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Ficha de leitura

OS MAIAS
de

Eça de Queiroz

1 Université Sorbonne Nouvelle Paris 3


LEAL Krystel
I1PMT – Mme Mendes
Introdução

Eça de Queiroz, nascido José Maria de Eça de


Queiroz, é um dos maiores romancistas de toda a
Literatura Portuguesa e o primeiro e principal
escritor realista português. Notabilizou-se pela
originalidade, complexidade e riqueza da sua
escrita.
Nascido em 1845 na Póvoa de Varzim
(Portugal), cursou Direito na Universidade de
Coimbra, tornando-se amigo de Teófilo Braga e
Antero de Quental.
Em 1866, já formado em Direito, instalou-se
em Lisboa, mais precisamente no Rossio, onde se
inscreveu no Supremo Tribunal de Justiça como
advogado, profissão que só exerceu a partir de
1867. Foi no ano em que se instalou em Lisboa
que iniciou a publicação de folhetins na Gazeta de
Portugal que serão reunidos, mais tarde, em
Prosas Bárbaras. No final desse ano partiu para
Évora, onde fundou e dirigiu o jornal de oposição
Distrito de Évora, mantendo, porém, a sua colaboração na Gazeta de Portugal.
Em 1870 publicou, no jornal Diário de Notícias, os relatos da sua viagem, realizada no ano anterior,
pelo Egipto e o Canal de Suez, intitulados de “De Port-Said a Suez” e, mais tarde, no mesmo jornal, “O
Mistério da Estrada de Sintra”, uma narrativa escrita em colaboração com Ramalho Ortigão.
As grandes obras de Eça de Queiroz começam a ser publicadas a partir de 1875 com a publicação de
“O Crime do Padre Amaro”, na Revista Ocidental. Três anos depois é publicado “O Primo Basílio”.
Em 1887, o livro “A Relíquia” é publicado e concorre ao Prémio D. Luís da Academia Real das
Ciências, perdendo contra a obra “O Duque de Viseu” de Henrique Lopes de Mendonça.
É, no entanto, um ano depois, que é publicado a maior e mais importante obra de Eça de Queiroz,
“Os Maias”.
Devido a uma doença prolongada, o autor morre em 1900 na cidade de Paris. Neste momento, os
restos mortais de Eça de Queiroz estão no cemitério do Alto de S. João em Lisboa.

A obra apresentada nesta ficha de leitura é, como acima referido, a mais importante obra deste
autor.
Este romance estrutura-se à volta de vectores fundamentais: a história da família Maia e a crónica
de costumes retractando o Portugal da segunda metade do séc. XIX. Sendo, portanto, um romance

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histórico, é importante que o leitor desta obra tenha conhecimentos da história de Portugal dos finais
do século XIX.
Eça de Queiroz, ao afastar-se por diversas vezes de Portugal (foi cônsul em Havana, depois em
Newcastle e, a partir de 1888, em Paris), possuía uma visão e um critério de observação mais
objectivos e críticos da sociedade portuguesa, sobretudo das camadas mais altas. Foi, aliás, em Paris,
que Eça de Queiroz concluiu “Os Maias”.
A primeira edição da obra foi publicada no Porto, em 1888, pela Livraria Chardron. Em França, a
obra é intitulada de “Les Maia”. A obra foi traduzida por Paul Teyssier e foi publicada pela primeira
vez em 1956 pela editora Club Bibliophile de France.
É importante frisar que todas as referências e ligações a páginas da obra, dizem
respeito à edição integrante d’Os grandes génios da literatura universal, editada pela
Mediasat Group, em 2004 (ISBN: 84-9789-613-0).

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Desenvolvimento

1. Síntese da obra
O título da obra remete de imediato para o estudo de uma família fidalga, Os Maias. Eça de Queiroz
serve-se da história desta família para narrar as desventuras da sociedade portuguesa.
A acção da obra passa-se na cidade de Lisboa, na segunda metade do séc. XIX. Inicia-se no Outono
de 1875, altura em que Afonso da Maia, nobre e rico proprietário, se instala numa das casas da família,
o Ramalhete, em Lisboa. Carlos da Maia, neto de Afonso e única família que lhe resta, acabara o curso
de Medicina em Coimbra e queria abrir um consultório em Lisboa, razão pela qual Afonso decidiu
deixar a sua quinta no norte do país (Santa Olávia) e acompanhar o neto para Lisboa.

A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conhecida
na vizinhança da rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas
Verdes, pela casa do Ramalhete ou simplesmente o Ramalhete.
(pág.1)

Afonso da Maia, agora velho e calmo, fora um jovem apoiante do Liberalismo, contrariando o seu
pai que era Absolutista. Por esta razão, Afonso foi expulso de casa, sendo-lhe oferecida a Quinta de
Santa Olávia. Depois da morte do seu pai, Afonso conheceu D. Maria Eduarda Runa com quem casou e
partiu para Inglaterra. No entanto, devido ao catolicismo da mulher, o seu filho, Pedro da Maia,
acabou por ser educado por um bispo português. Com isso, Pedro cresceu frágil, medroso e
excessivamente mimado pela mãe. Algum tempo depois, a saúde de Maria Eduarda Runa fragilizou-se
e devido à sua doença, a família acaba por voltar para Lisboa, onde a esposa de Afonso falece.

Afonso da Maia consolava-se pensando que, apesar de tão desgraçados mimos, não
faltavam ao rapaz qualidades: era muito esperto, são, e, como todos os Maias, valente: não
havia muito que ele só, com um chicote, dispersara na estrada três saloios de varapau que lhe
tinham chamado «palmito».
(pág.17)

Pedro da Maia acaba por se apaixonar em Lisboa por uma jovem chamada Maria Monforte, filha de
um negreiro. Devido aos antecedentes da jovem, Afonso da Maia opõe-se à relação do filho com Maria
Monforte. Mas, mesmo assim, os dois jovens acabam por se casar às escondidas e vivem vários anos no
estrangeiro. Quando Maria Monforte engravida, o casal decide voltar para Lisboa, enviando uma carta
a Afonso da Maia, anunciado a gravidez de Maria Monforte, na esperança do perdão do patriarca.

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Contudo, quando chegaram a Lisboa, ficam a saber que Afonso tinha voltado para Santa Olávia no dia
anterior.
Pedro acabou por não informar o pai do nascimento da filha [Maria Eduarda], mas quando o seu
segundo filho nasce [Carlos Eduardo] põe a hipótese de se reconciliar com o pai e resolve ir a Santa
Olávia apresentar-lhes os netos. No entanto, esta visita é adiada porque Pedro feriu, numa caçada, um
napolitano que acaba por se restabelecer durante algum tempo em casa de Pedro e Maria. Esse tempo
foi suficiente para Maria se enamorar por este napolitano chamado Tancredo e fugir com ele, levando
Maria Eduarda, deixando Carlos Eduardo com Pedro da Maia. Pedro decide procurar consolo junto do

A madrugada clareava, Afonso ia adormecendo – quando de repente um tiro atroou a


casa. Precipitou-se do leito, despido e gritando: um criado acudia também com uma
lanterna. Do quarto de Pedro, ainda entreaberto, vinha um cheiro de pólvora; e aos pés
da cama, caído de bruços, numa poça de sangue que se ensopava no tapete, Afonso
encontro seu filho morto, apertando uma pistola na mão.
(pág.42-43)

pai na casa de Benfica, onde acaba por se suicidar. Afonso da Maia decide fechar a casa de Benfica e
mudar-se com o seu neto, Carlos da Maia, para a quinta de Santa Olávia.

É na quinta de família que Carlos passa toda a sua infância, caracterizada por uma educação à
inglesa que dá primazia ao exercício físico e às regras duras. Durante a infância de Carlos destaca-se
uma personagem que irá permanecer no resto da obra: Euzebiozinho. Esta personagem serve para
fazer contraste da educação: se Carlos teve uma educação forte, que desenvolvia a inteligência graças
ao conhecimento experimental e em que se desprezava o catecismo, Euzebiozinho teve uma educação

O Eusébiozinho foi então preciosamente colocado ao lado da titi; e a severa senhora, com
um fulgor de cólera na face magra, apertando o leque fechado como uma arma, preparava-se
a repelir o Carlinhos, que, de mãos atrás das costas e aos pulos em roda do canapé, ria,
arreganhando para o Eusébiozinho um lábio feroz.
(pág.60)

que recorria à memorização, ao estudo do Latim (língua morta e ligada à religião) e que dava uma
grande importância ao catecismo.

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Carlos acaba por se matricular na Universidade de Coimbra em Medicina. É na sua casa em Celas

Chegara esse Outono de 1875 e o avô, instalado enfim no Ramalhete, esperava por ele
ansiosamente.
(pág.78)

que Carlos se torna próximo de João da Ega, estudante de Direito. É depois de uma grande viagem
pela Europa, quando finalizou o curso, que Carlos se instala no Ramalhete com o avô. É neste
momento em que termina a grande analepse.

Carlos abre uma popular e bem sucedida clínica no Rossio. Ega torna-se amante de Raquel Cohen,
uma mulher bela e refinada casada com um banqueiro judeu, até a relação ser descoberta pelo
banqueiro, enquanto que Carlos tem uma pequena aventura com a Condessa de Gouvarinho, uma
aristocrata casada com o ministro e par do Reino.
É no Hotel Central, em ocasião de um jantar organizado por Ega, que Carlos vê pela primeira vez a
sua mulher de sonhos: Maria Eduarda. Com o intuito de ter um encontro furtivo com a mesma, Carlos
combina uma viagem para Sintra onde sabe que a bela mulher vai estar com o suposto marido. É

Ela lançou-lhe os braços ao pescoço: e os seus lábios uniram-se num beijo profundo, infinito,
quase imaterial pelo seu êxtase. Depois Maria Eduarda descerrou lentamente as
pálpebras, e disse-lhe, muito baixo: - Adeus, deixa-me só, vai.
(pág.328)

graças a uma visita médica a casa de Maria Eduarda (família Castro Gomes), que Carlos e Maria
Eduarda se aproximam e que se enamoram. Mais tarde, Carlos descobre que Maria Eduarda não é
casada e pede-a em casamento.

Infelizmente, tal união nunca se poderá concretizar visto que Guimarães desvenda que Maria
Eduarda e Carlos da Maia são irmãos. A relação entre ambos acaba por se terminar algum tempo

- (…) O Guimarães veio imediatamente ao procurador dos Maias, deu-lhe esses papéis,
para que os entregasse a Vossa Excelência…e nas primeiras palavras que disse, imagine o
assombro de todos, quando se entreviu que Vossa Excelência era parente de Carlos, e
parente muito chegada.
(pág.548)

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depois da revelação. Maria Eduarda acaba por sair do país, João da Ega e Carlos fazem uma viagem
longa da qual Ega regressa a Lisboa um ano e meio depois, e Carlos da Maia só regressa à capital
portuguesa oito ano depois.

2. Análise e crítica pessoal

O romance ao subdividir-se em dois níveis de acções distintos - um decorrente do título “Os Maias”
e o outro decorrente do subtítulo (que consta na edição original da obra mas que foi sendo eliminada
em muitas edições posteriores) “Episódios da vida romântica”- faz com que seja possível, num plano
autónomo em relação à intriga principal, consigamos perceber os costumes, os gostos, as tradições, os
hábitos, os divertimentos, os aspectos políticos, literários e educativos da sociedade portuguesa da
Regeneração, o que nos proporciona muitos risos, por esta sociedade se caracterizar por uma falta de
visão histórica e cultural, por uma ausência de espírito crítico, por uma apatia e ociosidade que acaba
sempre por importar as modas estrangeiras que não se adequam ao perfil nacional – de destacar as
corridas de cavalo em Belém (capítulo X).
O que me seduziu na história de “Os Maias” é o facto de que é o tempo que move os
acontecimentos. Temos a visão de que as personagens envelhecem e que as suas atitudes e
personalidades evoluem. Por exemplo, Afonso da Maia não reage da mesma forma ao desgosto do filho
e ao desgosto do neto. O tempo, da forma como é apresentado por Eça de Queiroz, faz com que nós,
leitores, entremos numa máquina do tempo: em apenas dois capítulos (I e II) ficamos a conhecer a
intransigência absolutista do pai de Afonso (Caetano da Maia), a infância liberalista de Afonso, a
paixão trágica de Pedro da Maia e o nascimento do último varão dos Maias: Carlos da Maia.
A poderosa dinâmica narrativa de Eça de Queiroz cria uma viagem inigualável: os relatos dos
acontecimentos que podem ser apresentados de forma linear surgem, muitos deles, depois de uma
apresentação de momentos passados. Esses recuos no tempo são criados com o intuito de dar a
conhecer o passado das personagens de modo a permitir a coerência da história narrada e de
caracterizar as personagens através da sua formação, o que faz com que conheçamos melhor as
personagens e nos sintamos mais integrados na história.

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