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Nonononononononononononon-
onononononononononononon-
onononononononononononon-
onononononononononononono
ENTREmeios
Nonononononononononononon-
onononononononononononon-
onononononononononononon-
onononononononononononono
CHAMADA
PRINCIPAL
publicação dos alunos das faculdades integradas hélio alonso - unidade méier - VERSÃO BETA - maio 2009
EDITORIAL É num clima de vitórias e esperanças que anun-
ciamos a chegada da nossa Manga com Leite, que
não é mais um mito para nenhum de nós. Em pouco
tempo conseguimos definir a consciência laborato-
rial que manteve o vigor da iniciativa, sabendo que 04 Vitrine Virtual
teremos bastante trabalho pela frente, com a ousa- Breve panorama sobre o uso
dia que todo projeto experimental precisa ter. indiscriminado das redes de
Em princípio, durante as aulas ministradas pela
relacionamentos. Traz ainda
professora Maracy Guimarães, na disciplina Reda-
ção e Edição em Impressos, tínhamos apenas como
entrevista especial com Gilson
objetivo o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos Caroni, professor da FACHA.
nossos textos. Pouco a pouco, nasceu o desejo de
contornar a falta de um veículo impresso para fazer
circular nossas matérias. E em nossa redação vir-
tual as ferramentas, ainda desconhecidas por nós,
ganharam forma em nossa revista eletrônica.
Quando exploramos novos espaços nos lançamos
a um grande desafio, sob o risco de errar em alguns
passos. Mas em nós não faltará sensibilidade para
respirar fundo, deixando de lado o esmorecimento 10 Os Donos da Voz
quando faltarem nossas forças, pois estamos con-
fiantes diante de um horizonte infinitamente pro- Veículos de Comunicação in-
missor. Afinal, destes ensaios intentamos alcançar dependente resistem ao tem-
outras rotas e vôos. po e ganham novos adeptos
Nossa proposta procurará sempre romper com no Brasil.
os modelos de reflexão dedicados a microcosmos
simplificados, onde nunca há vontade nem propos-
tas que fujam do óbvio. Também não escolhemos
ser “diferente” para apenas usar publicidade em
nosso favor, esbanjando “novidades” e manifestos
inflamados. Evitaremos as mudanças feitas sem
qualquer interesse em elevar verdadeiramente nova
disposição de espírito, para além das “obrigações”
curriculares.
14 Um Periódico
Aproveitem a leitura! Inconveniente
Revista Neonazista de São
Equipe Manga com Leite.
Paulo, divulga sua ideologia
na grande rede.
Expediente
Diretor Geral: Professor Hélio Alonso
Vice-Diretora: Márcia Alonso Pfisterer Coordenador de Jornalismo: Professor Célio Campos
Assessor Pedagógico: Professor Nailton A. Maia Coordenação de Edição: Professora Maracy Guimarães
Secretário Geral: Walmir Machado Coordenador dos Laboratórios: Gilvan Nascimento
Coordenador Unidade Méier: Professor Felipe Franceschini Projeto Gráfico e Execução: Isabelle Ramos
Alunos que participaram desta edição:
Reportagens e Revisão: Guttemberg Santos, Rafael Queres, Mayara Freire, Cláudio Amaro, Frederico Hartje, Romullo Assis, Marcelo Souza,
Luiz Cláudio Bahiense, Clarissa Cardoso, Alex Campos, Daniel Viana, Thiago Teixeira, André Santiago, Thuane Nandes e Rose Gomes
Imagens: Internet e Banco de Imagens - Matéria Meio Urbano Thuane Nandes Tratamento de Imagens: Caroline Souza e Isabelle Ramos
Distribuição: Faculdades Integradas Hélio Alonso; Rua Lucídio Lago, 345 - Méier/RJ Tel.: 2102-3350 - www.facha.edu.br
site: www.mangacomleite.webnode.com
CULTive: Cinema 16
A genialidade do cineasta
russo Andrei Tarkovski.
18 Velhinhos mas...
Acervo dos sebos cariocas atra-
em cada vez mais leitores em
busca de raridades.
Ao Alcance 06
das Mãos
Estudo revela que os brasilei-
ros são os maiores consumido-
res de sexo virtualizado.
Fenômeno 20
de Mídia
Ronaldo marca golaço na
imprensa em sua volta aos
gramados. Crise mundial
chega ao futebol.
Espaço Aberto 12
Imprensa sindical procura ser
uma alternativa aos veículos 24 Ligue a Seta
comerciais do país. O Núcleo Campanha aborda a impor-
Piratininga de Comunicação é tância da obediência as re-
um desses exemplos. gras no trânsito.
Meio Urbano 26
Conheça a trajetória da
arte de Erivaldo Ferreira da
Silva, sua poesia de cordel e
suas xilogravuras.
irtual
H
descrição: á pouco tempo,
você precisava ser Por Guttemberg Santos
convidado para
entrar, mas agora é só O que você anda fazendo no Orkut?
chegar e ir ficando. Não
tem “casa de vidro” e os mostrando 5 de 60.000.000
seus amigos não estão
competindo para virarem O modelo fotográfico Davi Medeiros, 26 anos, usou
líderes. Não existe mínimo o site para tornar-se mais conhecido: “Coloquei fo-
de pessoas para cair na tos no meu álbum de um trabalho já feito e para a
sua rede e você ainda pode minha surpresa uma dessas fotos foram parar num
falar quanta besteira quiser texto de um colunista (David Brasil) do jornal Meia
que só vai ser expulso Hora. Alguns trabalhos que realizei foram conse-
por incitação à violência, guidos por intermédio do Orkut e ainda tem alguns
discriminação ou apologia blogs que falam sobre mim. A fonte deles é o meu
ao crime. O lado ruim é não profile (perfil)”, detalha.
estar concorrendo a R$1
milhão, como no Big Brother A brasileira, Ana Ferreira, fez bons negócios. Ela ven-
Brasil, porém ao se instalar deu uma foto onde aparecia sendo abraçada de modo
no universo cibernético da abusivo - com as mãos sobre os seios - pelo príncipe
rede de relacionamentos William da Inglaterra. No Orkut, vaidosa, a estudante
Orkut o usuário poderá chegou a mencionar as vantagens da venda da foto.
ampliar seus horizontes ou Depois, arrependida, retirou o perfil do ar.
ficar apenas fofocando!
Uma vítima de assalto, que não quis se identificar,
ouviu o nome do assaltante e foi procurar no Orkut.
Depois de pesquisar pelo nome dele e bairro, encon-
trou o perfil do assaltante com a foto da moto usada
no assalto e tudo mais. A vítima criou um perfil falso
de uma garota e trocou vários recados com um dos
assaltantes. “Porém, isso não me serviu de muita coi-
idioma: Todos sa, pois, não tive coragem de mostrar para a polícia”,
finaliza a vítima.
categoria: Relacionamento
Humano O advogado José Carlos Nunes dos Santos utiliza o
Orkut para discutir questões jurídicas com colegas
dono: Orkut Büyükkokten de trabalho e considera esse espaço uma opção para
quem quer se expressar sem a burocracia utilizada
moderador: Google pela mídia. “O Orkut é uma ferramenta importante
no que diz respeito a expor suas idéias, por exem-
tipo: Pública plo, fui professor num curso de Direito do Trabalho
na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
privacidade e aproveitei para colocar as aulas gravadas num es-
do conteúdo: aberta paço dedicado à vídeos no meu profile, foi um su-
cesso”, finaliza.
local: Planeta Terra
A ativista Marta Serrat e mais alguns amigos mobiliza-
criado em: 2002, E.U.A. ram a passeata do Dia da Dignidade simultaneamente
em 21 cidades do Brasil em maio de 2006 por intermé-
membros: 60 Milhões dio do Orkut. Ela utilizou as comunidades para infor-
mar e organizar as diretrizes do movimento.
No mercado
Recentemente a empresa Asus divulgou a produção de um mini laptop com o objetivo de oferecer praticidade e mo-
bilidade aos usuários. E o mais importante: o mini computador tem uma configuração que permite que os internautas
acessem as informações mais importantes no seu dia a dia. No Brasil, o Orkut está nesta lista.
A atividade mais popular na internet é o acesso a redes sociais, à frente de e-mails, de acordo com estudo lançado
pela instituição de pesquisa Nielsen em 2009. No total, 67% dos internautas exercem essa atividade, contra 65% que
utilizam e-mails, sem contar o fato de que o crescimento do alcance das redes e blogs é duas vezes maior do que de
outras ferramentas mais tradicionais, como portais, e-mails e buscas.
entrevista
Gilson Caroni Filho
G
ilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas
Hélio Alonso (Facha), colunista da Carta Maior e colaborador do
Observatório da Imprensa. Em 2004, publicou um artigo sobre o Orkut,
no Jornal do Brasil com severas críticas ao uso do Orkut, chamando-o de uma
fantástica coleção de retratos sem acreditar na sua capacidade para criar interatividade entre os parti-
cipantes. Os tempos mudaram, as redes sociais predominam na escolha de navegação dos internautas e
o professor já possui dois perfis no Orkut, que juntos contabilizam mais de 1,3 mil “amigos”. No entanto,
Gilson não mudou sua postura crítica em relação ao site, mas reconhece a capacidade do ser humano de
adaptar-se ao novo e torná-lo útil para a sua vida, seja ela profissional ou pessoal. Como esta entrevista, por
exemplo, que foi realizada através da página de recados do Orkut.
Como você classifica o febre do Orkut no Brasil? mento. Observe que, em muitas comunidades
Gilson - Como algo que dá claros sinais de em que se discute política, a informação ainda
esgotamento provém da mídia tradicional.
O Orkut pode ser considerado um lugar-comum não Em sua opinião, o que mudou no Orkut desde o texto
controlado pelas empresas de comunicação? no Jornal do Brasil,em 2004, agora que você tem
Gilson - Em absoluto. É um não-lugar criado dois profiles, ou melhor, 1387 amigos.
pelo Google. É o terreno do descompromisso Gilson - O texto saiu no Jornal do Brasil e o
travestido de supostos engajamentos, como título era “Nunca fomos tão felizes”. Se eu ti-
podemos ver em algumas “comunidades”. vesse que retificar alguma coisa naquele arti-
go seria no sentido de dizer que, quando o ser
Você acha que o Orkut ultrapassou as barreiras humano entra em qualquer campo, ele redefi-
da subjetividade virtual e rompeu as correntes da ne as propostas iniciais. Quanto aos “amigos”,
alienação televisiva? melhor não banalizar a palavra. Melhor seria
Gilson - Não. A web, como bem enfatiza falarmos em conhecidos. Mas o fundamental é
Bauman, é o lugar da conexão, não da relação. ter em mente que o Orkut não cria subjetivida-
A televisão está perdendo seu lugar de mídia des novas. Pelo contrário, ele atende a deman-
hegemônica para a Internet, para blogs e si- das de uma subjetividade que não quer maio-
tes alternativos, não para sites de relaciona- res intimidades. Claro que há exceções.
O
s dados são de uma pesquisa realizada pela empresa Symantec em oito países e divulgada
em fevereiro deste ano. O estudo revelou que 55% dos brasileiros com acesso à internet
fazem busca por temas ligados a pornografia e sexo. Em segundo lugar estão os chineses,
que conectam 51% do total de seus computadores em sites do gênero. Os alemães e os
britânicos (35%) são os menos interessados em sexo explícito virtualizado. Além desses
países, participaram também do estudo França, Japão, Estados Unidos e Austrália. Foram entrevis-
tados 4.687 adultos e 2.717 crianças. Vale dizer que a empresa que propôs a pesquisa atua no setor de
informática e, em especial, no âmbito do aperfeiçoamento de antivírus, como o Norton, por exemplo.
C
urioso? Basta digitar mente por 72 milhões de inter- na TV pelo programa Domingo
“sexo” no Google que, nautas. A cada dia, 266 novos Legal, do SBT. Nele eram exi-
em apenas cinco cen- endereços, de conteúdo impró- bidas crianças, em especial me-
tésimos de segundo, prio para menores, surgem na ninas, que faziam a “dança da
96 milhões de sites rede. De acordo com a ONG garrafa”, a exemplo das “dan-
são indicados na pesquisa. Se mu- SaferNet Brasil, 53% das crian- çarinas” oficiais de um grupo
darmos para o termo “sex” (sexo ças e jovens que acessam a in- “musical”. Alternando entre o
em inglês) alcançaremos a marca ternet já tiveram contato com fulgor das palmas até o registro
de 776 milhões de referências. artigos agressivos ou consi- do voto eletrônico por parte do
Populares, os sites de derados impróprios para auditório, um público de mi-
pornografia são visitados sua idade. Em geral, lhões de telespectadores assistia
mensal- a pornografia é a competição realizada entre as
usada para o des- jovens. Contemporizando o ab-
cobrimento do surdo, não menos recriminável,
sexo em fantasias basta uma pesquisa ao Youtube
masturbatórias. pelo funk “dança do créu” acres-
Em uma breve re- cido da palavra “criança” para o
trospectiva, não muito absoluto assombro. Impressiona
remota, recordaremos ainda mais constatar que quem
de uma espécie de concurso produz a maioria dos vídeos é a
de dança infantil que foi lançado própria família.
Pornografia infantil é crime passível de pena de reclusão de dois a seis anos e multa, segundo o artigo 241, do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O crime consiste em apresentar, produzir, vender, fornecer, divulgar ou
publicar, por qualquer meio de comunicação, inclusive rede mundial de computadores ou internet, fotografias ou
imagens com pornografia ou cenas de sexo explícito envolvendo criança ou adolescente.
E !
m janeiro, a China rede, bem como a fixação
a
iniciou processo para de políticas públicas
c
punir portais, como o de segurança di-
o
mais famoso serviço recionadas
B
de busca em manda- para ini-
a
rim, Baidu, além do Google, por bir o
descumprimento da ordem de re-
tirar do ar páginas de conteúdo
a l acesso,
considerado abusivo por sua
legislação. Os chineses, atual-
mente, são a maior população
C a maioria
dos países que
censura a pornogra-
conectada à internet, totalizando fia não consegue evitar
250 milhões de usuários. Além da que o conteúdo ilegal esteja
China, os países que proibiram a disponível nos sistemas de bus-
pornografia são: Arábia Saudita, ca. A auto-exposição de adoles-
Iran, Barém, Egito, Emirados centes em poses sensuais explí-
Árabes, Kwait, Malásia, Indonésia, citas, em divulgações de sites de
Singapura, Quênia, Índia e Cuba. relacionamento, como o Orkut,
Apesar de contar com apara- também tem sido alvo de inves-
to legal para reprimir a circula- tigações nos departamentos de
ção de imagens sexualizadas na polícia no mundo inteiro.
A PÚBLICO
os filmes que ela e as amigas ti-
nham vontade de ver.
Em Five hot stories for Her, a
ALVO
diretora explica que buscou en-
tender os sentimentos femininos,
numa tentativa de desconstruir
o papel tradicional das mulheres
submissas, acessórios de prazer.
Para conseguir maior audiência entre as mulheres, Kim Mello, representante da produtora de pornô
nacional, Brasileirinhas, investiu no culto à “famosidade”: “Com a onda de celebridades, fica muito mais
fácil a exposição da imagem. Temos o apoio total da mídia”, comemora o também assessor de imprensa,
em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. A diretora comercial da mesma produtora, Zuleica Sanches,
considera que “atores” como Alexandre Frota, Leila Lopes e Gretchen foram o estopim do fenômeno no
país. Segundo revelou a revista Época, ela julga que “esses filmes costumam ter roteiro elaborado e inter-
pretação mais profissional. Isso atrai as mulheres, tanto quanto os homens”.
Pornografia Contábil
“sex” é a palavra mais assistindo pornografia 28% mulheres
procurada na internet A cada segundo, 89 dólares são 70% do tráfego de pornografia
12% de todos os websites gastos com pornografia na internet ocorre entre 9h e 17h
são pornográficos na internet em expediente de trabalho
25% de toda solicitação, nos A cada dia, 266 novos sites de Estima-se que existam 420
mecanismos de pesquisa, pornografia surgem na internet milhões de páginas
são pela pornografia sobre pornografia
A receita dos EUA com
35% de todo download na 3% é produzido pelo
internet são produtos de pornografia na internet em 2006:
2,84 bilhões de dólares Reino Unido
natureza pornográfica
A cada segundo, 28.258 72% dos usuários da 4% pela Alemanha
usuários da internet estão pornografia na rede são homens; 89% pelos Estados Unidos
Tro
dades e a construção de um “império do
prazer”, por parte da indústria do en-
tretenimento, podem ser revisitadas em
“A Sociedade do Espetáculo”, de Guy
n
Debord, que em uma angulação precisa
definiu o espetáculo como “uma relação
social entre pessoas, mediatizada por
imagens”. Dessa maneira, “o espetácu-
co
lo submete para si os homens vivos, na
medida em que a economia já os sub-
meteu totalmente. Ele (o homem) não é
e Membros
nada mais do que a economia desenvol-
vendo-se para si própria. É o reflexo fiel
da produção das coisas, e a objetivação
infiel dos produtores”.
De acordo com o professor Ivo Lucchesi, no ensaio “A mídia e a cultura
pedófila”, vivemos numa sociedade cujo investimento maior reside no culto à preservação da joviali-
dade, numa espécie de síndrome de Peter Pan. A moda, as clínicas de embelezamento, o esporte, as
academias de ginástica, a publicidade e os “astros”
da música, da novela e do cinema compõem o vasto
quadro a focar o ideal da juventude eterna. A proli-
feração de “lolitos” e “lolitas”, respaldados pela pro-
paganda midiática, são exaltados como modelos de
consumo. Lucchesi acrescenta que “de tanto o olhar
ser incitado a flagrar a nudez como ‘imagem’, vai-se
consolidando o processo de virtualização do real. A
virtualização nada mais é do que a abolição de fron-
teiras entre o real e o simbólico”.
Longe de satanizar a beleza das formas do corpo e o
prazer que se pode usufruir com ele, é preciso consta-
tar que na antiguidade clássica, por exemplo, inexistia o
moralismo repressor e deformador dos impulsos da von-
tade humana. Desejar e ser desejado eram pressupostos da honra. A educação sexual era liberta de patologias
e a demarcação dos deleites do corpo entre o público e o privado não era uma imposição normativa. Nos dias
de hoje, todavia, não se pode garantir que o espaço público da nudez tenha na honra uma recompensa. Big
Brothers, “artistas” e mulheres-fruta ocupam páginas e mais páginas dedicadas a suas formas “esculturais”,
conseguidas graças ao aparato técnico de cirurgiões, iluminadores e maquiadores, em troca de acordos mi-
lionários, carros importados e apartamentos.
Lolita é o clássico exemplo na ficção que abarca o tema da pedofilia. Obra de Vlad-
mir Nabokov, o livro é narrado por Humbert, personagem que se apaixona por uma me-
nina de aparentemente 12 anos, deslumbrada pelos astros de Hollywood. O personagem
faz reflexões sobre sua atitude condenável, com o intuito de convencer o leitor de sua
imputabilidade, como se estivesse perante um júri.
Para se justificar, Humbert usa, entre outros exemplos, o relacionamento de Dante
(autor de A Divina Comédia) com Beatriz, sua paixão não correspondida, que suposta-
mente tinha oito anos quando foi vista pela primeira (e talvez única) vez. Algumas críticas
acenam para a possibilidade de o livro de Vladmir Nabokov, antes de galgar um espaço
obscuro na literatura por alusão à pedofilia, ter retratado a cultura da hipocrisia puritana
que reinava nos EUA durante os anos 1950.
os donos
da Voz
A produção de veículos independentes resiste ao tempo
Por Mayara Freire
O
‘Fazendo Media’, é um é nessa diversidade que está sua negação e referência a atos violentos.
exemplo desta ação grande riqueza”, explica. Conseqüentemente, a imagem desta
conjunta. O veículo foi Seguindo a mesma linha, entre- região se encontra estigmatizada.
criado há cinco anos tanto com um discurso diferente, a
por estudantes da Organização Não-Governamental A contestação
Universidade Federal Fluminense: ComCausa, que surgiu em 2003 Adriano Dias considera que os
_ A idéia era produzir infor- em Nova Iguaçu, na Baixada jovens de hoje podem ter uma for-
mações diferentes daquelas pro- Fluminense, também resgatou o ça maior ao se expressarem através
duzidas pela mídia comercial, sem conceito do jornal alternativo. O de veículos alternativos. Ele exem-
compromisso apenas com a cober- informativo criado em 2007 tem plifica com sua experiência duran-
tura dos conflitos econômicos e como foco principal a discussão te sua juventude: “Quando eu tinha
com as instâncias oficiais de poder. dos direitos humanos, econômicos, 15 anos, em 1985, fazer um fanzine
E sim, uma cobertura contra-hege- sociais, culturais e ambientais. montado com recortes e textos em
mônica, comprometida com uma Segundo Adriano Dias, mem- máquina de escrever era pratica-
visão progressista de sociedade, bros da instituição, a principal in- mente a única mídia que poderí-
afirma Leandro Uchoas, integrante tenção é inovar na abordagem de amos produzir na época. Hoje, os
da equipe do “Fazendo Media”. ações positivas, diferentemente meios para fazer um jornal, uma re-
Com o slogan “A média que a o que acontece na grande mídia. vista, são relativamente acessíveis.
mídia faz”, o jornal de Niterói com- “Tínhamos que criar um jornal A questão é qual o aproveitamento
posto por jornalistas e estudantes para atingir a sociedade, poderes real disto pelos jovens. O momento
da FACHA e da UFF, entre uma públicos e demais movimentos so- histórico é outro, a despolitização,
pauta e outra faz críticas diretas ciais da região. Mas não somente o fim das ideologias e poucos tem
ao predomínio dos veículos de co- um informativo da ONG, mas um verdadeiramente causas. Acredito
municação de massa na sociedade. espaço em que as pessoas e movi- que estar fazendo algo já é um
Leandro acredita que poderemos mentos pudessem ver a Baixada e princípio,” destaca.
sonhar com uma realidade mais serem vistas”, afirma. Com a frase: “Precisamos cons-
justa, quando a mídia livre ganhar Adriano explica que a invisibi- cientizar a nossa geração e mudar
maior espaço: “Queremos disputar lidade da Baixada Fluminense no o sistema!”, Giordana Moreira,
o espaço de construção de idéias noticiário estimulou a linha editorial participante da ComCausa, tam-
com a mídia comercial. Por isso é do veículo. Ele lembra que embora bém conta no site o sentimento de
obrigação de todos lutar pela de- aproximadamente 50% das notí- quando descobriu que era possível
mocratização dos meios de comu- cias publicadas na grande mídia te- contestar e exprimir suas idéias.
nicação, e pela construção de uma nham como foco o Rio de Janeiro, “O mundo dos fanzines, das
alternativa real à grande mídia. Os somente 5,4% delas referem-se a bandas de garagem, dos skatistas e
veículos de mídia livre são dife- municípios da Baixada, e, em sua qualquer outra forma de subversão
rentes em forma e conteúdo, mas maioria, descreve uma narrativa de de padrões comportamentais era
Em nome da Liberdade
O
s jornais alternativos tive-
“Ex”, “De Fato”, “Repórter”, e o fa- tos outros, o veiculo exerceu grande
ram seu grande momento
moso “Pasquim”. Foram mais de influência em todo o país. Usava,
no período de regime mili-
150 publicações, abordando diver- quando necessário, metáforas para
tar. Nasceram e morreram cerca de
sos temas. Porém, a grande maioria tentar driblar a censura.
300 periódicos na década de 70. A
não passava da quarta edição. O jornalista Pery Cota, defende
censura, imposta pelo governo, li-
Nascida em 1972, a revista a Constituição Federal que protege,
mitou os trabalhos nas redações e
Opinião, editada por Raimundo de maneira veemente, o direito de
fez com que jornalistas insatisfeitos,
Pereira, foi um dos mais influentes informar e de ser informado: “Eu
criassem outras formas de se expres-
periódicos alternativos durante o apoio os jornais alternativos, pois
sar. Eram jornais diferentes entre
regime militar. Mas o tablóide que apoio à liberdade de expressão,
si, alguns alinhados com a doutrina
influenciou em proporções colossais pois muitas vezes os outros veícu-
anarquista, outros preocupados com
a cultura e a política brasileira foi los não permitem isso, com seus
os anseios feministas ou com a difu-
mesmo O Pasquim. O jornal vendia interesses mais variados e fazem
são do pensamento marxista, porém
mais de 200 mil cópias por semana censuras que desconhecemos”, diz.
todos unidos contra a repressão.
e se espalhou pelo Brasil com sua Pery exalta a grandiosidade da li-
O jornal “Pif-Paf”, fundado por
linguagem ousada e bem humo- berdade de expressão ao se referir
Millôr Fernandes em 1964, foi o
rada. Composto por nomes como à frase do jurista e jornalista, Rui
pioneiro. Depois vieram “Folha
Millôr Fernandes, Ivan Lessa, Sérgio Barbosa: “A liberdade é a primeira
da Semana”, “Bondinho”, “O
Cabral, Jaguar, Paulo Francis, Luis e a principal das liberdades, sem a
Sol”, “Em Tempo”, “Coojornal”,
Carlos Maciel, Henfil, Ziraldo, Chico qual provavelmente as demais não
“Opinião”, “Movimento”, “Versus”,
Caruso, Angeli, Miguel Paiva e tan- existiriam”, finaliza.
espaço aberto
para novas ideias
Profissionais incentivam produção comunitária
A
partir do trabalho de- tes de Santa Catarina , do
senvolvido pelo NPC, os Rio Grande do Sul, do Para
trabalhadores puderam e de Minas Gerais.
aperfeiçoar seus instrumentos de
leitura e, desta maneira, divulgar FASE DE CRESCIMENTO
melhor suas ideologias e opiniões Victor Giannotti, 65
para a sociedade. anos, escritor, fundador e
Atualmente, o NPC é formado um dos coordenadores do
por um conselho de seis pessoas e NPC, admite que o grupo
conta com uma equipe composta seja pequeno, embora já de-
por jornalistas, professores, ati- sempenhe um papel de des-
vistas sindicais e de movimentos taque na sociedade:
sociais espalhados por vários es- “Somos pequenos, mas
tados do Brasil. Entre os mem- tamanho não é documento.
bros, se destacam no Rio: Claudia Queremos ser como um áto-
Santiago, jornalista; Isabela Pinto, mo que é a causa de um tre-
produtora cultural; Francisco mor grande”, detalha.
Lara, professor de filosofia e Vitor Além disso, o coorde-
Giannotti, escritor. Participam nador acredita ser impos-
também em São Paulo: Carmem sível para os trabalhado-
Sílvia Moraes, professora de so- res atuarem na luta pela
ciologia da educação e Cicero hegemonia na sociedade,
Humbelino, da Comunicar Social. sem uma comunicação bem fei- a classe que tem o poder econômi-
O Núcleo tem ainda representan- ta. Para isto, o NPC promove, no co se vale, a cada instante, de todos
primeiro domingo de cada mês, os instrumentos para manter sua
uma sessão de cinema no Cine comunicação.”, explica Giannotti.
Odeon, na Cinelândia, seguida
de um debate com lideranças PELO BEM COMUM
dos movimentos sociais. Entre as várias atividades de-
“Não existe uma comunicação senvolvidas pelo NPC, as que mais
neutra. A classe dominante, ou seja, se destacam são os cursos voltados
“”
Com os ensinamentos lá (NPC) adquiridos, pude
trução de um programa de rádio
em todas as suas etapas e os alunos
compreender uma nova forma de lutar pelos meus
saem com a tarefa de organizar rá- direitos, lutar por uma vida melhor. Me ensinou
dios comunitárias nas áreas em que como produzir um jornal, como fazer textos
atuam. A turma também produz jornalísticos, me ensinou uma teoria sindical
um jornal como incentivo para que e comunitária que não conhecia até então; me
outros sejam feitos nas comunida- ensinou vários tipos de comunicação, como radio,
des. Já foram realizados dois cursos
fotografia, charge, e outros...”.
estaduais, um regional, na Região
Douglas Mendonça
dos Lagos e um nacional, com par-
ticipantes de vários estados.
Nas aulas, os alunos têm a
D
oportunidade de aprender, por
exemplo, como se faz um lide, uma ouglas Baptista Mendonça é
reportagem e uma boa redação. O repórter do Jornal Cidadão,
método de ensino não segue o pa-
veículo de comunicação das
drão de nenhum jornal comercial,
utiliza a formação pessoal como comunidades do Complexo da Maré,
base para o entendimento e ex- desde 2007. O Jornal é bimestral e tem
pressão de idéias e opiniões. tiragem de 20 mil exemplares. Douglas
Entretanto, além das notícias, ou- participou do curso de formação em
tro aspecto bastante trabalhado é a comunicação do NPC.
fotografia, onde o professor Soninho
leva a turma para a rua e mostra como
montar uma história sem palavras, Como foi o começo no jornal?
usando apenas a foto como lingua- Douglas - Em 2004 fiz um curso preparatório para o 2° grau no
gem. Por esta razão, há a necessidade
de se buscar um bom ângulo e de cap-
Ceasm (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré), onde fica o
tar tudo que se julga importante. Jornal O Cidadão. Daí no ano seguinte, fui chamado para fazer um
curso no Jornal O Globo e, quando conclui o curso, fui ser voluntário
MAIS E MELHORES do Jornal O Cidadão. Trabalhei lá por um ano e saí. Uns dois anos
Os fundadores do NPC buscam depois, fui chamado de novo para o jornal onde estou até hoje...
incentivar a formação de jornais Como é a relação do Jornal com a comunidade?
comunitários, na certeza que esta Douglas - Muito boa e próxima. Eles ligam pedem para a gente
é uma das melhores maneiras das
comunidades se verem retratadas.
cobrir os eventos, dão sugestão de pautas... E por ai vai...
De acordo com Gisele Martins, Por que vocês decidiram fazer um blog?
editora do jornal O Cidadão, do Douglas -O jornal impresso é bimestral, às vezes até trimestral... As
Complexo da Maré – que tem o coisas que acontecem na Maré demoram muito para serem publicadas,
apoio do NPC - o curso dá a oportu- então surgiu a idéia de fazer um blog para lançar as coisas que aconte-
nidade para quem mora em comu- cem na Maré..E também temas importantes...
nidades de baixa renda, e não tem A comunidade acompanha o blog?
como cursar uma faculdade, adqui-
rir a experiência de fazer um jornal
Douglas -Estamos começando com o blog. A idéia é atingir as lan
comunitário, bem como aprender as houses, igrejas, lugares de maiores acessos... Mas ainda não atinge
técnicas da redação de jornal para diretamente... Estamos no período de divulgação... Mas a intenção é
poder utilizá-las no seu dia a dia. atingir milhares de pessoas...
um periÓdico
Inconveniente
Revista divulga ideologia Neonazista pela Internet
Por Romullo Assis e Marcelo Souza
O
periódico está na Todos vêem isso, está nos nossos racialismo. O termo define uma
nona edição e exibe olhos/Nós sabemos isso, está é a prática basicamente intelectual,
as colunas “Filmes hora que lutamos/Nenhum de baseada, principalmente na teo-
Diversos”, que re- seus integrantes será poupado/ ria da evolução de Darwin e dos
senha obras como A guerra racial sagrada está de- experimentos que sobreviveram
A Lista de Schindler, de Steven clarada...”). Já em Arte Ariana, a Segunda Guerra. Visa, no en-
Spielberg, considerado pelos pode-se encontrar pinturas de tanto, a separação das raças:
autores como um belo exem- Wolfgang Willrich, que recebeu destinando aos arianos os car-
plo de corrupção de mentes; encomendas do próprio Hitler e gos de comando, de poder; e às
“Biografias” que lista os autores esculturas de Emil Hipp, a tratar demais etnias, os cargos subser-
simpatizantes da causa, como o de histórias mitológicas ligadas viente, “baixos”. É o caso típico
italiano Julius Evola e o ameri- aos povos europeus. do Apartheid e dos neonazis-
cano Ezra Pound (“Essa guer- Os autores do informativo não tas conhecidos como Nacional
ra não nasceu de um capricho se identificam, porém, se auto-in- Socialismo.
de Hitler ou de Mussolini. Essa titulam nacionais socialistas. Eles Nos Estados Unidos sua prá-
guerra forma parte da guerra mi- afirmam que são diferentes dos tica é tão típica que existe um
lenar entre agiotas e trabalhado- Skinheads e dos próprios nazis- partido político que defende
res ...”); “Músicas Traduzidas”, tas da época de Hitler. Para eles, abertamente a segregação racial,
com letras de bandas como a fin- a prática da violência é hedionda os White Knights (Cavaleiros
landesa Sniper (“Apenas a Adolf e preferem garantir a sua influên- Brancos). Eles dizem, por exem-
Hitler nós levantamos nossos cia através da propaganda: plo, que está vetado às mulheres
braços, você é o Deus, nós sau- “Devemos assegurar a existência qualquer tipo de trabalho e aos
damos sua terra! Descanse em do nosso povo e o futuro das crian- homens que não forem brancos
paz, pai, descanse em paz – de- ças brancas. Não se limite somente ingressar no serviço público,
pois do túmulo sua voz será ou- à leitura, produza o conhecimento, militar ou mesmo qualquer car-
vida!”) e a canadense Rahowa produzindo e criando novos mate- go de liderança.
(“Enquanto marcho para a bata- riais, propagando o ideal!” divul- Não é para menos que os
lha, meus camaradas eu saúdo/ gam os criadores do periódico. membros destas áreas são entre-
Esta noite a raça branca preva- vistados regularmente na revista
lecerá/A morte por nossas espa- racialismo como “tipos de pessoas que de-
das aos inferiores e forasteiros/ Para os autores, as idéias que vem ser seguidas e tomadas como
Toda sua resistência irá falhar/ propagam não são racismo, mas exemplo”, ressaltam.
Difusão
“- O informativo foi uma iniciativa pessoal. Já estive colaborando com sites, fóruns, etc., mas sempre
notei que muitos camaradas não têm qualquer orientação e instrução mais específica, tanto teórica ou
prática para o entendimento do Nacional-Socialismo Hitlerista, então como já estou envolvido nisso a um
bom tempo faço a minha parte ajudando no que eu puder”, manifesta o redator.
Indústria Cultural
Para ele, além de fomentar a causa “fazer mais por um mundo melhor”, deve-se boicotar produtos de
empresas que auxiliem os judeus e os negros e seriados e filmes que desvalorizem os brancos.
“- Homer é um porco gordo, calvo, covarde e imbecil, cujo propósito exclusivo na vida é comer donuts,
beber cerveja e comer como um porco (isso quando ele não está quase explodindo o mundo na usina de for-
ça nuclear onde trabalha). Ele é egocêntrico, ganancioso, desonesto, intrigante, ladrão, covarde, incrédulo
e sem educação. Parece algumas pessoas que nós conhecemos na vida real, digamos...NEGROS?”, publica
em uma das resenha do periódico. - Diz com relação ao personagem da série americana Os Simpsons.
A eleição de Obama
Para os autores, a pior das catástrofes, a “prova de que o mundo ainda não evoluiu” foi a eleição do pre-
sidente americano Barack Obama:
“- Eu acho que um personagem desses sendo presidente é só a ponta do iceberg subindo do mar, de-
monstra para o mundo que os americanos brancos já não se importam mais com a própria raça após tantos
anos de lavagem cerebral” - Expressa o idealizador da NSSP. E como uma solução do que para eles significa
o caos, propõe ainda algo ousado e altamente perigoso para a sociedade:
“- No meu ponto de vista mais “esotérico” disso tudo eu diria que estamos para finalizar um “ciclo his-
tórico”, termo comum entre alguns autores racialmente orientados, ou seja, é necessário uma derrocada,
caos, degeneração para o homem branco recuperar o seu norte, é necessário o “suicídio” de vários para a
retomada da coesão e da identidade de outros muitos”, finaliza.
andrei Tarkovski
o cineasta que veio do frio Por Luiz Cláudio Bahiense
A
o longo de sua carrei- ção. Os longos e belos enquadra-
ra, o cineasta russo mentos convidam o espectador a
sempre tentou ex- refletir, meditar sobre o que está
pandir os limites do vendo; Tarkovski quer que a pla-
que a o cinema e a téia vá até ele e não o contrário.
imagem podiam evocar na pla- E é exatamente essa “auto-in-
téia. E ele o fazia de um jeito úni- dulgência” que faz de seus filmes
co: Elas são enigmáticas, de uma uma experiência única.
presença quase mística em sua Apesar dos diversos problemas
composição. O diretor convida que assolaram a produção de vá-
quem assiste a se perder no uni- rios de seus filmes, tais como a já
verso criado por ele, trazendo de citada doença e a pesada censura
sua própria vivência o significado do regime soviético, que o levou
para o que é apresentado na tela. a deixar a Rússia após o térmi-
Vistos de fora, seus filmes po- no das filmagens de STALKER
dem parecer “duros” e até mesmo (cuja resenha se encontra nesta
frios para alguns, mas a verdade edição), Andrei Tarkovski jamais
não poderia ser tão diferente: O desistiu da sua paixão pela arte e
tema principal de sua obra é a vida, de sua obsessão em fazer da lin-
a humanidade e tudo o que esse guagem cinematográfica um ins-
termo detém em seu significado. trumento para a poesia, tal como
Seus filmes são difíceis, quase um escultor que apara as arestas
universalmente longos e extrema- de uma pedra para enfim revelar
mente metódicos na sua execu- a escultura que nela se esconde.
Filmografia:
Ubiytsy (1956) - Hoje não haverá saída livre (1959) - O Rolo Compressor e o Violinista (1960)
A Infância de Ivan (1962) - Andrei Rublev (1966) - Solyaris (1972) - O Espelho (1974) - Stalker (1979)
Nostalgia (1983) - Tempo de Viagem (Documentário para a RAI) (1983) - O Sacrifício (1986)
O
cineasta russo Andrei miséria. Seus serviços são contrata- se enuncia como tal. Existe apenas
Tarkovski deixou dos por um escritor e um cientista, um lugar sempre em metamor-
uma obra curta, po- empenhados em solucionar o mis- fose, sobrenatural e de certa for-
rém de inegável be- tério por trás das histórias e lendas. ma assustador em seu esplendor
leza e complexidade. Assim, os três personagens iniciam vago e silencioso. E é exatamente
Seus filmes, sempre com visuais uma jornada à procura “da sala”, essa coisa tão difícil de definir que
inventivos e carregados de ques- que dizem ter o poder de realizar Tarkovski capta com maestria em
tionamentos sobre a fé, a alma hu- qualquer desejo. todos os seus filmes, porém neste,
mana e o amor, possuem um senso Como dito antes, os filmes de de maneira insuperável.
meditativo, quase etéreo. Muitas Tarkovski sempre mostraram ex- Mas não é só de antecipação e
vezes, não temos certeza do que é celência no campo visual, mas em beleza visual que a história vive.
sonho e do que é realidade. Assistir STALKER, ele se supera. Imagens Nos momentos em que os perso-
a uma de suas obras é uma jornada como a do bar com os três per- nagens interagem entre si, pode-se
árdua, longa, por vezes até impene- sonagens reunidos logo no início ver outra característica típica de sua
trável, mas nunca infrutífera. do filme, o vento erguendo a po- obra: A angústia. Tanto o escritor
STALKER, que significa algo eira em forma de redemoinho e (Anatoli Solonitsyn), como o cien-
como “espreitador”, foi a última pro- a do STALKER na cama com sua tista (Nikolai Grinko) e o STALKER
dução do cineasta na União Soviética família mostram a proeminência (Alexander Kaidanovsky) são indiví-
e, talvez, o seu mais hipnotizante tra- técnica do cineasta. O uso do som duos em crise existencial. O primei-
balho. Partindo de uma livre adap- também é sensacional; desde o be- ro por estar desiludido com a sua
tação do conto “Roadside Picnic”, líssimo tema musical até os passos arte e seu papel na humanidade. O
escrito pelos irmãos Strugatsky, a tímidos e assustados dos frágeis segundo, por não conseguir conci-
história é simples, porém intrigante: personagens, os efeitos sonoros e liar o seu pragmatismo e busca por
Em um país fictício, numa época não o uso esparso de música comple- conhecimento com a idéia de que a
especificada, surge, da noite para mentam as imagens com maes- misteriosa “sala”, algo que aparen-
o dia, uma região que começa a ser tria, ditando o tom severo e opres- temente teria surgido por um mila-
chamada de “A zona” em que várias sivo do filme. Tarkovski opta por gre, possa cair em mãos erradas. E
pessoas começam a desaparecer. passar a tensão da viagem usando por fim, o protagonista, que vê sua
Não se sabe como ela surgiu e nem puramente a câmera e a edição. atividade como algo nobre e neces-
quem a criou. O lugar é cercado pela Não há efeitos especiais em mo- sário, além de algo que traga sentido
polícia e permanece isolado. Com o mento nenhum e o perigo nunca a sua sofrida vida. Entre discussões
passar do tempo, o local passa a acu- filosóficas e as armadilhas espalha-
mular uma aura sobrenatural devido das pelo caminho, Tarkovski discu-
aos rumores e tentativas fracassadas te a fé, a essência da arte e a busca
de estudá-lo. pelo melhor, carregando as imagens
As únicas pessoas com coragem com alegorias e simbolismo.
o suficiente para driblar a vigilân- No final do caminho, fica a cer-
cia e adentrar a área proibida são teza de seja lá o que for a “sala”,
os STALKERS, que no filme fun- o ser humano deve procurar a so-
cionam como uma espécie de guias lução de seus problemas e insegu-
turísticos, levando curiosos para ex- ranças olhando para dentro. Acima
plorar os segredos por trás dos ru- de qualquer coisa, STALKER é um
mores. O protagonista é um desses filme de ficção científica sobre a fé
guias e vive em estado de absoluta e a humanidade.
O
baixo preço ram sebos devido ao baixo preço ços que variam de R$ 1 a R$ 30, no
dos livros das publicações e aqueles que che- caso de um livro em ótimo estado.
não é o úni- gam dispostos a sentar diante das Para ele, o gibi também é uma
co atrativo estantes, fazer uma breve leitura e forma de estimular a leitura do
para muitos se tornar amigos. jovem. “É preferível, a criança e
leitores que não conseguem É o caso do professor aposen- o adolescente ler um gibi a ficar
passar pela Avenida Rio Branco, tado, Abel Souza, de 62 anos. Pelo o dia todo na frente de um com-
no centro do Rio, sem descer a menos uma vez por semana, ele sai putador jogando vídeo-game”,
escadaria espiral que leva ao sebo de Pilares, Zona Norte do Rio, para comenta o proprietário.
Berinjela. Aberto em 1993, pelos visitar os amigos do sebo no Centro. Sempre com uma música vindo
irmãos e sócios Silvia e Daniel Abel já foi percursionista e coleciona do fundo da loja, o sebo Baratos da
Chomsky, o sebo é especializa- discos de jazz e música latina, mas o Ribeiro, em Copacabana, também é
do em publicações de Ciências que o atrai ao Berinjela são os livros ponto de encontro de amigos e pos-
Humanas e conta com um acervo em bom estado de conservação, a sui um público bem diversificado.
de mais de 35 mil livros. limpeza e organização da loja. Claiton Marques, de 28 anos
Silvia, a primeira a chegar à O ex-escriturário do Tribunal trabalha há nove anos na loja e
loja todos os dias, é responsável de Contas do Município, Demétrio conta que conhece diversos clientes
pelas vendas. De acordo com ela, Ferreira, de 56 anos, buscou inspira- pelo nome. Enquanto atende uma
dentre as 60 pessoas que passam ção na França para dar nome de seu cliente que procura pelo best-seller
em média pela loja diariamente, sebo localizado na Praça Tiradentes, “O segredo”, ele descreve as inú-
existem três perfis de clientes: também no Centro. O Champs meras vantagens em se trabalhar
aqueles que entram apressados Elisées possui, em sua maioria, re- no sebo: “Aqui eu tenho contato
em busca de livros que estão fora vistas, gibis e livros didáticos de com escritores e intelectuais e gos-
do mercado, aqueles que procu- Ensino Médio e Fundamental a pre- to desse ambiente cultural rodeado
Roooonaldo!
FUTEBÓLICA
Fenômeno
de Mídia
De volta ao gramado, atacante
é aclamado pela imprensa
T
udo aconteceu como os
torcedores esperavam,
em meados da segunda
etapa do jogo, Ronaldo
foi chamado pelo técni-
co Mano Menezes para substituir
Jorge Henrique. Por conta de uma
séria lesão no joelho esquerdo, há
419 dias o Fenômeno não disputa-
va uma partida oficial. Embora em Guerreiro”, sobrevivente de três sé- esporte com a vida desregrada
atuação discreta, o ensaio de dri- rias contusões, capazes de derrubar que estava levando. Com direi-
bles revelou que a habilidade era a qualquer “mortal esportista”. Peças to a flagras de bebedeira, muito
mesma dos anos dourados de sua publicitárias ocupavam os interva- acima do peso ideal e um escân-
carreira, quando conquistou o títu- los da programação, com o anún- dalo com travestis em um motel,
lo de melhor jogador do mundo em cio: “Ele voltou!” E de fato era isto o jogador corria sério risco de
três oportunidades. mesmo o que ocorria, o Fenômeno ter seus milionários contratos
No dia seguinte, Ronaldo havia voltado. publicitários rompidos por jus-
Fenômeno estampava a capa de jor- Não há nada de anormal nes- ta causa. A mídia que há tempos
nais do mundo inteiro, assim como tes fatos, mas se nos esforçar- atrás o exaltava como principal
milhares de páginas da internet e mos lembraremos que há um responsável pelo pentacampeo-
toda a programação esportiva na TV ano, o discurso predominante nato mundial de seleções, consa-
dedicava preciosos minutos na aná- da mídia apontava para o fim do grando-se também como o maior
lise de cada respiração do jogador Fenômeno nos campos. Os veí- artilheiro na história das Copas,
durante a partida. Comentaristas, culos desacreditavam da capa- passou então a tratá-lo como
excitados promoviam o “Ronaldo cidade de Ronaldo retornar ao mais um “Bad boy” do futebol.
DEU NA MÍDIA
O Craque da Polêmica
12/05 – O jornal Folha de São Pau- 18/05 - A coluna Ooops!, do 20/05 - Sai na coluna Outro Ca-
lo noticia que Ronaldo assinou um UOL Notícias, divulgou que a TV nal, na Folha, que Daniela Beyrut-
contrato com o SBT até o encerra- Globo está pressionando para que ti, diretora do SBT e filha de Silvio
mento do Campeonato Brasileiro, em Ronaldo não apareça em peça pu- Santos, determinou que os dire-
dezembro. De acordo com a coluna blicitárias do SBT. A notícia afir- tores da emissora fiquem em total
Outro Canal, de Daniel Castro, o Fe- ma que a Globo já modificou o
silêncio sobre a produção dos co-
nômeno vai gravar duas propagandas enquadramento nas entrevistas do
craque para não exibir os logos de merciais do Fenômeno. Segundo a
institucionais que serão veiculadas
em todo o Brasil e aparecerá nas cha- Banco Panamericano, da Tele Sena coluna, Daniela espera “acalmar os
madas televisivas, interagindo com os e do Baú da Felicidade na camisa ânimos” e diminuir a pressão feita
apresentadores da emissora. do Corinthians. pela Globo sobre o atleta.
“”
a relação de Ronaldo com a mídia. Por ser figura pública,
ele é inspiração
para crianças que
Entrevista
acompanham o futebol,
tem de ser um bom
exemplo não só dentro
Fabrício Caseira
de campo
E
continuam por aqui.
stimativas de especia- chegou aos clubes. A AIG Seguros, Uma solução para os clubes
listas apontam que, patrocinadora do Manchester brasileiros enfrentarem essa re-
nos próximos dois United, da Inglaterra, com um dução de valores será com uma
anos, o crescimento dos maiores valores do mundo, mudança na filosofia de gestão.
do Produto Interno já anunciou que não renovará o Hoje, a distribuição das recei-
Bruto (PIB) do esporte deverá ser contrato em 2009. Até agora, os tas nos clubes é baseada no tri-
duas vezes menor que o registra- clubes mais atingidos tem sido pé de cotas de TV-Patrocínios-
do no período de 1999 a 2005, aqueles de menor expressão, com Bilheteria dos jogos. Com isso os
quando o ritmo da expansão atin- pouca visibilidade no mercado. clubes terão de se preocupar em
giu 11,8% ao ano. Uma saída encontrada para suprir cortar despesas e profissionalizar
No mercado nacional, a difi- a queda das receitas é a negocia- a gestão de suas diretorias, o que
culdade na renovação dos contra- ção com vários patrocinadores por inclui a diversificação das recei-
tos de patrocínios já foi sentida valores inferiores, transformando tas, com uma atenção especial ao
por vários clubes. O São Paulo, as camisas das equipes em verda- marketing, campanhas para aqui-
atual tri-campeão brasileiro, não deiros outdoors ambulantes. sição de novos sócios torcedores e
conseguiu aumentar o valor do Outros clubes muito atingi- melhor aproveitamento dos espa-
seu patrocínio. A renovação para dos são aqueles pertencentes a ços comerciais em seus estádios.
2009 acabou saindo pelo mes- conglomerados empresariais e,
mo valor dos anos anteriores. O portanto, o vínculo com o time
Corinthians, que depois da contra- é meramente financeiro. È o
tação de Ronaldo Fenômeno espe- caso do Chelsea, da Inglaterra,
rava arrecadar cerca de R$ 30 mi- do bilionário russo Roman
lhões, fechou por R$ 18 milhões. O Abramovich. Estima-se que
Flamengo, clube de maior torcida com a crise, os ativos de suas
do Brasil, também não conseguiu empresas já tiveram perdas de
o valor que pretendia para reno- US$ 20 bilhões, o que provo-
var com seu patrocinador, e está cou o desinteresse do grupo em
atualmente sem patrocínio algum, manter o clube. Em Londres,
um contra censo para uma marca comenta-se que o primeiro a fa-
dessa grandeza. zer uma proposta pelo Chelsea
Na Europa a crise também já levará o clube inglês.
Por favor,
ligue a seta!
Falta de ética
É
cada vez mais notável a má conduta e falta de ética no Logo, o que impera é o indi-
trânsito; motoristas sempre com pressa, não respeitam os vidualismo, a falta de educação
limites de velocidade, ignorando a sinalização, não andam e valores éticos. Como reclamar
em suas faixas; despreocupados, não fazem uso do retro- da violência, se não paramos para
visor; ávidos por “pegarem” passageiros, param brusca- analisar nossas condutas e pos-
mente em qualquer lugar; por acharem que moto não ocupa muito tura? Entende-se por ética, cuja
espaço, compartilham a mesma faixa e “tiram um fino” do motociclis- origem grega ethos nos remete a
ta; por defenderem o “ estou sóbrio”, mesmo após o 10º chope, ficam comportamento, o conjunto de
mais “corajosos”; por acreditarem que o assunto é “urgente”, falam ao valores pessoais que visam ao
celular e esquecem do trânsito; julgando não haver mais ninguém ao bem estar coletivo. A ética exis-
seu redor, esquecem da utilidade das setas indicativas... te porque existe o outro, e já que
temos de compartilhar a mesma
cidade, espaço e planeta, por que
Bola de Cristal não tentar fazer de nosso cotidia-
Muitos motoristas acham que o no algo mais ameno e pacífico?
correto é deixar que os outros “adi- Menos instintivo e brutal? Apesar
vinhem” como eles irão trafegar. de duvidar da existência de tal
Para estes que “compraram a car- vantagem, dizem que o ser huma-
teira” e àqueles que não são “viden- no é o único capaz de saber o que
tes”, lembremos que os veículos é certo e errado, ético ou não; en-
são fabricados com um útil acessó- tão por que deixamos a reflexão
rio capaz de sinalizar a mudança de de lado e nos assemelhamos ao
faixa ou ultrapassagem: A SETA. Guerra diária? comportamento animal, impul-
A SETA, para aqueles que De acordo com o Centro sivo e egoísta? Para Aristóteles,
ignoram sua existência, é um Latino-Americano de Estudos a ética é uma virtude da alma e
acessório de segurança e comu- sobre Violência e Saúde (Claves/ da inteligência, posto que a alma
nicação. Normalmente ficam na ENSP/Fiocruz), os acidentes no concerne ao aprimoramento do
frente e na traseira do carro e são trânsito matam anualmente mais modo de ser e agir com os demais,
acionadas por botões no volan- de 1 milhão e deixam, pelo menos, e a inteligência à busca da consci-
te do motorista. Sua utilização 50 milhões de pessoas feridas em ência e aperfeiçoamento pessoal.
é muito simples, basta mover o todo o mundo. As estatísticas se Para o filósofo, uma boa cidade só
botão para o lado que se quer ir. assemelham ao número de mor- se faz com bons cidadãos. Se ide-
Seu uso, nos dias atuais, ainda tes em guerras e concluem que a alizamos uma boa cidade, por que
não é muito comum, uma vez que melhor maneira de evitar aciden- não tentar ser um bom cidadão?
a maioria ignora sua utilidade. tes é o cumprimento das leis. Ligue a seta da conscientização.
CORDEL E XILOGRAVURA
O PROFISSIONAL
“Hoje, vendo para todas as idades, principalmente aos jovens. Mas
os que ficam fascinados e se tornam fiés clientes são os turistas eu-
ropeus. Trabalho também por consignação, encomendas no Rio de
Janeiro e São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, fazendo
propagandas também. Quando tem minisséries de época na Globo
(TV), faço alguns projetos: como Rock Santeiro, Rosa Palmeiron,
entre outros. Já participei também do Vídeo Show. Vários leques
se expandiram com a arte da xilogravura. Também dou cursos de
férias no SESC de Madureira e do Engenho de Dentro.”
FAMÍLIA
“Só quem me apoiou foi meu pai, pernambucano, militar re-
formado. Era “dedicante” da cultura do cordel. Minha mãe
não apoiava a arte da xilogravura, ela era do interior de São
Paulo. E minhas irmãs achavam que eu tinha que arranjar um
emprego que desse dinheiro e não ficar perdendo tempo sen-
do um “ator”. Meu filho não quer seguir a minha carreira, pois
as pessoas, hoje em dia, querem dinheiro rápido de forma que
o retorno seja imediato. A arte demorou a me recompensar.
Lá se foram 20 anos. Mas hoje estou realizado. O problema
do futuro desta minha arte é que ela vai morrer, pois só exis-
tem duas pessoas que possuem essa arte no Rio, eu e o Ciro
Fernandes. Quando nós dois morrermos, ela estará extinta no
Rio de Janeiro. Já é difícil abrir as portas no nosso país, pois o
mesmo não se encontra preparado para a nossa cultura.”
CULTURA NACIONAL
“No Brasil, só se preocupam em explorar para obter lucro.
Já a Europa valoriza a cultura deles e de outros países. Os
brasileiros não cultuam a identidade cultural, só assimilam
lixos como o Haloween e dispensam o Saci- Pererê, que é
cultura local.”