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Dezembro/2010

UPP: Periferia de Marília ou do Rio?

Aprendizado ou turismo? Crescimento ou pacificação? Pág. 3

Editorial O (co)modismo da Humanização


De uma nova gestão para um novo Diretório. Pág. 2

Atenção Básica

Das origens à crise. Quais são as raízes dessa greve?


Pág. 7

Fratura Histórica Afinal, o que é humano? Pág. 5


A evolução do conceito de saúde e a crítica ao modelo
biopsicossocial. Pág 4 Residência Multiprofissional
na visão de um residente Pág. 8
Fratura Cruzada Pág. 9 Pós-graduação
A ciência de muletas. Pág. 6
Homenagem ao Tonico Pág. 2
Tirinhas Pág. 9

Novo site:

daca.org.br
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Fratura Exposta, Dezembro/2010 Diretório Acadêmico Christiano Altenfelder

Editorial
A Gestão 23 de Setembro mostra neste Fratura
Exposta um pouco sobre sua visão acerca das questões
comuns aos estudantes. Notando que o Movimento
Estudantil é percebido, não raro, com certo preconcei-
to pela comunidade acadêmica, julgamos pertinente
explicitar para a mesma a principal intenção deste Mo-
vimento na Famema: a reflexão sobre os temas que
contornam o cotidiano da sociedade e, portanto, do
estudante de Medicina. Para isto, mostra-se necessário
conhecermos, previamente, os fatos que corroboraram
para a construção desta sociedade. Assim, a valoriza-
ção da História, neste Fratura, caracteriza bem a face Aqui mesmo, na Av. Monte Carmelo, nascia
desta Gestão, ou seja, a retomada histórica a fim de nosso mascote, que serviu de presente a um vizinho.
compreender, e enfim, pôr em prática. A crítica, em Esse vizinho o criava solto, e o cachorrinho vivia entre
última análise, é a via mais efetiva para que os estu- os estudantes de medicina. Em sua adolescência, apai-
dantes mostrem suas necessidades e alcancem melho- xonou-se pela vida acadêmica, e quando seu dono mu-
rias, para a sociedade e, portanto, para si. dou-se para longe daqui, TONICO preferiu ficar. Por
Esta Gestão busca isso neste Fratura, em suas três vezes o rapaz o levou, mas Tonico sempre volta-
reuniões, em seus eventos, em seus movimentos. va. Já estava decidido seu lugar conosco.
Sobrevivendo de república em república, TO-
Gestão 23 de Setembro NICO, sinônimo de Kapeta, acompanhava nossa Fa-
culdade aonde quer que fosse: Pré-Intermed (Ribeirão,
Coordenador Geral: Tiago Cherbo Jundiaí, Campinas, Batatais, Itu, etc), Intermed-Sul
Coordenador Financeiro: Laura Cantisano (Londrina, Florianópolis e Curitiba) e Intermedona
Coordenador Administrativo: Vinicius
(Aguaí e Americana), sempre torcendo e fazendo baru-
lho. Que o digam certos deputados que, na estadualiza-
Coordenador de Comunicação e Propaganda: ção da faculdade, aturaram seus latidos durante a As-
João Gabriel sembléia.
Coordenador Científico: Diego Caldeira Na área médica, estava presente nas aulas teóri-
Coordenadores de Educação Médica: cas no Carmelo, formando-se em 1997, trajado de beca
na colação de grau e roupa social no Coquetel e Baile.
Yuri Barnabé e Isabela Galiano
Na área política, foi candidato a presidente do DACA
Coordenador de Extensão: José Ignácio por várias vezes, à Atlética e a Diretor do Hospital,
Coordenadores de Eventos: tendo sempre um grande número de votos.
Marcelo Amoretti e Caio Marson Amado pelos estudantes e por muitas pessoas
Coordenadores de Cultura: da cidade, atraía a atenção de todos com sua vida aca-
dêmica, de jogos e gestas, contribuindo com a forma-
Lucas Pocebon e Luiz Zanella
ção de grandes laços de amizade.
Coordenadores de Formação Política:
Mesmo após a amputação de seu membro infe-
Caio Esper e Rodrigo Muniz. rior esquerdo em 07 de setembro de 1997, devido a um
osteosarcoma (câncer extremamente maligno), via-se
em sua face o espírito boêmio e aventureiro. Entretan-
Homenagem ao Tonico to, após alguns meses, teve recidiva que selou seu des-
tino – uma metástase em região abdominal, sem pers-
Há dez anos era publicada no Fratura notícia pectiva de tratamento, tirando-os das ruas; e com mui-
sobre a perda de um grande amigo, um símbolo da ta tristeza recebemos a notícia de seu falecimento, que
faculdade, o Tonico. Reproduziremos então, com o se deu às 11h43 de 21 de abril de 1999. Na presença
objetivo de reavivar estas histórias ehomenagear o de Hiro (XXXII), Carlos P. (XXVIII), Cazé (XXXIII),
personagem, o texto “Au, Au, Au, as últimas palavras Cesinha (XXIX) e namorada, Neto (XXVIII), Juca
de um grande amigo”,de autoria de Barney, Juca (XXVIII), Zulu (XXXII), Buda (XXX) e sua cachorra
(XXVIII) e Cazé (XXXIII), da edição de Abril/Maio (que também mostrou-se abalada), além de Barney,
de 1999, ano VII, número 2, que teve como manchete Flavinho e outros que choraram em seus plantões e
os dizeres “Valeu, Tonico!”. não puderam comparecer. TONICO foi enterrado em
“Esperamos que Sérgio Carnevalli, Brucutu, frente à Anatomia embaixo da mangueira, onde agora
Serginho, Montanha, Vô, Flavinho, Vanessa, Janaína, descansa em paz.
Véio e outros recebam muito bem em seu hall mais VALEU, VELHINHO.”
esta lenda que deixa a FAMEMA, velho TONICO.

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UPP: Periferia de Marília ou do Rio


de Janeiro?
No Rio, as Unidades de Polícia Pacificadora, mais conheci-
das como UPPs, fazem parte de um projeto da Secretaria Estadual
de Segurança Pública que tem como objetivo instituir polícias comu-
nitárias em favelas da capital como forma de desarticular quadrilhas
que controlavam esses territórios como um Estado paralelo.
Boa parte das favelas do Rio de Janeiro está encravada nos
morros, de onde se tem vistas maravilhosas. Com assinatura do
Ministério do Turismo e do governo do estado, foi lançado com
grande estardalhaço no dia 30 de agosto, no Morro Dona Marta, um
programa batizado de “Rio Top Tour”, cujo objetivo é estimular a
visitação das encostas ocupadas pelas favelas. Programas turísticos al de 1995: médicos generalistas responsáveis por encaminhamen-
desse tipo existem na África do Sul, onde a miséria foi instituciona- tos, listas de espera, assistência domiciliar, limitação da tecnologia
lizada como opção de passeio nas favelas de Cape Flats. E existem ou do acesso à tecnologia e a transferência de um volume maior da
no próprio Rio de Janeiro onde excursões de turistas sobem a Roci- assistência para o setor privado. A ausência de visão crítica quanto
nha em jipes camuflados, como se fossem entrar numa guerra ou ao tema afasta a possibilidade de mudança, apresentando-o lustrado
num safári. e sagrado.
Em Marília, a Unidade de Prática Profissional, mais conhe- - As diretrizes curriculares que norteiam o ensino da Fame-
cida como UPP, iniciada em 2003, resume um movimento que pinta ma (ou nossa soberba nos traz o contrário?) tem origem que cursa
o Programa Saúde da Família como uma estratégia de valorização com o barateamento da formação médica sobre uma perspectiva
da atenção básica e espaço para a formação profissional através da tecnicista. Sabemos o necessário para a prática. Não somos respon-
prática. Grupos de estudantes são inseridos em Unidades de Saúde sáveis pela ciência (ciência?) que utilizamos, não temos aprofunda-
da Família, localizadas prioritariamente em bairros da periferia da mento no conhecimento das matérias básicas. Somos meros consu-
cidade. midores de tecnologia, não produtores.
Entretanto, sete anos após, em qualquer roda de conversa é A inserção do estudante no cenário da atenção primária tem
possível perceber o desgosto que toma parte da imensa maioria dos potencial para ser riquíssimo. Riquíssimo se tratarmos com devida
estudantes quando o assunto é referente à atenção primária e à possi- atenção o fato que mais bate à nossa cara no cenário de UPP: a
bilidade de futuramente atuar nesse nicho. Para compreender o realidade social que nos é incomum. A sensibilização da vista deve
porquê desse cenário e iniciar um movimento que impulsione mu- ser analisada, isenta de qualquer idealismo, e desta forma alicerçada.
danças, se faz necessário reconhecer alguns pontos. São eles: O ato de ir deve ser a partida de um treinamento para análise de
- As políticas de acesso e de manutenção do estudante no outras realidades.
ensino superior são extremamente frágeis, tornando o ato de "ser um Dentro dessa análise, deve estar clara a função do médico, a
estudante de medicina", mesmo em instituições públicas, algo extre- função dos sistemas de saúde, a função da escola, a determinação
mamente custoso, que demanda grande investimento. Desta forma, social do processo saúde-doença, etc. O estudante deve ser capaz de
há que se reconhecer o estudante de medicina, em sua maior parte, compreender a realidade de forma que a repulsa não ocorra. O moti-
como ser que teve pouco ou nenhum contato com a realidade social vo de tanta angústia reside exatamente na isenção de análise profun-
apresentada no cenário. da e da consequente transformação do contato com a realidade em
- A imagem do médico historicamente construída está em alheamento, em distanciamento. O impulso pela mudança é freado
xeque. O estudante associa a figura do médico que quer ser à dos ao se colocarem resoluções meramente superficiais e improváveis
médicos da novela das oito. Médico, portanto, é sinônimo de roupas como resolutivas para melhorar a saúde do indivíduo.
brancas impecáveis, cabelo arrumado, carros importados e ar condi- Se já não recebemos dinheiro de nenhuma fábrica de cere-
cionado. Realidade que é extremamente difícil de se implantar em ais, se não respondemos, por enquanto, a nenhum magnífico reitor,
um ambiente com ruas de terra esburacadas e com o calor que a se estamos soltos no cenário do ensino público estadual e se nin-
latitude e a continentalidade da cidade nos impõe. guém está contente (docentes, estudantes e usuários) com o que está
- O trabalho em saúde não é tema discutido; não é discutida posto, por que manter? Por que manter o sorriso no rosto enquanto a
a precarização que está nos jornais, muito menos a função social do realidade é manchada com abraços e sorrisos amarelos? A Famema
médico. tem que mudar. Ficarmos parados só trará a amizade das fábricas de
- A taxonomia das necessidades de saúde enquanto eixo jipes, de roupas camufladas e de óculos escuros; os estudantes estão
teórico-metodológico para integralidade, quando tomada como cansados desse safári.
orientadora apenas da descrição e da operação, é extremamente As UPPs, tanto as do Rio, como as de Marília, tem um
falha. O aluno inserido na UPP vê a realidade babar o seu rosto; papel semelhante: pacificar. Enquanto as cariocas pacificam os
consegue, sim, visualizar as "necessidades de saúde" e escrevê-las morros enfiando goela abaixo rifles e fardas, sem combater o real
num papel; consegue, também, listar uma série de ações que podem motivo da criminalidade, a mariliense pacifica o estudante. Blinda-
amenizar algumas situações particulares, abismo onde mora o estilo dos num "caveirão" ideológico, são limitadas nossa visão, nosso
de vida. Não consegue, todavia, entender por si só a gênese dos pensamento e nossas ações.
problemas encontrados, nem consegue avaliar o porquê da maioria
de suas inserções individuais não serem seguidas ou não trazerem
qualquer resultado ao indivíduo, muito menos à coletividade.
- O modelo biopsicossocial como forma de compreender a
saúde e o adoecimento é falho ao não apresentar hierarquia entre
seus fatores. Ao atendermos um paciente com determinada nosoco-
mia e ao utilizarmos de tal modelo para guiar nossa análise e condu-
ta, conseguimos compreender a questão biológica; a questão psico-
lógica, por muitas vezes patologizada, também é trabalhada; a ques-
tão social, por sua vez, é tratada com enorme desdém: o paciente é
pobre e a questão social é horrível. Ponto. Em momento algum essa
está localizada como produtora da doença. É considerada, sim, como
fenômeno paralelo, que só se encontra com a doença após sua insta-
lação, no seguimento da conduta. Acredita-se ainda que parasitoses
se tratam com albendazol.
- O Programa de Saúde da Família não é a salvação de
todos os males da saúde, e a resolutividade de 80% dos casos, no
Brasil, é dado para inglês ver. Trata-se sim de um desdobramento
das políticas neoliberais e é prevista pelo relatório do Banco Mundi-

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nais que além de sistemáticas e relevantes são também evitá-
Fratura Histórica veis, injustas e desnecessárias. Estas iniqüidades em saúde
A tentativa do Homem de definir um conceito de
são produto de grandes desigualdades entre os diversos es-
saúde é tão antiga quanto à própria história das civilizações e
tratos sociais e econômicos da população brasileira. Segundo
acompanha o desenvolvimento da Medicina desde seus pri-
o Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desen-
mórdios. Desse modo, desde o período pré-científico quando
volvimento de 2007, com dados de 2005, o Brasil está situa-
a doença era encarada como a perda da alma do paciente
do em 110 lugar entre os mais desiguais do mundo em ter-
com a penetração mágica de um objeto ou a possessão por
mos de distribuição da renda, superado apenas por seis paí-
maus espíritos, passando pela Medicina Hipocrática da Gré-
ses da África e quatro da América Latina.”
cia antiga que se baseava no desequilíbrio dos humores cor- “... o extraordinário aumento da riqueza produzida e a
porais para explicar as doenças e chegando mais moderna- modernização da economia não significaram melhoria na distribui-
mente a teoria microbiana de Pasteur, Koch e Klebs do sécu- ção de renda. Segundo dados do censo, no ano 2000 cerca de 30%
lo XIX, podemos observar que sempre foi uma discussão da população tinham uma renda familiar per capita menor que meio
central na Medicina o entendimento do processo saúde- salário mínimo e 75% uma renda familiar per capita menor que
doença. dois salários mínimos, situando-se no outro extremo 3% da popula-
Partindo desse sintético resgate histórico, é possível ção com uma renda familiar per capita superior a 10 salários míni-
mos.”
entender porque mesmo com todo o desenvolvimento tecno-
Apesar da fria aparência que esses indicadores pare-
lógico da Medicina, principalmente nas últimas décadas, a
cem possuir e de em um primeiro momento aparentarem
determinação das razões da saúde ou doença de um indiví-
ligação muito mais ampla com uma discussão econômica do
duo continua a carecer de um consenso tendo variadas ver-
que de saúde, eles são essenciais para que possamos compre-
tentes para sua explicação. É necessário, desse modo, com-
ender e explicar como e porque as pessoas adoecem. Utili-
preender que a Medicina como qualquer ciência é fruto de
zando o conceito de saúde presente na Constituição Federal
uma construção histórica, isto é, que possui influências cul-
apresentado em seguida é possível entender o que esses nú-
turais e políticas das diferentes sociedades onde se desenvol-
meros querem dizer:
ve e, desse modo, se constitui e se apresenta de acordo com
“Em seu sentido mais abrangente, a saúde é resultante das
as relações sociais que são estabelecidas. condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio-
Dentro desse contexto, realizando-se uma análise das ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e
políticas de Saúde Pública e Educação Médica no Brasil é posse da terra e acesso a serviços de saúde. É, assim, antes de tudo,
possível observar que as grandes discussões teóricas sobre a resultado das formas de organização social da produção, as quais
determinação do processo saúde-doença e as aplicações reais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida.”
de ações governamentais orbitam em torno do eixo biomédi- Diante disso, se uma pessoa não consegue consumir
co que tem sido progressivamente superado e do eixo multi- o mínimo de nutrientes indispensáveis para que consiga
fatorial (biopsicossocial) que ganha grande espaço nos últi- realizar as tarefas essenciais a vida, se não possui uma habi-
mos anos. Esse fato reflete a conjuntura nacional, pois com a tação adequada para protegê–la das agressões do ambiente,
reforma sanitária e o estabelecimento do SUS no final da se não tem acesso a uma educação que permita que ela possa
década de oitenta foi possível através de organização e pres- ter acesso ao conhecimento historicamente produzido permi-
são popular realizar modificações no cenário da atenção a tindo que, desse modo, entenda de que maneira a sociedade
saúde. A superação do modelo biomédico pelo modelo de funciona e de que maneira ela pode ser transformada para
múltiplos fatores teve sua importância e não pode ser despre- atender as suas necessidades de saúde, se não trabalha e,
zada. Ao alçar a importância do psicológico e do social no assim, não consegue mesmo que minimamente recursos
entendimento das doenças ao nível do biológico se pode financeiros para sua subsistência, ela adoece tanto biologica-
oferecer ao paciente um tratamento que levasse em conta de mente quanto psicologicamente e fica presa a uma realidade
forma mais completa as suas necessidades. de exclusão e exploração. As classes baixas adoecem mais
Diante dessa análise, ao se tomar como base para em nosso país porque a estruturação da nossa sociedade
discussão a realidade social brasileira podemos observar através do seu sistema econômico vigente cria um cruel ce-
claramente a limitação do modelo biomédico, mas não so- nário de miséria para a grande maioria dos indivíduos que
mente deste, pois o modelo biopsicossocial apesar de ter são explorados para alimentar a riqueza da classe dominante.
contribuído de certa forma na superação do primeiro não se Diante de tudo isso, é necessário entender que quem
torna completo ao colocar sobre um mesmo nível de relevân- determina em última instância o processo saúde-doença é o
cia as questões sociais e as questões biológicas e psicológi- modelo de organização econômica, política e cultural de uma
cas. É inegável que a biologia e a psicologia têm grande determinada sociedade. “Que saúde é o desenvolvimento
importância nas doenças e o próprio desenvolvimento cientí- econômico e social justo”. Somente desse modo será possí-
fico não permite a negação desta relevância, contudo em um vel garantir ao conjunto da população um atendimento a sua
país que tem uma sociedade marcada por desigualdades saúde que seja digno e que não prive a grande maioria de
grandiosas quem determina em última instância o adoeci- conquistar a sua liberdade através do seu pleno desenvolvi-
mento são os fatores sociais. Prova disso são os mais varia- mento.
dos dados sobre como os níveis de saúde variam em diferen-
tes classes sociais. Abaixo um gráfico extraído do relatório
final da Comissão Nacional Sobre Determinantes Sociais Da
Saúde (CNDSS) que ilustra essa afirmação.
Além disso, abaixo se encontra um trecho do relató-
rio final da Comissão Nacional Sobre Determinantes Sociais
Da Saúde (CNDSS):
“Apesar dos importantes avanços dos últimos anos
na melhoria do valor médio de seus indicadores de saúde, o
Brasil está entre os países com maiores iniqüidades em saú-
de, ou seja, desigualdades de saúde entre grupos populacio-

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O (co)modismo da Humanização não é mais produto da natureza, mas sim da civilização


e sua condição é arraigada com tudo o que a sociedade
O processo de humanização da Saúde tem suas acumulou.
origens nos movimentos de reformas sanitárias, nas É um ser que agora precisa utilizar os objetos
Conferências de Saúde e nos grupos militantes volta- humanos produzidos para adquirir o grau da humani-
dos a ações em prol do desenvolvimento de uma cons- dade que a humanidade atingiu.
ciência cidadã e cujas atuações se tornaram, a partir da Contudo, o fato de ser determinado social-
década de 1980, gradativamente influentes, estrutura- mente não inclui apenas a relação do homem e nature-
das e articuladas. za, mas também dos homens entre si.
A institucionalização desse processo, com a A sociedade é de classes e as relações entre
Constituição de 1988 e a estruturação do SUS, inaugu- classes determinam diferentes possibilidades e restri-
rou o reordenamento teórico, paradigmático e opera- ções ao desenvolvimento da vida e, consequentemente
cional da Saúde que a levou a ser compreendida no diferentes formas de adoecer, de viver e de morrer.
âmbito da Segurança Social. Nesse contexto, a idéia de Nessa sociedade, uma classe detém o meio de produ-
Humanização passou a ser entendida como “a valori- ção e a outra força de trabalho. A classe que não pos-
zação dos diferentes sujeitos implicados no processo sui meios de produção próprios e, portanto, precisa
de produção de Saúde” (SUS/PNH 2004). vender sua força de trabalho para sobreviver, terá mai-
No plano de sua realização político- or ou menor desgaste no trabalho e maior ou menor
institucional, a humanização recebeu acolhimento, na possibilidade de acesso aos produtos da produção soci-
gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, com al, na dependência da forma como se insere na produ-
a implantação do Programa Nacional de Humanização, ção e no consumo.
e continuidade e incremento, no Governo do Presiden- Se entendermos que saúde significa estar vivo
te Lula, quando o Programa foi alçado a uma dimen- e em condição de nos objetivarmos como humanos,
são de Política Nacional de Humanização. Esse passo realizarmos em cada um de nós o que a humanidade já
não foi sem importância, como se refere explicitamen- estabeleceu como possibilidade (viver 100 anos, voar,
te o Ministro Humberto Costa: “para isto estamos etc.), torna-se muito claro que essa objetivação depen-
construindo uma política que nomeamos Política Na- de da possibilidade de apropriação daquilo que a hu-
cional de Humanização da Atenção e Gestão no Siste- manidade produziu. O que estamos querendo dizer é
ma Único de Saúde Humaniza – SUS” (Brasil-MS, que a saúde, a possibilidade de viver por todo o tempo
2004, p. 9). e na qualidade que caracteriza o gênero humano, de-
Todavia, quando se depara com textos produ- pende do acesso ao produto da civilização e esse aces-
zidos pelas políticas de humanização e a literatura per- so se dá para cada grupo, de diferentes formas, na de-
de-se o conceito inicial de: o que é ser humano? pendência de como se organiza a vida em cada socie-
Ser humano é matar? Ser humano é morrer de dade.
fome? Ser humano é cobiçar? Ser humano é ser cari- Portanto ser humano, ou humanizado é ter
doso?... acesso a todo o equipamento possível para sua sobre-
Para falar de ser humano se começa em sua vivência. Não ficar horas na fila em um hospital sujo
vida que é produzida em sociedade. Para obter tudo com pessoas que não estão dispostas a atender.
que precisam, os homens, juntos, produzem bens de Dar um atendimento humanizado também
consumo como roupas, alimento, moradia, meio de significa bons salários e uma carga horária decente,
transporte, de comunicação entre outras. pois ninguém é obrigado a ser feliz depois de 12 horas
A produção é possível pela divisão social do de plantão com salários baixos e pouco aparato tanto
trabalho. Cada setor com seu produto se tornam inter- humano quanto tecnológico.
dependente um do outro, pois assim todos podem pos- Nesse sentido, supõe-se que a política de huma-
suir bens que sozinho o homem não conseguiria fabri- nização na saúde não venha trazer às pessoas todos
car. esses acessos e serviços, e sim, mais uma vez, implan-
A sobrevivência humana é a partir da nature- tar na sociedade um conceito – jargão, no mínimo in-
za, todavia o homem não é subordinado ao meio ambi- completo para conter as necessidades da população em
ente, porque o mesmo modifica e subordina a seus geral.
desígnios e assim, produz seus meios de sobrevivên-
cia. O homem não apenas extrai da natureza, mas
constrói equipamentos a partir dela para explorá-la.
Aquilo que o homem retira da natureza se
torna objeto de ação (exemplo: um toco de árvore se
torna uma lança). E assim a humanidade consegue
produzir cada vez mais recursos com menos esforços,
portanto produz-se uma nova realidade.
Com novas técnicas diminui-se a mortalidade,
aumenta a longevidade, o desenvolvimento e se garan-
te a sobrevivência a mais pessoas. Todavia o homem

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graças as políticas neoliberais alterariam sobremaneira a forma de se
A pós graduação: produzir conhecimento. O reforço dos laços da academia com o
Ciência de muletas empresariado através de parecerias público privado, da transferência
direta de tecnologia sem contrapartida financeira de quem a obtém, a
O atual otimismo quanto à instalação da pós-graduação introdução do pensamento empreendedor, o estabelecimento de
(modalidade Stricto Sensus) na Famema não é sem razão. A inser- patamares mínimos na produção de artigos ou ainda o surgimento do
ção desta IES – Instituição de Ensino Superior - no circuito de Mestrado Profissionalizante. Não se pode negar também a influên-
produtores de conhecimento representa o amadurecimento da acade- cia da economia na liberação de financiamento via agentes de fo-
mia e mais, compromisso estratégico com o desenvolvimento do mento à pesquisa (CNPQ, FAPESP, etc.) a linhas de pesquisa que
país. por fim favoreçam o acúmulo de capital.
Além do aporte de recursos, essencial ao nosso desenvol- Diferentemente do que se apregoa, o setor científico não
vimento, a qualificação do pessoal e a construção de uma estrutura é hermético, alheio aos movimentos sociais. Ele é construído para e
própria para a pesquisa, também estará em jogo na ampliação do por seres humanos. Carrega em si todas as contradições da socieda-
papel da Faculdade. de que o gerou e, se por um lado pode produzir imensas melhorias
Existem, no entanto, uma série de questões que devem para a vida por outro, pode também ser fonte de sofrimento. E aqui é
ser levantadas com o intuito de se descortinar os elementos envolvi- que está o problema Essa melhora e piora são diretas, através de
dos na produção científica atual, sua história, sua importância para a resultados palpáveis, como cura para doenças ou armas de destrui-
Medicina ou ainda para o estudante de Famema. É sobre isso, e um ção em massa ou indiretas, pelo reforço de um modelo econômico
pouco mais, que fala esse texto. excludente, por colocar a demanda econômica a frente da demanda
O que separa o ser humano dos outros animais é, em social.
última análise, o trabalho. Não a sua forma, mas o seu conteúdo. A É importante que se discuta a implantação de mestrados e
capacidade de através da reflexão sobre determinado problema gerar doutorados na Famema através dessa análise crítica. Enquanto na
soluções para os obstáculos do seu cotidiano e assim garantir os Graduação de fala sobre o papel do médico e enfermeiro na socieda-
meios para o seu sustento são atribuições unicamente nossas. de, das limitações do nosso sistema de saúde e de como a educação
É nesse processo de reflexão sobre a realidade que se pode ser uma forma de se produzir egressos (profissionais for-
encontra base da Ciência. Entretanto, a formulação atual da ciência mados) diferenciados, o que se discute para a pós-graduação?
só será facilmente reconhecível a partir do século XVII quando John O que se vê em outros cursos de Medicina cuja estrutura
Locke definir explicitamente o Empirismo, corrente filosófica que de pesquisa se mostra melhor desenvolvida é a forte orientação pra
entenderá como científico, fundamentalmente, o processo de valida- produção de resultados para as áreas mais rentáveis. Já com mudan-
ção de uma hipótese através de teste passível de ser reproduzível, ças mais palpáveis como o incentivo para a produção de patentes.
inúmeras vezes a fim de assegurar a validade da teoria a ser criada. Ora, patente só tem valor como produto potencial. Devemos nos
O acúmulo de mudanças causadas pelas forças produtivas lembrar ainda da Medicina Baseada em Evidências e seu viés feno-
demandaria uma profunda reorganização social. O surgimento do menológico-farmacocêntrico. Além disso a exigência por um núme-
Capitalismo como forma de relações humanas não foi apenas uma ro mínimo de publicações aumentou sobremaneira o número de
nova modalidade de troca de produtos. Toda a forma como o ho- artigos em periódicos nacionais e internacionais mas gerou uma
mem se vê e, portanto, seu papel na realidade seria transformado. queda significativa em sua qualidade.
Portanto, quando chegamos ao período das Revoluções Não podemos nos esquecer do equívoco histórico que foi
Industriais o saber científico ganha nova dimensão. Isso porque o pensar o método científico como forma de análise social, dando
desenvolvimento tecnológico, fruto da ciência, passa a ser essencial origem ao Positivismo e, posteriormente, ao Modelo Biomédico
para se garantir ou ampliar os lucros. Se até o Período Feudal os (ainda não superado) dentro das escolas de medicina. Como resulta-
avanços no setor produtivo eram feitos através do empirismo intuiti- do, hoje a produção de um artigo é visto como divisor de águas nos
vo e posteriormente divulgados através do contato pessoal entre os exames para a residência. Portanto procura-se fazer iniciação cientí-
trabalhadores, a partir do século XVIII essa dinâmica seria insufici- fica para garantir apenas um melhor currículo, o que leva o aluno a
ente. satisfazer, a maior parte do tempo como mão de obra barata, com
A demanda por inovações tecnológicas reforçaria a lógi- funções puramente técnicas, sem aquisição de conhecimento teórico
ca de divisão social entre aqueles que “pensam” e aqueles que ou incentivo para aqueles que realmente se interessam pela área
“agem”. Entre aqueles que pensam estariam os cientistas. Agora, adentrem esse mundo.
diferente do que se passava em períodos anteriores, seriam formados Portanto não é só da Famema esse desafio. É de todos
com o objetivo claro de proporcionar maior entendimento sobre a nós. A busca por novas formas de pensar a ciência na sociedade ou
natureza e seus processos. A Ciência deixaria de existir como forma mesmo na nossa formação é uma motivação constante para que não
de facilitar a vida humana e passaria a ser vista, assim como seus esqueçamos o seu papel como fonte de bem-estar para o ser huma-
produtores, como fonte de lucros. Não é a toa que as ciências natu- no. E como lidará a Famema com a contradição de possuir um currí-
rais - Matemática, Física, Química, Biologia e congêrenes - recebe- culo na graduação centrado em Competências quando a produção
riam tamanho status frente às ciências humanas – Filosofia, História, científica demanda Conteúdo? Hipóteses, testes e conclusões de
Geografia e afins. qualidade só surgem quando o acúmulo de conhecimento gera per-
Mas há uma característica importante a se ressaltar. Por guntas que a humanidade ainda não respondeu.
demandar muito tempo e nem sempre garantir um resultado passível
de ser prontamente convertido em mercadoria, caberá ao Estado o
papel de maior investidor em pesquisa. Através da educação ou
mesmo de órgãos independentes.
No Brasil, país periférico da economia mundial, tal setor
só desembarcaria como política pública a partir dos anos 60. A
crescente economia interna e a demanda por profissionais capazes
de aumentar a competitividade dos nossos produtos levarão a ampli-
ação dos programas de pós-graduação. A forte influência dos Esta-
dos Unidos da América nos faria abandonar, em boa parte, o estrutu-
ra acadêmica francesa e adotar o anglo-saxão.
O Stricto Sensus ou, a pós-graduação para a formação de
cientistas, seria dividida em fases - neste texto a ênfase é em duas
Primeiro o Mestrado, com o intuito de ampliar o conhecimento do
recém graduado sobre o método científico e ampliar seu conheci-
mento sobre determinado tema. Depois viria o Doutorado, com o
intuito de formar um pesquisador pleno, capaz de fazer avançar o
conhecimento sobre determinada área e, ainda, orientar outros neste
mesmo caminho.
A reorganização da economia mundial nos anos 1990

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Atenção Básica biomédica/flexneriana). Não se pode esquecer da


As notícias acerca da paralisação dos mé- pressão da indústria médico-hospitalar, na forma
dicos da Atenção Básica de Marília tomaram con- de lobbies para venda de produtos ao Estado ou
ta da mídia local nas últimas semanas. Numa dis- na gênese de um senso comum no qual o hospital
cussão que envolvia reposição salarial, a qualida- e tudo que o envolve se tornam a única forma
de do serviço prestado ou mesmo a estrutura das efetiva no cuidado com a saúde.
Unidades de Saúde da Família, o que se tornou A Assembléia Mundial da Saúde (1977)
evidente, e novo, foi o avanço da precarização do com o lema “Saúde para Todos no Ano 2000”, a
setor. Conferência de Alma-Ata (1978) sobre Cuidados
Mas aqui cabe ressaltar que, apesar das Primários e a Carta de Ottawa (1986) seriam a
dificuldades que todo o sistema de saúde enfren- base para a reorganização dos sistemas de saúde
ta, o fato de ter relação direta com o Programa ao redor do mundo.
Saúde da Família agrega um elemento em parti- No Brasil, tal movimento tomaria forma
cular que demanda maior entendimento quanto ao através de ações como o Programa de Agentes
movimento grevista. Comunitários de Saúde, de 1992, ou a implanta-
Após a Reforma Sanitária da década de ção do Programa de Saúde da Família no ano de
1980 foram determinados através da Constituição 1994 gerando, assim, a nossa Atenção Básica.
brasileira e da Lei 8080 uma série de princípios Asa Cristina Laurell, pesquisadora da
dos quais, para a nossa análise, destacam-se o da área da Medicina Social, geraria diversas refle-
Hierarquização e da Descentralização. xões acerca da implantação dos Cuidados Primá-
rios ao redor do mundo através do seu livro Esta-
do e Políticas Sociais no Neoliberalismo. Nesta
obra, a autora derrubaria o mito dos 80% de reso-
lutividade, viável apenas numa sociedade como a
canadense, por exemplo. Como vimos no caso
brasileiro, até a tradução seria prejudicada em
função de necessidades políticas. Explicitaria
também o papel do Banco Mundial, órgão inter-
nacional cujo objetivo maior é o de garantir a ma-
O modelo de saúde vigente até então seri- nutenção do modelo atual de organização sócio-
a substituído por outro no qual houvesse níveis de econômica.
complexos distintos de atenção a saúde para os No seu relatório de 1995, sobre a saúde, o
quais o usuário seria enviado em função da sua BM sugeriria fortemente o uso de uma atenção
necessidade. Haveria também um processo de diferenciada entre aqueles que podem e aqueles
reorganização dos serviços por demandas locais, que não podem pagar. A quem não pudesse, o uso
o que facilitaria o acesso da população ao SUS. de filas de espera, de co-pagamento de serviços, a
Seriam assim definidos três níveis de atenção gestão do serviço pelos próprios médicos, otimi-
(primário, secundário e terciário) e surgiria a ne- zação (redução) do número de leitos e do acesso a
cessidade de unidades de saúde de fácil acesso, tecnologia, a criação de um mercado interno de
com capacidade de servir de porta de entrada do serviços de diagnósticos além, é claro, da limita-
sistema. ção da cobertura da assistência em termos de di-
A escolha por tal modelo não veio à toa. agnóstico e tratamento. Portanto, uma cesta bási-
A crise de superprodução da década de 1960 que ca de serviços que tornaria uma saúde pobre para
culminaria com a Crise do Petróleo e uma reces- pobre.
são em escala global levou grande parte do mun- Não é um exercício que demanda muito
do à adoção de um modelo de Estado mínino, de esforço observar a nossa Atenção Básica, ver o
orientação neoliberal, no qual áreas como saúde, quanto ela se distingue dos Primaries Cares do
educação e segurança não seriam poupadas da mundo desenvolvido. A luta por melhores condi-
fúria privatizante. ções de trabalho, melhor organização, financia-
Somado a isso havia um aumento da de- mento e estrutura física não são demandas disso-
manda por tecnologia, o que encarecia grande- ciadas da realidade. Importante é não fazer vistas
mente a assistência, além do esgotamento da for- grossas ao processo de construção histórica da
ma de relação entre médicos e pacientes em fun- sociedade e garantir que, no futuro, os mesmos
ção da lógica centrada na visão biológica (escola erros não se repitam.

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Residência Multiprofissional dificuldade de aceitação para abertura dos


na visão de um residente espaços para nossa atuação, ao mesmo tem-
po, em determinadas áreas (fisioterapia e en-
Em 2006, é criada o Programa de Re- fermagem) delegam inúmeras atividades aos
sidência Multiprofissional em Saúde da Fa- residentes e se tornam rígidos a abrir as por-
mília da Faculdade de Medicina de Marília tas dos refeitórios para estes.
(Famema), contemplando cinco profissões Em relação aos cenários de práticas,
que estão inseridas na atenção básica e suas as Unidades de Saúde da Família (USF) apre-
ações deveriam ser norteadas levando em sentam péssimas condições de trabalho, es-
consideração as atenções às necessidades in- cassez de recursos materiais e humanos, bai-
dividuais, coletivas e gestão ou processo de xíssimas participação social nas decisões e
trabalho. grandes fragilidades na integração entre os
Sabe-se que uma das prioridades no diversos níveis de complexidade dos serviços
processo ensino-aprendizagem nesta institui- de saúde municipal.
ção é formar profissionais que atuem na lógi- Conseqüentemente, há residentes frus-
ca do modelo biopsicossocial. No entanto, ao trados e insatisfeitos com a formação e a rea-
invés dessa pós-graduação aproximar e con- lidade que encontram, os mesmos reforçam o
tribuir para que tal formação seja preconizada modelo fragmentado e reducionista dos pro-
também neste cenário, não é integrada com a fissionais da rede e até mesmo alguns apre-
graduação, mas sim ilhada e esquecida pelos sentam quadro de adoecimento.
dirigentes. O Programa de Residência Multiprofis-
A metodologia utilizada tenta camu- sional em Saúde da Família tem cumprido a
flar o descompromisso de alguns membros função pela qual foi criada pelo Ministério da
formadores com o programa, além das fragi- Saúde? Ou seja, será que tem contribuído pa-
lidades técnicas dos mesmos. Tais fatos são ra a formação de profissionais diferenciados e
exemplificados nas ausências deles nas ativi- que possam contribuir para a mudança do
dades práticas e teóricas, desconhecimento e/ modelo assistencial de saúde, auxiliando na
ou não aprofundamento de noções básicas de concretização os princípios do SUS e efetiva-
saúde coletiva bem como da realidade das ção do ESF em nosso país e município?
USF’s (Unidades de Saúde da Família). Tudo
isso repercute numa formação deficiente, a-
crítica, sobretudo, de extensão assistencialista
em detrimento da extensão transformadora.
A parceria com a Secretaria Munici-
pal de Saúde de Marília não é pactuada de
forma clara, concomitantemente, está rechea-
da de contradições. Em alguns momentos,
não nos consideram como membros da equi-
pe de saúde, nem do serviço, negando-nos
oportunidades de realizar capacitações e até
mesmo estágio eletivo, enquanto em outros
momentos nos consideram como trabalhado-
res e mão-de-obra barata.
O que é mais espantoso é que tal fra-
gilidade é vista, também, na parceria para os
plantões com a própria instituição Famema e
seus cenários de atuação, tais como: HCI, HC
II e HC III. Nestes espaços encontramos
grande dificuldade de aceitação por parte dos
profissionais que lá trabalham, bem como

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Fratura Cruzada
a - (...) longitudinal anterior - faixa fibrosa forte e larga que cobre as faces ântero-laterais dos corpos vertebrais e discos
intervertebrais (IV).
b - constrição dos maxilares, produzida pela contratura dos músculos da mastigação; um dos sinais do tétano.
c - aumento de volume de um tecido, órgão ou parte do corpo, podendo ser provocado por um processo inflamatório de
ordem tumoral ou por uma infiltração edematosa.
d - princípio do SUS que garante o acesso de todos os cidadãos aos serviços de saúde no país.
e - Christophe (...) - psiquiatra e psicanalista francês, pesquisador das relações entre trabalho e doenças mentais.
f - grupo de enzimas envolvidas no metabolismo do ácido araquidônico, levando à síntese de prostaglandinas.
g - é um tumor do tecido cromafim, em geral, produtor de catecolaminas e responsável, na maioria dos casos, por quadro
clínico de hipertensão arterial associada ou não a paroxismos adrenérgicos.
h - qualquer erro sistemático no delineamento, condução ou análise de um estudo que resulta numa estimativa equivocada
do efeito da exposição no risco da doença; geralmente, referem-se a falhas de seleção ou de informação.
i - Síndrome de (...) - doença inflamatória auto-imune, crônica, que acomete principalmente as glândulas de secreção
exócrina, especialmente as lacrimais e as salivares, e órgãos como a pele, o fígado, etc.
j - médico sanitarista e político brasileiro, cuja participação foi fundamental para os debates em saúde da década de 80.
k - quarto (IV) par de nervos cranianos; inerva o músculo oblíquo superior (olhar para baixo e para dentro).
l - cidade do Cazaquistão que recebeu a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde da OMS em 1978.
m - base de dados que favorece a definição de prioridades nos programas de prevenção e controle de doenças, sendo
elaborada a partir das Declarações de Óbito (DO) coletadas pelas Secretarias Estaduais de Saúde.
n - doença infecciosa de evolução crônica, que compromete principalmente os pulmões; entre as medidas profiláticas, está a
vacinação com o bacilo de Calmette-Guérin (BCG).
o - Doença de (...) - também conhecida como Osteogênese Imperfeita, decorre de um defeito genético na síntese de
colágeno.

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p - acúmulo patológico de líquido na cavidade abdominal; a principal causa é a hipertensão porta associada à cirrose
hepática.
q - membrana (...) - estrutura derivada do dobramento da região caudal do embrião.
r - " A (...) não pode prever o que vai acontecer. Só pode prever a probabilidade de algo acontecer." César Lattes
s - (...) Ocupacional - toda alteração de pele, mucosa e anexos direta ou indiretamente causada, condicionada ou agravada
por elementos existentes no ambiente de trabalho; a dermatite de contato é a forma mais comum.
t - um dos pilares da relação profissional de saúde-paciente.
u - Ponto de (...) - situado no quadrante inferior direito do abdome, entre a cicatriz umbilical e a crista ilíaca ântero-superior.
v - Fibrilação (...) - é uma taquiarritmia supraventricular e uma das arritmias mais frequentes na prática clínica; todavia,
pode se comportar clinicamente como uma taquicardia ou uma bradicardia, dependendo da capacidade de condução do nó
AV.
w - (...) Uterino - tipo mais comum de tumor benigno ginecológico, incidindo em até 30% das mulheres em idade
reprodutiva.
x - (...) Trombóticas - grupo de entidades que reúne púrpura trombocitopênica trombótica (PTT), Síndrome hemolítico-
urêmica (SHU), Pré-eclâmpsia/HELLP e Coagulação intravascular disseminada.
y - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria.
z - (...) Social do processo saúde-doença . Referencial de estudos em saúde pública que considera as condições de vida
como fundamentais no processo de adoecer. Rojas.braite@vianatural.com.br

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