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JOSÉ ARISTIDES DA SILVA GAMITO

AS RELAÇÕES ENTRE RELIGIÃO


E CIÊNCIA

Conceição de Ipanema – MG
2010
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Dados para Citação Bibliográfica

GAMITO, José Aristides da Silva. As relações entre religião e ciência. Coletânea de Artigos
sobre religião. Conceição de Ipanema: Publicação em meio eletrônico, 2010.

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I. RELAÇÕES ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO

Introdução

Quando se discute a relação entre ciência e religião, a saída mais sensata é a definição de
papéis. No século XVI, Galileu Galilei (1564-1642) já chamava a atenção para esta diferença:
“à ciência cabe dizer como vai o céu, e à religião como se vai ao céu”. A dificuldade de se
separar a função da ciência e da função da religião foi a causa de muitas polêmicas no início
da era moderna, quando a ciência começou a se definir como a entendemos hoje. Galileu foi
pressionado a se retratar diante do tribunal da Inquisição, dizendo que era falsa a idéia de que
a Terra girava em torno do seu eixo e em torno do sol.
Com a modernidade, a ciência desenvolveu métodos próprios de investigação e se tornou
laica, isto é, independente da religião. Mas este processo foi lento e até hoje muitas pessoas
ainda têm dificuldade em conciliar ciência e fé. Augusto Comte (1798-1856) defendia que o
conhecimento humano passa por três estágios: o religioso, o filosófico e o científico. Na
época religiosa, o homem explica os fenômenos recorrendo a causas sobrenaturais; na época
filosófica, explica recorrendo a princípios racionais; na época científica, explica por meio das
leis naturais, as quais explicam por si só os fenômenos. Porém, na prática as pessoas
continuam vivendo esses estágios de maneira desigual.

2. As Religiões e a Ciência

As três grandes religiões do planeta, judaísmo, cristianismo e islamismo, passaram por


resistência à ciência, mas seus segmentos mais esclarecidos atualmente aceitam as
explicações da ciência e separam textos sagrados e teorias científicas. Os mulçumanos
tiveram bons matemáticos e filósofos como Avicena e Averróis; os judeus nos deram nada
menos que Albert Einstein, os cristãos nos deram Mendel, Hegel etc. Muitos homens de fé
estudaram ciência sem criar conflitos.
No século XIX, até a Bíblia passou a ser lida cientificamente. Os pastores alemães Karl Bath,
Paul Tilich e Rudolf Bultmann desenvolveram métodos para uma leitura crítica da Bíblia. A
partir deste período os teólogos passaram a seguir semelhante visão. No século XX, a relação
melhorou ainda, o arqueólogo jesuíta Teilhard de Chardin conciliou cristianismo e teoria da

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evolução. Na década de 90, muitos cientistas cristãos defendem a teoria do Design Inteligente.

3. A unidade da questão e a pluralidade das repostas

A: Cristianismo/Bíblia – “No princípio criou Deus o céu e a terra”. Gn 1,1.


B: Islamismo/Corão – “Ele foi que criou tudo quanto existe na terra; e então, dirigiu sua
vontade até o firmamento do qual fez ordenadamente, sete céus, porque é onisciente”. 2,29.
C: Hinduísmo/Bhagavad Gita – “No início da criação o Pai de todos os seres enviou muitas
gerações de homens...” Canto III, 10.

D: Taoísmo/ Tao Te Ching – “O tao gera o um/o um gera o dois/ o dois gera o três/ o três gera
as dez mil coisas”. 42.

A: Criacionismo – Deus criou o mundo e o primeiro homem.


B: Evolucionismo – A vida é resultado do acaso e das sucessivas transformações da matéria.
C: Design Inteligente – A vida surge de Deus de modo indireto. Deus dotou a matéria de
capacidade de modelar e deu impulso à evolução.

4. Definição de Papéis

O ser humano é dado a exageros. Na Idade Média, a fé era considerada superior à razão (a
verdade estava com a religião), na Idade Moderna, a ciência passou a ser considerada superior
à religião, muitos cientistas se tornaram ateus (a verdade estava com a ciência), atualmente, é
mais aceito que fé e religião são conhecimentos complementares do mundo (a verdade está
com as duas).
Antes de qualquer debate que compare religião e ciência, é sensato observar. A ciência e a
religião são duas formas de o homem se relacionar com o mundo. São duas maneiras de
responder às suas indagações internas. Elas são complementares e não opostas. Seus papéis
não podem ser tomados um pelo outro devido a diferença da natureza do conhecimento que há
entre as duas. A religião é um conhecimento simbólico-místico, explica o mundo através de
causas sobrenaturais. A ciência é um conhecimento racional-empírico, explica o mundo
através das leis da natureza e da experiência. São duas respostas válidas. A religião deve se

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ocupar de questões relativas à fé ( “como se vai ao céu”) e a ciência da explicação da natureza
e de seus fenômenos (“como vai o céu”).

5. Definição de método

Na era contemporânea, a partir dos avanços dos conhecimentos do homem a verdade passou a
ser histórica e situacional, portanto, relativa. Não existe verdade, existem discursos com
sentido. O homem possui questões básicas de sua existência e para cada época e lugar há
diferentes respostas. Para a origem da vida: na Antigüidade, a religião deu uma resposta
baseada na experiência da época e do lugar. Por exemplo, a Bíblia diz Elohim criou o céu e a
terra e organizou tudo. Os filósofos defenderam a geração espontânea. A ciência a liga a
determinadas reações químicas ocorridas na matéria. São todas respostas do mesmo homem
para seu antigo problema da sede do saber. São todas respostas válidas em suas épocas e
situações, uma não pode se impor à outra. A reposta do Gênesis não é científica, é poética. A
resposta da ciência não é poética e nem mítica, é experimental.

6. Indicações para um paralelo entre o Gênesis e a ciência

A Bíblia e a ciência não são opostas. Mas ao traçar um paralelo entre os dois é necessário
definir papéis e métodos. Respeitar a natureza, intenção e função de cada ponto de vista e não
querer sobrepor um ao outro. Preliminares que preparam o paralelo: dados históricos, época,
lugar, autor, gênero.
Criação: o Gênesis 1 não é tratado de ciência, não é uma dissertação, é um poema do século
XVI a. C., na época do Exílio na Babilônica escrito por sacerdotes israelitas. A intenção do
autor é: afirmar a existência de um único Deus (1), a natureza não é divina e nem povoada de
deuses (2), o ponto central é o homem (3), o ritmo da vida é trabalho e descanso. Trata-se de
uma polêmica com a religião cananéia. A fonte do autor é a tradição oral: existiam vários
mitos na época que explicavam a origem do mundo e da vida. Conhecimento simbólico-
místico.
Ciência: tratado científico baseado na hipótese racional e na experimentação, do século XX,
cientistas ingleses, russos e estadunidenses. A intenção é explicar a origem do universo, da
Terra e da vida. Conhecimento racional-empírico.

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7. Aproximação entre Gênesis e ciência

A ciência e a religião não são opostas. As duas respostas sobre os problemas humanos são
válidas e complementares. Porém, é necessário observar alguns critérios para comparar essas
visões de mundo. São relativamente comparáveis. Existem semelhanças e diferenças, mas são
visões de mundo totalmente distintas. De modo absoluto, são incomparáveis.

GÊNESIS / CIÊNCIA

Conhecimento simbólico-místico
Conhecimento racional-empírico

Poema israelita do século XVI a. c.


Teoria científica do século XX

Descrição baseada na tradição oral e imaginação


Descrição baseada na experiência, no cálculo e nas evidências

A idéia principal é a criação


A idéia principal é a evolução

O agente da origem é Elohim (Deus)


Não existe um agente (apenas acaso)

“No princípio, Deus criou o céu e a terra”


No princípio, houve uma aceleração de partículas e um aquecimento

Big Cry (Grande Grito)


Big Bang (Grande Explosão)

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“Deus disse: ‘Haja luz’”
Houve uma grande explosão
A terra estava vazia e vaga
O universo estava desorganizado
Criação feita em etapas/uma semana
Evolução por etapas/milhares de anos
Idade do mundo para os judeus: 5768 anos
Idade do universo/explosão: 13,7 bilhões de anos
A medida baseada em cálculo da tradição
A medida é baseada no trajeto da luz
Universo estático/imutável
Universo em expansão
Criação de tudo em 7 dias
Evolução em 5 eras geológicas (3 bilhões de anos)
“Deus conclui a obra e descansou...”
A evolução e a expansão do universo não param
Primeiras vidas: criação dos vegetais completos e de toda espécie (no terceiro dia)
Surgimento das células eucariontes a 1 bilhão de ano
Última criação: fez o homem do barro (no sexto dia)
Surge o homem a 100.000 anos.

Desde o século XVI, a ciência e a religião foram definindo seus papéis. A Bíblia não é livro
de tratados científicos, é relato da experiência de fé do povo judeu. A ciência não é
credenciada para falar de Deus e critérios de salvação. As duas dão respostas ao ser humano
que é multidimensional (tem necessidade de ciência e de fé). Hoje, não se pode falar de
verdade absoluta. O mundo é plural e temos de respeitar as respostas de todos. A verdade se
constrói juntos através do diálogo. Para fazer ciência é preciso se despir de preconceito e
pensar como cientista. Para ler a Bíblia é necessário ter fé e usar os instrumentos de
interpretação (o auxílio divino e as ciências humanas). O fundamentalismo religioso é fruto de
uma leitura superficial da Bíblia. A opção é pessoal, cada escolha sua visão de mundo de

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modo sensato e respeitando as visões dos outros, nisto consistem a ética das religiões e a ética
da ciência.

II. ENSAIO SOBRE TEOLOGIA BIOGENÉTIC A

Deus, o princípio da vida

Atualmente ao tratarmos da origem da vida, sempre ocorre a tentação de contrapor fé e


ciência, quase sempre não reconhecendo a condição histórica do Gênesis. Este é uma
interpretação da origem da vida feita por um povo antigo que expressou segundo sua
cosmovisão. Ao admitirmos a contribuição da ciência não desmerecendo a Bíblia, estamos
utilizando o mesmo processo, lendo a história, a origem de tudo, a partir da visão de mundo.
A Bíblia expressa uma verdade fundamental: Deus é o princípio da vida, ele é a origem dela.
Porém, o como isso se deu só pode ser entendido a partir do conhecimento do homem,
segundo a sua época. Deus sempre será o princípio da vida. A criação no Gênesis (Gn 1 e 2)
No princípio havia o caos aquático e tenebroso, mas o alento vital de Deus (rûah) se movia
sobre a terra vazia e informe. Deus é princípio criador e ordenador da vida. A palavra anuncia
a vida, esta palavra é concreta, dela se origina a luz que desperta toda a existência do caos,
desordem necessitada do sentido que só Deus pode dar. Um significado que é a própria
existência. Toda a criação é dotada de bondade, o surgimento de tudo é motivo de
maravilhamento. A terra produz a erva, lembrando poder vital da terra-mãe. Muitas coisas são
criadas pela palavra, outras são feitas sem menção à palavra. Quanto ao homem, sua criação
se deu pelo contato direto de Deus. A atitude de modelar o corpo humano expressa o carinho
e cuidado com a perfeição que o divino teve com o homem. Fez à imagem e semelhança,
porque as relações se dão a partir de algo comum. O homem é o único animal a ter
consciência de Deus, o único capaz de refletir sobre a origem da própria vida. A distinção de
sexo não se figura como mera necessidade reprodutiva, são diferentes, igualmente dignos,
modos de participar da vida. Vida que é tão diversa, mas complementar, capaz de coexistir em
harmonia. Deus é o princípio da vida intuído por todas religiões e cultura. A diferença no
como, eles experimentam de forma diferente e própria. O crescer e multiplicar bíblico revela a
responsabilidade de cuidado com a vida que cabe ao homem. Ele é zelador da vida, nunca
dono. Só Deus o é, afirmação bem clara em toda a Bíblia. O Homem é concriador, o mundo

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criado não magnitude fechada e concluída, cabe ao homem dirigir a história.[1] O relato
bíblico tem seu valor inegável. Porém, atualmente devemos acolher as novas contribuições da
ciência para contemplar a origem desta vida, cada vez mais carente de valores. O como é
histórico, interpretações diversas são oferecidas, agora o valor, a sacralidade e o princípio
estão em Deus, podem ser também pensados pela razão, mas a revelação lhes confere valor
absoluto.

A contribuição científica para a teologia


3.1. A origem da vida

É importante esclarecer que não há oposição entre fé e ciência. As duas são atividades
humanas que só podem estar a serviço do próprio. Quando elas se atropelam certamente há
um mal entendido, uma invadiu o campo da outra. A tentativa refletir teologicamente sobre a
origem da vida deve ler em conta a contribuição da biologia. Segundo os cientistas Oparin e
Haldane reações químicas possibilitaram a origem da primeira molécula orgânica. Há 3,5
bilhões de anos, as condições na Terra eram: erupções vulcânicas liberando gases e partículas
para atmosfera. Pela força gravitacional as partículas ficaram retidas a formaram a atmosfera
primitiva. Esta atmosfera era constituída por: amônia, metano, hidrogênio e vapor d’água.O
resfriamento permitiu acúmulo de água nas depressões formando os mares primitivos (quentes
e rasos). As descargas elétricas e as radiações internas teriam fornecido energia para que
algumas moléculas presentes na atmosfera se unissem, originando moléculas maiores e
complexas; as primeiras orgânicas. Essas moléculas arrastadas para os mares pelas chuvas, se
agregaram envoltas por uma molécula de água se isolando do externo. Mas, trocando
substâncias com ele, ocorrendo assim reações químicas. As moléculas foram se tornando
complexas. Apareceram a membrana de lipídios e proteínas e o ácido nucléico, possibilitando
a reprodução[2]. A partira daí , num espaço de milhares de anos, estimuladas pelas condições
ambientais e direcionadas por reações e mutações internas, as moléculas foram evoluindo,
atingindo formas de vidas variadas e complexas: aves, répteis, peixes e mamíferos.

3.2. O surgimento homem

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Há 12 milhões de anos ocorreu na África uma série de modificações na superfície terrestre,
facilitando a formação do homem. As condições climáticas, migração e bipedia (andar sobre
dois pés) contribuíram para que os antropóides se evoluíssem na direção do homo sapiens[3].
De 3,8 milhões a 1 milhão surge o homem e se expande pelo mundo a cerca de 60 a 40 mil
anos[4]. O homem desenvolve o cérebro, a consciência, torna-se bípede e começa a viver em
sociedade, desenvolvendo os seus próprios meios de sobrevivência.A evolução e a ação de
DeusSem dúvida o Big Bang é o Grande Grito de Deus criador de tudo. A matéria primitiva
impregnada do sopro vital divino começa uma marcha de bilhões ganhando formas até surgir
o planeta Terra e nele a vida. Esta matéria que não vive sem o alento de Deus nunca esteve
fora de sua ação. O maior encantamento desta evolução é o surgimento homem, um ser capaz
de se relacionar com Deus, descobrindo o valor da vida e dando todo um direcionamento dela
para Deus.A evolução não exclui Deus e nem a fé. Nas condições climáticas, nas reações
químicas e passagem do antropóide ao homem não se pode pensar esses processos sem Deus
dotado a natureza de tais potencialidades. Só nos restam motivos para louvar a Deus
existirmos de um modo tão admirável, de uma natureza desprovida de razão, nasce a vida e a
razão, isto porque é Deus quem pôs essa matéria em evolução.

[1] RUIZ DE LA PEÑA, JUAN, Teologia da Criação, Loyola, pág.35.


[2] LOPES SÔNIA, Bio, Saraiva, 1999, pág.17
[3] MURGEL BRANCO, Evolução das Espécies, Moderna, 1994, pág.60.
[4] LOPES SÔNIA, Bio, Saraiva, 1999, pág. 533.

III. A TEORIA DA EVOLUÇÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA A


VIDA HUMANA
Introdução

Em 2009, comemoram-se os duzentos anos do nascimento do cientista inglês Charles Robert


Darwin (1809-1882). A sua descoberta revolucionou o pensamento da humanidade. Até o
século XIX, a visão da natureza se devia ao conceito de criação descrito pelo Gênesis no
século V antes de Cristo. Portanto, as espécies eram fixas e não se transformavam. A
explicação passou insuficiente para entender a diversidade demonstrada pelos fósseis e pelos

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diferentes continentes. As explicações para o surgimento e desenvolvimento das espécies
passam a ter várias teorias: Lamarckismo e Darwinismo.

Teoria da Evolução
A primeira explicação para a variação das espécies se deve a Jean-Baptiste Lamarck. Essas
variações ocorriam de acordo com o uso ou desuso de certas características. Darwin apostou
na seleção natural que ocorreria com as espécies na tentativa de se adaptarem ao meio.
Depois de reuniu muitas provas, Darwin escreveu duas obras notáveis. Em 1859, escreveu A
Origem das Espécies que defende que as espécies atuais descenderam de um ancestral comum
por meio de seleção natural. Em 1871, foi a vez de A Descendência do Homem, obra que
inclui o homem na mesma perspectiva da seleção natural e sexual.
A Teoria da Evolução foi sendo confirmada ao longo de vários anos. As pesquisas de Gregor
Johann Mendel (1822-1884) deram um suporte para se entender as transformações genéticas
ocorridas nas espécies. Em 1953, James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins
formularam a hipótese para explicar a estrutura do DNA. Em 2003, foi concluído o
sequenciamento do Genoma humano sob a direção de Francis Collins[1].

Evidências da Evolução
A primeira fonte a atestar a evolução é descoberta de fósseis com características diferentes
das espécies atuais. Segundo, observa-se na natureza formas de adaptações dos seres vivos
por meio de camuflagem e mimetismo. Através da observação genética percebe-se o processo
de mutação e de recombinação que leva ao surgimento de nova espécie. Os ambientes
provocam tais modificações.

A evolução humana
A descoberta de Darwin causou maior impacto na sociedade pelo fato de colocar a espécie
humana dentro do mesmo processo evolutivo. Antes da teoria, o homem ocupava um lugar
privilegiado porque fora criado diretamente por Deus. Hoje, sabe-se que as principais
mudanças para o surgimento do homem são: a) Postura bípede; b) Habilidade manual; c)
Capacidade craniana; d) Mandíbula de dentes/fala; e) Comportamento grupal.
Há 70 milhões de anos surgiram os primatas. Esses se desenvolveram para os prossímios. Há
24 milhões surgiram os hominídeos Há 8 milhões, ocorreu uma separação entre macacos e

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hominídeos na África. Várias espécies de hominídeos vão surgindo: 5 milhões:
Gênero Australopithecus; 2 milhões: Gênero Homo. Surgimento do Homo habilis. Esse
começa a produzir ferramentas e a deixar a vida nas árvores. 1,5 milhão: Espécie Homo
erectus.800 mil: H. heidelbergensis. 200 mil: H. sapiens. 200 a 12 mil: H. sapiensis idaltu; H.
floresiensis; H. neanderthalensis.Finalmente, há 150 mil, as espécies já dominam a
ferramenta, o fogo, a linguagem, a sociedade.

Por que o homem se tornou homem


O antropólogo Richard Wrangham defende que além dessas habilidades citadas acima o ato
de comer alimentos cozidos foi decisivo. Portanto, há um conjunto de procedimento que
distanciou o homem dos outros hominídeos. Anteriormente, se admitiam o uso de ferramentas
e o consumo de carne como decisivos para a transição do homem porque os vegetarianos
foram extintos. Mas, os chimpanzés usam ferramentas e comem carne e não se tornaram
homens.
Wrangham propõe a conquista do fogo e a cozinha. Com a ingestão de alimentos cozidos
aumentou a absorção de nutrientes. Então, a energia gasta no processo de digestão foi
transferida para o cérebro. Além disso, diminuiu o esforço da mastigação. Aumentaram os
índices de sobrevivência e as mulheres se tornaram mais férteis. A quebra de moléculas de
amido e de proteínas reduziu o sistema digestório.
As refeições ao redor do fogo estimularam a socialização, o homem passou a viver em campo
aberto e uniu os casais, aumentando a cooperação entre os membros da espécie[2].

ATIVIDADES PROPOSTAS
1. Sintetize lamarckismo e darwninismo.
2. O que significou para a humanidade a revolução operada por Darwin?
3. Uma teoria não se faz com um homem só. Explique a importância das pesquisas de Mendel,
Watson e Collins para o fortalecimento da teoria da evolução.
4. Comente as idéias de Richard Wrangham.
5. Pesquise sobre a vida e pesquisas de Mendel, Watson e companheiros e Collins.
6. Compare a visão de um mundo fixista e de mundo evolutivo, apresente vantagens e
desvantagens.

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IV. TÓPICOS DE EVOLUÇÃO HUMANA

1. Introdução

Quando estudamos a origem da vida e do homem nos deparamos com um problema. A nossa
sociedade foi educada durante muitos séculos com a ideia de criação. Quase todas as religiões
possuem um mito de criação. No caso do Ocidente, o mito judaico-cristão é o mais influente.
Uma pesquisa feita nos EUA mostrou que 90% da população acreditam em um Deus criador,
sendo 45% acreditam que o evento ocorreu exatamente como o Gênesis descreve[1]. A
verdade no senso comum é condicionada pelo meio cultural.
No Brasil, muitas escolas ensinam a evolução junto com a criação. Mas o evolucionismo é
somente uma teoria entre outras. No fim das aulas de biologia, todo mundo volta para seu
mundo criacionista. As evidências científicas são trocadas pela literatura bíblica. As
instituições de educação presbiterianas, adventistas e batistas assumem a postura criacionista
em sala de aula. Apenas as escolas católicas separam ciência e religião[2].

2. A origem do homem
Algumas observações devem ser feitas antes de tratar do assunto. A criação não é uma teoria,
é um mito. Uma teoria é uma hipótese testada. Um mito é um arranjo simbólico que um povo
faz para responder uma pergunta fundamental para a vida numa época. As duas visões são
frutos de época e de métodos, de propósitos diferentes. É inviável uma comparação. Mas é
válido ao tratar da evolução partir do chão cultural dos alunos. E na maioria dos casos é a
criação judaico-cristã.
Uma escola séria, enraizada nos valores democráticos do século XXI, não poder negar a teoria
da evolução a seus alunos. Nem é ético confrontá-la tomando partido pela criação. Mesmo
com o direito de manifestação religiosa que todos têm, porque evolução não é religião e nem
criação é ciência.

3. Cosmogonias
Dentro das cosmogonias, pode se perceber a origem da humanidade. O cristianismo, o
judaísmo e islamismo têm o mesmo mito de criação como fonte. Nem todas as religiões usam
exatamente a noção de “criação” para explicar a origem. Algumas cosmogonias:
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a) Cosmogonia brâmane:
A visão bramânica do mundo e sua aplicação à vida estão descritas no livro do
Manusmristi (Código de Manu), elaborado entre os anos 200 a.C. e 200 da era cristã,
embora também contenha material muito mais antigo. Manu é o pai original da
espécie humana. O livro trata inicialmente da criação do mundo e da ordem
dos brâmanes; depois, do governo e de seus deveres, das leis, das castas, dos atos de
expiação e, finalmente, da reencarnação e da redenção. Segundo as leis de Manu, os
brâmanes são senhores de tudo que existe no mundo.[3]
b) Cosmogonia iorubá:
Na mitologia de Iorubá, o processo de criação envolve várias divindades. Uma das
versões dessa mitologia diz que Olorum – Senhor Deus Universal – criou
primeiramente todos os Orixás (divindades) para habitar Orun (o Céu, mundo
espiritual), com o objetivo de usá-los como auxiliares para executar todas as tarefas
que estariam relacionadas com a própria criação e o posterior governo do mundo.
Então, Olorum encarregou Obatalá de criar o mundo; mas este, com pressa, não
rendeu aBará os tributos devidos e, durante sua caminhada, parou para beber vinho
de palmeira e, embriagando-se, adormeceu.Oduduá, a Divina Senhora, foi ao
encontro de Obatalá e, ao vê-lo adormecido, pegou os elementos da criação e
começou a formação física da terra. Ela mandou que cinco galinhas d’angola
começassem a ciscar a terra, espalhando-a, dando assim origem aos continentes.
Oduduá soltou então os pombos brancos - símbolo de Oxalá– e assim nasceram os
céus. De um camaleão fez surgir o fogo e, com caracóis, ela criou o mar.[4]
c) Cosmogonia tupi:
A cosmogonia Tupi afirma que o homem é o som que ficou em pé. Tupã, o Grande
Som, cria o tupi pelo som, e o som toma forma humana. O que sustenta o homem
em pé é a flauta criada por Tupã, e que produz os sete sons, sendo que o último é o
silêncio. Os guaranis também harmonizam a energia vital através dos sons
vocálicos.[5]

O budismo não explicitamente um mito de criação. O espiritismo tende a acompanhar a


ciência. Em todos os casos apresentados, um deus dá origem ao homem. E tudo acontece num
tempo remoto e inacessível, mas que, contraditoriamente, é conhecido pela tradição. Portanto,
a segurança está numa tradição oral ou escrita, antiga e sem uma testemunha palpável.
As cosmogonias representam um tipo de conhecimento totalmente diverso da ciência. Não
pode ser ensinado e confiado com status de teoria científica. Existe a Teoria do Design

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Inteligente que tenta concilia ciência e religião, mesmo assim, não é solução legítima para o
problema da antropogênese.

4. A evolução humana
As principais mudanças para o surgimento do homem são: a) Postura bípede; b) Habilidade
manual; c) Capacidade craniana; d) Mandíbula de dentes/fala; e) Comportamento grupal.
O antropólogo Richard Wrangham defende que além dessas habilidades o ato de comer
alimentos cozidos foi decisivo. Portanto, há um conjunto de procedimento que distanciou o
homem do outros hominídeos.[6]
A linha de tempo da evolução humana:
70 milhões: Surgem os primatas.
24 milhões: Surgem os hominídeos.
8 milhões: Separação entre macacos e hominídeos na África.
5 milhões: Gênero Australopithecus.
2. milhões: Gênero Homo. Surgimento do Homo habilis.Ferramentas.
1,5 milhão: Espécie Homo erectus.
800 mil: H. heidelbergensis.
200 mil: H. sapiens.
200 a 12 mil: H. sapiensis idaltu; H. floresiensis; H. neanderthalensis.
150 mil: Ferramenta, fogo, linguagem, sociedade.

5. Considerações filosóficas
A seguir, a apresentação de duas considerações sobre a verdade. Existem muitas repostas para
um mesmo problema. Mas com a soma de esforços e transformações culturais as explicações
vão evoluindo. As respostas atuais merecem mais atenção do que as respostas mais antigas.
Não que a contemporaneidade de uma teoria seja critério de verdade. A avaliação deve se
fundamentar nas evidências.
É necessário das respostas sincrônicas para as questões, ou seja, responder questões do século
XXI pelo conhecimento do século, e não se pretender a um passado que não diz respeito ao
presente. Os criacionistas têm uma resposta anacrônica aos problemas do mundo.[7] A
verdade é um processo, não pode estagnar.

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[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Criacionismo
[2] Revista Veja, edição 2099, 11 fev. 2009, pp. 84-87.
[3] http://pt.wikipedia.org/wiki/Criacionismo
[4] Ibidem.
[5] http://espiritualidadebasica.blogspot.com/2009/04/os-sons-da-vida.html
[6] http://veja.abril.com.br/300909/cozinho-logo-penso-p-84.shtml
[7] Aqui foi usado: Sincrônico com o sentido de “respostas atualizada” e anacrônico “resposta defasada”.

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IDENTIFICAÇÃO DO AUTOR

José Aristides da Silva Gamito é bacharel


em Filosofia e pós-graduado em Docência
Básica e Universitária, licenciando em
Filosofia (2010). É natural de Vermelho
Velho, Raul Soares, MG. Sendo filho de
Aristides Antônio da Silva (in memoriam) e
Lourdes Leandra da Silva (in memoriam). É
casado com a professora de Biologia Joana Regina Gamito. Atualmente reside em Conceição
de Ipanema, MG.

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