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Iria GONÇALVES, in: “Defesa do consumidor na cidade medieval: Os produtos alimentares (Lisboa – séculos
XIV - XV)”, Um olhar sobre a cidade medieval, Patrimonia, Cascais, 1996, p. 98.
2
Em Portugal houve uma grande fome no ano de 1331, que se agravou em 1348. Vide José MATTOSO, História
de Portugal, Vol. II, Círculo de Leitores, 1993, p.249.
1
A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
Os locais de venda eram fixos e não era permitida a venda de produtos fora da
vila. Para garantir que os seus habitantes obtinham os produtos necessários para
o seu sustento, os preços eram tabelados e os pesos e medidas eram
regularmente fiscalizados pelo governo municipal, devendo apresentar a marca
do concelho, caso contrário eram considerados fraudulentos.
3
Sobre o assunto veja-se Iria GONÇALVES, “art. cit.”, para Lisboa e Beatriz Arizaga BOLUMBURU, “El
abastecimiento de las villas vizcaínas medievales: política comercial de las villas respecto al entorno y a su
interior”, in: La Ciudad Hispanica Durante Los Siglos XIII Al XVI, Tomo I.
2
A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
1.1.1. Pão
4
A. H. de Oliveira MARQUES, Introdução à História da Agricultura – A Questão Cerealífera durante a Idade
Média, Cosmos, Lisboa, 1978, pp. 79-80.
5
Actas de Vereação de Loulé, acta de 1385, pp. 26-29; acta de 1403, pp.113-114; acta de 23 de Abril de 1468,
pp. 204-205 e acta de 4 de Junho de 1468, pp. 210-211.
6
Ibidem, acta de 1385, pp. 29-30
3
A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
Uma moeda de troca utilizada pelos concelhos de Loulé e Faro, para obterem
cereal da Bretanha foi o figo. Para incentivarem a importação de trigo desta
região, acordaram entre si conceder aos vendedores uma peça de figos por cada
moio de trigo trazido aos ditos concelhos7.
7
Ibidem, acta de 4 de Junho de 1468, pp. 210-211.
8
Ibidem, acta de Maio de 1408, p. 193.
9
Vide Maria Ângela BEIRANTE, “Relações entre o Homem e a Natureza nas mais Antigas Posturas da Câmara
de Loulé (Séculos XIV-XV)”, in: Actas das 1ªs Jornadas de História Medieval do Algarve e Andaluzia, Câmara
Municipal - Universidade do Algarve, Loulé,1987, pp. 231- 242.
10
Idem, ibidem, p.232.
4
A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
Os animais à solta, que danificam as culturas são uma constante e por isso
mesmo são várias as actas que prevêem castigos para os donos dos animais12,
prova da extrema importância desta matéria para o “bom regimento ” do
concelho.
11
Ibidem, p. 177-188.
12
Ibidem, acta de 15 de Novembro de 1402, p. 106; acta de 26 de Maio de 1403, pp. 126-129; acta de 1 de
Dezembro de 1403, p. 148; acta de 12 de Janeiro de 1404, p. 152 e acta de 22 de Fevereiro de 1404, p. 159.
13
De notar que o concelho encontrava-se envolvido por uma faixa de hortas, da qual se destaca a horta d’El-Rei,
que abasteciam o mercado urbano. Loulé seria, pois um concelho rico em produtos hortícolas.
5
A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
1.1.3. Carne
A carne mais cara é a de carneiro (a quatro soldos). Ao que tudo indica, esta
seria a carne mais apreciada na época, mas não parece significar que fosse a
mais acessível. Talvez a grande procura fizesse o seu preço subir, de acordo,
uma vez mais com a lei da oferta e da procura. Logo abaixo encontrava-se a
carne de vaca – a três soldos – e por fim a carne de cabra e “cabron” a dois
soldos e quatro dinheiros16.
14
Actas de Vereação de Loulé, acta de 28 de Junho de 1402, pp. 90-91.
15
Ibidem, pp. 40-41.
16
Note-se que não é especificada a unidade de medida a que se refere o preço. É provável que se trate do
arrátel, equivalente a 340 g.
17
Actas de Vereação de Loulé, ob. cit., acta sem data, p. 68.
6
A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
18
Ibidem, acta de 12 de Maio de 1403, pp. 125-126.
19
Ibidem, acta de 23 de Junho de 1403, p. 133.
20
Encontramos medidas desse género tanto em Loulé, como nas posturas antigas de Lisboa, como por exemplo
a postura datada de 28 de Junho de 1458 – Ordenação do varrer as Ruas na qual o corregedor e vereadores de
Lisboa mandam que todos os seus habitantes, desde a Páscoa até S. Miguel em Setembro varram a rua em
frente à sua porta e levem diariamente o lixo para a ribeira. Quem não o fizesse pagaria cinquenta libras de
coima. Este é apenas um exemplo, que recai sobre um período concreto, que é o mais quente do ano, logo o
que representa um maior perigo de propagação de epidemias, in: Livro das Posturas Antigas da Câmara de
Lisboa, Leitura paleográfica e transcrição de Maria Teresa C. Rodrigues, Lisboa, 1974.
21
Actas de Vereação de Loulé, acta de 17 de Novembro de 1403, pp. 146-147.
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A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
1.1.4. Pescado
Tanto assim é que são várias as actas que contemplam tal assunto,
nomeadamente no que respeita aos preços, às formas de venda, ao
abastecimento suficiente de pescado, matérias que estão sob alçada do poder do
município, à semelhança do que já verificámos para a carne.
O local de venda devia ser sempre o mesmo, na praça, para que fosse possível o
controlo do concelho. Porém alguns habitantes da vila tentavam vender
sardinhas e outros pescados em casa, certamente para ficarem longe do olhar
fiscalizador do almotacé.
22
Vide: Maria Helena da Cruz COELHO, “ «Entre Poderes»- Análise de alguns casos na Centúria de
Quatrocentos”, Separata da Revista da Faculdade de Letras, Porto, 1989, pp. 103-135.
23
Actas de Vereação de Loulé, acta de 28 de Setembro, p. 229.
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A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
Para garantir que tal não acontecia, a vereação decidiu, por postura, que aqueles
que trouxessem o pescado até à vila, seriam obrigados a dirigir-se à praça –
local onde se efectuaria a venda – e mostrá-lo aos almotacés 24. Garantir que o
pescado se vendesse sempre na praça era extremamente importante, em
primeiro lugar, porque assim todos sabiam onde adquirir o produto e, por outro
lado, os almotacés também conseguiam controlar os vendedores mais
facilmente, evitando fraudes e enganos.
O pescado fazia parte da dieta alimentar de Loulé nos séculos XIV e XV, nos
“dias do pescado”, que eram três dias por semana - quarta-feira, sexta-feira e
sábado - os regatães tinham de garantir o “mantimento de suas jentes” 26; uma
vez mais o concelho demonstra a enorme preocupação com o abastecimento da
vila, desta vez em matéria de peixe, como já objectámos para o pão e para a
carne.
Os preços do peixe também eram tabelados por postura27. Essa postura oferece-
nos uma preciosa informação sobre as espécies de peixe vendido em Loulé. As
mais apreciadas e que não se vendiam a peso, mas segundo a avaliação dos
almotacés, eram as corvinas, os pargos e as pescadas. Entre as espécies
vendidas a peso destacavam-se os linguados e os sáveis, tabelados a 6 reais o
arrátel. Seguia-se o pescado de escama, a 4 reais o arrátel e por fim, o pescado
de coiro, como a raia e o cação, a 3 reais o arrátel.
24
Ibidem, acta de 22 de Dezembro de 1403, p. 149.
25
Ibidem, acta de 2 de Fevereiro de 1404, pp. 154-155.
26
Ibidem, acta de 4 de Fevereiro de 1408, p. 162.
27
Ibidem, acta de 17 de Março de 1408, p. 167.
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A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
1.1.5. Vinho
São apenas três as actas que mencionam a questão do vinho28. O facto de não
existirem mais referências a este produto, não significa escassez de produção ou
consumo reduzido do mesmo. A vinha, como já mencionámos, era a cultura mais
protegida no concelho e era sem dúvida uma cultura importante, visto que o
vinho era a bebida mais consumida na Idade Média, sacralizada no ritual da
eucaristia onde se transforma em sangue de Cristo.
Duas destas actas tratam do relego, direito régio que estava consagrado no foral
de 126629. Correspondia ao monopólio da venda do vinho do rei, durante três
meses do ano, o que podia prejudicar os demais produtores porque punha em
perigo a conservação do vinho e diminuía a procura no mercado. No entanto sem
licença do relegueiro, em Loulé, ninguém tinha o direito de vender o seu vinho
antes da data estabelecida, sob pena de pagar uma coima. A necessidade de
relego é sintoma de produção abundante de vinho.
28
Ibidem, acta de 9 de Janeiro de 1385, pp. 25-26; acta de 2 de Abril de 1385, pp. 41-43; acta de 4 de Agosto de
1403, p. 138.
29
Isilda Maria Pires MARTINS, O Foral de Loulé de 1266, Câmara Municipal de Loulé, 1989, p. 25.
30
Actas de Vereação de Loulé, ob. cit., acta de 2 de Abril de 1385, pp. 41-43.
31
Ibidem, acta 4 de Agosto de 1403, p. 138.
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A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
1.1.6. Azeite
O azeite é a gordura mais utilizada na Idade Média, quer por cristãos, quer por
muçulmanos. É utilizada na cozinha e também na iluminação.
Loulé, concelho situado a sul, antigo centro urbano muçulmano, como não
poderia deixar de ser, possuía lagares de azeite.
Através das posturas municipais referentes aos lagares de azeite 32, sabemos que
os donos dos lagares não eram os donos dos olivais. As azeitonas não deviam
ser moídas sem que o concelho dissesse qual a quantidade a moer, para evitar o
desperdício da azeitona.
No caso dos lagares de azeite o concelho adquire uma posição conciliadora entre
os produtores da azeitona e os donos dos lagares. Uma vez mais a preocupação
é o cumprimento da ordem de forma justa, para ambos os intervenientes neste
negócio do azeite, vital para o consumo da vila.
32
Ibidem, actas de 20 de Novembro de 1402, p. 107 e de 28 de Outubro de 1487, pp. 237-241.
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A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
Tanto que quando algum mester não abastece a vila com os bens essenciais é
punido, como no caso dos carniceiros que quase foram expulsos de Loulé ou
daqueles que chegaram mesmo a ser presos33.
33
Ibidem, acta sem data, p. 68 e acta de 28 de Junho de 1402, pp. 90-91.
12
A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
Através das actas de vereação de Loulé dos séculos XIV e XV, podemos conhecer
os alimentos que constituíam a dieta alimentar de então.
Ao que tudo indica, já em tempos medievais, a carne era muito apreciada e por
isso mesmo muito consumida, e estaria maioritariamente presente nas mesas
mais abastadas40.
34
Estudado por Maria José AZEVEDO, “O Mais Antigo Livro de Cozinha Português ”, in: A Alimentação em
Portugal na Idade Média, INATEL, Coimbra, 1997, pp. 35-66.
35
Para Santarém o estudo de Maria Ângela BEIRANTE, “A Alimentação”, Santarém Quinhentista, pp. 247-252.
36
Maria José AZEVEDO, ob. cit., “O Peixe e a Fruta na Alimentação da Corte de D. Afonso V”, pp. 1-33 e ainda
Iria GONÇALVES, “Acerca da Alimentação Medieval”, in: Imagens do Mundo Medieval, Livros Horizonte, Lisboa,
pp. 201-217.
37
Maria Helena da cruz COELHO, “Apontamentos Sobre a Comida e Bebida do Campesinato Coimbrão em
Tempos Medievos”, in: Homens, Espaços e Poderes, Séculos XI – XVI – I – Notas do Viver Social, Livro
Horizonte, Lisboa, pp. 9-22.
38
CMLLE / A / 001 / LV001.
39
O Foral Novo torna-se quase num foral de portagem, havendo a preocupação de contemplar todos os produtos
que entravam e saíam da vila. Sobre o assunto veja-se: Maria Ângela BEIRANTE, Introdução à Edição
Facsimilada do Foral Manuelino de Évora, Câmara Municipal de Évora, Imprensa Nacional Casa da Moeda,
Évora, 2001, pp.11-40.
40
Maria Ângela BEIRANTE, ob. cit., p. 247 e Iria GONÇALVES, ob. cit., p. 203.
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A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
Não podemos esquecer que os animais não fornecem somente a carne, isto do
ponto de vista alimentar. A manteiga, o queijo e a banha, faziam, igualmente,
parte do quotidiano alimentar dos homens medievais41. Os ovos, embora não
sendo carne de talho, são mencionados no regimento régio junto das carnes de
talho, tal era a estreita relação entre os animais e os seus derivados.
41
Sobre o assunto veja-se: Maria Ângela BEIRANTE, ob. cit., e Maria José AZEVEDO, ob. cit..
42
Vide A. H. Oliveira MARQUES, A Sociedade Medieval Portuguesa – Aspectos da Vida Quotidiana, “A Mesa”,
5.ª Edição, Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa, 1987, pp. 9-10.
43
Actas de Vereação de Loulé, ob. cit., acta de 1468, pp. 199-200.
44
A. H. Oliveira MARQUES, ob. cit., p.11.
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A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
Na carta de foral do século XIII, o rei retêm para si: “a horta que costumava
deter D. Martim Gil”48, que passou a designar-se de Horta d’El Rei; bem como o
figueiral que pertencera a Domingos Rodrigues. A detenção destas propriedades
por parte do rei mostra o papel fundamental dos legumes, hortaliças e frutas, em
particular do figo, quer no abastecimento e economia locais, quer no que
respeita à exportação.
Tal como acontecia com o pescado, os legumes e hortaliças não eram muito
apreciados pelas camadas sociais mais ricas, no entanto, na mesa dos menos
favorecidos estes produtos eram muito consumidos e constituíam um
complemento alimentar importante49.
45
Isilda Maria Pires MARTINS, ob. cit., p. 31.
46
Idem, ibidem, p. 32.
47
A. H. Oliveira MARQUES, ob. cit., p. 10 e Maria José AZEVEDO, ob. cit., “O Peixe e a Fruta na Alimentação da
Corte de D. Afonso V”, p. 6.
48
Isilda Maria Pires MARTINS, ob. cit., p. 33.
49
Maria Helena da Cruz COELHO, ob. cit., p.12.
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A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
Na confecção dos doces medievais o mel era de uso generalizado, e mais barato
que o açúcar55. O mel era um produto que existia em Loulé, pois encontramos
várias referências, tanto nas actas, como no Foral de 1504.
A produção da vinha, como ficou dito atrás, surge inúmeras vezes referida nas
actas de vereação, sendo as vinhas a espécie mais protegida no concelho de
Loulé durante o período em estudo56.
50
Actas de Vereação de Loulé, acta de 10 de Agosto de 1394, pp. 58-60.
51
Actas de Vereação de Loulé, acta de 8 de Junho de 1408, pp. 196-197.
52
Vide: Manuela Santos SILVA, “Para o Estudo da Produção Frutícola do Concelho de Loulé”, in: Actas das III
Jornadas de História Medieval do Algarve e Andaluzia, Câmara Municipal de Loulé, 1989, pp. 255-264.
53
Iria GONÇALVES, ob. cit., p. 207.
54
CMLLE / A / 001 / LV001.
55
Sobre a utilização do açúcar na doçaria portuguesa, vide: Maria Ângela BEIRANTE, ob. cit., p. 252.
56
Maria Ângela BEIRANTE, “art. cit.”, pp. 231 – 242.
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A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
Lado a lado com o vinho, encontramos, para a época medieval, o pão! O pão é
um dos alimentos base da alimentação medieva.
Devido à falta de cereal, “pão” não era sinónimo de pão de trigo. O pão dos ricos
era alvo, feito de trigo, o cereal nobre; enquanto que o pão dos pobres era
escuro, de mistura, por vezes até com mistura de três cereais: centeio, milho-
miúdo e cevada. Era um pão de segunda. O pão de trigo para os mais
desfavorecidos era apenas consumido em dia de festa!
A base da dieta alimentar medieval é constituída pelo pão e pelo vinho. O pão é
sem dúvida alguma, presença obrigatória, quer na mesa dos ricos, quer na dos
pobres, com as respectivas diferenças. De facto, o enorme cultivo que se faz de
cereal por todo o país, inclusivamente em zonas onde os solos não se mostram
férteis para tal cultura e a necessidade de importar pão do estrangeiro, só se
justifica devido ao seu enorme consumo, consumo esse associado ao consumo
de vinho.
Para além destes dois elementos básicos a nível da alimentação na Idade Média,
vimos ainda que a carne, principalmente no que respeita aos gostos dos mais
abastados, era muito apreciada, com destaque para a carne de carneiro.
Por outro lado o povo, tentava complementar a sua pobre dieta alimentar com
pescado, legumes e fruta fresca. Esses legumes e frutos eram provenientes de
pequenas hortas situadas nos próprios quintais, denunciando deste modo a
existência de uma produção de auto-suficiência, que por vezes podia ser
excedentária e por isso vendida no mercado da vila, ou ser mesmo exportada
servindo, também, como um complemento económico e não apenas alimentar.
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A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
A herança árabe, como é sabido, reflecte-se nos mais diversos campos; reflecte-
se de igual modo na alimentação.
Uma herança directa da cozinha árabe são as almôndegas, como Maria Ângela
Beirante evidência no seu estudo sobre Santarém Quinhentista59.
57
Sobre este assunto: História da Alimentação – Dos Primórdios à Idade Média, Dir. de Jean – Louis Flandrin e
Massimo Montanari, XX Capítulo, Bernard ROSENBERGER, “A Cozinha Árabe e o Seu Contributo para a
Cozinha Europeia ”, Terramar, Lisboa, 1998, pp. 305 – 323.
58
Maria José AZEVEDO, “O Mais Antigo Livro de Cozinha Português ”, ob. cit., pp. 35-66.
59
Maria Ângela BEIRANTE, ob. cit., p. 251.
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A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
Os figos são igualmente apreciados, tanto por cristãos como por muçulmanos.
Aliás as uvas e os figos eram os únicos frutos considerados bons para a
alimentação. Geralmente os demais frutos eram cozinhados, serviam de
acompanhamento aos pratos de carne ou podiam ser transformados em
deliciosas geleias e xaropes.
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A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
Ao lado do azeite surge a manteiga, que era muito utilizada na cozinha árabe.
Para adubar usava-se uma manteiga de conserva, fundida e clarificada. A
manteiga fresca era comida no pão.
60
In: História da Alimentação – Dos Primórdios à Idade Média, “art. cit.”, p. 318.
61
Vários destes ingredientes são, também, grandemente utilizados no século XVI pelas freiras de St.ª Clara de
Santarém, na confecção de doces.
62
História da Alimentação – Dos Primórdios à Idade Média, “art. cit.”, p 321.
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A Alimentação no Concelho de Loulé nos séculos XIV e XV
Não podemos, negar a introdução de novos produtos, pelos mouros, que criaram
deste modo novos gostos, novas tendências, como a utilização de especiarias, o
açúcar63 e de algumas espécies de legumes e frutos.
Até ao século XV foram os muçulmanos a ditar o gosto pelo doce e pelo picante,
mas com a chegada, ao, que os europeus de então baptizaram de, Novo Mundo,
houve uma alteração do gosto, consequência da busca pelo exótico e
desconhecido e com a introdução de novos produtos – milho, tomate, pimento,
batata – doce... – enfim todo um novo mundo de sabores a descobrir!
Após esta nossa viagem por entre os paladares de Loulé medieval, sem esquecer
os condimentos deixados pelos árabes no nosso património culinário, resta-nos
deixar o mote para a continuação da investigação e de trabalhos de divulgação
neste campo da alimentação, campo este fundamental para a História, pois a
alimentação é parte integral da condição humana e também ela sofreu uma
evolução, acompanhando o percurso do próprio homem.
63
Note-se que a utilização de especiarias e do açúcar, em contexto medieval, é limitado, devido ao elevado
custo destes produtos. Com a expansão marítima o consumo de especiarias e de açúcar difundiu-se um pouco
por todo o Velho Continente.
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Bibliografia
Fontes
Estudos
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