Professional Documents
Culture Documents
LIDERANÇA
Universidade do Minho
2002
© Jorge Sequeira 2
Perspectivas teóricas
delas, por si só, explica na totalidade todas as dinâmicas da liderança. Visto a maioria das
investigações sobre este tema, no contexto desportivo, aplicarem com maior ou menor
êxito estes modelos (Chelladurai, 1978), é nosso propósito, neste capítulo, analisar as
diferentes correntes, abordando os seus pontos críticos a fim de obtermos uma clarificação
algo intrínseco pertencente ao líder desde a formação mais primitiva da sua personalidade.
Isto significa que por exemplo, um treinador líder no futebol, também o seria em qualquer
por Stogdill (1974), o autor pode constatar que de entre as características mais referidas e
confiança.
reservas a estes estudos, considerando que mesmo sendo verdadeiros em algumas casos,
situações. Assim por exemplo, durante uma paragem de trinta segundos num jogo de
voleibol, o treinador fornece instruções aos atletas sobre as estratégias a utilizar no reinicio
do jogo. Este não será concerteza um momento para apelar à participação de todos os
jogadores. Os poucos estudos efectuados no contexto desportivo, tendo por base esta
abordagem chegaram a resultados pouco conclusivos (Handry, 1968; Panman, Hastad &
do líder. A eficácia deste último, não é nunca colocada em causa, visto qualquer fracasso
liderança e, c) a existência de líderes tidos como eficazes que não possuíam os traços
considerados essenciais referidos por esta abordagem. Esta centralização nos aspectos
individuais foi por isso, questionada e marginalizada por muitas das investigações a partir
da década de 50.
© Jorge Sequeira 4
Teoria Comportamental
comportamento usados pelos diferentes líderes. Enquanto a teoria dos traços se refere ao
tipologia de classificação desenvolvida por Lewin (1939), segundo a qual o líder pode
com as pessoas e com a tarefa a ser executada. O problema é saber quando aplicar qual
processo, com quem e quais as circunstâncias nas quais as actividades serão desenvolvidas.
Como podemos verificar, nesta abordagem as tarefas e o contexto figuram como factores
© Jorge Sequeira 5
delas, conhecida por estrutura de iniciação, traduz o grau no qual o líder define o seu papel
grau de consideração, refere-se ao nível de preocupação do líder para com o bem estar dos
eram o apoio social e as recompensas. Apesar de autores como Keil e Kirby (1985), Weiss
eficaz como o resultado de uma orientação elevada para as duas dimensões (estrutura de
havia excepções suficientes que acabavam por sugerir a existência e a análise de outros
orientações são equivalentes às duas dimensões dos estudos de Ohio. Assim sendo, os
indivíduos fortemente orientados para a produção eram descritos como líderes que
encarados como um meio para atingir um determinado resultado. Por outro lado, os
indivíduos orientados para os trabalhadores eram vistos como líderes que se envolviam
seus liderados. Estas duas perspectivas teóricas, não vêem a liderança como um contínuo,
dimensão.
podemos encontrar algumas das características atribuídas aos líderes com uma orientação
Falta tabela
apresentadas pelos estudos de Ohio e Mitchigan e foram combinadas por Blake e Mouton
(1963), numa grelha com nove posições em cada um dos eixo, tal como podemos ver na
© Jorge Sequeira 7
figura 5 abaixo especificada, possibilitando oitenta e uma posições diferentes, nas quais o
9
1-9 9-9
Simpático Equipa
(country-club) (team)
Orientação Para as Pessoas
Equilibrado
(middle-road)
5-5
Fraco Tarefa
(impoverished) (task)
1-1 9-1
1
1 Orientação Para as Tarefas 9
Destas combinações surgem cinco estilos de liderança, aos quais aos autores
atribuem designações simples, que passamos a descrever. Assim, no estilo 1.1., apelidado
associadas à sua função. No estilo 1.9., denominado simpático (country-club) o líder não
unicamente pelas pessoas com as quais trabalha, procurando ser uma pessoa agradável,
compreensível e por vezes com alguma dificuldade em dizer não. O líder posicionado no
conformistas, que não gosta de assumir riscos. No estilo 9.1., designado por tarefa (task)
existe uma enorme preocupação do líder para com as tarefas e um desinteresse pelas
© Jorge Sequeira 8
agressivo e inflexível no processo de tomada de decisão. Por último, o estilo 9.9., também
chamado de equipa (team) é considerado o mais eficaz na perspectiva dos autores deste
modelo. Neste caso, o líder manifesta idêntico interesse pelas pessoas e pelas tarefas,
revelando-se face aos membros do grupo como sendo sincero, directo, determinado e
inovador.
líderes poderem testar a sua eficácia. No entanto, existem dificuldades na prática com a
aplicação linear deste modelo e nomeadamente com a comprovação do estilo 9.9 como o
mais eficaz em toda as situações de liderança. Acabaram de ser descritas as tentativas mais
pelo líder. Nenhuma destas teorias comportamentais foi grandemente aplicada ao contexto
contraditórios e inconclusivos (Chelladurai & Carron, 1978; Chelladurai & Saleh, 1978;
Von Strache, 1979; Carron, 1987). Parece não existir uma resposta directa e simples a
base em dados que como já referimos são contraditórios. A flexibilidade parecer ser, neste
Teorias Contingenciais
comportamentais, vários autores dos quais se destacam Fiedler (1967), House (1974) e
líder. Mais especificamente para estas teorias também apelidadas de teorias contingenciais
as características do líder vão interagir com outros factores situacionais (ex.: tipo de tarefa,
situação
desenvolvido por Fiedler (1967). De acordo com este mesmo autor, os grupos eficazes
dependem da interacção entre o estilo utilizado pelo líder na relação com os seus
Preferred Coworker (LPC), para se medir o quanto o líder era orientado para as pessoas ou
tendo os indivíduos de classificar o colega com quem menos gostam de trabalhar numa
para as pessoas enquanto um resultado baixo seria sinónimo de uma maior orientação
para a tarefa.
encontrado através do LPC, é imutável, daqui resulta que se uma situação exige um líder
© Jorge Sequeira 10
orientado para a tarefa e o líder for orientado para as pessoas, uma de duas coisas terá de
explica o facto de, no contexto desportivo, um treinador que é despedido de uma equipa
em consequência dos maus resultados alcançados seja contratado por outra equipa onde
atinge resultados completamente diferentes. Ainda segundo este mesmo autor existem três
factores situacionais determinantes para a eficácia do estilo de liderança, são eles; a) o grau
líder sobre decisões de contratação, rescisão e disciplinares. Neste caso, quanto melhores
forem as relações, mais estruturadas estiverem as tarefas e mais forte for o poder de
Fiedler (1967), constataram que os treinadores mais bem sucedidos apresentavam um estilo
de liderança orientado para as pessoas (Danielson, 1976, Bird, 1977). Em resumo, e apesar
Desenvolvida por Robert House (1971), a teoria do Path Goal extrai elementos
desportivo podemos dizer que o comportamento do treinador é aceite pelos atletas e até
necessárias ao correcto desempenho das tarefas. Para testar estas proposições, House
amistoso e preocupado com as necessidades dos seus liderados (pode ser comparado à
dimensão consideração dos estudos de Ohio). O líder participativo, por sua vez,
o líder orientado para a realização estabelecia metas desafiadoras esperando dos seus
anteriormente descritos em função da situação por eles vivenciada. Ainda segundo a teoria
autoridade), sobre as quais os colaboradores não têm qualquer controlo e as resultantes das
desta abordagem tem sido testado havendo apoio empírico moderado, sendo que as
respostas insuficientes face à complexidade das situações, põe em causa a sua capacidade
preditiva.
© Jorge Sequeira 12
1977, 1982), centralizam a atenção nas características dos liderados, visto serem eles quem
aceita ou rejeita o líder. Desta forma, procura-se estabelecer uma correspondência entre a
actuação do líder e a maturidade dos seus liderados. Sendo esta última entendida como a
para efectuarem a suas tarefas autonomamente sem intervenção dos líderes, a segunda diz
MOTIVAÇÃO CAPACIDADE
Confiança Conhecimento
7, a seguir descrita.
M1 M2 M3 M4
Orientação para as Pessoas
seu trabalho com uma equipa que se encontra em último lugar no campeonato, estará muito
determinados objectivos. Existem muitas equipas cujo maior desejo era ficar nos primeiros
efectuarem certas actividades, apesar de não estarem motivados para a sua prática. Esta
será talvez uma das situações mais frustrantes para os treinadores e adeptos.
todos os jogos, mas a sua falta de motivação impede a equipa de estar ao seu nível.
Infelizmente existem muitas equipas nesta situação, devido por exemplo à falta de
atingiu este estádio, o treinador verá, em cada jogo, os seus atletas motivados para
dimensões, podendo o líder apresentar uma maior ou menor orientação para a tarefa ou
para as pessoas. Estabelecem ainda, uma combinação destas duas orientações com quatro
Falta Figura
apresenta uma elevada preocupação com a tarefa e baixa preocupação com as pessoas,
© Jorge Sequeira 15
orientação para a tarefa e elevada preocupação com as pessoas. Neste caso, o líder
líder denota baixa preocupação quer pelas pessoas quer pelas tarefas, exercendo uma
Em suma, estes quatro estilos de liderança variam em função dos quatro níveis de
maturidade. Tal como podemos verificar pela figura 9 abaixo indicada, à medida que o
nível de maturidade dos indivíduos aumenta o líder deverá responder não só com uma
9 E3 E2
Estilo Participativo Estilo Persuasivo
(Participating) (Coaching)
M3 M2
E4 E1
Estilo Delegativo Estilo Directivo
(Delegating) (Telling)
1 9
Orientação para as Tarefas
© Jorge Sequeira 16
estilo de liderança mais adequado seria o directivo. No segundo estádio de maturidade M2,
líder deverá recorrer ao estilo persuasivo, manifestando uma elevada orientação para a
tarefa a fim de compensar a falta de capacidade dos liderados e para as pessoas, necessária
estádio de maturidade M3, onde existem alguns problemas motivacionais, o estilo mais
apropriado de liderança será o participativo, visto ser aquele onde se enfatiza o espirito de
último estádio de maturidade M4, o estilo de liderança mais eficaz será o delegativo, dado
objectivos propostos.
objectivos. O passo seguinte consiste em ouvir as opiniões dos seus subordinados sobre as
capacidade para realizar determinada actividade. Após a recolha destas informações poderá
em termos de conteúdo, todas consideram a liderança eficaz como sendo determinada pelas
características da situação. Embora tenham sido utilizadas com alguma frequência no ramo
© Jorge Sequeira 17
educacional e industrial, os esforços para a sua aplicação no contexto desportivo (ex.: Bird,
1977; Vos Strache, 1979; Chelladurai & Carron, 1983; Terry, 1984; Terry & Howe, 1984),
estudo deste constructo, não estão direccionados para o contexto desportivo. Este vazio
teórico levou alguns autores a criarem modelos específicos para este contexto. Dois dos
descrever.