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O Ballet Clássico

- História do ballet no mundo

A dança clássica surgiu a partir da evolução da dança primitiva, da


organização do movimento, dos passos de ligação e das figuras elaboradas
previamente. O ballet clássico nasceu no século XVI, nas cortes medievais
européias e se firmou na Itália Renascentista, chegando à França onde mais se
desenvolveu. Pode-se dizer que Catarina de Médicis quem introduziu
definitivamente o bailado em seu País. [7,10]

O primeiro ballet coreografado estreou em 15 de outubro de 1581,


chamava-se Ballet Comique de la Reine. Em 1661 Luís XIV funda a Real
Academia de Dança, no século seguinte foi fundada a escola Francesa que mais
tarde deu origem à escola Russa. [7]

Durante a prática do ballet a articulação do quadril se encontra sempre em


rotação lateral fazendo com que os joelhos e as pontas dos pés fiquem voltados
para fora e, essa rotação lateral em francês, idioma mundial do ballet, é expressa
como “en dehors”. Essa mudança biomecânica da dança ocorreu no século XVII
quando o ballet começou a ser apresentado em palcos elevados, com a platéia à
frente dos bailarinos, diferente dos espaços cênico anteriores que eram em forma
de arena, surge então a necessidade de que os bailarinos estivessem sempre de
frente ao público, pois era uma ofensa dar as costas ou mesmo ficar de lado para
a platéia.[9]

- História do ballet no Brasil

No Brasil, a primeira apresentação do ballet clássico foi realizada no Real


Teatro de São João, no Rio de Janeiro, em 1813, um espetáculo dirigido por
Lacombe, mas, só um século depois, com as apresentações das companhias
russas de Diaghilev e de Pavlova, também no Rio de Janeiro, já no Teatro
Municipal, o ballet brasileiro deslanchou definitivamente. Criou-se em 1927 a
Escola de Dança do Teatro Municipal.
- Níveis de Aprendizado:

ƒ Nível 1 Æ Básico (principiantes) Æ aulas 1-2 vezes por semana, baixo


impacto, sapatilhas sem pontas, posições básicas dos pés e braços,
controle do tronco e início dos giros. Aprendizagem de combinações. As
lesões mais freqüentes se associam com os giros de quadril, joelhos e
tornozelos.

ƒ Nível 2 Æ Intermediário: aulas 3-5 vezes por semana, para as meninas


início das pontas, maior complexidade dos saltos. Atitudes mais avançadas
e posições de equilíbrio. Aumenta a freqüência das aulas e podem incluir
cursos de férias com professores não familiares, com cargas horárias
maiores. Deve-se ter o cuidado ao incrementar excessivamente as rotações
laterais e a flexibilidade para o nível do estudante.

ƒ Nível 3 Æ Avançado: mais trabalho de pontas; exercício de barra e centro


que fortalecem os membros inferiores que preparam para o trabalho mais
complexo de pontas. Os dois primeiros metatarsianos suportam a maior
parte do peso corporal nas pontas o que causa sua remodelação e podem
fraturar-se durante o treinamento ou durante a carreira profissional. essa
fase tem início as danças de par (pas de deux), podem ocorrer lesões com
levantamentos não adequados. Iniciam-se grandes saltos e manobras
complexas.[16]

- Fundamentos básicos:
Movimentos de grande amplitude de membros inferiores, giros em torno do
seu eixo e também fora dele, saltos verticais e com deslocamento anterior, lateral
e posterior, aterrisagens bipodais e monopodais e muitas vezes passos que
englobam todos esses movimentos.[16]

- Biomecânica dos principais fundamentos:


No ballet clássico a bailarina sempre se apresentará em rotação lateral de
quadril, desde as 5 posições básicas do ballet, que exigem uma importante
rotação lateral dos membros inferiores, onde o ideal é uma rotação lateral de 90º,
até durante as tarefas mais complexas, sobre apoio unipodal, saltos e
aterrissagens. [9]

As cinco posições básicas dos pés no ballet clássico exigem uma máxima
rotação lateral dos membros inferiores, esse fato auxilia na execução de
movimentos graciosos e estéticos dos bailarinos. Infelizmente também colocam
tensões significantes nas articulações do pé e do tornozelo. [5,15]

As lesões no ballet:

Os diferentes tipos de lesões podem guardar relação importante com o nível de


aprendizado em que o bailarino se encontra.[3]
Podemos encontrar 2 diferentes grupos de lesões entre os praticantes de
ballet, as lesões agudas como um entorse, queda, choque com outro bailarino e
etc e as lesões crônicas geralmente causadas por má técnica ou overuse.

Entre os fatores de risco de lesões estão:


- inicio precoce da atividade Anthony e Margherita (1994)
- baixo peso Barbosa et al (1987)
- chão inadequado Anthony e Margherita (1994) e Hall (1991)
- falha do equipamento Bertoni (1992)
- Erro de técnica Matus Jiménez e Pérez Domíngues (1999)
- Treino excessivo Barradas et al (1993)
- Mal condicionamento Ramos et al (1995)

Incidência de Lesões:

Em um estudo realizado em São Paulo, com 33 bailarinos sendo 30


mulheres e 3 homens com idades de 12 a 29 anos (M=18,36) encontramos:
Articulações: Tornozelo (75%), Joelho (63%) e Pé (51%)
Grupos Musculares: Virilha (54%), posterior de coxa (45%) e panturrilha (30%)
Lesões mais comuns: Entorse de tornozelo (66%), Distensão virilha (48%) e
Tendinites (39%).[16]

O membro inferior tem a função de locomoção e sustentação de peso, é


formado pelo osso do quadril, fêmur, tíbia, fíbula e ossos do tarso. As articulações
são quadril, joelho, tornozelo e intertársicas.[8]

A lesão que comumente acomete o quadril dos bailarinos é o estiramento


ou distensão dos adutores do quadril, causado por não aquecimento adequado
das estruturas e/ ou alongamento excessivo em exercícios para aumentar a
amplitude de movimento. Outra possibilidade é a bursite subtroncantérica causada
pela flexibilidade inadequada ou assimetria da faixa iliotibial ou tensor da fascia
lata, o sinal clínico é dor lateral do quadril. Ainda no quadril pode ocorrer tendinite
por sobrecarga do rotador ou dos adutores, pinçamento de iliopsoas e irritação do
piriforme. Quando se avalia uma patologia no quadril é importante avaliar toda a
coluna lombar, pois mobilidade limitada no quadril resulta em aumento da tensão
da coluna e vice-versa.[1,4]
A coluna lombar é freqüentemente solicitada em extensão, esse movimento
é de extrema força e causa grande tensão nos ossos, ligamentos e estruturas
musculares da parte posterior. Falta de mobilidade, força ou resistência pode
resultar em dano significante. [1]

Os bailarinos possuem uma alta incidência de lesões no joelho, porém a


natureza e o tipo dessas lesões se diferem daquelas sofridas por atletas de outras
atividades esportivas. No caso do ballet clássico os fatores que causam lesões
são as forças aplicadas no joelho quando o quadril está em rotação lateral.[1]

A hipermobilidade do joelho, traduzida em hiperextensão, pode causar genu


recurvatum e uma perda da estabilidade do joelho. Dessa forma, o bailarino que
não possui um “en dehors” ou rotação lateral do quadril eficiente, pode compensar
girando o joelho para alcançar a direção do pé, que também estará rodado
lateralmente. Isso altera a cadeia cinética aplicando maiores tensões ao ligamento
colateral medial, causando dores mediais nesta articulação. [1,6, 16]

O bailarino deve ser orientado a respeitar o limite da rotação externa do


quadril, o pé e o joelho devem estar na mesma posição. Se o pé estiver mais
rodado lateralmente que o joelho e o quadril, ao realizar movimentos de dobrar os
joelhos, chamado “plie” na nomenclatura do ballet clássico, o bailarino causará um
movimento torcional na articulação gerando maior tensão do ligamento colateral
medial. [6]

As lesões de ligamento cruzado anterior e meniscos são raras, as lesões


mais freqüentes são patelofemorais e do ligamento colateral medial. As síndromes
patelofemorais ocorrem pela desaceleração rápida do movimento e
freqüentemente os bailarinos descrevem a dor quando pousam de um salto ou em
progressiva flexão de joelho. Nesses bailarinos encontra-se o músculo vasto
medial enfraquecido e fadigável.[1]
A posição de meia ponta deixa a musculatura intrínseca do pé e o tornozelo
em uma situação muito instável e requer o máximo do suporte dos ligamentos.
Esses podem estar lesados de acordo com o grau de entorse ocorrido. Adotamos
a seguinte classificação: [1]
ƒ Grau 1: lesão parcial do talofibular anterior
ƒ Grau 2: lesão completa do talofibular anterior
ƒ Grau 3: lesão completa do talofibular anterior e calcâneo fibular.

No entorse de grau 3 é indicado a intervenção cirúrgica para o reparo dos


ligamentos. Alguns autores sugerem que esse procedimento pode aumentar o
risco do bailarino vir a desenvolver uma instabilidade crônica do tornozelo.
Outros já relatam que muitos danos podem ter a estabilidade recuperada e
recomendam imobilização antes do reparo cirúrgico. [1]

As lesões ligamentares, principalmente do tornozelo e do joelho, são


freqüentes em bailarinos, e o tratamento depende do grau de severidade da lesão.
Do ponto de vista da reabilitação, o mais importante é o fortalecimento muscular,
já que a musculatura deve assumir parte da função estabilizadora que foi perdida
pelo ligamento. [4]

As lesões do pé e tornozelo mais comuns nos bailarinos são as lesões


ligamentares decorrentes de entorses, as tendinites de calcâneo e do flexor longo
do halux, fasceíte plantar, ruptura do tendão calcâneo, subluxação do cubóide e
fraturas do 5º metatarso, da fíbula, do maléolo lateral ou do maléolo medial. [1]

Os pés dos bailarinos têm tendência de possuir uma estrutura do normal ao


cavo. Essa estrutura é funcional para os movimentos exigidos pela dança.[13].
Entre os praticantes de dança, o pé e o tornozelo são os locais mais comuns de
lesões agudas e crônicas.[11]
Existem muitas lesões as quais os bailarinos estão predispostos e, por sua
vez, essas lesões podem determinar o fim da carreira de um bailarino. As lesões
podem ser classificadas de modo geral como lesão por abuso, overuse (ou uso
excessivo) e desuso. Os traumas podem ser agudos ou crônicos, os agudos
atingem principalmente as cartilagens, ligamentos e estruturas ósseas, já os
crônicos envolvem principalmente a unidade musculotendínea.[1]

Por ser o ballet uma disciplina artística de altas exigências físicas e


mentais, os profissionais da área de saúde envolvidos nos cuidados com estes
atletas, tem o dever de estarem familiarizados com as diferentes técnicas de
treinamento e considerar a importância da prevenção de lesões. [3]

“O ballet não é esporte, no entanto, os bailarinos podem ser


considerados atletas que utilizam seus corpos como instrumento para
construir uma obra de arte. Devem ser condicionados, treinados e
reabilitados como tais, respeitando evidentemente as particularidades que
sua atividade lhes atribui”. [16]

O ballet clássico é o envolvimento no mundo artístico através de uma


prática complexa e extremamente técnica que exige do seu praticante um
desempenho de atleta.[12]

- Como eu trato?

É preciso desenvolver um trabalho preventivo específico para estes


profissionais, já que a atividade física por eles realizada possui tantas
particularidades. Devemos, portanto tratar os bailarinos como atletas que devem
ser condicionados fisicamente, orientados e treinados como praticantes de uma
disciplina artística que exige condições físicas e mentais adequadas.[16]
No caso de uma lesão instalada: respeitar o tempo fisiológico da reparação
da lesão, pode-se usar eletroterapia, termoterapia, cinesioterapia, exercícios
neuromusculares, ou de propriocepção. Daí a importância do conhecimento dos
movimentos do ballet, pois a reabilitação deve ser direcionada para a exigência
física da dança.

No tratamento do entorse de tornozelo, não podemos esquecer de treinar o


equilíbrio unipodal em rotação externa, porque esse é o apoio básico dos
bailarinos. Devemos também dar ênfase no fortalecimento da musculatura
intrínseca dos pés, treinar saltos verticais e com deslocamento assim como o uso
de sapatilhas é muito importante para a propriocepção do membro acometido.

No tratamento de lesões ligamentares do joelho, o prazo de reabilitação é o


mesmo comparado com outros esportes, ou seja 6 meses para reconstrução de
ligamento cruzado anterior (mais comum) e 8 meses para reconstrução de
ligamento cruzado posterior (menos comum), nos casos de realinhamento patelar,
o tempo pode vaiar de 4 a 6 meses.
Fabiana Wosniak

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Anthony J, Margherita MD. Issues in gymnasts and dancers. In:


Buschbacher RM, Braddon Rl. Sports Medicine and Rehabilitation: A Spor
Specific Approach. Philadelphia: Hanley & Belfus; 1994. p.151-67.

2. Barbosa WS, Bicalho DS, Costa BRM, Silva HMS, Lopes GP, Marinho RM,
Silva MMS. Distúrbios Menstruais em bailarinas e jogadoras de vôlei. J Bras
Ginecol. 1987; 97(11-12): 623-627.

3. Barradas I, Parada L, Nuñez L, Paz-Castillo M. Lesiones por la danza en niños.


Salus Militiae, 1993; 18: 34- 37.
4. Battistella LM. Rehabititacion en ballet. Centro Médico. 1984; 23(79): 231-235.

5. Bertoni IG. A dança e a Evolução. O ballet e seu contexto teórico.


Programação didática. São Paulo: Tanz do Brasil; 1992.

6. Bordier G. Anatomie appliquée à la danse. Le corps humain, instrument de la


danse.Paris: Amphora; 1985.

7. Chaves Jr EB. Os mais famosos Ballets. Rio de Janeiro: Tecnoprint; 1988.

8. Dângelo JG, Fattini CA. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 2a ed. São
Paulo: Atheneu.; 1997.

9. Góis EJA, Cunha LA, Klassen R. Influência da prática do ballet nas rotações
dos quadris. Revista Brasileira de Ortopedia. 1998; 33(1): 20-24.

10. Guimarães ACA, Simas JPN. Lesões no Ballet Clássico. Rev Educ Fís. 2001,
12(2): 89-96.

11. Hall S. Biomecânica Básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1991.

12. Lima, L. Dança como atividade básica: perspectiva para uma nova era. Rev
Bras Med Sports. 1995,1(3): 94-96.

13. Matus Jiménez J, Pérez Domínguez I. Adaptaciones en el apoyo del pie en


niñas que pratican danza. Revista Mexicana de Ortopedia e Traumatologia.
1999; 13(1): 77-81.
14. Ramos RS, Lopes ES, Leonel L, Rocha R, Matsushigue RA, Gobatto CA.
Treinamento aeróbio em bailarinas: influência sobre a realização de
coreografia de 4 e 8 minutos de duração. Rev paul Educ Fís. 1995; 9(1): 26-36.

15. Sampaio F. Ballet essencial. Rio de Janeiro: Sprint; 1996.

16. Wosniak F. Lesões em praticantes de ballet clássico. São Paulo, 2001.

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