Professional Documents
Culture Documents
Resumo
*
“Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-
MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006”. Apoio FAPESP
†
Socióloga. Centro de Ciências Agrárias - UFSCAR
‡
Eng. Agrônomo. Centro de Ciências Agrárias - UFSCAR
Conciliando Reforma Agrária, Uso Sustentável dos Recursos Naturais e Segurança
Alimentar – O Bem-Estar Rural na Transição Agroecológica
§
Modelo derivado da chamada Revolução Verde que aliado às políticas de subsídios para o setor difundiu o uso
da mecanização e o incremento do uso de agroquímicos na agricultura, além da utilização de sementes oriundas
da Engenharia genética, revelando-se fundamentalmente limitado em sua capacidade de promover
desenvolvimento com eqüidade social e sustentabilidade, gerando sérios impactos ambientais.
produção, habitação, educação, capacitação profissional, seguro agrícola, nutrição,
associativismo, saúde, tecnologias adequadas são fatores limitantes para o bem-estar da
população rural (Borges, 2004; Peraci, 2000).
Assim sendo, espera-se que a inserção da agricultura orgânica no Monte Alegre passe
a ser uma experiência e um exemplo a ser seguido por outros pequenos produtores, visto que,
na falta de uma política agrícola para os assentamentos, a iniciativa promove a
sustentabilidade e autonomia das famílias em relação à tomada de decisões estratégicas
(escolha dos cultivos, seleção de tecnologias, contratações, etc.), além de possibilitar a
organização no lote, a organização comunitária, os marcos das relações das sociedades rurais
articuladas em torno da dimensão local, onde se encontram os sistemas de conhecimento local
e camponês, portadores do “potencial endógeno que permite reforçar a biodiversidade
ecológica e sócio-cultural” (Sevilla-Guzmán, 2006 :2), para que se atinja o bem-estar-social.
3. Metodologia
Serviço na sede
Serviço em do município
outro município Serviço na
localidade
Parâmetros adotados
Aspecto da casa – relacionado ao padrão de edificação e acabamento externo e interno (conservação, pintura,
material utilizado).
Equipamento – fogão a gás, fogão à lenha, geladeira, batedeira, liquidificador, televisão, rádio, aparelho de som,
celular, telefone fixo, outros; Básicos – fogão a gás, geladeira, rádio e TV; Principais – fogão a gás, geladeira,
TV, rádio, liquidificador/batedeira.
Água – rede pública c/ tratamento de água; Outras formas – mina, fonte, poço comum e poço artesiano
Esgoto – da rede pública c/ tratamento; fossa séptica; fossa negra ou seca; s/ tratamento.
Lixo orgânico – recicla (enterra na horta como adubo orgânico e/ou faz compostagem).
Veículos - carro de passeio, veículo para transporte de mercadoria, bicicleta, carroça, cavalo, outros.
Atividade social – participação em atividades religiosas, associações, cooperativas, sindicatos.
Esse resíduo é diariamente “jogado no terreiro para os porcos e galinhas” ou “é jogado nos
pés de planta”.
Enfim, estudos mais aprofundados sobre a questão dos resíduos sólidos produzidos nas
áreas rurais e sua discussão são instrumentos para dar início à busca de estratégias que
minimizem o problema (Darolt, 2000).
Quanto a variável esgoto, a fossa seca ou negra, em que os dejetos fecais são lançados
diretamente no vaso, sem descarga d´água, é a usual, o que lhe valeu um escore baixo (Tabela
1). Estudos como o de Rosa et al. (2001 e 2002) e Borges e Fabbro (2003) revelaram que as
fossas foram construídas na direção dos poços, possibilitando a contaminação da água por
coliformes fecais e infestando os moradores com parasitoses. Rosa et al. (2001 e 2002), por
meio de exames da qualidade da água em poços e reservatórios do assentamento, destacou os
altos índices de incidência de contaminação das águas dos mesmos (entre 95 a 100% das
amostras) por coliformes fecais. Sabendo-se que água de boa qualidade é um fator limitante
para a produção orgânica e condicionante da saúde humana, o item água sendo classificado
como “razoável”, torna-se um fator preocupante, merecedor de atenção por parte das
autoridades competentes.
Gráfico 1 – Situação de Bem-Estar dos Agricultores Orgânicos no Assentamento Monte Alegre – SP
casa
10
melhorias bens
8
int .cívica 6 água
4
2
int . social esgot o
0
Borges e Fabbro (2004) constataram que quase a totalidade dos agricultores do Monte
Alegre optou pelo modelo agrícola convencional, o que traz explícito o uso de agrotóxicos,
implicando na possibilidade de contaminação desse recurso por agroquímicos – um aspecto
preocupante, uma vez que, o Assentamento fica em área de recarga do Aqüífero Guarani.
A variável “característica do domicílio”, relacionada ao material de edificação, número de
cômodos, banheiro e conservação, revelou que as mesmas se encontram pouco abaixo do
limite (Gráfico 1 e Tabela 1). Porém, comparando com os dados coletados por Borges e
Fabbro (2003), houve, em um espaço de tempo de dois anos, uma melhora significativa no
item habitação, para esses entrevistados. Verifica-se que foram realizadas melhorias em todas
as casas, tais como: reforma e/ou ampliação e pintura interna e externa. Os agricultores
atribuem essas melhorias a melhora do poder aquisitivo proporcionado pela agricultura
orgânica.
“Poxa, tudo que eu tenho hoje vem da agricultura orgânica. Tiro um bom
dinheiro por semana. Tenho até dois trabalhando pra mim” (A., agricultor
orgânico, Assentamento Monte Alegre, Motuca, SP).
5. Conclusões
Entendendo bem-estar rural como sendo um estado produzido por elementos sociais,
ambientais, culturais, associativos, civis, econômicos, entre outros, que configuram “não
apenas as dimensões do ter e do possuir, mas também do ser, do viver em condições de
produzir, de gerir e de usufruir dos bens e serviços necessários e disponíveis na sociedade”
(Ferreira, 1986) e, reconhecendo ainda esses aspectos como a base sobre a qual se constrói a
felicidade dos indivíduos, sua realização como pessoas e sua contribuição para a satisfação e
bem-estar da coletividade, o trabalho proposto mostra que a opção desses agricultores pela
agricultura orgânica como modo de produção já é um passo em direção ao bem-estar e
desenvolvimento rural sustentável e humano, visto que, busca por índices positivos de saúde
humana e ambiental, uma vez que, a agricultura orgânica não utiliza fertilizantes químicos e
sim orgânicos, para a melhoria da fertilidade do solo e opta pela diversidade de cultivos numa
mesma propriedade (um modelo ecologicamente viável).
Visto por outro ângulo, esses agricultores caminham em direção a transição
agroecológica, pois, os mesmos se encontram organizados em uma associação que busca a
eficiência das pessoas com o meio ambiental e o meio social e a transformação social por
meio de processos coletivos e solidários - fato que os leva ao encontro de seu próprio
processo de desenvolvimento.
Do ponto de vista demográfico, ocorreram sensíveis mudanças no perfil sócio-
demográfico dessas famílias após a implantação do modelo orgânico, destacando-se as
variáveis tipo de família, renda e faixa etária de seus membros.
O trabalho ressalta que esses agricultores tiveram uma sensível melhoria em sua
situação de bem-estar e reconhecem esse avanço como fruto do novo modelo de produção em
consolidação.
Contudo, as melhorias e avanços obtidos em termos de bem-estar mascaram uma
vulnerabilidade latente, que acabou revelando-se em entraves relacionados a problemas de
infra-estrutura como saneamento básico precário, gestão dos resíduos sólidos comuns,
qualidade da água, assim como, em qualidade da moradia e alta possibilidade de deterioração
ambiental, por parte dos outros assentados que fazem inadequadamente uso de agrotóxicos.
6. Referências Bibliográficas