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ECA, Protagonismo e Trabalho em Rede

Carlos Alberto da Silva1

1. O que é uma rede


2. O que será que o ECA nos tem a ensinar?
3. O que os adolescentes têm a ver com isso?
4. A Rede de Jovens Ativistas, um bom exemplo
5. A Rede do Brasil

O que é uma rede?

No minidicionário Melhoramentos, encontramos as seguintes definições:


"Conjuntos de cabos telefônicos ou elétricos de uma cidade; a canalização de
canos de água, esgotos, gás, etc; o conjunto de estabelecimentos, agências
para atender o público" . Veremos no decorrer deste texto, que já está na hora
de adicionar mais um conceito de rede nos dicionários.

Vivemos em um mundo conectado onde a distância é um mero detalhe. As


noticias correm de um lado para o outro em frações de segundos. Fatos
políticos, econômicos, sociais e culturais que acontecem no Oriente chegam no
Ocidente quase em tempo real. Podemos afirmar que o mundo inteiro está
ligado entre si, formando uma enorme rede com diversos interesses. Nesse
sentido, não podemos agir, lutar e sonhar por uma sociedade mais justa e
igualitária isoladamente, em nossos grupos, entidades ou movimentos.

O que será que o ECA tem a nos ensinar?

"A política de atendimento dos direitos das crianças e dos adolescentes far-se-
á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não
governamentais, da União, dos Estados, do Distrito federal e dos municípios".

1Carlos Alberto da Silva é mobilizador nacional da Rede de Jovens Ativistas e membro do


Fórum Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente do município de São Paulo
(Art. 86 do Estatuto da Criança e do Adolescente)

A idéia de ações articuladas que o Estatuto da Criança e do Adolescente


indica, precisa ser mais bem compreendida para que, de fato, o ECA possa ser
implementado. Vamos imaginar como deveriam ser o atendimento, as políticas
e as ações para crianças e adolescentes, se o ECA já estivesse em sua
totalidade, implementado.

A política sobre educação voltada para criança e adolescente leva em conta a


política de saúde que por sua vez deve estar antenada com as políticas de
cultura, esporte e lazer. Assim temos a chamada rede universal funcionado,
pois as políticas de atendimento básico estão integradas e assim as ações
surtem efeitos satisfatórios. É exatamente o contrário do que acontece hoje, o
que temos, em sua grande maioria, são políticas isoladas. Se a política de
Educação estivesse articulada com as demais políticas, ficaria muito mais fácil
resolver conflitos no ambiente escolar como com aquele aluno "problema". Se
este aluno mora na periferia, se onde ele vive não tem saneamento básico, se
ele não tem nem como comprovar endereço, se por diversos fatores ele perdeu
a auto-estima e se também, (só por um pequeno descuido do poder público)
ele não tem espaço para cultura, esporte e lazer, como elaborar políticas
isoladas para a educação se não resolvermos ao mesmo tempo, todos estes
problemas que o nosso aluno "problema" enfrenta em sua vida, afetando
diretamente o desempenho escolar?

Um exemplo de trabalho articulado é o Núcleo de Atendimento Integrado, na


Cidade de São Carlos - SP. Em três anos de existência, houve queda de 70%
nas ocorrências de roubo, os homicídios praticados por adolescentes caíram
de 15 para 2, no ano passado, dos 1200 atendidos pelo núcleo, apenas 2 se
encontram em regime de privação de liberdade contra uma média de 40, nas
cidades do mesmo porte. O índice de reincidência nos crimes é de 3,5%, a
média estadual para o regime de internação é de 33%. Este núcleo é uma
parceria do governo estadual, prefeitura, ministério público, sociedade civil e
juizado da infância e juventude. Como observamos, um dos motivos de não
haver a implementação do ECA na integra, é por não ocorrerem mais práticas
do conceito de ações articuladas, ou seja, a criação de uma ampla rede pelos
direitos das crianças e dos adolescentes.

O que os jovens e os adolescentes têm a ver com isso?

De acordo com o ECA, criança e adolescente são sujeitos de direitos. O artº16


do ECA diz que toda criança e adolescente tem, entre outros, o direito de
conviver em família, participar da vida em comunidade, brincar, praticar
esportes e participar da vida política. Logo, é direito de todos os adolescentes e
jovens enquanto cidadãos e cidadãs participarem da vida política, discutindo e
participando de definições dos modelos de atendimento aos seus direitos. E, é
dever do Estado, da família e da sociedade propiciar espaços para escuta,
expressão e aprendizado. E então, só assim o jovem e o adolescente poderão
desenvolver-se, agregar valores e atuar em prol de uma coletividade,
assumindo o seu papel de protagonista juvenil.

Protagonismo Juvenil é um conceito que ganhou força depois do surgimento do


ECA, pois o jovem e o adolescente deixaram de ser espectadores e passaram
a ser construtores dos fatos e acontecimentos relacionados às suas vidas.
Mas, dar ao jovem e ao adolescente o direito de ser protagonista, não significa
isentar o adulto de suas obrigações, isto porque o primeiro depende do
segundo para desempenhar seu papel de protagonista.

Na raiz do protagonismo tem que haver uma opção livre do jovem, pois ele tem
que participar da decisão. O jovem tem que participar do planejamento da
ação, depois, participar na execução, na sua avaliação e na apropriação dos
resultados. Existem dois padrões de protagonismo Juvenil: quando as
pessoas do mundo adulto fazem junto com os jovens e quando os jovens
fazem de maneira autônoma .

A maioria dos jovens e dos adolescentes tem desejos, sonhos e buscam


respostas, para diversas indagações, algumas relacionadas à própria fase da
vida em que estão. É o momento da primeira paixão, da primeira transa, enfim,
de estar se descobrindo e também de descobrir o mundo. Mas, muitas
respostas, eles acabam não encontrando nos espaços que deveriam, porque a
escola, a família e a sociedade não estão preparadas para responde-las.

Todo jovem traz intrinsecamente vontade de querer construir, fazer, realizar e


de ser protagonista, cabendo aos adultos propiciar espaços e oportunidades
para que o jovem ponha para fora todo seu potencial. O jovem pode ser
protagonista na escola, na associação de moradores, no jogo de futebol, nas
plenárias do Orçamento Participativo ou até mesmo na FEBEM. Isto mesmo,
na FEBEM! Pois, aquele jovem que lidera uma rebelião também está
exercendo seu direito ao protagonismo juvenil, por isso é importantíssimo que a
sociedade entenda que implementando o ECA, ela estará diminuindo as
possibilidades do jovem exercer o protagonismo juvenil de uma forma negativa.
A Rede de Jovens Ativistas, um bom exemplo

A Rede de jovens Ativistas é um movimento que originou -se de um projeto de


pesquisas na área de tecnologia, coordenado pelos pesquisadores Mitchel
Resnick e Leo Burd do Liefelong Kindergadem-Media Lab do Instituto
Massachussets de Tecnologia em Boston - EUA. Hoje, a rede está presente
em 7 países: México, Índia, EUA, Filipinas, Colômbia, Costa Rica e Brasil. O
objetivo da rede, em todos esses países, é criar e disponibilizar estruturas de
suporte necessárias para promover mudanças e o desenvolvimento social, em
uma determinada comunidade através de ações do protagonismo juvenil.

A Rede do Brasil

Mesmo a Rede de Jovens Ativistas tendo um objetivo central, cada país tem
autonomia para traçar e criar novos objetivos que vão de acordo com suas
necessidades. No Brasil, a rede começou a existir em 2002, através de
pesquisas de campo para saber como atuar no país.

A partir de 2003, a Rede começou a construiu parcerias e a elaborar propostas,


como a criação do Centro de Inclusão Digital , no Jardim Antártica, que
contou com Intel e com o Grupo Juventude Ativa que é da região. A Rede
também consolidou um elo com a Prefeitura de Porto Alegre/RS para a
elaboração de palestras e cursos sobre o protagonismo juvenil e o ECA. E
neste ano, além da inauguração do Centro de Inclusão Digital , começou um
dialogo com o grupo Fala Preta para elaborar propostas de inserção e
parceria.

A Rede, aqui no Brasil está sendo tecida não com o intuito de criar novos
grupos de protagonismo juvenil, e sim de trabalhar com os já existentes. Os
objetivos da rede do Brasil são:

• Fortalecer os grupos de protagonismo juvenil;


• Fomentar a criação de novos grupos;
• Fazer com que os diversos grupos existentes possam saber que não
estão sozinhos, comunicando-se e trocando experiências
independentemente da área de atuação de cada um.

Nós, da Rede de Jovens Ativistas do Brasil, estamos sempre a procura de


jovens protagonistas que nos ajudem a transformar esta sociedade mais justa e
igualitária. Estamos também, a procura de parcerias com todos os segmentos
da sociedade que acreditam que os jovens possam estar à frente dessa
mudança.

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