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Apresentação geral:
«sistema simbólico» e «sistema operatório»; quer (b) para a definição da Lógica como «teoria formalizante»:
“Chaque structure est à la fois construction (forme), à l’égard des formes inférieurs, et application (contenu) par
rapport aux supérieurs. C’est pourquoi la notion du «formel», qui caractérise la logique, se réfère à un
processus continu de formalisation et non pas à une situation statique” [J. PIAGET, Essai de Logique
Opératoire, Paris, Dunod, 1972 (2ª ed., établie par J.-B. Grize), p. 40]. De acordo ainda com G. Granger, a
codeterminação e a dependência recíproca da operação e do objecto, embora presentes em todo o tipo de
conhecimento, podem ser melhor apreendidas na noção matemática de «grupo»: esta noção designa
originalmente um conjunto de operações sobre objectos numéricos; porém, no quadro da ‘teoria dos grupos’,
esses objectos são susceptíveis de serem tratados como regras independentes das operações originais (idem).
Para um melhor entendimento acerca do papel e do valor dessa dualidade na constituição do conhecimento –
vide G. GRANGER, “Contenus formels et dualité”, Manuscrito, X, 2 (1987); e Pour la Connaissance
Philosophique, Paris, Odile Jacob, 1987. Os dois artigos citados de 1982 e de 1987 viriam a ser inseridos em
GRANGER, Formes, Opérations, Objects, Paris, Vrin, 1994 (caps. 2 e 3, respectivamente).
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Tal como os seus símbolos denotantes – num sistema formal e na linguagem natural, respectivamente – não
são equivalentes. Cf. GRANGER, “À quoi servent les noms propres?”, Langages, 66 (1982), pp. 21-36.
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Vide o programa de eliminação dos termos singulares (Russell, Quine), bem como a controvérsia em torno das
teorias da referência rígida (Kripke) e directa (Kaplan).
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Vide a concepção das relações entre predicação, instanciação e/ou exemplificação. Cf. N. WOLTERSTORFF,
On Universals, Chicago Univ. of Chicago Press, 1970, pp. 89-95; e D.W. MERTZ, Moderate Realism and its
Logic, New Haven-London, Yale Univ. Press, 1996, p. 176.
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2. Uma primeira observação que deve ser feita é que os ‘indivíduos’ da nossa
experiência natural que a linguagem expressa são, prototipicamente, entidades espacio-
temporais, contingentes e descontínuas. À pergunta «nos nossos esquemas de pensamento e
de discurso quais são os objectos básicos e primeiros da referência e da identificação
linguística singular?», Peter Strawson respondeu que esses objectos são os ‘indivíduos’ – ou
seja, os particulares espacio-temporais e relativamente persistentes: físicos (corpos),
fenoménicos (sons) e as pessoas. Estes ‘indivíduos’ constituem, todavia, uma subclasse dos
‘particulares-em-geral’, entre os quais se incluem também os particulares substancialmente
dependentes, como eventos e processos 6.
Estes indivíduos são naturalmente temporais, contingentes e mutáveis. Aplicam-se de
um modo geral a estes individuais os quatro tipos de devir ou movimento (metabolê, kinêsis)
que Aristóteles atribuía às «substâncias físicas sensíveis e móveis do mundo sublunar»: i)
substancial – engendrados e corruptíveis; ii) qualitativo – alteráveis; iii) quantitativo –
sujeitos ao aumento e à diminuição; e iv) local – deslocáveis 7.
Uma análise atemporal, estática e generalizante (como o é a da lógica extensionalista
standard pós-fregeana) dificilmente se adequará ao modo de expressão e de inteligibilidade
do ‘individual’ que a linguagem natural parece veicular.
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Peter STRAWSON, Individuals – An Essay in Descriptive Metaphysics, London, Methuen & Co., 1959, Parte
I: ‘Particulars’, pp. 15-134. Cf., igualmente, P. STRAWSON, “Individuals”, in G. Fløistad (ed.), Philosophical
Problems Today, vol. 1, Netherlands, Kluwer Academic Publishers, 1994, pp. 21-44.
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Estas substâncias distinguem-se das «substâncias físicas sensíveis e móveis, mas incorruptíveis e sempiternas:
os corpos celestes (as esferas e os astros), e das «substâncias não-sensíveis, imutáveis e sempiternas (os motores
imóveis)». Cf. ARISTÓTELES, Metafísica, XII, 1069 a 30 - b 15; Física, III, 201; e V, 224 a-225 b.
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Torna-se assim útil antecipar, desde já, alguns dos principais temas e problemas que
mobilizam contemporaneamente a filosofia e a lógica do tempo e do individual:
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Em “Le nom propre et la prédication dans les langues naturelles” [in Langages, 66, 1982, pp. 37-65], Jean-
Claude PARIENTE retoma o problema das relações entre a linguagem e o individual (trabalhado já por si nessa
notável obra, Le Langage et l’Individuel, Paris, Armand Colin, 1973), alargando porém a problemática à
consideração de uma «filosofia do indivíduo e do nome próprio», à luz da expressão linguística do tempo e da
mudança.
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J.N. FINDLAY, “Time: A treatment of some puzzles”, Australasian Journal of Psychology and Philosophy,
1941, pp. 216-235 [reimpr. in A. Flew (ed.), Logic and Language, Oxford, 1961].
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Desde 1914, em Knowledge of External World (especialmente, cap. IV), e posteriormente em 1936 (em “The
order of Time”, reimpresso em Logic and Knowledge, 1956).
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A. PRIOR, Papers on Time and Tense, Oxford, Clarendon Press, 1968, p. 86.