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Contrariamente ao que se podia pensar estando atento aos meios de comunicação social,
as gravidezes adolescentes nos países ocidentais tendem a diminuir. Segundo o relatório
publicado pela Caixa Nacional das Prestações Familiares francesa (CNAF1), o número
de jovens mães – entre os 15 e os 19 anos – diminuiu constantemente durante os últimos
30 anos (ver caixa). Com efeito, as raparigas muito jovens e os seus companheiros
adoptam comportamentos de controlo da fecundidade comparáveis aos dos adultos e
adiam a idade de trazer uma criança ao mundo.
No entanto, tal como é assinalado pela UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a
Infância), “se é verdade que o número de gravidezes adolescentes diminuiu, não o é
1
menos que aumentou, em contrapartida, a percepção de que as gravidezes adolescentes
são um problema social”2. A inquietude dos poderes públicos explica-se por dois tipos
de fenómenos: por um lado, a persistência dos tabus relativos à sexualidade adolescente;
por outro, a marginalização social das jovens mães e dos seus companheiros,
nomeadamente nos países anglo-saxãos.
Nas nações ocidentais, a idade média da primeira relação sexual situa-se agora nos 17
anos. Na década de 1960, era de 20 anos para os homens e 21 anos para as mulheres. A
exposição dos adultos e dos adolescentes a mensagens com conteúdos sexuais explícitos
conduz inelutavelmente ao abaixamento da idade da primeira relação sexual. Ora, o
sistema de valores de certas sociedades torna por vezes muito difícil a aceitação deste
facto consumado. “Quanto mais uma sociedade está disposta a reconhecer o carácter
inelutável da sexualidade dos jovens, mais ela é capaz de implantar políticas eficazes
de prevenção “, assinala a UNICEF3.
A Lei sobre a Vida Familiar Adolescente (Adolescent Family Life Act), adoptada em
1978 durante a presidência de James Carter, encorajou os estados federados a
estabelecer tais tipos de programas de abstinência a fim de beneficiarem dos subsídios
do Ministério da Saúde e dos serviços à população. Nos anos 80, sob a administração
2
Reagen, o Gabinete da Sexualidade Adolescente, organismo federal responsável pelas
políticas de planeamento familiar dirigidas à juventude, implantou uma rede de centros
de atendimento denominada Chastity Centers (Centros de Castidade), expressamente
destinada à promoção da abstinência sexual.
Estas medidas não foram postas em causa pelos democratas durante a presidência de
Bill Clinton, bem pelo contrário. O programa de Assistência Temporária às Famílias
Necessitadas (Temporary Assistance for Needy Families, conhecido como TANF)
refere, na exposição dos motivos, a necessidade de reduzir as gravidezes precoces
encorajando a procriação no quadro do casamento. Foi inclusivamente criado um fundo
de apoio à abstinência sexual, no montante de 50 milhões de dólares por ano. De acordo
com este programa governamental, as jovens mães devem concluir os estudos
secundários e viver na casa da família ou num ambiente supervisionado por um adulto.
Os estados têm igualmente o direito de diminuir os apoios às mulheres que continuem a
ter filhos enquanto beneficiarem dos apoios concedidos às mães solteiras – 23 estados
adoptaram estas protecções familiares (family caps). No entanto, os estados apenas
gastam, em média, 8 dólares por ano com tais programas de redução das gravidezes
adolescentes.
3
antes dos 16 anos… Mas também sei que, pense-se o que se pensar, certos jovens
continuam a ter relações sexuais. Não devemos condenar as suas acções, mas devemos
estar prontos a ajudá-los a evitar os riscos, muito reais, que representa a sexualidade
antes da idade normal”4.
Um problema privado?
4
social. Nos Estados Unidos, a maternidade precoce é associada ao subproletariado
(underclass), com uma forte componente racial ou mesmo racista; 80 por cento das
jovens mães provêm de famílias pobres, apesar de as raparigas oriundas destas famílias
constituírem apenas 40 por cento da população adolescente. As taxas de gravidez das
raparigas de origem afro-americana atingem praticamente o dobro da média nacional5.
A Child Support Agency, estrutura de cobrança das pensões alimentares, identifica o pai
para o obrigar a contribuir para as despesas com a criança. Em alguns estados são as
próprias mães que têm de localizar o pai, sob pena de verem suprimidas parte ou a
totalidade das prestações sociais. A mensagem é clara: os adolescentes dos dois sexos
não podem conceber filhos em total impunidade. O filho é considerado um problema
essencialmente privado, devendo ficar a cargo dos pais, qualquer que seja a idade
destes. Segundo Isabel Sawhill, especialista em questões de maternidade precoce, “o
TANF diz às jovens mães: ‘Se vocês forem mães, isso não vos dispensa da obrigação de
concluírem a escolaridade e de proverem às vossas necessidades e às da vossa família,
através do trabalho ou do casamento’. Aos rapazes o programa afirma: ‘Se vocês
forem pais de um filho nascido fora do casamento, serão responsáveis pelo seu
sustento’”6.
5
jovens mães francesas beneficiam de um subsídio de mãe solteira (API, Allocation de
Parent Isolé) até o seu filho completar a idade de três anos.
Quanto ao papel dos jovens pais na paternidade precoce, continua a ser relativamente
secundário. Vitimados, segundo Hughes Lagrange7, por uma “crise da masculinidade
adolescente” associada ao declínio do patriarcado, eles confrontam-se sobretudo com
um problema de “acesso às raparigas”. De facto, as parceiras destes rapazes são,
frequentemente, mais velhas. Um estudo realizado sobre os Estados Unidos calcula que
entre 50 e 70 por cento dos pais de filhos nascidos de mães menores de idade teriam
mais de 20 anos8. Na Grécia, a diferença entre a idade média da jovem mãe e a do seu
parceiro seria de 7,5 anos. A atenção dos poderes públicos deveria concentrar-se, desde
logo, nos homens com mais idade, por serem os parceiros sexuais preferidos pelas
raparigas mais novas.
6
1
Corinne Nativel e Anne Daguerre, “Les maternités précoces dans les pays développés: problèmes, dispositifs,
enjeux politiques”, relatório encomendado pelo CNAF (Centro de Estudos e Investigação sobre a Vida Local –
Poder, Acção Pública, Território), Sciences Po, Bordéus, Julho de 2003.
2
“Le classement des maternités adolescentes dans les pays riches”, Innocenti Report Card, nº 3, UNICEF, Paris,
Julho de 2001.
3
Op. cit.
4
Teenage Pregnancy, Social Exclusion Unit, The Stationery Office, Londres, 1999.
5
Stephanie Ventura et alii, “Trends in pregnancy rates for the United States: an update”, National Vital Statistics
Reports, nº 49 (10), National Centre for Health Statistics, Hyattsville, 2001, p. 5.
6
“What Can Be Done to Reduce Teen Pregnancy and Out-of-Wedlock Births?”, Isabel Sawhill, R. Kent Weaver,
Ron Haskins e Andrea Kane, Welfare Reform and Beyond, The Brooking Institution, Washington, 2001.
7
Les adolescents, le sexe et l’amour, Syros, Paris, 1999.
8
Carol Roye e Sophie J. Balk, “The relationship of Partner Support to Outcomes for Teenage Mothers and Their
Children: a Review”, Journal of Adolescent Health, nº 19, Orlando (Estados Unidos), 1996, pp. 86-93.