao mesmo tempo, com um ar de superioridade que o ferirá. A
doação desinteressada deve brotar da compreensão da Lei de Deus, tornando-nos irmãos
de quem ajudamos e tendo como único fim o amparo e alívio do sofredor. Mais importante
que castigar o corpo, com privações e sofrimentos, é sufocar as más tendências, verdadeiras
mães de nossas desgraças.
“A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não obra temerária
nem precipitadamente, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus
próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas
folga com a verdade.”
O apóstolo mostra que a verdadeira caridade traz a resignação, que é o entendimento
das dificuldades da vida como obstáculos a serem vencidos, objetivando o progresso
espiritual. Alia a bondade para com todos, independente do momento, enquanto o perdão
enobrece o ser. Diz ainda que a prudência deve fazer parte de quem busca a caridade, pois
ser leviano traz consequências inesperadas, e o orgulho do homem pode contribuir para o
afastamento de Deus.
Em um mundo onde o que mais vale é a satisfação pessoal, mesmo em detrimento da
paz alheia, a caridade busca decência e fraternidade. Irritar-se é a melhor forma de
perdermos a razão, por isso a paciência e a sensatez fazem parte da caridade, levando o
homem a pensar antes de agir. A justiça irá se fazer mais presente em nossa sociedade,
libertando os seres das mentiras e intrigas que envolvem interesses pessoais.

“Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. A caridade nunca, jamais há de
acabar, ou deixem de ter lugar às profecias, ou cessem as línguas, ou seja abolida a
ciência.”
Tudo tem sua hora. Saber esperar é próprio da caridade. Quando o ser amplia sua
visão além da vida material, vê no horizonte a luz necessária para manter-se animado e vivo.
Busca na sabedoria cristã o esclarecimento para suas dúvidas, deixando de lado o
desespero. É o caminho do equilíbrio proporcionado pela caridade.

“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três virtudes;


porém a maior delas é a caridade.”
A caridade: um conjunto de atributos morais e intelectuais (mudança íntima,
humildade, obras, exemplo, doação desinteressada, resignação, bondade, perdão,
prudência, decência, razão, tranquilidade, sabedoria, justiça, amor), que fará do Espírito ser
dono de seu próprio destino. A fé e a esperança, indispensáveis para uma existência
sensata e confiante, são assessoras da caridade, que será o sentimento principal a ser
buscado pelo homem de bem, libertando de seu egoísmo e encaminhando-o para o Reino
de Deus.
(PAULO. Paris, 1860) – ESSE Cap. XV: Instruções dos Espíritos

Submetei todas as vossas ações ao controle da caridade, e a vossa consciência vos


responderá: não somente ela evitará que façais o mal, mas ainda vos levará a fazer o bem.
Porque não basta uma virtude negativa, é necessária uma virtude ativa. Para fazer o bem, é
sempre necessária a ação da vontade, mas, para não fazer o mal, bastam freqüentemente à
inércia e a negligência. (...) Fazei, pois, que vos vendo, se possa dizer que o verdadeiro
espírita e o verdadeiro cristão são uma e a mesma coisa, porque todos os que praticam a
caridade são discípulos de Jesus, qualquer que seja o culto a que pertençam.

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