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Tribunal Penal Internacional e

Estatuto de Roma de 1998


(Tribunais internacionais e jurisdição contenciosa
internacional)

Prof. Dr. Fabrício Bertini Pasquot Polido, LL.M.


fpolido@gmail.com

Faculdade de Direito – DIPu II


Direito Internacional Público II
TPI e Estatuto de Roma

“Não existe Ciência do Direito que não seja universal”


(René David, Les grands systèmes de droit contemporains, 1968)

PLANO DE APRESENTAÇÃO

1. Evolução do Direito Internacional Penal e o


Estatuto de Roma de 1998
2. Princípios do DIPenal
3. Tipos penais no Estatuto de Roma
4. Sanções e mecanismos preventivos
5. DIPu e direito constitucional brasileiro
6. Conclusões

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Direito Internacional Público II
TPI e Estatuto de Roma

1. Tribunais Internacionais Penais:


Significado e contexto

• Pós Segunda Guerra Mundial – avanços


no processo de codificação do Direito
Internacional Público

– mecanismos institucionais de sancionamento e


proteção de garantias fundamentais da pessoa
humana
– Contornos da responsabilidade criminal
internacional – emergência do Direito
Internacional Penal
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TPI e Estatuto de Roma

EVOLUÇÃO DE FIGURAS

• Tribunal de Nuremberg (1945) até TPI – Tribunal


Penal Internacional (1998)
– Contexto: responsabilidade criminal
internacional
– responsabilidade do indivíduo X
responsabilidade do Estado em matéria
de crimes internacionais

• Tribunais de exceção – instituições criadas com


propósito específico para julgar criminosos de
guerra
• Nuremberg (1945) e Tóquio (1946)
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TPI e Estatuto de Roma

Princípios do Direito Internacional Penal

• A) responsabilidade criminal do indivíduo –


crimes praticados e tipificados segundo o
direito internacional

• B) criação e consolidação de tribunais penais


especializados (ad hoc) pelo Conselho de
Segurança da ONU

– TI para Ex-Iuguslávia e TI para Ruanda

• C) Consequencias penais, decorrentes da conduta


criminosa internacional, são imputadas ao seu
autor e não ao Estado

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TPI e Estatuto de Roma

Premissas do Direito Internacional Penal

D) Reparação de danos

– responsabilidade do Estado, sem necessidade


de haver imputação da conduta ilícita em
relação ao Estado;

– consequencias impostas pelo direito


internacional aos atos de agentes praticados
em determinado Estado (por conta ou não
deste);

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TRIBUNAL DE NUREMBERG

• Significado: julgamento de criminosos da


Segunda Guerra por tribunais criados pelas
potências vencedoras –

– Decisão pelo consenso dos Estados


Unidos/União Soviética e Inglaterra
– Declaração sobre Atrocidades praticadas
pela Alemanha (1943)
» reconhecimento da existência do
massacre de poloneses, franceses,
holandeses, belgas, noruegueses e
cretenses, soviéticos durante a
Segunda Guerra.
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TRIBUNAL DE NUREMBERG

• Agosto de 1945: Ato Constitutivo do


Tribunal Militar Internacional
– Processo de persecução criminal e punição
dos grandes criminosos das potências
européias do Eixo (Alemanha, Itália e
Japão)
– Estatuto Militar Internacional
• Art.6º - distinções relativas aos tipos penais
internacionais – crimes de guerra, crimes contra a
paz e crimes contra a humanidade;
• Reconhecimento do princípio da responsabilidade
criminal individual

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TRIBUNAL DE NUREMBERG

• Crimes de guerra – violação de leis e


costumes de guerra

• Ex: maus-tratos, assassinato, tortura de


prisioneiros de guerra
• Deportação de indivíduos da população civil para
trabalho forçado
• Assassinatos de indivíduos em alto mar, sob
domínio das forças beligerantes;
• Destruição em massa de cidades, aldeias, vilas;
pilhagem de bens públicos ou privados
• Execução de reféns e devastações injustificadas

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TRIBUNAL DE NUREMBERG

• Crimes contra a paz

– Direção, preparo, desencadeamento e


prosseguimento de uma guerra ou
agressão baseada na violação de tratados;

– Atos concertados ou em conluio para


execução dos atos anteriores;

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TRIBUNAL DE NUREMBERG

• Crimes contra a humanidade

– assassinato, extermínio, redução à


escravidão, deportação; prática de
quaisquer outros atos desumanos
cometidos contra civis;

– Perseguições desencadeadas por razões


religiosas, políticas, raciais, sobretudo
enquanto esses atos tenham ou não
constituído violação do direito interno do
Estado em que tenham sido cometidos
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TPI e Estatuto de Roma

TRIBUNAIS AD HOC Criados pelo Conselho de


Segurança da ONU

• Conselho de Segurança – ação em matéria


humanitária leva à criação de dois tribunais
internacionais penais na década de 1990
– Fundamentos: atos de ameaça contra a paz e
segurança internacional interpretados de modo
flexível

– Tribunais com competências específicas (rationae


materiae) - Tribunal para a Ex-Iugoslávia e Tribunal
para Ruanda (TIPR);

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TRIBUNAIS AD HOC Criados pelo Conselho de
Segurança da ONU

• Críticas da doutrina do Direito Internacional


- falta de coesão e consenso quanto à adoção
da medida
– Medidas questionadas: operações de intervenção
humanitária, criação de zonas de segurança
– Parcialidade na decisão tomada pelo CS – escolha
dos destinatários de tais ações e politização da
ação humanitária (Kerbrat, 1995: 103);

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TRIBUNAIS AD HOC Criados pelo Conselho de
Segurança da ONU

• Marginalização do CS – falta de consenso


entre Membros da ONU
– atuação unilateral, com poucos envolvidos e não a
tomada de decisão pela coletividade dos Membros
da Organização;
– ação horizontal e vertical das medidas – não
somente contra estados, mas também contra
indivíduos (Ex-Iugoslávia e Ruanda)

• Resultados – julgamento do caso TADIC


– Prosecutor v. Dusko Tadic. IT-94-1-T. “Decision on the defence
motion on jurisdiction” (10 de agosto de 1995) - Disponível em:
http://www.un.org/icty/tadic/trialc2/decision-e/100895.htm>.
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TPI e Estatuto de Roma
TRIBUNAIS AD HOC Criados pelo Conselho de
Segurança da ONU

• Caso TADIC (1995)

– Violações graves do direito internacional, mesmo


cometidas ou praticadas durante conflito armado interno
(Iugoslávia) constituem crimes internacionais, passíveis,
portanto, de punição.

– Fundamento do TIPAI – Cap.VII da Carta da ONU –


intervenção para assegurar a paz internacional
– Resoluções 808 e 827 do Conselho de Segurança da
ONU - Conselho de Segurança (CS) pode editar
resoluções vinculantes a todos os Membros

• Base para ações de intervenção para assistência


humanitária – relação de cooperação entre estados

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TPI e Estatuto de Roma
ESTATUTO DE ROMA de 1998

• 1998: Conferência de Roma sobre a criação do TPI

– 1948: Trabalho precedente da Comissão de Direito


Internacional da ONU sobre a possibilidade de criação de
tribunal para julgar casos semelhantes àqueles julgados
em Nuremberg e Toquio;

– 1990-95: reflexões na CDI sobre a criação do Tribunal,


com propostas mais conservadoras, de difícil adaptação
aos sistemas jurídicos dos Membros
• Paralelismo com TIP para Ex-Iugoslávia (1993) e Ruanda
(1994)

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TPI e Estatuto de Roma
ESTATUTO DE ROMA de 1998

• Adoção do Estatuto de Roma - justificativa no


princípio da complementaridade

– Regra do Art.1º do ER - Decreto nº 4.388, de 25.09.2002

• Jurisdição excepcional e complementar – exercida em caso de


manifesta incapacidade ou falta de previsão normativa no
sistema doméstico

• Estados Partes sempre terão preferência, primazia para


investigar e julgar os crimes previstos no Estatuto.

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TPI e Estatuto de Roma
ESTATUTO DE ROMA de 1998
• Natureza e Alcance normativo do Estatuto de Roma
– Ato internacional (texto convencional) complexo,
caracterizado por normas, simultaneamente penais,
processuais penais, judiciárias, penitenciárias e de
cooperação judiciária internacional (J.Miranda: 1999)

– normas constitutivas de um novo sujeito de Direito


internacional Público e de jurisdição especial

– TPI é uma organização internacional, portanto ente dotado de


personalidade jurídica de Direito Internacional) – Art.4.1 do ER

– Art.4.2 do ER: “O Tribunal poderá exercer os seus poderes e


funções nos termos do presente Estatuto, no território de
qualquer Estado Parte e, por acordo especial, no território de
qualquer outro Estado.”
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TPI e Estatuto de Roma
ESTATUTO DE ROMA de 1998
• Direito aplicável pelo TPI

– normas do Estatuto de Roma, de tratados e princípios gerais de


Direito internacional e os princípios gerais de Direito decorrentes do
direito interno dos Estados Partes, segundo os diferentes sistemas
jurídicos

Artigo 21 - Direito Aplicável


1. O Tribunal aplicará:
a) Em primeiro lugar, o presente Estatuto, os Elementos Constitutivos do Crime e o
Regulamento Processual;

b) Em segundo lugar, se for o caso, os tratados e os princípios e normas de direito


internacional aplicáveis, incluindo os princípios estabelecidos no direito internacional
dos conflitos armados;

c) Na falta destes, os princípios gerais do direito que o Tribunal retire do direito interno
dos diferentes sistemas jurídicos existentes, incluindo, se for o caso, o direito interno
dos Estados que exerceriam normalmente a sua jurisdição relativamente ao crime,
sempre que esses princípios não sejam incompatíveis com o presente Estatuto, com o
direito internacional, nem com as normas e padrões internacionalmente reconhecidos

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TPI e Estatuto de Roma
ESTATUTO DE ROMA de 1998
• Avanços Pós-Estatuto de Roma de 1998

• não imunidade aos dirigentes políticos e dos


chefes militares; irrelevância (limitada, de certo
modo) das ordens hierárquicas; não admissão de
reservas;

• garantias em favor dos Estados Partes


– complementaridade de jurisdição;
– não intervenção em assuntos internos;
– aplicação das penais internacionais penais apenas em
relação a crimes cometidos após a entrada em vigor do
Estatuto.

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TPI e Estatuto de Roma
ESTATUTO DE ROMA de 1998
• Princípios e objetivos do Estatuto de Roma de 1998

– Preservar o direito dos Estados Partes de adotarem


medidas em nível nacional e reforço da cooperação
internacional para repressão e sancionamento dos
crimes internacionais;

– Ressaltar o dever de cada Estado Parte de exercer a


respectiva jurisdição penal sobre os responsáveis por
crimes internacionais;

– Estados Partes devem se abster de recorrer à ameaça


ou ao uso da força, contra a integridade territorial ou a
independência política de qualquer outro;

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TPI e Estatuto de Roma
ESTATUTO DE ROMA de 1998
“Afirmando que os crimes de maior gravidade, que afetam a
comunidade internacional no seu conjunto, não devem ficar
impunes e que a sua repressão deve ser efetivamente
assegurada através da adoção de medidas em nível nacional e
do reforço da cooperação internacional,
Decididos a por fim à impunidade dos autores desses crimes e a
contribuir assim para a prevenção de tais crimes,
Relembrando que é dever de cada Estado exercer a respectiva
jurisdição penal sobre os responsáveis por crimes
internacionais,
Reafirmando os Objetivos e Princípios consignados na Carta das
Nações Unidas e, em particular, que todos os Estados se devem
abster de recorrer à ameaça ou ao uso da força, contra a
integridade territorial ou a independência política de qualquer
Estado, ou de atuar por qualquer outra forma incompatível com
os Objetivos das Nações Unidas” (Preâmbulo do ER de 1998)

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TPI e Estatuto de Roma
ESTATUTO DE ROMA de 1998

• Tipos penais no Estatuto: Art. 5º - Crimes da


Competência do Tribunal

Art.5(1). A competência do Tribunal restringir-se-á aos


crimes mais graves, que afetam a comunidade
internacional no seu conjunto. Nos termos do presente
Estatuto, o Tribunal terá competência para julgar os
seguintes crimes:

a) O crime de genocídio;
b) Crimes contra a humanidade;
c) Crimes de guerra;
d) O crime de agressão.

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TPI e Estatuto de Roma
ESTATUTO DE ROMA de 1998 - Procedimento
• Acusação formulada por um Estado com jurisdição na
matéria, pelo procurador-geral do TPI (advogado-
geral perante o Tribunal)
– Arts.14 e 15 do TPI – legitimidade das partes

• Pedido documentado, com evidências, analisado pela


Câmara Preliminar (Pretrial Chamber)

– Decisão interlocutória sobre a legalidade,


conveniência e admissibilidade do pedido/acusação
– Inadmissibilidade – hipóteses (Art.
• casos em que o Estado que tenha jurisdição sobre a
matéria já iniciara processo criminal;
• caso a pessoa já tenha sido julgada
• caso que não seja suficientemente lesivo/grave para
receber a tutela do TPI

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