interpretação musical: uma teoria neuropsicológica” ; OPUS, Revista da Anppom, Goiânia (GO), n. 2 volume 13, 2007; pág. 197 - 207
Este artigo busca encontrar um equilíbrio nesta balança do tocar
com ritmo correto porém sem deixar de lado a expressividade. É comum os intérpretes confundir tocar expressivo com tocar fora do tempo. A autora se utiliza do rubato como exemplo na sua pesquisa. Seria realmente necessário fazer rubato para ser expressivo? Com cereteza as modificações do tempo tem uma relação direta com à expressividade, porém outros parâmetros como dinâmica, articulações ou aspectos composicionais intrínsecos da obra, também podem conter este poder expressivo. Márcia Higuchi é professora de piano e doutora em neurologia / neurociências pela faculdade de medicina da USP de Ribeirão Preto, é autora dos livros “ técnica de concentração no aprendizado pianístico ‘ e “ tocando com concentração e emoção “. João Leite, por sua vez, possui graduação em medicina seguido de mestrado e doutorado na área de neurologia pela USP. Atualmente é professor titular do departamento de neurologia, psiquiatria e psicologia médica da faculdae de medicina de Ribeirão Preto – USP. Inicialmente é argumentado o poder da música em causar emoções. É citado um estudo de neuroimagem, que mostra a atividade cerebral no momento da audição de uma música. Foi provada uma relação, das atividades cerebrais que causam fortes emoções, com o grau de dissonância musical. O que demonstra que parâmetros composicionais são importantes na evocação das emoções, mas só isto não é suficiente. A maneira como executar a obra, ou seja, a responsabilidade do intérprete é sem duvidada o grande elo entre obra – ouvinte – emoção. Neste ponto os autores não se prendem na capacidade do ouvinte em receber estas emoções. Suas peculiaridades culturais e seu estado psicoemocional no momento da audição revelam considerações distintas. O artigo se interessa mais aos aspectos fisiológicos da emoção, como a explicação, de forma bem sucinta, do processo de estímulo das sinapses ( comunicação entre os neurônios). Ao receber alguma informação que provoque emoção, o sistema nervoso ativa uma cadeia de reações que modificam uma série de atividades como, postura corporal, cor da pele, gestos, que influenciam na forma de tocar. Muitos intérpretes relacionam a expressividade musical com a alteração de tempo. Estudos na área da psicologia cognitiva reforçam esta idéia. Desde a renacença a expressividade musical estava relacionado as nuanças de tempo. Nos últimos 150 anos, educadores musicais tem pregado a rigidez métrica, principalmente para obras anteriores ao romantismo. Na era pós-romântica duas escolas distintas geraram uma polêmica. Uma influenciada por Beethoven que defendia uma maior liberdade de andamentos, que teve como ícone o maestro Furtwangler. Outra defendia uma rigidez métrica, iniciada por Berlioz e radicalizada por Toscanini. Alterações rítmicas com certeza são poderosas armas para dar sentimento a música, é inerente ao ser humano uma certa limitação de precisão. Porém, é evidente que um intérprete que não tem um controle rítmico do que está tocando não será expressivo. Higuchi ( 2003) aponta várias características danosas aos alunos que não tem precisão rítmica: dificuldade de concentração, dificuldade para trabalhar detalhes, não conseguem manter o mesmo dedilhado. Mas apesar do estudo com uma rigidez métrica proporcionar mais clareza na interpretação, normalmente inibe a expressividade. Neste sentido aspectos como a cultura e o conhecimento de estilo é fundamental para se ter uma interpretação adequada. Pesquisas neurocientíficas com ressonância magnética, que permite mostrar as áreas cerebrais que são ativadas durante a realização de diversas tarefas, mostrou que a capacidade de manter o ritmo proporcionam quantidade maior de transmições ( sinapses ) entre os neurônios ativando o cérebro de forma mais intensa e o contrário, ou seja, um descontrole rítmico, proporciona inibições de sinapses. Conclui-se assim, que a rigidez rítmica traz um maior entendimento da música gerando um número maior de possibilidades interpretativas, escolhas que o intérprete deve fazer, como rubato , agógica e dedilhados expressivos. Me parece evidente que músicas boas geram interpretações mais distintas, não acredito numa música que tenha apenas uma possibilidade de interpretação. Porém, em relação a utilização ou não de rubato, numa interpretação é algo que se estuda caso a caso, tentado revelar todas a vantagens e desvantagens de tocar com tempo preciso ou com rubato.