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Atualidades

As questões de Atualidades/Conhecimentos Gerais foram baseadas em temas nacionais e


internacionais importantes para a compreensão da realidade atual, uma vez que requer do concursando
um vasto conhecimento do processo histórico que a originou. É importante frisar que, para o concursando
ter um bom rendimento nas questões de Atualidades/Conhecimentos Gerais, não basta que o mesmo leia
revistas e jornais da atualidade, visto que as bancas estão cobrando questões envolvendo a
compreensão do processo histórico que originou o momento atual. Sendo assim, é necessário que o
candidato domine os grandes acontecimentos políticos, históricos e sociais ocorridos no Brasil e no
mundo, correlacionando-os entre si e ainda reconhecendo suas implicações na conjuntura atual. Desta
forma aconselho aos concursandos que enfrentarão provas de Atualidades que procurem uma
preparação sólida a partir do entendimento da Atualidade, e não a partir de uma leitura desordenada e
muitas vezes descontextualizada com as orientações programáticas das principais bancas. Essa
orientação poderá ser conseguida com o apoio de cursos e principalmente de professores especializados
na preparação para concursos públicos.

As células-tronco, também conhecidas como células-mãe ou células estaminais, são células que
possuem a capacidade de se dividir dando origem a células semelhantes às progenitoras e de se
transformar (num processo também conhecido por diferenciação celular) em outros tecidos do corpo,
como ossos, nervos, músculos e sangue. Devido a essa característica, as células-tronco são importantes,
principalmente na aplicação terapêutica, sendo potencialmente úteis em terapias de combate a doenças
cardiovasculares, neurodegenerativas, diabetes tipo-1, acidentes vasculares cerebrais, doenças
hematológicas, traumas na medula espinhal e nefropatias. O principal objetivo das pesquisas com
células-tronco é usá-las para recuperar tecidos danificados por essas doenças e traumas. São
encontradas em células embrionárias e em vários locais do corpo, como no cordão umbilical, na medula
óssea, no sangue, no fígado e na placenta.
Tipos
As células-tronco podem ser de dois tipos: adultas e embrionárias. As células-tronco adultas podem ser
encontradas nos mais variados tecidos do corpo, sendo as da medula óssea, da placenta e do cordão
umbilical as mais utilizadas. São de grande aplicação na medicina, já estando em estágio de ampla
utilização. Além disso, como as células-tronco adultas são geralmente retiradas do próprio paciente, o
risco de rejeição em sua utilização é muito baixo.
As células-tronco embrionárias são extraídas dos embriões e acredita-se que elas podem se transformar
em qualquer outra célula. As células-tronco adultas são mais limitadas, podendo apenas gerar tecidos
específicos. Devido a essa limitação acredita-se que as células-tronco embrionárias sejam mais
eficientes. Contudo, as pesquisas com esse tipo de células ainda é incipiente e elas têm uma chance
muito maior de causar rejeição ou até tumores em relação às células-tronco adultas.
As células-tronco ainda se classificam de acordo com o tipo de células que podem gerar:
• Totipotentes: podem produzir todas as células embrionárias e extra embrionárias;
• Pluripotentes: podem produzir todos os tipos celulares do embrião;
• Multipotentes: podem produzir células de várias linhagens;
• Oligopotentes: podem produzir células dentro de uma única linhagem;
• Unipotentes: produzem somente um único tipo celular maduro.

O que são células-tronco? São células encontradas em embriões, no cordão umbilical e em tecidos
adultos, como o sangue, a medula óssea e o trato intestinal, por exemplo. Ao contrário das demais células
do organismo, as células-tronco possuem grande capacidade de transformação celular, e por isso podem
dar origem a diferentes tecidos no organismo. Além disso, as células-tronco têm a capacidade de auto-
replicação, ou seja, de gerar cópias idênticas de si mesmas.
Que avanços as pesquisas científicas com células-tronco podem trazer para a medicina? As
células-tronco podem ser utilizadas para substituir células que o organismo deixa de produzir por alguma
deficiência, ou em tecidos lesionados ou doentes. As pesquisas com células-tronco sustentam a
esperança humana de encontrar tratamento, e talvez até mesmo cura, para doenças que até pouco
tempo eram consideradas incontornáveis, como diabetes, esclerose, infarto, distrofia muscular, Alzheimer
e Parkinson. O princípio é o mesmo, por exemplo, do transplante de medula óssea em pacientes com
leucemia, método comprovadamente eficiente. As células-tronco da medula óssea do doador dão origem
a novas células sangüíneas sadias.

Por que permitir a pesquisa com embriões, se as células-tronco são também encontradas em
tecidos adultos? Porque as células embrionárias seriam as únicas que têm a capacidade de se
diferenciar em todos os 216 tecidos que constituem o corpo humano. As células retiradas de tecidos
adultos têm capacidade de dar origem a um número restrito de tecidos. As da medula óssea, por
exemplo, formam apenas as células que formam o sangue, como glóbulos vermelhos e linfócitos.

O que a Lei da Biossegurança aprovada na Câmara permite? Ela autoriza as pesquisas científicas
com células-tronco embrionárias, mas impõe uma barreira. Poderão ser pesquisados apenas os embriões
estocados em clínicas de fertilização considerados excedentes, por não serem colocados em útero, ou
inviáveis, por não apresentarem condições de desenvolver um feto. O comércio, produção e manipulação
de embriões, assim como a clonagem de embriões, seja para fins terapêuticos ou reprodutivos, continuam
vetados.

Os cientistas podem adquirir os embriões diretamente nas clínicas de fertilização assistida? Sim.
O cientista precisa da autorização do conselho de ética do instituto onde trabalha, como em qualquer
projeto que envolva a manipulação de material humano. Uma vez autorizado, o pesquisador poderá
adquirir os embriões diretamente nas clínicas. Eles deverão estar estocados há mais de três anos e só
poderão ser utilizados com o consentimento dos pais, mediante doação. Atualmente, estima-se que o
país tenha 30.000 embriões congelados.

Qual o motivo da polêmica em torno da lei? Para explorar as células-tronco usando as técnicas
conhecidas hoje, é necessário retirar o chamado "botão embrionário", provocando a destruição do
embrião. Esse processo é condenado por algumas religiões – como a católica - que consideram que a
vida tem início a partir do momento da concepção. Há perspectivas de que no futuro se encontrem
técnicas capazes de preservar o embrião, o que eliminaria as resistências religiosas.

É possível desenvolver uma técnica para obter células-tronco sem precisar dos embriões? Sim.
No início de 2007, cientistas americanos anunciaram a descoberta de uma nova fonte de células
"coringa", extraídas do líquido amniótico, que preenche o útero durante a gravidez. Extraídas e cultivadas
em laboratório, as células deram origem a vários tipos de células diferentes - ou seja, funcionam como
células-tronco. Conforme os cientistas, as células-tronco extraídas do líquido amniótico não são idênticas
às células-tronco embrionárias. Em alguns casos, porém, elas funcionam até melhor, dizem eles. Mas a
gama de aplicações para esse novo tipo de célula-tronco pode ser menor do que no caso das
embrionárias.

Qual é o tamanho do embrião quando as células são extraídas para pesquisas? Até o momento, os
cientistas conseguiram obter células-tronco de blastocistos, um estágio inicial do embrião com apenas
100 células. Um grupo de pesquisadores americanos conseguiu extrair células-tronco de mórulas, que
têm entre 12 e 17 células. Em qualquer caso o embrião é microscópico. As células retiradas são
cultivadas em laboratório, e podem render material para diversos anos de trabalho.

Em que estágio se encontram as pesquisas de tratamentos com células-tronco? Apenas no caso


de leucemia e certas doenças do sangue se pode falar efetivamente em tratamento. As perspectivas
ainda são a longo prazo, pois praticamente todas as terapias se encontram em fase de testes, embora
alguns resultados preliminares sejam promissores. Os cientistas ainda têm várias questões a resolver,
como a possibilidade de desenvolvimento de tumores, verificada em testes com camundongos.

E no Brasil, o que existe em termos de pesquisas? Na Bahia, pesquisadores da Fundação Oswaldo


Cruz estão tratando com sucesso cardiopatias causadas pela doença de Chagas. No Hospital Pró-
Cardíaco do Rio de Janeiro e no Instituto do Coração de São Paulo, células-tronco são usadas em
pacientes que sofreram infarto. Também há estudos em vítimas de lesões medulares, diabetes do tipo 1,
esclerose múltipla e artrite.

Como é a legislação sobre células-tronco em outros países? Nos Estados Unidos, o tema esteve no
centro dos debates das eleições presidenciais de 2004. Em 2001, o presidente George W. Bush cortou o
financiamento público para as pesquisas, permitidas durante o governo Clinton, mas depois decidiu
permitir o financiamento limitado. A lei brasileira é considerada equilibrada, e está bem próxima da
legislação aprovada há poucos anos em plebiscito na Suíça. Em alguns países, como a Coréia do Sul e a
Inglaterra, a legislação também permite a clonagem terapêutica.

O que o uso de células-tronco tem a ver com a clonagem? A "clonagem terapêutica" consiste na
transferência de núcleos de uma célula para um óvulo sem núcleo. Este óvulo dará origem a um embrião,
do qual se retiram as células-tronco. A vantagem seria evitar a possibilidade de rejeição, caso o doador
seja o próprio paciente. Em caso de portadores de doenças genéticas, há ainda a possibilidade de um
doador compatível. Este tipo de clonagem é diferente da clonagem reprodutiva, que é quando um embrião
clonado é implantado em um útero, com o objetivo de reprodução de pessoas.

Novo apagão energético


No final de outubro de 2007, para acionar as usinas térmicas devido ao baixo nível dos reservatórios de
água que alimentam as hidrelétricas, a Petrobras cortou o fornecimento de gás em 17%, em São Paulo e
no Rio de Janeiro - onde se concentram os dois maiores parques industriais do país. A medida pegou de
surpresa grandes empresas, que se viram obrigadas a interromper sua produção, movida a gás. Além
disso, houve filas de carro nos postos de GNV (gás natural veicular). O episódio despertou o receio de um
novo apagão energético, a exemplo do que ocorreu em 2001. Mas, afinal, esse medo é real? Confira
essas e outras questões abaixo:

1. O Brasil corre o risco de sofrer um novo apagão?


Sim. A oferta de eletricidade no país, por exemplo, vem crescendo num ritmo inferior ao do consumo.
Segundo os números disponíveis, as duas taxas se equilibram atualmente - ou seja, estamos no limite.
Por isso, é provável que o fantasma do apagão volte em 2010, considerando-se um crescimento do PIB
de 4,5% ao ano até lá.

2. O que pode ser feito a curto prazo?


Segundo especialistas do setor, é possível adotar medidas positivas em várias áreas, tais como:
- simplificar os procedimentos para a instalação de novas usinas hidrelétricas, principal fonte de energia
do país;
- estimular a concorrência no fornecimento de gás natural, atualmente sob monopólio da Petrobras;
- tornar atrativo o preço da energia gerada pelas usinas de bagaço de cana.

3. Qual a responsabilidade do governo no tema?


Estudos mostram que o governo Lula não iniciou nenhuma grande obra de geração de energia. Mais de
90% das usinas inauguradas pelo petista foram licitadas nos anos de Fernando Henrique Cardoso. Desde
2003, 17.500 megawatts foram acrescentados à matriz energética. Desses, apenas 1.700 megawatts
foram contratados durante a atual administração, energia suficiente para abastecer não mais do que 5
milhões de residências.

4. Qual o peso do gás na matriz energética brasileira?


Desde o apagão de 2001, os governos procuram convencer os brasileiros de que o gás natural é um
ótimo substituto para a energia hidrelétrica e a gasolina. Seu consumo foi largamente estimulado. Deu
certo. Desde 2000, sua utilização cresceu 120%; em 2006, o produto já respondia por cerca de 10% de
toda a matriz energética nacional. Seu uso é atualmente imprescindível não apenas no 1,5 milhão de
veículos e nas dezenas de fábricas que o utilizam, mas também, de forma emergencial, na geração de
energia elétrica. Durante os períodos de estiagem, quando cai o nível dos reservatórios, são acionadas as
cerca de vinte usinas termelétricas movidas a gás inauguradas depois do apagão.

5. De onde vem o gás que o Brasil utiliza?


Todo o gás natural no Brasil é fornecido pela Petrobras. Metade dele vem da Bolívia, e o restante, de
poços brasileiros. O fornecimento aos consumidores finais, como indústrias, é feito por meio de
distribuidoras privadas.

6. O que ocasionou o corte no fornecimento de gás?


O racionamento de outubro de 2007 decorre pura e simplesmente da falta de planejamento de longo
prazo e do baixo nível de investimento em infra-estrutura no país. Ninguém se importaria com a escassez
de gás se os projetos de novas usinas hidrelétricas tivessem saído do papel. Como questões ambientais
e regulatórias travam esses investimentos, ampliou-se a necessidade do gás de origem termelétrica. Já o
baixo nível dos reservatórios não seria tão dramático em tempos de seca se houvesse mais fontes de gás
no país. Mas não há uma coisa nem outra.

7. O setor do gás enfrenta outros problemas?


O gasoduto Brasil-Bolívia, que representa metade do consumo nacional, está no seu limite. O projeto de
ampliá-lo não foi adiante nem será agora com o risco político representado pelo fanfarrão presidente
boliviano Evo Morales. A Petrobras preferiu dedicar-se de corpo e alma à meta de atingir a auto-
suficiência em petróleo. Outro ponto a ser considerado é a falta de concorrência no fornecimento do
combustível. Em tese, qualquer empresa privada poderia competir com a Petrobras na produção de gás.
O problema é que os gasodutos existentes estão nas mãos da Petrobras. Haveria a possibilidade de
importar gás liquefeito, mas a infra-estrutura portuária necessária para isso ainda não existe. Na prática, o
fornecimento de gás no país depende apenas do planejamento de uma única empresa.

8. A megajazida de petróleo e gás de Tupi, na Bacia de Santos, pode resolver o problema do gás
no Brasil?
Ainda é cedo para saber. Por enquanto, a certeza é de que as reservas de petróleo são realmente
gigantes - cerca de 8 bilhões de barris, o que eleva em mais de 50% o estoque brasileiro, atualmente nos
14 bilhões. Mas a Petrobras, responsável pelas pesquisas, ainda não precisou o tamanho das reservas
de gás. De qualquer forma, mesmo no caso do petróleo, os benefícios econômicos da descoberta só virão
literalmente à superfície por volta de 2013, quando deve começar a exploração em escala comercial da
megajazida de Tupi.

9. Um eventual apagão energético pode colocar em risco o crescimento do país?


Sim. Nos últimos quinze anos, o país vem se integrando cada vez mais à economia mundial, e nunca
antes o acesso a bens foi tão disseminado. O consumo avançou tão rapidamente que o Brasil começa a
trombar cada vez mais em seus limites. As reformas foram feitas pela metade, ainda falta muito a
privatizar e inexiste planejamento de longo prazo. Enquanto não houver investimentos em hidrelétricas e
em novas fontes de gás, esse mesmo roteiro virá sempre à tona. Até lá, a sorte do país estará nas mãos
das chuvas de São Pedro e do gás de Evo Morales.

10. A escassez de energia pode provocar um aumento de tarifas?


Sim. Logo após o corte de fornecimento de gás no Rio e em São Paulo, em outubro de 2007, a Petrobras
avisou que estimava um aumento de 25% no produto no ano seguinte. Mas o quadro já é ruim.
Comparando-se o preço da eletricidade para novos projetos industriais no Brasil às tarifas do resto do
mundo, chega-se a uma conclusão surpreendente. Embora consumam sobretudo energia de fonte
hídrica, 25% mais barata do que a nuclear, os brasileiros pagam tarifas mais caras do que na França,
onde a energia nuclear reina absoluta. Isso ocorre por causa de uma série de fatores, todos desastrosos.
O maior deles é a carga tributária. Ela representa metade do valor da conta de luz dos brasileiros.

Conceito de Desenvolvimento Sustentável

O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a


possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades. Ele contém dois
conceitos-chave: 1- o conceito de “necessidades”, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres no
mundo, que devem receber a máxima prioridade; 2- a noção das limitações que o estágio da tecnologia e
da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e
futuras (...). Em seu sentido mais amplo, a estratégia de desenvolvimento sustentável visa a promover a
harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza.

Pode-se perceber que tal conceito não diz respeito apenas ao impacto da atividade econômica no meio
ambiente. Desenvolvimento sustentável se refere principalmente às consequências dessa relação na
qualidade de vida e no bem-estar da sociedade, tanto presente quanto futura. Atividade econômica, meio
ambiente e bem-estar da sociedade formam o tripé básico no qual se apóia a idéia de desenvolvimento
sustentável.

Medidas :
a) limitação do crescimento populacional;
b) garantia de alimentação a longo prazo;
c) preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;
d) diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitem o uso de
fontes energéticas renováveis;
e) aumento da produção industrial nos países não-industrializados à base de tecnologias
ecologicamente adaptadas;
f) controle da urbanização selvagem e integração entre campo e cidades menores;
g) as necessidades básicas devem ser satisfeitas.

No nível internacional, as metas propostas são as seguintes:


a) as organizações do desenvolvimento devem adotar a estratégia de desenvolvimento sustentável;
b) a comunidade internacional deve proteger os ecossistemas supranacionais como a Antártica, os
oceanos, o espaço;
c) guerras devem ser banidas;
d) a ONU deve implantar um programa de desenvolvimento sustentável.

O termo desenvolvimento sustentável foi primeiramente utilizado por Robert Allen, no artigo "How to Save
the World". Allen o define como sendo "o desenvolvimento requerido para obter a satisfação duradoura
das necessidades humanas e o crescimento (melhoria) da qualidade de vida" [Allen apud Bellia, 1996,
p.23].

Os elementos que compõem o conceito de desenvolvimento sustentável já foram colocados, (a


preservação da qualidade do sistemas ecológicos, a necessidade de um crescimento econômico para
satisfazer as necessidades sociais e a equidade - todos possam compartilhar - entre geração presente e
futuras). Desta forma, percebe-se que os ideais do desenvolvimento sustentável são bem maiores do que
as preocupações específicas (a racionalização do uso da energia, ou o desenvolvimento de técnicas
substitutivas do uso de bens não-renováveis ou, ainda, o adequado manejo de resíduos). Principalmente,
é o reconhecimento de que a pobreza, a deterioração do meio ambiente e o crescimento populacional
estão indiscutivelmente interligados. Nenhum destes problemas fundamentais pode ser resolvido de
forma isolada, na busca de parâmetros ditos como aceitáveis, visando a convivência do ser humano
numa base mais justa e equilibrada.

Conseqüências do Aquecimento do Planeta:


 Derretimento das calotas polares, isso acarretara um aumento no nível dos oceanos, o que
causara inundações em cidades litorâneas.
 Mudança nos regimes de chuvas, poderá chover menos em determinadas regiões e mais em
outras.
 Doenças que hoje são tipicamente de regiões tropicais como a malária e a febre amarela
poderão atingir regiões que hoje não são encontradas.
 A agricultura será seriamente afetada, isto porque a agricultura depende muito do clima, com a
mudança deste regiões que hoje são propicia para a pratica da agricultura poderão se tornar
áridas.
 Aquecimento das Grandes Cidades, as cidades geralmente apresentam temperaturas mais
altas do que as áreas menos habitadas, com o aumento do efeito estufa essas temperaturas
vão subir mais do que são hoje, o que poderá afetar a saúde da população.
 Falta de Energias, países como o Brasil que tem na energia hidrelétrica sua maior fonte de
energia poderão sofre com a falta de chuvas, o que acarretará menos águas nos reservatórios.
 Extinção de espécies animais e vegetais, que hoje são restritos a determinados ecossistemas
que poderão desaparecer com o aquecimento.
 Desertificação, terras que hoje são campos ou florestas poderão virar desertos.

Essas são apenas algumas previsões dos cientista, elas podem parecer pessimistas mas são muito
prováveis e algumas já estão acontecendo. Para evita-las é preciso que a humanidade respeite os limites
do planeta e reduza a liberação de gases na atmosfera. Isso não quer dizer que será preciso abandonar
os automóveis e o conforto proporcionado pelo progresso tecnológico. É totalmente viável a construção
de automóveis que utilizam combustíveis menos poluentes, instalação de filtros nas industrias que
reduzam a liberação de gases, os governos dos países mais ricos que hoje são os que mais poluem o
planeta devem investir e incentivar a pesquisa de tecnologia ecológicas. Cabe as industrias reduzir a
poluição, ao governantes fiscalizar e punir os que desrespeitam as leis e população cobrar dos
governante ações que protejam o planeta, só assim estaremos assegurando o futuro de nosso filhos e
das demais espécies que habitam a Terra.

O Brasil tem mais peso nessa mesa


Como o dinheiro fala mais alto, o Brasil amplia seu poder nas decisões econômicas
dos países ricos, pois agora ele é credor do FMI

Durante dez dias, a cidade de Istambul, na Turquia, ficou conhecida como


"Resistambul". O apelido foi dado pelos manifestantes que aproveitaram a
reunião anual do Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial na
Turquia para protestar contra o capitalismo e o FMI, como sempre fazem
nessas ocasiões. Na quarta-feira 7, último dia do encontro, a polícia turca
reprimiu violentamente os jovens com jatos d'água e bombas de gás
lacrimogêneo.

Um homem de 55 anos, que passava pela praça Taksim na hora da confusão, morreu
de infarto. Não muito longe dali, protegidos do barulho e da violência num
luxuoso centro de convenções, milhares de representantes de 186 países
discutiram os rumos da economia internacional. Pela primeira vez na
história, eles participaram de uma verdadeira mudança de poder no FMI,
com os países ricos dando mais voz aos emergentes como Brasil, China e
Índia. E o Brasil, fato inédito, oficializou a intenção de emprestar US$ 10
bilhões ao FMI.

Como o dinheiro sempre fala mais alto, o País consagrou maior relevância na
complexa mesa de negociações das finanças globais. Um importante sinal
dessa transformação histórica foi o esvaziamento do Grupo dos Sete (G-7),
que reúne os ministros das finanças e presidentes dos bancos centrais dos
sete países mais ricos: Estados Unidos, Japão, Alemanha, Itália, França,
Grã-Bretanha e Canadá. Nos últimos 33 anos, o G-7 foi o centro das
decisões monetárias e cambiais que norteavam as políticas do FMI.

Não é mais. Em Istambul, o clube dos desenvolvidos assinou uma espécie de atestado
de óbito ao submeter- se totalmente, em seu comunicado oficial, ao Grupo
dos Vinte (G-20), que além do G-7 inclui países emergentes como o Brasil,
a China, a África do Sul, a Coreia do Sul e o México (leia no quadro ao
lado). "Nós prometemos dar o exemplo aderindo aos compromissos
assumidos pelos líderes do G-20 nas reuniões de Washington, Londres e
Pittsburgh", escreveram os representantes dos ricos.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou os novos tempos. "Antigamente,


os Estados Unidos e o G-7 manipulavam o FMI, era um cabode- guerra com
as nossas economias, s imp l e sme n t e mandavam fazer. Agora, isso
mudou completamente", afirmou à ISTOÉ, numa brecha das reuniões em
Istambul. O G-7 ainda tentou manter alguma relevância ao dizer que
continuará a monitorar os movimentos das taxas de câmbio e agir
conjuntamente, quando necessário. Mas, na prática, é página virada. Após a
crise econômica global de 2008, nenhuma decisão importante deixará de
ser tomada em conjunto com os países emergentes. "Os países
desenvolvidos não têm mais a empáfia de antes, estão humildes. Eles
sabem que quem vai puxar o crescimento daqui para a frente é a China, o
Brasil, a Rússia, a Ásia, a América Latina. A geopolítica internacional mudou
muito", diz Mantega.

Tanto é verdade que as coisas mudaram que o G-20 determinou uma redistribuição
das cotas do FMI de pelo menos 5%, em benefício das economias
dinâmicas emergentes. No conjunto, esses países terão 45% das cotas do
FMI, que definem os votos de cada um e o direito de saques de recursos na
organização. Um detalhe: nas contas de Mantega, o grupo formado por
Brasil, Rússia, Índia e China (os BRICs) passará a ter um poder adicional
quando a mudança for efetivada, em janeiro de 2011.

"Ninguém percebeu, mas com a reforma (do FMI) os BRICs chegam a 15% e têm
poder de veto. As decisões mais importantes têm que ser tomadas por 85%
dos votos." A resistência histórica à voz dos emergentes, que sempre foram
obrigados a seguir políticas econômicas ditadas pelos países ricos ao
tomarem dinheiro do FMI, caiu em Istambul. Isso significa que, nos próximos
anos, a economia mundial também será dirigida conforme o que acontece
em Pequim, Brasília, Nova Délhi e Moscou, e não apenas em Nova York,
Londres, Berlim e Tóquio. Depois da crise atual, as políticas neoliberais, que
davam mais voz aos mercados financeiros e tolhiam a atuação dos Estados
na economia, deram lugar ao intervencionismo dos governos e a uma
tendência de regulamentação e supervisão mais rígida dos bancos. O
economista britânico John Maynard Keynes, que defendia uma ação mais
forte do Estado e foi um dos fundadores do FMI, está mais vivo do que
nunca.

O FMI, de seu lado, busca manter seu lugar ao sol na nova ordem econômica mundial.
Quer se capitalizar e se transformar numa espécie de banco central global,
um emprestador de última instância, o que ampliaria seu poder de fogo nas
crises cambiais. A proposta foi defendida pelo diretor- geral do FMI,
Dominique Strauss- Kahn, e prontamente criticada por nomes influentes
como Henrique Meirelles, presidente do Banco Central brasileiro, Joseph
Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, e Guillermo Ortiz, presidente do banco
central mexicano.

"É um equívoco achar que, se o FMI tiver os recursos suficientes para ser o
emprestador de última instância, os países deixarão de acumular reservas",
afirmou Meirelles à ISTOÉ. Decidir quanto acumular, quando e como usar o
dinheiro é uma questão de soberania nacional, que não deve ser ameaçada
pelas pretensões megalomaníacas do FMI. Se não tivesse mais de US$ 200
bilhões em caixa, o Brasil não teria sobrevivido tão bem à crise de 2008 e
não estaria dando algumas das principais cartas no intrincado jogo das
finanças internacionais.

"Vou blindar a economia"

em Istambul, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, oficializou a proposta de


emprestar US$ 10 bilhões ao FMI. Antes, concedeu uma entrevista
exclusiva à ISTOÉ:

ISTOÉ - Pode haver desequilíbrio fiscal no Brasil?

MANTEGA - Não. A situação fiscal do Brasil é a melhor do G-20. Fizemos poupança


fiscal e aplicamos mais de 0,5% do PIB no fundo soberano. E diminuímos a
nossa dívida. Devemos fechar 2009 com uma relação dívida/PIB de 42%.
Na época do Fernando Henrique Cardoso, passava de 60%. Ninguém
questiona a política fiscal, tanto que recebemos o selo de grau de
investimento da Moody's. Em 2010, teremos um crescimento maior, de 4% a
5% do PIB. A arrecadação vai se normalizar e vamos equilibrar receita e
despesa.
ISTOÉ - As eleições em 2010 podem conturbar o cenário econômico?

MANTEGA - Isso acontecia no passado, quando a economia era muito mais frágil.
Hoje, quem tem dinheiro no Brasil está mais tranquilo do que quem tem nos
Estados Unidos, na União Europeia.

ISTOÉ - Não há riscos?

MANTEGA - Vou blindar a economia. Essa é minha função. Não farei nenhuma
concessão ao político. Se tiver que fazer corte de gastos, nós o faremos
para alcançar a meta de superávit, de 3,3% do PIB. Poderíamos estabelecer
uma meta frouxa, como 1%, e dizer: "Vamos torrar o dinheiro." Não é isso
que vamos fazer.

ISTOÉ - A oposição vai ter de fazer uma nova Carta aos Brasileiros?

MANTEGA - É, agora são os outros que vão ter que fazer. Em 2001, tivemos de dizer
que apoiávamos o empréstimo do FMI. Agora, os que assinarem vão ter de
dizer que apoiam o empréstimo do Brasil ao Fundo. Mudou radicalmente.

Tesouro vai bancar obra do trem-bala

O governo vai reformular o modelo de financiamento público oferecido às empresas


que disputarão a concorrência para a construção do trem-bala --linha férrea
de 511 quilômetros que ligará São Paulo ao Rio de Janeiro.

• Trem de alta velocidade começa a operar em 2015

• Governo não se entende sobre aeroporto Campo de Marte

• Passagem do trem-bala deverá custar até R$ 325

• BNDES financiará 60% do trem-bala SP-Rio

O BNDES, originalmente incumbido de conceder um empréstimo no valor de R$ 20


bilhões, será, pelo novo modelo, um mero repassador de recursos. O
governo, por meio do Tesouro, assumirá o financiamento. A mudança
ocorre porque o BNDES, apesar de recente aporte de verba federal, não
pode fazer empréstimo único nesse valor. A operação fragilizaria o banco,
de acordo com as regras globais para prevenir a insolvência. Com a
alteração, haverá um novo atraso na licitação. O objetivo inicial era lançar o
edital em agosto para dar início às obras em 2010. Agora, é certo que a
inauguração não virá antes da Copa do Mundo de 2014.

BNDES

Originalmente, estava previsto que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento


Econômico e Social) financiaria 60% dos R$ 34,6 bilhões previstos pelo
governo federal na construção do TAV (Trem de Alta Velocidade). O resto
do dinheiro deveria vir de financiamento privado e de um capital próprio
inicial, dos quais R$ 3,3 bilhões seriam investidos pelo governo --cerca de
R$ 2,2 bi para desapropriações e outro R$ 1,1 bi através de uma empresa
pública operadora-- e os outros R$ 7 bilhões do consórcio que vencesse a
licitação para construir e operar o trem.

Brasil

Retrospectiva 2009

A criação de Dilma

Foi um ano de duras batalhas para a ex-guerrilheira Dilma Rousseff. A maior de


todas, um câncer no sistema linfático, foi enfrentada com dignidade e vencida com
bravura. Em setembro, depois de cinco meses de tratamento, a ministra veio a público
anunciar que estava curada. Menos definitivo foi o resultado de seu embate com a ex-
secretária da Receita Lina Vieira em torno de um encontro de desdobramentos
suspeitos cuja existência ela nega e a ex-secretária reitera. Palavra contra palavra,
ficou por isso mesmo, e Dilma encerrou 2009 inteira e sacudindo a poeira. Como o
Adão de Michelangelo, sua candidatura à Presidência veio do nada e materializou-se
por obra e graça de um dedo (que, nesse caso, não era divino, mas quase). A
natureza do processo suscitou a dúvida: a mágica do criador incluiria a capacidade de
transferir votos para a criatura? Dois anos e muitas viagens, inaugurações e
palanques conjuntos depois, Dilma patina nas pesquisas. Assim, a dúvida que
atormenta os petistas passou a ser outra: com a tonitruante popularidade presidencial,
a ministra – praticamente uma reencarnação de Lula, segundo a propaganda do PT –
não deveria estar em situação bem mais confortável? Dilma já se mostrou boa de
batalhas. 2010 será o ano da guerra.

Mais vale um tucano à mão...

Risinho aqui, alfinetadinha acolá e muito jogo de cena depois, sobrou só um tucano
para alçar o voo mais alto. Aécio Neves, que começou o ano arrastando caminhões
de apoio às suas pretensões de candidato à Presidência da República, foi,
devagarinho, colocando o nome em cima do telhado. Primeiro pressionou pelas
prévias até outubro, depois aceitou postergar a data e mais tarde desistiu da consulta.
Por fim, anunciou a retirada da pré-candidatura, deixando o caminho livre para Serra,
hoje o mais que virtual candidato do PSDB. A pergunta que agora ecoa nas hostes
tucanas é: aceitará Aécio ser vice de Serra, carregando consigo um dos mais altos
índices de aprovação registrados por um governador e uma miríade de votos do
segundo maior colégio eleitoral do país? Para convencer o colega de Minas Gerais a
formar o que analistas consideram ser a chapa de oposição imbatível, o governador de
São Paulo terá de gastar mais do que o seu latim – terá de oferecer um caminho para
Aécio ganhar musculatura nacional e, assim, viabilizar-se para se candidatar
finalmente à Presidência. De preferência, em 2014...

Bem-vindo, terrorista!
Certamente não foi por acaso que o terrorista italiano Cesare Battisti escolheu o
Brasil para morar. Mas nem nas suas mais delirantes fantasias ele poderia imaginar
que receberia aqui tão calorosa acolhida. O Brasil tem sido uma mãe para Battisti (na
foto, em alegre convescote com um grupo de parlamentares do PT, PCdoB e PSOL).
Afinal, que outro país dedicaria paparicos de popstar a um criminoso condenado à
prisão perpétua por quatro assassinatos? Em que outro país o ministro da Justiça,
ignorando o parecer de um órgão técnico favorável à sua extradição, concederia a ele
status de "refugiado político"? E, por fim, que país continuaria considerando a
possibilidade de oferecer-lhe abrigo mesmo depois de a mais alta corte de Justiça
concluir ser o italiano um criminoso comum? Graças a essa sucessão de bondades,
está nas mãos do presidente Lula decidir onde o terrorista Battisti passará 2010, se
pagando por seus crimes na Itália ou espreguiçando-se sob o sol do Brasil.

Verdade submersa

Seis meses depois da queda do voo 447 da Air France, as respostas para as causas
da tragédia que matou 228 pessoas, incluindo 58 brasileiros, permanecem no fundo do
mar. O segundo relatório da agência francesa de investigação e análise de acidentes
frustrou quem esperava explicações para os eventos que levaram o Airbus 330 a cair
no Oceano Atlântico quatro horas depois de decolar do Rio em direção a Paris,
partindo-se em centenas de pedaços sem deixar sobreviventes. Além de recomendar
a mudança dos métodos de avaliação do funcionamento dos sensores de velocidade
do Airbus (os "pitots", que entraram para o vocabulário nacional desde o acidente), o
documento nada esclareceu. Por que a aeronave mergulhou no inferno de um
aglomerado de cúmulos-nimbos, as terríveis nuvens carregadas de eletricidade e
cortadas por ventos de até 200 quilômetros por hora? Como se deu a pane elétrica
que fez os pilotos perder o comando do aparelho? O que provocou a avaria na
fuselagem que antecedeu a queda do AF-447? E, mais importante que tudo: como
evitar que isso se repita? Pressionada pela associação de familiares das vítimas
brasileiras do acidente, a agência francesa de investigação decidiu retomar em
fevereiro as buscas pelas caixas-pretas do Airbus – a esta altura, a única esperança
que resta de decifrar a tragédia.

A meia é a nova cueca

Foi patrocinada pelo DEM e protagonizada por um de seus parlamentares a mais


explícita cena de cafajestice política já vista no Brasil desde que as denúncias de
malfeitorias perpetradas pela categoria passaram a vir com áudio e vídeo. Presidente
da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Leonardo Prudente provou que um
sobrenome pode ser também um oximoro. Flagrado estufando com dinheiro não
contabilizado (como os mensaleiros do PT convencionaram chamar a propina) os
bolsos do paletó e da calça, quando mais buracos não achou, socou o restante dentro
da meia, entrando assim para a infame galeria inaugurada pelo "homem do dólar na
cueca", seu antepassado petista. Numa comparação com o mensalão do PT, o do
DEM primou por duas diferenças: a celeridade com que o partido resolveu expulsar os
envolvidos, incluindo o governador do DF, José Roberto Arruda (doravante conhecido
como "o homem do dinheiro que era para comprar panetone"), que caiu fora antes de
ser defenestrado, e a indignada reação de membros do governo diante de cenas tão
"estarrecedoras" e episódio tão "deplorável" – adjetivos jamais pronunciados quando o
escândalo era no quintal petista. Mensalão nos olhos dos outros...
E fizeram-se as trevas inexplicáveis...

Em 10 de novembro, o maior apagão da história do país deixou à luz de velas dezoito


estados e 88 milhões de pessoas (ao lado, a cidade de São Paulo às escuras). Mais
de um mês depois, 193 milhões de brasileiros continuam na escuridão, já que as
causas do blecaute permanecem um mistério insondável. Falou-se em raios, em falha
estrutural do sistema e, mais recentemente, em comprometimento no funcionamento
de certas peças que deveriam proteger os feixes condutores de eletricidade. Ao fim e
ao cabo, a única coisa que ficou clara, com o perdão do trocadilho, foi que o sistema
elétrico brasileiro padece de um desequilíbrio sério que, a cada seis anos, em média,
faz o país mergulhar na mais medieval das escuridões. Alguém disse seis anos, em
média? Bem, levando-se em conta a proximidade da Copa do Mundo de 2014 e da
Olimpíada de 2016, talvez seja uma boa ideia as autoridades brasileiras começarem a
se preocupar, se quiserem evitar um vexame agora de repercussão global.

Internacional

Retrospectiva 2009

O ano em que Obama caiu na real

Ser um homem de inteligência superior submeter suas ideias ao teste supremo da


realidade – e existe outro maior do que a Presidência dos Estados Unidos? – foi o
espetáculo mais hipnotizante de 2009. O júri ainda vai ficar acompanhando o
desempenho de Barack Obama por um bom tempo, mas já deu para ter uma visão da
mistura de pragmatismo e idealismo que parece guiá-lo. Em geral, o pragmatismo
funcionou melhor. A começar pelos dois eixos mais vitais, a economia e a defesa, em
que Obama manteve praticamente as equipes e as políticas em vigor. A argumentação
que fez sobre a inevitabilidade das "guerras necessárias", mesmo entre aqueles que
como ele não têm ânimo beligerante, foi talvez o ponto alto, em termos intelectuais, de
seu primeiro ano de governo. No campo do idealismo, brilhou no discurso do Cairo em
que estendeu a mão ao mundo muçulmano e tentou, metaforicamente, quebrar a
narrativa massacrante da vitimização. Não se deu tão bem ao sair pelo mundo
pedindo desculpas por políticas americanas do passado recente (os públicos ou não
acreditam na beleza moral da autocrítica ou a desprezam) e se curvar excessivamente
diante de monarcas estrangeiros. E continua parecendo totalmente inexplicável que
tenha mandado transferir para Nova York o julgamento do, digamos, diretor executivo
dos atentados de 11 de setembro, Khalid Sheikh Mohammed. Depois de pragmáticas
adaptações, deve conseguir a aprovação da reforma mais importante no plano interno,
a do sistema de saúde – que, numa reação só possível nos Estados Unidos, causou
mais desaprovação do que o contrário na opinião pública. Em política externa, apesar
da imagem fenomenalmente positiva, teve resultado zero até agora. É duro o teste da
realidade, mas Obama leva jeito para enfrentá-lo.

Os dólares furados
O governo baixa pacotes econômicos a toda hora, o presidente dá bronca em
banqueiros porque não estão soltando financiamentos, o desemprego chega a 10% e
a moeda anda fraquinha, fraquinha. Cidadãos comuns alarmam-se com a dívida
pública, um mastodonte que bateu em 12 trilhões de dólares, e cidadãos incomuns
começam a sair às ruas em protesto. O pior da crise já passou - aliás, tão depressa
que os peixinhos vorazes que nadavam em volta do grande Moby Dick americano,
loucos para fazer a dança de morte do capitalismo, nem tiveram tempo de aproveitar
direito. Dá para acreditar que foi no ano da pouca graça de 2009 que o governo
Obama assumiu a General Motors? Ou que o pagamento contratual de bônus a altos
executivos das instituições financeiras resgatadas com dinheiro público provocou uma
proposta de que todos fossem enforcados em praça pública com cordas de piano?
Mas a insegurança econômica, e seus terceiro-mundistas acompanhamentos, ainda
cala fundo na alma americana. "Os Estados Unidos estariam errados se dessem como
garantido o lugar do dólar como reserva monetária predominante", avisou em
setembro o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick - é, o mesmo chamado pelo
presidente Lula de "sub do sub do sub" na época das negociações comerciais, e que
continua adepto do estranho hábito de falar a verdade.

Pintura de guerra

Azadi, azadi, azadi. O rugido que subiu das ruas de Teerã veio em farsi, mas seu
significado é o mesmo em todos os lugares do mundo onde existe um grito sufocado
no peito: liberdade. A intensidade, a energia e a extraordinária coragem dos jovens
manifestantes mostraram que existe vida independente no Irã. O elemento catalisador
foi a candidatura presidencial de Mir Hossein Mousavi, um ex-primeiro-ministro que
se transformou em ícone do reformismo. Sob a bandeira verde, a cor apropriadamente
islâmica de sua campanha, as belas maquiaram-se para a guerra das ruas e
empurraram o lenço da cabeça, de uso obrigatório, até limites antigravitacionais. A
campanha e os protestos subsequentes, diante da reeleição fraudada do sinistro
Mahmoud Ahmadinejad, expuseram várias camadas de descontentamento, desde os
jovens que anseiam por uma vida mais normal até dissidências no interior dos quadros
do regime. Ahmadinejad e sua turma não negaram o sangue: engrossaram,
reprimiram e continuaram celeremente no caminho da produção secreta de bombas
atômicas, o assunto que vai tumultuar o mundo em 2010. Mas agora a trilha sonora
iraniana incorporou a palavra mágica. Liberdade, liberdade, liberdade.

Uma siesta muito, muito longa

Tudo teve ares de pastelão, mas pelo menos uma coisa deve ser considerada: a
potestade das forças que se ergueram contra Manuel Zelaya não foi brincadeira. O
infeliz do chapelão foi destituído da Presidência de Honduras com ordem assinada
pela Suprema Corte e sem nenhuma cerimônia por parte do Exército. No seu lugar
ficou um sujeitinho bravo, Roberto Micheletti, que assumiu interinamente com um
objetivo - no pasará - e o cumpriu. Ainda por cima, Zelaya contou com o apoio
incondicional dos megalonanicos da diplomacia petista, sempre uma garantia de que a
coisa vai dar errado. Por ordem de Hugo Chávez, voltou à sorrelfa e se instalou na
Embaixada do Brasil com planos inversamente proporcionais à capacidade de
executá-los. As simpatias dos que, mesmo desconfiando das patranhas da figura,
repudiavam os métodos de sua deposição sofreram um cruel golpe quando ele disse
que estava sendo torturado por mercenários israelenses com emissões de alta
frequência e gases tóxicos. Folhas de papel-alumínio passaram a recobrir as paredes
da embaixada, dando a impressão de que a qualquer momento sairiam dali miolos ao
forno. Zelaya não foi o único a passar atestado de maluquice: o governo brasileiro
repudiou até o fim a realização de eleições presidenciais e, depois, seu resultado. Em
outras circunstâncias, o mau conselheiro Marco Aurélio Garcia e o chanceler Celso
Amorim ensaiaram dar uma de good cop e bad cop, aquela jogadinha de policial mau
e policial bonzinho. Da história de Honduras, saíram parecendo os Keystone Cops.

Salto em crescimento

As jovens recepcionistas chinesas são escolhidas por critérios universais: beleza,


altura e sorriso - quanto mais bonitas, mais importantes são os figurões a quem
servem chá. Na foto, elas pularam para demonstrar disposição amável durante um
evento legislativo na China. Todo mundo deveria pular junto: o crescimento econômico
de 8% segurou praticamente metade do planeta à tona ou um pouquinho acima, o
Brasil inclusive. Dos países que contam, nenhum atravessou a crise com tanto ímpeto.
Os feitos portentosos e as construções espetaculares deram um tempo, inclusive por
fadiga de atenção do resto do mundo depois da Olimpíada de 2008. Mas em 2010 a
China reocupará o palco com a Exposição Mundial de Xangai. Entre as extravagâncias
arquitetônicas, o pavilhão de Macau será em formato de coelho futurista. E as
coelhinhas então...

Pecado original

Militantes muçulmanos podem matar muçulmanos inocentes? A pergunta soa absurda,


mas é objeto de intenso debate no mundo islâmico. Ainda mais com o
recrudescimento, a partir do segundo semestre de 2009, dos ataques com carros-
bomba nas três grandes frentes de atuação dos fundamentalistas armados – Iraque,
Afeganistão e Paquistão –, com horríveis carnificinas entre a população civil. Os
jihadistas, ou partidários da guerra santa, acham que a luta pela imposição de um
regime islamicamente puro justifica que inocentes sejam feitos em pedacinhos. No
pós-morte, Alá separa os justos dos culpados e compensa o sacrifício dos primeiros.
No Paquistão, os atentados se multiplicaram a partir de agosto, em resposta a uma
operação militar contra áreas dominadas pelos militantes fundamentalistas. Mais de
500 pessoas morreram explodidas por carros-bomba desde então. O menino morto,
na chocante foto ao lado, foi vítima do ataque contra um mercado cheio de mulheres e
crianças em Peshawar. O governo paquistanês conseguiu do alto clero uma fatwa
dizendo que os atentados terroristas são haram, o equivalente a pecaminosos, e os
líderes religiosos que os insuflam incorrem na mesma categoria. Um avanço no campo
moral que terá, infelizmente, resultado nulo no campo prático.

Chanchada à italiana

O paradoxo italiano salta aos olhos: o país vai bem, mas seu chefe de governo está
tão mal que começou o ano gritando na frente da rainha Elizabeth para chamar a
atenção de Barack Obama e terminou levando na cara uma miniatura da Catedral de
Milão. Entre uma coisa e outra, uma erupção vesuviana de mulheres de boa figura e
má reputação, um processo de divórcio anunciado pela esposa ofendida no principal
jornal da oposição e uma decisão da Suprema Corte que o priva da imunidade do
cargo. Para tudo Silvio Berlusconi deu a explicação clássica dos políticos erráticos
("intriga da oposição"). Tudo, sobretudo as cenas das festinhas de arromba na casa de
praia, teve um ar de pornochanchada dos anos 70. O que não pode, evidentemente,
ser debitado na sua conta é o ataque de Milão. Mas é quase impossível resistir aos
paralelos entre o estilo kitsch do milionário populista e o objeto usado, uma
lembrancinha de turista de arrepiar até cabelos implantados.

Menos foi mais

Numa era de populistas exibidos, Angela Merkel é um alívio. Não joga para a plateia,
não conta piadas, não se considera uma enviada dos céus. É de direita, mas com
flexibilidade suficiente para ver a necessidade de dar umas estimuladas na hora do
aperto e, depois, voltar às apertadas no déficit. Não fala uma palavra que não seja
criteriosamente pensada – e, portanto, não diz besteiras. Suporta-as com estoicismo,
como já se comprovou com Silvio Berlusconi falando ao celular, Nicolas Sarkozy tendo
surto napoleônico e Lula elogiando o programa nuclear do Irã, tudo sob seus pouco
complacentes olhinhos azuis. A maior mudança de imagem que fez para enfrentar a
campanha eleitoral deste ano, no meio da crise, foi levantar o penteado uns 2
centímetros. Filha de pastor luterano, criada na antiga Alemanha Oriental e formada
em física, ela gosta de tudo em perfeita ordem, disciplina e discrição. Sem nenhuma
surpresa, os alemães também gostam do estilo minimalista. "Algumas pessoas
disseram que ela era tediosa e provinciana. Mas os eleitores não são burros, não
querem uma Britney Spears como chefe do governo", disse o diretor de um instituto
político, Detmar Doering, a propósito da reeleição dela, em setembro. "Querem uma
pessoa séria, em quem possam confiar." Bingo.

Surto de medo – e máscaras

O nome oficial é influenza A (H1N1), mas no popular o que pegou mesmo foi gripe
suína. As sucessivas ondas de medo demonstraram que o mundo está sempre
esperando o pior. Talvez sob influência das previsões apocalípticas e dos filmes-
catástrofe, a ideia de que sobrevirá a mãe de todas as epidemias foi abraçada até com
excessiva credulidade. A gripe que fez todo mundo usar máscara hospitalar, ou pensar
em fazê-lo (na foto, estudantes japoneses em visita ao Parlamento), foi menos
mortífera do que o antecipado. Apesar da propagação global, provocou cerca de 10
000 mortes, das quais cerca de 1 600 no Brasil. Mas assustou tanto pelo potencial
letal quanto pela faixa atingida. Quando a gripe comum mata, 80% das vítimas são
pessoas acima dos 60 anos, em geral debilitadas por outras doenças. Na suína, a
proporção é inversa. A reação mais insensata à pandemia aconteceu no Egito, onde o
governo mandou matar todos os porcos. Além da conexão errada entre os animais e a
gripe – uma vez disseminado entre humanos, o vírus tem autonomia –, pesou o fator
religioso: o islamismo proíbe os porcos por considerá-los impuros. No Egito, eram
criados com restos de comida e consumidos pelos coptas, adeptos de uma igreja que
remonta aos primórdios do cristianismo. Sem eles, o lixo orgânico aumentou ainda
mais, e as cidades egípcias ficaram naquela situação na qual o presidente Lula disse
que o povo brasileiro vive. Em suma, uma porcaria.
Eterno enquanto dure

Hugo Chávez começou o ano cumprindo o que havia prometido. Tanto fez,
manipulou, distorceu e ameaçou que conseguiu reverter o resultado do plebiscito de
2007. Em fevereiro, ganhou a possibilidade de reeleições até o fim dos tempos. O
populismo autoritário e caudilhesco que comanda fincou mais fundo suas raízes
malignas. O sistema de ensino está sob novo e perverso estatuto, as poucas vozes
independentes que restam sofrem intimidações crescentes, comitês armados
defendem a ideologia oficial. Chávez passou o ano ameaçando ir à guerra contra a
Colômbia. Fez um acordo de armamentos com a Rússia, mas comandou uma grita
contra o uso de bases colombianas por forças americanas para combater os
traficantes de cocaína. Entre uma ameaça presente e imediata como o narcotráfico e
um futuro e hipotético uso indevido das bases, adivinhem de que lado os seus dúcteis
aliados ficaram...

Está frio ou quente?

Quente, definitivamente. Pelo menos em termos de discussão das mudanças


climáticas. Em alguns casos, até fervendo: a ideologização do assunto provocou
extremismos inúteis a ponto de os absolutistas da influência humana no aumento da
temperatura global (ou aquecimentonistas) terem transformado a questão em artigo de
fé e os céticos (ou brucutus direitistas que querem incinerar o planeta) usarem
qualquer nevasca como prova de que o clima está até mais fresquinho. A ciência
climática é complexa: a geleira, como a da foto na Groenlândia, que parece derreter
uma hora, em outra retorna ao estado glacial; em vez de subir, em alguns lugares o
nível do mar parece baixar; tempestades, secas e até tornados, que de repente se
tornaram recorrentes no sul do Brasil, são tão impressionantes quanto desconectados
das mudanças globais. Mas no fundo, no fundo, todos sabemos que a devastação
ambiental que a espécie humana provoca não ficará sem consequências. E nenhuma
solução mágica baixará dos céus no último instante. Só nós podemos nos salvar.

A reunião do G20 terá como pauta - como não poderia deixar de ser - a crise
econômica que abala mercados ao redor do mundo. A expectativa em torno dela é
alta. O presidente americano, Barack Obama, já pediu, em artigo publicado em mais
de 30 jornais internacionais, que os líderes do grupo tomem "medidas audaciosas e
coordenadas" contra o mal-estar financeiro. O crescente reconhecimento dado à
participação dos países emergentes, membros do grupo, também garante importância
à reunião. Há ainda quem espere anúncios de ações contra o aquecimento global na
Inglaterra. Entenda como funciona o G20 e a relevância do próximo encontro.

1. Quando e por que foi criado o G20?


O G20 foi criado em 1999, ao final de uma década marcada por turbulências na
economia (na Ásia, no México e na Rússia). Além de resposta a essas crises, a
formação do grupo foi uma forma de os países ricos reconhecerem o peso dos
emergentes, que se mostraram capazes de ameaçar os mercados com suas
instabilidades. O G7 - bloco de nações mais desenvolvidas do planeta, que agrega
agora a Rússia - já se reunia para falar de economia desde 1975. Mas, com os
distúrbios da década de 1990, passou a abrir a discussão a países em
desenvolvimento. Em 1998, reuniões mais amplas que as do G8, com até 33 países,
deram início à inserção dos emergentes na conversa. O movimento resultaria na
formação do G20.

2. Quais nações compõem o grupo?


Ministros da área econômica e presidentes dos bancos centrais de 19 países: os que
formam o G8 e ainda 11 emergentes. No G8, estão Alemanha, Canadá, Estados
Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia. Os componentes do G20 são:
Brasil, Argentina, México, China, Índia, Austrália, Indonésia, Arábia Saudita, África do
Sul, Coréia do Sul e Turquia. A União Européia, em bloco, é o membro de número 20,
representado pelo Banco Central Europeu e pela presidência rotativa do Conselho
Europeu. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, assim como os
Comitês Monetário e Financeiro Internacional e de Desenvolvimento, por meio de seus
representantes, também tomam assento nas reuniões do G20.

3. Quais os critérios para adesão ao grupo?


Apesar de não haver critérios formais de adesão ao G20, existe uma intenção
declarada de unir num mesmo grupo grandes potências e nações em desenvolvimento
e também de manter inalterado o tamanho da organização. "Em um fórum como o
G20, é particularmente importante que o número de países envolvidos seja restrito e
fixado para assegurar a eficácia e a continuidade de suas atividades", diz texto do site
da instituição. A composição é a mesma desde a sua fundação, em 1999. Aspectos
como o equilíbrio geográfico e a representação populacional dos países-membros
também foram levados em conta à época da criação do grupo.

4. A que fração da economia mundial corresponde o G20?


Os países que compõem o grupo respondem juntos por 90% do Produto Interno Bruto
(PIB) mundial. Se computadas as transações internas da União Européia, o grupo
responsável por cerca de 80% do comércio internacional. Além disso, dois terços da
população global estão distribuídos entre os países que formam o G20. Em declaração
feita no final de 2008, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que os
emergentes do G20 respondem hoje por "75% do crescimento mundial".

5. Como funciona o G20?


Ao contrário de organismos transnacionais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário
Internacional (FMI) ou a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), o G20 não conta com equipe permanente. Neste sentido, seu modelo de
operação é semelhante ao do G8. Rotativa, a presidência do grupo muda a cada ano.
Em 2008, o Brasil foi escolhido para presidir o G20; em 2009, o Reino Unido. Para
garantir a continuidade dos trabalhos, a presidência opera em um esquema tripartite,
chamado de Troica: uma diretoria formada por três peças fundamentais concentra ao
mesmo tempo uma pessoa ligada à presidência anterior, uma relacionada à atual e
outra à futura gestão. Assim, neste ano o Brasil segue na Troica, onde está desde
2007. O terceiro membro é a Coreia do Sul. A cada presidência, é definido um
secretariado provisório, que coordena os trabalhos e organiza as reuniões do grupo.

6. Quando acontecem as reuniões e o que se discute nelas?


Os ministros da área econômica e os presidentes de bancos centrais do G20
costumam se reunir uma vez por ano. Em 2008, o encontro aconteceu em São Paulo,
nos dias 8 e 9 de novembro - poucos dias depois, chefes de estado do G20 se
reuniriam em Washington, a convite do presidente americano, George W. Bush.
Nessas oportunidades, os dirigentes debatem tópicos orçamentários e monetários,
comerciais, energéticos, saídas para o crescimento e formas de combater o
financiamento ao terrorismo. Na presidência rotativa da organização, o Brasil propôs
três temas para 2008: competição nos mercados financeiros, energia limpa e
desenvolvimento econômico e elementos fiscais de crescimento e desenvolvimento.
Os assuntos foram abordados em seminários realizados em fevereiro, na Indonésia,
em maio, em Londres, e em junho, em Buenos Aires.

7. Que decisões já foram tomadas nessas reuniões?


Em 2004, os membros do G20 se comprometeram com padrões da transparência e de
governança fiscal para conter abusos no sistema financeiro, lavagem de dinheiro e
financiamento ao terrorismo. No mesmo ano, os países do grupo também discutiram
formas de aumentar a transparência do sistema financeiro internacional, tema que
ainda está em pauta, e assinaram um Acordo para o Crescimento Sustentável. Uma
agenda indicaria os passos e prazos de cada país na implantação desse acordo, mas
as nações já combinaram de rever a implementação, o que torna o compromisso mais
frouxo. Vale lembrar que o G20 é um fórum informal, não um bloco econômico como a
União Europeia.

8. Do que tratará a reunião de 2 de abril?


O foco principal do encontro de Londres será a crise financeira. Contra ela, Barack
Obama, presidente americano, já pediu medidas "audaciosas e coordenadas". Há
quem diga que esta é a última chance de o mundo dar uma resposta coordenada à
depressão econômica global. Isso significa emitir um sinal inequívoco de que os
países do G20 estão preparados para estabilizar o sistema financeiro e lançar as
bases de uma economia sustentável, em que os princípios do livre mercado sejam
preservados e o recrudescimento do protecionismo, evitado. Mas há outras
expectativas em torno da reunião, especialmente por parte dos anfitriões. Para o
chanceler britânico David Miliband, ela marcará o fim de uma era em que reinou o
unilateralismo dos Estados Unidos. "Estou seguro de algo: Obama não virá a Londres
para impor as ideias e os programas de uma superpotência", declarou. Para o premiê
britânico, Gordon Brown, o encontro será uma oportunidade de coordenar
investimentos para uma resposta global à mudança climática. Vale lembrar que a
crescente importância adquirida pelo G20 reflete o também crescente peso atribuído
aos países emergentes, que integram o grupo juntamente com os ricos.

9. Instituições privadas são convidadas a participar?


Sim. Como forma de promover diálogo e sinergia entre estado e mercado, podem
tomar lugar nas reuniões especialistas de instituições privadas que sejam convidados
a participar. Já a presença do Banco Mundial, do FMI e dos coordenadores do Comitê
Financeiro e Monetário Internacional e do Comitê de Desenvolvimento tem a função
de assegurar a integração do grupo com as instituições do sistema financeiro
internacional criado em Bretton Woods, em 1944, quando se estabeleceram regras
para atuação financeira internacional e se tomou o dólar como parâmetro para as
outras moedas.

10. Existe mais de um G20?


Sim, e isso é uma grande fonte de confusão. Existe o G20 que está sendo explicado
aqui, que une países desenvolvidos e outros em desenvolvimento para falar de
economia. Ele é chamado de G20 financeiro. Um outro grupo, formado apenas por
nações emergentes (mais de 20, na realidade), também se denomina G20. Ele foi
batizado pela imprensa de G20 comercial, já que seu foco são as relações comerciais
entre países ricos e emergentes. O G20 comercial nasceu em 2003, numa reunião
ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) realizada em Cancún, no
México. Liderado pelo Brasil, o grupo procura defender os interesses agrícolas dos
países em desenvolvimento diante das nações ricas, que fazem uso de subsídios para
sustentar a sua produção. Exceto pela Austrália, Arábia Saudita, Coreia do Sul e
Turquia, todas as nações emergentes do G20 financeiro estão no G20 comercial.
Também fazem parte deste grupo Bolívia, Chile, Cuba, Egito, Filipinas, Guatemala,
Nigéria, Paquistão, Paraguai, Tanzânia, Tailândia, Uruguai, Venezuela e Zimbábue.
11. Há outros grupos internacionais semelhantes?
Já surgiram muitos "Gs" no cenário internacional, como G4, G5, G8, G10, G8+5 e os
dois G20 citados. Vale lembrar que antes da entrada da Rússia o G8 era G7 e que,
por isso, há quem o chame de G7/8 ou G7+1. G8+5 é o nome que se dá aos
encontros esporádicos entre o G8 e o G5, mais um grupo informal de países em
desenvolvimento: Brasil, China, Índia, México e África do Sul. O G5 vem sendo
chamado a se sentar à mesa das grandes potências pela relativa importância
econômica que vem conquistando no cenário mundial. Já foram criados vários G4,
mas o principal deles foi uma associação entre EUA, Brasil, União Européia e Índia. O
principal objetivo do grupo era o de tratar de questões comerciais, quando preciso
envolvendo a Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas alguns fracassos, como
nas negociações feitas em Postdam (Alemanha) sobre a liberalização do comércio
mundial, em junho de 2007, levaram à saída do Brasil e da Índia e,
consequentemente, ao fim do grupo. No episódio de Postdam, Bush culpou os dois
países pelo malogro nas negociações. Fundado em 1964, o G10 reunia as dez
maiores economias capitalistas da época. Hoje, são 11: Alemanha, Canadá, Bélgica,
Estados Unidos, França, Itália, Japão, Holanda, Reino Unido, Suécia e Suíça. Os
países do chamado Grupo dos Dez participam do General Arrengements to Borrow
(GAB), um acordo para a obtenção de empréstimos suplementares, para o caso dos
recursos estimados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) estarem aquém das
necessidades de um dos países-membros. O G10 concentra 85% da economia
mundial.

Entenda os ataques de piratas na Somália

As recentes capturas de navios de grande porte por piratas da Somália chamaram a


atenção para o problema que atinge a região conhecida como Chifre da África. Desde
o sequestro de um petroleiro saudita em novembro do ano passado, que durou dois
meses, as Marinhas de vários países estão deslocando forças para o local. Trata-se
de uma das mais importantes vias de navegação do mundo e também a mais
perigosa, com 30% de todos os ataques de piratas do planeta.

Como os piratas capturam os navios?

Os piratas são muito eficientes no que fazem. Eles administram operações


sofisticadas, usando os mais modernos equipamentos de alta tecnologia, como
telefones por satélite e aparelhos de GPS. Eles também possuem armamentos como
lança-granadas e rifles AK-47, e contam com a ajuda de contatos posicionados em
portos do Golfo de Áden (entre a Somália e o Iêmen), que os avisam sobre a
movimentação dos navios.

Os piratas usam lanchas com motores potentes para se aproximarem de seu alvo. Às
vezes, essas lanchas são lançadas de embarcações maiores posicionadas em alto
mar. Para se apoderarem dos navios, os piratas primeiro usam ganchos e barras de
ferro --alguns também disparados por armas-- e sobem até o convés usando cordas e
escadas. Em algumas ocasiões, eles disparam contra os navios para forçá-los a parar,
o que facilita sua tomada. Os piratas então conduzem a embarcação capturada até o
porto de Eyl, na Somália, o centro das operações da pirataria. Ali, eles geralmente
desembarcam os reféns, que são mantidos até o pagamento de um resgate.

Por que não se consegue conter os piratas?


Navios de guerra de pelo menos nove países estão atualmente operando no Golfo de
Áden e nas águas fora da costa da Somália, mas isso pode ter apenas deslocado o
problema. O navio Sirius Star, capturado em novembro, estava a uma boa distância ao
sul da costa somali quando foi pego. A área na mira dos piratas agora inclui quase
25% da superfície do Oceano Índico, tornando o patrulhamento virtualmente
impossível. O Bureau Marítimo Internacional está aconselhando os donos das
embarcações a adotar medidas como ter vigias e navegar a uma velocidade que os
permita deixar os piratas para trás.

Entretanto, os piratas se deslocam extremamente rápido e, em geral, à noite. Portanto,


muitas vezes é tarde demais para a tripulação se dar conta do que está ocorrendo.
Uma vez que os piratas tenham assumido o controle de um navio, a intervenção militar
fica difícil por causa dos reféns a bordo. Não existe uma legislação internacional para
os acusados de pirataria, apensar de muitos terem sido julgados no Quênia, enquanto
outros presos por militares franceses estão respondendo a julgamento na França.

Alguns diplomatas argumentam que é necessária uma corte internacional para esse
tipo de crime, que tenha o apoio da ONU (Organização das Nações Unidas) e, além
de uma prisão internacional para os condenados. Em meados de dezembro passado,
o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução autorizando os países a
perseguir os piratas somalis também em terra --uma extensão para a permissão que
os países já têm para entrar em águas territoriais somalis para perseguir os piratas.
Mas enquanto a Somália não tiver um governo efetivo, muitos acreditam que a "vida
sem lei" que impera no país e em suas águas só tende a crescer.

Por que os piratas cometem esses crimes?

Por dinheiro. Os piratas tratam os navios, sua carga e seus tripulantes como reféns e
exigem o pagamento de um resgate. O dinheiro que recebem é muito em um país
onde não há emprego e onde quase metade da população precisa de alimentos,
depois de 17 anos de vários conflitos civis. O Ministério das Relações Exteriores do
Quênia estima que os piratas tenham faturado US$ 150 milhões no ano passado com
o pagamento de resgates. Eles usam parte do dinheiro para custear novos sequestros,
comprando mais armas e lanchas.

Como a pirataria afeta as pessoas fora da Somália?

Além dos prejuízos diretos para os envolvidos na indústria da navegação, o principal


resultado é o encarecimento do frete com consequente aumento do preço das
mercadorias transportadas. As empresas de transporte de carga passam adiante os
custos de segurança, seguro, recompensa e combustível extra. Por fim, esse aumento
chega ao consumidor comum. Estima-se que a pirataria tenha custado entre US$ 60
milhões e US$ 70 milhões em 2008.

No Brasil, Lugo ameniza tom sobre Itaipu e diz que diálogo é a melhor
ferramenta

O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, acenou com o diálogo para resolver as


questões pendentes entre seu país e o Brasil a respeito da usina hidrelétrica de Itaipu,
na fronteira dos dois países. Ele está no Brasil e deve se reunir ainda hoje com o
colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. O Paraguai reivindica uma reestruturação
do acordo para uso de Itaipu, mas enfrenta resistências junto ao governo brasileiro. "O
diálogo é a melhor ferramenta que temos para superar as grandes e pequenas
dificuldades entre nosso povo. E com esse espírito que viemos ao Brasil", disse Lugo,
após reunião com o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP).
O Paraguai detém 50% da produção da usina, mas usa apenas 5%. O restante, por
força do Tratado de Itaipu, de 1973, é vendido compulsoriamente ao Brasil, por meio
da Eletrobrás. Com os repasses, o Brasil abate a dívida contraída pelo Paraguai na
construção de Itaipu, estimada em US$ 19,6 bilhões. O país quer vender o restante de
sua parcela livremente no mercado e questiona o valor de sua dívida com o Brasil.

A declaração de Lugo dada hoje é um pouco mais amena que o tom habitual utilizado
pelo presidente paraguaio em seu país. "Lutamos por um preço justo, o do mercado. O
Paraguai é um país pobre que, de alguma maneira, está subsidiando a energia do
Brasil", afirmou ele, em uma entrevista ao jornal espanhol "El Mundo", na primeira
quinzena de março. Nessa entrevista, ele "concedeu" o prazo de um ano para chegar
a um acordo com o Brasil. "Se neste tempo não tivermos resposta...", disse ele, sem
completar a frase. Em Brasília, Lugo destacou ainda que seria importante para o Brasil
não ter "um vizinho pobre". "A ninguém convém ter um vizinho pobre. A todos convêm
crescerem juntos. Nós precisamos assumir um compromisso com uma integração
mais sólida", disse, durante encontro com o presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP).

 Entenda as discussões entre Brasil e Paraguai sobre Itaipu

A usina hidrelétrica de Itaipu será o principal assunto da reunião entre o presidente


Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega paraguaio, Fernando Lugo, nesta quinta-feira,
em Brasília. O governo paraguaio quer mudanças no acordo sobre a usina, que
pertence aos dois países. Uma das reivindicações é de que o Brasil pague mais pela
energia que compra do país vizinho. Além disso, o Paraguai também quer o direito de
vender livremente, a preço de mercado, a energia a que tem direito.

Nos últimos dois meses, o governo brasileiro vem discutindo, informalmente, algumas
contrapropostas com o lado paraguaio. Uma delas prevê linhas de financiamento, via
BNDES, no valor de US$ 1,5 bilhão, que seriam usadas em obras de infraestrutura no
país vizinho. O governo paraguaio considerou "insuficientes" as propostas
apresentadas até o momento pelo governo brasileiro. Caberá agora ao presidente Lula
conversar pessoalmente com Lugo sobre o futuro da parceria na usina hidrelétrica.
Criada em 1973, a usina é considerada a maior do mundo em termos de energia
gerada e abastece 20% do território brasileiro. No Paraguai, Itaipu gera 90% do que é
consumido.

O que é a Usina de Itaipu?

Localizada no Rio Paraná, na fronteira entre Brasil e Paraguai, a usina hidrelétrica de


Itaipu foi criada em 1973, mas apenas em 1984 começou efetivamente a gerar
energia. É considerada a maior hidrelétrica do mundo, em termos de energia gerada.
Os governos do Paraguai e do Brasil são os dois sócios da empresa, com
participações iguais. Quando o tratado foi assinado, ficou acertado que cada país
ficaria responsável por 50% do capital inicial (US$ 50 milhões para cada). O Paraguai,
no entanto, não tinha recursos financeiros para isso. A saída foi pegar o dinheiro
emprestado com o Brasil, não só para o capital inicial, mas também para outros
investimentos, na medida em que o empreendimento era executado. O resultado é
uma dívida de US$ 18 bilhões, a ser paga até 2023.
Isso faz do Brasil dono da empresa?

Não. A usina pertence aos dois países. Brasil e Paraguai têm direito, cada um, a 50%
da energia gerada. A empresa tem também duas diretorias, uma de cada lado da
fronteira. No entanto, como o Brasil foi o país que efetivamente pagou pelo projeto, os
dois governos concordaram, na época, que o Brasil teria certas preferências. Uma
delas diz respeito à energia excedente. O Paraguai tem direito a 50% da energia
gerada, mas como não precisa de todo esse montante, acaba usando apenas 5%. O
tratado diz que o restante (no caso, 45%) deve ser vendido obrigatoriamente à
Eletrobrás, a preço de custo.

Por que o Paraguai se sente prejudicado?

O governo paraguaio questiona uma série de pontos do acordo sobre Itaipu. O país
vizinho quer o direito de vender sua parte para quem quiser, da forma como quiser. O
argumento é de que o Brasil "paga pouco" pela energia, e que outros compradores
estariam dispostos a pagar o preço de mercado. O Brasil paga ao Paraguai US$ 45,31
por megawatt-hora (MWh). No entanto, desse valor, o Paraguai recebe efetivamente
US$ 2,81. A diferença (de US$ 42,5) é retida pelo governo brasileiro, como abatimento
da dívida.

O que diz o governo brasileiro?

O governo brasileiro tem se mostrado contrário à possibilidade de o Paraguai vender


livremente a energia a que tem direito. Um dos argumentos é de que a regra faz parte
do tratado e que, para mudar o documento, seria preciso a aprovação do Congresso
Nacional. Além disso, o Brasil precisaria dessa energia para consumo geral. Sobre o
valor pago ao Paraguai, o governo brasileiro discorda de que seja "pouco". Para isso,
compara o valor da energia de Itaipu com o de outros projetos. As usinas do Rio
Madeira, quando estiverem prontas, vão oferecer energia a R$ 71 (cerca de US$ 33) -
valor "ainda menor" do que o de Itaipu.

O governo brasileiro está disposto a fazer alguma concessão?

Durante as conversas extraoficiais, o governo brasileiro sinalizou com algumas ofertas.


A ideia central é de permitir que o Paraguai use mais a energia a que tem direito. Para
isso, o governo propôs novas linhas de financiamento ao país vizinho, no valor de US$
1,5 bilhão. O capital seria empregado em obras de infraestrutura, ampliando a
necessidade de uso energético. O governo brasileiro estaria também aberto a um
reajuste no valor pago pela cota paraguaia, passando dos atuais US$ 45 para algo em
torno de US$ 47. Apesar das intensas negociações nos últimos meses, a palavra final
sobre a proposta será dada pelo presidente Lula.

Por que as discussões sobre Itaipu ganharam força agora?

A usina hidrelétrica de Itaipu é extremamente importante nas discussões econômicas


e políticas no Paraguai. A usina responde por 90% de toda a energia usada pelo país.
Quando a dívida for quitada, em 2023, Itaipu estará valendo, de acordo com
estimativas, cerca de US$ 60 bilhões --quase três vezes o PIB paraguaio. O assunto
foi a principal bandeira da campanha de Lugo à Presidência do Paraguai, quando
prometeu brigar por um acordo "mais justo" com o Brasil. A avaliação do governo
brasileiro é de que Lugo precisa "entregar o que prometeu". A questão ganhou ainda
maior importância diante do momento delicado pelo qual passa o presidente
paraguaio, envolvido em escândalos de paternidade.
Brasil

Na idade das trevas

Desde 1985, o Brasil sofre, em média, um blecaute de proporções nacionais a cada


seis anos. A confiabilidade do nosso sistema, portanto, é baixa. O governo não
consegue jogar luz sobre as causas do problema. Sua única preocupação é tentar
provar que "o apagão de Lula" é bem menor que "o de FHC". É irracional

Durante o apagão Após o apagão


Avenida paulista, em São Paulo, no dia Avenida paulista, em São Paulo, no
10 de novembro de 2009, às 22h43 ia 12 de novembro de 2009, às 22h17

Na terça-feira passada, 10 de novembro 2009, às 22h13, o Brasil acendeu as velas


para enfrentar mais um blecaute de dimensões nacionais. Sim, mais um. A frequência
com que o nosso sistema de energia elétrica entra em pane é inquietante. Desde 1985
temos, em média, um mega-apagão a cada seis anos. Desta vez, a falta de luz afetou,
em maior ou menor grau, dezoito estados, deixando às escuras 88 milhões de
brasileiros. Nosso sócio na geração elétrica em Itaipu, o Paraguai, também foi tirado
da tomada. São Paulo e Rio de Janeiro foram os estados mais amplamente atingidos,
mas a anormalidade se fez sentir até no Acre, no Rio Grande do Sul e no Rio Grande
do Norte. Foi o maior apagão da história brasileira em extensão. No total, 28 000
megawatts, ou 45% de toda a energia que estava sendo consumida no Brasil naquele
momento, sumiram dos fios. A situação só foi normalizada cinco horas e 47 minutos
depois. Raiava a manhã quando a última subestação derrubada pelo blecaute se
recuperou. O Brasil voltou à normal.
Sim, mas até quando? Pelo seu desenho estrutural, qualidade de manutenção das
redes e base de geração de energia, o sistema elétrico brasileiro tem uma eficiência
de 95%. Isso significa que o sistema convive com uma janela de incertezas de 5%
(1/20), o que, estatisticamente, aponta para uma grande falha a cada vinte anos.
Como os blecautes têm ocorrido com frequência bem maior (1985, 1999, 2002 e 2009,
para citar os mais recentes), é inevitável concluir que o sistema funciona aquém de
sua eficiência projetada. Isso decorre de diversos fatores. Primeiro, do acentuado
descontrole do regime de chuvas, que torna o nível dos reservatórios uma loteria.
Segundo, da inadequada manutenção de certos trechos das linhas de transmissão. E,
terceiro, da própria operação do sistema. Esse último ponto se refere à complexa
administração entre produção e consumo de eletricidade por um vasto sistema
integrado que cobre quase todo o território nacional em uma grade única. Se há
demanda demais e oferta de menos, o sistema pode cair e produzir um blecaute. A
situação contrária também é potencialmente perigosa. Ela ocorre quando as usinas
injetam muito mais energia nos cabos de transmissão do que o necessário. Em ambos
os casos, o desequilíbrio pode atingir limites máximos de segurança, fazendo com que
os equipamentos do sistema, por precaução, se desarmem em cascata a ponto de
derrubar toda a rede. Não se sabe o que exatamente provocou o blecaute da semana
passada, mas, como das outras vezes, ele ocorreu pelo conhecido efeito dominó que
desliga equipamentos ao longo da linha de transmissão em virtude de um desequilíbrio
sério que põe em risco a rede e os equipamentos dos usuários nas casas.

O que se sabe até agora é que o apagão teve início no principal ramal de transmissão
elétrica do país, que leva toda a eletricidade de Itaipu, a hidrelétrica que mais produz
energia no mundo, até São Paulo. De lá, boa parte da energia é redirecionada para o
resto do país. Por esse ramal, operado por Furnas, trafegam 20% de toda a energia
brasileira. O trabalho de transmissão é feito por cinco linhas. Três delas, as principais,
vão de Foz do Iguaçu até a subestação de Tijuco Preto, perto de São Paulo. Elas
passam por duas subestações, localizadas nas cidades de Ivaiporã (PR) e Itaberá
(SP). As duas linhas restantes, de menor capacidade, levam energia de Itaipu até a
subestação de Ibiúna, também próxima à capital paulista.

O apagão começou nas três linhas principais, de potência mais alta. "Houve um curto-
circuito na primeira linha, às 22h13. Depois de 70 milésimos de segundo, a segunda
linha foi atingida por outro curto. Mais 50 milésimos, e a terceira linha sofreu o mesmo
problema. Foi uma falha tripla, praticamente simultânea, antes de Itaberá", disse a
VEJA Hermes Chipp, diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS),
autarquia federal que monitora todas as usinas e linhas de transmissão do país e goza
de excelente reputação técnica não apenas no Brasil mas em suas congêneres do
mundo. Um curto-circuito se dá quando dois fios desencapados se tocam liberando
instantaneamente uma energia descomunal que, de outra forma, teria se dissipado ao
longo de todo o circuito. Daí o nome curto-circuito. É um fenômeno comum no velho e
enferrujado ferro de passar da casa da vovó ou chuveiro elétrico da casa de praia. É
raríssimo em uma rede de transmissão de energia. A ocorrência de três curtos-
circuitos de uma só vez numa rede de transmissão de eletricidade é, desde já, um
evento a ser estudado no campo das probabilidades infinitas. O triplo curto-circuito
desencadeou o efeito dominó que escureceu o Brasil na semana passada. As
subestações das três linhas principais caíram, interrompendo a passagem da energia
de Itaipu. As duas linhas de menor capacidade não conseguiram suprir, sozinhas, toda
a demanda do sistema, e também caíram. Com as cinco linhas cortadas, o inevitável
ocorreu. Itaipu passou a regurgitar toda a eletricidade que produzia, uma situação
grave que, se não é aliviada rapidamente, provoca explosões nos transformadores e
conversores da usina, inutilizando-a por meses e até anos. Para evitar o desastre,
todas as turbinas de Itaipu foram desligadas.
Nesse instante, São Paulo e Rio de Janeiro já estavam às escuras. Para tentar evitar
uma crise sistêmica de abrangência nacional, os computadores do ONS enviaram
comandos eletrônicos às demais usinas do país instruindo-as a liberar toda a carga
potencial, de modo a suprir em parte o sumiço instantâneo dos 14 000 megawatts de
Itaipu. Esses processos são automáticos. Levam menos de dez segundos. Mas de
nada adiantou a rapidez da reação. Em um sistema integrado, como na circulação do
corpo humano, o que ocorre em um ponto qualquer do percurso da eletricidade ou do
sangue tem efeito sobre toda a rede. Quando as usinas paulistas de Ilha Solteira,
Jupiá, Água Vermelha, Taquaruçu e Capivara atenderam aos comandos do ONS, o
sistema já estava em pane. Os técnicos definem esses momentos cruciais como
"colapso de tensão". Em um movimento de autodefesa, as subestações se desplugam
uma depois da outra em cascata. Diz Hermes Chipp: "Quando há um colapso de
tensão, você perde o controle do sistema e torna-se impossível isolar o problema
original".

Retomada a normalidade na manhã seguinte, permaneceu aguda a necessidade de


saber o que exatamente provocou a cadeia de eventos que levou ao blecaute. A
versão do governo, mais preocupado com as reações em cascata do blecaute na
saúde eleitoral da candidata da situação, girou em torno do pensamento mágico,
pondo a culpa em forças além do controle do homem – não só do "cara". Para
acreditar na versão oficial, é preciso aceitar que três raios poderosos possam ter caído
quase ao mesmo tempo sobre três linhas de transmissão – sendo que uma delas dista
20 quilômetros das outras duas. O órgão que monitora tempestades e raios no Brasil
em tempo real é o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Seus técnicos
informam que não detectaram nenhuma descarga atmosférica significativa na região
cortada pelas linhas de transmissão de Itaipu. Para serem exatos, os técnicos do Inpe
destacam que no momento do blecaute caiu um raio a pouco mais de 30 quilômetros
da subestação de Itaberá. Poderia esse raio ser culpado? "A probabilidade de um raio
ser a causa do desligamento é igual a zero", afirma Osmar Pinto Júnior, do Grupo de
Eletricidade Atmosférica. De onde vem tanta certeza? Afinal, raios são fenômenos
enigmáticos e de duração efêmera. O único raio registrado naquele instante era muito
fraco para causar problemas. Ele tinha 12 000 ampères. Para desligar uma única
subestação, seria preciso uma descarga oito vezes maior – ou seja, um raio com
corrente de pelo menos 100 000 ampères.

A versão oficial não se sustenta no universo da física. E é ainda mais frágil no campo
da lógica. Simplesmente, o sistema de energia brasileiro não pode ser vulnerável à
queda de raios. Primeiro porque o Brasil é o país sobre cujo território mais caem raios
no mundo. São 60 milhões de descargas atmosféricas por ano. Pelo menos vinte
delas atingem, a cada dia, uma linha de transmissão – sem que isso produza
megablecautes. Na última quinta-feira, a reportagem de VEJA estava em Itaipu e
presenciou a passagem de uma tempestade de raios ao lado da usina. O que
aconteceu? Os raios fizeram apenas cócegas em Itaipu. Na hora da tempestade, a
usina fornecia 800 megawatts ao Paraguai. Os raios começaram e houve redução da
carga para 720 megawatts. Em quinze minutos, tudo havia voltado ao normal. Isso
acontece em média uma vez por mês. É rotineiro. O que não é rotina é raio provocar
blecaute. Não deveria também ser rotina de governo dar como "caso encerrado" um
blecaute que infernizou a vida de 88 milhões de brasileiros e cuja causa permanece
um mistério.

Convenção do Clima de Copenhague


Há mais de uma década a ONU promove encontros para discutir o aquecimento global
e estabelecer regras para combatê-lo. De todos, o mais frutífero foi aquele que
elaborou, em 1997, o Protocolo de Kyoto. Na época, porém, o documento determinou
apenas metas válidas até 2012. Com intuito de traçar os objetivos a serem cumpridos
depois desta data, líderes de todo o mundo se reunirão na Dinamarca em dezembro.
Entenda em que pé estão as negociações e que tipo de acordo poderá ser
estabelecido.

1. O que é a COP15?

A COP15, como o nome já sugere, é o décimo quinto encontro realizado pelos países
signatários da Convenção Marco sobre Mudança Climática, acordo firmado durante a
ECO-92, no Rio de Janeiro, que estabeleceu diretrizes para uma coordenação
internacional contra o aquecimento global. A Convenção acontecerá em Copenhague,
na Dinamarca, entre os dias 7 e 18 de dezembro de 2009.

2. Qual é o seu objetivo?

Negociar, redigir e aprovar os termos da segunda parte do Protocolo de Kyoto – a


primeira foi elaborada e definida em 1997, entrou em vigor em 2005 e expira em 2012.
Essa continuidade do Protocolo estabeleceria novas metas de redução da emissão de
gases de efeito estufa a serem cumpridas a partir de 2013 ou 2014.

3. Quem vai participar do encontro?

Ministros do meio ambiente e representantes dos 192 países signatários da


Convenção Marco sobre Mudança Climática (UNFCCC, na sigla em inglês). São
aguardadas em Copenhague mais de 15.000 pessoas, entre autoridades da ONU,
presidentes, diplomatas e jornalistas.

4. Qual será a principal discussão?

O debate central deve ser sobre a diminuição das emissões de gases causadores do
efeito estufa, sobretudo o dióxido de carbono (CO2) – as propostas prevêem reduções
de 25% a 40% até 2020, com base em valores obtidos em 1990. O objetivo é bem
mais ousado do que o estipulado pela primeira parte do Protocolo, que era de reduzir
em 5% as emissões entre 2008 e 2012. Naquela época, o cumprimento desta meta
coube apenas aos países desenvolvidos – o Brasil e a Índia, por exemplo, não foram
enquadrados na regra. Esta determinação, no entanto, deve ser revista em
Copenhague e deve ser outro tema de importância nas discussões.

5. Qual é a chance de sucesso?

O sucesso do acordo depende em grande parte da adesão dos Estados Unidos.


Segundo maior poluidor do mundo, o país não ratificou a primeira parte do Protocolo
de Kyoto – na época, o então presidente George W. Bush alegou que reduzir as
emissões prejudicaria a economia americana. Com a eleição de Barack Obama, o
cenário se tornou mais positivo – logo após a posse, ele sugeriu que seu país
diminuísse em 80% as emissões de gases de efeito até 2050 –, o que não significa, no
entanto, que os EUA aderirão às cegas a qualquer proposta. Em recente entrevista ao
New York Times, Yvo de Boer, secretário-executivo da COP15, declarou que pode não
haver mais tempo para um acordo ser firmado em Copenhague. Ainda, segundo ele, a
tendência é que os países anunciem medidas interinas e prossigam a discussão no
próximo ano.
6. Quais são os países de maior destaque na negociação?

Os países em desenvolvimento, como o Brasil, a China e a Índia, cuja participação na


poluição mundial vem aumentando significativamente. Também se destacam nações
desenvolvidas como as da Europa, os EUA e o Canadá, que tradicionalmente são as
que mais emitem poluentes.

7. O que o Brasil deve defender?

O Brasil deverá ser a favor de que os países em desenvolvimento também reduzam


suas emissões. Esse posicionamento está alinhado com o Plano Nacional de
Mudança Climática, que previu, por exemplo, a redução do desmatamento na
Amazônia em 70% até 2017 – a atividade é a principal fonte de emissões de dióxido
de carbono no país.

8. Quando começaram as convenções da ONU sobre o clima?

A primeira Convenção sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas aconteceu em


Berlim, na Alemanha, em 1995. Foi então que o Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC) publicou seu segundo relatório sobre o impacto do
aquecimento global no planeta.

9. Que importantes negociações antecederam a COP15?

A primeira delas foi a ECO-92, no Rio de Janeiro, quando mais de 160 governos
assinaram a Convenção Marco sobre Mudança Climática, dando início ao combate ao
aquecimento global. Cinco anos depois, em Kyoto, no Japão, outro encontro negociou
um acordo para reduzir a emissão de gases de efeito estufa – 84 países aderiram. O
Protocolo de Kyoto, como ficou conhecido o tratado, entrou em vigor em 2005 com
150 nações signatárias. No final de 2007, durante a 13ª Conferência da ONU sobre
Mudanças Climáticas, na Indonésia, os participantes concordaram em iniciar
negociações para formular a segunda parte de Kyoto.

10. Quais são as nações mais poluidoras do mundo?

Os maiores emissores de dióxido de carbono são, em ordem decrescente: China,


EUA, Rússia, Índia, Japão, Alemanha, Canadá, Grã-Bretanha, Coreia do Sul e Irã. O
Brasil ocupa a 17ª posição no ranking.

Tratado de Lisboa

Em outubro de 2009, os presidentes da Irlanda, Mary McAleese, e da Polônia, Lech


Kaczynski, sancionaram o Tratado de Lisboa, um documento que pretende unificar a
legislação na Europa. É mais um passo no processo de ratificação do texto de reforma
da União Europeia. Para entrar em vigor, ainda falta a assinatura do presidente checo,
Vaclav Klaus, que decidiu impor algumas condições para a aprovação. Entenda o que
significa o tratado para o bloco europeu e para o mundo.

1.O que é o Tratado de Lisboa?


É um documento assinado em dezembro de 2007 pelos 27 estados-membros da
União Europeia (UE), depois de seis anos de debates. É o mais recente de uma série
de tratados que atualizam e consolidam a base jurídica do bloco.

2. Por que a Europa precisa de um novo tratado?

Atualmente, a Comunidade Europeia e a União Europeia possuem estatutos diferentes


e não funcionam de acordo com as mesmas regras de decisão. O Tratado de Lisboa
pretende fornecer ao bloco uma personalidade jurídica única, além de modernizar e
reformar seu modo de funcionamento, cujas regras em vigor foram concebidas quando
a UE tinha apenas 15 países-membros (hoje são 27).

3. Quais os principais objetivos do tratado?

Em linhas gerais, o Tratado de Lisboa pretende aumentar a coesão do bloco europeu,


tornando-o mais democrático, eficiente e transparente. Para isso, são levados em
conta novos desafios globais como segurança energética, sustentabilidade e
alterações climáticas, entre outros temas.

4. Quais as principais modificações implementadas?

• Criação do cargo de presidente europeu;• Criação do cargo de alto-representante da


União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, que desempenhará
também a função de vice-presidente da Comissão Europeia;

• Aumento dos poderes dos parlamentos nacionais;

• Aumento da capacidade de intervenção dos cidadãos;

• Simplificação do processo de decisão a nível europeu;

• Reforço do papel da UE na busca pela sustentabilidade e no combate às alterações


climáticas;

• Proteção dos direitos de cidadão, através da Carta dos Direitos Fundamentais.

5. Quem irá eleger o presidente europeu?

O presidente europeu será eleito pelos membros do Conselho Europeu, por um


período máximo de cinco anos.

6. Como aumentará a participação dos cidadãos nas decisões


legislativas da UE?

Os cidadãos poderão se dirigir diretamente à Comissão Europeia através da


apresentação de petições com no mínimo 1 milhão de assinaturas (numa população
de 500 milhões de habitantes da UE)

7. Como será a participação dos parlamentos nacionais?

Todas as propostas legislativas da UE deverão ser transmitidas aos parlamentos


nacionais, que terão oito semanas para defender a sua posição. Se um número
suficiente de parlamentos nacionais apresentar objeções, a proposta pode ser alterada
ou retirada.

8. Como serão adotadas as decisões do Conselho?

Elas irão se basear no sistema de votação por maioria qualificada, ou seja, precisarão
ser aprovadas por 55% dos estados-membros, representando pelo menos 65% da
população europeia. Para que um pequeno número de países mais populosos não
impeça a adoção de uma decisão, serão necessárias pelo menos quatro nações para
formar uma minoria de bloqueio. As questões tributária, de defesa, política externa e
segurança social continuarão a exigir aprovação unânime dos 27 estados-membros.

9. Como fica a questão da segurança?

As forças militares continuam a depender dos estados-membros, mas o tratado


autoriza os países a disponibilizar recursos civis e militares com vista à realização de
operações de segurança e defesa comuns. Qualquer país do bloco poderá se opor a
essas operações e a participação nesse tipo de intervenções será sempre numa base
voluntária.

10. Por que o presidente checo se opõe à assinatura?

Vaclav Klaus condiciona a assinatura do Tratado sobretudo a uma garantia de que os


alemães expulsos das fronteiras da atual República Checa após a Segunda Guerra
Mundial não poderão reclamar os bens confiscados na ocasião.

Conheça o Tratado de Lisboa, que reformou as instituições europeias

Após um longo processo, o Tratado de Lisboa, que reforma, centraliza e simplifica os


processos de decisão da União Europeia, foi desbloqueado no início deste mês, com a
assinatura do presidente da República Tcheca, o "eurocético" Vaclav Klaus. A
República Tcheca foi a 27ª nação do bloco a aprovar o documento que pretende ainda
fortalecer o papel da UE no mundo. Criado na capital portuguesa em 13 de dezembro
de 2007, o Tratado estabelece diversos mecanismos para facilitar a tomada de
decisões entre os membros e para reforçar o Europarlamento. O conjunto de regras do
Tratado de Lisboa foi formulado depois que uma proposta de Constituição Europeia foi
abandonada após a rejeição em consulta popular na Holanda e na França. O atual
projeto retoma, com menos força, alguns dos itens da Carta. Além da República
Tcheca, a principal resistência ao texto apareceu na Irlanda, que rejeitou o tratado em
referendo, mas acabou aprovando-o em uma segunda votação neste ano, após
receber a garantia reiterada de que o tratado não afetaria a sua neutralidade, a
tributação e leis sobre o aborto.

Presidente em tempo integral

O tratado instaura o cargo de presidente do Conselho Europeu, o órgão de dirigentes


da UE, que terá mandato de dois anos e meio, renovável por mais um período. O
presidente coordenará os trabalhos do Conselho Europeu e poderá representar a UE
no exterior. O sistema de rotação semestral entre os atuais líderes dos países
membros continuará valendo para a Presidência dos conselhos de ministros, com
exceção do Conselho de Ministros de Relações Exteriores. A limitação do cargo,
contudo, não está clara quanto ao atual cargo de Alto Representante da UE para
Política Externa e Segurança, cujos poderes são reforçados e que contará com um
serviço diplomático. O alto representante acumulará ainda as funções de vice-
presidente da Comissão Europeia.

Decisões mais fáceis

O principal objetivo do novo tratado é facilitar a tomada de decisões no bloco. O


documento veta os votos nacionais e introduz a maioria qualificada em cerca de 40
temas, principalmente no que diz respeito à cooperação judicial e policial. Os
britânicos e irlandeses obtiveram a possibilidade de aplicar às decisões no que diz
respeito a estes temas de sua própria matéria. A unanimidade continua sendo a regra
para política exterior, a fiscalização, a política social e a revisão dos tratados.

Novo sistema de votos

O novo sistema de tomada de decisões por voto dos Estados é considerado mais claro
e igualitário. A decisão por maioria qualificada será tomada se a mesma obtiver ao
menos 55% do apoio dos Estados --15 dos 27-- e se estes representarem ao menos
65% da população da UE. Esta mudança dará mais peso aos países mais populosos.
A aplicação deste sistema, contudo, foi postergada até 2014, depois de pedido da
Polônia.

Parlamento fortalecido

O tratado outorga ao Parlamento Europeu, a única instituição da UE eleita por


cidadãos, poder de decisão em áreas como agricultura, pesca e assuntos policiais e
judiciais. Sua influência na eleição do futuro presidente da Comissão será maior.

Direitos dos cidadãos

O texto prevê um mecanismo de iniciativa popular, como a possibilidade de "convidar"


a comissão Europeia a apresentar uma proposta legislativa através de uma petição
assinada por um milhão de cidadãos.

Saída

O Tratado de Lisboa determina ainda a possibilidade de que um país abandone a UE


diante de negociação com seus países-membros.

Com France Presse

Entenda as alterações climáticas causadas pelo aquecimento global

Boa parte da Europa irá esfriar e regiões quentes -- como o oeste da China e o Oriente
Médio -- sofrerão elevações de 7ºC nas temperaturas médias até o ano 2100. Na
floresta Amazônica, as temperaturas serão mais altas e as estações de secas serão
mais longas a cada ano.
Essas previsões inquietantes sobre possíveis alterações do clima causadas pelo
aquecimento global podem ser lidas abaixo em trecho do livro "O Aquecimento
Global", da "Série Mais Ciência".

O livro analisa os problemas do aumento da temperatura da Terra, fala sobre as


conseqüências do efeito estufa, dos danos à camada de ozônio e de fenômenos como
o El Niño.

Mudança do clima

O clima na maioria dos lugares se tornará mais quente; em alguns, no entanto, a


temperatura será mais fria. No Canadá, na Rússia e na Escandinávia, por exemplo,
devem ocorrer processos mais rápidos de aquecimento. Isso se deve, em parte, ao
feedback positivo causado pelo degelo, que será mais intenso. A boa notícia é que
plantações e árvores crescerão melhor. A má é que grande parte das áreas da
superfície, da mais quente à mais fria, devem se aquecer mais do que a média. O
aquecimento será mais intenso no interior dos continentes, porque a circulação dos
oceanos terá influência moderadora sobre as áreas costeiras.

Costa fria

Os oceanos vão retirar o calor da superfície nas áreas costeiras ou, pelo menos,
daquelas que restarem depois que o nível dos mares subir

O quente fica mais quente

Algumas das regiões mais quentes devem sofrer algumas das maiores elevações de
temperatura. Grande parte da Ásia do oeste da China até a Arábia Saudita, que
regularmente enfrenta temperaturas acima de 40ºC, deve sofrer elevações de 7ºC até
o ano 2100. O norte da África e o sul da Europa também devem passar por grande
aquecimento. Países com forte influência do mar e clima equilibrado hoje como
Irlanda, Nova Zelândia e Chile sofrerão menores mudanças. Outras tendências no
planeta, muitas já evidentes, apontam aquecimento maior à noite durante o inverno.
Isso sugere menos neve e mais chuva, além de estações de cultivo sem geadas
prolongadas nas latitudes medianas.

Europa resfriada

A Corrente do Golfo, parte de um sistema de circulação do oceano no Atlântico Norte,


é movida pela formação de gelo no Ártico. Banha o oeste da Europa com águas
quentes, especialmente no inverno, e mantém as temperaturas mais altas do que em
outros pontos da mesma latitude. Cientistas do Instituto para Pesquisa do Impacto
Climático em Potsdam, na Alemanha, prevêem o possível colapso da Corrente do
Golfo por causa do aquecimento global. Como resultado, boa parte da Europa irá
esfriar.

Fluxo de água quente

A imagem do oceano mostra que a água congelada deixa para trás água salina densa,
que desce até o fundo e abre espaço para um fluxo de água quente dos trópicos

Mudanças de rota
Estudos científicos revelam que menos gelo irá se formar por causa do aquecimento
do mundo. Essa previsão, associada ao maior fluxo de água doce no Ártico, poderia
encerrar o mecanismo de formação de água profunda, que cria a Corrente do Golfo.
No início de 2001, pesquisas norueguesas forneceram evidências de que as correntes
da região na direção norte diminuíram em 20% desde 1950.

Diferenças na hidrologia

A temperatura não será a única mudança no próximo século. Em muitos lugares,


haverá alterações no ciclo hidrológico a circulação de água entre o mar, a atmosfera e
a superfície da Terra e, portanto, nos padrões de chuva, enchentes e seca, no fluxo
dos rios e na vegetação.

A água irá desaparecer de lugares onde é esperada e necessária e reaparecerá onde


é inesperada, ou simplesmente se tornar imprevisível. Como o aquecimento torna a
atmosfera mais energética, as taxas de evaporação e formação de nuvens e
tempestades deverão aumentar, embora os efeitos dessas mudanças possam variar
conforme a localização.

Nem uma gota

A falta de chuva está esvaziando as torneiras e os canais de irrigação do norte da


África e Ásia Central até o sul da Europa

Mais seca

A maior evaporação poderá secar o interior dos continentes durante o próximo século.
Desertos irão aumentar; oásis, morrer; e fluxo de rios, diminuir, algumas vezes com
resultados catastróficos. Ninguém pode prever com precisão o futuro dos rios, mas um
estudo sugere declínio de 40% no fluxo do rio Indo, a única fonte de água do
Paquistão e um dos maiores sistemas de irrigação do mundo. A mesma pesquisa
estima perda de 30% no fluxo do rio Niger, que banha cinco países áridos no oeste da
África, e queda de 10% no Nilo, a água vital do Egito e do Sudão.

A Ásia Central pode esperar declínio ainda mais drástico nos rios que escoam no mar
de Aral, que já está virtualmente secando por causa da irrigação. Outros mares em
risco incluem o Cáspio, o Grande Lago Salgado, nos Estados Unidos, e os lagos
Chade, Tanganica e Malauí, na África. Modelos climáticos indicam também a
probabilidade de ocorrer mais secas na Europa, na América do Norte, no centro e no
oeste da Austrália. Alguns rios australianos poderiam perder metade de seu fluxo,
enquanto o outback (sertão australiano) se tornaria mais seco.

Atualmente, 1,7 bilhão de pessoas vive em países que os hidrologistas descrevem


como sob estresse hídrico, porque usam mais de 1/5 de toda a água teoricamente
disponível. Estima-se que esse número irá subir para 5 bilhões em 2025. Esse cenário
aumenta o espectro da guerra pela obtenção de água. Os países lutariam para
controlar o mais precioso de todos os recursos.

A areia se espalha

Com a diminuição da chuva na maior parte do oeste da África, o deserto do Saara


está se expandindo

O deserto que era verde


Pinturas em rochas mostram que, no passado, o Saara foi uma região de criação de
gado. Pólen fossilizado também revela que existiam florestas, rios e lagos. O Saara se
transformou em deserto em poucas décadas, há cerca de 5.500 anos, e poderia voltar
ao seu estado original rapidamente, segundo alguns pesquisadores. A região está em
uma situação-limite, porque sua vegetação depende dos feedbacks de reforço entre a
atmosfera e a vegetação. O estado atual, com pouca vegetação, produz chuvas
escassas. Pequeno aumento na quantidade delas (causado pelo aquecimento global)
e até na vegetação seria suficiente para fazer o Saara voltar a ser uma selva.

Como o Saara é hoje

A paisagem atual é árida e contém pouca umidade. Há, portanto, pouca evaporação e
nenhuma chuva. A maior parte dos modelos climáticos sugere que o Saara ficará
ainda mais seco e acarretará a desertificação de áreas próximas.

Como seria amanhã

Caso o Saara fosse coberto pela vegetação, a terra iria absorver mais umidade.
Resultado: mais chuvas e maior evaporação.

Aumento das enchentes

Evaporação mais rápida proporciona aumento da umidade no ar. O calor extra e a


umidade irão gerar tempestades tropicais mais intensas. Haverá mais chuva nas
regiões costeiras, particularmente, e ao longo das rotas das tempestades. A média
anual de chuvas aumentou em 10% durante o século 20. Alguns modelos presumem
que tempestades inesperadas na várzea do Mississippi, por exemplo, tendem a deixar
esse rio ainda mais propenso a enchentes.

O Caribe, o sudeste da Ásia e outras regiões já suscetíveis a furacões e ciclones


passam a ter ventos ainda mais fortes, chuvas mais pesadas e enchentes relâmpagos.
Partes do sistema de monções da Ásia podem ser ainda mais intensas. Mas a monção
também será menos previsível e até mais freqüente. Com maior quantidade de calor
na atmosfera tropical e no oceano, o El Niño (ver à direita) tem condições de se tornar
um evento quase permanente.

O mar encolheu

O mar de Aral já foi o quarto maior mar interno do mundo. Mas sistemas de irrigação
acabaram reduzindo-o imensamente. A salinidade triplicou, a pesca acabou. E o
aquecimento global pode fazer esse cenário ficar ainda pior.

Doenças

Um mundo mais quente permitirá que mosquitos levem doenças, como malária e
dengue, a países fora dos trópicos.

O que é o El Niño?

Fenômeno natural cuja existência foi rastreada durante milhares de anos, é a reversão
periódica dos ventos e das correntes oceânicas na área tropical do oceano Pacífico,
que dura entre nove meses e um ano. Esse processo drena os sistemas pluviais da
Ásia e provoca secas em áreas úmidas, como Indonésia e Austrália. Enquanto isso, as
ilhas dos Mares do Sul, normalmente plácidas, e a costa do Pacífico nas Américas,
muito seca, sofrem com tempestades.

Entenda a crise política em Honduras

Horas após confrontos violentos entre a polícia e manifestantes em apoio ao


presidente deposto, Manuel Zelaya, o presidente interino de Honduras, Roberto
Micheletti, afirmou à Rádio Nacional que "não houve golpe de Estado e nem nada
parecido" no país. Micheletti tenta convencer a comunidade internacional, unânime na
condenação da deposição de Zelaya, que sua chegada ao poder está conforme a
Constituição.

Quem deu o golpe em Honduras? Militares, com apoio da Corte Suprema, que disse
ter ordenado a prisão de Zelaya, e o Congresso, que leu uma suposta carta de
renúncia dele. Presidente negou ter deixado o cargo. Qual é o motivo da crise política?
Zelaya decretou a realização de uma consulta nacional sobre a possibilidade de
convocar uma Assembleia Constituinte. A pesquisa, que aconteceria ontem, foi
considerada ilegal pela Justiça, pelo Congresso e pelo Ministério Público.

O que diz o presidente? O neoaliado do venezuelano Hugo Chávez diz que a consulta
não tem força de lei e que ele desejava abrir caminho para uma Constituição que
desse voz aos pobres, 70% do país. O que diz a oposição a Zelaya? O presidente
descumpriu uma ordem judicial, e por isso foi preso. A intenção de Zelaya com a
consulta é impor uma nova Carta que permita a reeleição. Qual a situação agora?
Todos os países das Américas condenaram o golpe e exigem o retorno de Zelaya.
Congresso e Justiça hondurenha dizem que haverá governo interino até eleições
gerais de novembro.

 Presidente deposto de Honduras chega aos EUA para discursar na ONU

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, chegou a Nova York para


discursar na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Ele irá
pedir o apoio da comunidade internacional para voltar ao poder.

Zelaya irá expor, diante dos 192 países-membros da organização, a situação em que
se encontra seu país após o golpe militar que o tirou do cargo de presidente. Ele
também terá uma reunião com o presidente da Assembleia Geral, o nicaraguense
Miguel D'Escoto, que tem intenção de acompanhá-lo na próxima quinta-feira, quando
o presidente deposto planeja retornar a Tegucigalpa. Zelaya aceitou a oferta do
secretário da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, de
acompanhá-lo na viagem. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, também
formará parte da comitiva, segundo fontes do governo de Buenos Aires. Nesta
segunda-feira, ele afirmou que voltará ao país como "presidente eleito, para terminar
meu mandato de quatro anos". No entanto, o presidente interino de Honduras, Roberto
Micheletti, advertiu que os tribunais "têm uma ordem de captura" pronta caso ele
decida retornar ao país. Micheletti, que era presidente do Congresso até ser
rapidamente empossado para substituir Zelaya, disse que a ordem é consequência
dos "crimes" que cometeu por causa de seu "interesse em continuar no governo ou
pela atitude prepotente que ele tinha assumido nos últimos meses de governo".
 Golpe

Zelaya foi derrubado do poder em um golpe orquestrado pela Justiça e o Congresso e


executado por um grupo de militares que o expulsaram para a Costa Rica. O golpe foi
realizado horas antes de o país iniciar uma consulta pública sobre um referendo para
reformar a Constituição. O presidente deposto queria incluir o referendo sobre a
convocação da Assembleia Constituinte --que, segundo críticos, era uma forma de
Zelaya instaurar a reeleição presidencial no país-- nas eleições gerais de 29 de
novembro. A proposta, contudo, foi rejeitada pelo Congresso. Os parlamentares
afirmaram que a deposição de Zelaya foi aprovada por suas "repetidas violações da
Constituição e da lei e desrespeito a ordens e decisões das instituições". O presidente
deposto defendeu-se dizendo ser vítima de "um complô de uma elite voraz, uma elite
que só quer manter o país isolado, em um nível extremo de pobreza".

Manifestações

As manifestações a favor e contra o presidente deposto de Honduras continuam nesta


terça-feira, mesmo com o reforço da segurança feita pela polícia e pelo Exército. Após
os confrontos registrados na segunda-feira, organizações populares partidárias de
Zelaya mantiveram os protestos para exigir seu retorno ao poder, ao mesmo tempo
em que entidades defensoras da Constituição convocaram uma marcha pela paz em
Tegucigalpa. Enquanto isso, o sistema educacional está praticamente paralisado
porque a maioria dos professores do setor público está em greve para exigir que o
presidente deposto volte ao poder. Outros protestos acontecem em San Pedro Sula,
na região norte do país, onde cerca de 500 manifestantes se reuniram no centro da
cidade.

Com Efe e Associated Press

 No Mercosul, Lula pede restituição de Zelaya "o quanto antes"

da Ansa, em Assunção

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender o presidente deposto de


Honduras, Manuel Zelaya, na abertura da 37ª Cúpula de chefes de Estado do
Mercosul, que acontece na capital paraguaia, Assunção. Lula disse que Zelaya deve
voltar "o quanto antes" ao poder de seu país e elogiou os esforços da comunidade
internacional em buscar a retomada da democracia em Honduras. Na noite desta
quinta-feira, Zelaya chegou à cidade de Estelí, na Nicarágua, primeira escala de seu
trajeto de volta a Honduras. O presidente Lula disse ainda que os chefes de Estado
reunidos em Assunção "não podem tolerar" o golpe realizado no dia 28 de junho que
derrubou Zelaya do poder e não devem abrir mão da exigência de que o governo
interino de Roberto Micheletti o restitua. Na mesma linha, a presidente argentina,
Cristina Kirchner, pediu nesta sexta-feira "decisão e precisão" do Mercosul para
rejeitar o golpe de Estado e exigir a restituição do poder a Zelaya. Em seu discurso na
Cúpula do Mercosul, a argentina disse que o bloco precisa se esforçar para impedir
que golpes "cívico-militares" se consolidem na América Latina. Segundo ela, caso
contrário, seria o mesmo que "legitimar o golpe" em Honduras, que representaria "a
certidão de óbito da Carta Democrática da OEA [Organização dos Estados
Americanos] e da cláusula democrática do Mercosul". Já o presidente paraguaio,
Fernando Lugo, afirmou que "Honduras é uma ferida que sangra na democracia
regional".
Comércio

O comércio no interior do bloco também foi tema do discurso de Lula, que propôs a
adoção das moedas locais nas transações comerciais entre os países-membros do
Mercosul, como já fazem Brasil e Argentina. Atualmente, o dólar é adotado como
moeda oficial no comércio interno da região. Lula também propôs aprofundar a
integração e diversificar os mercados. Além disso, o presidente defendeu acordos
sobre temas de políticas sociais, o que está em sintonia com o pedido do presidente
paraguaio de criar uma Secretaria de Saúde do Mercosul. De acordo com Lula, o
Brasil aumentará voluntariamente as contribuições ao Fundo de Convergência
Estrutural do Mercosul (Focem), para financiar obras no Paraguai e Uruguai, países do
bloco com economias menores.

Brasil não tem interesse em participar da Opep, diz Lula

da Reuters, em Paris

O Brasil não tem interesse em se tornar um membro da Opep (Organização dos


Países Exportadores de Petróleo), disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não, o
Brasil não tem a intenção de exportar petróleo cru. O país quer exportar derivados, a
fim de criar uma indústria petroquímica no Brasil", afirmou, em uma entrevista
transmitida pela TV5 Monde e Radio Francesa Internacional. "Nós não temos
interesse em participar da Opep", afirmou. O governo brasileiro apresentou na última
segunda-feira os quatro projetos enviados ao Congresso para tratar do novo marco
regulatório das reservas de petróleo pré-sal, que podem chegar a 50 bilhões de barris,
segundo estimativas.

1. O primeiro projeto muda o sistema de exploração para o regime de partilha,


onde o óleo extraído é dividido entre o governo e a empresa privada
responsável pela exploração. Atualmente, o governo adota o sistema de
concessão, pelo qual a empresa privada paga royalties sobre o petróleo
extraído. De acordo com o material distribuído pela Casa Civil, o objetivo é
"assegurar para a Nação a maior parcela do óleo e do gás, apropriando para o
povo brasileiro parcela significativa da valorização do petróleo". Pelas regras, a
União poderá contratar diretamente a Petrobrás para produzir no pré-sal. Em
todos os casos, a estatal será a operadora, ou seja, responsável pela
condução das atividades de exploração e produção, com participação mínima
de 30%. O vencedor nas licitações será a empresa que atribuir maior
percentual de participação à União. O risco da exploração ficará por conta da
empresa contratada que, em caso de sucesso, será reembolsada em óleo
pelos investimentos que "estarão sujeitos a limites preestabelecidos por
período".
2. O segundo projeto de lei trata da criação de uma empresa estatal, a Petro-Sal
para administrar a exploração no pré-sal. Segundo o governo, será uma
empresa enxuta, com funcionários contratados pela CLT (Consolidações das
Leis Trabalhistas). A empresa representará o governo nos consórcios formados
para a exploração do petróleo.
3. O terceiro projeto trata da criação de um fundo social para onde serão
destinados os recursos do governo obtidos no pré-sal. Apenas os rendimentos
do fundo deverão ser utilizados e serão destinados para a área social, ciência e
tecnologia, educação, cultura e ambiente.
4. O quarto projeto trata da capitalização da Petrobras. A União transferirá direitos
de exploração de uma quantidade fixa de barris de petróleo para a Petrobras
em troca de pagamento em dinheiro ou títulos públicos. A operação terá um
limite de 5 bilhões de barris.

Outros muros que precisam cair

O mundo lembra e festeja a reunificação de Berlim, mas ainda existem 7.500


quilômetros de barreiras separando fronteiras

A última grande fronteira da Guerra Fria tem quatro mil metros de largura, 245
quilômetros de extensão e separa a capitalista República da Coreia da comunista
República Popular da Coreia, no leste da Ásia. Enquanto o mundo comemorava os 20
anos da queda do Muro de Berlim na semana passada, a cerca de arame farpado
estabelecida sob cessar-fogo em 1953 ficou repleta de pedidos de reunificação das
duas Coreias. Dos dois lados da barreira, porém, mais de um milhão de soldados
mantiveram-se impassíveis na defesa dos territórios. Manifestações similares
ocorreram ao mesmo tempo em pelo menos dois outros pontos: na fronteira dos
Estados Unidos com o México e na de Israel com a Palestina. Sejam construídos com
concreto, delimitados por arame ou por equipamentos virtuais, muros continuam a
separar países e povos em todo o mundo. São, ao todo, 7.500 quilômetros de
barreiras intransponíveis, que
representam 3% das fronteiras
terrestres, e podem chegar a 18 mil
quilômetros quando todas as obras
forem concluídas, segundo
levantamento do geógrafo e diplomata
francês Michel Foucher, autor de
"L'Obsession de Frontières" (A
Obsessão das Fronteiras, em tradução
livre).

Foucher costuma repetir que, enquanto


a fronteira simboliza a existência do
outro, o muro representa sua negação.
"O Muro de Berlim impedia de sair, as
cercas americanas impedem de entrar

Fronteira das duas Coreias , 9/11/2009


Apelos pela reunificação na barreira que
separa os dois países
e o muro israelense interdita a ação", compara o geógrafo. "Mas, por trás destas
funções, há sempre a negação do outro." No caso das Coreias, existe a tensão
adicional entre dois países que interromperam uma guerra fratricida sem assinar
nenhum tratado de paz. Mais de 50 anos após o fim do conflito, o clima de
beligerância continua. Na quinta-feira 12, a Coreia do Norte, como é conhecido o país
comandado pelo regime comunista de Kim Jong-il, culpou sua vizinha capitalista por
um tiroteio entre embarcações ocorrido em alto-mar dois dias antes. Em terra, a
chamada Zona Desmilitarizada da Coreia é, na verdade, uma das regiões do mundo
com maior concentração de armamento. A inviolabilidade da fronteira, porém, pode ser
aparente. "Assim como a queda do Muro de Berlim pegou os alemães com a guarda
baixa, a queda da fronteira pode surpreender os sul-coreanos", alertou em editorial o
"Korean Herald", fazendo referência à fragilidade da saúde de Jong-il, há quase 25
anos no poder.

As previsões de derrubada de barreiras na Ásia, no entanto, não afetam a disposição


de países empenhados em levantar muros como alternativa de proteção. No Oriente
Médio, Israel constrói desde 2002 um muro com até oito metros de altura para separar
o país da Cisjordânia, sob o argumento de bloquear a entrada no país de terroristas
palestinos. Mais da metade da barreira de cerca de 700 quilômetros - chamada por
Israel de "Parede de Segurança" - está concluída. Batizada no lado oposto como
"Muro de Apartheid", a construção tem um problema extra: avança sobre território
palestino. Pelo traçado do projeto, apenas 20% da obra, quando concluída, terá
seguido a demarcação reconhecida internacionalmente como fronteira entre Israel e
Cisjordânia, que foi estabelecida no armistício de 1948.

Com 3,2 mil quilômetros de extensão, a fronteira entre os Estados Unidos e o México
também virou cenário para uma construção que, em alguns pontos, atinge cinco
metros de altura e é reforçada por cercas de arame. Em outros lugares, está equipada
com uma série de equipamentos tecnológicos, como detectores infravermelhos e
sensores de terra. Nessa parte do mundo, não há hostilidades entre os países
fronteiriços. Levantar o muro foi uma decisão americana no começo dos anos 1990,
para impedir a entrada de imigrantes ilegais no país. Em tempos de crise econômica,
os Estados Unidos já não representam tanto a terra das oportunidades, mas milhares
de famílias continuam separadas pela barreira. De tempos em tempos, elas se
reencontram, conversando através de frestas. E persistem as tentativas de burlar o
esquema de segurança. Pelos registros da Comissão Nacional de Direitos Humanos
do México, nos últimos 15 anos cerca de 5,6 pessoas morreram tentando cruzar a
fronteira, a maioria delas por causa das altas temperaturas do deserto.
FUTURO CERCADO

Quando todas as obras


terminarem, os muros somarão 18
mil quilômetros

Cisjordânia , 9/11/2009
Palestinos reivindicam a
derrubada da parede de oito
metros de altura erguida por Israel

Outra região inóspita - a fronteira da Índia com o Paquistão - é separada por


fortificações e cercas de arame por mais da metade de seus 2,9 mil quilômetros de
extensão. Considerada uma das fronteiras mais tensas do mundo, tem a segurança
reforçada por campos minados nas proximidades da região da Caxemira, que é
disputada pela Índia e o Paquistão desde o fim da colonização britânica, em 1947.
Parte da Caxemira, aliás, foi anexada em 1962 pela China, a precursora na
iniciativa de se defender por meio de barreira física, ainda no século III a.C. À
época, para impedir a invasão de guerreiros tártaros e mongóis, o país ergueu em
pedra, areia e tijolos, por seis mil quilômetros, a célebre Muralha da China.

Com argumentos similares - proteção


contra adversários e bloqueio da
imigração ilegal -, pelo menos outros
sete países convivem com muros em
suas fronteiras (leia quadro), embora
não haja concreto suficiente para
alterar o curso da história, como bem
demonstrou a queda do Muro de
CAMPO MINADO Berlim. Construído por determinação do
Cerca que separa a Índia do Paquistão tem então líder da União Soviética (URSS),
explosivos na região da Caxemira Josef Stálin, o muro dividiu por 28 anos
a Alemanha em dois blocos: a República Democrática da Alemanha, que girava em
torno do regime socialista da URSS, e a República Federal da Alemanha, alinhada
com o mundo capitalista. Com 155 quilômetros de extensão, 302 torres de
observação, barreiras de concreto e cercas metálicas eletrificadas, o muro transformou
Berlim Ocidental em um enclave capitalista em território socialista. Começou a ser
erguido sem aviso prévio, na madrugada de 13 de agosto de 1961, ano em que
registravam- se diariamente cerca de duas mil fugas do bloco socialista.
Quase três décadas depois, Erich Honecker, então líder da Alemanha Oriental,
começou 1989 assegurando que a estrutura não seria abalada pelos movimentos a
favor da democracia que sacudiam o Leste Europeu desde a criação do sindicato
independente Solidariedade, na Polônia, em 1980. "O muro ainda existirá em 50 ou
100 anos, enquanto não forem superados os motivos que levaram à sua construção",
garantiu Honecker. Em 9 de novembro do mesmo ano, o muro foi abaixo, também sem
aviso prévio nem nota oficial. Na semana passada, coube ao antigo líder do
Solidariedade, Lech Walesa, mais tarde presidente da Polônia, derrubar a primeira
peça do dominó gigante que caiu em sequência, refazendo o antigo traçado do Muro
de Berlim.
Internacional

Sob o ódio dos vizinhos

Atrocidades da guerra na Faixa de Gaza atrapalham o entendimento de Israel


como uma ilha de democracia cercada de ditaduras no Oriente Médio

Jaime Klintowitz

MORTE EM COMBATE
No cemitério militar de Beersheba, soldados israelenses choram a
perda de colega em Gaza

Se a contagem do tempo começar pelo ano em que o primeiro grupo armado foi
organizado pelos judeus para proteger suas povoações de salteadores árabes, em
1909, judeus e árabes engalfinham-se pela posse da Palestina há pelo menos 100
anos. Nesse século de atrocidades mútuas, cada lado tem sua parcela de culpa no
fato de se passar tanto tempo procurando um caminho para a paz quando a paz
deveria ser o caminho. Por que a paz não encontra quem a patrocine naquela região?
As causas da guerra no Oriente Médio são de natureza diversa – étnica, religiosa,
geopolítica e ideológica. Elas se interpenetram de tal modo que a solução de uma
acaba agravando a outra. O resultado é que todas as chances de paz foram abortadas
por um lado ou outro – mais recentemente sempre pelos palestinos e pelos países
árabes que lhes dão apoio. Há duas semanas, Israel está de novo oficialmente em
guerra com um de seus vizinhos. Já esteve em 1948, ano de sua criação como estado
independente, em 1956, 1967, 1973, 1982 e 2006. Israel venceu todas essas guerras,
mas as vitórias militares acabaram produzindo novas complicações e adiando ainda
mais a solução definitiva para o conflito.

As duas semanas de ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza, com todos os seus
horrores, podem facilmente ser vistas como mais uma erupção de violência dessa rixa
crônica. Afinal, esta é a quarta vez que tropas israelenses invadem a Faixa de Gaza,
uma nesga de solo arenoso, superpovoada e muito pobre, desde 1948. Da penúltima
vez, a ocupação se prolongou por 38 anos, só terminando em 2005. O conflito será
mais bem compreendido, no entanto, se for examinado pelo que tem de diferente dos
anteriores. "Essa não é mais uma guerra árabe-israelense. Nem sequer se pode falar
em conflito israelo-palestino, já que metade da Palestina não está com o Hamas",
disse a VEJA o paquistanês Kamran Bokhari, diretor de pesquisas sobre o Oriente
Médio da Stratfor, uma consultoria de geopolítica com sede nos Estados Unidos.
"Muitos palestinos na Cisjordânia entendem que o Hamas é parte do problema." O
Hamas é uma organização radical islâmica, dominada pelo fanatismo e que usa
métodos terroristas. Seus líderes são proponentes do jihadismo, o movimento cujo
objetivo mais geral é a guerra santa em nome do Islã e cujo objetivo mais específico é
a destruição do Estado de Israel. O Hamas domina corações e mentes em Gaza. Tem,
portanto, legitimidade política. Essa é a tragédia. O Hamas não pode ser derrotado
militarmente.

A diversidade na Palestina é maior do que aparenta ser. Vivem ali várias confissões
religiosas – cristãos, drusos e, naturalmente, judeus –, mas o Hamas sustenta que o
território deve ser um pedaço exclusivamente muçulmano de um futuro império
islâmico. Isso sinaliza a ascensão de um novo complicador no conflito centenário.
Apesar de contrapor judeus a muçulmanos, a disputa até agora tinha sido
basicamente laica, de cunho nacionalista, sobre quem era ou não um povo e qual
deles tinha ou não direito a um estado próprio. O Hamas é um fiel escudeiro do Irã,
que lhe fornece armas (aí a origem dos mísseis lançados da Faixa de Gaza contra
cidades israelenses), treinamento militar e dinheiro. Ainda que em microdimensões e
por meio de intermediários, o ataque ao Hamas pode ser visto como uma espécie de
"guerra por procuração" – na definição do historiador israelense Benny Morris, da
Universidade Ben-Gurion, em Beersheba – entre Israel e os aiatolás de Teerã.

Os iranianos podem muito bem ter incentivado o Hamas a rejeitar a renovação do


cessar-fogo – e a iniciar o insano foguetório que atraiu a devastadora reação militar –
para desviar a atenção dos israelenses, que pareciam estar se preparando para um
ataque preventivo às instalações nucleares do Irã. Há estimativas de que os iranianos
estejam a dois ou três anos de obter sua primeira bomba nuclear. Israel sabe que os
jihadistas não são totalmente racionais. Ou, pelo menos, não da forma como se vê em
governos responsáveis, cuja preocupação primordial são a segurança e a
prosperidade de seu povo. A ameaça de aniquilação mútua garantiu o equilíbrio entre
o Kremlin e a Casa Branca durante a Guerra Fria. Devido à fixação mental no
autossacrifício e no martírio, sanções e represálias não funcionam tão bem com os
aiatolás iranianos ou com os xeques do Hamas. Se Teerã tiver a bomba nuclear, é
provável que decida usá-la, seja por motivos ideológicos, seja por medo de que Israel,
que tem um formidável estoque de armas nucleares, possa atacar primeiro. Meses de
bloqueio israelense e sanções estabelecidas pelos Estados Unidos, União Europeia e
Egito não conseguiram fazer com que o Hamas moderasse sua demagogia religiosa e
seu discurso racista – razões, por sinal, da imposição de sanções.

Depois de uma trégua tensa que durou seis meses, o movimento islâmico se pôs a
disparar foguetes sobre as cidades israelenses para demonstrar que a jihad está viva
e em boa forma. Por certo não tinha ilusões de que a represália era inevitável e seria,
como de hábito, devastadora. Fiel ao culto do martírio, o Hamas agiu diligentemente
para atrair a formidável máquina de guerra israelense para as vielas apinhadas das
cidades e favelas de Gaza, onde acreditava que seria mais fácil combatê-la. As mortes
e a destruição causadas pela ofensiva israelense são dolorosas de observar. Na
última sexta-feira, as estimativas eram de 750 palestinos mortos, entre os quais uma
quantidade enorme de crianças. Só no ataque a uma escola da ONU repleta de
refugiados foram mortas quarenta pessoas. Famílias inteiras acabaram dizimadas por
bombardeios aéreos. Uma proposta de cessar-fogo apresentada pelo Conselho de
Segurança da ONU foi rejeitada por ambas as partes na sexta-feira passada.
O LONGO BRAÇO DO HAMAS
Mãe e filhos se protegem em kibutz de foguetes
palestinos lançados de Gaza

O conflito em Gaza aprofundou o cisma regional entre a facção da "resistência" – que


inclui o Irã, a Síria e suas milícias aliadas, o Hezbollah no Líbano e o Hamas na
Palestina – e os chamados moderados, favoráveis à paz negociada com Israel. Esse
grupo é formado pela maioria dos países, encabeçados por Egito, Jordânia, Arábia
Saudita e pela Autoridade Palestina na Cisjordânia. Alguns deles, como o Egito, com o
qual Gaza faz fronteira, criticaram abertamente o Hamas por provocar o conflito. O
governo egípcio não tolera a conexão entre o Hamas e a Irmandade Muçulmana, o
principal movimento de oposição no país. A Arábia Saudita apoia quase abertamente
qualquer coisa que os israelenses façam para conter a influência dos xiitas do Irã no
Oriente Médio. O primeiro pelotão, o da rejeição, tem a esperança de que o Hamas
sobreviva ao ataque em condições de demonstrar que Israel não é capaz de esmagar
todos os seus inimigos. O segundo grupo torce descaradamente pela derrota do
extremismo islâmico em Gaza. O mesmo debate está aceso entre os palestinos, a
ponto de o presidente Mahmoud Abbas ter a ousadia de responsabilizar o Hamas pelo
início da guerra.

Quando Israel se retirou unilateralmente da Faixa de Gaza, em 2005, deu aos


palestinos a oportunidade de demonstrar sua capacidade de gerir o próprio estado.
Três anos e meio depois, está claro que os palestinos falharam em seu objetivo. "Eles
preferiram investir na construção de túneis e no contrabando de armas a financiar um
bom governo para a população palestina", diz o historiador Benny Morris. As
condições de vida na Faixa de Gaza continuaram miseráveis. Metade dos
trabalhadores está sem emprego e sete em cada dez dependem de doações
internacionais para se alimentar. A ajuda minguou depois da vitória do Hamas nas
eleições de 2006. Os Estados Unidos e a União Europeia, que têm o grupo em sua
lista de organizações terroristas, cortaram linhas de financiamento à região. As
chances de criar um estado palestino se tornaram mais remotas depois do golpe
militar que expulsou o Fatah de Gaza. Desde 2006, cerca de 750 palestinos morreram
em lutas fratricidas – número semelhante ao das mortes causadas pelos ataques
israelenses.
SOFRIMENTO
Milhares de palestinos rezam pelas vítimas do ataque israelense que
atingiu uma escola da ONU (no alto, à dir.). À esquerda, pai
reconhece o corpo do filho na Cidade de Gaza. À direita, robô
israelense checa o corpo de um palestino morto ao tentar explodir
um posto de gasolina em assentamento judeu na Cisjordânia

Curiosamente, essa realidade multifacetada tornou-se preto-e-branco na reação da


imprensa, dos diplomatas e da maioria dos governantes. Israel é basicamente
considerado um estado truculento, que – esta é a opinião expressa pelo governo do
presidente Lula – reagiu de forma desproporcional aos foguetes do Hamas. O
argumento baseia-se bastante na discrepância de baixas (catorze israelenses mortos
até a sexta-feira passada). Essa é uma conta difícil de ser feita por quem considera
que cada vida é preciosa. Na verdade, o estado judeu não está respondendo aos
projéteis lançados nas últimas duas ou três semanas, mas a anos de ataques
indiscriminados contra os 750 000 israelenses que vivem próximos à fronteira com a
Faixa de Gaza. A ofensiva contra o Hamas está sendo realizada com força poderosa e
agressividade tática, estratégia militar cujo objetivo é reduzir as próprias perdas e
esmagar o inimigo. Não é assim que se ganham as guerras? "Trata-se de um estado
soberano defendendo sua integridade e seus habitantes", disse a VEJA Paul Scham,
que ensina história israelense na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.

É paradoxal, mas não inesperado, que Israel, a única democracia do Oriente Médio,
esteja perdendo gradualmente a simpatia da opinião pública no exterior. A malhação,
antes confinada à extrema esquerda, tornou-se parte integrante do populismo
antiocidental. Muitos partidos de esquerda agora consideram o antissionismo como um
pré-requisito para seus afiliados e não se acanham em denunciar a "conspiração
judaica", na melhor tradição antissemita. "Por que a esquerda europeia, e globalmente
toda a esquerda, está obcecada em lutar contra as democracias mais sólidas do
planeta, Estados Unidos e Israel, e não contra as piores ditaduras?", questionou em
uma palestra a jornalista catalã Pilar Rahola, que já foi deputada de esquerda na
Espanha. O conflito entre árabes e judeus na Palestina é um nó difícil de desatar.
Oportunidades de paz foram perdidas por ambos os lados e nada indica que se esteja
mais perto de uma solução – ainda que todo mundo concorde que, quando dois povos
disputam o mesmo pedaço de terra, a melhor solução é dividi-la em dois países. O
que é fora de dúvida é que Israel não pode (e não vai) perder a guerra contra as forças
da intolerância religiosa no Oriente Médio, representada agora pelos terroristas do
Hamas. Israel é uma sentinela avançada da democracia e da civilização judaico-cristã
cercada por nações e grupos políticos armados que formal e claramente lutam pela
destruição do estado judeu e pela morte de todos os seus habitantes não-árabes.
Também é fora de dúvida que não haverá paz enquanto os vizinhos hostis não
aceitarem que a existência de Israel é legítima, que o país tem o direito de se defender
e que o terrorismo destrói o que pretende construir.

Quem é quem

A ofensiva de Israel contra o


grupo terrorista Hamas na
Faixa de Gaza é o novo
capítulo de uma velha
história. Ao longo do tempo,
alguns personagens se
repetem e tornam-se
lendários, como Ariel Sharon,
líder israelense que está em
coma desde 2006, e Yasser
Arafat, palestino que fundou o
Fatah, hoje rival do Hamas.
Também figuram nessa trama
os líderes que tomam parte
nas negociações de paz. A
seguir, os principais
personagens do atual conflito
na região.

• Atacou a Faixa de Gaza no fim de • Acusa Israel de cometer um


dezembro para esmagar os militantes genocídio, dizendo ser alvo de um
do Hamas ataque injustificado
• Só aceita discutir um cessar-fogo • Apesar de apresentar-se como parte
quando os ataques com foguetes agredida, mantém a retórica inflamada
terminarem contra Israel
• Descarta negociar com os líderes da • Militantes são responsáveis por
facção radical, mas falaria com ANP e milhares de ataques com foguetes
Fatah contra israelenses

ONU diz que 30 mil civis são vítimas da violência em Darfur


da Efe, em Cartum

A delegação da ONU em Cartum denunciou hoje que cerca de 30 mil civis foram alvos
de diferentes tipos de violência durante os enfrentamentos na quinta-feira passada
entre dois grupos rebeldes no sul de Darfur. O representante do Programa Mundial de
Alimentos da ONU, Kenro Oshidari, expressou sua profunda preocupação com a
situação humanitária na localidade de Muhairiya. A localidade foi palco na quinta-feira
de combates de militantes do Movimento de Justiça e Igualdade (MJI), de Khalil
Ibrahim, e da facção Movimento de Libertação do Sudão (MLS), liderada por Meni
Arkau Minawi. "Os últimos enfrentamentos ameaçaram cerca de 30 mil civis, entre
moradores e deslocados, que foram alvo de diferentes tipos de violência, algo que não
tinha acontecido antes nesta região", afirmou Oshidari.

Embora não tenha fornecido mais informações sobre estas agressões, Oshidari
destacou que há civis que morreram e outros que ficaram feridos como consequência
dos choques. Os choques da quinta-feira passada em Muhairiya deixaram 22 mortos,
entre eles quatro civis, e 27 feridos, segundo fontes oficiais. O conflito de Darfur, no
oeste do Sudão, explodiu em fevereiro de 2003, quando MJI e MLS se rebelaram
contra o regime de Cartum em protesto contra a precária situação desta província. A
facção dirigida por Minawi foi a única a assinar um acordo de paz com o Governo
sudanês em Abuja, em maio de 2006. Desde a explosão da violência, cerca de 300 mil
pessoas morreram e 2,5 milhões foram forçadas a abandonar seus lares, segundo
cálculos da ONU.

O Tremor Que Matou Um País

Com um terço de sua miserável população atingido por um terremoto, o Haiti


virou um dos mais graves casos de emergência humanitária da história e
corre o risco de mergulhar, de novo, na selvageria

Claudio Dantas Sequeira e Luiza Villaméa

TERRA ARRASADA

A capital Porto Príncipe, onde imperam a destruição e o caos


Sete mil corpos já foram enterrados em valas comuns. Milhares de outros estão sob
escombros ou empilhados pelas ruas da capital Porto Príncipe. Feridos e
desabrigados caminham a esmo em busca de socorro. A água se tornou o bem mais
precioso no Haiti arrasado por um terremoto com capacidade destrutiva equivalente à
de 25 bombas atômicas. Com epicentro a apenas 15 quilômetros de Porto Príncipe, o
fenômeno registrado às 16h53 locais da terça-feira 12 multiplicou uma miséria secular.
No dia seguinte à catástrofe “inimaginável”, como definiu o presidente René Préval, ele
mesmo foi encontrado na rua por uma equipe da rede americana CNN em aparente
estado de choque. Préval sintetizou então o sentimento de uma nação: “Não tenho
onde dormir.” No dia seguinte, Préval ajudou a enterrar os primeiros corpos
resgatados dos escombros. Com um terço da população de nove milhões de
habitantes atingido pela catástrofe, o Haiti virou um dos mais graves episódios de
emergência humanitária da história.

Tragédia sem fim O cenário é de absoluto terror. No país sem infraestrutura, os já


precários sistemas de energia, de comunicação e de abastecimento de água entraram
em colapso. Como o Haiti não tem Defesa Civil, os esforços iniciais de resgate foram
feitos por funcionários da ONU, militares e cidadãos comuns, a maioria desesperada
em busca de familiares desaparecidos. À medida que o tempo passa, aumentam os
riscos de que epidemias se alastrem. Quando todos os mortos forem enterrados e os
feridos tratados é que se começará a dimensionar o legado dessa tragédia sem fim. “A
situação vai piorar. Muitas outras pessoas vão acabar morrendo”, afirma o radialista
haitiano Carel Pedre. Algumas, no momento, querem apenas resgatar aqueles que
amam. É o caso do vendedor ambulante Lionnel Dervil, pai de quatro filhos: “Eu só
quero o corpo da minha mulher. Sei que estão ocupados tratando dos sobreviventes,
mas há uma divisão cheia de corpos onde não consigo chegar”.

VALA COMUM
Corpos amontoados, busca heroica e saques aumentam o desespero e a dor da
população

Os principais símbolos do Haiti – o palácio do governo e a catedral – viraram pó,


apagando os últimos resquícios da colonização francesa. Também vieram ao chão o
Parlamento, o Palácio da Justiça, os ministérios das Finanças, Comunicação, Trabalho
e Cultura, os três hospitais da capital, o principal hotel e o prédio da Minustah, a
missão de paz da ONU instalada no país desde 2004. Institucionalmente, o Haiti
desapareceu. Parte de seu investimento no futuro ruiu quando os cinco andares da
universidade desabaram sobre estudantes e professores. Segundo a Cruz Vermelha,
70% dos edifícios de Porto Príncipe foram destruídos.

O Brasil, por sua vez, nunca esteve tão envolvido em uma tragédia natural no Exterior.
Como comandante militar das forças de paz da ONU, o Brasil mantém no país
caribenho mais de 1,2 mil militares, que se voltaram desde o primeiro momento ao
resgate e atendimento às vítimas do terremoto. A contagem do Ministério da Defesa
até a sexta-feira 15 somava 15 brasileiros mortos em decorrência da catástrofe, entre
eles a pediatra e sanitarista Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança (leia
reportagem à pág. 40). Os outros 14 são militares, sete deles vindos do 5º Batalhão de
Infantaria Leve, sediado em Lorena (SP), que, pelo sistema de rodízio da Minustah,
deveriam voltar para casa neste final de semana. Moradora da cidade vizinha de
Cachoeira Paulista, a dona de casa Dalila Anaya Henrique se preparava para receber
o filho mais velho, o soldado Tiago, 23 anos: “Eu soube do terremoto, mas nem pensei
que meu filho estaria morto.”
SOBREVIVÊNCIA

No país onde 80% são miseráveis, a pobreza piorou e a água virou o bem mais
precioso

Há ainda 25 militares brasileiros feridos e quatro desaparecidos. Para o ministro da


Defesa, Nelson Jobim, há poucas chances de encontrá-los com vida. “Falar em
sobreviventes é eufemismo”, disse. Além deles, também está desaparecido o
diplomata Luiz Carlos da Costa, número dois da Minustah. Aos 60 anos, casado e com
duas filhas, Costa é o brasileiro de maior hierarquia na ONU. Com toda a carreira
dedicada a missões de paz, ele pediu há poucas semanas que o secretário-geral Ban
Ki-moon estendesse seu mandato no Haiti por mais um ano. O diplomata estava
animado com a nomeação do ex-presidente Bill Clinton como enviado especial da
ONU para o Haiti. A amigos, disse que havia um novo sopro de esperança para
impulsionar projetos econômicos que pudessem gerar emprego e renda para a
população. Além de Costa, 188 funcionários da Minustah estão desaparecidos e 36
mortos. O corpo do chefe da missão da ONU, o tunisiano Hedi Annabi, foi encontrado
morto entre os escombros. No vácuo de autoridade, o comandante militar, o general
brasileiro Floriano Peixoto, que estava na sede da ONU em Nova York, viajou a Porto
Príncipe para assumir a missão até a chegada de Edmond Mulet, antecessor de
Annabi, indicado como responsável interino.

Sem classe média “Está tudo acabado. Teremos que recomeçar do zero”, disse o
brasileiro Ricardo Seitenfus, representante da Organização dos Estados Americanos
(OEA) para o Haiti. Com 80% dos habitantes vivendo abaixo da linha de pobreza, o
Haiti era um país agonizante que levou um golpe sem precedentes. A Cruz Vermelha
estima em até 50 mil as mortes provocadas pelo terremoto, mas esse número pode
aumentar à medida que avançar o trabalho das equipes de resgate enviadas das mais
diversas partes do mundo. Um dos maiores entraves para os trabalhos de socorro e
para a reconstrução do país está na própria composição da sociedade haitiana. Na
prática, não há ligação entre a elite formada na França ou no Canadá e a massa de
miseráveis. “Tem um ministro da Educação muito bem formado, com cursos no
exterior, mas não há um grupo intermediário que faça funcionar o projeto escolar”,
exemplifica o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que chefiou a missão de paz da
ONU entre janeiro de 2007 e abril de 2009.

A inexistência de uma classe média com profissionais capacitados a fazer escoar a


ajuda humanitária internacional que começa a chegar agrava ainda mais a desgraça
que se abateu sobre o país. Com as ruas bloqueadas por destroços de todos os
gêneros, as equipes que desembarcam no Haiti têm dificuldade até de locomoção.
“Acreditamos que há três milhões de pessoas afetadas no país, feridas ou
desabrigadas”, afirmou Victor Jackson, coordenador-assistente da Cruz Vermelha no
Haiti. Sem abrigo, água ou comida, muitos haitianos circulam a esmo pelas ruas e
dormem ao relento, aglomerando-se principalmente no centro de Porto Príncipe e no
estádio que abrigou o Jogo da Paz em 2005, entre as seleções de futebol do Brasil e
do Haiti.

Antiga colônia francesa, o Haiti chegou a ser conhecido no final do século XVIII como
a “pérola das Antilhas”, por conta de sua exuberante cultura do açúcar, o petróleo da
época. Inspirado na Revolução Francesa e com base em uma revolução de escravos,
foi o primeiro país da América Latina a conquistar a independência, em 1804. Foi
também o primeiro a acabar com o regime escravocrata. De lá para cá, porém, as
tragédias que assolam o país são tamanhas que existe entre os organismos de ajuda
humanitária o temor de que a comunidade internacional tenha se cansado do país.
Resgate pedra por pedra “Não desistam do Haiti como se fosse uma causa perdida”,
apelou Bill Clinton em um comovente pedido de ajuda ao país, tentando sensibilizar
governos e também as pessoas comuns. Aos primeiros, pediu de imediato a cessão
de helicópteros para o socorro aos feridos. “Precisamos também de água, comida,
abrigos e primeiros-socorros. O mais imediato que podem fazer é enviar dinheiro,
mesmo um ou dois dólares”, completou, em parte de discurso na Assembleia-Geral da
ONU, dirigindo-se aos cidadãos. Cerca de 30 países, entre eles Estados Unidos,
Brasil, França, Canadá, Cuba, China, Argentina, Venezuela e Israel, se mobilizaram
de imediato. O presidente americano, Barack Obama, foi o mais generoso. Na quinta-
feira 14, Obama anunciou a liberação de US$ 100 milhões para a recuperação do país
caribenho, além do envio de dez mil soldados e fuzileiros, 300 médicos, um porta-
aviões e um navio-hospital. No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
determinou a liberação de US$ 15 milhões e a criação de um gabinete de crise
coordenado pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general
Jorge Félix.
No país que faz resgates à mão, pedra por pedra, devido à ausência de equipamentos
adequados, as perspectivas para o futuro são dramáticas. Além das colossais – e
imediatas – perdas, há o risco de o Haiti voltar a um estado selvagem, submergindo
numa crise político-institucional similar à que protagonizou no começo da década de
1990. Com as forças internacionais de paz concentradas nas buscas aos
sobreviventes e uma polícia precária, a segurança pública está ameaçada. O principal
presídio do Haiti desabou com o tremor, deixando escapar um número ainda não
conhecido de detentos. Na quinta-feira 14, um caminhão que tentava vender água na
periferia de Porto Príncipe foi atacado por moradores sedentos. Na madrugada do
mesmo dia, o porta-voz da ONG Viva Rio, Valmir Fachini, informou por e-mail que as
ruas de Porto Príncipe viraram palco de saques. “Ouvimos vários disparos de armas
de fogo sem poder dizer de onde vêm. Os saques começaram nos supermercados,
que desabaram parcialmente”, contou Fachini, usando a internet, o único meio de
comunicação que sobreviveu ao terremoto por usar no país o sistema de transmissão
via satélite.

Antes de o tremor jogar o Haiti no chão, 2010 representava um importante passo para
a normalização do país que, em 200 anos de história, sofreu 32 golpes militares.
Desde o fim da ditadura de Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, em 1986, os haitianos
sonham com uma democracia que abra caminho para instituições democráticas
sólidas. As eleições legislativas estavam marcadas para o mês que vem e as
presidenciais para novembro. Antes de o desastre natural lembrar ao mundo que o
Haiti existe, o país já era uma miséria só. O simples cruzar de sua fronteira com a
República Dominicana – país com o qual ocupa a ilha de Hispaniola, no Mar do Caribe
– é uma experiência chocante. Assim que passa a divisa, o verde das florestas
dominicanas cede lugar ao cinza de um deserto tropical. A porção oeste da ilha,
ocupada pelo Haiti, tem aparência de terra arrasada – reflexo do desmatamento para
produzir o carvão que gera a energia usada pelo mais pobre país do continente. O que
parecia não poder ficar pior, ficou.

A Presença Brasileira
A presença das tropas brasileiras no Haiti é resultado de compromisso assumido pelo
governo em 2004, quando a ONU estabeleceu a Minustah, a missão multinacional
convocada depois que uma crise política apeou do poder o presidente Jean-Bertrand
Aristide e mergulhou o país no caos institucional.

O mosaico de barbárie formado por ex-militares, membros da polícia nacional e


milícias governistas fez reféns civis inocentes, submetidos a toques de recolher e atos
de violência extrema. No cálculo do Itamaraty, o protagonismo numa operação de paz
é a chance para credenciar o Brasil na campanha por um assento no Conselho de
Segurança da ONU. O primeiro brasileiro a pisar em Porto Príncipe foi o general
Augusto Heleno, que se deparou com o caos e a falta de recursos. Por meses, ele se
viu premido por um contingente reduzido, bem aquém do previsto pela ONU. O
problema só foi resolvido no ano seguinte, mas a situação de instabilidade perdurou
por quase um ano e meio. Pacificadas as favelas do Haiti, as tropas brasileiras
intensificaram as ações de apoio social e de infraestrutura, mudando o perfil da
missão. Dos 1.246 militares, 230 são engenheiros, que trabalham na pavimentação de
rodovias, construção de pontes e perfuração de poços artesianos. Segundo a ONU, a
missão hoje tem o apoio de 78% da população. Até agora, o Brasil já desembolsou R$
704,5 milhões com ações no Haiti, doou 500 mil doses de vacina contra a raiva e
desenvolve com a França o projeto do banco de leite materno.A Agência Brasileira de
Cooperação investe ainda US$ 16 milhões em projetos na área de agricultura familiar,
coleta de lixo e formação de militares.

Colaboraram: Adriana Prado, André Julião e Fabiana Guedes

"STJ Anula a Condenação de Daniel Dantas"

Bruna Cavalcanti

O juiz federal Fausto De Sanctis sofreu novo revés – isso, apenas 72 horas depois de
ter sido afastado da presidência do processo envolvendo o MSI/Corinthians por
“suspeição”. Dessa vez, a decisão veio do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que
suspendeu a condenação de dez anos dada por De Sanctis ao banqueiro Daniel
Dantas (Grupo Opportunity) sob a acusação de evasão de divisas e lavagem de
dinheiro. O STJ anulou a Operação Satiagraha que investigou Dantas numa medida
de “alcance ilimitado”.

"Congelamento Global"

Bruna Cavalcanti

Clima polar no Hemisfério Norte com temperaturas inferiores a 20 graus negativos.


Nos EUA, em Washington, tempestades de neve cobriram milhares de casas e o
Capitólio, exigindo esforço de quem passou pelo National Mall. Na Filadélfia, registrou-
se a segunda maior nevasca desde 1884. Também na Europa o rigor do frio se fez
sentir: mais de 100 mortos, com vítimas fatais sobretudo na Polônia. O gelo causou
colapso no sistema de transporte, com aeroportos e linhas de trem interditados. O
Eurostar, ligação férrea entre Londres e Paris, teve seu funcionamento suspenso.
"STF Determina Que Garoto Volte Aos EUA Com Pai Biológico"

Bruna Cavalcanti

O presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, decidiu que o garoto Sean Goldman, 9
anos, pode ser levado de volta aos EUA por seu pai biológico – ele está no Brasil
desde 2004 e com a morte de sua mãe ficara sob os cuidados do padrasto brasileiro.
A avó do menino, Silvana Bianchi, encaminhou carta a Lula pedindo que ele impeça a
partida do neto.

Comissão do Senado aprova convite para Jobim falar sobre compra de caças

A Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou convite para o ministro


Nelson Jobim (Defesa) explicar detalhes sobre a compra de 36 aviões caça para a
FAB (Força Aérea Brasileira) pelo governo federal. O presidente da comissão, senador
Eduardo Azeredo (PSDB-MG), quer saber os motivos que levaram o governo a optar
pelos caça franceses, e não os suecos --considerados pela área técnica da FAB como
o mais viável para o país.

"Segundo noticiado na imprensa, o relatório técnico da Força Aérea Brasileira sobre a


aquisição de aviões caça concluiu pelo modelo Gripen NG, da empresa sueca Saab, a
partir de critérios técnicos militares, preço e forma de financiamento. Entretanto, o
mesmo noticiário informa que a opção do governo brasileiro continua a ser pela
compra dos aviões caça Rafale, da empresa Dassault, da França", disse Azeredo.

Segundo o senador, a preferência do governo brasileiro pelos caças franceses "tem


causado constrangimentos" frente ao relatório da área técnica da FAB. O tucano
também quer saber detalhes sobre o preço dos caças que, de acordo com Azeredo,
"não estão sendo divulgados".

"Da mesma forma que a escolha da melhor opção seja prerrogativa do Poder
Executivo, permitindo-lhe contrariar o relatório e ficar com o concorrente que ficou em
terceiro lugar, é prerrogativa regimental da Comissão de Relações Exteriores o papel
de acompanhar e tornar mais transparente as negociações", afirmou Azeredo. A
comissão ainda não marcou data para a audiência de Jobim. Como o requerimento
prevê convite ao ministro, ele tem a prerrogativa de negá-lo caso não esteja disposto a
prestar esclarecimentos no Senado. Hoje, Jobim afirmou que a compra dos caças
ainda não está definida. "Não está definida a compra dos caças. O processo ainda
está no âmbito do Ministério da Defesa. A notícia não tem fundamento", disse.

Reportagem publicada pela Folha afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
Jobim bateram o martelo a favor do caça francês Rafale. A decisão foi tomada depois
que a fabricante, Dassault, reduziu de US$ 8,2 bilhões (R$ 15,1 bilhões) para US$ 6,2
bilhões (R$ 11,4 bilhões) o preço final do pacote de 36 aviões para a Força Aérea
Brasileira. Mesmo com a redução, os caças franceses têm preço muito superior ao dos
concorrentes. Conforme a Folha apurou, a proposta do modelo Gripen NG, da sueca
Saab, foi de US$ 4,5 bilhões, e a dos F-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing,
de US$ 5,7 bilhões.

Manutenção

Além do custo do pacote, que inclui avião, armas, logística e custo de transferência
tecnológica, a Dassault estimou que a manutenção dos aviões por 30 anos custará
US$ 4 bilhões. Os valores foram revistos após o presidente Lula anunciar
antecipadamente a vitória do Rafale, em setembro. O preço unitário, sempre uma
estimativa, era então menor para todos os concorrentes porque o pacote não previa
vantagens incluídas na renegociação --como o custo de a Embraer fabricar o caça
futuramente.

Polícia Federal pede mais prazo para concluir investigações sobre esquema no
DF

O delegado da Polícia Federal, Alfredo Junqueira, entregou ao STJ (Superior Tribunal


de Justiça) o inquérito da Operação Caixa de Pandora, que investiga o suposto
esquema de pagamento de propina que envolve o governador do Distrito Federal,
José Roberto Arruda (sem partido). No relatório, o delegado pediu um novo prazo para
concluir as investigações.

Junqueira argumentou que a prorrogação é necessária para dar continuidade aos


depoimentos dos envolvidos no esquema de corrupção. Ao analisar o material da
Polícia Federal, o ministro do STJ, Fernando Gonçalves, responsável pelo inquérito,
terá que dizer se aceita ou não a extensão das investigações e fixar o novo prazo. A
expectativa é que a PF receba pelo menos mais 30 dias para trabalhar no caso.

Ex-secretários e ex-colaboradores do governador do Distrito Federal, José Roberto


Arruda (sem partido), resistem em revelar detalhes à Polícia Federal sobre o suposto
esquema de arrecadação e pagamento de propina. Das 12 pessoas convocadas,
apenas duas aceitaram colaborar com as investigações da operação. A maioria dos
depoentes, no entanto, tem permanecido em silêncio, como o ex-assessor de
imprensa de Arruda, Omezio Pontes, apontado por Durval Barbosa --delator do
esquema e ex-secretário de Relações Institucionais-- como um dos distribuidores da
propina. Outros investigados na operação que são ligados ao governador também
evitam dar explicações. O ex-chefe da Casa Civil José Geraldo Maciel se reservou ao
direito de permanecer calado.

A estratégia também foi adotada pelo policial aposentado Marcelo Toledo, acusado de
ser arrecadador do esquema. Ele conseguiu um habeas corpus no STF (Supremo
Tribunal Federal) e permaneceu calado durante depoimento. Em um dos vídeos que
fazem parte do inquérito, o policial aparece entregando dinheiro a Durval Barbosa e
faz referência ao vice-governador Paulo Octávio. Outra tática é adiar os depoimentos,
como fizeram o empresário Helio de Oliveira, dono de uma empresa de informática
investigada, e o ex-chefe de gabinete de Arruda, Fabio Simão.
A Polícia Federal só conseguiu ouvir a diretora comercial da Uni Repro, Nerci Soares,
e outro depoente que não teve a identidade revelada. Nerci falou por mais de três
horas, mas o delegado responsável não autorizou a divulgação do conteúdo. A
principal testemunha de Barbosa, o jornalista Edmilson Edson dos Santos, conhecido
como Edson Sombra, chegou a conversar com o delegado, mas solicitou o adiamento
de seu depoimento. Amigo de Durval Barbosa, Sombra argumentou que não estava
"preparado" e que precisaria de mais 15 dias para dar explicações. "Eles [policiais]
querem me ouvir profundamente. Eu disse que não estava preparado", afirmou.

Em conversa de quase uma hora com o delegado Alfredo Junqueira, Sombra alegou
que ainda não teve conhecido profundo sobre o inquérito do STJ que investiga as
denúncias de corrupção que envolvem o governador. Segundo o jornalista, o inquérito
representa uma peça delicada porque revive todo o sofrimento que Barbosa passou.
Questionado sobre a situação do delator, ele afirmou que Barbosa está "tranquilo".
Depoimento do delator ao Ministério Público indica que o jornalista foi um dos
principais incentivadores para que o esquema fosse denunciado. Sombra, ainda de
acordo com o depoimento, recebeu cópia dos vídeos que mostram Arruda, secretários
de governo, assessores, deputados distritais e empresários negociando suposta
propina.

Ao todo, o inquérito do STJ envolve 36 pessoas, entre autoridades do governo local,


deputados distritais e empresários. Segundo o inquérito, há indícios da prática dos
crimes de formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa e passiva, fraude de
licitação e crime eleitoral.

Guerra À Economia
Na Venezuela e na Argentina a interferência política afasta dos governos os
melhores economistas. E quando precisarem deles?

MÃO ARMADA

Em Caracas, baixar preços é função de soldados


Nenhum país conseguiu sucesso no longo prazo sem que os seus líderes tenham
garantido autonomia para os gestores da política econômica. Quando confundem
política com economia, os governos podem registrar vitórias efêmeras. Mas os
fundamentos econômicos logo voltam a lembrar que fórmulas mágicas ou efeitos
especiais só funcionam no cinema. Nas últimas semanas, porém, os presidentes Hugo
Chávez, da Venezuela, e Cristina Kirchner, da Argentina, declararam guerra à
economia e adotaram medidas que apostam mais na ficção do que na realidade. A
consequência desta intromissão política é que esses países têm cada vez menos
economistas qualificados no governo e dispostos a lutar ao lado de seus governantes.
Há a desconfiança de que, quando a hora da verdade chegar, existirão poucos
técnicos capazes de lidar com os desafios. Esse risco já está sendo contabilizado,
inclusive, pelo governo brasileiro. Em Brasília, uma alta autoridade do Ministério da
Fazenda reclama da ausência de quadros de peso na equipe econômica argentina
que possam sustentar um diálogo técnico consistente com os assuntos em pauta entre
os dois países.

Depois das decisões anunciadas por Chávez e Cristina há o receio de uma nova
debandada de economistas dos governos dos países vizinhos e ameaça de prejudicar
ainda mais os entendimentos em temas que interessam ao Brasil. As medidas que
deram mais combustível aos que fazem essas ressalvas foram a demissão por decreto
do presidente do Banco Central argentino, Martín Redrado, por Cristina, e a criação de
duas taxas de câmbio por Chávez – o bolívar passou a custar 2,60 por dólar para
alimentos e artigos essenciais e 4,30 por dólar para vender petróleo e negociar
supérfluos. O primeiro sinal de que há algo de errado com a medida cambial foi uma
súbita troca de papéis: reduzir preços na Venezuela não é mais função de
economistas, mas de soldados armados enviados aos supermercados. Ou seja,
Chávez não acredita na “mão invisível” do mercado para equilibrar preços, mas põe
toda a fé na mão armada. É de assustar qualquer economista. “Não sobrou mais
ninguém na economia, porque ninguém vai ficar vendo o Chávez fazer todas as
loucuras possíveis e imagináveis”, diz o ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso. “Há
um século, a Argentina era a quinta maior economia do mundo. Hoje, seu PIB é um
pouco maior do que a metade do PIB de São Paulo”, lembra. Desse período para cá, o
país viu desaparecer do setor público economistas como Domingo Cavallo, Roberto
Lavagna, Guillermo Calvo, Aldo Ferrer, José Luis Machinea e, sobretudo, uma lista de
acadêmicos e colaboradores. “Vemos a progressiva decadência da economia
argentina porque falta respeito pelas instituições”, explica Enrique Saraiva, argentino
naturalizado brasileiro, professor de administração pública da FGV.

PÉS PELAS MÃOS


Chávez e Cristina: medidas políticas derrubaram o PIB dos dois países
A decisão tomada por Cristina criou uma crise institucional, pois lá o BC é
independente, o presidente tem mandato concedido pelo Congresso Nacional. Quando
for divulgado o PIB de 2009, espera-se uma queda de 2,9%, com agravamento do
déficit público e aumento do desemprego e da inflação (entre 15% e 25%). Cristina
decidiu demitir Redrado porque ele se recusou a usar as reservas para pagar a dívida
pública. Redrado, por sua vez, acusa Cristina de querer aumentar o gasto público,
indiretamente, à custa das reservas. Ele se mantém no cargo por força judicial e a
decisão definitiva sobre a demissão cabe ao Parlamento, no qual ela não tem maioria.
Apesar de ressaltar que Cristina tem o direito de ter um aliado à frente do BC
argentino, o cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, autor de “Brasil, Argentina e
Estados Unidos – da Tríplice Aliança ao Mercosul”, avalia que tanto na Argentina
quanto na Venezuela o problema é o predomínio da política sobre as questões
técnicas. Na Venezuela, Chávez conseguiu, com a maxidesvalorização de até 100%,
reduzir o poder aquisitivo da população e provocar inflação. Além de colocar o Exército
como guardião dos preços, Chávez anunciou racionamento de energia e redução na
exportação para o Brasil.

A Venezuela fornece 20% da energia consumida em Roraima, o que obrigou o


governo brasileiro a ligar as termoelétricas a diesel para garantir o suprimento de
energia no Estado. “O problema é que Chávez só está empenhado em estender a sua
influência bolivariana”, diz Norman Gall, do Instituto Fernand Braudel de Economia
Mundial. “Ele não se interessa pelas taxas de homicídio que estão aumentando,
menos ainda pela teoria econômica. Por isso, essas extravagâncias.” Para o povo
venezuelano, o preço já é alto, independentemente do Exército. O PIB deve cair 2,9%
em 2009, a inflação deve alcançar 25,1%, a maior da América Latina, e o déficit fiscal
bate em 6% do PIB. E quem é o ministro da Economia e Finanças na Venezuela? Um
advogado: Ali Rodríguez Araque. Por quê? Chávez diz que não precisa de
economistas.

Diplomacia
Presidente russo anuncia avanço para tratado de desarmamento nuclear

A Rússia e os Estados Unidos aproximaram suas posições sobre um novo tratado


para redução de armas nucleares, afirmou a agência de notícias RIA, citando o
presidente russo, Dmitry Medvedev. "As negociações continuam, elas não são fáceis,
mas no geral nós concordamos com os norte-americanos em muitas posições",
afirmou Medvedev segundo a RIA, durante um encontro de líderes partidários da
Rússia. O Tratado para Redução de Armas Estratégicas (Start na sigla em inglês), de
1991, expirou em 5 de dezembro e as negociações entre Washington e Moscou para
um novo acordo continuam.

O novo tratado é parte de um esforço para reiniciar as relações dos EUA-Rússia e


ambos os lados prometeram cumprir os termos do tratado antigo até que uma nova
versão possa ser concluída. Entre as questões que rondam o tratado estão os
números de armas permitidas e procedimentos de verificação, ambas as quais
precisam de discussão detalhada. "Demos um passo sério adiante e uma extensão
considerável de nossas posições foram concordadas", afirmou Medvedev segundo a
RIA. A agência russa Interfax também citou Medvedev afirmando que futuro tratado
precisa ser ratificado simultaneamente pelos dois lados.
(Com agência France-Presse)
Brasil
Eles têm outros planos
Por trás do polêmico Programa Nacional de Direitos Humanos está a recorrente
tentativa dos radicais do governo de impor medidas autoritárias. Só que agora
esse pessoal mira o futuro pós-Lula
Ed Ferreira/AE

MANDOU PARAR ATÉ CERTO PONTO


Lula diz que assinou o documento sem ler os itens mais sensíveis, mas só mudou
um e manteve quase todos. Dilma silenciou

Existem algumas obsessões que perseguem o governo Lula desde seu início e, ao
que tudo indica, continuarão a existir até o fim. Em dezembro passado, o presidente
assinou um decreto lançando o terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos – um
calhamaço de propostas com o nobre objetivo de pautar ações oficiais para proteger
minorias e grupos em risco, como índios e quilombolas. O plano, porém, foi concebido
nos moldes de um cavalo de troia. Escondida no corpo das medidas de apelo
humanitário, há uma série de propostas que, de tão absurdas, provocaram
desentendimentos e protestos de vários setores da sociedade, incluindo uma crise
dentro do próprio governo. Os ministros militares, por exemplo, ameaçaram renunciar
aos cargos diante da possibilidade de revogação da Lei da Anistia, de 1979, um pacto
político e social que permitiu a transição da ditadura militar para a democracia sem
maiores confrontos. Diante das pressões, Lula decidiu alterar o trecho do decreto que
previa a criação de uma comissão com poderes para apurar e punir os militares
envolvidos em crimes durante o regime dos generais. A decisão contornou a revolta na
caserna – e apenas isso. O restante do plano continuou intacto.
Elaborado sob os auspícios do secretário
Especial dos Direitos Humanos do governo,
Paulo Vannuchi, ex-militante de um grupo
terrorista dos anos 70, o plano continua
ameaçando a liberdade de imprensa e
protegendo invasores de terras, além de proibir a
exibição de símbolos religiosos em lugares
públicos e legalizar o aborto. Embora seja amplo
e muitas vezes vago, o PNDH não é apenas uma
simples carta de intenções, sujeita a delírios de
toda natureza, como alguns representantes do
governo tentam fazer crer com o objetivo de
O MENTOR DA CRISE
minimizar as críticas. A diferença entre o PNDH e
Sob os auspícios de Vannuchi,
outro projeto qualquer é que ele chega ao
lançou-se o programa que causou
Congresso assinado pelo presidente da
atrito com os militares, os
República. É, portanto, uma proposta do governo,
produtores rurais e a Igreja Católica
analisada pelo governo, que conta com o aval do
governo. O peso, evidentemente, muda. Os parlamentares podem alterá-la ou remetê-
la para o lixo, mas não é isso que normalmente ocorre. Pontos significativos dos dois
programas anteriores foram implementados, como a criação da lei que tornou
inafiançável o crime de tortura, a retirada do foro especial para policiais que praticam
crimes comuns e o combate ao trabalho infantil – só para citar alguns exemplos. E foi
contando com a simpatia natural pelo tema dos direitos humanos que o governo
resolveu inserir os contrabandos ilegais no texto.

A manutenção desses planos é um compromisso dos países que participaram da


Conferência Mundial da ONU sobre o tema, em Viena, em 1993. No encontro, foram
traçadas as diretrizes gerais de proteção aos direitos humanos e inclusão social. O
documento do governo Lula é o terceiro elaborado pelo Brasil. Os dois primeiros foram
editados em 1996 e 2002, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Em
linhas gerais, os planos até se parecem nas questões pertinentes ao assunto. A
diferença é que o PNDH petista decidiu enveredar por caminhos acidentados. A
repercussão de várias de suas propostas foi tão ruim que o presidente Lula se viu
obrigado a admitir ter assinado o decreto sem ler os pontos mais sensíveis. A ministra-
chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a quem cabe analisar o conteúdo de tudo o que
vai parar na mesa do presidente, também se esquivou de responsabilidade – que foi
integralmente empurrada para o gabinete do secretário Paulo Vannuchi. Lula, de fato,
pode não ter lido o documento. Dilma, muito envolvida com a campanha presidencial,
pode ter deixado escapar os absurdos. O que o governo não pode é fazer de conta
que tudo não passou de mal-entendido, de um exagero.

Desde o início do governo, o presidente Lula atua como um dique de contenção do PT


e de seus esquerdistas mais furibundos. Entregou a eles núcleos periféricos de poder
e, assim, os manteve distantes das decisões sobre temas vitais, como a política
econômica e os programas sociais, segredos do sucesso de seu governo. "Com
milhares de cargos à disposição na administração pública, em fundos de pensão e em
estatais, até o mais empedernido partido socialista, se precisar, vira neoliberal",
explica o cientista político Rubens Figueiredo. Foi dessa maneira que Lula acalmou o
ímpeto dos radicais durante sete anos. A receita valeu até hoje, mas a aproximação do
fim do governo fez com que esses grupos, até por questão de sobrevivência política,
deixassem o estado de letargia. O PNDH é um exemplo. Ele propõe apurar os crimes
dos militares, mas nada fala sobre as execuções perpetradas pelos terroristas de
esquerda. "Uma boa parte do PT é ressentida com Lula por não ter sido protagonista
do seu governo. Como não dá mais, prepara o terreno para o futuro", afirma um dos
coordenadores da campanha presidencial da ministra Dilma Rousseff, preocupado
com o cerco que já se avizinha. Dilma não tem a mesma liderança nem a autoridade
de Lula dentro do partido. Também não terá a sua popularidade. Por fim, é dona de
uma biografia mais ideológica do que a do presidente. Ela, inclusive, integrou um
grupo que participou da luta armada contra o regime militar, da qual Lula manteve
distância estratégica. Os radicais acreditam que, caso Dilma seja eleita, encontrarão
no seu governo um porto mais seguro – e um caminho mais livre para agir.

Ao que parece, contudo, a ministra não está satisfeita com esse pessoal. Mais magra
e bronzeada após uma temporada em um spa no Rio Grande do Sul, na terça-feira,
durante a primeira reunião do ano do comando de sua campanha, Dilma reclamou
muito da polêmica criada por Paulo Vannuchi e pediu ao futuro presidente do PT, José
Eduardo Dutra, que controle os radicais do partido para evitar qualquer tipo de
problema. Em público, porém, ela silenciou sobre o Programa de Direitos Humanos.
Assim como Lula, a ministra tem procurado se mover de olho na bússola eleitoral. A
avaliação de sua equipe é que não valeria a pena criar neste momento um fato que
pudesse decepcionar o eleitorado mais à esquerda. Isso está de acordo com a
estratégia política geral que vai nortear o comportamento de Dilma até sua saída do
governo, que deve acontecer em abril. A principal recomendação é que ela evite
justamente entrar em temas polêmicos.

Ainda assim, ela permanece ministra. A Casa Civil é responsável por analisar a
legalidade e a constitucionalidade de todos os projetos do governo antes de enviá-los
à Presidência. Deve também resolver divergências e conflitos de interesse entre
ministérios. Apesar disso, o Programa de Direitos Humanos passou pela mesa da
ministra e chegou às mãos de Lula com vários focos de atrito entre setores do
governo, como os que envolveram Paulo Vannuchi e o ministro Nelson Jobim, da
Defesa, no caso dos militares; e os ministros Guilherme Cassel, da Reforma Agrária, e
Reinhold Stephanes, da Agricultura, no caso das invasões de terra.
Independentemente das conveniências eleitorais, seria muito bom para o país saber o
que Dilma pensa a respeito.
Candidato Sebastián Piñera pode levar a direita ao poder no Chile após 52 anos
MARCIA CARMOenviada especial da BBC Brasil a Santiago

Empresário, ex-senador e candidato pela segunda vez à Presidência do Chile,


Sebastián Piñera, da Coalición para el Cambio (Frente para a Mudança), chega ao
segundo turno das eleições no Chile, marcado para este domingo (17), como favorito
em uma votação que promete ser apertada. Se for eleito, ele será o primeiro
representante da direita --ou centro-direita, como se define no país--, desde 1958, a
chegar ao Palácio Presidencial La Moneda. Desde o retorno da democracia no Chile,
em 1990, a frente governista Concertación, de centro-esquerda, está à frente da
Presidência. "A Concertación está há 20 anos no poder. Peço uma oportunidade para
governar e mudar o que se precisa para melhorar a vida dos chilenos", disse.

Piñera entrou na corrida para a sucessão da atual presidente, Michelle Bachelet, como
favorito e foi o mais votado no primeiro turno, em 13 de dezembro. Ele recebeu 44%
dos votos e o candidato do governo, o ex-presidente Eduardo Frei, cerca de 29%.
Apesar da preferência demonstrada no resultado do primeiro turno, as duas pesquisas
de opinião mais recentes indicaram que a diferença entre os dois candidatos diminuiu.
De acordo com a previsão do instituto Adimark, Piñera venceria com apenas 5% de
diferença dos votos. Outra pesquisa, da Equipos Mori, sugere que ele alcançaria
empate técnico com Frei e venceria por margem inferior a 2%.

Promessas
Na campanha para este segundo turno, Piñera ressaltou que pretende criar planos
sociais nas áreas de saúde e educação para os mais carentes, além de permitir que
universitários de famílias mais pobres tenham acesso à universidade, já que esta é
cobrada no país. Piñera prometeu ainda manter as medidas implementadas por
Bachelet, como a presença de creches nas áreas populares e as facilidades para
mães solteiras poderem trabalhar. O candidato da oposição afirmou ainda que
pretende criar "um milhão de empregos" nos quatro anos de mandato e combater a
delinquência no país.

A campanha de Piñera para a segunda fase das eleições também foi marcada pelos
contínuo questionamentos da imprensa a respeito de dois assuntos: os negócios
pessoais do candidato e sua disposição para incluir políticos do partido que apoiou
Augusto Pinochet em seu eventual governo. Entre os negócios de Piñera estão a
companhia aérea LAN, a TV Chilevisión e o time de futebol Colo, Colo. "Eu já disse
um milhão de vezes. Venderei meus negócios na LAN. Vamos transferir a Chilevisión
para uma fundação sem fins lucrativos e, se a lei permitir, quero continuar sendo
acionista e diretor do Colo, Colo", afirmou.

Piñera também insistiu que na formação de seu gabinete não estarão ex-membros do
governo militar. "O governo militar terminou há vinte anos e já é história. Vamos olhar
para o futuro. Além disso, os que me apóiam não integraram o governo militar", disse.
Em 1988, Piñera votou 'não' no plebiscito sobre a permanência de Pinochet - uma
votação que abriu caminho para a democracia no Chile. "Votei não e vocês sabem
disso. Sempre fui contra e condenei crimes de direitos humanos. E após estudar em
Harvard voltei para o Chile e trabalhei em projetos sociais na Cepal. A preocupação
com direitos humanos e a área social não é exclusiva da esquerda", afirmou.

Analistas ouvidos pela BBCBrasil afirmam que Piñera venceu o primeiro turno e
poderia chegar a ser eleito porque a Concertación enfrenta o "desgaste" de estar há
duas décadas no poder. O professor de Ciências Políticas da Universidade do Chile,
Guillermo Holzmann afirma que além do desgaste do partido governista, o eleitor
espera uma "melhor administração" dos recursos públicos num eventual governo
Piñera. "Piñera é um empresário com experiência política, que chega num momento
de desgaste da Concertación, mas para um setor da sociedade seu discurso de
mudanças não é suficiente", disse Holzmann.

Estudo vê risco de epidemia de HIV resistente a medicamentos


O aumento da circulação de variantes do HIV resistentes ao tratamento com
antirretrovirais nos EUA pode provocar uma epidemia desse tipo de "supervírus" com
início nos países desenvolvidos. O alerta é de um estudo publicado na revista
"Science", que analisou a dinâmica de transmissão do vírus em San Francisco, na
Califórnia. Nos últimos 20 anos, a presença do vírus resistente cresceu de forma
significativa na cidade, assim como na maioria dos países ricos, onde o tratamento
com antirretrovirais é comum. Como os soropositivos podem transmiti-lo para mais de
uma pessoa, os pesquisadores afirmam que a ameaça de epidemia nesses países é
real.

Simulação
Para mapear a evolução do HIV em São Francisco, os cientistas criaram um modelo
matemático com os dados das infecções nas últimas duas décadas. A simulação
considerou a transmissão dos três tipos de HIV resistentes aos principais
antirretrovirais do mercado. A partir dessas informações identificaram os fatores do
tratamento que levaram à resistência aos medicamentos. O modelo mostrou que
muitos dos HIV resistentes, que têm evoluído nos últimos dez anos, são transmitidos
de uma pessoa para outra mais facilmente do que se acreditava. Essa nova dinâmica,
dizem os cientistas, tem potencial para provocar uma nova onda de resistência aos
medicamentos. Embora os remédios tenham conseguido manter a taxa de
transmissão do HIV resistente abaixo de 15% do que seria esperado, cerca de 60%
dos vírus desse tipo têm potencial para causar epidemias autossustentáveis caso
saiam do controle. "Este estudo não é só sobre San Francisco. É basicamente sobre
muitas outras comunidades de países ricos e tem implicações significativas para a
saúde global", afirmou Sally Blower, da Universidade da Califórnia em Los Angeles,
líder da pesquisa em comunicado à imprensa. Segundo ela, o modelo matemático
aplicado à cidade pode ser transposto para "qualquer outro lugar", desde que feitas
adaptações necessárias.

Migração viral
Uma das maiores preocupações dos cientistas agora é a disseminação do vírus
resistente aos tratamentos nos países pobres. A chegada desse tipo HIV a locais onde
o acesso aos medicamentos é difícil e as políticas de saúde pública são limitadas pode
anular os recentes avanços conquistados em áreas mais atingidas pelo HIV, como a
África do Sul. Por enquanto, não há dados sobre a presença do vírus resistente nos
países mais pobres. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), o
principal empecilho é a falta de informações confiáveis sobre saúde pública nessas
nações. A insistência da entidade em tratar de maneira semelhante todos os
infectados pelo HIV foi alvo de críticas de Blower. "O mais inquietante é que nosso
modelo mostra que a estratégia atual para a eliminação do HIV proposta pela OMS
inadvertidamente pode piorar as coisas e aumentar significativamente os níveis de
resistência aos medicamentos em muitos países africanos", afirmou a pesquisadora
americana. De acordo com os cientistas, o modelo aplicado na pesquisa pode ser
usado para o estudo da dinâmica de outras doenças resistentes a tratamentos.

Rio São Francisco pode ter duas usinas nucleares

As duas próximas usinas nucleares a serem construídas no Brasil ficarão localizadas


às margens do rio São Francisco, que corta parte da região Nordeste, indicam estudos
técnicos que serão levados à decisão política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
dos ministros responsáveis pelo programa nuclear brasileiro. O programa nuclear
prevê a construção de mais quatro usinas de 1.000 MW até 2030, duas no Nordeste e
duas no Sudeste --onde os estudos estão mais atrasados. No Nordeste, a estatal
Eletronuclear analisou a possibilidade de construção em 20 locais de quatro Estados:
Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Mas áreas próximas ao litoral foram
descartadas por causa da existência de grandes reservatórios subterrâneos de água.

Potências debatem possível sanção a programa nuclear iraniano

Os países do Grupo P5+1 concluíram hoje uma reunião em Nova York para tratar
sobre a possível imposição de novas sanções ao Irã por causa de seu polêmico
programa nuclear. Não foi registrado nenhum avanço nos diálogos, devido às
diferenças que persistem entre essas nações --os cinco membros permanentes do
Conselho de Segurança da ONU, China, EUA, França, Reino Unido e Rússia, mais a
Alemanha-- sobre o tema. Na reunião de hoje, que aconteceu a portas fechadas e na
sede da Comissão Europeia em Nova York, os seis países abordaram a proposta de
Washington para impor possíveis novas sanções a Teerã, a quem as potências
ocidentais acusam de estar utilizando o seu programa nuclear para uso militar e a
quem criticam por rejeitar suas ofertas de diálogo para resolver o problema, que já
dura vários anos.
Fontes diplomáticas da União Europeia (UE) assinalaram que as diferenças persistem
entre os países e que durante esta reunião constataram as divergências entre eles e a
"decepção" de todos pela decisão iraniana de seguir em frente com seu programa
nuclear. "Não houve conclusões no sentido que não se tomou decisão alguma neste
momento", disse à imprensa ao término da reunião o representante do Ministério de
Exteriores russo, Serguei Ryabkov. Robert Cooper, diretor político do Conselho da UE,
entretanto, não descartou a hipótese de sanção. "Começamos a examinar novas
medidas adequadas", disse. Os seis países se reunirão de novo, embora a data nem o
local tenha sido determinado, para analisar a proposta que em outubro passado
fizeram aos iranianos para que Teerã troque seu urânio enriquecido por combustível
nuclear.
Com Efe e France Presse

Não cabe mais ninguém


Guarulhos: o maior aeroporto da América do Sul completa 25 anos obsoleto,
desconfortável e cheio de problemas. Passar por ali é um inferno

Caos Aéreo
Passageiros esperam até duas horas para poder embarcar

O Aeroporto Internacional de São Paulo é o território mais cosmopolita do Brasil.


Cerca de 140 mil pessoas – entre passageiros vindos de 144 cidades e 26 países,
funcionários e visitantes – circulam diariamente pelo local. Fincado em Cumbica, bairro
do município de Guarulhos a 25 quilômetros do centro da capital paulista, o aeroporto
é o mais movimentado da América do Sul e o segundo no ranking da América Latina.
Só perde para o da Cidade do México. Sete de cada dez viajantes vindos do Exterior
ou que voam para fora do Brasil, passam por Cumbica. Os números superlativos, no
entanto, revelam uma estrutura superada. Nos horários de pico, o fluxo de gente
costuma exceder em mais de 50% a capacidade dos terminais e os passageiros são
obrigados a enfrentar cerca de duas horas de fila tanto no check-in quanto no
desembarque internacional – enquanto os órgãos internacionais recomendam uma
espera de, no máximo, 30 minutos. Nos últimos dias, ISTOÉ esmiuçou o cotidiano da
principal porta de entrada e saída do País. Ouviu especialistas, autoridades do
governo, funcionários e passageiros. A equipe de reportagem passou 24 horas
consecutivas no aeroporto, entre a quarta-feira e a quinta-feira da semana passada.
Testemunhou todo tipo de sentimento e reação: ansiedade, emoção, cansaço,
descontração, indignação.

“Os serviços prestados em Cumbica são péssimos”, avalia Anderson Correia, diretor
da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Transporte Aéreo. “O conforto e a forma de
operação em alguns espaços, como as salas de embarque remotas (em que os
passageiros são levados de ônibus às aeronaves) e as de restituição de bagagens,
receberiam notas D ou E, segundo critérios internacionais. Estão próximas do
colapso.” Viajantes como a paranaense Tatiane Souza, 30 anos, sentem na pele o que
essas notas representam. “Foi um absurdo a forma como trataram a minha família”,
diz. Por mais de 24 horas, ela tentou embarcar com o marido e os filhos para a
Espanha. O calvário começou quando o avião que os trazia de Curitiba não aterrissou
em Guarulhos no horário previsto. Quando finalmente a família conseguiu chegar, o
embarque para Madri estava encerrado. Juscelino, marido de Eliane, conta que
faltavam 25 minutos para o voo decolar, mas os funcionários da TAM não permitiram a
entrada dos retardatários.

Juscelino relata que, depois de muita discussão, eles foram levados para um hotel.
Passava de 2h e não havia mais vagas. A família só conseguiu se hospedar em outro
local, às 4h da manhã. A viagem foi remarcada para a noite seguinte e os
aborrecimentos não cessaram. O aeroporto continuava desconfortável, cheio de filas,
mal iluminado. Na sala de embarque havia cerca de 200 pessoas, mas apenas 75
cadeiras. Alguns tentavam descansar se recostando nas paredes. Outros esticavam
as pernas – ou o corpo todo – sobre os ladrilhos. Antes de deixar o Brasil, os Souza
tiveram de esperar mais de três horas sentados no chão frio. Os 45 dias de férias
acabaram ali, literalmente, em solo brasileiro.

Filas - Nos períodos de pico, cada funcionário da PF atende mais de 100


passageiros por hora

A sensação de impotência e descaso que os passageiros experimentam é decorrência


do crescimento vertiginoso e desordenado do aeroporto. Desde a inauguração, em
1985, o número de viajantes foi multiplicado por dez e o de pousos e decolagens
aumentou quase cinco vezes. Mas os investimentos em infraestrutura foram escassos.
O terceiro e o quarto terminais de passageiros, previstos desde a concepção de
Cumbica, não saíram do papel até agora. Apenas um deles está em fase de licitação.
Se tudo der certo, deve ser inaugurado em 2014, às vésperas da Copa do Mundo. Um
estudo do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), divulgado
recentemente, mostra que a situação de sete dos 12 aeroportos que servirão as
cidades-sede da competição é preocupante. O de Brasília, por exemplo, fechou o ano
passado com 12,2 milhões de passageiros – movimento 22% superior a sua
capacidade. Mesmo que as obras planejadas sejam concluídas no prazo, é provável
que sejam insuficientes. “Nosso maior desafio não é a Copa nem a Olimpíada, é
atender ao aumento da demanda normal e as pessoas que já estão voando”, afirma
Murilo Marques Barboza, presidente da Infraero, estatal que administra os aeroportos.

Um dos principais entraves no Brasil é que os voos estão concentrados em


determinados horários, como no início e no fim do dia. Se fossem distribuídos de
maneira uniforme, o desconforto seria menor. Na quarta-feira passada, entre 5h e 6h,
1.950 pessoas chegaram do Exterior. Na primeira etapa do desembarque, a imigração,
tiveram de passar pela Polícia Federal. Há 18 guichês nos dois terminais. O que
significa que cada funcionário teve de atender, em média, 108 passageiros que
aterrissaram naquele intervalo. Na outra etapa do desembarque, a da restituição das
bagagens, há 12 esteiras. Entre cada uma delas existem 12 metros de espaço. No
entorno de cada esteira ficaram amontoados, em média, 162 passageiros com seus
carrinhos. Vencida essa fase, considerada por muitos a mais sofrida, ainda é
necessário passar pela alfândega. Nove em cada dez passageiros vão para a ala dos
que não têm “nada a declarar”. Percorrem, em fila única, com seus carrinhos pesados,
um corredor de cerca de dois metros de largura antes de ser liberados. Esse desgaste,
no entanto, não ocorre em certos períodos do dia. Entre 2h30 e 5h da quinta-feira, o
desembarque internacional ficou vazio – às moscas.

O processo de desembarque, em geral, é ainda mais estressante porque os viajantes


passam muitas horas dentro do avião. A professora Marli Roma, 50 anos, aguardava
ansiosa a filha adolescente que chegaria do Canadá, depois de 15 horas de voo.
“Onde você está?”, perguntava pelo celular. “Minhas malas não chegam, mãe.”
Beatriz, 18 anos, levou mais de uma hora para desembarcar. Surgiu esbaforida
empurrando um carrinho pesado. Teve de parar no caminho porque esbarrou numa
porta estreita e derrubou a bagagem.

Cumbica foi projetado com a intenção de operar no mercado doméstico. Mas


rapidamente o governo cedeu às companhias aéreas, que pressionaram para
transferir os voos internacionais do Galeão, no Rio de Janeiro, para São Paulo – o
centro financeiro do País. As áreas de imigração e alfândega tiveram de ser
improvisadas para atender à demanda cada vez maior. A falta de planejamento é
evidente. “Para dar maior celeridade, é necessário alterar a logística e o layout do
desembarque”, opina Seiken Tasoko, inspetor-adjunto da Receita Federal. Para efeito
de comparação: o Aeroporto Internacional Gatwick, em Londres, tem dois terminais e
duas pistas de pousos e decolagens – assim como Cumbica – e atende 50% mais
passageiros. “A diferença é que, em Gatwick, os terminais e o pátio das aeronaves
são mais bem aproveitados e há mais saídas rápidas das pistas”, avalia o comandante
Ronaldo Jenkins, diretor do Snea.

Futuro complicado - Os passageiros sofrerão ainda mais com a Copa do Mundo,


em 2014

Mesmo nos trechos nacionais, em que não é preciso passar pelos controles da Polícia
e da Receita, os passageiros penam. A empresária Gisele Ribeiro, 22 anos, levou
duas horas para fazer o check-in para a capital do Amazonas na noite da quarta-feira.
“Nunca peguei uma fila tão grande em toda a minha vida, que inferno”, reclama.
Segundo Francisco Luiz Xavier de Lemos, presidente do Sindicato Nacional dos
Aeroportuários, parte da lentidão é fruto da falta de fiscalização. “Muitas vezes, há filas
enormes no check-in, e metade dos boxes das empresas aéreas não tem
funcionários”, diz. “As esteiras ficam rodando vazias porque as companhias não
colocam gente para levar as malas.” Para ninguém sair prejudicado, o aeroporto tem
de funcionar como uma orquestra. Se alguém falha, os efeitos são imediatos.
“Cumbica precisa incorporar as melhores ferramentas de gerenciamento de pistas e
terminais”, acredita Respício do Espírito Santo Júnior, presidente do Instituto Brasileiro
de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transporte Aéreo. Segundo ele,
um “choque tecnológico” é fundamental para melhorar a movimentação das aeronaves
e o conforto dos passageiros.

Os viajantes ficam tanto tempo dentro dos aeroportos que muitos deles se
transformaram em shopping centers. Em Cumbica, há 197 pontos comerciais. A
receita bruta, que inclui tarifas aeroportuárias e arrecadação com o comércio, foi de R$
680 milhões no ano passado. Tem de tudo: chaveiro, consultório dentário e até uma
sala ecumênica – onde há uma rosa dos ventos pregada na parede, com o leste
destacado, para orientar os muçulmanos. A professora baiana Deise Viana, 26 anos,
se sentiu obrigada a experimentar uma das cabines do Fast Sleep, uma espécie de
hospedaria expressa. Pagou R$ 145 para dormir entre cinco e oito horas. Deise
voltava do Chile e perdeu a conexão para Salvador porque o voo em que estava foi
desviado para o Rio de Janeiro. Deise esbravejou, mas não teve ajuda da companhia
aérea. Tentou reclamar à Agência Nacional de Avião Civil (Anac). Passava das 22h e
ela deu com a cara na porta. Ainda que Deise quisesse apelar para Deus, também não
conseguiria. Até a sala ecumênica estava fechada.

Em busca de um candidato
Pela primeira vez os movimentos sociais vão divididos para uma eleição e
alguns até defendem voto nulo
Hugo Marques e Sérgio Pardellas

NOVO RUMO
MST já não marcha mais unânime a favor do PT

Desde 1989, era fácil para os movimentos sociais escolherem um candidato a


presidente. O nome de Luiz Inácio Lula da Silva reunia todas as expectativas daqueles
que defendem as bandeiras socialistas ou lutam por questões caras às minorias.
Depois de dois mandatos, porém, o PT – pela primeira vez na história do País – já não
forma mais o consenso justamente entre aqueles que, há 30 anos, desenharam o
mapa de seu DNA. Se algum dado pode mitigar esse desgaste da legenda, lá vai:
nemo PT nem qualquer outro partido. Os movimentos sociais iniciam a campanha de
2010 divididos. Dirigentes de várias organizações ouvidos por ISTOÉ reclamam de
falta de diálogo em torno de propostas para o País e do distanciamento dos
candidatos ao Palácio do Planalto. “Muita gente está defendendo o voto nulo”, revela
dom Tomás Balduíno, representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT) – entidade
que, desde sua origem, é quase um sinônimo de PT. Dom Tomás é avesso aos
projetos do PSDB de José Serra, mas também não vê sentido em se alinhar à
candidatura da ministra Dilma Rousseff. “A posição do pessoal é não votar na
candidata do Lula, pois não há diferença com o governo do Fernando Henrique
Cardoso”, diz. Além da decepção por assistir Lula sustentar o que consideram o
mesmo programa econômico “neoliberal” de FHC, os movimentos sociais têm pouca
identificação com Dilma – coisa que com Lula ocorria de forma natural. No Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), muitos que sempre estiveram abraçados
a Lula não têm nenhum diálogo com Dilma.
“Não conheço a Dilma pessoalmente”, diz Gilmar Mauro, um dos principais ideólogos
do MST. “Nas reuniões com o Lula, ela nunca participava.” O coordenador nacional,
João Pedro Stédile, deve participar da elaboração de uma pauta única de
reivindicações dos movimentos sociais e das centrais para ser entregue aos
candidatos. Entre alguns militantes do MST, há muitos que votam em Marina Silva. O
descontentamento na CPT, no MST e no Movimento de Atingidos por Barragens
(MAB) tem origem nas obras do PAC, principalmente nas hidrelétricas, que segundo
eles expulsam ribeirinhos, índios e sem-terra. A autorização para a construção da
usina de Belo Monte, no rio Xingu, por exemplo, foi comparada nos sites do MST e do
MAB a “mais um presente” do governo Lula para as construtoras. O MST também
reclama do pouco avanço da reforma agrária e da disseminação dos transgênicos.
Nas centrais sindicais, o quadro é semelhante. No dia 27 de janeiro, Lula reuniu-se
com a cúpula do PDT e ouviu reclamações. “Dilma, você não é o Lula, você tem que
se aproximar dos trabalhadores, você está distante dos trabalhadores, dos
movimentos sociais”, pediu o deputado Paulo Pereira da Silva, presidente da Força
Sindical, que reúne 12 milhões de trabalhadores.

“Mas eu já fui à Força Sindical”, respondeu Dilma. “Pôxa, já faz mais de um ano.” A
ministra fez um mea-culpa: “Eu estou longe do movimento social mesmo.” Ela
prometeu que após o Carnaval vai visitar as centrais e as sedes dos movimentos
sociais. Há dificuldade de unificar a Força porque o vice-presidente, Melquíades de
Araújo, é ligado ao tucano Geraldo Alckmin e defende o apoio a Serra. Na União Geral
dos Trabalhadores, o presidente Ricardo Patah, que no passado chegou a ser vaiado
entre os pares por apoiar Lula abertamente, agora prega uma consulta a todos os
candidatos. “Vamos conversar com o Serra e a Dilma, em torno de um projeto de
inclusão social e uma revolução na educação”, diz Patah. “Queremos discutir política
de salário mínimo, terceirização e lucro de resultados.” A única central que defende
voto só em Dilma abertamente é a Central Única dos Trabalhadores (CUT), com sete
milhões de filiados. “Sabemos quem não queremos de volta”, diz o presidente da CUT,
Artur Henrique da Silva Santos. Com a intenção de atrair seus tradicionais aliados, o
governo abriu o saco de bondades.
O Incra fechou convênio com a Confederação de Cooperativas de Reforma Agrária do
Brasil, investigada por desvio de recursos públicos. O vencimento do convênio é só
em 2012. O Ministério da Saúde presenteou o MST com uma participação no Grupo
da Terra, para formular políticas para o campo. Detalhe: mesmo sem CNPJ, o MST
está na portaria publicada em dezembro no “Diário Oficial da União”.

Guerra morna
Obama enfrenta a China e sofre ameaças. Parece sério. Mas não é, pois a
economia dos dois países depende de paz e parceria
Claudio Dantas Sequeira

INTERDEPENDÊNCIA
Obama e Jintao: briga tem limite

A visita do dalai-lama a Washington, prevista para ocorrer este mês, provocou tensão
nas relações entre os Estados Unidos e a China. Pequim considera o líder tibetano um
separatista e vê no encontro dele com o presidente Barack Obama uma afronta grave.
Num encontro privado com Obama, em novembro, o presidente chinês, Hu Jintao,
expressou “resoluta oposição” à presença do religioso em solo americano, o que,
segundo ele, só fomentará o tumulto e a divisão. Na quarta-feira 3, o porta-voz da
chancelaria chinesa fez uma ameaça velada. “Nós apelamos aos EUA que
compreendam a grande sensibilidade da questão tibetana e lidem com o problema de
maneira prudente e apropriada, para evitar danos adicionais às relações”, afirmou. O
apelo, no entanto, não encontrou eco do lado americano. Obama fez que não ouviu e
prometeu endurecer a relação, com ênfase na agenda comercial. “O enfoque que
adotamos é ser muito mais firmes na aplicação das regras existentes”, disse o
presidente a senadores democratas. “A relação bilateral, que com a posse de Obama
prometia avançar, acabou retrocedendo e está em uma fase muito crítica. Talvez o
pior momento em muito tempo”, avalia o historiador Severino Bezerra Cabral,
presidente do Instituto Brasileiro de Estudos de China Ásia-Pacífico.

Ele lembra que, além da questão do dalai- lama e da censura ao Google, o diálogo
entre Washington e Pequim sofreu outro recente abalo numa área sensível que é a
militar. Há cerca de uma semana, os EUA anunciaram a venda de US$ 6,4 bilhões em
armas para Taiwan. Cabral explica que Tibete e Taiwan são temas sensibilíssimos
para a China, e no passado já levaram a crises muito sérias. David Shambaugh,
especialista em China da George Washington University, acha que parte do problema
está na própria diplomacia chinesa. “Eles têm se tornado muito truculentos, às vezes
estridentes, às vezes arrogantes, sempre difíceis”, diz. Segundo ele, esse
posicionamento tem praticamente inviabilizado a execução dos objetivos do
memorando assinado por Obama e Jintao em novembro. Para Lytton Guimarães,
coordenador do Núcleo de Estudos Asiáticos da UnB, a tendência é que as relações
entre EUA e China continue a sofrer altos e baixos. “Mas não acho que essa dinâmica
possa piorar, pois uma ruptura seria catastrófica para ambos os lados, com
consequências para todo o planeta.” Ele se refere à interdependência entre as duas
nações. Se por um lado a China é a maior detentora de títulos da dívida americana,
por outro o mercado consumidor dos EUA é o principal destino das exportações
chinesas. Ou seja, China e EUA estão no mesmo barco e só lhes resta remar na
mesma direção.

A esperança é o "chapéu chinês"


Mesmo com os reservatórios das hidrelétricas cheios, o sistema elétrico acionou
as usinas termelétricas, pois as linhas de transmissão de Itaipu estão
encharcadas. Elas vão ganhar proteção extra

PROTEÇÃO AO ISOLADOR
Chapéus chineses, semelhantes ao da foto, serão
instalados na linha de transmissão que deu origem ao
último apagão

As chuvas que já causaram tanta destruição neste verão têm ao menos um aspecto
positivo: poucas vezes os reservatórios das usinas hidrelétricas brasileiras estiveram
tão cheios. É a garantia de que será possível produzir energia elétrica barata e em
abundância nos próximos meses. Os reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste
estão com 77% de sua capacidade ocupada. No Nordeste, o índice chega a 71%; no
Norte, a 91%; e, no Sul, à incrível marca de 97%. É muita água estocada, pronta para
fazer girar as turbinas das hidrelétricas e iluminar o país. Apesar desse quadro
generoso, surpreendeu na semana passada o anúncio do Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS), órgão que controla a geração de energia elétrica no Brasil, de
que será preciso acionar usinas termelétricas - que produzem energia com a queima
de combustíveis fósseis, como óleo diesel, gás e carvão - para manter a oferta de
energia num nível adequado. Se há tanta água armazenada, por que apelar às
térmicas? Normalmente, essas usinas só são acionadas quando o nível dos
reservatórios das hidrelétricas está muito baixo. Em situações normais, as
termelétricas ficam desligadas, porque sua energia é mais cara do que a de origem
hídrica e seu impacto ambiental, maior, pois sua operação produz gás carbônico.

Para entender a necessidade de colocar as termelétricas para operar, é preciso


analisar, em primeiro lugar, a demanda. Nunca se consumiu tanta energia elétrica no
Brasil como agora. Na semana passada, o recorde histórico de consumo foi quebrado
quatro vezes. Na quinta-feira 4, às 14h49, a demanda nacional por energia chegou à
marca de 70 654 megawatts. O pico de consumo está diretamente atrelado ao calor: a
temperatura média registrada no país em fevereiro já está 2 graus acima da marca de
2009. Isso reduz a eficácia dos sistemas de transmissão elétrica. Com o calor forte,
parte da energia elétrica se dissipa enquanto está sendo transmitida. Estima-se que,
atualmente, 4% de toda a energia brasileira se perca dessa forma. Além disso, os
termômetros em alta fazem as pessoas aumentar a potência de seus aparelhos de ar
condicionado, um dos maiores sorvedouros de eletricidade que se conhece. O
consumo vai às alturas. Por fim, há o enorme impacto do que os técnicos chamam de
"frio industrial": os aparelhos usados em larga escala para refrigerar produtos
comestíveis em abatedouros, frigoríficos e supermercados Brasil afora. Quanto mais
alta é a temperatura média registrada em um ambiente, maior será a quantidade de
energia necessária para manter, por exemplo, um carregamento de carnes congelado.

Mas, além da demanda recorde, o Brasil está enfrentando outro problema: a oferta de
energia para a Região Sudeste diminuiu significativamente no último mês. O principal
linhão que leva energia da usina de Itaipu até São Paulo está operando com metade
de sua capacidade. Em vez de entregar 6 000 megawatts à capital, o fornecimento tem
ficado pouco abaixo de 3 000 megawatts. É a mesma linha que foi atingida por três
curtos-circuitos em novembro passado, dando início ao maior apagão da história do
país. Apesar de continuar insistindo na exótica hipótese de que a falha pode ter sido
causada por três raios simultâneos, o governo, discretamente, decidiu investir em
manutenção. Mais de 100 isoladores de cerâmica estão sendo trocados nas linhas de
alta-tensão. Foram esses equipamentos que falharam em novembro. Como há a forte
suspeita de que isso ocorreu porque eles estavam encharcados pela chuva, será
colocado em cima de cada um deles um chapéu chinês, espécie de cone isolante que
fará as vezes de guarda-chuva nas próximas tempestades. Essa operação de troca e
a manutenção se estenderão até maio - quando deve arrefecer a onda de calor. Até lá,
teremos reservatórios cheios e usinas termelétricas em ação.
Dilúvio... 45ºdia

Há um mês e meio, os 11 milhões de habitantes de São Paulo vivem um drama que


parece não ter fim – nem solução. Diariamente, a cidade é castigada por temporais
intensos, que duram em torno de duas horas e instauram o caos. A chuva causa
congestionamentos monstruosos no trânsito, deixa bairros inteiros alagados e sem
eletricidade, derruba casas e árvores e, até a sexta-feira passada, havia provocado a
morte de 14 pessoas, carregadas pela enxurrada, vítimas de desabamentos ou queda
de árvores. Em janeiro, o volume de água que se abateu sobre São Paulo foi de 480,5
milímetros. Isso representa o dobro da média histórica de janeiro e o maior volume
registrado desde 1947 nesse mesmo mês. São Paulo é o epicentro das chuvas
torrenciais que atingiram também outras áreas do Sul e do Sudeste do país. São Luiz
do Paraitinga, cidade paulista no alto da Serra do Mar, foi devastada por uma
enchente que destruiu dezenas de construções do século XVII tombadas pelo
patrimônio histórico. Também no interior paulista, Campinas, Sorocaba, São José do
Rio Preto e Atibaia sofreram com os temporais. Em Angra dos Reis, no estado do Rio,
deslizamentos de terra causados pela chuva no Ano-Novo soterraram casas e
mataram 53 pessoas. Deu-se o recorde de extensão de deslizamentos em encostas
de mata preservada na história da cidade.

No Rio Grande do Sul, cidades com volume de chuva médio de 100 milímetros no mês
de janeiro, como Santa Maria, Santiago e São Luiz Gonzaga, foram castigadas com
índices de 400 milímetros. A lavoura de arroz gaúcha sofreu perda de 1 milhão de
toneladas de grãos, o suficiente para suprir a demanda do Brasil inteiro por um mês.
Em Minas Gerais, nada menos que 52 cidades decretaram situação de emergência
por causa da chuva. Em nenhuma cidade, contudo, os efeitos da chuvarada foram
sentidos de forma tão constante quanto em São Paulo, a maior cidade do Hemisfério
Sul e polo econômico que produz 12% do PIB do Brasil.

O brasileiro que vive no Sul ou no Sudeste está habituado às previsíveis chuvas de


verão. Mas não a essa cortina de água que se repete dia após dia como se fosse uma
reedição do dilúvio bíblico (que, por sinal, se prolongou por quarenta dias, tempo já
ultrapassado pelo dilúvio paulistano). A pergunta que todos se fazem é por que chove
tanto em um único lugar. A resposta mais curta é que existe uma conjunção
excepcional de fatores meteorológicos, cada um deles contribuindo para a
continuidade do aguaceiro. Já a devastação que as águas provocam, por meio de
alagamentos e enxurradas, é também consequência do perfil geográfico da cidade e
das características da urbanização conduzida através dos anos. No que diz respeito à
meteorologia, a chuva resultou de três fenômenos. O primeiro é o fluxo de ar úmido
que todo ano segue da região amazônica em direção ao Centro-Oeste, Sul e Sudeste
do Brasil. Esse fluxo é intensificado pela evaporação das águas do Oceano Pacífico
na região equatorial e do Oceano Atlântico no Caribe. Pois bem. Neste verão, o efeito
El Niño aqueceu as águas do Pacífico equatorial em 2 graus. As águas do Caribe, por
sua vez, também estão 1 grau mais quentes. A maior temperatura aumentou ainda
mais a intensidade da umidade vinda do Norte, tornando-a mais propensa a provocar
chuvas fortes.

O segundo fator que concorreu para a formação de temporais em São Paulo e no


Sudeste foi o aquecimento do Atlântico – em 1,5 grau – na sua porção próxima à costa
do Sudeste brasileiro. Isso faz com que a brisa marinha que chega ao planalto
paulista, onde se localiza a capital, favoreça a ocorrência de fortes pancadas de
chuva, principalmente no fim da tarde. O terceiro fator é o calor na cidade de São
Paulo em janeiro. As temperaturas foram mais altas que a média do mês de janeiro
nas últimas seis décadas. O calor favorece o aquecimento do solo, que por sua vez
esquenta o ar. Este fica mais leve e sobe, formando nuvens carregadas. É um ciclo
infernal de retroalimentação.

As chuvas fortes não causariam tantos problemas em São Paulo caso a cidade tivesse
sido preparada para elas. Na virada do século XIX para o XX, impulsionada pela
riqueza produzida pelo café e pelas indústrias, São Paulo deixou de ser uma vila
provinciana para assumir sua vocação de metrópole. A partir daí, seus governantes
optaram por canalizar boa parte de seus córregos e rios, transformando-os em
galerias pluviais no subsolo da cidade. Sobre essas galerias foram construídas
grandes avenidas, como 9 de Julho, 23 de Maio, Juscelino Kubitschek e Pacaembu.
As galerias subterrâneas coletam a água da chuva dos bueiros e a levam para galerias
maiores, que a despejam no Rio Tietê. Nesse processo, as enchentes ocorrem de
duas formas. A primeira é quando o volume de água é maior do que aquele que as
galerias comportam. Nesse caso, a água volta à superfície e causa alagamentos. A
segunda é quando os próprios rios não comportam o volume de água despejado em
seus leitos, e transbordam.

Para retardar a chegada da água aos rios há os chamados piscinões, grandes


reservatórios subterrâneos que hospedam temporariamente as enxurradas. A
quantidade de piscinões em São Paulo, porém, é insuficiente. O lixo jogado nas ruas
também colabora para as enchentes, mas, segundo especialistas, é um fator
secundário. "O problema real é o volume de chuvas em tantos dias consecutivos, que
satura o solo e as galerias", diz o engenheiro Aluisio Canholi, coordenador técnico do
Plano de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê e especialista em drenagem urbana.
A ocupação urbana das várzeas de rios, por sua vez, produz enchentes crônicas.
Quando o volume do rio sobe, devido às chuvas, ele alaga as várzeas naturalmente.
Se essa área estiver ocupada, as casas vão sempre se alagar. É o caso do Jardim
Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, construído às margens do Rio Tietê, que está
há dois meses sob as águas. Para o bairro voltar ao normal é preciso que o nível do
rio abaixe. Como diz a Carta ao Leitor desta edição de VEJA, tragédias como a do
Jardim Pantanal despertam revoltas legítimas na população e fatalmente são
exploradas politicamente. O prestígio popular do presidente americano George W.
Bush entrou em queda livre devido ao modo desastroso com que ele lidou com a
destruição de Nova Orleans pelo furacão Katrina. Veja na página 72 como o PT
pretende usar as enchentes de São Paulo como peça de propaganda política contra o
governador José Serra, provavelmente o candidato da oposição à Presidência da
República.

DESASTRE POLÍTICO Em 2005, George W. Bush revelou-se um presidente de


reação lenta diante do furacão Katrina (à esq). José Serra, governador de São
Paulo, vistoria uma cratera aberta pela chuva na Rodovia Castelo Branco

Não há cidade que passe incólume por chuvas da intensidade das que desabaram
sobre São Paulo neste início de ano. O que os governos podem fazer – e muitas
vezes deixaram de fazer – é encontrar meios de minimizar os danos, evitar
alagamentos prolongados e garantir que a tormenta atrapalhe o mínimo a vida de seus
habitantes. Os especialistas calculam que um único dia de chuvas torrenciais em São
Paulo, com alagamentos, cause um prejuízo de 95 milhões de reais só com
engarrafamentos no trânsito. O engenheiro Aluisio Canholi afirma que 80% do total de
perdas econômicas decorre dos congestionamentos de trânsito. Motoristas,
mercadorias e bens ficam parados no trânsito, ilhados em pontos de alagamento. Nos
outros 20% da conta entram fatores como perdas materiais e desvalorização dos
imóveis situados em áreas sujeitas a inundações. As ações necessárias para
amenizar as enchentes em São Paulo são conhecidas. O secretário municipal de
Desenvolvimento Urbano de São Paulo, Miguel Luiz Bucalem, resume o que é preciso
fazer:

 construir mais piscinões. Na Bacia do Alto Tietê, onde fica a cidade de São
Paulo e outros 35 municípios, há 45 piscinões. Número insuficiente.
 aumentar a permeabilidade da cidade ampliando suas áreas verdes. A terra
dos parques ao longo de córregos e rios absorve a água caso o rio transborde.
 reforçar as galerias que transportam a água da chuva. Em regiões antigas da
cidade, elas são muito estreitas porque foram construídas quando a cidade era
menos urbanizada e havia mais solo para absorver a água.
 transferir para locais seguros os moradores que vivem em áreas de risco,
como o Jardim Pantanal.
 coletar o lixo na hora certa, para que ele não se espalhe pelas ruas com a
chuva.
 usar mais pisos com capacidade de drenagem. Estacionamentos e calçadas
podem ser construídos com pisos que deixem a água da chuva ir para o lençol
freático, e não para os bueiros.

Em 1947, quando ocorreu o recorde pluviométrico num mês de janeiro em São Paulo,
a cidade tinha 2,2 milhões de habitantes e a chuva provocou problemas similares aos
atuais, embora em escala menor. O principal fator pelo qual os relatos de tragédias em
1947 são menores que os registrados hoje é a forma de ocupação da cidade. Com
ruas de terra, várzeas e lagoas pluviais às margens do Tietê, a água da chuva era
mais facilmente escoada e drenada. Poucas horas depois da chuva, portanto, a cidade
voltava ao normal. "Embora a chuva causasse danos, ela não criava pânico na
população, como acontece hoje", diz o geógrafo Adler Guilherme Viadana, da
Universidade Estadual Paulista. Hoje, ao contrário, é compreensível que os
paulistanos encurralados pela água olhem em pânico para as nuvens de chuva no
céu.

O inferno das boas intenções


A prisão de seus captores americanos pouco significa para o bem-estar das 33
crianças haitianas que seriam ofertadas ilegalmente para adoção

ALÍVIO MOMENTÂNEO
Crianças que foram resgatadas quando cruzavam a fronteira (à esq.) e americanos
presos(Laura Silsby, à frente): e agora?

Quase um mês depois do terremoto, o Haiti já soma 212 000 mortos. Para os que
sobreviveram, não há emprego e a comida depende da nem sempre funcional logística
das organizações de ajuda humanitária. O desespero e a falta de horizonte estão
levando muitos pais ou familiares a entregar crianças a estrangeiros na tentativa de
dar a elas algum futuro. Não se conhecem as dimensões dessa prática nem em que
bases ela se processa, embora haja indícios de que as famílias em muitos casos
recebam dinheiro pelos filhos que cedem para adoção. O que se sabe com certeza é
que essas trocas são feitas ao desamparo de qualquer liturgia legal. Isso ficou claro
com a prisão, na sexta-feira passada, 29, de dez americanos que tentavam atravessar
a fronteira do Haiti com a República Dominicana em um ônibus que dividiam com 33
crianças haitianas com idade entre 2 meses e 12 anos. Os menores não tinham
documentos. A operação pareceu inaceitável mesmo em um país com as instituições
em frangalhos e corrupção oficializada. Os americanos se identificaram como
missionários batistas dispostos a correr riscos para aliviar o sofrimento de órfãos
famintos, desidratados e sem esperança. Foram indiciados por sequestro de menores
e associação criminosa e podem pegar até quinze anos de prisão.

As reais intenções dos missionários são alvo de suspeitas - entre elas a de que a
operação tinha objetivo econômico. Laura Silsby é empresária no estado de Idaho,
onde há dez anos administra o PersonalShopper.com, um claudicante serviço de
internet destinado a orientar mulheres a fazer compras. Silsby responde a diversos
processos na Justiça americana por não pagamento de suas dívidas. Ela
desembarcou no Haiti e logo em seguida conseguiu apresentar a diversas famílias seu
plano, batizado de Refúgio Infantil Vida Nova. Prometia levar as crianças para um
orfanato na vizinha República Dominicana. Sua conversa deu resultado. Muitos pais
levaram pessoalmente seus filhos ao ônibus e os assentos foram rapidamente
preenchidos.

O sucesso da operação, soube-se mais tarde, se deveu aos falsos argumentos, todos
muito convincentes, usados pelos americanos. Aos pais, disseram que seu trabalho
estava autorizado pelo governo haitiano. Deram-lhes a garantia de que poderiam
visitar as crianças na República Dominicana quando quisessem. O mais provável é
que não tivessem a menor intenção de mantê-las em um orfanato, e sim oferecê-las
para adoção como se não tivessem família. Uma evidência forte disso é o fato de os
americanos terem declarado aos policiais haitianos que sua carga humana era
composta apenas de órfãos. Outra mentira. Pelo menos vinte das crianças
embarcadas no ônibus do Refúgio Infantil Vida Nova tinham parentes.

Nenhuma das condições exigidas em uma adoção internacional legal foi cumprida pelo
grupo. Esse processo, quando feito de acordo com as normas, demora em torno de
três anos. As pessoas que querem adotar uma criança são avaliadas por agentes de
serviço social. Os parentes biológicos confiam nas instituições e acompanham os
trâmites. O grupo flagrado na fronteira haitiana desprezava o caminho legal -
demorado e complexo. "A maneira como essas pessoas se conduziram não sugere
que estivessem agindo de boa-fé", diz a advogada Maristela Basso, professora da
Universidade de São Paulo. As 33 crianças aguardam a decisão sobre seu destino,
em Porto Príncipe, capital do Haiti, onde estão sob a guarda da organização europeia
Aldeias Infantis SOS. Disse a VEJA Georg Willeit, pedagogo austríaco daquela
entidade: "Se o governo autorizar, nós as devolveremos a seus pais. Mas, antes,
temos de nos assegurar de que o que se passou com elas não se repetirá". Como
todo inferno, o Haiti está cheio de boas intenções.

Ahmadinejad ordena começo do enriquecimento de urânio a 20%


da Efe, em Teerã

O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou neste domingo que ordenou


ao Organismo da Energia Atômica que inicie o processo de enriquecimento de urânio
a 20% -- percentual acima dos atuais 5%. Em discurso transmitido pela televisão
estatal, o presidente afirmou que essa ordem não significa que seu país tenha
renunciado à negociação sobre suas instalações nucleares.

"Iniciem o enriquecimento do urânio a 20%, enquanto nós estamos dispostos a


negociar para a troca de combustível nuclear", disse o líder ao presidente do citado
organismo, Ali Akbar Salehi, presente no ato. Ahamdinejad se referiu ao prazo de dois
meses dado pelo Irã ao Ocidente para resolver a queda-de-braço nuclear e reiterou
que seu país "está disposto a dialogar sobre a troca de combustível nuclear". "Nós
começamos (o enriquecimento), embora o caminho da negociação continue aberto",
destacou. Além disso, ele revelou que os cientistas iranianos conseguiram
desenvolver uma tecnologia que permite enriquecer o urânio através da técnica laser.

"O laser permite separar os átomos, o que significa que pode servir para enriquecer o
urânio com o grau que um queira... Mas por enquanto não pensamos utilizar este
método de enriquecimento", explicou. "Para enriquecer o urânio temos centrífugas
que, se Deus quiser, poderemos utilizar para enriquecer 20% e ser autossuficientes",
detalhou.

Queda de braço
As declarações do presidente abrem um novo capítulo na inflamada queda de braço
que o Irã mantém com grande parte da comunidade internacional por causa das
suspeitas levantadas por seu programa nuclear. Países como Estados Unidos, Israel,
França, Alemanha e Reino Unido acusam o regime iraniano de esconder, sob seu
esforço atômico civil, um projeto de natureza clandestina e aplicações bélicas cujo
objetivo seria a aquisição de um arsenal nuclear, alegação que o Irã rejeita.

O conflito se agravou no final do ano passado depois que Teerã rejeitou uma proposta
de Washington, Paris e Moscou para enviar seu urânio a 3,5% ao exterior e recuperá-
lo tempo depois enriquecido a 20%, nas condições necessárias para manter
operacional seu reator nuclear civil na capital. Em uma aparente mudança de postura,
Ahmadinejad assegurou na terça-feira passada que seu país não tem problema algum
em enviar o urânio ao exterior. A declaração conseguiu abrir de novo a brecha entre
as grandes potências, e em particular entre Washington e Pequim, que mantêm
posturas divergentes sobre a polêmica.

Os EUA pressionava há meses para conseguir que todos os membros permanentes


do Conselho de Segurança das Nações Unidas respaldem um endurecimento das
sanções políticas e econômicas ao regime dos aiatolás. O Departamento de Estado
americano pediu ao Irã para deixar de lado a incerteza e dar uma resposta definitiva e
precisa à questão. A China assinalou que as palavras de Ahmadinejad significam que
ainda existem possibilidades de conseguir uma saída diplomática à crise. No entanto,
parece que o presidente iraniano aposta no discurso mais duro. "Utilizam a tecnologia
para subjugar os povos. Acreditam que a ciência é monopólio seu", acrescentou.

Operadoras têm a primeira reunião com governo para tratar de banda larga

Empresas de telefonia estiveram reunidas com o governo para discutir o Plano


Nacional de Banda Larga. Foi a primeira vez que as operadoras foram convidadas
para discutir o plano federal de universalização da internet em alta velocidade. A
secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, e o coordenador de Inclusão
Digital da Presidência da Republica, Cezar Alvarez, apresentaram o plano e ouviram
perguntas e colaborações das empresas para o modelo de negócios. Os empresários
saíram otimistas da reunião. "Estamos tranquilos, é bom ter a oportunidade de
dialogar e criar soluções para a sociedade", afirmou Antonio Carlos Valente,
presidente da Telefônica.

Não foi definida durante a reunião a reativação da Telebrás, nem foi comentado se ela
atuará no mercado. O consenso entre as empresas é que haja condições iguais, tanto
para o governo como para as empresas, de competição no setor. Luiz Eduardo Falco,
presidente da Oi, concordou com o plano do governo de usar todos os ativos em fibra
ótica que tem e se limitou a falar que "Telebrás é uma hipótese". Para Falco, o
encontro foi importante para o setor dar sua colaboração. "Devemos contribuir para
que o modelo funcione da melhor forma", disse. Erenice e Alvarez se reunirão com
provedores de internet para tratar do mesmo assunto.

O Plano Nacional de Banda Larga demandará entre R$ 3 bilhões e R$ 14 bilhões até


2014, afirmou Cezar Alvarez, coordenador de Inclusão Digital da Presidência da
República. A estimativa da Presidência é bastante inferior ao plano do Ministério das
Comunicações, que prevê R$ 79 bilhões de investimento. Alvarez frisou que a
reativação da Telebrás ainda não foi decidida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Volto a insistir que falar em Telebrás foi muito mais um eufemismo, um cacoete, que
inclusive pode ter problemas na Comissão de Valores Mobiliários, na medida em que é
uma empresa cotada com ações na Bolsa de Valores", afirmou.

Em uma reunião para discutir o plano de banda larga, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva afirmou ter a intenção de reativar a Telebrás. Estava presente na reunião o
coordenador do programa Software Livre Brasil, Marcelo Branco, que divulgou aspas
do presidente sobre a sua decisão de reativar a empresa. Alvarez não descarta,
contudo, a reativação da estatal. "É preciso uma empresa de gestão desses ativos [de
fibras ópticas], com papel regulador, a partir principalmente da interconexão com as
redes existentes. A reativação da Telebrás é uma das opções", afirmou.
A Telebrás, ou qualquer outra empresa gestora da rede de fibras, poderá atuar de
forma competitiva no mercado. "Não queremos ser mais uma empresa competindo no
mercado. Mas se é para que o mercado seja regulado de forma melhor, nós viramos
um ator do mercado", disse Alvarez. A proposta do plano de banda larga é que o
governo intervenha onde o mercado está atuando de forma "imperfeita, monopolista e
a preço exorbitante", nas palavras de Alvarez. "Temos um mercado imperfeito. A este
mercado imperfeito, o governo vai tratar de ver os seus elementos regulatórios", disse.

Vídeo reforça suspeita de suborno no Distrito Federal

Um vídeo que está sendo periciado pela Polícia Federal reforça a suspeita de que o
governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido), ofereceu R$ 1
milhão para uma testemunha depor a favor dele no inquérito do mensalão do DEM.
Segundo a reportagem, na gravação, um ex-secretário do Distrito Federal, próximo ao
governador, afirma ter ouvido Arruda dizer que precisava da "ajuda" da testemunha, o
jornalista Edson Sombra.

Sombra gravou o vídeo e o entregou à PF afirmando ser prova da tentativa de suborno


por parte do governador. O ex-secretário de Comunicação Weligton Moraes aparece
no vídeo conversando com Sombra sobre o repasse de R$ 1 milhão em troca de um
depoimento favorável a Arruda. No diálogo, o jornalista comenta com Moraes que
temia ser alvo de "armação" de Arruda e pergunta se o ex-secretário levou a
preocupação ao governador. A Folha informa que Moraes conta que Arruda afirmou
não existir armadilha. "Eu é que preciso dele. Estou indo atrás dele porque preciso de
ajuda", disse o governador, segundo relato de Moraes no vídeo. A assessoria de Arruda
disse não ter o que comentar sobre o diálogo. Reiterou se tratar de armação e negou a
participação dele na tentativa de suborno.
Um governador na prisão
Em decisão histórica, a Justiça decreta a prisão de José Roberto Arruda e o
mantém na cadeia. Agora vai decidir quem governará o DF
Hugo Marques e Claudio Dantas Sequeira

1986 Quando assumiu o primeiro cargo no governo do Distrito Federal (à esq.)


2010 Como primeiro governador a ser preso no País por corrupção (à dir.)

No ano do cinquentenário de Brasília, a cidade criada por Juscelino Kubitschek entra


para a história como a primeira unidade da Federação a ter um governador preso por
corrupção. Acusado de obstruir a Justiça, José Roberto Arruda (ex-DEM) foi levado
para uma sala especial da Superintendência da Polícia Federal no final da tarde da
quinta-feira 11. A decisão exemplar do Superior Tribunal de Justiça, que por 12 votos
a 2 mandou Arruda para a cadeia, tornou-se um novo marco. Mergulhada por mais de
dois meses no escândalo que abalou o governo do Distrito Federal, a população de
Brasília tirou um peso de suas costas na noite da quinta-feira. Os mesmos
manifestantes que antes gritavam “Fora, Arruda”, pelas ruas da cidade, passaram a
exigir “Fica, Arruda”, desta vez na frente da Polícia Federal. “A força da sociedade civil
e das instituições venceu a corrupção”, comemorou o presidente nacional da OAB,
Ophir Cavalcante. “O País começa finalmente a respirar um ar puro e livre do gás
venenoso das fraudes”, acredita ele. O destino de Arruda foi selado no segundo andar
do edifício principal do STJ, em sessão da Corte Especial, que se reuniu para
referendar a decisão do ministro Fernando Gonçalves, a favor do pedido de prisão
apresentado pela subprocuradora da República Raquel Dodge.

Pela gravidade do fato – Arruda foi acusado por Dodge de obstruir a Justiça ao tentar
subornar o jornalista Edson Sombra –, Gonçalves abriu mão da decisão monocrática e
submeteu seu voto à corte do STJ integrada por 15 ministros. Seu colega Nilson
Naves argumentou que o tribunal não tinha competência para decretar a prisão do
governador sem o prévio respaldo da Câmara Legislativa, mas foi vencido. Os demais
ministros – à exceção de Teori Zavascki e do presidente Cesar Asfor Rocha, que não
votou – apoiaram Gonçalves. Confirmada a prisão de Arruda, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, preocupado com a exposição pública do governador, pediu ao ministro
da Justiça, Luiz Paulo Teles Barreto, que Arruda não fosse submetido aos flashes da
imprensa ao chegar à PF. Destoando do sentimento da população de Brasília, Lula
mostrou-se abatido com a prisão de Arruda e lamentou que o escândalo tivesse
chegado a tal ponto. “Isso não é bom para o País nem para a política brasileira”,
afirmou o presidente. “Não contribui em nada para o desenvolvimento da consciência
política nacional.” O cerco para prender Arruda teve cenas cinematográficas. A PF
colocou um helicóptero e três viaturas nas proximidades da residência oficial de Águas
Claras, onde mora o governador, para evitar sua fuga. A partir dali, as equipes de
policiais tratavam Arruda de “alvo”, como chamam as pessoas que serão presas.
Foram horas de tensão e ansiedade. Arruda, que vivia uma espécie de retiro domiciliar
após as denúncias, ligou para a mulher, Flávia, para avisá-la que almoçaria com um
dos advogados, José Gerardo Grossi. O governador ainda foi alertado pelo seu
secretário de Transportes, Alberto Fraga, sobre boatos da prisão.

“Não existe isso”, sorriu Arruda. No momento em que comia uma paleta de cordeiro
com fetuccine na Trattoria da Rosário, no Lago Sul, o governador viu pela tevê a
decretação de sua prisão. Não deu tempo para a sobremesa. Arruda foi para a
residência oficial de Águas Claras e pensou em se esconder até que o STF julgasse
seu recurso. Ligou para o advogado Nélio Machado, que lhe disse para manter a
calma. Às 17h19, o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, recebeu um
telefonema. “O governador quer se entregar”, disse do outro lado da linha o secretário
de Segurança Pública do DF, Valmir Lemos, que é também delegado federal. “Tudo
bem. Ele pode ir para o edifício-sede da PF ou para a Superintendência”, respondeu
Corrêa. Negociada a rendição, um comboio de seis carros oficiais com vidros escuros
ingressou na Superintendência, no Setor Policial Sul às 17h45. Também tiveram a
prisão decretada o ex-deputado Geraldo Naves, o secretário de Comunicação do DF,
Weligton Moraes, o diretor de operações das Centrais Elétricas de Brasília, Haroaldo
Brasil de Carvalho, e de Rodrigo Arantes, sobrinho e secretário particular do
governador. Inconformado, Nélio Machado, advogado de Arruda, afirmou que “a prisão
foi ilegal e antidemocrática, pois o governador não teve direito de defesa”. Segundo
ele, “trata-se de uma pena antecipada, sem processo legal”. Arruda, por sua vez, disse
que foi alvo de perseguição política. “É uma grande maluquice o que está
acontecendo”, comentou Arruda com um assessor, antes da prisão. Como último
recurso, Machado entrou com um pedido de habeas corpus no STF. O pedido foi parar
nas mãos do polêmico ministro Marco Aurélio Mello, que varou a madrugada
estudando o caso. Na manhã da sexta-feira 12, Mello sinalizou à ISTOÉ que sua
decisão seria dura:

PIVÔ - Sombra: reação de Arruda foi cercear as investigações

“A lei submete a todos”. Horas depois, negou o habeas corpus. Assim que foi preso,
Arruda ligou para o vice-governador Paulo Octávio. “Estou me entregando, você
assume o governo.” Paulo Octávio acompanhou tudo no escritório de seu advogado,
Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Foi ali que o vice montou a estratégia de
anunciar que não será mais candidato nas próximas eleições, na tentativa de
tranquilizar os adversários. Essa decisão funcionou também como um recado sobre a
gravidade do momento aos seus seguidores, que ensaiavam uma cerimônia de posse.
O vice, no entanto, também está envolvido no escândalo do mensalão do DEM. O
delator Durval Barbosa diz que Paulo Octávio ficava com 30% da propina arrecadada
pelo esquema de corrupção. A permanência de Paulo Octávio no cargo está
ameaçada. Vai depender do desfecho do pedido de intervenção federal no GDF,
apresentado ao STF pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Ele afirma
que há no governo de Brasília uma organização criminosa, que contamina toda a linha
sucessória de Arruda. “Não há dúvida de que o governador era o mandante da
tentativa de corromper testemunhas”, diz Gurgel. “Se for posto em liberdade e
permanecer no governo, continuaremos tendo a máquina pública do DF a serviço do
crime.” O pedido de Gurgel será julgado pelo presidente do STF, ministro Gilmar
Mendes, logo após o Carnaval. Mesmo que recupere sua liberdade, Arruda não tem a
pretensão de reassumir seu cargo. Foi o que ele revelou ao secretário Fraga, em
conversa na prisão. “A intenção do Arruda é esperar a conclusão do inquérito para
voltar ao governo. Inquérito tem prazo para acabar, são 30 dias quando o réu está
preso”, revelou Fraga à ISTOÉ. Como a prisão de um governador é fato inédito no
País, a PF teve de alojar Arruda no gabinete do diretor técnico-científico da PF, Paulo
Roberto Fagundes, uma sala de pouco mais de 20 metros quadrados, com mesa, sofá
e banheiro.

À noite, Arruda pediu um lanche do Habib’s, lanchonete especializada em quibes e


minipizzas. Na sala especial transformada em cela, Arruda reclamou da celeridade da
Justiça. “O ministro-relator recebeu o pedido de prisão da procuradora às 13 horas,
apresentou o voto dele às 14 horas, convocou uma reunião do STJ às 15 horas e a
prisão saiu às 17 horas”, disse Arruda a um auxiliar. Antes de entrar na sala-cela,
Arruda redigiu uma carta, para reclamar que jamais foram vistas medidas coercitivas
de tamanha gravidade, nem no mensalão do PT ou no impeachment de Fernando
Collor. Mas o ex-presidente nacional da OAB, Cezar Britto, pensa muito diferente: “É
importante que se perceba no Brasil que a lesão ao Erário e a obstrução à Justiça são
crimes graves”, disse Britto. Se a prisão foi célere, a conclusão do inquérito do STJ
ainda vai se arrastar por muito tempo. Há várias denúncias contra o mensalão do DEM
que ainda exigirão diligências da PF. O Ministério Público já sabe que existem outras
fontes de corrupção em Brasília para alimentar a ganância dos deputados distritais,
vários deles filmados recebendo propina para votar projetos.

Falta investigar a fraude no abastecimento de milhares de veículos da frota do governo


local, por onde vaza um percentual para os deputados da Assembleia Distrital. O MP
também já sabe que houve fraude na mudança de destinação de terras em Brasília
para valorizar milhares de hectares que a quadrilha quer lotear e vender antes do fim
do governo Arruda. Só depois que a PF deflagrou a operação Caixa de Pandora é que
os promotores de Brasília denunciaram o esquema no TJ local, que não se pronunciou
sobre a revogação da lei do ordenamento territorial fraudada. Apesar do escândalo,
ainda há deputados distritais que se preocupam em livrar a cara de Arruda. E
levantam uma celeuma jurídica, ao afirmar que a prisão do governador depende da
autorização da Câmara Distrital, que lhe é dócil. Ainda não entenderam que o País
não está mais disposto a aceitar filigranas jurídicas para impedir a punição de políticos
que perdem o rumo e a compostura.

O cerco se fecha
Ahmadinejad enfrenta o mundo com sua política nuclear e o Brasil fica isolado
como o único defensor do iraniano

Claudio Dantas Sequeira


SANÇÕES
Ahmadinejad em usina iraniana: sem chance de acordo com potências mundiais

O Irã ainda não tem capacidade técnica para construir a bomba, mas a decisão de
elevar o teor do enriquecimento de urânio de 5% para 20%, anunciada pelo presidente
Mahmoud Ahmadinejad na terça-feira 9, deixou a comunidade internacional em estado
de alerta. Se fosse um Estado democrático, com amplas liberdades civis e total
transparência em seu programa nuclear, provavelmente seria possível evitar sanções
“enérgicas” como as que estão sendo defendidas pelos Estados Unidos e pela França.
Mas ocorre o contrário. Há pouco mais de quatro meses, descobriu-se que Teerã
construiu em segredo uma usina de enriquecimento de urânio. Para piorar, desde que
foi reeleito num pleito questionado por setores da população, Ahmadinejad tem
endurecido as medidas de controle social e abusado da violência contra
manifestantes. A intransigência dificulta a busca por uma saída pacífica e isola o Brasil
como único defensor da tese contrária a punições a Teerã. “Não sou ingênuo a
respeito das dificuldades de um acordo. Mas o outro caminho, o das sanções, foi
perseguido nos casos do Iraque e do Irã sem nenhum efeito prático”, diz o ministro das
Relações Exteriores, Celso Amorim. Para o chanceler, o povo iraniano será o mais
prejudicado pelas restrições econômicas.
“A intenção brasileira é louvável, mas as janelas de oportunidade estão se fechando
por culpa do próprio presidente iraniano”, afirma Valerie Lincy, pesquisadora do
Wisconsin Project sobre controle de armas nucleares. Com o gesto desafiador,
Ahmadinejad praticamente sepulta o plano que vinha sendo negociado no âmbito da
Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), ligada à ONU. Pela fórmula, aceita
pelas potências negociadoras (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha),
o Irã enviaria 85% de seu estoque de urânio para Rússia e França, onde seria
enriquecido a um nível adequado para fins medicinais. Inicialmente, Teerã pareceu
concordar com a fórmula, mas depois recuou. “Temos que concordar que o acordo
está morto”, diz Valerie. Como ISTOÉ revelou em novembro, a possibilidade de que o
urânio fosse enriquecido no Brasil, um país neutro, chegou a ser considerada pelos
iranianos. Mas o governo brasileiro declinou, basicamente por falta de capacidade
técnica. A produção atual é insuficiente para abastecer as usinas de Angra 1 e 2 e o
plano de expansão do setor nuclear prevê ainda a criação de mais usinas e a
construção de fábricas de radioisótopos, tecnologia que movimenta bilhões num
mercado dominado pelas mesmas potências que tentam punir o Irã.

Modelo falido
Após anos de farra fiscal e distribuição de benesses sem controle, a Europa
agora precisa pagar a conta da irresponsabilidade

No símbolo do euro, as duas linhas paralelas representam a estabilidade do mundo


europeu. Mas, na semana passada, a moeda comum europeia sofreu o maior ataque
especulativo de seus 11 anos, provocado pela tempestade econômica que se instalou
no Velho Continente. A tensão na Zona do Euro é tão forte que nos Estados Unidos e
na Inglaterra economistas passaram a usar a sigla PIGS (porcos, em inglês) para
ridicularizar Portugal, Itália, Grécia e Espanha. No início do ano, bancos italianos,
entre eles o Unicredit, pediram que a Irlanda substituísse a Itália no I. Mas o efeito foi
contrário e a sigla ganhou na Irlanda um novo integrante e se tornou PIIGs. O fato é
que o mercado não perdoa os pecados cometidos pela União Europeia, que aglutinou
açodadamente sob seuguarda-chuva países de fundamentos econômicos frágeis. “Os
países emergentes da Europa tiveram almoço grátis nos últimos 18 anos”, afirma o
economista- chefe do Bradesco, Octávio de Barros. “Eles se acomodaram em torno
dos benefícios extraordinários, mas sem ajustar suas economias. Nos anos dourados,
de 2003 a 2007, os problemas fiscais tinham importância mínima, agora eles são
explícitos.” O governo da Grécia, por exemplo, só cumpriu as metas do Tratado de
Maastricht, que regulamenta a Zona do Euro, ao ingressar no bloco em 2002. Para
tranquilizar a Alemanha e a França de que eles não teriam que socorrer outros países
do bloco, o tratado fixou critérios como inflação de 1,5%, déficit menor que 3% do PIB
e dívida pública menor do que 60% do PIB.
AJUDA - Papandreou, da Grécia, e Zapatero, da Espanha, discutem saídas para a
crise em seus países

Acontece que a própria União Europeia passou por cima dessas regras para expandir
o bloco na tentativa de torná-lo mais influente do que os Estados Unidos. Seus
dirigentes esqueceram, porém, que os EUA têm administração única, ao contrário do
bloco europeu, que, apesar de ter unificado a política monetária (inflação e juros),
possui variadas políticas fiscais (receita e despesa). No ano passado, a festa acabou e
o déficit fiscal da Grécia foi quatro vezes maior, com a dívida pública multiplicada por
dois. O país precisa de 55 bilhões de euros este ano para refinanciar sua dívida e
manter a máquina pública funcionando. “Portugal, Grécia, Itália e Espanha crescem
pouco e têm um gasto social muito grande. Para eles, é difícil reduzir os gastos,
principalmente com a economia desacelerada”, explica o economista sênior do
Santander, Cristiano Souza. Uma saída seria desvalorizar o euro para torná-los mais
competitivos e, assim, acelerar o crescimento, mas os países mais ricos não estão
convencidos a depreciar a cotação, hoje em torno de US$ 1,35. Na quinta-feira 11, o
presidente da União Europeia, Herman Van Rompuy, após reunião com a Alemanha e
a França, anunciou um acordo para evitar que a crise fiscal grega acabe em moratória,
pondo em risco a estabilidade do euro. Mas garantiu que o novo pacto exigirá rigor e
determinação do governo de Atenas, com um plano de “austeridade digno dos piores
tempos do FMI”. “A irresponsabilidade fiscal grega nos últimos anos não pode sair
grátis”, afirmou. O plano inclui cortar despesas públicas em 2 bilhões de euros, reduzir
em 30% as horas extras, congelar salários, aumentar a idade de aposentadoria e os
impostos. “Só haverá ajuda se o governo grego levar a cabo as reformas de grande
alcance”, afirmou o ministro da Economia da Alemanha, Michael Meister. “A Grécia é
o ponto mais crítico no curto prazo. Ela precisa recorrer ou à Europa ou ao FMI”,
explica o economista Paulo Nogueira Batista Jr., representante do Brasil e de mais oito
países no FMI.

Os trabalhadores gregos, prevendo momentos sombrios à frente, foram às ruas e


protestaram. A operação de socorro concentrouse na Grécia, porque os demais países
que formam os PIIGS garantiram que não vão dar calote em ninguém. E foram
convincentes. Octávio de Barros considera que é exagero incluir a Espanha no mesmo
balaio que a Grécia. Segundo ele, o problema da Espanha não é fiscal, mas o país
sofre com a bolha imobiliária e a crise na construção civil. Tanto é assim que a
Moody’s, que sacudiu o mercado ao afirmar que todos PIGS (nesse caso sem a Itália)
sofrem do mesmo mal que os gregos, voltou atrás. “Espanha, Portugal e Grécia
podem partilhar a mesma moeda, mas não mostram o mesmo tipo de perfil de crédito”,
ponderou a Moody’s. O risco comum aos PIIGS é o crescimento econômico abaixo de
1%, o déficit fiscal bem acima da meta da eurozona e o desemprego acima de dois
dígitos, com exceção da Itália (8,5%). Na Espanha, o desemprego ficou em 19,5%,
duas vezes maior do que a média mundial. “Há uma crise de confiança grande, tanto
do mercado quanto da Alemanha e da França, porque não têm muito fôlego financeiro
e a conta sempre caiu no colo deles. Os problemas são sérios, mas somente para a
Europa. Não vejo o contágio que ocorreu com a quebra do Lehman Brothers”, diz o
estrategista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani. A crise na Europa pode não
bater na porta do Brasil, mas deixa seu recado.

Em qualquer tempo, com ou sem crise, é preciso fazer o dever de casa. Agir mais
como formiga do que como cigarra. Na Europa, a conta chegou rapidamente, porque
se apostou no aumento do gasto público, como se a política econômica pudesse
passar ao largo da responsabilidade fiscal. Agora, os PIIGS se veem obrigados a
cortar gastos para provar aos credores que têm capacidade de pagamento. E as
potências do Velho Continente estão pagando o preço pelo passo maior do que as
pernas. Mas a lição da União Europeia vale para todo e qualquer país.

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