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Maravilhas de

Portugal
Sandra Esteves
Uma das Maravilhas de Portugal é, sem dúvida o
símbolo da nossa Pátria: o Castelo de Guimarães, de
facto é um trabalho cuja limitação de páginas deixa
muito mais a revelar pois o Castelo é uma
representação de um povo, de tempos vividos e que
sem eles nenhum monumento faria sentido se não
fosse a História dos Homens que por ele passaram e
o seu cunho representado com a amplitude e
Curso Técnico/a nobreza da cultura de um Portugal diferente mas
CAD/CAM ousado pela sua arrojada ambição de vitória!
Formadora: Dra.Helena
Portugal é uma vitória dos nossos antepassados, pelo
Carvalho seu sangue derramado e pela sua bravura a eles se
deve a herança do que somos, Portugueses.
Módulo:

12 de Fevereiro 2010

EPVC
Castelo de Guimarães
O castelo de Guimarães é sem sombra de dúvida, o símbolo da nacionalidade
portuguesa. Não poderia, portanto deixar de falar de forma especial deste belo
e altivo castelo construído com tanta arte, sabedoria e magnificência.

Integrado decerto na corrente de nobres atraídos ao ocidente peninsular pelas


vicissitudes da Reconquista Cristã, um rico homem de ascendência castelhana,
Diogo Fernandes, veio nos fins do século IX estabelecer-se na região
vimaranense, então em início dum promissor desenvolvimento. Com ele vieram
a mulher e a prole, que provavelmente abrangia já o filho e as três filhas que a
constituíram (todos de tenra idade).

Entre estas, contava-se uma, de nome Mummadona, que haveria de


notabilizar-se, não só por no seu casamento com Hermenegildo Gonçalves se
ter originado uma dinastia, condado que governou desde meados do século X
até ao terceiro quartel do XI, a já chamada terra portucalense, núcleo do futuro
Portugal, mas também pela defesa do progresso e da incipiente Guimarães,
então repartida em dois modestos núcleos populacionais: um no alto do Monte
Largo – alpis latitus no latim dos documentos da época – e o formado na baixa
dessa colina.

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Tendo enviuvado aproximadamente em 928,
Mummadona viu-se senhora de vastíssimos
bens, que em Julho de 950 partilhou com os
seus filhos – cinco homens e uma mulher – para
logo a seguir, animada de viva religiosidade,
fundar na vila baixa um mosteiro, ao qual, nove
anos depois, em Janeiro de 959, fez uma
amplíssima doação de terras, gados, rendimento,
ricos ornamentos de culto e livros religiosos.

Porém, naqueles tempos, não decorria tranquila


a vida quotidiana no noroeste peninsular, em que
se agastava a progressiva Guimarães. Além da
ameaça permanente de possíveis investidas das hostes muçulmanas, ainda
dominantes ao sul de Coimbra, eram sobretudo inquietantes os repetidos
assaltos dos chamados normandos, misto de guerreiros e piratas, que
provenientes dos mares do norte da Europa, abordavam em som de guerra, as
costas peninsulares ou subiam os cursos dos rios e, aquando desembarcavam,
espalhavam por toda a parte sangue e ruínas, saqueando, matando e
cativando, após o que, com maior ou menor demora, reembarcavam sem
qualquer dano.

Dos anos subsequentes ao daquela


doação, algumas dessas incursões
são conhecidas, além certamente de
vários outros assaltos cuja escassa
monta se apagou na memória das
gentes, não deixando rasto na história.
Numa dessas insurgentes investidas,
de muçulmanos ou normandos, que
sobreveio por aquelas vizinhanças, o
coração da piedosa dama foi tocado
de profundo temor pela segurança do
mosteiro a que era tão devotada. Então resolveu ela construir naquele Monte
Largo, um castelo, onde a comunidade se pudesse acolher em ocasião de
perigo. É bem conhecido e várias vezes citado o trecho da carta de doação
desse castelo aos religiosos, lavrada em Dezembro de 968, do qual consta a
referida decisão.

Já nesse ano, e em anos seguintes por mais de uma vez, monges e monjas
estariam de olhos postos no seu refugio castrejo e prestes a correrem para ele.
Primeiro porque justamente desde os alvores desse 968, largamente se
espalharam pelas terras da Galiza, levando-as a ferro e fogo, os oito mil
normandos do viking Gunderedo, que só muito mais tarde vieram a ser
vencidos e expulsos; depois, porque em várias ocasiões andou a guerra pelo
norte de Portugal, movida ora por muçulmanos, ora por normandos.
Nomeadamente em 997, quando Mohâmede Abu-Amir, o celebre Al-mansor,
vindo de Cória, fez caminho pela Beira, veio ao Porto, e, como o seu objectivo

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era destruir Compostela, deve ter
seguido, desde aquela cidade, pela
estrada romana que a ligava a Braga,
passando portanto a uns quinze
quilómetros de Guimarães, em
marcha bélica embora não agressiva;
mais perigosamente em 1010 ou
1016, porque então uma orla
normanda invadiu a região ao sul do
Minho e chegou às vizinhanças de
Guimarães, pois assolou as terras da
vizinha Vermoim, e cujo castelo
assaltou.

Unanimemente se crê numa torre e


porventura um modesto muro de
defesa, esse primitivo castelo rude e
simples, que nos fins do século Xl –
quando o governo da terra
portucalense, logo também chamada
província portucalense, foi confiado ao
Conde Henrique por seu sogro, o
monarca leonês Afonso VI – devia
estar já assaz arruinado, sendo então
provavelmente demolido por iniciativa daquele nobre parente dos reis de
França, a quem se devem os primeiros alinhamentos da independência de
Portugal, e substituída por outra edificação mais ampla e mais sólida, que,
posteriormente acrescida e melhorada, veio a constituir esse importante
conjunto que ainda perdura.

Cobrindo um espaço escultural, delimitado pela sua linha de muralhas, voltada


ao norte em face quase recta, e a leste e a oeste em faces de progressiva
curva que vem ligar-se, formando vértice, no sul – o castelo é dominado pela
quadrangular torre, que ao centro da edificação ostenta a sua imponente altura.
Quatro outras grandes torres de porte um tanto menor, guarnecem a muralha,
nos ângulos meridional e nordeste e na face setentrional e ocidental; um par de
pavilhões ostenta a
porta principal, aberta
a oeste, e outro a porta
da traição, na face
oposta.

Sobre as muralhas
corre um amplo
corredor, com acesso
interior por fortes
escadarias de pedra,
ligado na sua face
oeste por uma ponte
de madeira, à porta de entrada da torre de homenagem, aberta na equivalente

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altura duns extensos cinco metros; finalmente, corredores e terraços das torres
e pavilhões, defendido por parapeitos coroados de ameias. No terreiro, junto à
muralha do norte, uma casa, visivelmente de habitação, cujas reduzidas
dimensões testemunham esses
vestígios.

A evolução construtiva deste


interessante castelo não é conhecida
através de fontes históricas
suficientemente esclarecedoras; e
quase pode dizer-se que tudo quanto
se tem apurado resulta de dados
oferecidos pela própria construção,
dados sobre os quais se apoiam as
possíveis hipóteses cronológicas.
Bom testemunho de tais dificuldades
e dado pelas dúvidas que podem
formular-se a respeito da total
demolição ou parcial aproveitamento
da primitiva edificação aquando a
nova foi encetada, pois tudo quanto a
esse problema se refere, ou ao
avanço da nova construção, tem sido
expresso, como é natural, em
afirmações cautelosas e um tanto
vagas cronologicamente. Quanto às
muralhas, é visível no seu troço
voltado à cidade uma sobreposição de sistemas construtivos, de pedras
irregulares até certa altura e esquadrias daí para cima, circunstância que
parece denunciar a existência de duas fases construtivas, uma mais antiga,
porventura a henriquina, e outra de melhoramentos que tem sido atribuídos ao
século XIV. Uma palavra cumpre acrescentar ainda, referentemente ao edifício
junto a parte interna da muralha setentrional, tradicionalmente considerado
moradia do Conde D. Henrique e berço do primeiro rei de Portugal, D. Afonso
Henriques. Essa tradição levantou há um século prolongada controvérsia, e as
duvidas a tal respeito persiste ainda. Invocou-se, e invoca-se, contra ela, a
relativa exiguidade da construção; mas este argumento perde valor quando se
pensa que nessa época, e mesmo algum tanto posteriormente, até os reis
eram, quanto a isso, tão pouco exigentes, que em certas circunstâncias o paço
real – assim mesmo o paço – era de tal modéstia, que a sua cobertura se fazia
com colmo. Mais forte é porventura o facto de saber-se pela carta de doação
duns campos em Guimarães, outorgada em 2 de Janeiro de 1121 pela
condessa D. Teresa a certos franceses aí moradores, que esses campos
ficavam junto do palácio da doadora, na denominada Rua dos Franceses;
portanto nesta data, e evidentemente com anterioridade maior ou menor, a
residência dos condes era na vila e não no castelo, admitindo que a
anterioridade de tal residência não atingia os últimos anos da vida do Conde
Henrique, falecido em 1112, e consequentemente o do nascimento de D.
Afonso Henriques (1009 ? ), pode aceitar-se residirem o conde e a família
durante esses anos no castelo, e ter assim fundamento a aludida tradição;

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mas, para tal, tem ainda de admitir-se que a reedificação empreendida por ele
ia já adiantada a ponto de abranger a conclusão do dito imóvel, e que só morto
o Conde, a viúva mudou-se do castelo para a vila. Tudo, afinal, hipóteses sobre
hipóteses, à espera dum milagre documental que resolva o problema. Aceite-
se, porém, que ou logo de começo, ou apenas depois, o discutido domicílio
serviu de moradia ao alcaide, que, no castelo de Guimarães, como
habitualmente, devia obrigatoriamente residir.

No decurso dos séculos XII a XIV, vários sucessos esmaltam a história militar
deste castelo. Nele deve ter resistido o jovem Afonso Henriques, quando em
1127, achando-se em Guimarães, ali veio mover-lhe guerra o rei de Leão,
Afonso VII, seu primo, com o objectivo de reduzi-lo à vassalagem de que, já em
luta com a mãe para obtenção do governo do condado portucalense, pretendia
libertar-se.

Ao castelo vimaranense pode também considerar-se ligada a tradição dum


acto então praticado por Egas Moniz, antigo aio e devotado partidário de
Afonso Henriques, o qual tendo ficado fiador do novo infante, quando este, no
aperto das circunstâncias, prometeu constituir-se vassalo do rei de Leão,
promessa que, uma vez liberto do assédio, logo renegou – se dirigiu a corte
leonesa, para oferecer a Afonso VII, em resgate da violada fiança, as vidas,
sua e dos seus, entendendo que a independência da terra portuguesa, de que
aliás era fervoroso propulsor, não devia assentar num perjúrio, tradição que
Camões imortalizou em algumas
poéticas estrofes dos Lusíadas.

Em 1322, no decurso da
campanha movida pelo Infante D.
Afonso, futuro Afonso IV, contra o
pai, D. Dinis, pretendendo que
este lhe entregasse o governo,
tocou a vez a Guimarães, que o
impetuoso jovem veio cercar.
Novamente o castelo teve então
horas de fulgor, firmemente
defendido com êxito, bem como a
povoação, pelo seu alcaide, Mem
Rodrigues de Vasconcelos, avô dum homónimo que veio a ser, em 1385.
glorioso combatente na batalha de Aljubarrota.

Meio século depois daquele episódio, quando em 1369 a política peninsular de


D. Fernando incitou as iras do monarca castelhano Henrique II, e este invadiu
Portugal, outra vez o castelo de Guimarães, como padrasto de defesa da vila, e
o seu alcaide, então Gonçalo Pais de Meira, estiveram em foco, pois o invasor,
que entrara em Portugal pela fronteira do Minho e conquistara Braga, veio pôr
cerco a Guimarães.

Uma vez mais, já no tempo da crise da decorrente dinastia a que se seguiu ao


falecimento de D. Fernando, as vicissitudes do castelo de Guimarães se
inseriram nas da Nação; e deste sucesso há conhecimento mais detalhado,

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porque a ele se referiu um tanto pormenorizadamente o cronista Fernão Lopes.
Após a sua aclamação. D. João I seguiu para o norte em liquidação dos
núcleos de resistência ainda favoráveis à legalidade de poder régio da filha de
D. Fernando, e portanto as pretensões de seu marido, o rei de Castela; um
deles era o castelo de Guimarães, então a cargo de Aires Gomes da Silva. O
rei chegou ali no começo de Junho (1385), vindo do Porto com tropas e armas
julgadas suficientes, pois contava com elementos favoráveis na vila. Um
desses seus partidários, o escudeiro Afonso Lourenço Carvalho, que era o
melhor e mais honrado do lugar», ardilosamente conseguiu, numa das
imediatas noites que o guarda de uma das portas do muro exterior da vila a
abrisse: e logo por ela, com breve combate, entraram o Rei e os seus homens
de armas. Mas a resistência não tardou em organizar-se, e para assaltar o
chamado muro velho», decerto o do tempo de D. Alonso III, foi necessário
mandar vir do Porto mais material de guerra, prolongando-se a luta por
bastantes dias. Porém a decisão do alcaide, puramente legalista, e assim sem
o calor duma animação patriótica, acabou por fixar-se numa proposta de
tréguas, nos termos daquilo que se chamava «preitezia», isto é, numa
promessa de rendição, se em certo prazo a entidade a que fora prestada
fidelidade não acorria com socorro. Neste caso, estabeleceu se um prazo de 30
dias; mas o monarca castelhano, a quem foi passado o aviso, não enviou

reforços, desculpando-se com a escassez do tempo concedido. Então foram


entregues a D. João I o castelo e a vila, indo-se Aires Gomes da Silva, que
«era velho e não bem são, e levaram-no fora em colos de homens, e, a poucos
dias depois disto, morreu, aqui no Reino».

Mas a história deste sucesso militar e político não haveria de encerrar-se sem
um apontamento sentimental. Gonçalo Marinho, que fora o emissário enviado a
Castela, estava noivo duma filha de Aires Gomes da Silva; porém quando a
mãe da noiva, após a derrota do marido, se acolheu a Castela, seu irmão,
Pedro Tenório, arcebispo de Toledo, opôs-se ao projectado casamento e

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consorciou-se com outro a prometida esposa de Gonçalo Marinho. Então este,
vendo afastada do seu lar aquela que sonhara lhe fosse nele companheira.
«fez-se frade de São Francisco, e assim acabou sua vida».

Estava-se então nos primórdios do uso de artilharia, cujos primeiros tiros, os


dos (tronos) castelhanos, se ouviram pouco depois, na batalha de Aljubarrota.
Esta nova arma, ainda inoperante contra as rijas couraças de guerra, não
tardaria a ser-lhes inimigo respeitável. Por outro lado, a Guerra da
Independência travou-se em sectores diferentes dos campos vimaranenses; e
mesmo ela já antes do alvorecer de Quatrocentos podia considerar-se
praticamente finda.

Assim, o castelo de Guimarães, como muitos


outros, conheceu desde então o ocaso da sua
gloriosa existência, pouco a pouco, no decurso
dos séculos XVI a XIX o influxo dos tempos e o
desrespeito dos homens que tanto lhe macularam
a integridade, até que o restauro levado a cabo há
tempo logrou restituir às suas muralhas e torres,
onde ainda repercute o eco de épicas lutas, toda a
sua candura grandiosa, toda a sua severa e
majestosa beleza.

O castelo manteve a sua importância


ao longo de vários séculos de
disputas entre Portugal e Castela. Já
no reinado de D. João I, em 1389,
após mais um confronto com Castela,
são executadas obras de reforço
defensivo da cidade, que passou a
designar-se Guimarães1.

1
Guimarães é uma cidade portuguesa situada no Distrito de Braga, região Norte e subregião
do Ave (uma das subregiões mais industrializadas do país), com uma população de 52 182

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Com os progresso militares, as muralhas e os castelos perdem importância e
no século XVI, o castelo de Guimarães funcionava como prisão, função que um
grupo de vimaranenses, em 1836, usou como justificação para pedirem a sua
demolição, o que não seria aceite, e já no reinado de D. Luís, em 1881, o
castelo é classificado como Monumento Histórico de Primeira Classe.
Actualmente está classificado como Monumento Nacional.

O seu aspecto exterior é muito nobre, com janelas ornadas de vitrais contendo
desenhos bastante harmoniosos. As proporções são muito agradáveis, sem

apresentar nada de agressivo e sabendo guardar bem as distâncias e as


hierarquias. Diante dele, avista-se bem delimitado o campo de batalha de São
Mamede, em que se travaram confrontos militares dos quais resultou a
independência de Portugal. Para fazer uma comparação à maneira do turista
moderno, sua dimensão equivaleria à área de uns três ou quatro campos de
futebol. Os reinos eram tão pouco povoados, naquele tempo, que batalhas
aguerridas e nobres se efectuavam numa área com essa extensão, e o futuro
de uma nação decidia-se assim.

Em volta deste castelo existe toda uma áurea de prestígio, honra, emoção e
orgulho. A tudo isto há a acrescentar a beleza da paisagem e a obra de arte da
arquitectura feita na pedra.

habitantes. O município é limitado a norte pelo município de Póvoa de Lanhoso, a leste por
Fafe, a sul por Felgueiras, Vizela e Santo Tirso, a oeste por Vila Nova de Famalicão e a
noroeste por Braga. É uma das mais importantes cidades históricas do país, já com mais de
um milénio desde a sua formação, sendo o seu centro histórico considerado Património
Cultural da Humanidade

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Terá sido Guimarães a terra natal de Afonso Henriques que viria a ser o
primeiro Rei de Portugal.

Os "Vimaranenses" são orgulhosamente tratados por "Conquistadores", fruto


dessa herança histórica de conquista iniciada precisamente em Guimarães.

A população da cidade de Guimarães promove as suas festas neste local.

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Lenda de Egas Moniz passada no Castelo de Guimarães
Egas Moniz passeou toda a noite na muralha do castelo de Guimarães. De vez em quando suspendia a
marcha e debruçava-se a olhar as fogueiras acesas no acampamento inimigo. O vento trazia-lhe vozes,
risos, palavras soltas que a distância não lhe permitia entender. Em todo o caso, uma coisa era certa: a
vantagem estava do lado de lá! D. Afonso VII trouxera consigo muitos cavaleiros, muitas armas e decerto
mantimentos para aguentar um cerco prolongado.
Ora dentro do castelo passava-se exactamente o contrário. Poucos eram os homens disponíveis e capazes
para a luta. Escasseavam as armas, e se ficassem ali fechados muito tempo faltariam não só os alimentos
como até a água.
Na qualidade de guerreiro apetecia-lhe apoiar os ímpetos de Afonso Henriques, que apesar de muito
jovem insistia em mandar abrir os portões para jogar tudo por tudo numa luta em campo aberto. Mas o
senso próprio da idade impedia-o. Já repetira várias vezes diante dos mais novos: «Só vale a pena ir à
luta quando há hipótese de vencer. Levantar a espada para uma derrota certa não é bravura, é loucura.»
Mas, por muito que se esforçasse, não conseguia convencer nem Afonso Henriques nem o seu filho
Lourenço, que o espicaçava por trás a dizer que eles os dois valiam por dez e dariam cabo dos inimigos à
espadeirada. A situação não podia prolongar-se indefinidamente; era preciso tomar uma decisão rápida,
não fossem os acontecimentos precipitar-se da pior maneira. Sempre passeando para cá e para lá nas
muralhas, Egas Moniz meditava: «D. Teresa encarregou-me de educar e proteger Afonso Henriques; essa
é a minha primeira obrigação. Não posso portanto consentir que arrisque a vida num acto tresloucado.
Que fazer, meu Deus?»

Para melhor equacionar o problema, foi formulando perguntas-chave, às quais dava resposta pronta.

«O que quer Afonso VII? Quer obrigar D. Teresa a jurar-lhe obediência. Ora ela não está cá, e se
estivesse também não sei o que faria; mas isso
agora não interessa. Preciso de forçar Afonso VII
a partir com os seus homens sem que haja luta.
Vou falar com ele.»
A primeira decisão estava tomada. Faltava decidir
o que havia de lhe dizer. Depois de muito pensar,
resolveu que tudo se passaria da seguinte
maneira: saía a horas mortas, para que ninguém
se apercebesse, dirigia-se à tenda do rei e
comprometia-se sob palavra de honra a que no
dia em que D. Afonso Henriques sucedesse à
mãe no governo do Condado Portucalense lhe
juraria obediência.

E assim foi. O rei aceitou a proposta; na manhã seguinte levantou o cerco e partiu.
No castelo de Guimarães toda a gente festejou o afastamento dos inimigos, e como não sabiam o porquê
da retirada inventaram-se logo uma série de versões.
No ano seguinte D. Afonso Henriques revoltou-se contra a mãe, derrotou os cavaleiros dela na batalha de
S. Mamede e tomou conta do governo. Só então Egas Moniz lhe contou a verdade sobre o cerco de
Guimarães. Em vez de agradecer, Afonso Henriques enfureceu-se:
- Jurar obediência ao meu primo? Prestar vassalagem a um homem que vale menos do que eu? Nunca!
Ele herdou o reino de Leão e Castela mas eu hei-de transformar o meu condado num reino independente.

Egas Moniz orgulhava-se de o ouvir falar assim, e não tentou dissuadi-lo. Mas como tinha dado a sua
palavra de honra, pensou que só a morte podia servir de resgate. Então dirigiu-se à cidade de Toledo
levando a mulher e os filhos, pois a vergonha da mentira recaía sobre toda a família. Apresentaram-se
diante de D. Afonso VII descalços, com o traje dos condenados à morte e uma corda ao pescoço. Perante
o assombro da corte, Egas Moniz declarou que, não podendo cumprir o juramento, estava ali disposto a
morrer com os seus. Pedia apenas para não ser enterrado por estranhos. Acompanhava-o um criado a
quem gostaria que encarregassem do serviço.
Afonso VII ficou profundamente impressionado. Um homem tão leal não merecia a morte! Libertou-o do
compromisso e mandou que regressasse a casa com a família em liberdade. O túmulo de Egas Moniz
encontra-se na igreja de Paço de Sousa e está decorado com figuras talhadas na pedra que ilustram a
história. Nem sequer falta o criado com a pá às costas.

in Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, Portugal - História e Lendas, ed. Caminho

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