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Democracia demasiado representativa e pouco participativa

Representativa da sua total decadência e degradação, representativa dos grandes grupos


económicos e financeiros, representativa das grandes corporações, representativa daquilo
que, no nosso conjunto, somos e pensamos, representativa da falta de valores e, sobretudo,
representativa do descrédito crescente relativamente a essa mesma democracia que nos vai
vencendo sem convencer.

E eu até compreendo que assim seja, mas não me peçam para aceitar. Cada um de nós é
vítima e parte do problema. Como tal, é mais do que lógico e razoável que queiramos e
procuremos ser parte da solução.

Não podemos fechar a porta à democracia nem a podemos deixar fechá-la na hora do
escrutínio. Uma democracia realmente democrática quer-se participativa e presente 365 dias
por ano, pelo que não podemos permitir que o futuro das nossas gentes dependa apenas de
um punhado de pessoas que pouco e mal conhecemos, ou melhor, de quem muito
desconhecemos.

Na minha opinião, a escolha consciente, honesta e racional dos estrategas da nação não é mais
do que o início de uma verdadeira participação, a qual em nada se esgota nesse passar do
testemunho.

Acredito bem que a minha opinião tenha pouco ou nada de consensual e que, ao lerem este
meu artigo, certas lanternas de bolso ou iluminados monofásicos começarão logo a dizer à
boca e de boca cheia, e com uma facilidade demasiado suspeita, que o povo não tem
discernimento suficiente para decidir sobre o que está certo ou errado e o que é melhor para o
bem comum.

Reconheço que, na actualidade, até possa ser correcta e legítima esta posição, mas acredito
que muitos desses iluminados pouco ou nada fazem para abrir os olhos e a mente deste povo
simultaneamente muito e pouco crítico, talvez por quererem ser a luz ao fundo do túnel e não
se aperceberem de que nunca serão mais do que o seu tosco, frágil e baço reflexo.

E mesmo os poucos iluminados de valor inquestionável, a quem reconheço brilho, honestidade


intelectual e legitimidade democrática, quando certificam a falta de “certificação” e de
capacidade de autodeterminação do seu povo, por arrasto, nada mais fazem do que passar um
atestado de incompetência aos “eleitos” da nação.

Nos dias que correm, ninguém pode deixar de exercer uma verdadeira e abnegada cidadania.
Nos dias que correm, ninguém pode evocar uma alegada ausência de opções para se subtrair
ao exercício da sua cidadania. O destino dos nossos filhos, netos e bisnetos não pode depender
dos “interesses” e “humores” de cada um nem se compadece com idealismos de bolso, até
porque as opções, quando não as há, devemos criá-las.

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