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CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

humanos produzem sua existência, neste


CONHECIMENTOS fim de século, ainda sob a égide de uma
GERAIS E sociedade classista, vale dizer, estruturada
na extração combinada de mais-valia
PEDAGÓGICOS absoluta, -relativa e extra. As escolhas
teóricas, neste sentido, não são nem
ENSINO MÉDIO neutras e nem arbitrárias - tenhamos ou
não consciência disto. Em nenhum plano,
RELAÇÕES ENTRE mormente o ético, se Justifica teorizar por
teorizar ou pesquisar por diletantismo. E
TRABALHO E isto, é bom frisar, não é a mesma coisa do
EDUCAÇÃO que assumirmos uma perspectiva
pragmática, imediatista e produtivista.
Preferimos então, desde já, situar-nos na
perspectiva que reafirma o materialismo
EDUCAÇÃO CRISE DO TRABALHO histórico, no horizonte posto por Marx,
ASSALARIADO E como uma concepção ontológica e de
DO DESENVOLVIMENTO: TEORIAS realidade, método de análise e práxis.
EM CONFLITO Nela, não faz sentido a teoria pela teoria ou
a teoria como mera explicação da
realidade. Trata-se de refletir sobre a
Gaudêncio Frigotto realidade para modificá-la.
Ao anunciar esta opção é importante
Somos conformistas de algum sublinhar dois aspectos importantes para
conformismo, somos sempre evitar, in. limine, a interpretação que
homens- massa ou homens-coletivos. (-) O estejamos nos alinhando a uma
problema é o seguinte: qual é o tipo perspectiva dogmática ou doutrinária. O
histórico de conformismo e de homem- primeiro aspecto é o reconhecimento de
massa do qual fazemos parte? (A. que o marxismo enquanto concepção
Gramsci) epistemológica e, também, como
orientação ético-política, está efetivamente
Nas últimas décadas, em diferentes em crise e que, portanto, há necessidade
momentos, foram efetivados balanços de não apenas reconhecer a superação de
importantes, tanto no plano da construção algumas análises datadas de Marx e
teórica, quanto nos recortes temáticos, das Engels, mas de historicizar o núcleo
análises e pesquisas sobre a relação fundamental de sua teoria (Hobsbawm,
trabalho-educação (Kuenzer, 1987; Frigotto 1997; Konder, 1992, 1996).
(org.) 1987; Arroyo, 1991; Nosella, 1993; Neste desafio de compreensão histórica,
Trein, 1996). Trata-se de análises que, em como assinala o mais importante intelectual
seu núcleo central, permanecem válidas. marxista deste século, Antônio Gramsci,
Não faz sentido, por isso mesmo, deve-se levar em conta as formulações
retomá-las aqui em todos os seus matizes. mais avançadas das abordagens
Neste texto, pretendemos assinalar duas conflitantes ou antagônicas e, até mesmo,
ordens de questões que, embora incorporá-las de forma subordinada. O
profundamente articuladas, se apresentam segundo aspecto decorre do primeiro.
em níveis distintos. A primeira busca situar, Reconhecer a crise do marxismo não
ainda que de forma breve e esquemática, significa endossar as teses de seu fim e da
os desafios teórico-metodológicos da necessidade de substituí-lo por outros
relação trabalho-educação no contexto da paradigmas, dentro da perspectiva
crise dos paradigmas das ciências sociais. khuniana ou, mais enfaticamente, pelas
Desta primeira ordem de questões deriva a teses pós-modernas ou pós-estruturalistas
segunda - a forma mediante a qual (muito em voga no campo educativo hoje)
construímos nossas análises específicas sobre a ciência. Ao contrário, significa
do papel da educação e da formação reafirmar sua pertinência e necessidade
técnico-profissional na produção social da histórica. Trata-se aqui de escutar o
existência humana. octogenário intelectual Norberto Bobbio
(1993), que ao fazer a introdução da
Trata-se de entender a formação Revista Italiana - Teoria Política -, dedicada
humana no contexto da reestruturação à discussão do marxismo, conclama-nos
produtiva, e globalização excludente, da como o título: Invito a rileggere Marx!
dramática crise estrutural do trabalho
assalariado que produz esterilização de
vidas numa "existência provisória sem Se você realmente lê o manifesto
prazo" (Frankel, 1945) e, portanto, das comunista de 1848, ficará surpreso com o
novas formas de alienação do trabalho. Por fato de que o mundo, hoje, é muito mais
outro lado, de entendê-la, também, dentro parecido do que aquele que Marx predisse
dos limites ambientais e políticos do em 1848. A idéia do poder capitalista
desenvolvimento industrial do tipo fordista e dominando o mundo inteiro, como também
pós-fordista e das relações assimétricas de uma sociedade burguesa destruindo todos
poder existentes hoje a nível global. os velhos valores tradicionais, parece ser
Um pressuposto fundamental, quando muito miais válida hoje do que quando
nos propomos ao debate teórico, Marx morreu (Hobsbawm, 1997: 2).
entendemos deva ser que as nossas
escolhas teóricas não se justificam nelas 1. OS ENFOQUES DO CONFLITO, DA
mesmas. Por traz das disputas teóricas que AÇÃO COMUNICATIVA E DA
se travam no espaço acadêmico, situa-se PÓS-MODERNIDADE
um embate mais fundamental, de caráter
ético-político, que diz respeito ao papel da As abordagens teóricas com as quais
teoria na compreensão e transformação do operamos apóiam-se, em última análise,
modo social mediante o qual os seres em concepções epistemológicas da
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realidade e, mais amplamente, em Enquanto mediação de primeira ordem


determinadas visões de mundo. Estas "o trabalho, na sua essência e
visões não são alheias ao plano das generalidade, não é atividade laborativa ou
relações sociais concretas. De forma emprego que o homem desempenha e que,
bastante esquemática podemos perceber de retorno, exerce uma influência sobre a
que a crise, tal qual vem sendo sua psique, o seu habitus e o seu
apresentada em relação à categoria pensamento, isto é, sobre esferas parciais
trabalho, delineia um debate que situa a do ser humano. O trabalho é um processo
compreensão desta categoria no plano da que permeia todo o ser do homem e
historicidade de modos sociais de produção constitui a sua especificidade" (Koslk,
material (objetiva e subjetiva) da existência 1986).
humana, demarcados pela cisão de classes Nesta compreensão,
sociais e, portanto, pelo conflito e pelo independentemente da forma histórica que
antagonismo; ou da compreensão da assume, trabalho e relações materiais de
“interação social", da ação comunicativa e produção social da existência são
da teoria argumentativa e das visões da fundantes da especificidade humana à
pós-modernidade e pós-estruturalistas. medida que é pelo trabalho que a espécie
Considerando que a grande maioria das humana se produz (Marx, 1964, 1975 e
análises sobre a relação trabalho-educação 1978; Lukács, 1970). O ser humano se
situam-se num campo crítico, contrapõe e se afirma como sujeito num
confrontando-se, portanto, com as movimento e ação teleológica sobre a
concepções da integração, de caráter realidade objetiva. Modificando a realidade
positivista-funcionalista, cujo herdeiro mais que o circunda, modifica-se a si mesmo.
evidente hoje é o neoliberalismo, Produz objetos e, paralelamente, altera sua
pensamos ser mais importante discutir a própria maneira de estar na realidade
tensão teórica que se coloca no interior objetiva e de percebê-la. E - o que é
deste campo tanto no âmbito da tradição fundamental - faz a sua própria história.
iluminista quanto e, principalmente, nas Í Toda a chamada história mundial -
perspectivas da pós-modernidade. assegura Marx - "não é senão a produção
Trata-se, como nos convida Jameson do homem pelo trabalho humano".
(1997), de desafiar nossa imaginação É dentro desta compreensão que o
crítica, condição indispensável para sujeito humano em Marx (1964), e
fugirmos aos vaticínios fatalistas do "fim da posteriormente de forma ainda mais
história" ou à adesão pura e simples à desenvolvida em Grainsci, é entendido não
arrogante tese da eternização do modo de como sujeito individual mas resultado de
produção capitalista. um processo histórico, de relações sociais
Mesmo depois do 'fim da história", ainda concretas. Nesta perspectiva a questão
parece persistir uma certa curiosidade não é o que é o homem, o sujeito - esta é
histórica em geral mais sistêmica do que uma concepção escolástica e metafisica -,
meramente anedótica: não saber somente mas como se produz o ser humano e o
o que vai acontecer depois, mas também sujeito social histórico. Esse processo de
uma ansiedade mais geral sobre a sorte ou produção do ser humano, como sintetiza
destino do nosso próprio sistema ou modo Granisci (1978), resulta da unidade de três
de produção - experiência individual (de elementos fundamentais e diversos:
tipo pós- moderno) nos quer convencer de natureza, indivíduo e relação social, sendo
que ele tem que ser eterno, enquanto que o primeiro e o segundo estão
nossa intelígência sugere que essa subordinados concretamente ao terceiro,
impressão é, de fato, muito improvável, que é o determinante. Ou seja, a natureza
sem que se chegue, no entanto, a nenhum e a individualidade são tecidas pela
roteiro plausível para a sua desintegração materialidade concreta do conjunto de
ou substituição. Parece que hoje é mais relações sociais historicamente possíveis.
fácil imaginar a deterioração total da terra e Pensar um sujeito humano fora das
da natureza do que o colapso do relações sociais ou separar o mundo da
capitalismo tardio; e talvez isso possa ser necessidade do mundo da liberdade, do
atribuído à debilidade de nossa imaginação trabalho e do não trabalho, é inscrever-se
(jameson, 1997: 10-11). numa compreensão idealista de sujeito
humano. Por outro lado, a subjetividade
produz-se dentro de processos históricos e
1.1. PERSPECTIVA MARXISTA OU DO não pode ser, portanto, entendida como
CONFLITO algo naturalmente emanado dos sujeitos
(supra-históricos). A subjetividade que se
Dentro da tradição marxista, a materializa nas decisões históricas é ela
perspectiva do conflito deriva não de uma própria um produto histórico-social.
escolha da vontade, mas da própria Cabe registrar que esta perspectiva, no
materialidade das relações sociais campo educativo, não é nem hegemônica e
ordenadas por uma estrutura classista. nem dominante. A crise desta concepção
Estas relações que tipificam, para Marx, a teórica é tomada como fim de sua
pré-história da humanidade, cindem e capacidade interpretativa. Para aqueles
esgarçam. o ser humano, limitando o seu que buscam a compreensão da realidade
devenir. Nesta perspectiva há urna numa perspectiva dialético-histórica não é
mediação de primeira ordem, constituída difícil reconhecer a crise como o reflexo, no
pelo pressuposto da centralidade do plano do pensamento, e, portanto, da
trabalho como criador da condição abstração , da crise econômico-social,'
humana, que recebe, historicamente, cultural e ético-política da sociedade
mediações de segunda ordem, que capitalista neste fim de século. Crise esta
transformam o trabalho criador em que se manifesta de forma diversa em
alienação, mercadoria e força de trabalho. formações histórico-sociais específicas.

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As crises do paradigma marxista, então, deslocamentos da formulação teórica de


sempre ocorreram exatamente nos Habermas no processo de contestação que
momentos em que seu objeto de estudo este autor faz da primazia da produção
fundamental - o capitalismo como sistema - material. Partindo da noção, inicialmente,
parecia estar mudando de aparência, ou de interação social em contraposição à
passando por mutações imprevistas e economia passa, em seguida, para a
imprevisíveis. Uma vez que a antiga centralidade da comunicação e esta, cada
articulação da problemática já não vez mais identificada com a linguagem,
corresponde a essa nova configuração de transita, pois, de um terreno do
realidades, há uma grande tentação de se materialismo histórico, da forma como o
concluir que o paradigma seguindo a moda compreende Marx, para uma perspectiva
Kuhniana nas ciências -foi derrubado e desenvolvida pelo estruturalismo.
ultrapassado. A implicação disso é que se O terceiro estágio foi então atribuir a
torna necessário formular um novo primazia total das funções comunicativas
paradigma, se ele já não estiver se sobre as produtivas, na definição da
delineando (Jameson, 1994: 66-7). humanidade e desenvolvimento histórico:
ou seja, nos termos de Habermas, da
O risco presente na área "trabalho e "linguagem" sobre o "trabalho" afirmando
educação" é de se confundir as que o que nos destaca da natureza é a
dificuldades objetivas da abordagem Única coisa cuja natureza podemos
marxista para explicar problemas que se conhecer: a linguagem (Anderson, 1985:
configuram complexos, com a superação 71).
da própria teoria. Os obstáculos reais para
visualizar e apreender as relações de Tanto na avaliação de Anderson como
classe, fundamentais em decorrência das na de Francisco de Oliveira (1993),
mutações do conteúdo, forma e tempo do Habermas abre mão de questão da
trabalho assalariado e do deslocamento do centralidade do trabalho, porque, em sua
trabalho do setor primário e secundário perspectiva, necessita "abrir mão" da
para o terciário, não permitem -'sem categoria de classe social e da categoria
mudança de perspectiva teórica e conflito social.
éticopolítica - deduzir o "fim" das classes Deveríamos então condenar este
ou que esta categoria não nos ajuda a fecundo autor ao limbo ou temer sua
entender a realidade atual. Esta postura, apropriação? Ao contrário, na perspectiva
querendo ou não, pode levar-nos a duas gramsciana anteriormente aludida em
conseqüências: a compreensão das relação à produção do conhecimento, é
classes sociais, de uma relação social, fundamental que as contribuições de
relação de violência e alienação Habermas e outros pensadores sejam
determinada pela extração da mais-valia, tomadas em suas formulações mais
sendo reduzida a um dado reificado. O avançadas e incorporadas de forma
capital e a classe que vive do trabalho subordinada.
assalariado (Antunes, 1995) são o
resultado histórico de forças sociais em Nessa discussão, entendemos que há
movimento. Sem, a superação da um conjunto de questões q merecem ser
mais-valia, portanto, as classes analisadas com mais profundidade:
fundamentais não são dissolvidas. Por a) Estaria superada e/ou de fato
outro lado, passa-se, queira-se ou não, em equivocada a compreensão de Marx de
última análise, à concepção que atribuir uma primazia à produção material,
fundamenta a própria ideologia liberal e ao trabalho na definição da humanidade
neoliberal - a sociedade como um contínuo como espécie e na sua evolução como
de estratos sociais que se explica por história?
escolhas, esforço, riscos, vontade, b) Com esta superação a produção do
dedicação e competência de indivíduos sujeito humano teria se desmaterializado, e
isolados ou de estratos sociais. sua subjetividade resultaria do plano
superestrutural da linguagem?
1.2. PERSPECTIVA DA AÇÃO c) A mudança do conteúdo do trabalho
COMUNICATIVA do seu caráter predominantemente manual
para o trabalho intelectual, abstrato e o
Habermas; vem se constituindo num deslocamento fantástico do trabalho
referencial importante na área da produtivo do setor primário e secundário
educação. Trata-se de um autor fértil e rico industrial para os serviços (trabalho
em contribuições nos mais diversos improdutivo; Marx, 1975) elidiria a questão
campos. Parece-nos, todavia, que é das classes fundamentais e, portanto,
importante tensionar justamente o estaria superada a questão da mais-valia e
fundamento da divergência de Habermas o tempo livre seria indicativo de que
em relação à centralidade do trabalho e a atingimos o mundo laudens de que nos fala
perspectiva do conflito, no interior da Adam Schaffi (1990). Que qualidade de
sociedade capitalista. Habermas; pretende tempo livre é o tempo de milhões de
reconstituir o materialismo histórico, trabalhadores vítimas do desemprego
"sustentando a tese de que Marx se estrutural ou do emprego precário em todo
equivocara ao atribuir uma primazia o mundo? (Therborn, 1988; Forrester,
fundamental à produção material, na sua 1997).
definição da humanidade como espécie e
na sua evolução como história (Anderson, 1.3. PERSPECTIVA DA
1985: 70). PÓS-MODERNIDADE
Para o que queremos pontuar neste
debate, a avaliação crítica do constructo Configurar os diferentes significados da
teórico de Habermas feita por Periry postura pós-moderna no campo
Anderson (1985 e 1992) nos parece epistemológico e ético-político é tarefa
adequada. Anderson observa sucessivos complexa. Trata-se de uma concepção que
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não é unívoca, pelo contrário, assume as universidade vincula-o com o


mais diferentes significações. Isto, de neoliberalismo. Identifica uma crise que se
imediato, nos indica que o caminho de manifesta no plano político e teórico, face à
colocar-se a favor ou contra, pura e qual a universidade precisa tomar posição.
simplesmente, desta perspectiva, é um No plano político o ideário neoliberal
caminho estéril. Mais fecundo é o caminho instaura a lógica do Estado mínimo, da
que busca compreender historicamente e, desregulação e privatização da esfera
portanto, criticamente, as diferentes pública. No plano teórico, o
manifestações, no plano epistemológico e pós-modernismo configura a crise da razão
político, da pós-modernidade. que se explicita, para esta autora, em
Neste breve trabalho apenas nos quatro aspectos:
limitamos a situar o debate que se - negação de que haja uma esfera da
encaminha nesta direção. Vários autores objetividade. Esta é considerada um mito
como F. Jameson (1994 e 1995), D. Harvey da razão, e em seu lugar surge afigura da
(1994), Boaventura de Souza Santos (1989 subjetividade narcísica desejante;
e 1996), por ângulos diversos, entram no - negação de que a razão possa propor
debate sobre a pós-modernidade tomando uma continuidade temporal e captar o
este conceito, por falta de outro, no sentido da história. O tempo é visto como
reconhecimento da cristalização de descontínuo a história é local e
determinadas perspectivas da tradição descontínua, desprovida de sentido e
iluminista moderna. necessidade, tecida pela contingência;
Ciro Flamarion (1997 e 1997a), num - negação de que a razão possa captar
confronto epistemológico com as raízes núcleos de universalidade no real. A
históricas da postura pós-moderna, com realidade é constituída por diferenças e
menos concessões, ressalta, porém, que alteridades, e a universalidade é um mito
sua positividade é o fato de tensionar totalitário da razão;
aspectos da tradição iluminista, dando um - negação de que o poder se realize à
foco mais importante à subjetividade distância do social, através de instituições
humana e ao campo simbólico; e sua que lhe são próprias e fundadas tanto na
ampla negatividade consiste, em última lógica da dominação quanto na busca da
análise, na "morte do homem, ou seja, sua liberdade. Em seu lugar existem
eliminação como sujeito e como objeto" e, micropoderes invisíveis e capilares que
como conseqüência, a negação das disciplinam o social (Chauí, 1993).
ciências sociais.
Nas análises de Flamarion, visualizamos Ao focalizar a perspectiva fragmentária
profundas conseqüências para os planos do pós-modernismo, Fredric Jameson
do conhecimento e do político, fortemente (1994), assim como Chauí, caracteriza-o
presentes nas ciências sociais. Da como "uma espécie de má reflexividade
perspectiva assumida por Lyotard - de que que morde o próprio rabo sem conseguir
"o pós-modernismo se caracteriza pela enquadrar o círculo" Jameson, 1994: 37) e
'morte dos centros' e pela 'incredulidade em que nos convida a uma melancólica
relação às metanarrativas"', Flamarion zombaria da história em geral .
conclui: Não só pela diversidade de posições
englobadas pelas perspectivas
pós-modernas, mas por contrapontos e
O primeiro ponto, se aplicado à resgates importantes, como a ênfase na
história- disciplina, levaria a afirmar que os individualidade, no sujeito, na subjetividade
pretensos centros (entenda- se lugares de e no simbólico, tais contribuições devem
onde se fala), a partir dos quais se ser incorporadas, como aponta Flamarion,
afirmariam diversas posturas diante da na reconstituição de teorias globais.
mesma, não são legítimos ou naturais, mas Todavia, o fundamental é entender que,
sim ficções arbitrárias e passageiras, tanto para este autor como para Jameson,
articuladoras de interesses que não são o sucesso das teorias parciais deve ser
universais: são sempre particulares, entendido na sua relação com a conjuntura
relativos a grupos restritos e socialmente atual do capitalismo, ao mesmo tempo
hierarquizados de poder (em outras global e fragmentário, e como
palavras: não há história; há histórias "de" conseqüência da derrocada de movimentos
e "para" os grupos em questão. O segundo sociais e regimes políticos que falavam em
ponto significa que, no inundo em que nome do marxismo.
agora vivemos, qualquer "metadiscurso" ' Vivemos, particularmente no campo
qualquer teoria global, tornou-se educacional, mas não só, uma espécie de
impossível de sustentar devido ao colapso "anorexia" teórica ou "Impulsão" pelo
da crença nos valores de todo tipo e em instantâneo das alteridades, "um
sua hierarquização, conto sendo insuportável presentismo" (Hobsbawm),
universais, o que explicaria o assumido onde cada um, no limite, tem sua própria
niilismo intelectual contemporâneo, com teoria igualmente válida. Neste contexto
seu relativismo absoluto e sua convicção parece-nos importante buscar evitar uma
de que o conhecimento se reduz a dupla armadilha: das polarizações
processos de semiose e interpretação moralistas do tipo contra ou a favor ou do
(hermenêutica), impossíveis de ser inútil e estéril caminho do ecletismo. Como
hierarquizados de algum modo que possa nos lembra Tilly neste particular, "a soma
pretender o consenso. Não é difícil das teorias, infelizmente, não é teoria
perceber o embasamento filosófico de uma alguma" (Tilly, 1984, apud Arrighi, 1994:
concepção dessas: Níetzsche e Heidegger XI). Neste sentido, cremos que Flamarion
(aliás numa versão elaborada por epigonos sintetiza um posicioriamento
seus, como, entre outros, Foucault, epistemológico Instigador para questionar o
Deletize e Derrida), Wittgenstein" status quo da área educacional, mormente
(Flamarion, 1997: 15). seus reiterados modismos.
Chauí (1993) ao discutir a influência do
pós-modernismo no espaço da
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Aquilo, porém, que me recuso econômico-social entre as nações e as


firmemente a acreditar é que erros e diferenças e desigualdades entre grupos
exageros passados justifiquem erros e sociais ou entre os indivíduos. O impacto
exageros atuais designo contrário. Em desta formulação foi extraordinário e lhe
outras palavras, não creio que estejamos valeu o Prêmio Nobel de Economia de
condenados a passar do rigor formal e 1979. Trata-se de um conceito que foi
muitas vezes ilusório do cientificismo para construído na fase áurea do modo de
algo tão limitado quanto uma "busca regulação fordista de desenvolvimento
interpretativa culturalmente contextuada" ' econômico e explicita, paradoxalmente, os
uma hermenêutica que se esgote em si seus profundos limites. Como mostra
mesma. As ciências sociais, entre elas a Altvater (1995) a industrialização intensa,
história, não estão condenadas a escolher sob este modelo de regulação social, não
entre teorias deterministas da estrutura e foi generalizada e tampouco é possível que
teorias voluntaristas da consciência, seja.
sobretudo considerando tais posturas em
suas modalidades unilaterais e polares; A distância entre os paises que querem
nem a passar de uma ciência se tornar fit (eficientes), e aquelas
freqüentemente mal conduzida - sociedades que já estão fat ou seja, ricas,
comprometida com teorias defeituosas da não diminuiu. Frederich List estabeleceu a
causação de determinação e com uma regra da esperteza "pela qual, unia vez no
análise estrutural unilateral - às topo, destrua a escada por meio da qual
evanescências de “desconstrução" e ao este foi atingido para que o outro não tenha
império exclusivo do relativismo e da como nos seguir (..). O modelo de
microanálise (Flamarion, 1997: 23). industrialização capitalista visivelmente não
é generalizável; as exceções bem
2. AS ÊNFASES DA PESQUISA sucedidas desta regra não chegam a
TRABALHO-EDUCAÇÃO FACE AOS invalidá-la. A sociedade capitalista afluente
LIMITES DO DESENVOLVIMENTO E DA possui uni lado ordeiro ao Norte, e um lado
EXPANSÃO DO CAPITAL E A CRISE DO desordeiro ou caótico ao sul (Altvater,
TRABALHO ASSALARIADO 1995: 22 e 25).
A segunda ordem de questões, em certa Tomando-se como exemplos
medida, explicita as tensões e conflitos no comparativos, mesmo em se tratando de
plano teórico-Interpretativo e centra-se na um país que está entre os 12 de maior PIB,
compreensão de que é necessário percebemos que o Brasil (segundo o Banco
questionar, pela raiz, as análises que Mundial) em 1988 tinha um PIB per capita
buscam ajustar a educação e a formação de 2.160 enquanto a Alemanha, EUA e
profissional à reestruturação produtiva Japão tinham, respectivamente, 18.480,
concebida como conseqüência da nova 19.840 e 21.020 (Altvater, 1995: 24). Sob a
base técnica e dos processos de perspectiva do modo capitalista/fordista de
globalização.' Esta perspectiva parte de organização da produção e do
uma visão de desenvolvimento, ciência e desenvolvimento o que pode ocorrer é a
tecnologia despidas de relações sociais e mudança de pólos de exploração e de
no pressuposto do pleno emprego. Em que exclusão, não a sua superação.
medida nossas insistências no impacto das O modo de regulação fordista, que
novas tecnologias sobre o mundo da transcende o âmbito econômico e se
produção e do trabalho, sem entendê-las, constitui numa matriz cultural, centra-se
elas próprias, como um produto de nas idéias de produção em massa,
relações sociais excludentes, não tornam consumo de massa, busca do pleno
nossas análises limitadas e adaptativas? emprego e diminuição das desigualdades.
Há uma densa literatura que trata dos Estas idéias firmam-se no pressuposto da
limites do desenvolvimento (Industrial) possibilidade de generalização da
centrado na perspectiva taylorista/fordista industrialização e na idéia de
ou pós-fordista e da crise aguda da desenvolvimento harmônico, progressivo e
expansão do capital, precarização do ilimitado .6 A crise dos anos 90 parece
trabalho e desemprego estrutural e que nos evidenciar, sobretudo, a precariedade
permite, ao nosso ver, apreender o eixo deste pressuposto. Ao contrário da idéia da
teórico-empírico que nos permite avançar e generalização da industrialização e do
tensionar tanto os estudos na área, consumo de massa elevado, como
comprometidos ético-politicamente com a mostram vários estudos, apenas uns 20
"classe que vive do trabalho, quanto, e países no mundo tiveram um amplo
principalmente, as concepções e políticas desenvolvimento, especialmente após a
de educação básica, formação Segunda Guerra Mundial e, dentre estes,
técnico-profissional e processos de sete (G7) apenas têm se destacado -
qualificação, requalificação e reconversão, composto pelos Estados Unidos,
em pauta nos anos 90 no Brasil, vincados Alemanha, Japão, França, Canadá,
marcadamente por uma perspectiva Inglaterra e Itália. Estes constituem-se,
produtivista. Esta perspectiva reitera, como assinala Noam Chomski (1993),
aparentemente com novos conceitos e naqueles que têm o poder e o governo do
categorias, a visão economicista da teoria mundo de fato hoje.
do capital humano e tem como intelectuais O corpus conceptual da teoria do capital
coletivos o Banco Mundial e os aparelhos humano é produzido para explicar, em
de hegemonia dos homens de negócio. última análise, exatamente a não efetiva
No fim da década de 50 e início da generalização do fordismo, quando este
década de 60, Theodoro Schultz (1962 e atingiu seu ápice. Por que o modelo de
1973) elaborou o conceito de capital desenvolvimento capitalista de produção e
humano, vinculando-o, a uma função consumo de massa não se generalizou?
agregada macroeconômica, para explicar Como justificar os profundos desníveis em
as diferenças de desenvolvimento termos do crescimento do PIB, as abismais
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diferenças de renda per capita entre das classes sociais, conseqüentemente do


nações, particularmente entre o Hemisfério proletariado, e a emergência da sociedade
Norte e o Hemisfério Sul, entre diferentes pós-industrial ou a sociedade do
grupos sociais e entre os indivíduos? conhecimento (Bell, 1973; Toffler, 1973,
O investimento em "capital humano" 1980).
passou a constituir-se na chave de ouro O balanço que inúmeros trabalhos de
para resolver o enigma do longo alcance histórico, marcados pela
subdesenvolvimento e das desigualdades densidade da análise e precaução em
internacionais, regionais e individuais. evitar tanto as visões apocalípticas quanto
Trata-se de um corpo teórico mais o otimismo ingênuo, não nos permitem
sofisticado do que a perspectiva vislumbrar saídas fáceis para o fim deste
psicologista da teoria da modernização, milênio e início do novo para a crise do
embora sua base parta desta. A teoria do capitalismo hoje existente. O breve século
capital humano passou por um intenso XX que se desenvolve entre duas
debate interno, particularmente na década sangrentas guerras mundiais, visto sob a
de 60 e 70, e, ao mesmo tempo, teve um ótica da crise (Hobsbawm 1995) ou o longo
amplo uso político e ideológico na definição século XX visto sob a ótica dos longos
de macropolíticas educacionais orientadas ciclos do capital (Arrighi, 1996) marcou,
pelos organismos internacionais e também, a Era de Ouro do capitalismo. Era
regionais. No Brasil, durante o período da esta que, como assinalamos, não atingiu
ditadura militar, como mostra Saviani de forma simétrica a todos, reduzindo-se a
(1988), duas reformas - universitária de um grupo pequeno de nações no mundo.
1968 e do 1º e 2º graus em 1971 - A literatura marxista, especialmente,
estruturam o sistema de ensino dentro dos mostra os limites intrínsecos da
parâmetros tecnicistas e economicistas, possibilidade do capital generalizar o
inspirados nesta formulação desenvolvimento social, econômico,
teórico-Ideológica. cultural e o produto do trabalho social. O
A crise por que passa o capitalismo elemento histórico empírico deste limite
neste fim de século, a manutenção das parece estar, porém, mais claro neste final
profundas desigualdades, agora ampliadas de milênio.
entre o hemisfério Norte e Sul, e o tormento
do aumento exponencial do desemprego Na década de 80 e início da década de
estrutural, precarização do trabalho sob a 90, o mundo capitalista viu-se novamente
denominação de flexibilização e a às voltas com problemas da época do
emergência da sociedade dos três terços entre- guerras, que a Era de Ouro parecia
(Alliez, 1988), põem "o rei a nu" e mostram ter eliminado: desemprego em massa,
que os críticos do capital humano tinham depressões cíclicas severas, contraposição
razão. cada vez mais espetacular de mendigos
O balanço não é nada auspicioso. Trinta sem teto e luxo abundante, em meio a
anos depois da disseminação da teoria do rendas cada vez mais limitadas e despesas
capital humano, nada daquilo que ilimitadas de Estado (Hobsbawm, 1995:
postulava se efetivou - a possibilidade da 19).
igualdade entre nações e entre grupos
sociais e indivíduos, mediante maior
produtividade e, conseqüentemente, em Esta crise seria igual às outras e,
termos das nações, maior competitividade portanto, logo adiante voltaríamos a uma
e equilíbrio e, entre grupos e indivíduos, nova Era de Ouro, agora sob os auspícios
ascensão na carreira profissional, da globalização? Os interlocutores com os
mobilidade social e conseqüente quais estamos dialogando não apostam
diminuição das desigualdades. nesta direção. O autor que acabamos de
O desenvolvimento econômico-social, ao citar conclui que não podemos continuar
contrário dos postulados da harmonia da dentro da lógica nem do passado e nem do
ideologia liberal, é profundamente marcado presente do capitalismo, por ser este um
por relações de poder e de força sistema para o qual "os seres humanos não
assimétricas cujo resultado desta fase foram eficientemente proletados". A
áurea do fordismo leva à conclusão de que continuidade desta lógica somente se
a "industrialização é um luxo exclusivo de manterá mediante o aumento da destruição
parcelas da população mundial, mas não do meio ambiente, destruição e
para a ampla maioria dos seus 6,25 bilhões esterilização do trabalho e aumento da
de habitantes na virada do milênio" exclusão.
(Altvater, 1995: 28).
Os marcantes fatos históricos do final da Na mesma direção de análise o filósofo
década de 80, particularmente 1989 com a e analista social Istvan Mészáros, em sua
queda do muro de Berlim e posteriormente obra de maior relevância, Beyond Capital
o colapso ou derrocada do socialismo real (1995), salienta que a forma capital de
ou, na expressão mais adequada de Eric relações sociais evidencia, neste fim de
Hobsbawm (1992), socialismo realmente século, ter esgotado sua capacidade
existente, geraram, de um lado, o ufanismo civilizatória e somente pode manter-se
apologético de uma ordem mundial mediante maior ímpeto de destruição.
unipolar, ressuscitando as teorias Numa densa resenha, Damel Singer (1996)
conservadoras ou neoconservadoras sintetiza o pensamento de Mészáros sobre
(neoliberais) e mascarando a mais a especificidade da crise do capital e da
profunda crise do capitalismo neste final de lógica do desenvolvimento capitalista.
milênio e, de outro, decretando o fim da
possibilidade de uma alternativa ao Na verdade, já há algum tempo o
capitalismo e das teorias que sustentam capitalismo perdeu a sua função
esta alternativa. Postula-se, dentro desta "civilizatória" enquanto organizador
significação, o "fim" da história (Fukuyama, impiedoso mas eficiente do trabalho. (- )
1992), "fim" das ideologias, das utopias, Simplesmente para prosseguir existindo, o
15
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

sistema funda- se cada vez mais no assimétrico. A idéia de desenvolvimento


desperdício, na "obsolescência planejada" ' auto-sustentado tenta sintetizar esta
na produção de armas e no alternativa, ainda dominante e
desenvolvimento do complexo militar Ao contraditoriamente sob a égide das
mesmo tempo, o seu impulso incontrolável relações capitalistas mercantis, buscando,
para a expansão já produziu efeitos ao mesmo tempo, "desenvolvimento
catastróficos para os recursos naturais e o econômico eficiente, justiça social
meio ambiente. Nada disso impede o distributiva. e eficácia ecológica" (Almater,
sistema de produzir "trabalho supérfluo", 1995: 7).
vale dizer, desemprego em massa. Além Ao mesmo tempo que a tomada de
disso, como para frisar a gravidade de sua decisões, face à gravidade da deterioração
crise atual, nos últimos vinte anos o do meio ambiente, demandam uma
capitalismo vem abolindo todas aquelas planificação global, paradoxalmente
concessões que, sob o genérico nome de exacerba-se, nos anos 80 e 90, as teses
Estado de Bem- Estar, supostamente conservadoras, ressuscitadas pelo
justificavam a sua existência (Singer, 1996: neoliberalismo, da liberdade do mercado,
2). da competitividade, da minimização da
esfera pública e, portanto, do atrofiamento
Considerando de um lado os limites do dos direitos sociais. As medidas adotadas
meio ambiente (problema ecológico a nível ao modelo predatório do desenvolvimento e
planetário) e a incapacidade de o expansão capitalistas têm sido quase
capitalismo socializar o fantástico avanço nulas. Neste contexto, a idéia de
tecnológico - hoje monopólio de poucos - desenvolvimento auto-sustentado ou
Altvater chega a uma conclusão que sustentável não passa de um jargão ou de
corrobora as análises acima e cujo uma "piedosa" intenção.
conteúdo "vertebra" a problemática que A dimensão mais crucial dos limites do
buscamos explicitar neste debate. capital e do desenvolvimento capitalista
neste final de século é, todavia, o espectro
É impossível simplesmente dar da destruição de postos de trabalho -
continuidade às estratégias de síndrome do desemprego estrutural -
desenvolvimento e de industrialização das precarização (flexibilização) do trabalho,
décadas passadas. Não só elas vinculada, como mencionamos acima, com
fracassaram em extensas regiões do a abolição dos direitos sociais duramente
Hemisfério Sul, como estavam condenadas conquistados pela classe trabalhadora,
ao fracasso por causa das contradições especialmente e de forma mais ampla em
que contêm. É uma ilusão, e por isto uma aproximadamente 20 países. Este
desonestidade, alimentar e difundir a idéia processo dá-se pela conj"ugação da
de que todo o mundo poderia atingir o nível globalização excludente, que amplia o
industrial equivalente ao da Europa, da desenvolvimento desigual, e pelo
América do Norte e do Japão, bastando monopólio privado da ciência e tecnologia.
para isto que as sociedades menos A globalização, como mostram vários
desenvolvidas "aprendam com a Europa" estudos,"' na forma que se explicita
(Altvater, 1995: 28). atualmente é, sobretudo, a ruptura das
fronteiras dos mercados nacionais pela
ferrenha competição na realização (venda)
Para Estevan, numa mesma perspectiva das mercadorias que condensam trabalho
de análise, a idéia que se tem firmado de social explorado (capital-mercadoria), sob a
desenvolvimento é um constructo égide da força desigual do Acordo Geral de
profundamente ideológico. Os processos Tarifas e Comércio (GATT) e pela
de globalização assinalam, pelo contrário, hegemonia do capital-financeiro
para este autor, um aumento da (capital-dinheiro), que circula, como uma
desigualdade e da exclusão. nuvem, de um pólo a outro do planeta,
facilitado pelas redes de informação, sob a
La idea del desarrollo, esto es, Ia idea tecnologia microeletrônica, em busca de
de que Ia aplicacióti del modelo de valorização. Estima-se que circulem por dia
progresso cientfiicoy tecnológico no mundo mais de três trilhões de dólares,
occidentalpuede hacerposibile el aumento capazes de, de uma hora para outra,
indefinido de la producción en todo el quebrar bancos e desestabilizar economias
mundo, Y de que los cambios que de ese nacionais.
proceso se derivan para Ia vida de Ias Vinculada ao monopólio crescente da
personas constituyem Ia conclicióti base científica e tecnológica, a
indispensable para que su exístencia sea globalização permite uma verdadeira
másféliz, no es más que una interesada "vingança" de capital contra o trabalho. De
construccióti ideológica y política, carente um lado a nova base tecnológica,
defimdamento real, y desmentída pela marcadamente flexível, permite um rápido
experiencia (Estevan, 1994: 68). deslocamento de investimentos produtivos
de uma parte para outra do mundo
Os limites de expansão do modelo de (desterritorialização do capital) para buscar
industrialização e consumo fordista, face à vantagens nas taxas de lucro e, de outro
destruição do meio ambiente, ficam lado, aumenta exponencialmente a
evidentes quando se imagina, por exemplo, intensidade do capital morto e a
que a China e a índia venham a adotar o conseqüente diminuição de capital vivo,
tipo de consumo americano ou europeu em força de trabalho. Com estas armas o
termos de número de carros per capíta. capital vem desmobilizando e minguando a
Várias reuniões e conferências tentaram organização e o poder sindical que se vê
mobilizar o mundo, desde o início dos anos forçado a negociar direitos conquistados
70, mostrando a necessidade de buscar-se por uma garantia mínima do emprego.
uma alternativa ao modelo vigente de Amplia-se, neste contexto, a possibilidade
industrialização e desenvolvimento de superexploração da força de trabalho.
15
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

Analisando a tendência, a partir das governo, que resulta da redução ampla dos
décadas de 70 e 80, de perdas irreversíveis impostos diretos que recaem sobre as
de postos de trabalho motivadas pelo uso camadas privilegiadas. Nos EUA o
intensivo de tecnologia, Hobsbawm emprego diminuí menos mas perde
assinala que este fenômeno se agrava face qualidade: cada vez mais trabalhadores
à perda de capacidade financeira dos são privados dos direitos legais e
Estados nacionais e pelo desmonte dos contratuais atribuídos aos assalariados
Estados sob a égide neoliberal. formais; na Europa, o poder remanescente
dos sindicatos e partidos trabalhistas,
O crescente desemprego destas social-democratas ou socialistas preserva
décadas não foi simplesmente cíclico, mas a qualidade do emprego em maior grau
estrutural. Os empregos perdidos nos mas em compensação o grande capital
maus tempos não retornariam quando os investe menos e o desemprego é mais alto
tempos melhorassem: não voltaríam jamais (Paul Singer, 1996: 9).
(..). A tragédia histórica das Décadas de
Crise foi a de que a produção agora De acordo com o presidente da central
dispensava visivelmente seres humanos DGB, da Alemanha, Dieter Shulte, a
mais rapidamente do que a economia de poderosa economia alemã está hoje com
mercado gerava novos empregos para 4,4 milhões de desempregados, só
eles. Além disso, esse processo foi comparável no período que precedeu ao
acelerado pela competição global, pelo nazismo. Na mesma conferência, o
aperto financeiro dos governos, que - presidente da AFI, americana, com 13
direta ou indiretamente - eram os maiores milhões de sindicalizados, afirmou: "Nos
empregados individuais, e não menos, EUA, sucesso no mundo globalizado, os
após 80, pela então predominante teologia empregados estão trabalhando mais e
do livre mercado que pressionava em favor ganhando menos e sem proteção social,
da transferência de emprego para formas pois 40 milhões de americanos estão
empresariais de maximização de lucros, trabalhando sem seguro saúde". E, por
sobretudo para empresas privadas que, último, o presidente da Federação
por definição, não pensavam em outros Internacional dos Empregados Comerciais
interesses além do seu próprio, pecuniário. e Técnicos lançou, na abertura do encontro
Isso significou, entre outras coisas, que de Davos, a incômoda pergunta: "vocês
governos e outras entidades públicas diriam que o capitalismo é um sucesso no
deixaram de ser o que se chamou de mundo em que 3 bilhões de um total de 5,7
"empregadores de último recurso" (Word bilhões vivem com menos de US$ 2,00 por
Labor, 1989: 48). O declínio dos sindicatos, dia"?
enfraquecidos tanto pela depressão
econômica quanto pela hostilidade dos Numa sociedade mundial capitalista, é
governos neoliberais, acelerou esse inevitável a simultaneidade de
processo, pois a produção de empregos desenvolvimento e subdesenvolvimento,
era uma de suas funções mais estimadas. de riqueza e miséria, seja no plano global,
A economia mundial se expandia, mas o seja no plano das nações. E esta não é
mecanismo automático pelo qual essa uma constatação radical, à medida que os
expansão gerava empregos para homens e representantes liberais do modelo
mulheres que entravam no mercado de concorrencial a fundamentariam pela
trabalho sem qualificações especiais necessidade da desigualdade como
estava visivelmente desabando estímulo para o progresso (Altvater, 1995:
(Hobsbawm, 1995: 4034). 310).
Dentro deste cenário de fim de século,
A idéia-força, tornada senso comum na ao contrário das visões apologéticas do
doutrinação ou persuasão oficial do grupo capitalismo como um modo de produção
que governa hoje o Brasil e outros países globalizado, triunfante e hoje unipolar, as
latino-americanos, é de que não há outra análises de Hobsbawm, Mészáros, Arrighi,
alternativa a não ser a de ajustar-se aos Ingrao & Rossanda e Altvater, acima
novos tempos, ingressar no processo de sinalizadas, apontam para uma mesma
globalização e, para tanto, fazer o ajuste direção, mostrando que o capital expõe
doloroso e necessário. Mas qual o custo hoje, como nunca, os seus limites
humano deste alinhamento, subordinado intrínsecos; e a crise que, o modo de
ao G7 e seu Acordo Geral de Tarifas e produção capitalista enfrenta atualmente é
Comércio, se, como nos evidenciam as a mais profunda da sua história e
análises acima, trata-se de um alinhar-se a necessita, para enfrentá-la, um potencial
uma lógica de desenvolvimento, hoje maior de destruição. A natureza desta
marcadamente desigual e destrutiva? lógica foi claramente anunciada a 150 anos
Mesmo sendo seus efeitos diferentes no no Manifesto Comunista:
interior de cada nação, por ser uma lógica A necessidade de um mercado
supranacional, sem controles efetivos dos constantemente em expansão impele a
governos nacionais, atinge de forma dura burguesia a invadir todo o globo. Necessita
até mesmo o Primeiro Mundo. estabelecer- se em toda parte, explorarem
toda a parte, criar vínculos em toda parte.
Mas no Primeiro Mundo, a globalização (..). A sociedade burguesa é muito estreita
inverteu o sentido da evolução: o para conter as suas próprias riquezas. E
desemprego é alto e persistente, a renda como a burguesia vence estas crises? De
se concentra, a pobreza volta a crescer um lado pela destruição violenta de grande
depois de ter quase desaparecido, a quantidade das forças produtivas; de outro,
exclusão social torna- se cada vez maior, pela conquista de novos mercados e pela
trazendo em sua esteira a xenofobia, intensa exploração dos antigos. Portanto,
racismo e neofascismo. O Estado de prepara crises mais extensas e mais
Bem- Estar Social vai sendo corroído, destrutivas, diminuindo os meios de
através do corte do gasto social do
15
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

evitá-las (Marx, 1848, apud Laski, 1982: 97 Não se sabe se é cômico ou sinistro, por
e 99). ocasião de uma perpétua, irremovível e
crescente penúria de empregos, impor a
O balanço da história recente da forma cada um dos milhões de desempregados -
violenta mediante a qual o capital resolve e isso a cada dia útil de cada semana, de
suas crises de maximização das taxas de cada mês, década ano-aprocura “efetiva e
lucro não deixa dúvida de que de fato o permanente" deste trabalho que não existe.
ideário do capital humano, como estratégia Obrigá-lo a passar horas, durante dias,
para a diminuição de desigualdades semanas, meses e, à vezes, anos se
internacionais, regionais e individuais, oferecendo todo o dia, toda semana, todo
apreende as relações sociais de forma mês, todo ano, em vão, barrado
enviezada e falseia as razões estruturais previamente pelas estatísticas. Pois, afinal,
da exclusão. ser recusado cada dia útil, de cada
semana, de cada mês, de cada ano, será
E o que se está afirmando ho e em que isso constituiria um emprego, um
relação à educação e às políticas de ofício, uma profissão? Seria isso uma
formação técnico-profissional face à crise colocação, um job, ou mesmo uma
estrutural do desemprego e aprendizagem? Seria um destino
desenvolvimento desigual? plausível? Uma ocupação razoável? Uma
Uma vez mais afirma-se que a inserção forma realmente recomendável de
e o ajuste dos países "não desenvolvidos" emprego do tempo? (Forrester, 1997: 14).
ou "em desenvolvimento" ao processo de
globalização e na reestruturação produtiva, A que sentido histórico e a que
sob uma nova base científica e tecnológica, necessidades respondem as concepções e
dependem da educação básica, de políticas de educação básica e formação
formação profissional, qualificação e profissional centradas na visão das
requalificação. Todavia, não é de qualquer habilidades básicas, competências para a
educação e formação. Que educação e produtividade, qualidade total e
formação são essas, então? competitividade?
Trata-se de uma educação e formação Qual o sentido da idéia de educação e
que desenvolvam habilidades básicas no formação para a empregabilidade,
plano do conhecimento, das atitudes e dos requalificação e reconversão profissional,
valores, produzindo competências para dentro de uma realidade endêmica de
gestão da qualidade, para a produtividade desemprego estrutural, trabalho supérfluo
e competitividade e, conseqüentemente, em massa e das evidências empíricas que
para a "empregabilidade". Todos estes mostram que há hoje, mediante a
parâmetros devem ser definidos no mundo incorporação de tecnologia, aumento de
produtivo, e portanto os intelectuais produtividade, crescimento econômico sem
coletivos confiáveis deste novo aumento do nível do emprego?
conformismo são os organismos
internacionais (Banco Mundial, OIT) e os Estas concepções e políticas não
organismos vinculados ao mundo produtivo estariam formando os cidadãos passivos,
de cada país. não mais trabalhadores, mas
Seria esta a nova "chave de ouro" para colaboradores, déspotas de si mesmo em
que os países historicamente desiguais se nome da produtividade e competitividade,
ajustassem ao mundo globalizado e à empregabilidade, reconversão, etc.?
reestruturação produtiva de forma Em última análise, não esconderiam
soberana e original e mediante este ajuste estas concepções e políticas uma profunda
retomar políticas de “pleno emprego"? já violência ideológica que passa a idéia de
não há tantos empregos, resta a promessa que o Estado burguês e os "homens de
da flexibilidade, da empregabilidade. Mas o negócio" e os seus intelectuais coletivos
que vem a ser esta promessa? cumpriram seu dever oferecendo escola de
qualidade total? Aqueles que não
encontram emprego ou são expulsos do
Uma bela palavra soa nova e parece mercado assim o são por incompetência ou
prometida a um belo futuro: por não terem acertado as escolhas. Ou
"empregabilidade", que se revela como um seja, as vítimas do sistema excludente
parente muito próximo da flexibilidade, e viram os algozes de si mesmos.
até como uma de suas formas. Trata-se, O ideário tornado senso comum em
para o assalariado, de estar disponível praticamente todos os governos europeus,
para todas as mudanças, todos os prontamente adotado em nosso país -
caprichos do destino,, no caso, dos "trabalhar menos para que todos
empregadores. Ele deverá estar pronto trabalhem" -, é, em realidade,
para trocar constantemente de trabalho profundamente reacionário e conservador.
(como se troca de camisa, diria a ama Isto porque nenhum empregador (privado
Beppa). Mas, contra a certeza de ser ou público) está disposto a diminuir tempo
jogado “de um emprego a outro" ' ele terá de trabalho sem diminuir salário. Ora, tal
uma “garantia razoável" ' quer dizer, mecanismo aliena conquistas históricas da
nenhuma garantia de encontrar emprego classe trabalhadora no plano de melhoria
diferente do anterior que foi perdido, mas da sua qualidade de vida, e reforça o
que paga igual (Forrester, 1997: 118). pressuposto falso de que tal medida é a
Esta mesma aut ora, que não é única viável. O que não se explicita é,
nenhuma expert em economia e também justamente, que o agravamento do
não é funcionária dos organismos desemprego e a intensificação da
internacionais que sempre têm a receita exploração do trabalho assalariado e outras
salvadora, mas uma romancista e crítica formas de trabalho subordinado ao capital
literária, completa o espectro do "horror é a alternativa para retomar elevadas taxas
econômico" que ronda o mundo neste fim de lucro. A globalização excludente e as
de século: políticas baseadas na doutrina neoliberal
representam a base material e ideológica
15
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

desta alternativa dominante neste fim de Eunice Trein, 1997), como os estudos
século. A letalidade deste novo bloco desenvolvidos pelos grupos coordenados
histórico (que recebe o nome de por Acácia Kuenzer na Universidade
globalização, reestruturação produtiva, etc.) Federal do Paraná, Ozir Tesser, na
que vem se forjando, assenta-se, de um Universidade Federal do Ceará, Lucília
lado, na afirmação de seu caráter inevitável Machado, na Universidade Federal de
e, de outro, na naturalização' de suas Minas Gerais, Celso João Feretti, na PUC
conseqüências. O liberalismo clássico de São Paulo, Iracy Picanço, na
postulava a igualdade, ainda que os Universidade Federal da Bahia, Carmen
mecanismos fossem desequalizadores. Sylvia Vidigal Moraes e Lúcia E. Nuevo
Agora, simplesmente justifica-se a Barreto Bruno, na USP (para citar os
desigualdade. núcleos mais estruturados), nos permitem,
ao examinar as políticas educacionais e de
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS formação no Brasil dos anos 90, destacar
como hipóteses de trabalho ou eixos
analíticos os seguintes:
A pesquisa no campo da relação • As propostas dominantes de políticas
trabalho-educação tem um amplo desafio de educação básica, formação
para avançar no plano da construção técnico-profissional e processos de
teórica e no sentido de desvendar as qualificação, requalificação e
mediações históricas - plano das relações reconversão centrados nas
materiais da produção social da existência, perspectivas das habilidades básicas
plano do cultural e, portanto, do simbólico e (de conhecimento, atitudes e de
subjetivo. O tecido histórico sobre o qual gestão da qualidade), novas
nos movemos, ao contrário da aparente competências para a
evidência e clareza, é opaco, reificado e empregabilidade, e em grande parte
fetichizado. Novos personagens e novas as análises e pesquisas que buscam
máscaras movem-se nas relações sociais explicitar esta nova demanda face à
capitalistas, de sorte que a violência do reestruturação produtiva e a nova
capital e das relações de classe ordem mundial, ignoram ou
obscurecem, cada vez mais, seu desprezam o fato sublinhado por
fundamento. A idéia de revolução Altvater de que "é uma ilusão, e por
tecnológica, como bem mostrou Willians isto uma desonestidade, alimentar e
(1980) e os conceitos de sociedade do difundir a idéia de que todo o mundo
conhecimento (não mais sociedade de poderia atingir um nível industrial
classe), formação de competências, equivalente ao da Europa Ocidental,
formação polivalente e flexível, qualidade da América do Norte e do Japão"
total e empregabilidade, em planos (Altvater, 1995: 28). Isto como
diversos, prestam-se para ampliar a decorrência, de um lado, das relações
fetichização. de poder profundamente assimétricas
As pesquisas sobre trabalho-educação e, de outro, pelos limites do
podem encontrar um terreno fértil ao desenvolvimento industrial capitalista
buscar desvendar, ao mesmo tempo, as de natureza fordista ou pós-fordista,
mediações de segunda ordem, ordenadas face à destruição das bases materiais
pelo capital, cujo horizonte teórico é de da vida e a produção do desemprego
natureza estrutural-funcional, e os estrutural em massa.
elementos ou indícios de novas relações • Como conseqüência da proposição
sociais e formativas, cujo fundamento são acima, pode-se supor que é falso ou
as mediações de primeira ordem que uma ilusão, e igualmente uma
vinculam trabalho e educação, cultura e desonestidade, atribuir-se à educação
tecnologia, como expressões de “um novo básica, formação técnico-profissional
Industrialismo" e de melhoria da qualidade e aos processos de qualificação e
da vida e busca de dilatação de tempo de requalificação orientados pelo Banco
liberdade - de fruição, gozo e realização Mundial, um peso unilateral da
humana (Manacorda, 1990 e 1991). inserção de nossa sociedade no
Pesquisas que se pautem numa processo de globalização e
perspectiva histórica, necessariamente reestruturação produtiva e, sobretudo,
vincularão formas sociais da produção como tábua de salvação para os que
material da existência ou formas sociais de "correm risco de desemprego" ou para
produção da "sobrevivência", presentes os desempregados. O papel dos
nos movimentos e nas lutas sociais e processos educativos, mormente a
processos de formação humana. O formação técnico-profissional,
surgimento de uma ampla literatura sobre qualificação e requalificação, neste
economia popular (Coraggio, 1994 e 1995; contexto, é de produzir cidadãos que
Razeto, 1993; Singer, 1996; Tiriba, 1997; não lutem por seus direitos e pela
Villasante, 1996; Nufiez, 1995), sinaliza, desalienação do e no trabalho, mas
por um lado, uma materialidade de formas cidadãos 'participativos', não mais
de sobrevivência, organização e relações trabalhadores, mas colaboradores e
de trabalho diversas das formas adeptos ao consenso passivo e, na
dominantes e resultantes da exclusão do expressão de Antunes (1996: 10), a
mercado formal de trabalho e, de outro, o tomarem-se déspotas de si mesmos.
desafio de entender os processos de • Por fim, processos de educação
formação humana articulados a esta nova básica, formação técnico-profissional
realidade. e de qualificação de caráter
O eixo de análise acima esboçado e os democrático, assumem um sentido
trabalhos de pesquisa que desenvolvemos histórico efetivo, se articulados a uma
no Núcleo de Estudos, Documentação e nova visão de desenvolvimento e um
Dados sobre Trabalho-Educação novo sentido do trabalho, centrados
(NEDI)ATE), na Universidade Federal na cultura do limite do
Fluminense (Frigotto, Ciavatta Franco e desenvolvimento e orientados pela
15
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

perspectiva do valor de uso movimento conjuntural. O presentismo, o


(mediações de primeira ordem) da fato empírico imediato sem a mediação da
ciência, tecnologia e do processo análise e reflexão, o mecanicismo
produtivo. Não se trata, pois, apenas estrutural ou a fragmentação pós-moderna,
da tese hoje em voga particularmente constituem-se em barreiras ao olhar crítico
na Europa - trabalhar menos para que sobre a realidade.
todos trabalhem - mas de buscar um Apreender as mediações, no plano
novo sentido para o desenvolvimento econômico-social, cultural, simbólico e
e para o trabalho na perspectiva educativo, que articulam os interesses e as
assinalada por Mészáros em sua obra lutas da classe trabalhadora, é, sem
Para além do capital (1996). As dúvida, o desafio crucial do GT
propostas de educação básica e Trabalho-Educação da ANPEd. Os recortes
formação técnico-profissional, sob o temáticos tanto podem emergir da
ideário das habilidades e compreensão do núcleo contraditório das
competências para a formas que assume a relação
empregabilidade, requalificação e capital-trabalho no contexto da aceleração
reconversão, tal como postas hoje, de sua dinâmica global, como das formas
desvinculadas de uma proposta de organização do trabalho e processos
democrática e pública de educativos que emergem da organização
desenvolvimento que integre um dos excluídos deste processo. Talvez este
projeto econômico, político e cultural seja um dos aspectos a que o nosso GT
com uma clara geração de empregos tenha dado pouca atenção. Ai assumi
e renda, ou, para os que lutam por importância que tem *do o
relações sociais de novo tipo Movimento dos Sem-terra (MST) vem
(socialista), reduzem-se, despertando interesse de pesquisa de
dominantemente, a um invólucro de vários doutorandos e mestrandos, assim
caráter ideológico." como a configuração daquilo que vem se
Em decorrência da ciara incapacidade denominando de "economia popular",
orgânica do capital democratizar o imenso economia e estratégias de
avanço das forças produtivas e trabalho/sobrevivência. Trabalhar os limites
considerando, ao contrário, que a e virtualidades destas realidades postas
tendência do crescente monopólio privado pelo movimento histórico presente, nos
da ciência e tecnologia atrofiam-lhe sua diferentes movimentos sociais, parece-nos
virtualidade humanizadora, estes autores um desafio importante e necessário de ser
também mostram - na contracorrente - que enfrentado.
a alternativa do socialismo continua em É neste contexto que entendemos que
pauta e nunca se mostrou historicamente as escolhas teóricas não podem ser
tão necessária. Isto, todavia, para estes arbitrárias. Também, por isso, parece-nos
autores não significa nem que o fim do sustentável que as perspectivas teóricas
capitalismo está próximo e nem que a construídas no processo de compreensão
alternativa socialista está iminente. Mas, da forma capital de relações sociais, dentro
para todos, é evidente que, se a da tradição que vem de Marx e Engels, não
humanidade quiser evitar a barbárie e a obstante a crise efetiva que as assola,
destruição das condições materiais da vida constituam-se, não as únicas, mas, como
humana, a lógica do desenvolvimento de nos lembra Jameson, as que melhor nos
tipo fordista e pós-fordista, do passado e do podem ajudar a desvendar a forma que
presente, devem mudar. O último parágrafo assume o capitalismo (tardio) deste fim de
do livro A era dos extremos, de Hobsbawm, século e suas conseqüências devastadoras
parece-nos que sintetiza, em boa medida, o para o gênero humano.
inventário feito pelos autores que aqui
privilegiamos. Inscrever-se nesta matriz teórica e
Não sabemos para onde estamos indo. ontológica não significa, porém, per se,
Só sabemos que a história nos trouxe até uma condição suficiente para uma análise
este ponto e - se os leitores partilham da radical (a que vai à raiz das determinações
tese deste livro - por quê. Contudo, uma dos fenômenos históricos). Mas é, sem
coisa é clara. Se a humanidade quer ter dúvida, uma condição necessária. Abrir
um futuro reconhecível, não pode ser pelo mão, pura e simples, deste legado, por
prolongamento do passado ou do presente. seus erros, deficiências, limites e crises, é
Se tentarmos construir o terceiro milênio abandonar, para além de uma perspectiva
nessa base, vamos fracassar E o preço do epistemológica e ontológica, alternativas de
fracasso, ou seja, a alternativa para uma cunho ético-político de relações sociais que
mudança da sociedade, é a escuridão transcendam a forma capital. Esta é a
(Hobsbawm, 1995: 562). razão pela qual não podemos entender o
embate teórico como uma disputa de um
A sociedade global, como nos lembra campeonato de várzea ou uma copa
este autor em citação no início deste texto, mundial e, muito menos, como um jogo
150 anos mais tarde, oferece uma arrogante e personalista. Por certo, neste
materialidade de contradições que tornam sentido, a nota IV redigida por Gramsci, ao
o Manifesto Comunista de 1848 mais atual discutir 'Alguns pontos preliminares de
hoje do que quando Marx e Engels o referência" no livro Concepção dialética da
escreveram. O enfraquecimento das lutas história, continua plenamente válida.
da classe trabalhadora, visível neste fim de
século, não pode ser interpretado como
indicador de um equívoco sobre suas Criar uma nova cultura não significa
causas e, tampouco, como uma derrota apenas fazer individualmente descobertas
irreversível. A pesquisa se constituirá em "originais"; significa, também, e sobretudo,
força material, à medida que conseguir difundir criticamente verdades já
apreender as determinações de longo descobertas, "socializá- las" por assim
prazo e, portanto, de natureza estrutural dizer; transformá- las, portanto, em bases
das relações sociais e dos processos de ações vitais, em elemento de
educativos e suas imbricações no coordenação e de ordem intelectual e
15
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

moral. O fato de que uma multidão de algumas bandeiras colocadas frente a uma
homens seja conduzida a pensar trajetória de "melhoria", de
coerentemente e de maneira unitária a "desenvolvimento". As pessoas precisavam
realidade presente é um fato 'filosófico" ser não apenas atualizadas nos seus
bem mais importante e "original" do que a conhecimentos e habilitações profissionais,
descoberta por parte de um 'gênio mas também em suas atitudes pessoais,
filosófico" ' de uma verdade que de tal modo que se tornassem agentes
permaneça como patrimônio de pequenos efetivos de "desenvolvimento social".
grupos de intelectuais" (Gramsci, 1978: De um lado, esses programas
13-14). renovadores da educação popular partiam
da idéia de que era preciso "melhorar",
"modificar", "desenvolver", "reformar" ou
"modernizar" as estruturas sociais, ou pelo
EDUCAÇÃO E SUAS menos, a de alguns setores, os
RELAÇÕES SÓCIO- responsáveis pelos problemas sociais mais
graves ou mais evidentes. De outro lado,
ECONÔMICO-POLÍTICO- partiam da proposta de que "o povo", "as
comunidades" deveriam ser convocados a
CULTURAIS "ajudar", "colaborar", "participar"
"assumir" esse processo coletivo de
ou
modificações sociais.
EDUCAÇÃO POPULAR Algumas pessoas imaginam que os
programas de educação popular
diferenciam-se, uns dos outros, por
DA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL AO possuírem métodos diferentes sobre
FUNDAMENTAL DA EDUCAÇÃO objetivos sempre iguais. Mas são estes
objetivos que fazem as diferenças e, muitas
Carlos Rodrigues Brandão vezes, elas estão além da própria
educação; além da idéia de que o produto
final da prática pedagógica é o "homem
Universidade Estadual de Campinas educado". De um modo geral, três
perguntas poderiam ser feitas para se
O que pode parecer uma resenha alcançar as verdadeiras propostas de cada
histórica da educação popular no Brasil, programa: 1ª de que modo e em que
não o é. As anotações feitas a seguir dimensões devem ser realizadas as
reúnem práticas anteriores e atuais do mudanças na sociedade, com vistas ao seu
campo da educação popular; procuram desenvolvimento? 2ª de que modo e com
descrevê-las, tomando-as em conjunto; que alcance os grupos populares devem
procuram classificar alternativas de ser considerados como participantes do
trabalho educativo e, finalmente, procuram processo de mudanças sociais? 3ª de que
pensar sobre o significado da educação modo e até onde a educação popular deve
popular na sociedade brasileira de hoje. ser considerada como um instrumento de
formação de grupos de agentes para o
Antes mesmo de Segunda Grande processo de mudanças sociais?
Guerra apareceram no Brasil e em outros Entre os programas de educação
países da América Latina "programas de popular, alguns definiram os seus objetivos
educação" com características originais, de uma forma que começava pela crítica
frente a tudo o que se fazia anteriormente. direta do modo como os programas
Os seus sujeitos eram pessoas adultas, em anteriores respondiam às três perguntas
geral saídas das camadas mais pobres da acima. Foram e são estes os programas de
sociedade. Os seus educadores tinham por educação popular que realizaram, ou estão
objetivo modificá-los através dos efeitos da realizando, a passagem da teoria à prática
educação, procurando fazer com que que dá título a este artigo: Da Educação
recuperassem, como adultos, o que Fundamental ao Fundamental na
perderam na infância e na adolescência. Educação.
Essas atualizações individuais deveriam
corrigir deficiências de adaptação ao seu
meio social; melhorar habilitações para o 1. ALGUMAS IDÉIAS, PRA COMEÇO
trabalho, em síntese, ajustá-los para uma DE CONVERSA
sociedade "boa e justa", ainda que não
"inteiramente desenvolvida". Alguns dos a) Bases Políticas da Educação
defensores mais entusiasmados desses
programas de educação "para adultos
marginalizado, chegavam a acreditar que, A educação existe na história e nas
quando todos eles fossem alfabetizados e sociedades humanas. Não é anterior a ele
reciclados pela educação, os "males da e, em todos os sentidos, é uma construção
sociedade" seriam corrigidos. do homem. Ela existe concretamente na
Posteriormente surgiram programas de sociedade, faz parte de sua estrutura e de
educação popular vinculados de algum seus processos. É uma instituição social e,
modo a projetos de "Desenvolvimento de como programa formalizado, é parte do
Comunidades". A diferença estava em que aparato de que classes sociais ou grupos
agora a ênfase da educação era colocada de controle do poder político lançam mão
sobre a mudança do próprio "mundo" dos para realizar alguns dos seus interesses e
educandos: grupos, comunidades, regiões, objetivos políticos de domínio, ocultos sob
dentro de sociedades agora percebidas propostas de "democratização" através da
mais definidamente como "em mudança educação.
sócio-cultural e econômica". Os Em todas as sociedades é a educação
educadores chegaram à conclusão de que um dos mais efetivos instrumentos de
na própria estrutura de relações dessas controle social. Os seus conteúdos de
sociedades "subdesenvolvidas" havia efeito socializador em geral conduzem
15
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

mensagens que legitimam uma ordem No entanto, para pensar sobre as


social vigente. Isto significa que, ao ensinar diferenças de programas de educação
alguma coisa a algumas pessoas, a popular seria necessário passá-los por
educação ensina os termos de uma ordem indicadores que muitas vezes os próprios
social que deve ser reconhecida como educadores procuram esconder.
necessária e legítima, na mesma medida • A Conjuntura de surgimento do
em que ensina os conhecimentos e as Programa,
habilitações necessárias e legítimas para • A origem direta do Programa,
que as pessoas da sociedade preservem e
reproduzam com as suas idéias ("próprias", • Experiências-exemplo do Programa,
mas inculcadas pela educação), e com as • Grupo profissional responsável,
suas atitudes ("apreendidas", mas sob a • Localização do Programa + clientela
forma de controle exercido pela sociedade específica,
através da educação), a ordem econômica, • Objetivos declarados,
política e ideológica da sociedade.
Todo o processo educativo tem uma • Situações-instrumento,
dimensão cultural instrumentalizadora, por Objetivos políticos (em geral, não
onde responde às necessidades gerais da expressos em certos Programas),
pessoa e da sociedade. Esta é a dimensão • Compromissos de classe do Programa,
pela qual muitas vezes os educadores • Modalidades de participação popular,
definem a sua prática. Mas o processo • Elementos diferenciadores do
educativo recobre também uma dimensão Programa.
política, que aparece no discurso de
pessoas e de grupos que controlam a Seria muito exaustivo descrever cada
educação como a de um instrumento um dos indicadores propostos para uma
dirigido afinal ao bem e ao descrição mais ou menos tipológica de
desenvolvimento de toda a sociedade. programas passados e atuais de educação
Finalmente, a própria educação encobre, popular. Eles serão reunidos em alguns
através de sua prática oficial, os seus quadros, necessária e desgraçadamente
interesses políticos de classe: os interesses longos. Ali, com os exemplos tomados,
pelos quais os grupos ou classes que cada um deles poderá explicitar-se a si
controlam a educação dirigem a sua prática mesmo.
e os seus efeitos em uma ou em outra Uma primeira divisão de tipos de
direção. programas de educação popular poderia
Portanto, entre programas, deixar de um lado as formas anteriores
metodologias, conteúdos educacionais e mais tradicionais, e aquelas que
experiências didáticas, nada é gratuito e simplesmente estendiam aos adultos "a
nada é puramente "educacional" na recuperar" para o sistema, modos de uma
educação. Se a um nível ela parece educação dirigida a adolescentes nas
compor-se de modo a realizar um máximo escolas oficiais. Foram eles os programas
de benefícios a todas as pessoas e a todo que iniciaram no país as experiências de
o desenvolvimento social, em outro nível - "alfabetização de massas". Alguns deles
o que se esconde por sob as evidências do estão ainda em uso, e foram atualizados
primeiro e ao mesmo tempo as controla -os sobretudo nas esferas oficiais. Outros
conteúdos e a metodologia da educação desapareceram. De qualquer maneira,
reproduzem e fazem circular símbolos e chamo-os aqui de formas primitivas, e
valores dirigidos à realização de objetivos atribuo a eles nomes que nem sempre
sociais não declarados. foram os usados originalmente. Estas
formas não serão descritas aqui, e não
farão parte do esquema classificatório
reservado para os programas que, por
b) Os Indicadores de Diferenciação de outro lado, proponho ao leitor chamarmos
Programas de Educação Popular aqui de formas atuais (mesmo que algumas
já tenham desaparecido no Brasil). Estas
Que indicadores seria possível formas atuais de programas de educação
estabelecer para a classificação de popular são mais recentes, mais
programas de educação popular? Ora, especializadas e apareceram trazendo
quando estas classificações são feitas novos propósitos para os seus educandos
dentro dos quadros de referência da e para a sociedade.
educação dominante, os aspectos Procuraremos rascunhar uma primeira
considerados são todos de nível formal: a classificação:
estrutura do sistema educacional; a filosofia I - As formas primitivas
de educação a que se vincula o sistema; os A. Campanhas de alfabetização
objetivos da educação tomados sobre os 1 - as campanhas filantrópicas e
seus sujeitos, individualmente; a confessionais
justificativa psicopedagógica do conteúdo e
da metodologia; as alternativas de 2 - as campanhas de promoção oficial
atualização do sistema, de acordo com B. O ensino complementar de
variações de tecnologia ou de mercado de emergência
trabalho, etc. 3 - o primário supletivo e os cursos de
Educadores mais preocupados com a madureza
"função social da educação" poderiam 4 - os cursos burocráticos e os "ginásios
agregar outros indicadores: os critérios de de pobres"
resposta da educação a exigências C. Os cursos profissionalizantes
concretas do processo social; o seu
alcance de funcionalidade e de renovação 5 - a formação de mão-deobra operária
dentro de uma sociedade em mudança; a 6 - os cursos técnico-profissionalizantes
formação de agentes sociais capacitados II - As formas atuais
para promoverem desenvolvimento social D. A educação fundamental
ou, pelo menos, comunitário.
15
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

7 - os programas de instauração na de "desenvolvimento nacional" prometem


América Latina reformas de base capazes de conduzir a
8 - a educação fundamental no novos modelos de expansão econômica e
desenvolvimento comunitário de propiciar uma "redemocratização
9 - a educação fundamental no planejada" da sociedade. Prometem
desenvolvimento sócio-econômico também uma participação de grupos
populares em programas que extrapolam
E. A educação popular de muito as dimensões comunitárias.
10 - a educação de base A Educação Fundamental retoma então
11 - a Educação Popular uma gramática política, que deixara antes
Deixemos listados, mas sem qualquer dissolvida nas fórmulas ingênuas da
discussão, as "formas primitivas". Seria "educação comunitária". Algumas vezes,
importante analisá-las mais de perto; tende a tornar-se um instrumento de
porque algumas foram recentemente formação de uma "consciência nacional",
reatualizadas pelos sucessivos governos que pode chegar a resumir chamados de
autoritários do país e, mais hoje do que mobilização popular: a) em favor de
ontem, ameaçam de perto o povo. Dois iniciativas nacionais de desenvolvimento e
exemplos seriam o MOBRAL e o autonomia frente ao "imperialismo"; b) em
PROJETO MINERVA. Mas reconheçamos apoio de reformas de base que alteram
que não é o caso tratá-los aqui. Meu aparentemente as regras do equilíbrio entre
espaço é pouco e o seu tempo, leitor, deve setores de forças dominantes na
ser ainda menor. Passemos direto às sociedade; c) em favor de iniciativas de
formas atuais, mais atuantes e mais racionalização das atividades diretamente
próximas do que interessa discutir nas econômicas.
páginas seguintes. Nestes casos, a Educação Fundamental
tende a ser vista como uma agência
preparadora e viabilizadora de
A EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL NO comunicação entre grupos do governo e
DESENVOLVIMENTO grupos populares, atuando associada a
SÓCIO-ECONÔMICO grupos de classe, ou tentando assumir o
lugar deles. Uma aparente democratização
Os programas latino-americanos de popular condiciona uma propaganda
desenvolvimento sócio-econômico são ideológica de "consciência de participação"
montados sobre alguns conjuntos de política, muito mais acentuada do que nas
"reformas de base" e de modificações fases anteriores de desenvolvimento
econômicas limitadas. Por oposição às comunitário.
práticas pedagógicas da Educação Se os dois momentos anteriores da
Fundamental das fases anteriores, os Educação Fundamental pode ser definidos
programas nacionais ou regionais de através de uma orientação entre o
desenvolvimento sócio-econômico filantrópico e o promocional, quanto aos
obrigaram-na a: a) deslocar-se das "regiões usos do povo, este terceiro momento
mais carentes" e das "comunidades mais representa uma orientação tecnicista; cada
pobres", para as áreas estrategicamente momento deriva a sua força de uma fase
apontadas como "pólos e desenvolvimento" de expansão do capitalismo. Aqui, vagos
onde, algumas vezes, eram pensados critérios "sociais e humanos" de promoção,
projetos de mudanças supostamente são trocados por uma linguagem
radicais, sobre a estrutura das relações econômica de estratégia de mudanças
econômicas e sociais; b) redefinir-se como sociais, dentro' dos limites pelos quais a
um instrumento afinal mais adequado de sociedade capitalista pode renovar-se, sem
formação de quadros preparados, perder a ordem de suas relações
profissional e politicamente, para a determinantes.
produção das mudanças programadas; c) Ao descrever momentos da presença da
promover modificações de atitude sobre Educação Fundamental em nosso
bases mais econômicas do que “sociais", e continente, posso ter criado algumas idéias
mais políticas do que “comunitárias". erradas. A primeira seria a de que houve
Nestas circunstâncias a Educação uma passagem ordenada de um para o
Fundamental chega a um verdadeiro outro quando, na verdade, não são raros os
ponto-limite em alguns países do países em que formas representantes de
continente, porque em alguns programas cada momento subsistem juntas até hoje.
ela incorpora uma razoável dose de Em se gundo lugar, posso ter dado a idéia
propostas de transformação social e de de que os programas de educação popular
abertura para formas mais efetivas de atualizam formas puras, quando, a maior
organização popular. No entanto, fora parte deles combina - de acordo com o
casos nacionais absolutamente raros em momento da sociedade em que se insere -
que movimentos político-populares mais de uma delas. Finalmente, posso ter
transformaram de fato as regras das sugerido ao leitor um conjunto de modos de
relações sociais de produção e do poder, o atuação pedagógica desvestidos de sua
resultado destes programas de história e de seus exemplos. Esta é
desenvolvimento foi sempre o reforço do realmente uma falha bastante grande neste
controle e dos interesses dos grupos estudo.
dominantes. E uma aparente educação
apontada para a "participação" e a
liberdade acabava sendo um instrumento
de manobra do povo a mais. isto aconteceu
principalmente em lugares onde, a uma
A HISTÓRIA
aparente abertura político-governamental INSTITUCIONAL DA
em direção à "reforma" e à "participação
popular", alia-se uma pequena elite de ESCOLA PÚBLICA E
educadores de orientação modernizante.
As propostas decorrentes para o programa
15
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

própria cultura e levar a cabo o progresso


SEU COMPROMISSO econômico e social que lhes permita
SOCIAL ocupar o lugar que lhes corresponde na
vida moderna e viver em paz uns com os
outros" (UNESCO, 1949: 9).
Uma certa indefinição dos propósitos da
AS FORMAS ATUAIS DE Educação Fundamental deve-se à própria
EDUCAÇÃO POPULAR maneira como ela era concretamente
aplicada nos países onde foi criada: ora
como um instrumento de melhoria do nível
Os programas atuais de educação cultural; ora como um simples recurso de
popular no Brasil possuem características e ocupação criativa do tempo de lazer; ora,
origens diferentes das de todas as "forma ainda, como um instrumento de
primitivas". Muitas delas, é preciso que se recuperação de pessoas não
repita, estão vigentes e em franca escolarizadas, em sociedades que se
expansão. Fora aquelas que industrializam rapidamente.
consideraremos aqui como as primeiras Ao aparecer por aqui, a Educação
experiências renovadoras e efetivamente Fundamental tardaria algum tempo para
populares, os progra mas são ainda encontrar os seus objetivos mais definidos
importados, sobre tudo dos EUA. Mas as e, por isso mesmo, as suas primeiras
suas origens são ainda mais remotas. É propostas repetiam os objetivos de: "vida
possível estabelecer-se dois pólos de mais feliz", “desenvolvimento da cultura",
origem das formas atuais de educação "progresso econômico e social".
popular: um na área "anglo-saxônica"
(Inglaterra, EUA, Suécia e Dinamarca) e, Seria necessário submeter os programas
outro na área "francesa". de Educação Fundamental a uma análise
No Brasil os programas diferenciam-se mais profunda para compreender, desde a
em dois sentidos: sua fase de implantação, as razões de ela
apresentar-se indefinida em suas
1º) Ao longo da própria evolução de um definições e ineficaz em sua prática.
mesmo tipo original, como é o caso da Procuremos ver inicialmente o que a
Educação Fundamental, proposta e Educação Fundamental introduz no
patrocinada pela UNESCO; continente. Vejamos também porque, a um
2º) Através da combinação de duas ou dado momento, havia em um país como o
mais de duas formas originais, de que se Brasil: a) formas de educação com uma
obtém um programa adaptado, como é o orientação individualizante e com objetivos
caso da Educação de Base de vínculo claramente expostos (na propaganda dos
cristão, objeto de estudo na parte seguinte. cursos, por exemplo); b) formas de
educação com uma progressiva orientação
comunitária e com objetivos vagamente
explicitados.
a) A Educação Fundamental: Fase de Um tipo de programa de "educação e
Instauração na América Latina desenvolvimento" anterior aos de
Educação Fundamental iria estabelecer
Com os nomes de "Alfabetização alguns princípios de sua prática. Falo da
Funcional", "Educação de Adultos" e, mais Extensão Rural, prática pedagógica
tarde, "Educação Fundamental"`, têm sido especializada, de origem norte-americana,
identificados os programas de educação e que até hoje é amplamente disseminada
popular que mais se difundiram pelos em quase todo o país. De modo diferente
países da América Latina. Formas de ao dos programas das formas primitivas, a
Educação Fundamental foram adotadas Extensão Rural atua: a) com
pelos governos de várias nações e especialização mais restritiva de sua
acabaram se constituindo como programas clientela; b) com base em alternativas mais
ligados aos projetos educacionais da comunitárias de autoajuda, mesmo quando
UNESCO. os objetivos finais sejam estabelecidos, em
A origem destes programas está em última análise, sobre uma perspectiva de
países como a Inglaterra e a Dinamarca. melhoria individualizada; c) com vistas a
De lá, pelas mãos de educadores, técnicos, criar vagos grupos de organização
agentes de promoção social e missionários, comunitária; d) com o objetivo de fortalecer
eles foram levados aos EUA, onde as condições tecnológicas de produção de
ganharam aspectos e propósitos mais uma mesma classe: o produtor agrário
práticos e mais "comunitários". pequeno proprietário.
Em nosso continente a Educação Também a Educação Fundamental
Fundamental inicialmente enfatiza termos define a sua clientela. São homens e
vagos de "melhoria de vida" para as mulheres, jovens e adultos analfabetos ou
"populações mais carentes" das semi-alfabetizados, de preferência
comunidades mais pobres dos países mais provenientes das "camadas mais pobres
dependentes e subdesenvolvidos. das áreas mais carentes".
Os começos da Educação Fundamental, O reconhecimento da existência de
com programas iguais aos que ainda hoje problemas sócio-econômicos e da
são postos em prática, estão por volta dos necessidade de algumas mudanças na
anos 50, o que demonstra bem o seu ordem das relações sociais, parece dar um
surgimento tardio no continente. Em 1949 a sentido novo à função adaptadora da
própria UNESCO define essa primeira educação, de acordo como os promotores
etapa de Educação Fundamental para da Educação Fundamental. Tal como
sociedades como a nossa, designando-lhe estabelece a definição da UNESCO em
a responsabilidade de: "ajudar o homem e 1949, o problema da adaptação pessoal é
a mulher a conseguir uma vida mais feliz, previsto para uma situação de
ajustada às circunstâncias cambiantes para "circunstâncias cambiantes". Estas
desenvolver os melhores elementos de sua circunstâncias são o resultado de
15
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

alterações nas relações de produção e de As possibilidades ambíguas de


circulação de bens de mercado, trazidas às resultados sociais determina, para a
sociedades latino-americanas como Educação Fundamental em países da
decorrência de "processos naturais de América Latina, um compasso de
industrialização". Podem ser também o indefinição que oscila entre o amplo
conjunto de modificações reconhecidas alcance teórico das manifestações, e a
como necessárias para que haja, sobre a pobreza de resultados efetivos. Em seus
sociedade, um início de "desenvolvimento primeiros momentos a Educação
sócio-econômico", do qual a Fundamental, ou não é mais do que um
industrialização é apenas um fator. nome novo para programas de
Os programas de Educação alfabetização; ou segue os passos de
Fundamental partem de um conjunto de programas de Extensão Rural, associando
princípios inovadores, se comparados aos ao ensino das primeiras letras, o de
das formas primitivas: a) o foco sobre uma princípios de vida comunitária compatíveis
formação capaz de integrar o educando em com a versão mais idealizada e
processos comunitários de "melhoria de irreconhecível da sociedade que a
vida"; b) o reconhecimento de que os ideologia dominante pode produzir divulgar.
efeitos da educação devem ser medidos Somente quando começa a interessar
sobre resultados de algumas mudanças aos governantes um nível mais estrito de
sócio-econômicas. Mas, tanto em sua organização popular que, inclusive, se
teoria quanto nos seus efeitos concretos, a oponha a formas mais contestatórias da
Educação Fundamental sempre se ordem vigente (como as organizações de
caracterizou por uma indefinição de classe), é que a Educação Fundamental
processos e de propósitos. Vejamos aparece associada a programas nacionais
algumas razões. ou regionais de "Desenvolvimento de
As formas primitivas da educação Comunidades".
popular propunham encaminhamentos
diretos para os alunos dos seus cursos: b) A Educação Fundamental no
seja passar de um lado para o outro no Desenvolvimento Comunitário
quadro das estatísticas do analfabetismo
nacional; seja ocupar uma função mais
qualificada na fábrica ou na empresa, e Nas sociedades periféricas, onde são
subir um degrau "na escada do sucesso." dependentes e limitadas as alternativas de
Uma prática pedagógica rigorosamente desenvolvimento, ele costuma assumir
individualizada possibilitava um controle ideologicamente o modelo de uma
ideológico eficiente, porque compatível com "organização de povo e governo para a
os interesses diretos dos controladores do melhoria do nível social e cultural a partir
mercado do trabalho. Por outro lado, essas do esforço conjunto". As dimensões deste
formas de uma educação barata e propalado desenvolvimento vão aparecer
oferecida a curto prazo, preenchiam de de modos diferentes. São de um
modo razoável, as necessidades de grupos “desenvolvimento econômico"
dominantes, ao oferecer mão-de-obra aparentemente amplo e efetivo, onde há
melhor preparada sobre uma população possibilidades atuais de expansão
motivada, pela própria educação, a uma capitalista. São de um “desenvolvimento de
atitude individualizada de participação comunidades", nas áreas que não podem
social. experimentar de momento mais do que
Quando são importadas para o Brasil formas residuais de melhoria, sobre
experiências de Educação Fundamental, estruturas inalteradas de relações de
elas chegam trazidas de sociedades já trabalho e de poder.
industrializadas, francamente inseridas nas Nas suas primeiras experiências
sociedades centrais de fases avançadas do latino-americanas, o Desenvolvimento de
modo de produção capitalista. Por outro Comunidades aparece com o objetivo
lado, elas chegam de sociedades com explícito de integrar grupos marginais e
certas formas tradicionais de vida sobreviventes de indígenas, na
associativa comunitária, cujas estruturas comunidade nacional (México e Andes).
sociais de poder não só podem suportar Com o tempo, o processo é levado às
modalidades complexas de organização comunidades rurais e aos guetos urbanos,
popular e de classes, como também como proposta de melhoria de "nível de
chegam a estruturar o jogo político deste vida", através de ações conjuntas do tipo:
poder sobre as relações entre ele e estas governo + associações civis (onde a Igreja
organizações. Católica assume compromissos
No Brasil, na mesma medida em que importantes) + povo (comunidade local), de
aparecem como uma resposta acordo com o seguinte modelo:
aparentemente atualizada a problemas a+b=c
trazidos pelo "desenvolvimento", os a) Recursos institucionais financeiros,
programas de Educação Fundamental técnicos e humanos) oferecidos pelo
correm o risco de não responderem a dois governo, por entidades promocionais ou
interesses dos grupos de controle da por associações religiosas;
sociedade e dos seus setores de b) Povo comunitariamente organizado
educação: como grupos locais de ação e de
1º) não produzir práticas destinadas a representação, sob o prisma da auto-ajuda,
uma efetiva formação de mão-de obra; disposto a transformar parte da força de
2º) constituir instrumentos. de formação trabalho popular em trabalho gratuito para
associativa ou comunitária, menos melhorias materiais comunitárias;
agressivos do que as associações de c) Desenvolvimento local de setores do
classe (sindicatos, etc), mas "nível de vida" - habitação, vestimenta,
potencialmente ameaçadores da ordem alimentação, educação, saúde, etc +
vigente. desenvolvimento limitado da produção,
16
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

através de soluções corporativas de Em terceiro lugar, há uma proposta de


trabalho (cooperativas, etc). fornecimento de conhecimentos diretos
A Educação Fundamental integra-se em para a melhoria imediata de padrão de
programas comunitários de promoção. Em vida: economia doméstica, puericultura,
países como a Venezuela e o Peru, ela noções de saúde e higiene, técnicas de
será associada a programas nacionais de agricultura, etc. Ao lado deste tipo de
impacto, organização popular e ensino, muitas vezes são oferecidos
desenvolvimento. Ao redefinir-se em nome conhecimentos de capacitação específica
da "ação comunitária", ela se redefine para o trabalho produtivo, quase sempre
como um instrumento de promoção dentro dos limites da atividade agrária ou
humana e social. Os educadores tomam artesanal.
consciência de dois fatos aparentemente Finalmente, há propósitos e práticas
divergentes: a) uma educação dirigida à dirigidos à formação de líderes capazes de
promoção individual não conduz a estender o alcance da educação, desde o
resultados positivos, porquanto os interior de grupos comunitários,
problemas do homem são os problemas de multiplicando os seus efeitos em termos de
sua sociedade; b) como instrumento de mudanças locais.
desenvolvimento comunitário, a Educação
Fundamental não produz resultados em si
mesma. Sua presença só tem sentido se o
seu alcance e os seus objetivos forem
estabelecidos e mobilizados dentro de
EDUCAÇÃO
medidas prévias de desenvolvimento
social.
INCLUSIVA
Transportando para um plano de
comunidade o que existia na esfera do Alguns conceitos acerca da
indivíduo, nas "formas primitivas” pensando Integração
em termos de povo o que elas diziam em
palavras de pobre; traduzindo como
desenvolvimento comunitário o que elas Segundo Rosita Carvalho (1997):
chamavam de sucesso pessoal, a "a integração educativo- escolar diz
Educação Fundamental traz algumas respeito a um processo de educar - ensinar
novidades ideológicas que poderiam ser juntas, crianças ditas normais com crianças
resumidas da seguinte maneira: portadoras de deficiências, durante uma
a) a propaganda de pequenas mudanças parte, ou na totalidade do tempo de
sociais de nível local, apresentadas como a permanência na escola. Trata-se de um
própria base das soluções de problemas processo gradual e dinâmico, que assume
das comunidades pobres (problemas distintas formas, segundo as
caracterizados como "de nível de vida"); b) necessidades e características de cada
a mística da "auto-ajuda” ou do "esforço aluno, considerando seu contexto
comunitário", como condição necessária sócio-econômico."
para a realização local das mudanças Consta na Política Nacional de
exigidas; c) o chamado dirigido às classes Educação Especial (1994) que:
populares para uma participação "A integração é um processo dinâmico
não-individualizada X não-classista, em um de participação das pessoas num contexto
espaço novo de compromisso comunitário; relacional, legitimando sua interação nos
d) o foco sobre o "fator humano" no grupos sociais. A integração implica em
desenvolvimento local (descoberta de reciprocidade sob o enfoque escolar. É
líderes, treinamentos de capacitação); e) o processo gradual e dinâmico que pode
deslocamento da realização individualizada tomar distintas formas de acordo com as
na sociedade para a realização pessoal na necessidades e habilidades dos alunos."
comunidade. Maselli e DiPasquale (1997), lembram
Em termos de programa, a Educação que
Fundamental atrelada ao desenvolvimento “não é suficiente que uma criança
comunitário traz também novos projetos. portadora de deficiência possa freqüentar a
Em primeiro lugar, a mudança de atitudes escola de todos, para que se encaminhe e
pessoais, com a passagem de um se realize um processo de integração. A
individualismo "tradicional” acompanhado Integração é o compromisso de produzir
de apatia e desesperança, para uma cultura, de compreender capacidades
conduta dirigida ao compromisso grupal, expressivas que não tinham sido previstas
com atributos de participação e elaborar planos de trabalhos passíveis de
entusiasmada, renovação e esperança. De avaliação. A Integração é cansativa e difícil
modo bastante diferente da linguagem dos e precisa de instrumentos
programas primitivos de educação dirigida técnico- didáticos, mas não pode ser
ao povo, os da Educação Fundamental resumida a esses, porque o aspecto
começam a falar em: "compreensão e cultural que ela implica é substancial. A
favorecimento da evolução social", Integração não é uma dificuldade que
“envolvimento pessoal", “novas formas de atrapalha, mas um compromisso difícil que
cultura", "conscientização de propicia uma das raras oportunidades de
responsabilidades sociais", "tolerância", crescimento cultural e profissional da
"instrumentalização para uma vida cívica", escola."
"atualização do tempo de lazer.
Em segundo lugar, a Educação Sobre a Inclusão
Fundamental atualiza a instrumentalização
de "agentes sociais" para a "mudança". É Montoan (1998) aponta que:
aí, por exemplo, que a alfabetização “a Inclusão causa uma mudança de
funcional reaparece revestida de nova perspectiva educaciona4 pois não se limita
posição e nova importância. a ajudar somente os alunos que
apresentam dificuldades na escola, mas
16
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

apóia a todos: professores, alunos, pessoal serem atribuídos à concepção de uma


administrativo, para que obtenham sucesso Escola Cidadã.
na corrente educativa geral (...) "nesse Já a pesquisadora Leny Mrech (1997)
sentido “o vocábulo integração é sintetiza educação inclusiva da seguinte
abandonado, uma vez que o objetivo é maneira:
incluir um aluno ou um grupo de alunos "Por Educação Inclusiva se entende o
que já foram anteriormente excluídos; a processo de inclusão dos portadores de
meta primordial da inclusão é a de não necessidades educativas especiais ou de
deixar ninguém no exterior do ensino distúrbios de aprendizagem na rede
regular, desde o começo. As escolas comum de ensino em todos os seus graus,
inclusivas propõem um modo de se da pré- escola ao quarto grau".
constituir o sistema educacional que
considera as necessidades de todos os
alunos e que é estruturado em função Principais itens do conceito de
dessas necessidades.” Inclusão:
Ainda sobre a Inclusão, o Center for a) Atender aos estudantes portadores
Studies on Inclusive Education - CSIE de necessidades especiais na
(Inglaterra), define que: “Inclusão significa vizinhança da sua residência.
permitir a participação na vida, no trabalho b) Propiciar a ampliação do acesso
e nas instituições de modo geral ao melhor destes alunos às classes comuns.
de suas potencialidades e suas c) Perceber que as crianças podem
necessidades. "A inclusão, para ser efetiva, aprender juntas, embora tendo
propõe uma adaptação e uma aproximação objetivos e processos diferentes.
no ensino regular através do:
• currículo, d) Levar os professores a estabelecer
formas criativas de atuação com as
• apoio pedagógico, crianças portadoras de deficiência.
• constituição de mecanismos e e) Propiciar um atendimento integrado
ambientes construídos. ao professor de classe comum.

Uma Educação inclusiva é um assunto A mesma autora pondera que o


de propriedade humana. O processo de conceito de Inclusão não é:
inclusão pode ser apoiado a) Levar crianças às classes comuns
• por uma mudança de atitude, sem o acompanhamento do professor
especializado.
• pondo em prática um compromisso b) Ignorar as necessidades específicas
declarado pelos princípios de educação da criança.
inclusiva e comunidades, c) Fazer as crianças seguirem um
• reduzindo - não aumentando - a processo único de desenvolvimento ao
proporção de crianças indicadas para mesmo tempo e para todas as idades.
educação escolar especial, d) Extinguir o atendimento de educação
• re-alocando o setor segregado e especial antes do tempo.
estendendo os recursos (dinheiro, e) Esperar que os professores de classe
equipamentos, etc.) e avaliação regular ensinem portadoras de
(pessoal pedagógico e não pedagógico) necessidades especiais sem um suporte
para o mainstream, técnico.
• adaptando e treinando em, serviço Portanto, a Inclusão prevê um suporte
professores e apoiando lideranças e contínuo da Educação Especial.
governos nestas mudanças, escutando
os pontos-de-vista das pessoas Os Princípios
portadoras de deficiências na
experiência delas com a educação
especial, Os princípios da Declaração de
• entendendo que as maiores barreiras Salamanca têm representado uma grande
para inclusão são causadas pela fonte diretriz da Escola Inclusiva. Na
sociedade, não através da conferência Mundial de Educação Especial,
medicalização da deficiência, representando 88 governos e 25
• rejeitando o modelo médico de organizações internacionais em
Salamanca, Espanha, entre 7 a 10 de
inaptidão e respondendo positivamente junho de 1994, é adotado como documento
ao modelo social. norteador das Nações Unidas A
Declaração de Salamanca: Sobre
Os benefícios da educação inclusiva Princípios, Política e Prática em
alcançam a todos que vivenciam este Educação Especial.
processo. A segregação restringe nossa
compreensão ao outro; familiaridade e Selecionamos alguns dos princípios
tolerância reduz medo e rejeição. A convergentes com a proposta da Escola
educação inclusiva contribui para uma Cidadã:
maior igualdade de oportunidade a todos "A tendência em política social durante
os membros da sociedade. as duas últimas décadas tem sido a de
Os benefícios também incluem relações promover integração e participação e de
e criatividade que não eram possíveis no combater a exclusão. Inclusão e
passado. participação são essenciais à dignidade
O CSIE, como um dos principais centros humana e ao desfrutamento e exercício
de pesquisa em educação inclusiva do dos direitos humanos. Dentro do campo da
mundo apresenta no seu corolário acima, educação, isto se reflete no
vários elementos que podem perfeitamente desenvolvimento de estratégias que
16
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

procuram promover a genuína equalização As regras devem contemplar


de oportunidades” liberdade de expressão, flexibilidade, não
(Princípio 6 da Declaração de cristalização, respeito as diferenças e ao
Salamanca). bem comum, compreensão, tolerância e
"Princípio fundamental da Escola solidariedade, qualificando as relações
Inclusiva é o de que todas as crianças através da responsabilidade, honestidade
devem aprender juntas, sempre que às críticas, solidariedade, transparência e
possível, independentemente de quaisquer diálogo. (Princípio 80)
dificuldades ou diferenças que elas
possam ter. Escolas Inclusivas devem Abaixo alguns princípios da Declaração
reconhecer e responder às necessidades de Salamanca que tornaram-se ações na
diversas de seus alunos, acomodando Escola Cidadã, evidenciando a estreita
ambos os estilos e ritmos de aprendizagem relação filosófica entre as duas cartas e
e assegurando uma educação de seus posicionamentos na perspectiva de
qualidade a todos através de um currículo direitos e igualdades:
apropriado, arranjos organizacionais, “Dentro das Escolas Inclusivas,
estratégias de ensino, uso de recursos e crianças com Necessidades Educativas
parceria com a comunidade. Na verdade, Especiais deveriam receber qualquer
deveria existir uma continuidade de suporte extra requerido para assegurar
serviços de apoio proporcionais ao uma educação efetiva. Educação Inclusiva
continuum de necessidades especiais é modo mais eficaz Para a construção de
encontradas dentro da escola" (Princípio 7 solidariedade entre crianças com
da Declaração de Salamanca). Necessidades Educativas Especiais e seus
A construção da Escola Cidadã gerou colegas". (Princípio 8 da Declaração de
um amplo debate com a comunidade Salamanca)
escolar sobre a escola que temos e a
escola que queremos, pautada nos eixos: Esse foi o entendimento que a Escola
Currículo e Conhecimento, Gestão Cidadã demonstrou ao iniciar sua Política
Democrática, Avaliação Emancipatória e de Integração, dando suporte às escolas
Princípios de Convivência, culminando na regulares, constituindo um serviço
Constituinte Escolar, onde está assegurado pedagógico de apoio ao aluno e à escola. A
a integração e as várias definições de Sala de Integração e Recursos procura não
políticas aos alunos com Necessidades só oferecer o suporte, mas criar um
Educativas Especiais. Lembramos que a engendramento de cultura e confiança às
Constituinte é a fonte diretriz para os escolas da rede.
regimentos (estrutura, funcionamento e
filosofia) de todas as escolas da Rede "Existem milhões de adultos com
Municipal de Ensino de Porto Alegre. deficiências e sem acesso sequer aos
"Estamos construindo a escola rudimentos de uma educação básica,
democrática, que garante a aprendizagem principalmente nas regiões em
para todos, aberta à participação da desenvolvimento no mundo, justamente
comunidade e por isso fecundada pelos porque no passado uma quantidade
movimentos sociais”. relativamente pequena de crianças com
deficiências obteve acesso à educação.
(Azevedo,1997). Portanto, um esforço concentrado é
Selecionamos os seguintes princípios da requerido no sentido de promover a
Escola Cidadã: alfabetização e o aprendizado da
Interdisciplinaridade como proposta matemática e de educação de adultos.
de trabalho do professor, gerando uma Também é importante que se reconheça
ação pedagógica onde as disciplinas não que mulheres têm freqüentemente sido
apenas somem seus esforços, e sim duplamente desvantajadas, com
trabalhem para a construção de conceitos - preconceitos sexuais, compondo as
conteúdos como meio e não como fim. dificuldades causadas pelas suas
(Princípio 30). deficiências. Mulheres e homens deveriam
Educação e Trabalho contempladas possuir a mesma influência no
enquanto dimensões para vida, poder, delineamento de programas educacionais
formação, forças de trabalho, cidadania, e as mesmas oportunidades de se
realização pessoal, valorização do ser beneficiarem de tais; esforços especiais
humano (Princípio 30). deveriam ser feitos no sentido de se
encorajar a participação de meninas e
Um currículo que acolha a mulheres com deficiências, em programas
diversidade, que explicite e trabalhe estas educacionais”.
diferenças, garantindo a todos o seu lugar (Princípio 8 da Declaração de
e a valorização de suas especificidades, ao Salamanca)
mesmo tempo em que aproveita o contato
com essas diferenças para questionar o A Escola Cidadã conta com o Serviço de
seu próprio modo de ser. (Princípio 37) Educação de jovens e Adultos - SEJA. E
Criação e integração das diferentes este vem oportunizando a integração de
modalidades de ensino, garantindo jovens e adultos com Necessidades
estruturas adequadas a sujeitos com Educativas Especiais em suas turmas.
necessidades específicas, atendendo as Reconhecer este trabalho é reconhecer a
peculiaridades escolares. (Princípio 43) identidade do aluno com deficiência como
jovem ou adulto, e não mais recebendo a
Legitimação do processo de escolarização com alunos de idade infantil.
construção de conhecimentos dos alunos Nesta mesma modalidade de ensino,
das Escolas Especiais e Infantis - criação também encontramos turmas de jovens e
de instrumentos legais que reconheçam os adultos surdos.
avanços. (Princípio 45) A respeito da condição feminina que o
Na avaliação do aluno, ele é princípio coloca, é assegurada sua
parâmetro de si mesmo. (Princípio 58)
16
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

discussão através da Comissão de Gênero, A educação escolar deve exercitar a


Etnia e Religiosidade GER. democracia e a cidadania, enquanto direito
"Um currículo que acolha a social, através da apropriação e produção
diversidade, que explicite e trabalhe estas dos conhecimentos. Para tanto, faz-se
diferenças garantindo a todos o seu lugar e necessária a busca de uma sociedade
a valorização de suas especificidades, ao isenta de seletividade e discriminação,
mesmo tempo em que aproveita o contato libertadora, crítica, reflexiva e dinâmica,
com essas diferenças para o seu próprio onde homens e mulheres sejam sujeitos de
modo de ser". (Princípio 37) sua própria história.
"Medidas Legislativas paralelas e
complementares deveriam ser adotadas Parte-se, portanto, do pressuposto de
nos campos da saúde, bem- estar social, que o homem
treinamento vocacional e trabalho no
sentido de promover apoio e gerar total ...é efetivamente cidadão, se pode
eficácia à legislação educacional". efetivamente usufruir dos bens materiais
(Princípio 15 da Declaração de Salamanca) necessários para a sustentação da sua
Há importante caminho a percorrer existência física, dos bens simbólicos
nestes campos. Mesmo assim, algumas necessários para a sustentação de sua
experiências podem ser salientadas, como existência subjetiva e dos bens políticos
exemplo, o Programa de Trabalho necessários para a sustentação de sua
Educativo, que oportuniza aos jovens das existência social (SEVERINO, 1994, p. 98).
escolas especiais vivências de trabalho em
repartições públicas municipais.
"(...) A Declaração Mundial sobre Neste sentido, ser cidadão implica em
Educação para Todos enfatizou a participar e apropriar-se das condições
necessidade de uma abordagem centrada materiais, sociais e culturais onde as
na criança objetivando a garantia de, uma relações (de poder) sejam democráticas,
escolarização bem- sucedidas para todas com igualdade de oportunidades, pois a
as crianças. A adoção de sistemas mais democracia é aquela característica de uma
flexíveis e adaptativos, capazes de mais sociedade que garante à totalidade de
largamente levar em consideração as seus membros essas condições
diferentes necessidades das crianças irá (SEVERINO, 1994, p. 64).
contribuir tanto para o sucesso educacional
quanto para a inclusão". (Princípio 25 da Contudo, a escola por si só não forma
Declaração de Salamanca) cidadãos, mas pode preparar,
"A aquisição de conhecimento não é instrumentalizar e proporcionar condições
somente uma questão de instrução formal para que seus alunos possam se firmar e
e teórica. O conteúdo da educação deveria construir sua cidadania. Ela é uma
ser voltado a padrões superiores e às instituição que sofre a influência de, e
necessidades dos indivíduos com o influencia aquilo que acontece ao seu
objetivo de torná-los aptos a participar redor. Portanto. não é neutra. mas
totalmente no desenvolvimento. O ensino resultante da totalidade de atos, ações,
deveria ser relacionado às experiências valores e princípios da realidade histórica
dos alunos e às preocupações práticas no que interfere nos seus procedimentos.
sentido de melhor motivá-los". (Princípio 28
da Declaração de Salamanca) Nesta perspectiva, a escola deverá
buscar sua autonomia e competência como
Na Escola Cidadã, está explícito o espaço de decisão que trabalhe na direção
acesso ao conhecimento, sua construção e de
recriação permanente, envolvendo a
realidade dos alunos, suas experiências, ... que as crianças e os jovens
saberes e culturas, estabelecendo uma aprendam, diminua a repetência e aumente
constante relação entre teoria e prática: a permanência (...). Que a passagem por
ela resulte na apropriação de
“(...) Respeitar a caminhada de cada conhecimentos e habilidades significativas
sujeito de um determinado grupo é uma para não só participar da sociedade, mas
aprendizagem necessária e fundamental principalmente, ser atuante e determinante
na vivência interdisciplinar, sendo no processo de transformação (SANTA
necessário eliminar as barreiras para o CATARINA, 1991, p. 11).
estabelecimento de uma relação dialógica” Ao dizer "que as crianças e os jovens
(Caderno Ped. 9 Ciclos de Formação aprendam," entende-se que aprender não
Proposta Político-Pedagógica da Escola significa memorizar. A aprendizagem é
Cidadã pág.35,36). compreendida, na perspectiva
histórico-cultural, como um processo de
experiência partilhada, de comunhão de
situações, de diálogo, de colaboração. O
FUNÇÃO DA ESCOLA: aprendizado é um processo de trocas,
portanto, social (sujeito-sujeito-objeto).
O SABER POPULAR, O
CONHECIMENTO Diminuir a repetência e aumentar a
CIENTÍFICO E OS permanência implica na revisão da
avaliação que se processa na escola. A
CONTEÚDOS avaliação deve diagnosticar os avanços e
entraves do processo, para intervir,
ESCOLARES. problematizar, interferir e redefinir os
caminhos a serem percorridos.

16
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

A exigência da sociedade frente aos A melhoria da qualidade que buscamos


avanços tecnológicos e as transformações e a forma como pretendemos nos organizar
econômicas e culturais colocam cada vez para alcançá-la, aponta para a necessidade
mais a necessidade de a escola voltar-se de superar a fragmentação que existe no
para a produção do conhecimento na processo educacional, com o objetivo de
construção dos bens sociais, culturais e possibilitar uma melhor qualidade de vida e
materiais para o exercício da cidadania, convivência social, com valores e fins
exigindo dos educadores uma postura eticamente desejáveis e necessários para a
crítica frente a esta realidade. construção do processo de humanização.
Uma escola pública de qualidade As recentes discussões políticas
enfatizando a proposta da "nova direita",
Alguns termos assumem, em aliança do neoliberalismo (econômico) e
determinadas épocas, lugar de destaque. É neoconservadorismo (moral), colocam a
o que tem acontecido nos últimos anos educação e o currículo como centrais para
com a palavra "qualidade". Os vários a reestruturação da sociedade a partir de
significados que esta assume, conforme o critérios baseados no funcionamento do
contexto em que se encontra, torna mercado e encaram a qualidade em
necessária a reflexão e a discussão da educação a partir de uma ótica econômica,
mesma para o contexto educacional. pragmática, gerencial e administrativa, em
favor de uma elite minoritária.
A Proposta Curricular do Estado de Alterar a ordem curricular existente é
Santa Catarina (Documento/91, p. 11) uma tarefa essencialmente política e para
aponta para a impossibilidade de se falar tanto é necessário desnaturalizá-la e
em qualidade de ensino em si mesma, historicizá-la sem perder de vista a sua
entendendo-se que esta é resultado de estreita vinculação com a ideologia, a
tudo que se faz, multideterminada em sua cultura e as relações de poder. Identificar e
gênese histórica e relativa na sua analisar esses elementos no currículo pode
dinâmica. significar a diferença entre mais ou menos
exclusão; maior, pouca ou nenhuma
Tal entendimento contrapõe-se à discriminação, uma vez que abre
concepção de qualidade que atualmente possibilidades de modificar relações que
vem sendo corporificada na qualidade total, tendem a excluir certos saberes e grupos
numa perspectiva inapelavelmente sociais.
particular, interessada e políticamente
enviesada (SILVA, 1996, p. 121), porque CURRÍCULO
introduz mecanismos de controle e
regulação própria da esfera de produção,
com o objetivo de produzir resultados Currículo, grade curricular, disciplinas,
educacionais mais adequados às conteúdos, conhecimentos... Na escola,
demandas e especificidades empresariais. inúmeras expressões (e também ações)
fazem de tal forma parte do cotidiano que
Historicamente , as reformas são consideradas "naturais", ou seja,
educacionais voltam-se para o atendimento raramente objeto de estudo e reflexão nos
de interesses de políticas econômicas seus aspectos históricos e conceituais.
internacionais, adotando medidas de
controle, gerando o enfraquecimento No entanto, para que se compreendam
acerca da discussão da importância do as atuais discussões em torno do currículo,
trabalho dos educadores. esta reflexão torna-se imprescindível e
assume importância vital para o coletivo
Face ao exposto, um novo e dos educadores.
fundamental desafio se coloca aos
educadores para que estes Um pouco de história
... se dediquem não apenas a uma De acordo com SAVIANI (1993) e
crítica dos pressupostos dessa visão de GOODSON (1995), as origens do emprego
qualidade, mas que sobretudo reafirmem e do termo "currículo" vinculado a assuntos
renovem seu compromisso com noções de educacionais surge no contexto da reforma
qualidade que estejam relacionadas com protestante do final do século XVI.
considerações sobre o poder, sobre Possívelmente teria sido empregado em
distribuição desigual de recursos e sobre 1582, nas escriturações da Universidade
processo de dominação e subjugação É de Leiden, Holanda. Porém, segundo o
preciso que se aprofunde a discussão Oxford English Dictionary, o primeiro
sobre uma noção de qualidade que seja registro é o de um atestado de graduação
política e não técnica, sociológica e não outorgado, em 1663, a um mestre da
gerencial, critica e não pragmática (SILVA, Universidade de Glasgow, Escócia.
1996:121).
O termo latino curriculum significa
Desta forma, referimo-nos aqui a movimento progressivo ou carreira e é
qualidade na escola como aspecto adotado para indicar uma unidade dos
essencial para o efetivo cumprimento de estudos a serem seguidos e concluídos
sua função social, em oposição à GOODSON (1995) indica, ainda, que a
abordagem de qualidade veiculada pelos palavra "currículo" vem do termo latino
sistemas de produção capitalista. "scurrere" (correr) e refere-se a curso. O
currículo é definido como um percurso a
ser seguido.
16
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

currículos declarados e "ocultos" e a


Em 1918, o livro The Curriculum, escrito enfatizar as contradições, resistências e
por Franklin BOBBITT (apud GOODSON, lutas que ocorrem no processo escolar.
1995), configura o currículo como uma
nova área de especialização do Assim, segundo MOREIRA & SILVA
pensamento pedagógico. O currículo é (1995, p. 7-8)
conceituado, a partir de então, como a
série de experiências que as crianças e
jovens deveriam viver para alcançar os ... o currículo não é um elemento
objetivos educacionais. inocente e neutro de transmissão
desinteressada do conhecimento social. O
currículo está implicado em relações de
Outro grande marco, no Brasil, é a poder, o currículo transmite visões sociais
publicação do livro Princípios Básicos de particulares e interessadas, o currículo
Currículo e Ensino, escrito em 1949, por produz identidades individuais e sociais
Ralph TYLER (apud GOODSON, 1995), particulares. O currículo não é um
que trata de quatro temas básicos: como elemento transcendente e atemporal - ele
selecionar os objetivos, como selecionar as tem uma história, vinculada a formas
experiências de aprendizagem, como especificas e contingentes de organização
organizar estas experiências e como da sociedade e da educação.
avaliar sua eficácia.
O currículo, marcado pela seletividade, é
HAMILTON (apud SAVIANI, 1993) sempre uma opção feita sob determinados
constata que o emprego do termo na critérios e concepções. Enquanto
educação escolar associa-se, desde o representação "oficial" de conhecimentos
início, às idéias de unidade, ordem e considerados válidos e legítimos, expressa
seqüência de um curso, num clima os interesses dos grupos e classes em
marcado por imprimir rigor à organização vantagem, nas relações de poder, que se
do ensino, implicando também nas manifestam pelas divisões dos grupos
exigências de formalização, que envolvem sociais em termos de classe, etnia, gênero,
plano, método e controle. etc. Essas divisões constituem tanto a
origem quanto o resultado destas relações.
Segundo FORQUIN (1993), o currículo é
entendido não somente como prescrição Então, o conhecimento, corporificado
(percurso educacional, programa de como currículo, não pode ser visto de modo
atividades, organização da escola, ingênuo e não problemático, mas deve ser
condução da aprendizagem), mas também analisado em sua constituição social e
como idéias ligadas à execução, indicando histórica.
aquilo que objetivamente acontece ao
aluno como resultado da escolarização
enquanto experiência vivida. Cabe à escola, portanto, preocupar-se
com o conhecimento a ser trabalhado, pois
através do currículo são legitimadas formas
Embora sejam muitas as discussões em de organização da sociedade,
torno das concepções de currículo no estabelecendo o que é válido e o que não
decorrer da história, a compreensão mais é, o que é certo e o que é errado, o que é
freqüente deste é a de um rol de matérias e moral ou imoral, o que é bom ou mau etc.
respectivos programas. Exemplo disso nos
dá Enciclopédia Mirador que define
currículo como "um conjunto de disciplinas Desta forma, a reflexão sobre que
e atividades, organizado com o objetivo de conhecimentos estão incluídos e quais
possibilitar que seja alcançada uma meta estão excluídos do currículo, que grupos
proposta e fixada em função de um sociais e de que forma estão sendo
planejamento educativo" incluídos ou excluídos e,
conseqüentemente, que divisões sociais
estão sendo produzidas ou reforçadas no
Discussões atuais interior do currículo, nos leva a um
posicionamento critico com relação à
As discussões atuais sobre currículo têm cultura curricularizada.
tomado outras dimensões, na medida em
que cresce a consciência de que a escola é Currículo e cultura: algumas reflexões
uma instituição que está histórica e
socialmente organizada com o objetivo de
produzir uma determinada identidade A cultura apresenta-se ligada de forma
individual e social, conforme têm direta às questões educacionais,
demonstrado as atuais pesquisas da principalmente quando buscamos
sociologia da educação. O currículo explicações para determinados problemas
constitui-se, portanto, como o núcleo do que permeiam a educação no Brasil, como
processo institucionalizado de Educação é o caso do fracasso escolar. Para que
(SILVA, 1995). possamos compreender tais questões, é
necessário estabelecer paradigmas
teóricos mais ampliados que possibilitem a
Iniciada nos anos 70, pela insatisfação compreensão destas questões, sem omitir
de um grupo de educadores em relação às a questão cultural. Só com um novo olhar
tendências tecnicistas prevalentes no cultural será possível uma melhor
campo do currículo, a reconceitualização compreensão do fazer socializador da
assume um caráter político nos processos escola em seu cotidiano.
de fazer e pensar os currículos. Essas
análises passam a centralizar as formas de
seleção, organização e distribuição do O currículo escolar, pelo fato de
conhecimento escolar através dos constituir-se numa seleção particular da
16
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

cultura geral de uma sociedade, implicando por sujeitos que fizeram escolhas, que
esta seleção numa organização também expressam interesses, valores, formas de
especifica, faz-nos avançar no sentido da pensar, é necessário retomar estas
compreensão da cultura escolar como uma reflexões no cotidiano escolar para que de
reconstrução da cultura, feita em razão das fato possamos nos tornar sujeitos no
próprias condições nas quais a processo educacional.
escolarização reflete suas pautas de
comportamento, pensamento e EDUCAÇÃO
organização. Por esta razão, ao falar de
cultura e currículo na escolarização, é
preciso estabelecer não apenas as E EDUCAÇÃO tem um papel central a
relações entre ambos os termos, desempenhar, como pilar dos instrumentos
considerando que a cultura diz respeito a para a transformação cultural, econômica,
conteúdos, processos ou tendências social e política de São José.
externas à escola e o currículo a conteúdos
e processos internos. Tentando explicar o A escola revitalizada, será um ambiente
que ocorre neste último como dinâmico e aberto onde todos poderão
conseqüência do que se trama na cultura interagir de forma democrática.
exterior; é preciso também explicitar os
códigos e mecanismos tipicamente
escolares pelos quais a "cultura Queremos uma escola que seja uma
curricularizada" passa a ser artefato verdadeira oficina do conhecimento e um
especial com significado próprio, embora centro de irradiação do desenvolvimento.
relacionada com o que ocorre no pano de
fundo externo (SACRISTÁN, 1995). Criando um ambiente onde alunos,
educadores e funcionários tenham prazer
A escola, por se constituir em um dos de estar, facilitaremos o esforço comum
espaços sócio-culturais importantes para a para serem empreendidas medidas para a
legitimação dos conhecimentos, melhoria da qualidade do ensino.
comportamentos e ideais de uma
sociedade - ou ao menos dos grupos Uma experiência educacional de
sociais que possuem parcelas decisivas de qualidade da aos alunos melhores chances
poder na cultura escolar são facilmente de desenvolvimento pessoal e profissional
encontrados determinados conteúdos e para participar num mundo que esta se
formas culturais destes grupos sociais em tornando cada vez mais competitivo e
disciplinas, temas, atividades, atitudes e seletivo.
comportamentos desenvolvidos nas
escolas. Como também são facilmente
identificáveis as ausências e os METAS PARA A EDUCAÇÃO
silenciamentos, ou seja, tudo que a escola
desconhece, desvaloriza e nega. Não deixar nenhuma CRIANÇA sem
ESCOLA;
Na relação entre cultura e currículo, não
podemos nos ater à cultura escolarizada Primar pela QUALIDADE DA
apenas como manifestações de práticas EDUCAÇÃO, investindo no PROFESSOR
culturais, econômicas e políticas oriundas e dotando as escolas de modernas
das estruturas externas à escola, mas técnicas pedagógicas;
entendê-la também como expressão de
comportamentos que se engendram na
própria instituição escolar e no próprio Abrir cursos de educação de adultos
exercício profissional dos docentes. Assim, para aqueles que não tiverem oportunidade
a cultura escolar constitui-se num de estudar em idade própria, diminuindo o
amálgama de vertentes externas e internas analfabetismo;
à escola.
Abrir um colégio municipal de primeiro e
Nesta perspectiva, enfocar a escola segundo graus em Barreiros, nas
como espaço sócio-cultural significa dependências do Instituto São José, já
adquirido pela PREFEITURA;
... compreendê- la na ótica da cultura,
sob o olhar mais denso, que leva em conta Construir uma ESCOLA PROFISSIONAL
a dimensão do dinamismo, do fazer- se no Bairro Bela Vista, em Barreiros,
cotidiano, levado a efeito por homens e oportunizando a aprendizagem de
mulheres históricos, presentes na história, pequenos ofícios a Comunidade;
atores na história. Falar da escola como
espaço sócio- cultural implica, assim, Construir e ampliar ESCOLAS de acordo
resgatar o papel dos sujeitos na trama com as necessidades de matrículas;
social que a constitui, enquanto instituição.
(Dayrell, 1996)
Criar uma ESCOLA para os portadores
Se, então, currículo implica em de deficiência auditiva, oportunizando-Ihes
expressão de interesses, na maior parte a comunicação pelo menos através da
das vezes conflituosos e difíceis, e se, linguagem das mãos;
historicamente, temos vivido um currículo
que foi sendo determinado em função de Adequar a educação municipal às
uma organização disciplinar (distribuição de diretrizes da educação nacional;
tempos, espaços, materiais etc) sendo
naturalizado na escola e, com isso, Dotar as ESCOLAS com recursos
perdendo a dimensão de ter sido produzido orçamentários para sua manutenção.
16
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

que for atribuição da unidade, respeitada a


legislação vigente;
h) propor, coordenara discussão junto
aos segmentos e votar as alterações
metadológicas, didáticas e administrativas
da escola, respeitada a legislação vigente;
i) definir o calendário escolar, no
competir à unidade, observada a legislação
ELEMENTOS DA vigente;
PRÁTICA j) fiscalizar a gestão administrativo
pedagógica e financeira da unidade
PEDAGÓGICA: GESTÃO escolar;
ESCOLAR, l) discutir e deliberar sobre o Plano
político-adiministrativo-pedagógico-cultural
CURRÍCULO, e acompanhar sua execução, em conjunto
METODOLOGIA E com a equipe diretiva;
m) aprovar projetos pedagógicos que
AVALIAÇÃO. desencadeiem ações educativas;
n) articular, avaliar e deliberar sobre os
princípios de convivência;
o) organizar o processo de matrícula no
GESTÃO ESCOLAR interior da escola, a partir das orientações
da mantenedora;
p) demais atribuições disciplinadas no
A gestão da escola será desenvolvida de Regimento Interno do Conselho Escolar
modo coletivo, com a participação de todos q) resolver os casos omissos do
os segmentos nas decisões e regimento.
encaminhamentos, oportunizando a
alternância no exercício da
representatividade. 2. EQUIPE DIRETIVA

1. CONSELHO ESCOLAR A equipe diretiva será responsável pela


direção e coordenação da trabalho coletivo
e tem como funções articular, propor,
O Conselho Escolar terá natureza problematizar, mediar, operacionalizar e
consultiva, deliberativa e fiscalizadora, acompanhar o pensar-fazer
constituíndo-se no órgão máximo da político-pedagógico-administrativo da
escola, conforme estabelecido em lei. comunidade escolar a partir das
deliberações e encaminhamentos do
1.1) Composição, Organização e Conselho Escolar, constituindo-se, por isso,
Funcionamento num fórum permanente de discussão.

A composição, organização e A equipe diretiva é responsável pela


funcionamento são definidos pela organização do cotidiano escolar buscando
legislação vigente e pelo regimento interno superar, na prática, a dicotomia entre o
do Conselho Escolar. administrativo e o pedagógico.

1.2) Atribuições: 2.1) Composição

a) elaborar seu regimento; A composição da equipe direta será


b) atender, modificar e aprovar o Plano definida no plano
administrativo anual, elaborado pela político-administrativo-pedagógico-cultural
direção da escola sobre programação e da escola.
aplicação dos recursos necessários a
manutenção e conservação da escola, 2.2) Eleição
c) criar e garantir mecanismos de
participação efetiva e democrática da A eleição para diretor e vice dar-se-á de
comunidade escolar da definição do Projeto acordo com a legislação vigente.
político administrativo-pedagógico da
unidade escolar;
d) divulgar, periódico e 2.3) Atribuições:
sistematicamente, informações referentes
ao usos dos recursos financeiros, 2.3.1) DA EQUIPE DIRETIVA:
qualidade dos serviços prestados e
resultados obtidos; a) garantir espaços para planejamento,
e) coordenar o processo de discussão, discussão, reflexão, estudos, cursos que
elaboração ou alteração do regimento oportunizem a formação permanente dos
escolar; trabalhadores em educação e dos demais
f) convocar assembléias gerais da segmentos da comunidade escolar,
comunidade escolar ou dos seus enriquecendo o trabalho pedagógico da
seguimentos; escola;
g) propor, coordenara discussão junto b) socializar as informações entre os
aos segmentos da comunidade escolar e diversos segmentos da escola;
votar alterações no currículo escolar, no c) promover a participação da
comunidade no desenvolvimento das
16
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

atividades escolares com vistas à m) cumprir e fazer cumprir as


integração da escola em seu ambiente; disposições legais, as determinações de
d) programar a distribuição e o órgãos superiores e as constantes, deste
adequado aproveitamento dos recursos regimento,juntamente com o Conselho
humanos, técnicos, materiais, institucionais Escolar.
e financeiros;
e) propiciar, juntamente com o conselho 2.3.3) O SERVIÇO DE ORIENTAÇÃO
Escolar, a realização de estudos e PEDAGÓGICA (SOP)
avaliações com todos os segmentos da
escola sobre o desenvolvimento do 2.3.3.1) COMPOSIÇÃO
processo de ensino-aprendizagem e sobre
os resultados ali obtidos, visando à
melhoria. da qualidade da educação na O Serviço de Orientação Pedagógica
unidade escolar; será composto pela Supervisão Escolar
f) ter um horário de trabalho organizado (SE), Orientação Educacional (OE) e pela
no sentido de atender a demanda da Coordenação Cultural (CC).
comunidade escolar nos três turnos;
g) promover a mobilização da 2.3.3.1.1) SUPERVISÃO ESCOLAR
comunidade escolar com vistas à busca de
novos caminhos na educação (envolvendo 2.3.3.1.1.1) Composição
todos os segmentos: pais, alunos,
professores e funcionários).
A Supervisão Escolar será composta por
2.3.2) DO DIRETOR E VICE-DIRETOR: Supervisor(a) Escolar e/ou professor(a)
coordenador(a) pedagógico(a), que
desenvolverão seu trabalho em
a) elaborar com o conjunto da escola o consonância com o
Plano político-adininistrativo-pedagógico- plano-político-pedagógico-administrativo-cu
cultural que deverá ser submetido à ltural, sendo definida a sua escolha no
deliberação do Conselho Escolar; referido plano.
b) cumprir e fazer cumprir o estabelecido
no plano 2.3.3.1.1.2.) Atribuições:
político-administrativo-pedagógico-cultural.
aprovado pelo Conselho Escolar;
c) responsabilizar-se pela organização e a) refletir criticamente sua ação na
funcionamento dos espaços e tempos da escola e na RME revendo
escola (calendário) perante os órgãos do permanentemente seu referencial;
poder público municipal e a comunidade. b) contribuir no trabalho do dia-a-dia
d) assinar o expediente e documentos e, referente às atividades a serem
juntamente com o secretário da escola, desenvolvidas com a comunidade escolar,
assinar toda a documentação relativa à buscando a construção e reconstrução do
vida escolar do aluno; planejamento curricular, coordenando a
articulação e a sistematização do mesmo;
e) receber os servidores, quando do c) socializar o saber docente,
início do seu exercício na escola, estimulando a troca de experiências entre a
procedendo às determinações legais comunidade escolar, a discussão e a
referentes a esse ato, dando-lhes sistematização da prática pedagógica,
conhecimento da Proposta viabilizando o trânsito teoria-prática, para
político-administrativa-pedagógica-cultural qualificar os processos de tomada de
da escola bem como sua estruturação decisões referentes à prática docente;
curricular;
f) informar os servidores ingressantes d) articular junto ao Coordenadora
quanto às atribuições de seus respectivos cultural a integração da atividades
cargos bem como quanto as normas de alternativas e complementares com o
procedimento do local de trabalho; planejamento didático-pedagógico na
escola favorecendo intercâmbios culturais e
g) supervisionar as atividades dos sociais entre escolas e outros órgãos
serviços e das instituições da escola bem culturais da comunidade e da cidade;
como a sua atuação junto à comunidade; e) discutir permanentemente o
h) aplicar as penalidades disciplinares aproveitamento escolar e a prática docente
previstas em lei a professores, buscando coletivamente o conhecimento e
especialistas em educação, servidores a compreensão dos mecanismos escolares
administrativos e de serviços gerais; produtores de dificuldades de
i) promover a articulação entre os aprendizagem, problematizando o cotidiano
setores e os recursos humanos em tomo e elaborando propostas de intervenção na
da finalidade e dos objetivos da escola; realidade;
j) responsabilizar-se pelos atos f) assessorar individual e coletivamente
administrativos e financeiros, bem corno o(s) professor(es) no trabalho pedagógico
pela veracidade das informações prestadas interdisciplinar;
pela escola; g) acompanhar a aprendizagem dos
k) programar juntamente com o alunos junto ao professor, contribuindo
responsável pelo setor de material, a para o avanço do processo;
utilização dos recursos materiais, bem h) coordenar e participar dos Conselhos
como supervisionar e orientar o de Classe, tendo em vista a análise do
recebimento, a estocagem, a utilização e aproveitamento da turma como um todo, do
os registros sobre os mesmos; aluno e do professor, levantando
l) dinamizar o fluxo de informações entre alternativas de trabalho e acompanhando
a escola e a SMED e vice-versa, sua execução,-
16
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

i) acompanhar o trabalho dos conhecimento e desenvolvimento da


"laboratórios de aprendizagem, cidadania;
articulando-os com o trabalho de sala de g) organizar e coordenar "grupo de
aula; Interesse" onde participem funcionários e
j) organizar a utilização do espaço pais, que se reunirão um turno
informatizado da escola garantindo que mensalmente, para debater questões
todos(as) os(as) tenham acesso a este ligadas à sexualidade,
espaço de maneira qualificada h) assessorar o Conselho Escolar, a
k) assessorar o Conselho Escolar, a Direção e professores em assuntos
Direção e professores em assuntos pertinentes à Orientação Educacional;
pertinentes à Suspensão Escolar. i) ter um horário flexível de trabalho no
l) ter um horário flexível de trabalho no sentido de atender à demanda da
sentido de atender à demanda da comunidade escolar nos três turnos.
comunidade escolar nos três turnos. j) cumprir as demais atribuições
m) cumprir as demais atribuições disciplinadas no plano político -pedagógico
disciplinadas no plano da escola;
político-administrativo-pedagógico da k) articular discussões, debates,
escola. reflexões e estudos, junto aos/às
n) articular discussões, debates, professores/as, sobre o tema
reflexões e estudos sobre o "conteúdo transversaI- educação ambiental; para
transversal", educação ambiental; para tanto, deverá estar apropriado(a) de
tanto deverá estar apropriado (a) de conceitos e concepções acerca de
conceitos e concepções acerca da preservação do meio ambiente;
preservação do meio ambiente. l) promover discussões, debates,
reflexões e estudos, junto aos/às
professores/as, acerca do tema transversal
- sexualidade, de acordo com orientações
fornecidas através do curso de formação
SMED;
m) abordar, sistematicamente, com os
segmentos de funcionários e pais o tema
2.3.3.1.2) ORIENTAÇÃO transversal-sexualidade, de acordo com
EDUCACIONAL orientações fornecidas através de curso de
formação da SNED;
2.3.3.1.2.1) Composição n) organizar e formar "Grupos de
Interesses" compostos por alunos
adolescentes (acima de 12 anos), conforme
A Orientação Educacional será Lei 7583/95 e Decreto 11.348/95, que
composta por profissional com formação regulamente o trabalho de sexualidade nas
específica que desenvolverá seu trabalho escolas municipais de Porto Alegre, de
em consonância com o plano acordo com orientações fornecidas através
político-administrativo-pedagógico-cultural, do curso de formação da SMED.
sendo definida sua escolha no referido 2.3.3.1.3) COORDENAÇÃO CULTURAL
plano.
2.3.3.1.3.1) Composição
2.3.3.1.2.2) Atribuições:
A Coordenação Cultural será composta
a) investigar e analisar a realidade por educador(a) que desenvolverá seu
vivencial do educando, a história da própria trabalho em consonância com o
comunidade, afim de que os trabalhadores plano-político-administrativo-pedagógico-cu
em educação possam melhor atender a ltural, sendo definida sua escolha no
todos os educandos em seu processo de referido plano.
desenvolvimento global, redirecionando
permanentemente o currículo.
b) estimular e promover iniciativas de 2.3.3.1.3.2) Atribuições:
participação e democratização das
relações na escola, visando à a) ser articulador político entre os
aprendizagem do aluno, bem como a segmentos escolares: professores, alunos,
construção de sua identidade pessoal e funcionários, pais e demais instâncias da
grupal. escola Conselho Escolar, Equipe Diretiva,
c) contribuir para que a avaliação se agremiações estudantis, etc), no sentido de
desloque do aluno para o processo promover a cultura, priorizando as
pedagógico como um todo, visando ao atividades e projetos a serem
replanejamento. desenvolvidos conforme decisões do
d) garantir que o Conselho de Classe coletivo da escola;
seja participativo no âmbito da proposta b) ser o articulador político entre a
pedagógica da escola, participando em seu escola, a comunidade e as demais
planejamento, execução, avaliação e instituições, tais como universidades,
desdobramentos; entidades não governamentais, grupos
e) estimular o processo de avaliação, artísticos, pessoas físicas e jurídicas, etc,
reflexão e ação de cada segmento da formando com elas parceria;
escola, c) freqüentar periodicamente as reuniões
f) contribuir para a construção, com os das comissões de cultura, de associações
diferentes segmentos da escola, de de bairro e/ou outras agremiações culturais
garantias para que a escola cumpra a sua locais e da cidade, no sentido de divulgar
função de construção e socialização do seu trabalho e promover a escola enquanto
17
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

pólo cultural, integrando-a cada vez mais O coletivo deste ciclo será composto por
organicamente à comunidade; Professor Referência, Professor Itinerante,
d) formar uma equipe de trabalho Professor que atue em Arte Educação e
permanente com supervisores, Professor de Educação Física.
arte-educadores e lideranças da
comunidade no sentido de priorizar e Considerando o regime de trabalho,
coordenar a execução dos projetos alguns educadores desse coletivo atuarão
debatidos no coletivo da escola; em diversas turmas do ciclo e até mesmo
e) ter como natureza de seu trabalho em outros ciclos.
promover e fomentar as diversas
manifestações das artes e da cultura e 3.1.1.2) Coletivo do II Ciclo de
suas relações com a educação; Formação atividades conjuntas;
f) ter um horário flexível de trabalho no
sentido de atender à demanda
cultural-pedagógica da comunidade escolar O coletivo desse Ciclo será composto
nos três turnos, em articulações fora da por: Professor Referência Generalista, que
escola e em presença nas reuniões atuará preferencialmente em duas (2)
programadas pela SMED; turmas, Professor Itinerante, Professor de
g) coordenar a divulgação das atividades Língua e Cultura Estrangeira Moderna,
culturais-pedagógicas da cidade na escola Professor que atue em Arte- educação e de
e na comunidade, através da criação de um Educação Física.
calendário único contido em um painel com
ampla visibilidade e colocado em lugar Considerando o regime de trabalho,
adequado na escola e na comunidade; alguns educadores desse coletivo atuarão
h) apresentar à SMED trimestralmente em diversas turmas do ciclo e até mesmo
um relatório quantitativo e qualitativo de em outros ciclos.
todas as atividades propostas pelo coletivo
da escola e realizadas nesse período; 3.1.1.3) Coletivo do III Ciclo de
i) promover a ação cultural no sentido de Formação
propiciar convergência-acesso,
recriação-produção e divulgação-circulação O coletivo deste ciclo será composto por:
das diversas manifestações das artes, da Professor de Língua Portuguesa e
cultura e de suas relações pedagógicas Literatura, Professor de Língua e Cultura
interdisciplinares e transversais com a Estrangeira Moderna, Professor de
educação; Educação Física, Professor de
j) realizar um trabalho de permanente Arte-educação, Professor de Ciências,
parceria, troca e grupo de trabalho com os Professor de História, Professor de
outros coordenadores da sua região, Geografia, Professor de Filosofia,
através de reuniões sistemáticas e de Professor de Matemática e Professor
proposições de itinerante. Considerando o regime de
k) participar do planejamento, trabalho, alguns educadores deste coletivo
organização e execução de reuniões atuarão em diversas turmas do ciclo e até
pedagógicas da escola, juntamente com os mesmo em outros ciclos.
demais componentes do SOP;
l) cumprir as demais atribuições 3.1.2) Atribuições:
disciplinadas no plano político
administrativo-pedagógico da escola.
a) planejar, executar, avaliar e registrar
as atividades do processo educativo, numa
perspectiva coletiva e integradora, a partir
3. ORGANIZAÇÃO DOS SEGMENTOS do plano político-administrativo-pedagógico
da escola;
São considerados segmentos da escola: b) identificar, em conjunto com as
pais, educandos, funcionários e pessoas envolvidas na ação pedagógica.
educadores. Todos os segmentos terão educandos que apresentem dificuldades no
assegurado o direito de organizarem-se processo educativo e, a partir disso,
livremente em associações, entidades e planejar e executar estudos contínuos de
agremiações, devendo a escola oportunizar tal forma que sejam garantidas novas
condições para esta organização. Caberá oportunidades de aprendizagem e maior
aos segmentos a elaboração dos tempo de reflexão;
regimentos internos de suas organizações. c) discutir com educandos, funcionários,
pais/mães ou responsáveis os
3.1) CORPO DOCENTE procedimentos para o desenvolvimento do
processo educativo;
d) participar de todo o processo
A docência será exercida por avaliativo da escola, respeitando o
educadores e especialistas, devidamente regimento escolar e prazos estabelecidos
habilitados e concursados pela rede em cronograma,
municipal de ensino. e) participar dos momentos de formação
que propiciem o aprimoramento do seu
3.1.1) Composição de cada Cicio de desempenho profissional;
Formação f) participar dos processos de eleições
desencadeadas na escola;
3.1.1.1) Coletivo do I Ciclo de g) responsabilizar-se pela conservação
Formação de todos os espaços físicos, bem como de
materiais existentes na escola e que são
patrimônio de uso coletivo;
17
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

h) estabelecer, coletivamente, os b) participar na elaboração dos


processos de avaliação do processo princípios de convivência em conjunto com
ensino-aprendizagem os demais segmentos;
i) ministrar os dias letivos e horas-aula c) participar dos processos de eleição
definidos pela mantenedora; desencadeados na escola;
j) integrar o Conselho Escolar na d) responsabilizar-se pela conservação
proporcionalidade prevista em lei. de todos os espaços físicos, bem como de
k) conhecer e cumprir o disposto no materiais existentes na escola e que são
presente regimento. patrimônio de uso coletivo;
l) cumprir as demais atribuições e) comprometer-se com o processo de
disciplinadas no plano aprendizagem assiduidade de seu filho;
político-pedagógico-administrativo da f) participar do processo de eleição dos
escola e pelo "Estatuto do Funcionário pais/mães ou responsáveis representantes
Público". por turma, processo esse disciplinado no
plano político-administrativo-pedagógica da
3.2) CORPO DISCENTE escola;
g) conhecer e cumprir o disposto no
presente regimento;
O corpo discente é formado por todos os h) cumprir as demais atribuições
educandos matriculados nessa unidade de disciplinadas no plano
ensino. político-administrativo-pedagógica da
escola.
3.2.1) Atribuições:
3.4) EQUIPE AUXILIAR DA AÇÃO
a) integrar Conselho Escolar, EDUCATIVA
agremiações e demais espaços
organizados na escola a fim de participar A equipe auxiliar da ação educativa é
efetivamente da construção do processo composta de Serviço de Secretaria, Serviço
coletivo de elaboração e reelaboração da de Nutrição, Serviços Gerais, Biblioteca,
proposta político-administrativa-pedagógica Laboratório de Aprendizagem, Sala de
da escola, Integração e Recursos.
b) participar na elaboração dos
princípios de convivência da turma e da
escola em conjunto com os demais 3.4.1) SERVIÇO DE SECRETARIA
segmentos;
c) participar na elaboração dos 3.4.1.1) Composição
processos de eleição desencadeados na
escola, O Serviço de Secretaria será composto,
d) responsabilizar-se pela conservação preferencialmente, por funcionários lotados
de todos os espaços físicos, bem como de como assistentes administrativos.
materiais existentes na escola e que são
patrimônio de uso coletivo;
e) comprometer-se com o processo de 3.4.1.2) Atribuições:
aprendizagem no que se refere ao
aprofundamento do conhecimento, a) organizar e manter atualizada a
assiduidade, realização de tarefas diárias e escrituração, documentação e arquivos
de utilização e conservação de material de escolares.
uso pessoal; b) garantir o fluxo de documentos e
f) conhecer e cumprir o disposto no informações necessários ao processo
presente regimento. pedagógico e administrativo,
g) cumprir as'demais atribuições c) cumprir as demais atribuições
disciplinadas no plano disciplinadas no
político-administrativo-pedagógico da plano-político-administrativo da escola.
escola.
3.4.2) SERVIÇO DE NUTRIÇÃO
3.3) PAIS/MÃES, FAMILIARES OU
RESPONSÁVEIS 3.4.2.2.1) Composição
Este segmento é formado pelos O serviço de nutrição será composto
pais/mães ou responsáveis de todos os pelo seguintes cargos: Técnico de Nutrição,
educandos matriculados nesta unidade de Cozinheiro e Auxiliar de Cozinha.
ensino.
3.4.2.2) Atribuições

3.3.1) Atribuições: 3.4.2.2.1) Do Técnico em Nutrição:

a) integrar Conselho Escolar, a) operacionalizar o cardápio, elaborado


agremiações e demais espaços pelo Serviço de Nutrição da SMED,
organizados na escola, a fim de participar adaptando-o, quando necessário;
efetivamente da construção do processo b) auxiliar na construção do plano
coletivo de elaboração e reelaboração da político-administrativo-pedagógico-cultural
proposta político- da escola no que se refere à nutrição,
administrativa-pedagógica da escola. viabilizando ações educativas conjuntas;
17
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

c) executar trabalhos relacionados com a


nutrição 3.4.4 BIBLIOTECA
d) colaborar na execução de cardápios,
junto ao setor de Nutrição da SMED, e A Biblioteca é o local onde temos todos
proceder ao controle do preparo e os materiais bibliográficos, independente
distribuição dos mesmos, do suporte físico (mapas, discos, fitas,
e) instruir no modo de preparo, vídeos, diapositivos, jogos, livros,
distribuição e horário das refeições. periódicos, programas e CD de
f) realizar o controle das merendas, informática,...), constituindo-se no local
refeições e gêneros, ideal para a guarda, preparo técnico e
g) cumprir as demais atribuições circulação desses materiais dentro da
disciplinadas no plano comunidade escolar.
político-administrativo-pedagógico da
escola. 3.4.4.1) Composição
3.4.2.2.2) Do Cozinheiro: A Biblioteca será composta por
profissionais com formação específica e/ou
a) preparar e cozinhar alimentos professor(es), que desenvolverá(ão) seu
responsabilizar-se pela cozinha; trabalho em consonância com o plano
b) preparar dietas e refeições de acordo político-administrativo-pedagógico-cultural,
com os cardápios; sendo definida sua escolha no referido
plano.
c) encarregar-se de todos os tipos de
cozimento em larga escala, da guarda e
conservação dos alimentos; 3.4.4.1.2) Atribuições:
d) fazer os pedidos de suprimento de
material necessário à cozinha ou a a) planejar e executar atividades de
preparação de alimentos. Biblioteca (seleção, aquisição, registro,
e) cumprir as demais atribuições catalogação, classificação e demais
disciplinadas no plano processamentos técnicos);
político-administrativo-pedagógico da b) atendimento ao público auxiliando na
escola. busca da informação e consulta, utilizando
suportes bibliográficos e obras de
3.4.2.2.3) Do Auxiliar de Cozinha: referência (enciclopédias, dicionários,
manuais, bibliografias, etc);
c) divulgar a Biblioteca Escolar como
a) preparar e servir merendas; fonte de leitura, informação, expressão e
b) preparar mesas e ajudar na cultura, prestando atendimento à
distribuição das refeições e merendas; comunidade escolar em geral;
c) proceder a limpeza de utensílios, d) organizar e agilizar seu
aparelhos e equipamentos de cozinha; funcionamento, observando as normas
d) guardar e conservar alimentos em específicas regidas no plano
vasilhames e locais apropriados; político-administrativo-pedagógico-cultural
e) cumprir as demais atribuições da escola
disciplinadas no plano e) buscar informações e demais
político-administrativo-pedagógico da materiais bibliográficos, assim como a
escola. permuta entre as demais bibliotecas
escolares, públicas e comunitárias, com o
objetivo de atualizar e qualificar a prática
3.4.3) SERVIÇOS GERAIS pedagógica;
f) participar de atividades culturais,
3.4.3.1) Composição interagindo e abrindo o espaço da
Biblioteca para atividades e projetos que
Os Serviços Gerais abrangem a possam contribuir para a divulgação
conservação e limpeza da escola. cultural e participação da comunidade
escolar em geral,
g) organizar o acervo da Biblioteca
3.4.3.2) Atribuições: coordenando sua utilização,-
h) cumprir as demais atribuições
a) zelar pela conservação e limpeza da disciplinadas no plano
escola; político-administrativo-pedagógico da
b) solicitar, com a devida antecedência, escola.
o material necessário à manutenção da
limpeza; 3.4.5) LABORATÓRIO DE
c) executar a limpeza de todas as APRENDIZAGEM
dependências, móveis, utensílios e
equipamentos; É um espaço pedagógico da escola que
d) responsabilizar-se pela conservação e investiga e contribui no processo de
uso adequado do material de limpeza superação das dificuldades de
e) verificar, diariamente, as condições de aprendizagem dos/as alunos/as, na sua
ordem e higiene de todas as dependências interação com os conhecimentos escolares,
da escola; com os outros (adultos ou não) e com os
f) cumprir as demais atribuições instrumentos culturais de mediação (já
disciplinares no plano existentes ou novos, de origem filogenética
político-administrativo-pedagógico da ou sócio-histórico-cultural) no
escola. desenvolvimento do pensamento, do
17
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

conhecimento, da socialização e dos alunos/as do Ensino Fundamental que, por


processos comunicativos construídos apresentarem necessidades educatívas
historicamente. especiais, precisam de um trabalho
pedagógico complementar e específico que
3.4.5.1) Composição venha, a contribuir para sua adequada
integração e superação de suas
dificuldades.
A função será ocupada por
professores(as), eleitos(as), anualmente, 3.4.6.1) Composição
por seus pares, mediante apresentação de
projeto de trabalho, que deve estar em
consonância com o plano político- A função será ocupada por
administrativo-pedagógico da escola. professores/as da RME, com formação em
Educação Especial, escolhidos/as pela
3.4.5.2) Atribuições: mantenedora (SMED) em parceria com as
escolas.
a) investigar o processo de construção 3.4.6.2) Atribuições:
de conhecimento e possíveis causas de
insucesso dos/as alunos/as, que
apresentarem dificuldades e limitações no a) investigar a situação dos alunos/as
seu processo de aprendizagem e que são inseridos no Ensino Fundamental que
indicados para uma avaliação; apresentem indicação de um trabalho
b) criar estratégias dê atendimento pedagógico específico;
educacional complementar, grupal ou até b) planejar, para aqueles/as alunos/ as
mesmo individual (excepcionalmente), onde a investigação culminou numa
esses /as alunos/as,- posição de atendimento específico,
c) buscar a integração das atividades modalidades de atendimento e
desenvolvidas no laboratório de acompanhamento na escola;
aprendizagem com o trabalho da turma e c) assessorar o Serviço de Orientação
do Ciclo, remetendo todas as informações Pedagógica das escolas que tiverem
possíveis, referentes ao processo do a alunos/as atendidos/as na SIR, no
aluno/a, ao coletivo de professores/as que estabelecimento de critérios, períodos e
trabalham como/a aluno/a que freqüentam modalidades de inserção de alunos/as
o laboratório de aprendizagem e ao Serviço provenientes das escolas e classes
de Coordenação Pedagógica; especiais em turma do Ensino
d) proporcionar diferentes vivências, Fundamental Regular, intermediando,
visando ao resgate do/a aluno/a em todas também, os encontros iniciais, os/as
as dimensões e que contribuam para o real professores/as da escola/ classes especiais
avanço e superação de suas dificuldades,- e os/as da escola regular;
e) confeccionar materiais didático- d) desenvolver atendimento especifico
pedagógicos, juntamente com o coletivo do aos/as alunos/as cuja a investigação
ciclo, que venham facilitar o trabalho indicou necessidade desse tipo de
cotidiano realizados nas turmas e nos atendimento que se consiste em atividades
Ciclos; pedagógicas e psicopedagógicas propostas
f) estabelecer parcerias com as famílias individualmente ou em grupos, de acordo
dos/as alunos/as, visando ao com as necessidades apresentadas
comprometimento dos mesmos com o pelos/as alunos/as;
trabalho realizado no Laboratório de e) estabelecer contatos com as famílias
Aprendizagem e nas turmas dos/as dos/as alunos/as, visando à implicação
alunos/as envolvidos/as. dos/ as mesmos/as no processo
g) encaminhar ao coletivo do ciclo um desencadeado e avaliação de outras ações
relatório que retrate o processo de necessárias;
desenvolvimento do/a aluno/a, a fim de que f) acompanhar o/a aluno/a em seu
este contribua na avaliação formativa e nos cotidiano escolar, através de trocas com o
encaminhamentos dos Conselhos de Serviço de Coordenação Pedagógica das
Classes; . escolas e professores/as envolvidos,
h) participar das formações e atividades podendo incluir, também, o
de planejamento da escola já que sua acompanhamento no seu grupo de sala de
atuação não pode ser desvinculada da aula, quando for necessário;
forma como se dá a organização do ensino g) cumprir as demais atribuições
e o seu desdobramento nos diferentes disciplinadas no plano
ciclos; político-administrativo-pedagógico-cultural
i) cumprir as demais atribuições das escolas da região que atende, ou
disciplinadas no plano novas definições realizadas pela a)
político-administrativo-pedagógico da investigara situação dos alunos/as SMED,
escola. em diálogo mediador comas escolas.

3.4.6) SALA DE INTEGRAÇÃO E 3.5) ESPAÇOS DE FORMAÇÃO E


RECURSOS (SIR) QUALIFICAÇÃO:

A Sala de Integração e Recursos a) serão destinados, no calendário


constiui-se num espaço pedagógico escolar, período e/ou horários
realizado (isto é, não é exclusivo da escola especialmente organizados para o
que é sede da SIR, mas atende a todas as planejamento e a formação contínua dos
escolas da Região" em que a escola- sede segmentos para que se atualizem diante
se encontra) especialmente planejado para das mudanças curriculares propostas pela
investigação e atendimento aos/as escola;
17
CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

b) serão garantidas, semanalmente, desempenho. Assim, a avaliação formativa


reuniões por ciclo, reuniões por ano do do educando é um processo permanente
Ciclo e por áreas de estudo e/ou atuação de reflexão e ação, entendido como
(nutrição, serviços gerais, setores); constante diagnóstico e concebendo o
c) serão garantidas. mensalmente, conhecimento como uma construção
reuniões gerais; histórica, singular e coletiva dos sujeitos.
d) a escola buscará viabilizar a A avaliação formativa tem como
participação dos trabalhadores em dinâmica:
educação nos espaços de formação a) a auto-avaliação do aluno, do grupo,
oferecidos pela mantenedora. da turma e dos educadores;
b) o Conselho de Classe Participativo
III. DOS PRINCÍPIOS DE com todas as pessoas envolvidas no
CONVIVÊNCIA processo de avaliação geral da turma;
c) a análise do dossiê pela família,
A escola entende a disciplina como construindo o relatório, a partir de do
forma de organização da vida escolar não momento coletivo de reflexão entre pais,
como meio de controle de comportamento. professores e alunos, sobre a construção
da aprendizagem da turma na qual o
Sendo o ser dinâmico e mutável, os educando está e as demais atividades
princípios não serão definidos e desenvolvidas na escola;
permanentes, devendo ser avaliados d) a elaboração de um relatório
constantemente para que reflitam a descritivo de avaliação individual do aluno,
realidade da escola. realizadas pelos professores.
Caberá ao Conselho Escolar articular, A periodicidade de sua formalização é
avaliar e deliberar sobre os mesmos. No trimestral levando em consideração as
âmbito de sala de aula, educadores e produções dos alunos, as investigações
educandos deverão estabelecer os dos educadores e o diálogo que se
princípios dentro do processo pedagógico. estabelece entre pais, educandos,
Nenhum princípio poderá ser educadores e funcionários, com o objetivo
estabelecido sem levar em consideração a de construir um quadro diagnóstico real
legislação vigente e os princípios sobre o educando. A finalização desta
emanados do Congresso Constituinte etapa se dará através do reencontro com a
Escolar 95. família para a entrega do relatório de forma
A escola e a família têm o dever de coletiva e/ou individual.
construir uma relação de parcerias, Os resultados do processo da avaliação
respeitando e estabelecendo os papéis que formativa serão expressos através de
competem, a cada uma, buscando uma relatórios descritivos e individuais por
participação comprometida de todos os educando.
segmentos.
Considera-se também, na avaliação
IV. DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO formativa, a assiduidade do aluno, sendo
ela responsabilidade da família, cabendo
1. FUNÇõES DA AVALIAÇÃO ao educador registrá-la diariamente. Os
educadores deverão registrar as presenças
e ausências dos educandos e enviá-las à
A avaliação é um processo contínuo, secretaria da escola, comunicando à
participativo, com função diagnóstica, Equipe Diretiva os casos de ausências
prognóstica e investigativa cujas constantes para que sejam tomadas as
informações propiciam o devidas providências.
redimensionamento da ação pedagógica e
educativa, reorganizando as próximas
ações do educando, da turma, do 2.2) AVALIAÇÃO SUMATIVA
educador, do coletivo do Ciclo e mesmo da
escola, no sentido de avançar no Consiste no quadro diagnóstico geral
atendimento e desenvolvimento do resultante no final de cada ano letivo e de
processo de aprendizagem.
cada ciclo de formação, evidenciado
2. AVALIAÇÃO DO EDUCANDO: pela avaliação formativa. Portanto, traz em
ARTICULAÇÃO E MODALIDADES si um juízo globalizante sobre o
desenvolvimento de aprendizagem do
Considerando os Ciclos de Formação educando, seus avanços e dificuldades,
em sua totalidade, temos três apontando o modo de progressão do
modalidadesde Avaliação. São elas: educando, conforme descrito no item 4
deste capítulo.
2.1) AVALIAÇÃO FORMATIVA
2.3) AVALIAÇÃO ESPECIALIZADA
Consiste na avaliação destinada a
informar a situação em que se encontra o Consiste na avaliação requerida pelos
educando no que se refere ao educadores e realizada pelo Serviço de
desenvolvimento da sua aprendizagem orientação Pedagógica, com apoio do
para o trimestre. Laboratório de Aprendizagem e da Sala de
Esta modalidade de avaliação dá-se de Integração e Recurso e outros serviços
forma contínua, sistemática e o seu especializados, destinados àqueles
resultado vai sendo registrado no Dossiê educandos que necessitam um apoio
do educando, através de anotações sobre educativo especial e muitos vezes
suas produções e do Relatório de individualizado.
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CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

Esta modalidade de avaliação ocupa-se didático-pedagógico de apoio,


com os educandos que exigem uma individualizado, que respeite as
atenção mais demorada, ampla e profunda características especiais do educando em
do que normalmente seria necessário; por questão e lhe proporcione condições de
essa razão torna-se fundamental após sua superação destas dificuldades.
realização, o trabalho de outros
profissionais, conforme desdobramento 4. DA RECUPERAÇÃO
apresentado na proposta
político-pedagógica. A avaliação
especializada pode ser realizada sempre A recuperação, parte integrante do
que necessário ou será indicada, quando, processo de construção do conhecimento,
for o caso, na progressão do ciclo para deve ser entendida como orientação
outro. periódica, contínua de estudos e criação de
novas situações de aprendizagem.
3. PROGRESSÃO
5. DA CERTIFICAÇÃO
Todo educando terá assegurado o direito
à continuidade e terminalidade de estudos, a) A escola confere o certificado de
devendo acompanhar o avanço de sua conclusão ao término do Ensino
turma e, quando apresentar dificuldades de Fundamental, bem como o respectivo
aprendizagem, participará de atividades histórico escolar, em duas vias.
planejadas pelo conjunto das pessoas b) O certificado de conclusão poderá ser
envolvidas na ação pedagógica, expedido quando requerido pelos
supervisionada pelo Laboratório de interessados ou, quando menor, pelo seu
Aprendizagem durante o tempo necessário responsável.
e definido pelo plano didático-pedagógico
de apoio.
Caberá à escola garantir ao educando o
acesso a todos os serviços que possui para
a evolução das suas aprendizagens. A 6. AVALIAÇÃO DA ESCOLA E DOS
escola deverá buscar, quando necessário, SEGMENTOS QUE A COMPÕEM
recursos em outras secretarias e/ou
instituições, visando a garantir este A avaliação da escola será realizada
processo. semestralmente e todos os seus
O processo avaliativo não anula o segmentos serão avaliados, de acordo com
acumulo de conhecimento do aluno. A os critérios e objetivos definidos pelo grupo,
escola proporcionará condições de avanço conforme plano
e progressão, pois não considera a político-administrativo-pedagógico-cultural.
reprovação ou retenção de educando de
ano para ano, nem de ciclo para ciclo.
A avaliação sumativa apontará a forma V. DA ADMISSÃO E TRANSFERÊNCIA
de progressão, de educando que será DE ALUNOS/AS
expressa, após conselho de classe
participativo, de forma global em todos os 1. MATRíCULA
ciclos do seguinte modo:
a) A matrícula é a vinculação do/a
3.1) PROGRESSÃO SIMPLES aluno/a à escola e será efetuada conforme
este regimento, diretrizes e época fixadas
O educando prosseguirá seus estudos pela Secretaria Municipal de Educação e
normalmente. legislação vigente.
3.2) PROGRESSÃO COM PLANO b) A matrícula na escola compreende:
DIDÁTICO-PEDAGóGICO DE APOIO - admissão de alunos novos,
- rematrícula de aluno já pertencente à
Isso significa que o educando que ainda escola;
persistir com alguma dificuldade progride - admissão de alunos por transferência
para o ano seguinte mediante a elaboração c) O ingresso de alunos se dá em
e acompanhamento de um plano qualquer época, respeitando a construção
didático-pedagógico. Esse plano deve levar de seu conhecimento, a capacidade física
em consideração o caminho percorrido pelo da escola e o presente regimento.
educando. Neste sentido, o dossiê, d) A seleção de alunos novos dar-se-á a
elaborado durante a avaliação formativa, partir de critérios elaborados por uma
toma-se um material importante que servirá comissão formada por órgãos
de guia para os professores do ano representativos da comunidade,
seguinte possam adequar o seu trabalho, respeitando a legislação vigente e
considerando as dificuldades específicas orientações da mantenedora.
desse educando.
2. TRANSFERÊNCIA
3.3) PROGRESSÃO SUJEITA A UMA
AVALIAÇÃO ESPECIALIZADA
a) Serão admitidas transferências no
transcorrer de todo o ano letivo, de acordo
O educando que apresentar a com o plano
necessidade de uma investigação mais político-administrativo-pedagógico da
aprofundada. a respeito de dificuldades escola.
além das habituais poderá passar por uma b) A concessão da transferência do
avaliação especializada que apontará as educando pela escola dar-se-á com o
bases para que seja elaborado nutri plano fornecimento da documentação necessária
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CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

à legalização de sua vida escolar e - Atividades: aprendizagem feita


mediante apresentação de atestado de “principalmente mediante experiências
vaga em outro estabelecimento de ensino, vividas pelo próprio educando no sentido
desde que a transferência esteja sendo de que atinja, gradativamente, a
solicitada para o mesmo município. sistematização de conhecimentos”, O que
significa isso? Significa que, quando a
VI DAS DISPOSIÇÕES GERAIS matéria é tratada sob a forma de
atividades, tudo deve partir das
experiências da criança. Só assim é que se
a) A escola articulará diferentes pode chegar a algum conhecimento
parcerias para viabilizar sua proposta sistemático, Os conhecimentos não podem
político-administrativo-pedagógico, ser passados para o aluno como algo
valorizando aquelas que fazem parte da pronto, acabado. Eles devem sempre
comunidade local. resultar da vivência das próprias crianças.
b) O presente regimento poderá ser
alterado, respeitados os prazos previstos - Áreas de estudo: são formadas pela
na legislação vigente, após a aprovação do integração de conteúdos afins. Nelas, a
Conselho Escolar, devendo as alterações aprendizagem resulta do equilíbrio entre as
propostas serem submetidas à apreciação situações de experiência e os
do órgão competente. conhecimentos sistemático. Em outras
c) Os casos omissos neste regimento palavras, quando uma matéria é tratada
serão resolvidos pelo Conselho Escolar, sob forma de área de estudos, deve haver
respeitada a legislação vigente. tanto experiências dos alunos quanto
d) Este regimento entra em vigor a partir da sua conhecimentos sistemáticos obtidos em
aprovação. livros ou transmitidos pelo professor.
- Disciplinas: a aprendizagem se
CURRÍCULO desenvolve predominantemente sobre
conhecimentos sistemáticos. Isso não quer
dizer que as experiências dos educandos
não sejam importantes. Contudo, como a
* abordagem interativa dos componentes disciplina já é um conjunto sistemático e
lingüísticos, matemáticos, artístico e sócio- especializado de conhecimento, resultante
recreativos. da evolução cultural da humanidade, é
* Educação pré-escolar. importante que esses conhecimentos
sejam aprendido pelo aluno também de
No planejamento de um currículo, o forma sistemática.
educador tem que selecionar os estímulos
que levarão a criança à atividade, tendo em Em relação aos graus de ensino, o
mente que esta atividade será a tratamento que deve ser dado às matérias
responsável pela experiência educativa que é o seguinte:
se pretende oferecer à criança. O trabalho
do professor reside portanto, basicamente, Nas séries iniciais do ensino de 1º. Grau,
em selecionar estímulos convenientes. as matérias devem ser tratadas
predominantemente como atividades, sob
atividades experiências as formas de Português, Matemática,
Estudos Sociais e ciências (sob a forma de
Para que as atividades planejadas iniciação).
resultem em experiências significativas
para a criança pequena, experiências que A escola deve promover o
frutifiquem em desenvolvimento, o desenvolvimento global de aluno. No
educador deve levar em consideração entanto, seus currículos não estariam
alguns princípios que devem reger a dando ênfase exagerada ao aspecto
organização dos currículos pré-escolares e intelectual, deixando de lado o
que façam com que o currículo seja desenvolvimento emocional, social,
centrado no desenvolvimento infantil. esportivos, artístico, etc,? Por que não abrir
mais espaço para outros aspectos
De acordo com a legislação, os importantes da nossa cultura, como a
currículos são constituídos por matérias, expressão corporal, a dança, o teatro, a
tratadas sob a forma de atividades, áreas música, a pintura, o artesanato e muitos
de estudo e disciplinas. outros?

Matéria é todo o conjunto de Matérias ou disciplinas fusionadas, em


conhecimentos. Mas os conhecimentos que há a tentativa de relacionar dois, três
podem ser apresentados de diversas ou mais campos de conhecimentos de
formas. A amplitude é uma das forma a integrá-los, a fim de que “ganhem
características que distinguem uma forma mais sentido” para o educando. Um
da outra. Assim a de amplitude maior são exemplo típico deste tipo de organização é
as atividades; já as áreas de estudo têm a integração de conhecimentos feita em
uma amplitude intermediária, enquanto as Estudos Sociais, em que basicamente se
disciplinas são a de tempo mais restrito. fundem a História e a Geografia, ligando
fatos, pessoas, épocas, lugares, etc.
Entretanto, outros campos poderão vir a
De acordo com o artigo 4º. Da agregar-se a estes numa integração, nada
Resolução nº. 8/71, temos a seguinte impedindo que aprofundamentos
caracterização: específicos de período se façam, quando e
sempre que necessário. Assim poderíamos
ainda integrar aos dois básicos, já citados,
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CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

“aumentando-lhes” a possibilidade de alunas a incorporar-se à sociedade, como


compreensão e relacionamentos: o homem membros de pleno direito.
atuando em seu meio ambiente e sofrendo Vivemos em uma sociedade na qual
a sua influência - ecologia; o homem muitas pessoas não são capazes de
vivendo e dependendo dos recursos que o imaginar outras possibilidades de seleção e
seu meio lhe oferece - Economia; o homem de organização dos conteúdos escolares
vivendo e se relacionando com outros diferentes dos modelos tradicionais que
homens - sociologia; o homem atuando de experimentaram pessoalmente. Este
acordo com determinados padrões, modelo mais tradicional de classificação
comportamentos, modos de ver ( e, as dos conteúdos das culturas e parcelas da
vezes, de sentir), instrumentos, etc., enfim, ciência que constituem o legado da
elementos materiais e não-materiais mais humanidade é organizado e concretizado
processos e procedimentos que possam em um número mais ou menos variável de
determinar o seu progresso e disciplinas. Algumas como a matemática,
desenvolvimento dentro de sua cultura - por exemplo, são disciplinas que
Antrologia Cultural; o homem e seus apareceram em todos os modelos
padrões ou formas de comportamento conhecidos de organização dos conteúdos,
perante o seu semelhante e a sociedade - em todas as épocas e países. Outras,
Ética/Moral; o homem atuando sobre os como a tecnologia, são resultado de uma
destinos de outros homens na arte de evolução, desenvolvimento e integração de
governar - Política; o homem distintas especialidades científicas das
transcendendo aos seus limites próprios e quais incorporam fundamentos, bem como
indo à busca de Deus - Religião; o homem de necessidades sociais e do mundo do
como cidadão de um país e que, como tal, trabalho típicas das sociedades modernas
tem suas responsabilidades - Educação industrializadas.
Cívica; e assim por diante. Não obstante, houve ao longo deste
século, e mais concretamente nestas
A ORGANIZAÇÃO RELEVANTE DOS últimas décadas, outras propostas para
CONTEÚDOS NOS CURRÍCULOS realizar essa seleção cultural e organiza-la
como projeto de trabalho para as
A tarefa educacional efetuada na instituições docentes.
instituição escolar é realizada mediante Entre outras, contamos com as
uma seleção, organização, análise crítica e propostas de Paul Hirst e Richard S. Peters
reconstrução dos conhecimentos, crenças, (1970), que argumentam que a cultura
valores, destrezas e hábitos, que são construída pelo ser humano através da
conseqüência do desenvolvimento história é concretizada por caminhos
sócio-histórico, isto é, construídos e aceitos diferentes e com maneiras de validação
como valiosos por uma sociedade também distintas. P. Hirst e R.S. Peters
determinada. chamam estes estilos e procedimentos de
Assim, o currículo pode ser descrito aquisição, desenvolvimento e validação da
como um projeto educacional planejado e cultura de formas de conhecimento, e
desenvolvido a partir de uma seleção da identificam sete delas: científica,
cultura e das experiências das quais matemática, religiosa, moral, histórica,
deseja-se que as novas gerações sociológica e estética.
participem, a fim de socializá-las e Estas áreas diferenciam-se
capacitá-las para ser cidadãos e cidadãs principalmente em virtude de quatro
solidários, responsáveis e democráticos. grandes características gerais:
Toda instituição escolar quer estimular e 1. Cada forma de conhecimento contém
ajudar os alunos a compreender e certos conceitos centrais e peculiares. Por
comprometer-se com a experiência exemplo, o conhecimento
acumulada pela humanidade e, mais lógico-matemático giraria em torno de
concretamente, com a sociedade na qual noções corno "número", "integral", "classe"
vivem. etc., enquanto a religião, por exemplo,
Em cada instituição escolar será giraria em torno de idéias como "Deus",
efetuada uma reinterpretação peculiar "pecado", "predestinação", etc.
desse legado cultural, em função das 2. Cada forma possui suas próprias
experiências prévias, conhecimentos, relações conceituais, mais ou menos
expectativas dos professores e dos complexas. Tem a sua própria estrutura
estudantes que interagem nas salas de lógica.
aula e no centro escolar, bem como dos 3. As afirmações, declarações de cada
recursos aos quais têm acesso, das forma são testadas e demonstradas por
condições de trabalho e da formação do meio de diferentes métodos.
corpo docente. A instituição educacional 4. Em cada forma existem técnicas
precisa proporcionar um conhecimento particulares e destrezas para explorar a
reflexivo e crítico da arte, da ciência, da realidade e a experiência humana,
tecnologia e da história cultural, não só
como produtos do desenvolvimento Embora cada uma destas formas utilize
alcançado pela humanidade em seu devir conceitos específicos, distintas estruturas
sócio-histórico, mas principalmente como lógicas e diferentes modos de validar o
instrumentos, procedimentos de análises, conhecimento, podem ocorrer
de transformação e criação de uma coincidências e superposições entre
realidade natural e social concreta. algumas de suas partes.
A questão é como selecionar e organizar Esta perspectiva filosófica e educacional
a cultura e a ciência da humanidade para foi promovida e formulada pela primeira vez
que possa ser assimilada e para que em 1967 por Paul Hirst, que já defendia
também sejam construídas as destrezas, que os objetivos principais da educação
habilidades, procedimentos, atitudes e deviam ser articulados para promover o
valores que ajudarão esses alunos e desenvolvimento da mente, e para isso a
melhor estratégia é basear-se nas
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CONHECIMENTOS GERAIS E PEDAGÓGICOS

diferentes "fôrmas de conhecimento".


Destas derivam as diferentes disciplinas.
No fundo, como frisa Ivor F. Goodson
(1988, p. 163), pressupõe-se que as
disciplinas são criadas e definidas de
maneira sistemática por comunidades de
pesquisadores, normalmente por aqueles
que estão trabalhando em departamentos
universitários, e depois são "transferidas"
para seu uso como disciplinas escolares.
Por outro lado, Philip H. Phenix (1964)
afirma que, em linhas gerais, a educação é
o processo de "gerar" significados
essenciais para compreender e participar
do mundo que nos rodeia. Como esta
busca de significados é a característica
pela qual nos identificamos como seres
humanos, é imprescindível aprender a
manejar-se com sistemas de símbolos,
aprender a decodificá-los, algo em que a
educação desempenha um papel crucial.

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