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As células-tronco, também conhecidas como células-mãe ou células estaminais, são células que
possuem a capacidade de se dividir dando origem a células semelhantes às progenitoras e de se
transformar (num processo também conhecido por diferenciação celular) em outros tecidos do corpo,
como ossos, nervos, músculos e sangue. Devido a essa característica, as células-tronco são importantes,
principalmente na aplicação terapêutica, sendo potencialmente úteis em terapias de combate a doenças
cardiovasculares, neurodegenerativas, diabetes tipo-1, acidentes vasculares cerebrais, doenças
hematológicas, traumas na medula espinhal e nefropatias. O principal objetivo das pesquisas com
células-tronco é usá-las para recuperar tecidos danificados por essas doenças e traumas. São
encontradas em células embrionárias e em vários locais do corpo, como no cordão umbilical, na medula
óssea, no sangue, no fígado e na placenta.
Tipos
As células-tronco podem ser de dois tipos: adultas e embrionárias. As células-tronco adultas podem ser
encontradas nos mais variados tecidos do corpo, sendo as da medula óssea, da placenta e do cordão
umbilical as mais utilizadas. São de grande aplicação na medicina, já estando em estágio de ampla
utilização. Além disso, como as células-tronco adultas são geralmente retiradas do próprio paciente, o
risco de rejeição em sua utilização é muito baixo.
As células-tronco embrionárias são extraídas dos embriões e acredita-se que elas podem se transformar
em qualquer outra célula. As células-tronco adultas são mais limitadas, podendo apenas gerar tecidos
específicos. Devido a essa limitação acredita-se que as células-tronco embrionárias sejam mais
eficientes. Contudo, as pesquisas com esse tipo de células ainda é incipiente e elas têm uma chance
muito maior de causar rejeição ou até tumores em relação às células-tronco adultas.
As células-tronco ainda se classificam de acordo com o tipo de células que podem gerar:
• Totipotentes: podem produzir todas as células embrionárias e extra embrionárias;
• Pluripotentes: podem produzir todos os tipos celulares do embrião;
• Multipotentes: podem produzir células de várias linhagens;
• Oligopotentes: podem produzir células dentro de uma única linhagem;
• Unipotentes: produzem somente um único tipo celular maduro.
O que são células-tronco? São células encontradas em embriões, no cordão umbilical e em tecidos
adultos, como o sangue, a medula óssea e o trato intestinal, por exemplo. Ao contrário das demais células
do organismo, as células-tronco possuem grande capacidade de transformação celular, e por isso podem
dar origem a diferentes tecidos no organismo. Além disso, as células-tronco têm a capacidade de auto-
replicação, ou seja, de gerar cópias idênticas de si mesmas.
Que avanços as pesquisas científicas com células-tronco podem trazer para a medicina? As
células-tronco podem ser utilizadas para substituir células que o organismo deixa de produzir por alguma
deficiência, ou em tecidos lesionados ou doentes. As pesquisas com células-tronco sustentam a
esperança humana de encontrar tratamento, e talvez até mesmo cura, para doenças que até pouco
tempo eram consideradas incontornáveis, como diabetes, esclerose, infarto, distrofia muscular, Alzheimer
e Parkinson. O princípio é o mesmo, por exemplo, do transplante de medula óssea em pacientes com
leucemia, método comprovadamente eficiente. As células-tronco da medula óssea do doador dão origem
a novas células sangüíneas sadias.
Por que permitir a pesquisa com embriões, se as células-tronco são também encontradas em
tecidos adultos? Porque as células embrionárias seriam as únicas que têm a capacidade de se
diferenciar em todos os 216 tecidos que constituem o corpo humano. As células retiradas de tecidos
adultos têm capacidade de dar origem a um número restrito de tecidos. As da medula óssea, por
exemplo, formam apenas as células que formam o sangue, como glóbulos vermelhos e linfócitos.
O que a Lei da Biossegurança aprovada na Câmara permite? Ela autoriza as pesquisas científicas
com células-tronco embrionárias, mas impõe uma barreira. Poderão ser pesquisados apenas os embriões
estocados em clínicas de fertilização considerados excedentes, por não serem colocados em útero, ou
inviáveis, por não apresentarem condições de desenvolver um feto. O comércio, produção e manipulação
de embriões, assim como a clonagem de embriões, seja para fins terapêuticos ou reprodutivos, continuam
vetados.
Os cientistas podem adquirir os embriões diretamente nas clínicas de fertilização assistida? Sim.
O cientista precisa da autorização do conselho de ética do instituto onde trabalha, como em qualquer
projeto que envolva a manipulação de material humano. Uma vez autorizado, o pesquisador poderá
adquirir os embriões diretamente nas clínicas. Eles deverão estar estocados há mais de três anos e só
poderão ser utilizados com o consentimento dos pais, mediante doação. Atualmente, estima-se que o
país tenha 30.000 embriões congelados.
Qual o motivo da polêmica em torno da lei? Para explorar as células-tronco usando as técnicas
conhecidas hoje, é necessário retirar o chamado "botão embrionário", provocando a destruição do
embrião. Esse processo é condenado por algumas religiões – como a católica - que consideram que a
vida tem início a partir do momento da concepção. Há perspectivas de que no futuro se encontrem
técnicas capazes de preservar o embrião, o que eliminaria as resistências religiosas.
É possível desenvolver uma técnica para obter células-tronco sem precisar dos embriões? Sim.
No início de 2007, cientistas americanos anunciaram a descoberta de uma nova fonte de células
"coringa", extraídas do líquido amniótico, que preenche o útero durante a gravidez. Extraídas e cultivadas
em laboratório, as células deram origem a vários tipos de células diferentes - ou seja, funcionam como
células-tronco. Conforme os cientistas, as células-tronco extraídas do líquido amniótico não são idênticas
às células-tronco embrionárias. Em alguns casos, porém, elas funcionam até melhor, dizem eles. Mas a
gama de aplicações para esse novo tipo de célula-tronco pode ser menor do que no caso das
embrionárias.
Qual é o tamanho do embrião quando as células são extraídas para pesquisas? Até o momento, os
cientistas conseguiram obter células-tronco de blastocistos, um estágio inicial do embrião com apenas
100 células. Um grupo de pesquisadores americanos conseguiu extrair células-tronco de mórulas, que
têm entre 12 e 17 células. Em qualquer caso o embrião é microscópico. As células retiradas são
cultivadas em laboratório, e podem render material para diversos anos de trabalho.
Como é a legislação sobre células-tronco em outros países? Nos Estados Unidos, o tema esteve no
centro dos debates das eleições presidenciais de 2004. Em 2001, o presidente George W. Bush cortou o
financiamento público para as pesquisas, permitidas durante o governo Clinton, mas depois decidiu
permitir o financiamento limitado. A lei brasileira é considerada equilibrada, e está bem próxima da
legislação aprovada há poucos anos em plebiscito na Suíça. Em alguns países, como a Coréia do Sul e a
Inglaterra, a legislação também permite a clonagem terapêutica.
O que o uso de células-tronco tem a ver com a clonagem? A "clonagem terapêutica" consiste na
transferência de núcleos de uma célula para um óvulo sem núcleo. Este óvulo dará origem a um embrião,
do qual se retiram as células-tronco. A vantagem seria evitar a possibilidade de rejeição, caso o doador
seja o próprio paciente. Em caso de portadores de doenças genéticas, há ainda a possibilidade de um
doador compatível. Este tipo de clonagem é diferente da clonagem reprodutiva, que é quando um embrião
clonado é implantado em um útero, com o objetivo de reprodução de pessoas.
8. A megajazida de petróleo e gás de Tupi, na Bacia de Santos, pode resolver o problema do gás
no Brasil?
Ainda é cedo para saber. Por enquanto, a certeza é de que as reservas de petróleo são realmente
gigantes - cerca de 8 bilhões de barris, o que eleva em mais de 50% o estoque brasileiro, atualmente nos
14 bilhões. Mas a Petrobras, responsável pelas pesquisas, ainda não precisou o tamanho das reservas
de gás. De qualquer forma, mesmo no caso do petróleo, os benefícios econômicos da descoberta só virão
literalmente à superfície por volta de 2013, quando deve começar a exploração em escala comercial da
megajazida de Tupi.
Pode-se perceber que tal conceito não diz respeito apenas ao impacto da atividade econômica no meio
ambiente. Desenvolvimento sustentável se refere principalmente às consequências dessa relação na
qualidade de vida e no bem-estar da sociedade, tanto presente quanto futura. Atividade econômica, meio
ambiente e bem-estar da sociedade formam o tripé básico no qual se apóia a idéia de desenvolvimento
sustentável.
Medidas :
a) limitação do crescimento populacional;
b) garantia de alimentação a longo prazo;
c) preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;
d) diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitem o uso de
fontes energéticas renováveis;
e) aumento da produção industrial nos países não-industrializados à base de tecnologias
ecologicamente adaptadas;
f) controle da urbanização selvagem e integração entre campo e cidades menores;
g) as necessidades básicas devem ser satisfeitas.
O termo desenvolvimento sustentável foi primeiramente utilizado por Robert Allen, no artigo "How to Save
the World". Allen o define como sendo "o desenvolvimento requerido para obter a satisfação duradoura
das necessidades humanas e o crescimento (melhoria) da qualidade de vida" [Allen apud Bellia, 1996,
p.23].
Essas são apenas algumas previsões dos cientista, elas podem parecer pessimistas mas são muito
prováveis e algumas já estão acontecendo. Para evita-las é preciso que a humanidade respeite os limites
do planeta e reduza a liberação de gases na atmosfera. Isso não quer dizer que será preciso abandonar
os automóveis e o conforto proporcionado pelo progresso tecnológico. É totalmente viável a construção
de automóveis que utilizam combustíveis menos poluentes, instalação de filtros nas industrias que
reduzam a liberação de gases, os governos dos países mais ricos que hoje são os que mais poluem o
planeta devem investir e incentivar a pesquisa de tecnologia ecológicas. Cabe as industrias reduzir a
poluição, ao governantes fiscalizar e punir os que desrespeitam as leis e população cobrar dos
governante ações que protejam o planeta, só assim estaremos assegurando o futuro de nosso filhos e
das demais espécies que habitam a Terra.
Um homem de 55 anos, que passava pela praça Taksim na hora da confusão, morreu
de infarto. Não muito longe dali, protegidos do barulho e da violência num
luxuoso centro de convenções, milhares de representantes de 186 países
discutiram os rumos da economia internacional. Pela primeira vez na
história, eles participaram de uma verdadeira mudança de poder no FMI,
com os países ricos dando mais voz aos emergentes como Brasil, China e
Índia. E o Brasil, fato inédito, oficializou a intenção de emprestar US$ 10
bilhões ao FMI.
Como o dinheiro sempre fala mais alto, o País consagrou maior relevância na
complexa mesa de negociações das finanças globais. Um importante sinal
dessa transformação histórica foi o esvaziamento do Grupo dos Sete (G-7),
que reúne os ministros das finanças e presidentes dos bancos centrais dos
sete países mais ricos: Estados Unidos, Japão, Alemanha, Itália, França,
Grã-Bretanha e Canadá. Nos últimos 33 anos, o G-7 foi o centro das
decisões monetárias e cambiais que norteavam as políticas do FMI.
Não é mais. Em Istambul, o clube dos desenvolvidos assinou uma espécie de atestado
de óbito ao submeter- se totalmente, em seu comunicado oficial, ao Grupo
dos Vinte (G-20), que além do G-7 inclui países emergentes como o Brasil,
a China, a África do Sul, a Coreia do Sul e o México (leia no quadro ao
lado). "Nós prometemos dar o exemplo aderindo aos compromissos
assumidos pelos líderes do G-20 nas reuniões de Washington, Londres e
Pittsburgh", escreveram os representantes dos ricos.
Tanto é verdade que as coisas mudaram que o G-20 determinou uma redistribuição
das cotas do FMI de pelo menos 5%, em benefício das economias
dinâmicas emergentes. No conjunto, esses países terão 45% das cotas do
FMI, que definem os votos de cada um e o direito de saques de recursos na
organização. Um detalhe: nas contas de Mantega, o grupo formado por
Brasil, Rússia, Índia e China (os BRICs) passará a ter um poder adicional
quando a mudança for efetivada, em janeiro de 2011.
"Ninguém percebeu, mas com a reforma (do FMI) os BRICs chegam a 15% e têm
poder de veto. As decisões mais importantes têm que ser tomadas por 85%
dos votos." A resistência histórica à voz dos emergentes, que sempre foram
obrigados a seguir políticas econômicas ditadas pelos países ricos ao
tomarem dinheiro do FMI, caiu em Istambul. Isso significa que, nos próximos
anos, a economia mundial também será dirigida conforme o que acontece
em Pequim, Brasília, Nova Délhi e Moscou, e não apenas em Nova York,
Londres, Berlim e Tóquio. Depois da crise atual, as políticas neoliberais, que
davam mais voz aos mercados financeiros e tolhiam a atuação dos Estados
na economia, deram lugar ao intervencionismo dos governos e a uma
tendência de regulamentação e supervisão mais rígida dos bancos. O
economista britânico John Maynard Keynes, que defendia uma ação mais
forte do Estado e foi um dos fundadores do FMI, está mais vivo do que
nunca.
O FMI, de seu lado, busca manter seu lugar ao sol na nova ordem econômica mundial.
Quer se capitalizar e se transformar numa espécie de banco central global,
um emprestador de última instância, o que ampliaria seu poder de fogo nas
crises cambiais. A proposta foi defendida pelo diretor- geral do FMI,
Dominique Strauss- Kahn, e prontamente criticada por nomes influentes
como Henrique Meirelles, presidente do Banco Central brasileiro, Joseph
Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, e Guillermo Ortiz, presidente do banco
central mexicano.
"É um equívoco achar que, se o FMI tiver os recursos suficientes para ser o
emprestador de última instância, os países deixarão de acumular reservas",
afirmou Meirelles à ISTOÉ. Decidir quanto acumular, quando e como usar o
dinheiro é uma questão de soberania nacional, que não deve ser ameaçada
pelas pretensões megalomaníacas do FMI. Se não tivesse mais de US$ 200
bilhões em caixa, o Brasil não teria sobrevivido tão bem à crise de 2008 e
não estaria dando algumas das principais cartas no intrincado jogo das
finanças internacionais.
MANTEGA - Isso acontecia no passado, quando a economia era muito mais frágil.
Hoje, quem tem dinheiro no Brasil está mais tranquilo do que quem tem nos
Estados Unidos, na União Europeia.
MANTEGA - Vou blindar a economia. Essa é minha função. Não farei nenhuma
concessão ao político. Se tiver que fazer corte de gastos, nós o faremos
para alcançar a meta de superávit, de 3,3% do PIB. Poderíamos estabelecer
uma meta frouxa, como 1%, e dizer: "Vamos torrar o dinheiro." Não é isso
que vamos fazer.
ISTOÉ - A oposição vai ter de fazer uma nova Carta aos Brasileiros?
MANTEGA - É, agora são os outros que vão ter que fazer. Em 2001, tivemos de dizer
que apoiávamos o empréstimo do FMI. Agora, os que assinarem vão ter de
dizer que apoiam o empréstimo do Brasil ao Fundo. Mudou radicalmente.
BNDES
Brasil
Retrospectiva 2009
A criação de Dilma
Risinho aqui, alfinetadinha acolá e muito jogo de cena depois, sobrou só um tucano
para alçar o voo mais alto. Aécio Neves, que começou o ano arrastando caminhões
de apoio às suas pretensões de candidato à Presidência da República, foi,
devagarinho, colocando o nome em cima do telhado. Primeiro pressionou pelas
prévias até outubro, depois aceitou postergar a data e mais tarde desistiu da consulta.
Por fim, anunciou a retirada da pré-candidatura, deixando o caminho livre para Serra,
hoje o mais que virtual candidato do PSDB. A pergunta que agora ecoa nas hostes
tucanas é: aceitará Aécio ser vice de Serra, carregando consigo um dos mais altos
índices de aprovação registrados por um governador e uma miríade de votos do
segundo maior colégio eleitoral do país? Para convencer o colega de Minas Gerais a
formar o que analistas consideram ser a chapa de oposição imbatível, o governador de
São Paulo terá de gastar mais do que o seu latim – terá de oferecer um caminho para
Aécio ganhar musculatura nacional e, assim, viabilizar-se para se candidatar
finalmente à Presidência. De preferência, em 2014...
Bem-vindo, terrorista!
Certamente não foi por acaso que o terrorista italiano Cesare Battisti escolheu o
Brasil para morar. Mas nem nas suas mais delirantes fantasias ele poderia imaginar
que receberia aqui tão calorosa acolhida. O Brasil tem sido uma mãe para Battisti (na
foto, em alegre convescote com um grupo de parlamentares do PT, PCdoB e PSOL).
Afinal, que outro país dedicaria paparicos de popstar a um criminoso condenado à
prisão perpétua por quatro assassinatos? Em que outro país o ministro da Justiça,
ignorando o parecer de um órgão técnico favorável à sua extradição, concederia a ele
status de "refugiado político"? E, por fim, que país continuaria considerando a
possibilidade de oferecer-lhe abrigo mesmo depois de a mais alta corte de Justiça
concluir ser o italiano um criminoso comum? Graças a essa sucessão de bondades,
está nas mãos do presidente Lula decidir onde o terrorista Battisti passará 2010, se
pagando por seus crimes na Itália ou espreguiçando-se sob o sol do Brasil.
Verdade submersa
Seis meses depois da queda do voo 447 da Air France, as respostas para as causas
da tragédia que matou 228 pessoas, incluindo 58 brasileiros, permanecem no fundo do
mar. O segundo relatório da agência francesa de investigação e análise de acidentes
frustrou quem esperava explicações para os eventos que levaram o Airbus 330 a cair
no Oceano Atlântico quatro horas depois de decolar do Rio em direção a Paris,
partindo-se em centenas de pedaços sem deixar sobreviventes. Além de recomendar
a mudança dos métodos de avaliação do funcionamento dos sensores de velocidade
do Airbus (os "pitots", que entraram para o vocabulário nacional desde o acidente), o
documento nada esclareceu. Por que a aeronave mergulhou no inferno de um
aglomerado de cúmulos-nimbos, as terríveis nuvens carregadas de eletricidade e
cortadas por ventos de até 200 quilômetros por hora? Como se deu a pane elétrica
que fez os pilotos perder o comando do aparelho? O que provocou a avaria na
fuselagem que antecedeu a queda do AF-447? E, mais importante que tudo: como
evitar que isso se repita? Pressionada pela associação de familiares das vítimas
brasileiras do acidente, a agência francesa de investigação decidiu retomar em
fevereiro as buscas pelas caixas-pretas do Airbus – a esta altura, a única esperança
que resta de decifrar a tragédia.
Internacional
Retrospectiva 2009
Os dólares furados
O governo baixa pacotes econômicos a toda hora, o presidente dá bronca em
banqueiros porque não estão soltando financiamentos, o desemprego chega a 10% e
a moeda anda fraquinha, fraquinha. Cidadãos comuns alarmam-se com a dívida
pública, um mastodonte que bateu em 12 trilhões de dólares, e cidadãos incomuns
começam a sair às ruas em protesto. O pior da crise já passou - aliás, tão depressa
que os peixinhos vorazes que nadavam em volta do grande Moby Dick americano,
loucos para fazer a dança de morte do capitalismo, nem tiveram tempo de aproveitar
direito. Dá para acreditar que foi no ano da pouca graça de 2009 que o governo
Obama assumiu a General Motors? Ou que o pagamento contratual de bônus a altos
executivos das instituições financeiras resgatadas com dinheiro público provocou uma
proposta de que todos fossem enforcados em praça pública com cordas de piano?
Mas a insegurança econômica, e seus terceiro-mundistas acompanhamentos, ainda
cala fundo na alma americana. "Os Estados Unidos estariam errados se dessem como
garantido o lugar do dólar como reserva monetária predominante", avisou em
setembro o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick - é, o mesmo chamado pelo
presidente Lula de "sub do sub do sub" na época das negociações comerciais, e que
continua adepto do estranho hábito de falar a verdade.
Pintura de guerra
Azadi, azadi, azadi. O rugido que subiu das ruas de Teerã veio em farsi, mas seu
significado é o mesmo em todos os lugares do mundo onde existe um grito sufocado
no peito: liberdade. A intensidade, a energia e a extraordinária coragem dos jovens
manifestantes mostraram que existe vida independente no Irã. O elemento catalisador
foi a candidatura presidencial de Mir Hossein Mousavi, um ex-primeiro-ministro que
se transformou em ícone do reformismo. Sob a bandeira verde, a cor apropriadamente
islâmica de sua campanha, as belas maquiaram-se para a guerra das ruas e
empurraram o lenço da cabeça, de uso obrigatório, até limites antigravitacionais. A
campanha e os protestos subsequentes, diante da reeleição fraudada do sinistro
Mahmoud Ahmadinejad, expuseram várias camadas de descontentamento, desde os
jovens que anseiam por uma vida mais normal até dissidências no interior dos quadros
do regime. Ahmadinejad e sua turma não negaram o sangue: engrossaram,
reprimiram e continuaram celeremente no caminho da produção secreta de bombas
atômicas, o assunto que vai tumultuar o mundo em 2010. Mas agora a trilha sonora
iraniana incorporou a palavra mágica. Liberdade, liberdade, liberdade.
Tudo teve ares de pastelão, mas pelo menos uma coisa deve ser considerada: a
potestade das forças que se ergueram contra Manuel Zelaya não foi brincadeira. O
infeliz do chapelão foi destituído da Presidência de Honduras com ordem assinada
pela Suprema Corte e sem nenhuma cerimônia por parte do Exército. No seu lugar
ficou um sujeitinho bravo, Roberto Micheletti, que assumiu interinamente com um
objetivo - no pasará - e o cumpriu. Ainda por cima, Zelaya contou com o apoio
incondicional dos megalonanicos da diplomacia petista, sempre uma garantia de que a
coisa vai dar errado. Por ordem de Hugo Chávez, voltou à sorrelfa e se instalou na
Embaixada do Brasil com planos inversamente proporcionais à capacidade de
executá-los. As simpatias dos que, mesmo desconfiando das patranhas da figura,
repudiavam os métodos de sua deposição sofreram um cruel golpe quando ele disse
que estava sendo torturado por mercenários israelenses com emissões de alta
frequência e gases tóxicos. Folhas de papel-alumínio passaram a recobrir as paredes
da embaixada, dando a impressão de que a qualquer momento sairiam dali miolos ao
forno. Zelaya não foi o único a passar atestado de maluquice: o governo brasileiro
repudiou até o fim a realização de eleições presidenciais e, depois, seu resultado. Em
outras circunstâncias, o mau conselheiro Marco Aurélio Garcia e o chanceler Celso
Amorim ensaiaram dar uma de good cop e bad cop, aquela jogadinha de policial mau
e policial bonzinho. Da história de Honduras, saíram parecendo os Keystone Cops.
Salto em crescimento
Pecado original
Chanchada à italiana
O paradoxo italiano salta aos olhos: o país vai bem, mas seu chefe de governo está
tão mal que começou o ano gritando na frente da rainha Elizabeth para chamar a
atenção de Barack Obama e terminou levando na cara uma miniatura da Catedral de
Milão. Entre uma coisa e outra, uma erupção vesuviana de mulheres de boa figura e
má reputação, um processo de divórcio anunciado pela esposa ofendida no principal
jornal da oposição e uma decisão da Suprema Corte que o priva da imunidade do
cargo. Para tudo Silvio Berlusconi deu a explicação clássica dos políticos erráticos
("intriga da oposição"). Tudo, sobretudo as cenas das festinhas de arromba na casa de
praia, teve um ar de pornochanchada dos anos 70. O que não pode, evidentemente,
ser debitado na sua conta é o ataque de Milão. Mas é quase impossível resistir aos
paralelos entre o estilo kitsch do milionário populista e o objeto usado, uma
lembrancinha de turista de arrepiar até cabelos implantados.
Numa era de populistas exibidos, Angela Merkel é um alívio. Não joga para a plateia,
não conta piadas, não se considera uma enviada dos céus. É de direita, mas com
flexibilidade suficiente para ver a necessidade de dar umas estimuladas na hora do
aperto e, depois, voltar às apertadas no déficit. Não fala uma palavra que não seja
criteriosamente pensada – e, portanto, não diz besteiras. Suporta-as com estoicismo,
como já se comprovou com Silvio Berlusconi falando ao celular, Nicolas Sarkozy tendo
surto napoleônico e Lula elogiando o programa nuclear do Irã, tudo sob seus pouco
complacentes olhinhos azuis. A maior mudança de imagem que fez para enfrentar a
campanha eleitoral deste ano, no meio da crise, foi levantar o penteado uns 2
centímetros. Filha de pastor luterano, criada na antiga Alemanha Oriental e formada
em física, ela gosta de tudo em perfeita ordem, disciplina e discrição. Sem nenhuma
surpresa, os alemães também gostam do estilo minimalista. "Algumas pessoas
disseram que ela era tediosa e provinciana. Mas os eleitores não são burros, não
querem uma Britney Spears como chefe do governo", disse o diretor de um instituto
político, Detmar Doering, a propósito da reeleição dela, em setembro. "Querem uma
pessoa séria, em quem possam confiar." Bingo.
O nome oficial é influenza A (H1N1), mas no popular o que pegou mesmo foi gripe
suína. As sucessivas ondas de medo demonstraram que o mundo está sempre
esperando o pior. Talvez sob influência das previsões apocalípticas e dos filmes-
catástrofe, a ideia de que sobrevirá a mãe de todas as epidemias foi abraçada até com
excessiva credulidade. A gripe que fez todo mundo usar máscara hospitalar, ou pensar
em fazê-lo (na foto, estudantes japoneses em visita ao Parlamento), foi menos
mortífera do que o antecipado. Apesar da propagação global, provocou cerca de 10
000 mortes, das quais cerca de 1 600 no Brasil. Mas assustou tanto pelo potencial
letal quanto pela faixa atingida. Quando a gripe comum mata, 80% das vítimas são
pessoas acima dos 60 anos, em geral debilitadas por outras doenças. Na suína, a
proporção é inversa. A reação mais insensata à pandemia aconteceu no Egito, onde o
governo mandou matar todos os porcos. Além da conexão errada entre os animais e a
gripe – uma vez disseminado entre humanos, o vírus tem autonomia –, pesou o fator
religioso: o islamismo proíbe os porcos por considerá-los impuros. No Egito, eram
criados com restos de comida e consumidos pelos coptas, adeptos de uma igreja que
remonta aos primórdios do cristianismo. Sem eles, o lixo orgânico aumentou ainda
mais, e as cidades egípcias ficaram naquela situação na qual o presidente Lula disse
que o povo brasileiro vive. Em suma, uma porcaria.
Eterno enquanto dure
Hugo Chávez começou o ano cumprindo o que havia prometido. Tanto fez,
manipulou, distorceu e ameaçou que conseguiu reverter o resultado do plebiscito de
2007. Em fevereiro, ganhou a possibilidade de reeleições até o fim dos tempos. O
populismo autoritário e caudilhesco que comanda fincou mais fundo suas raízes
malignas. O sistema de ensino está sob novo e perverso estatuto, as poucas vozes
independentes que restam sofrem intimidações crescentes, comitês armados
defendem a ideologia oficial. Chávez passou o ano ameaçando ir à guerra contra a
Colômbia. Fez um acordo de armamentos com a Rússia, mas comandou uma grita
contra o uso de bases colombianas por forças americanas para combater os
traficantes de cocaína. Entre uma ameaça presente e imediata como o narcotráfico e
um futuro e hipotético uso indevido das bases, adivinhem de que lado os seus dúcteis
aliados ficaram...
A reunião do G20 terá como pauta - como não poderia deixar de ser - a crise
econômica que abala mercados ao redor do mundo. A expectativa em torno dela é
alta. O presidente americano, Barack Obama, já pediu, em artigo publicado em mais
de 30 jornais internacionais, que os líderes do grupo tomem "medidas audaciosas e
coordenadas" contra o mal-estar financeiro. O crescente reconhecimento dado à
participação dos países emergentes, membros do grupo, também garante importância
à reunião. Há ainda quem espere anúncios de ações contra o aquecimento global na
Inglaterra. Entenda como funciona o G20 e a relevância do próximo encontro.
Os piratas usam lanchas com motores potentes para se aproximarem de seu alvo. Às
vezes, essas lanchas são lançadas de embarcações maiores posicionadas em alto
mar. Para se apoderarem dos navios, os piratas primeiro usam ganchos e barras de
ferro --alguns também disparados por armas-- e sobem até o convés usando cordas e
escadas. Em algumas ocasiões, eles disparam contra os navios para forçá-los a parar,
o que facilita sua tomada. Os piratas então conduzem a embarcação capturada até o
porto de Eyl, na Somália, o centro das operações da pirataria. Ali, eles geralmente
desembarcam os reféns, que são mantidos até o pagamento de um resgate.
Alguns diplomatas argumentam que é necessária uma corte internacional para esse
tipo de crime, que tenha o apoio da ONU (Organização das Nações Unidas) e, além
de uma prisão internacional para os condenados. Em meados de dezembro passado,
o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução autorizando os países a
perseguir os piratas somalis também em terra --uma extensão para a permissão que
os países já têm para entrar em águas territoriais somalis para perseguir os piratas.
Mas enquanto a Somália não tiver um governo efetivo, muitos acreditam que a "vida
sem lei" que impera no país e em suas águas só tende a crescer.
Por dinheiro. Os piratas tratam os navios, sua carga e seus tripulantes como reféns e
exigem o pagamento de um resgate. O dinheiro que recebem é muito em um país
onde não há emprego e onde quase metade da população precisa de alimentos,
depois de 17 anos de vários conflitos civis. O Ministério das Relações Exteriores do
Quênia estima que os piratas tenham faturado US$ 150 milhões no ano passado com
o pagamento de resgates. Eles usam parte do dinheiro para custear novos sequestros,
comprando mais armas e lanchas.
No Brasil, Lugo ameniza tom sobre Itaipu e diz que diálogo é a melhor
ferramenta
A declaração de Lugo dada hoje é um pouco mais amena que o tom habitual utilizado
pelo presidente paraguaio em seu país. "Lutamos por um preço justo, o do mercado. O
Paraguai é um país pobre que, de alguma maneira, está subsidiando a energia do
Brasil", afirmou ele, em uma entrevista ao jornal espanhol "El Mundo", na primeira
quinzena de março. Nessa entrevista, ele "concedeu" o prazo de um ano para chegar
a um acordo com o Brasil. "Se neste tempo não tivermos resposta...", disse ele, sem
completar a frase. Em Brasília, Lugo destacou ainda que seria importante para o Brasil
não ter "um vizinho pobre". "A ninguém convém ter um vizinho pobre. A todos convêm
crescerem juntos. Nós precisamos assumir um compromisso com uma integração
mais sólida", disse, durante encontro com o presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP).
Nos últimos dois meses, o governo brasileiro vem discutindo, informalmente, algumas
contrapropostas com o lado paraguaio. Uma delas prevê linhas de financiamento, via
BNDES, no valor de US$ 1,5 bilhão, que seriam usadas em obras de infraestrutura no
país vizinho. O governo paraguaio considerou "insuficientes" as propostas
apresentadas até o momento pelo governo brasileiro. Caberá agora ao presidente Lula
conversar pessoalmente com Lugo sobre o futuro da parceria na usina hidrelétrica.
Criada em 1973, a usina é considerada a maior do mundo em termos de energia
gerada e abastece 20% do território brasileiro. No Paraguai, Itaipu gera 90% do que é
consumido.
Não. A usina pertence aos dois países. Brasil e Paraguai têm direito, cada um, a 50%
da energia gerada. A empresa tem também duas diretorias, uma de cada lado da
fronteira. No entanto, como o Brasil foi o país que efetivamente pagou pelo projeto, os
dois governos concordaram, na época, que o Brasil teria certas preferências. Uma
delas diz respeito à energia excedente. O Paraguai tem direito a 50% da energia
gerada, mas como não precisa de todo esse montante, acaba usando apenas 5%. O
tratado diz que o restante (no caso, 45%) deve ser vendido obrigatoriamente à
Eletrobrás, a preço de custo.
O governo paraguaio questiona uma série de pontos do acordo sobre Itaipu. O país
vizinho quer o direito de vender sua parte para quem quiser, da forma como quiser. O
argumento é de que o Brasil "paga pouco" pela energia, e que outros compradores
estariam dispostos a pagar o preço de mercado. O Brasil paga ao Paraguai US$ 45,31
por megawatt-hora (MWh). No entanto, desse valor, o Paraguai recebe efetivamente
US$ 2,81. A diferença (de US$ 42,5) é retida pelo governo brasileiro, como abatimento
da dívida.
O que se sabe até agora é que o apagão teve início no principal ramal de transmissão
elétrica do país, que leva toda a eletricidade de Itaipu, a hidrelétrica que mais produz
energia no mundo, até São Paulo. De lá, boa parte da energia é redirecionada para o
resto do país. Por esse ramal, operado por Furnas, trafegam 20% de toda a energia
brasileira. O trabalho de transmissão é feito por cinco linhas. Três delas, as principais,
vão de Foz do Iguaçu até a subestação de Tijuco Preto, perto de São Paulo. Elas
passam por duas subestações, localizadas nas cidades de Ivaiporã (PR) e Itaberá
(SP). As duas linhas restantes, de menor capacidade, levam energia de Itaipu até a
subestação de Ibiúna, também próxima à capital paulista.
O apagão começou nas três linhas principais, de potência mais alta. "Houve um curto-
circuito na primeira linha, às 22h13. Depois de 70 milésimos de segundo, a segunda
linha foi atingida por outro curto. Mais 50 milésimos, e a terceira linha sofreu o mesmo
problema. Foi uma falha tripla, praticamente simultânea, antes de Itaberá", disse a
VEJA Hermes Chipp, diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS),
autarquia federal que monitora todas as usinas e linhas de transmissão do país e goza
de excelente reputação técnica não apenas no Brasil mas em suas congêneres do
mundo. Um curto-circuito se dá quando dois fios desencapados se tocam liberando
instantaneamente uma energia descomunal que, de outra forma, teria se dissipado ao
longo de todo o circuito. Daí o nome curto-circuito. É um fenômeno comum no velho e
enferrujado ferro de passar da casa da vovó ou chuveiro elétrico da casa de praia. É
raríssimo em uma rede de transmissão de energia. A ocorrência de três curtos-
circuitos de uma só vez numa rede de transmissão de eletricidade é, desde já, um
evento a ser estudado no campo das probabilidades infinitas. O triplo curto-circuito
desencadeou o efeito dominó que escureceu o Brasil na semana passada. As
subestações das três linhas principais caíram, interrompendo a passagem da energia
de Itaipu. As duas linhas de menor capacidade não conseguiram suprir, sozinhas, toda
a demanda do sistema, e também caíram. Com as cinco linhas cortadas, o inevitável
ocorreu. Itaipu passou a regurgitar toda a eletricidade que produzia, uma situação
grave que, se não é aliviada rapidamente, provoca explosões nos transformadores e
conversores da usina, inutilizando-a por meses e até anos. Para evitar o desastre,
todas as turbinas de Itaipu foram desligadas.
Nesse instante, São Paulo e Rio de Janeiro já estavam às escuras. Para tentar evitar
uma crise sistêmica de abrangência nacional, os computadores do ONS enviaram
comandos eletrônicos às demais usinas do país instruindo-as a liberar toda a carga
potencial, de modo a suprir em parte o sumiço instantâneo dos 14 000 megawatts de
Itaipu. Esses processos são automáticos. Levam menos de dez segundos. Mas de
nada adiantou a rapidez da reação. Em um sistema integrado, como na circulação do
corpo humano, o que ocorre em um ponto qualquer do percurso da eletricidade ou do
sangue tem efeito sobre toda a rede. Quando as usinas paulistas de Ilha Solteira,
Jupiá, Água Vermelha, Taquaruçu e Capivara atenderam aos comandos do ONS, o
sistema já estava em pane. Os técnicos definem esses momentos cruciais como
"colapso de tensão". Em um movimento de autodefesa, as subestações se desplugam
uma depois da outra em cascata. Diz Hermes Chipp: "Quando há um colapso de
tensão, você perde o controle do sistema e torna-se impossível isolar o problema
original".
A versão oficial não se sustenta no universo da física. E é ainda mais frágil no campo
da lógica. Simplesmente, o sistema de energia brasileiro não pode ser vulnerável à
queda de raios. Primeiro porque o Brasil é o país sobre cujo território mais caem raios
no mundo. São 60 milhões de descargas atmosféricas por ano. Pelo menos vinte
delas atingem, a cada dia, uma linha de transmissão – sem que isso produza
megablecautes. Na última quinta-feira, a reportagem de VEJA estava em Itaipu e
presenciou a passagem de uma tempestade de raios ao lado da usina. O que
aconteceu? Os raios fizeram apenas cócegas em Itaipu. Na hora da tempestade, a
usina fornecia 800 megawatts ao Paraguai. Os raios começaram e houve redução da
carga para 720 megawatts. Em quinze minutos, tudo havia voltado ao normal. Isso
acontece em média uma vez por mês. É rotineiro. O que não é rotina é raio provocar
blecaute. Não deveria também ser rotina de governo dar como "caso encerrado" um
blecaute que infernizou a vida de 88 milhões de brasileiros e cuja causa permanece
um mistério.
1. O que é a COP15?
A COP15, como o nome já sugere, é o décimo quinto encontro realizado pelos países
signatários da Convenção Marco sobre Mudança Climática, acordo firmado durante a
ECO-92, no Rio de Janeiro, que estabeleceu diretrizes para uma coordenação
internacional contra o aquecimento global. A Convenção acontecerá em Copenhague,
na Dinamarca, entre os dias 7 e 18 de dezembro de 2009.
O debate central deve ser sobre a diminuição das emissões de gases causadores do
efeito estufa, sobretudo o dióxido de carbono (CO2) – as propostas prevêem reduções
de 25% a 40% até 2020, com base em valores obtidos em 1990. O objetivo é bem
mais ousado do que o estipulado pela primeira parte do Protocolo, que era de reduzir
em 5% as emissões entre 2008 e 2012. Naquela época, o cumprimento desta meta
coube apenas aos países desenvolvidos – o Brasil e a Índia, por exemplo, não foram
enquadrados na regra. Esta determinação, no entanto, deve ser revista em
Copenhague e deve ser outro tema de importância nas discussões.
A primeira delas foi a ECO-92, no Rio de Janeiro, quando mais de 160 governos
assinaram a Convenção Marco sobre Mudança Climática, dando início ao combate ao
aquecimento global. Cinco anos depois, em Kyoto, no Japão, outro encontro negociou
um acordo para reduzir a emissão de gases de efeito estufa – 84 países aderiram. O
Protocolo de Kyoto, como ficou conhecido o tratado, entrou em vigor em 2005 com
150 nações signatárias. No final de 2007, durante a 13ª Conferência da ONU sobre
Mudanças Climáticas, na Indonésia, os participantes concordaram em iniciar
negociações para formular a segunda parte de Kyoto.
Tratado de Lisboa
Elas irão se basear no sistema de votação por maioria qualificada, ou seja, precisarão
ser aprovadas por 55% dos estados-membros, representando pelo menos 65% da
população europeia. Para que um pequeno número de países mais populosos não
impeça a adoção de uma decisão, serão necessárias pelo menos quatro nações para
formar uma minoria de bloqueio. As questões tributária, de defesa, política externa e
segurança social continuarão a exigir aprovação unânime dos 27 estados-membros.
O novo sistema de tomada de decisões por voto dos Estados é considerado mais claro
e igualitário. A decisão por maioria qualificada será tomada se a mesma obtiver ao
menos 55% do apoio dos Estados --15 dos 27-- e se estes representarem ao menos
65% da população da UE. Esta mudança dará mais peso aos países mais populosos.
A aplicação deste sistema, contudo, foi postergada até 2014, depois de pedido da
Polônia.
Parlamento fortalecido
Saída
Boa parte da Europa irá esfriar e regiões quentes -- como o oeste da China e o Oriente
Médio -- sofrerão elevações de 7ºC nas temperaturas médias até o ano 2100. Na
floresta Amazônica, as temperaturas serão mais altas e as estações de secas serão
mais longas a cada ano.
Essas previsões inquietantes sobre possíveis alterações do clima causadas pelo
aquecimento global podem ser lidas abaixo em trecho do livro "O Aquecimento
Global", da "Série Mais Ciência".
Mudança do clima
Costa fria
Os oceanos vão retirar o calor da superfície nas áreas costeiras ou, pelo menos,
daquelas que restarem depois que o nível dos mares subir
Algumas das regiões mais quentes devem sofrer algumas das maiores elevações de
temperatura. Grande parte da Ásia do oeste da China até a Arábia Saudita, que
regularmente enfrenta temperaturas acima de 40ºC, deve sofrer elevações de 7ºC até
o ano 2100. O norte da África e o sul da Europa também devem passar por grande
aquecimento. Países com forte influência do mar e clima equilibrado hoje como
Irlanda, Nova Zelândia e Chile sofrerão menores mudanças. Outras tendências no
planeta, muitas já evidentes, apontam aquecimento maior à noite durante o inverno.
Isso sugere menos neve e mais chuva, além de estações de cultivo sem geadas
prolongadas nas latitudes medianas.
Europa resfriada
A imagem do oceano mostra que a água congelada deixa para trás água salina densa,
que desce até o fundo e abre espaço para um fluxo de água quente dos trópicos
Mudanças de rota
Estudos científicos revelam que menos gelo irá se formar por causa do aquecimento
do mundo. Essa previsão, associada ao maior fluxo de água doce no Ártico, poderia
encerrar o mecanismo de formação de água profunda, que cria a Corrente do Golfo.
No início de 2001, pesquisas norueguesas forneceram evidências de que as correntes
da região na direção norte diminuíram em 20% desde 1950.
Diferenças na hidrologia
Mais seca
A maior evaporação poderá secar o interior dos continentes durante o próximo século.
Desertos irão aumentar; oásis, morrer; e fluxo de rios, diminuir, algumas vezes com
resultados catastróficos. Ninguém pode prever com precisão o futuro dos rios, mas um
estudo sugere declínio de 40% no fluxo do rio Indo, a única fonte de água do
Paquistão e um dos maiores sistemas de irrigação do mundo. A mesma pesquisa
estima perda de 30% no fluxo do rio Niger, que banha cinco países áridos no oeste da
África, e queda de 10% no Nilo, a água vital do Egito e do Sudão.
A Ásia Central pode esperar declínio ainda mais drástico nos rios que escoam no mar
de Aral, que já está virtualmente secando por causa da irrigação. Outros mares em
risco incluem o Cáspio, o Grande Lago Salgado, nos Estados Unidos, e os lagos
Chade, Tanganica e Malauí, na África. Modelos climáticos indicam também a
probabilidade de ocorrer mais secas na Europa, na América do Norte, no centro e no
oeste da Austrália. Alguns rios australianos poderiam perder metade de seu fluxo,
enquanto o outback (sertão australiano) se tornaria mais seco.
A areia se espalha
A paisagem atual é árida e contém pouca umidade. Há, portanto, pouca evaporação e
nenhuma chuva. A maior parte dos modelos climáticos sugere que o Saara ficará
ainda mais seco e acarretará a desertificação de áreas próximas.
Caso o Saara fosse coberto pela vegetação, a terra iria absorver mais umidade.
Resultado: mais chuvas e maior evaporação.
O mar encolheu
O mar de Aral já foi o quarto maior mar interno do mundo. Mas sistemas de irrigação
acabaram reduzindo-o imensamente. A salinidade triplicou, a pesca acabou. E o
aquecimento global pode fazer esse cenário ficar ainda pior.
Doenças
Um mundo mais quente permitirá que mosquitos levem doenças, como malária e
dengue, a países fora dos trópicos.
O que é o El Niño?
Fenômeno natural cuja existência foi rastreada durante milhares de anos, é a reversão
periódica dos ventos e das correntes oceânicas na área tropical do oceano Pacífico,
que dura entre nove meses e um ano. Esse processo drena os sistemas pluviais da
Ásia e provoca secas em áreas úmidas, como Indonésia e Austrália. Enquanto isso, as
ilhas dos Mares do Sul, normalmente plácidas, e a costa do Pacífico nas Américas,
muito seca, sofrem com tempestades.
Quem deu o golpe em Honduras? Militares, com apoio da Corte Suprema, que disse
ter ordenado a prisão de Zelaya, e o Congresso, que leu uma suposta carta de
renúncia dele. Presidente negou ter deixado o cargo. Qual é o motivo da crise política?
Zelaya decretou a realização de uma consulta nacional sobre a possibilidade de
convocar uma Assembleia Constituinte. A pesquisa, que aconteceria ontem, foi
considerada ilegal pela Justiça, pelo Congresso e pelo Ministério Público.
O que diz o presidente? O neoaliado do venezuelano Hugo Chávez diz que a consulta
não tem força de lei e que ele desejava abrir caminho para uma Constituição que
desse voz aos pobres, 70% do país. O que diz a oposição a Zelaya? O presidente
descumpriu uma ordem judicial, e por isso foi preso. A intenção de Zelaya com a
consulta é impor uma nova Carta que permita a reeleição. Qual a situação agora?
Todos os países das Américas condenaram o golpe e exigem o retorno de Zelaya.
Congresso e Justiça hondurenha dizem que haverá governo interino até eleições
gerais de novembro.
Zelaya irá expor, diante dos 192 países-membros da organização, a situação em que
se encontra seu país após o golpe militar que o tirou do cargo de presidente. Ele
também terá uma reunião com o presidente da Assembleia Geral, o nicaraguense
Miguel D'Escoto, que tem intenção de acompanhá-lo na próxima quinta-feira, quando
o presidente deposto planeja retornar a Tegucigalpa. Zelaya aceitou a oferta do
secretário da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, de
acompanhá-lo na viagem. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, também
formará parte da comitiva, segundo fontes do governo de Buenos Aires. Nesta
segunda-feira, ele afirmou que voltará ao país como "presidente eleito, para terminar
meu mandato de quatro anos". No entanto, o presidente interino de Honduras, Roberto
Micheletti, advertiu que os tribunais "têm uma ordem de captura" pronta caso ele
decida retornar ao país. Micheletti, que era presidente do Congresso até ser
rapidamente empossado para substituir Zelaya, disse que a ordem é consequência
dos "crimes" que cometeu por causa de seu "interesse em continuar no governo ou
pela atitude prepotente que ele tinha assumido nos últimos meses de governo".
Golpe
Manifestações
da Ansa, em Assunção
O comércio no interior do bloco também foi tema do discurso de Lula, que propôs a
adoção das moedas locais nas transações comerciais entre os países-membros do
Mercosul, como já fazem Brasil e Argentina. Atualmente, o dólar é adotado como
moeda oficial no comércio interno da região. Lula também propôs aprofundar a
integração e diversificar os mercados. Além disso, o presidente defendeu acordos
sobre temas de políticas sociais, o que está em sintonia com o pedido do presidente
paraguaio de criar uma Secretaria de Saúde do Mercosul. De acordo com Lula, o
Brasil aumentará voluntariamente as contribuições ao Fundo de Convergência
Estrutural do Mercosul (Focem), para financiar obras no Paraguai e Uruguai, países do
bloco com economias menores.
da Reuters, em Paris
A última grande fronteira da Guerra Fria tem quatro mil metros de largura, 245
quilômetros de extensão e separa a capitalista República da Coreia da comunista
República Popular da Coreia, no leste da Ásia. Enquanto o mundo comemorava os 20
anos da queda do Muro de Berlim na semana passada, a cerca de arame farpado
estabelecida sob cessar-fogo em 1953 ficou repleta de pedidos de reunificação das
duas Coreias. Dos dois lados da barreira, porém, mais de um milhão de soldados
mantiveram-se impassíveis na defesa dos territórios. Manifestações similares
ocorreram ao mesmo tempo em pelo menos dois outros pontos: na fronteira dos
Estados Unidos com o México e na de Israel com a Palestina. Sejam construídos com
concreto, delimitados por arame ou por equipamentos virtuais, muros continuam a
separar países e povos em todo o mundo. São, ao todo, 7.500 quilômetros de
barreiras intransponíveis, que
representam 3% das fronteiras
terrestres, e podem chegar a 18 mil
quilômetros quando todas as obras
forem concluídas, segundo
levantamento do geógrafo e diplomata
francês Michel Foucher, autor de
"L'Obsession de Frontières" (A
Obsessão das Fronteiras, em tradução
livre).
Com 3,2 mil quilômetros de extensão, a fronteira entre os Estados Unidos e o México
também virou cenário para uma construção que, em alguns pontos, atinge cinco
metros de altura e é reforçada por cercas de arame. Em outros lugares, está equipada
com uma série de equipamentos tecnológicos, como detectores infravermelhos e
sensores de terra. Nessa parte do mundo, não há hostilidades entre os países
fronteiriços. Levantar o muro foi uma decisão americana no começo dos anos 1990,
para impedir a entrada de imigrantes ilegais no país. Em tempos de crise econômica,
os Estados Unidos já não representam tanto a terra das oportunidades, mas milhares
de famílias continuam separadas pela barreira. De tempos em tempos, elas se
reencontram, conversando através de frestas. E persistem as tentativas de burlar o
esquema de segurança. Pelos registros da Comissão Nacional de Direitos Humanos
do México, nos últimos 15 anos cerca de 5,6 pessoas morreram tentando cruzar a
fronteira, a maioria delas por causa das altas temperaturas do deserto.
FUTURO CERCADO
Cisjordânia , 9/11/2009
Palestinos reivindicam a
derrubada da parede de oito
metros de altura erguida por Israel
Jaime Klintowitz
MORTE EM COMBATE
No cemitério militar de Beersheba, soldados israelenses choram a
perda de colega em Gaza
Se a contagem do tempo começar pelo ano em que o primeiro grupo armado foi
organizado pelos judeus para proteger suas povoações de salteadores árabes, em
1909, judeus e árabes engalfinham-se pela posse da Palestina há pelo menos 100
anos. Nesse século de atrocidades mútuas, cada lado tem sua parcela de culpa no
fato de se passar tanto tempo procurando um caminho para a paz quando a paz
deveria ser o caminho. Por que a paz não encontra quem a patrocine naquela região?
As causas da guerra no Oriente Médio são de natureza diversa – étnica, religiosa,
geopolítica e ideológica. Elas se interpenetram de tal modo que a solução de uma
acaba agravando a outra. O resultado é que todas as chances de paz foram abortadas
por um lado ou outro – mais recentemente sempre pelos palestinos e pelos países
árabes que lhes dão apoio. Há duas semanas, Israel está de novo oficialmente em
guerra com um de seus vizinhos. Já esteve em 1948, ano de sua criação como estado
independente, em 1956, 1967, 1973, 1982 e 2006. Israel venceu todas essas guerras,
mas as vitórias militares acabaram produzindo novas complicações e adiando ainda
mais a solução definitiva para o conflito.
As duas semanas de ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza, com todos os seus
horrores, podem facilmente ser vistas como mais uma erupção de violência dessa rixa
crônica. Afinal, esta é a quarta vez que tropas israelenses invadem a Faixa de Gaza,
uma nesga de solo arenoso, superpovoada e muito pobre, desde 1948. Da penúltima
vez, a ocupação se prolongou por 38 anos, só terminando em 2005. O conflito será
mais bem compreendido, no entanto, se for examinado pelo que tem de diferente dos
anteriores. "Essa não é mais uma guerra árabe-israelense. Nem sequer se pode falar
em conflito israelo-palestino, já que metade da Palestina não está com o Hamas",
disse a VEJA o paquistanês Kamran Bokhari, diretor de pesquisas sobre o Oriente
Médio da Stratfor, uma consultoria de geopolítica com sede nos Estados Unidos.
"Muitos palestinos na Cisjordânia entendem que o Hamas é parte do problema." O
Hamas é uma organização radical islâmica, dominada pelo fanatismo e que usa
métodos terroristas. Seus líderes são proponentes do jihadismo, o movimento cujo
objetivo mais geral é a guerra santa em nome do Islã e cujo objetivo mais específico é
a destruição do Estado de Israel. O Hamas domina corações e mentes em Gaza. Tem,
portanto, legitimidade política. Essa é a tragédia. O Hamas não pode ser derrotado
militarmente.
A diversidade na Palestina é maior do que aparenta ser. Vivem ali várias confissões
religiosas – cristãos, drusos e, naturalmente, judeus –, mas o Hamas sustenta que o
território deve ser um pedaço exclusivamente muçulmano de um futuro império
islâmico. Isso sinaliza a ascensão de um novo complicador no conflito centenário.
Apesar de contrapor judeus a muçulmanos, a disputa até agora tinha sido
basicamente laica, de cunho nacionalista, sobre quem era ou não um povo e qual
deles tinha ou não direito a um estado próprio. O Hamas é um fiel escudeiro do Irã,
que lhe fornece armas (aí a origem dos mísseis lançados da Faixa de Gaza contra
cidades israelenses), treinamento militar e dinheiro. Ainda que em microdimensões e
por meio de intermediários, o ataque ao Hamas pode ser visto como uma espécie de
"guerra por procuração" – na definição do historiador israelense Benny Morris, da
Universidade Ben-Gurion, em Beersheba – entre Israel e os aiatolás de Teerã.
Depois de uma trégua tensa que durou seis meses, o movimento islâmico se pôs a
disparar foguetes sobre as cidades israelenses para demonstrar que a jihad está viva
e em boa forma. Por certo não tinha ilusões de que a represália era inevitável e seria,
como de hábito, devastadora. Fiel ao culto do martírio, o Hamas agiu diligentemente
para atrair a formidável máquina de guerra israelense para as vielas apinhadas das
cidades e favelas de Gaza, onde acreditava que seria mais fácil combatê-la. As mortes
e a destruição causadas pela ofensiva israelense são dolorosas de observar. Na
última sexta-feira, as estimativas eram de 750 palestinos mortos, entre os quais uma
quantidade enorme de crianças. Só no ataque a uma escola da ONU repleta de
refugiados foram mortas quarenta pessoas. Famílias inteiras acabaram dizimadas por
bombardeios aéreos. Uma proposta de cessar-fogo apresentada pelo Conselho de
Segurança da ONU foi rejeitada por ambas as partes na sexta-feira passada.
O LONGO BRAÇO DO HAMAS
Mãe e filhos se protegem em kibutz de foguetes
palestinos lançados de Gaza
É paradoxal, mas não inesperado, que Israel, a única democracia do Oriente Médio,
esteja perdendo gradualmente a simpatia da opinião pública no exterior. A malhação,
antes confinada à extrema esquerda, tornou-se parte integrante do populismo
antiocidental. Muitos partidos de esquerda agora consideram o antissionismo como um
pré-requisito para seus afiliados e não se acanham em denunciar a "conspiração
judaica", na melhor tradição antissemita. "Por que a esquerda europeia, e globalmente
toda a esquerda, está obcecada em lutar contra as democracias mais sólidas do
planeta, Estados Unidos e Israel, e não contra as piores ditaduras?", questionou em
uma palestra a jornalista catalã Pilar Rahola, que já foi deputada de esquerda na
Espanha. O conflito entre árabes e judeus na Palestina é um nó difícil de desatar.
Oportunidades de paz foram perdidas por ambos os lados e nada indica que se esteja
mais perto de uma solução – ainda que todo mundo concorde que, quando dois povos
disputam o mesmo pedaço de terra, a melhor solução é dividi-la em dois países. O
que é fora de dúvida é que Israel não pode (e não vai) perder a guerra contra as forças
da intolerância religiosa no Oriente Médio, representada agora pelos terroristas do
Hamas. Israel é uma sentinela avançada da democracia e da civilização judaico-cristã
cercada por nações e grupos políticos armados que formal e claramente lutam pela
destruição do estado judeu e pela morte de todos os seus habitantes não-árabes.
Também é fora de dúvida que não haverá paz enquanto os vizinhos hostis não
aceitarem que a existência de Israel é legítima, que o país tem o direito de se defender
e que o terrorismo destrói o que pretende construir.
Quem é quem
A delegação da ONU em Cartum denunciou hoje que cerca de 30 mil civis foram alvos
de diferentes tipos de violência durante os enfrentamentos na quinta-feira passada
entre dois grupos rebeldes no sul de Darfur. O representante do Programa Mundial de
Alimentos da ONU, Kenro Oshidari, expressou sua profunda preocupação com a
situação humanitária na localidade de Muhairiya. A localidade foi palco na quinta-feira
de combates de militantes do Movimento de Justiça e Igualdade (MJI), de Khalil
Ibrahim, e da facção Movimento de Libertação do Sudão (MLS), liderada por Meni
Arkau Minawi. "Os últimos enfrentamentos ameaçaram cerca de 30 mil civis, entre
moradores e deslocados, que foram alvo de diferentes tipos de violência, algo que não
tinha acontecido antes nesta região", afirmou Oshidari.
Embora não tenha fornecido mais informações sobre estas agressões, Oshidari
destacou que há civis que morreram e outros que ficaram feridos como consequência
dos choques. Os choques da quinta-feira passada em Muhairiya deixaram 22 mortos,
entre eles quatro civis, e 27 feridos, segundo fontes oficiais. O conflito de Darfur, no
oeste do Sudão, explodiu em fevereiro de 2003, quando MJI e MLS se rebelaram
contra o regime de Cartum em protesto contra a precária situação desta província. A
facção dirigida por Minawi foi a única a assinar um acordo de paz com o Governo
sudanês em Abuja, em maio de 2006. Desde a explosão da violência, cerca de 300 mil
pessoas morreram e 2,5 milhões foram forçadas a abandonar seus lares, segundo
cálculos da ONU.
TERRA ARRASADA
VALA COMUM
Corpos amontoados, busca heroica e saques aumentam o desespero e a dor da
população
O Brasil, por sua vez, nunca esteve tão envolvido em uma tragédia natural no Exterior.
Como comandante militar das forças de paz da ONU, o Brasil mantém no país
caribenho mais de 1,2 mil militares, que se voltaram desde o primeiro momento ao
resgate e atendimento às vítimas do terremoto. A contagem do Ministério da Defesa
até a sexta-feira 15 somava 15 brasileiros mortos em decorrência da catástrofe, entre
eles a pediatra e sanitarista Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança (leia
reportagem à pág. 40). Os outros 14 são militares, sete deles vindos do 5º Batalhão de
Infantaria Leve, sediado em Lorena (SP), que, pelo sistema de rodízio da Minustah,
deveriam voltar para casa neste final de semana. Moradora da cidade vizinha de
Cachoeira Paulista, a dona de casa Dalila Anaya Henrique se preparava para receber
o filho mais velho, o soldado Tiago, 23 anos: “Eu soube do terremoto, mas nem pensei
que meu filho estaria morto.”
SOBREVIVÊNCIA
No país onde 80% são miseráveis, a pobreza piorou e a água virou o bem mais
precioso
Sem classe média “Está tudo acabado. Teremos que recomeçar do zero”, disse o
brasileiro Ricardo Seitenfus, representante da Organização dos Estados Americanos
(OEA) para o Haiti. Com 80% dos habitantes vivendo abaixo da linha de pobreza, o
Haiti era um país agonizante que levou um golpe sem precedentes. A Cruz Vermelha
estima em até 50 mil as mortes provocadas pelo terremoto, mas esse número pode
aumentar à medida que avançar o trabalho das equipes de resgate enviadas das mais
diversas partes do mundo. Um dos maiores entraves para os trabalhos de socorro e
para a reconstrução do país está na própria composição da sociedade haitiana. Na
prática, não há ligação entre a elite formada na França ou no Canadá e a massa de
miseráveis. “Tem um ministro da Educação muito bem formado, com cursos no
exterior, mas não há um grupo intermediário que faça funcionar o projeto escolar”,
exemplifica o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que chefiou a missão de paz da
ONU entre janeiro de 2007 e abril de 2009.
Antiga colônia francesa, o Haiti chegou a ser conhecido no final do século XVIII como
a “pérola das Antilhas”, por conta de sua exuberante cultura do açúcar, o petróleo da
época. Inspirado na Revolução Francesa e com base em uma revolução de escravos,
foi o primeiro país da América Latina a conquistar a independência, em 1804. Foi
também o primeiro a acabar com o regime escravocrata. De lá para cá, porém, as
tragédias que assolam o país são tamanhas que existe entre os organismos de ajuda
humanitária o temor de que a comunidade internacional tenha se cansado do país.
Resgate pedra por pedra “Não desistam do Haiti como se fosse uma causa perdida”,
apelou Bill Clinton em um comovente pedido de ajuda ao país, tentando sensibilizar
governos e também as pessoas comuns. Aos primeiros, pediu de imediato a cessão
de helicópteros para o socorro aos feridos. “Precisamos também de água, comida,
abrigos e primeiros-socorros. O mais imediato que podem fazer é enviar dinheiro,
mesmo um ou dois dólares”, completou, em parte de discurso na Assembleia-Geral da
ONU, dirigindo-se aos cidadãos. Cerca de 30 países, entre eles Estados Unidos,
Brasil, França, Canadá, Cuba, China, Argentina, Venezuela e Israel, se mobilizaram
de imediato. O presidente americano, Barack Obama, foi o mais generoso. Na quinta-
feira 14, Obama anunciou a liberação de US$ 100 milhões para a recuperação do país
caribenho, além do envio de dez mil soldados e fuzileiros, 300 médicos, um porta-
aviões e um navio-hospital. No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
determinou a liberação de US$ 15 milhões e a criação de um gabinete de crise
coordenado pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general
Jorge Félix.
No país que faz resgates à mão, pedra por pedra, devido à ausência de equipamentos
adequados, as perspectivas para o futuro são dramáticas. Além das colossais – e
imediatas – perdas, há o risco de o Haiti voltar a um estado selvagem, submergindo
numa crise político-institucional similar à que protagonizou no começo da década de
1990. Com as forças internacionais de paz concentradas nas buscas aos
sobreviventes e uma polícia precária, a segurança pública está ameaçada. O principal
presídio do Haiti desabou com o tremor, deixando escapar um número ainda não
conhecido de detentos. Na quinta-feira 14, um caminhão que tentava vender água na
periferia de Porto Príncipe foi atacado por moradores sedentos. Na madrugada do
mesmo dia, o porta-voz da ONG Viva Rio, Valmir Fachini, informou por e-mail que as
ruas de Porto Príncipe viraram palco de saques. “Ouvimos vários disparos de armas
de fogo sem poder dizer de onde vêm. Os saques começaram nos supermercados,
que desabaram parcialmente”, contou Fachini, usando a internet, o único meio de
comunicação que sobreviveu ao terremoto por usar no país o sistema de transmissão
via satélite.
Antes de o tremor jogar o Haiti no chão, 2010 representava um importante passo para
a normalização do país que, em 200 anos de história, sofreu 32 golpes militares.
Desde o fim da ditadura de Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, em 1986, os haitianos
sonham com uma democracia que abra caminho para instituições democráticas
sólidas. As eleições legislativas estavam marcadas para o mês que vem e as
presidenciais para novembro. Antes de o desastre natural lembrar ao mundo que o
Haiti existe, o país já era uma miséria só. O simples cruzar de sua fronteira com a
República Dominicana – país com o qual ocupa a ilha de Hispaniola, no Mar do Caribe
– é uma experiência chocante. Assim que passa a divisa, o verde das florestas
dominicanas cede lugar ao cinza de um deserto tropical. A porção oeste da ilha,
ocupada pelo Haiti, tem aparência de terra arrasada – reflexo do desmatamento para
produzir o carvão que gera a energia usada pelo mais pobre país do continente. O que
parecia não poder ficar pior, ficou.
A Presença Brasileira
A presença das tropas brasileiras no Haiti é resultado de compromisso assumido pelo
governo em 2004, quando a ONU estabeleceu a Minustah, a missão multinacional
convocada depois que uma crise política apeou do poder o presidente Jean-Bertrand
Aristide e mergulhou o país no caos institucional.
Bruna Cavalcanti
O juiz federal Fausto De Sanctis sofreu novo revés – isso, apenas 72 horas depois de
ter sido afastado da presidência do processo envolvendo o MSI/Corinthians por
“suspeição”. Dessa vez, a decisão veio do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que
suspendeu a condenação de dez anos dada por De Sanctis ao banqueiro Daniel
Dantas (Grupo Opportunity) sob a acusação de evasão de divisas e lavagem de
dinheiro. O STJ anulou a Operação Satiagraha que investigou Dantas numa medida
de “alcance ilimitado”.
"Congelamento Global"
Bruna Cavalcanti
Bruna Cavalcanti
O presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, decidiu que o garoto Sean Goldman, 9
anos, pode ser levado de volta aos EUA por seu pai biológico – ele está no Brasil
desde 2004 e com a morte de sua mãe ficara sob os cuidados do padrasto brasileiro.
A avó do menino, Silvana Bianchi, encaminhou carta a Lula pedindo que ele impeça a
partida do neto.
Comissão do Senado aprova convite para Jobim falar sobre compra de caças
"Da mesma forma que a escolha da melhor opção seja prerrogativa do Poder
Executivo, permitindo-lhe contrariar o relatório e ficar com o concorrente que ficou em
terceiro lugar, é prerrogativa regimental da Comissão de Relações Exteriores o papel
de acompanhar e tornar mais transparente as negociações", afirmou Azeredo. A
comissão ainda não marcou data para a audiência de Jobim. Como o requerimento
prevê convite ao ministro, ele tem a prerrogativa de negá-lo caso não esteja disposto a
prestar esclarecimentos no Senado. Hoje, Jobim afirmou que a compra dos caças
ainda não está definida. "Não está definida a compra dos caças. O processo ainda
está no âmbito do Ministério da Defesa. A notícia não tem fundamento", disse.
Reportagem publicada pela Folha afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
Jobim bateram o martelo a favor do caça francês Rafale. A decisão foi tomada depois
que a fabricante, Dassault, reduziu de US$ 8,2 bilhões (R$ 15,1 bilhões) para US$ 6,2
bilhões (R$ 11,4 bilhões) o preço final do pacote de 36 aviões para a Força Aérea
Brasileira. Mesmo com a redução, os caças franceses têm preço muito superior ao dos
concorrentes. Conforme a Folha apurou, a proposta do modelo Gripen NG, da sueca
Saab, foi de US$ 4,5 bilhões, e a dos F-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing,
de US$ 5,7 bilhões.
Manutenção
Além do custo do pacote, que inclui avião, armas, logística e custo de transferência
tecnológica, a Dassault estimou que a manutenção dos aviões por 30 anos custará
US$ 4 bilhões. Os valores foram revistos após o presidente Lula anunciar
antecipadamente a vitória do Rafale, em setembro. O preço unitário, sempre uma
estimativa, era então menor para todos os concorrentes porque o pacote não previa
vantagens incluídas na renegociação --como o custo de a Embraer fabricar o caça
futuramente.
Polícia Federal pede mais prazo para concluir investigações sobre esquema no
DF
A estratégia também foi adotada pelo policial aposentado Marcelo Toledo, acusado de
ser arrecadador do esquema. Ele conseguiu um habeas corpus no STF (Supremo
Tribunal Federal) e permaneceu calado durante depoimento. Em um dos vídeos que
fazem parte do inquérito, o policial aparece entregando dinheiro a Durval Barbosa e
faz referência ao vice-governador Paulo Octávio. Outra tática é adiar os depoimentos,
como fizeram o empresário Helio de Oliveira, dono de uma empresa de informática
investigada, e o ex-chefe de gabinete de Arruda, Fabio Simão.
A Polícia Federal só conseguiu ouvir a diretora comercial da Uni Repro, Nerci Soares,
e outro depoente que não teve a identidade revelada. Nerci falou por mais de três
horas, mas o delegado responsável não autorizou a divulgação do conteúdo. A
principal testemunha de Barbosa, o jornalista Edmilson Edson dos Santos, conhecido
como Edson Sombra, chegou a conversar com o delegado, mas solicitou o adiamento
de seu depoimento. Amigo de Durval Barbosa, Sombra argumentou que não estava
"preparado" e que precisaria de mais 15 dias para dar explicações. "Eles [policiais]
querem me ouvir profundamente. Eu disse que não estava preparado", afirmou.
Em conversa de quase uma hora com o delegado Alfredo Junqueira, Sombra alegou
que ainda não teve conhecido profundo sobre o inquérito do STJ que investiga as
denúncias de corrupção que envolvem o governador. Segundo o jornalista, o inquérito
representa uma peça delicada porque revive todo o sofrimento que Barbosa passou.
Questionado sobre a situação do delator, ele afirmou que Barbosa está "tranquilo".
Depoimento do delator ao Ministério Público indica que o jornalista foi um dos
principais incentivadores para que o esquema fosse denunciado. Sombra, ainda de
acordo com o depoimento, recebeu cópia dos vídeos que mostram Arruda, secretários
de governo, assessores, deputados distritais e empresários negociando suposta
propina.
Guerra À Economia
Na Venezuela e na Argentina a interferência política afasta dos governos os
melhores economistas. E quando precisarem deles?
MÃO ARMADA
Depois das decisões anunciadas por Chávez e Cristina há o receio de uma nova
debandada de economistas dos governos dos países vizinhos e ameaça de prejudicar
ainda mais os entendimentos em temas que interessam ao Brasil. As medidas que
deram mais combustível aos que fazem essas ressalvas foram a demissão por decreto
do presidente do Banco Central argentino, Martín Redrado, por Cristina, e a criação de
duas taxas de câmbio por Chávez – o bolívar passou a custar 2,60 por dólar para
alimentos e artigos essenciais e 4,30 por dólar para vender petróleo e negociar
supérfluos. O primeiro sinal de que há algo de errado com a medida cambial foi uma
súbita troca de papéis: reduzir preços na Venezuela não é mais função de
economistas, mas de soldados armados enviados aos supermercados. Ou seja,
Chávez não acredita na “mão invisível” do mercado para equilibrar preços, mas põe
toda a fé na mão armada. É de assustar qualquer economista. “Não sobrou mais
ninguém na economia, porque ninguém vai ficar vendo o Chávez fazer todas as
loucuras possíveis e imagináveis”, diz o ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso. “Há
um século, a Argentina era a quinta maior economia do mundo. Hoje, seu PIB é um
pouco maior do que a metade do PIB de São Paulo”, lembra. Desse período para cá, o
país viu desaparecer do setor público economistas como Domingo Cavallo, Roberto
Lavagna, Guillermo Calvo, Aldo Ferrer, José Luis Machinea e, sobretudo, uma lista de
acadêmicos e colaboradores. “Vemos a progressiva decadência da economia
argentina porque falta respeito pelas instituições”, explica Enrique Saraiva, argentino
naturalizado brasileiro, professor de administração pública da FGV.
Diplomacia
Presidente russo anuncia avanço para tratado de desarmamento nuclear
Existem algumas obsessões que perseguem o governo Lula desde seu início e, ao
que tudo indica, continuarão a existir até o fim. Em dezembro passado, o presidente
assinou um decreto lançando o terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos – um
calhamaço de propostas com o nobre objetivo de pautar ações oficiais para proteger
minorias e grupos em risco, como índios e quilombolas. O plano, porém, foi concebido
nos moldes de um cavalo de troia. Escondida no corpo das medidas de apelo
humanitário, há uma série de propostas que, de tão absurdas, provocaram
desentendimentos e protestos de vários setores da sociedade, incluindo uma crise
dentro do próprio governo. Os ministros militares, por exemplo, ameaçaram renunciar
aos cargos diante da possibilidade de revogação da Lei da Anistia, de 1979, um pacto
político e social que permitiu a transição da ditadura militar para a democracia sem
maiores confrontos. Diante das pressões, Lula decidiu alterar o trecho do decreto que
previa a criação de uma comissão com poderes para apurar e punir os militares
envolvidos em crimes durante o regime dos generais. A decisão contornou a revolta na
caserna – e apenas isso. O restante do plano continuou intacto.
Elaborado sob os auspícios do secretário
Especial dos Direitos Humanos do governo,
Paulo Vannuchi, ex-militante de um grupo
terrorista dos anos 70, o plano continua
ameaçando a liberdade de imprensa e
protegendo invasores de terras, além de proibir a
exibição de símbolos religiosos em lugares
públicos e legalizar o aborto. Embora seja amplo
e muitas vezes vago, o PNDH não é apenas uma
simples carta de intenções, sujeita a delírios de
toda natureza, como alguns representantes do
governo tentam fazer crer com o objetivo de
O MENTOR DA CRISE
minimizar as críticas. A diferença entre o PNDH e
Sob os auspícios de Vannuchi,
outro projeto qualquer é que ele chega ao
lançou-se o programa que causou
Congresso assinado pelo presidente da
atrito com os militares, os
República. É, portanto, uma proposta do governo,
produtores rurais e a Igreja Católica
analisada pelo governo, que conta com o aval do
governo. O peso, evidentemente, muda. Os parlamentares podem alterá-la ou remetê-
la para o lixo, mas não é isso que normalmente ocorre. Pontos significativos dos dois
programas anteriores foram implementados, como a criação da lei que tornou
inafiançável o crime de tortura, a retirada do foro especial para policiais que praticam
crimes comuns e o combate ao trabalho infantil – só para citar alguns exemplos. E foi
contando com a simpatia natural pelo tema dos direitos humanos que o governo
resolveu inserir os contrabandos ilegais no texto.
Ao que parece, contudo, a ministra não está satisfeita com esse pessoal. Mais magra
e bronzeada após uma temporada em um spa no Rio Grande do Sul, na terça-feira,
durante a primeira reunião do ano do comando de sua campanha, Dilma reclamou
muito da polêmica criada por Paulo Vannuchi e pediu ao futuro presidente do PT, José
Eduardo Dutra, que controle os radicais do partido para evitar qualquer tipo de
problema. Em público, porém, ela silenciou sobre o Programa de Direitos Humanos.
Assim como Lula, a ministra tem procurado se mover de olho na bússola eleitoral. A
avaliação de sua equipe é que não valeria a pena criar neste momento um fato que
pudesse decepcionar o eleitorado mais à esquerda. Isso está de acordo com a
estratégia política geral que vai nortear o comportamento de Dilma até sua saída do
governo, que deve acontecer em abril. A principal recomendação é que ela evite
justamente entrar em temas polêmicos.
Ainda assim, ela permanece ministra. A Casa Civil é responsável por analisar a
legalidade e a constitucionalidade de todos os projetos do governo antes de enviá-los
à Presidência. Deve também resolver divergências e conflitos de interesse entre
ministérios. Apesar disso, o Programa de Direitos Humanos passou pela mesa da
ministra e chegou às mãos de Lula com vários focos de atrito entre setores do
governo, como os que envolveram Paulo Vannuchi e o ministro Nelson Jobim, da
Defesa, no caso dos militares; e os ministros Guilherme Cassel, da Reforma Agrária, e
Reinhold Stephanes, da Agricultura, no caso das invasões de terra.
Independentemente das conveniências eleitorais, seria muito bom para o país saber o
que Dilma pensa a respeito.
Candidato Sebastián Piñera pode levar a direita ao poder no Chile após 52 anos
MARCIA CARMOenviada especial da BBC Brasil a Santiago
Piñera entrou na corrida para a sucessão da atual presidente, Michelle Bachelet, como
favorito e foi o mais votado no primeiro turno, em 13 de dezembro. Ele recebeu 44%
dos votos e o candidato do governo, o ex-presidente Eduardo Frei, cerca de 29%.
Apesar da preferência demonstrada no resultado do primeiro turno, as duas pesquisas
de opinião mais recentes indicaram que a diferença entre os dois candidatos diminuiu.
De acordo com a previsão do instituto Adimark, Piñera venceria com apenas 5% de
diferença dos votos. Outra pesquisa, da Equipos Mori, sugere que ele alcançaria
empate técnico com Frei e venceria por margem inferior a 2%.
Promessas
Na campanha para este segundo turno, Piñera ressaltou que pretende criar planos
sociais nas áreas de saúde e educação para os mais carentes, além de permitir que
universitários de famílias mais pobres tenham acesso à universidade, já que esta é
cobrada no país. Piñera prometeu ainda manter as medidas implementadas por
Bachelet, como a presença de creches nas áreas populares e as facilidades para
mães solteiras poderem trabalhar. O candidato da oposição afirmou ainda que
pretende criar "um milhão de empregos" nos quatro anos de mandato e combater a
delinquência no país.
A campanha de Piñera para a segunda fase das eleições também foi marcada pelos
contínuo questionamentos da imprensa a respeito de dois assuntos: os negócios
pessoais do candidato e sua disposição para incluir políticos do partido que apoiou
Augusto Pinochet em seu eventual governo. Entre os negócios de Piñera estão a
companhia aérea LAN, a TV Chilevisión e o time de futebol Colo, Colo. "Eu já disse
um milhão de vezes. Venderei meus negócios na LAN. Vamos transferir a Chilevisión
para uma fundação sem fins lucrativos e, se a lei permitir, quero continuar sendo
acionista e diretor do Colo, Colo", afirmou.
Piñera também insistiu que na formação de seu gabinete não estarão ex-membros do
governo militar. "O governo militar terminou há vinte anos e já é história. Vamos olhar
para o futuro. Além disso, os que me apóiam não integraram o governo militar", disse.
Em 1988, Piñera votou 'não' no plebiscito sobre a permanência de Pinochet - uma
votação que abriu caminho para a democracia no Chile. "Votei não e vocês sabem
disso. Sempre fui contra e condenei crimes de direitos humanos. E após estudar em
Harvard voltei para o Chile e trabalhei em projetos sociais na Cepal. A preocupação
com direitos humanos e a área social não é exclusiva da esquerda", afirmou.
Analistas ouvidos pela BBCBrasil afirmam que Piñera venceu o primeiro turno e
poderia chegar a ser eleito porque a Concertación enfrenta o "desgaste" de estar há
duas décadas no poder. O professor de Ciências Políticas da Universidade do Chile,
Guillermo Holzmann afirma que além do desgaste do partido governista, o eleitor
espera uma "melhor administração" dos recursos públicos num eventual governo
Piñera. "Piñera é um empresário com experiência política, que chega num momento
de desgaste da Concertación, mas para um setor da sociedade seu discurso de
mudanças não é suficiente", disse Holzmann.
Simulação
Para mapear a evolução do HIV em São Francisco, os cientistas criaram um modelo
matemático com os dados das infecções nas últimas duas décadas. A simulação
considerou a transmissão dos três tipos de HIV resistentes aos principais
antirretrovirais do mercado. A partir dessas informações identificaram os fatores do
tratamento que levaram à resistência aos medicamentos. O modelo mostrou que
muitos dos HIV resistentes, que têm evoluído nos últimos dez anos, são transmitidos
de uma pessoa para outra mais facilmente do que se acreditava. Essa nova dinâmica,
dizem os cientistas, tem potencial para provocar uma nova onda de resistência aos
medicamentos. Embora os remédios tenham conseguido manter a taxa de
transmissão do HIV resistente abaixo de 15% do que seria esperado, cerca de 60%
dos vírus desse tipo têm potencial para causar epidemias autossustentáveis caso
saiam do controle. "Este estudo não é só sobre San Francisco. É basicamente sobre
muitas outras comunidades de países ricos e tem implicações significativas para a
saúde global", afirmou Sally Blower, da Universidade da Califórnia em Los Angeles,
líder da pesquisa em comunicado à imprensa. Segundo ela, o modelo matemático
aplicado à cidade pode ser transposto para "qualquer outro lugar", desde que feitas
adaptações necessárias.
Migração viral
Uma das maiores preocupações dos cientistas agora é a disseminação do vírus
resistente aos tratamentos nos países pobres. A chegada desse tipo HIV a locais onde
o acesso aos medicamentos é difícil e as políticas de saúde pública são limitadas pode
anular os recentes avanços conquistados em áreas mais atingidas pelo HIV, como a
África do Sul. Por enquanto, não há dados sobre a presença do vírus resistente nos
países mais pobres. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), o
principal empecilho é a falta de informações confiáveis sobre saúde pública nessas
nações. A insistência da entidade em tratar de maneira semelhante todos os
infectados pelo HIV foi alvo de críticas de Blower. "O mais inquietante é que nosso
modelo mostra que a estratégia atual para a eliminação do HIV proposta pela OMS
inadvertidamente pode piorar as coisas e aumentar significativamente os níveis de
resistência aos medicamentos em muitos países africanos", afirmou a pesquisadora
americana. De acordo com os cientistas, o modelo aplicado na pesquisa pode ser
usado para o estudo da dinâmica de outras doenças resistentes a tratamentos.
Os países do Grupo P5+1 concluíram hoje uma reunião em Nova York para tratar
sobre a possível imposição de novas sanções ao Irã por causa de seu polêmico
programa nuclear. Não foi registrado nenhum avanço nos diálogos, devido às
diferenças que persistem entre essas nações --os cinco membros permanentes do
Conselho de Segurança da ONU, China, EUA, França, Reino Unido e Rússia, mais a
Alemanha-- sobre o tema. Na reunião de hoje, que aconteceu a portas fechadas e na
sede da Comissão Europeia em Nova York, os seis países abordaram a proposta de
Washington para impor possíveis novas sanções a Teerã, a quem as potências
ocidentais acusam de estar utilizando o seu programa nuclear para uso militar e a
quem criticam por rejeitar suas ofertas de diálogo para resolver o problema, que já
dura vários anos.
Fontes diplomáticas da União Europeia (UE) assinalaram que as diferenças persistem
entre os países e que durante esta reunião constataram as divergências entre eles e a
"decepção" de todos pela decisão iraniana de seguir em frente com seu programa
nuclear. "Não houve conclusões no sentido que não se tomou decisão alguma neste
momento", disse à imprensa ao término da reunião o representante do Ministério de
Exteriores russo, Serguei Ryabkov. Robert Cooper, diretor político do Conselho da UE,
entretanto, não descartou a hipótese de sanção. "Começamos a examinar novas
medidas adequadas", disse. Os seis países se reunirão de novo, embora a data nem o
local tenha sido determinado, para analisar a proposta que em outubro passado
fizeram aos iranianos para que Teerã troque seu urânio enriquecido por combustível
nuclear.
Com Efe e France Presse
Caos Aéreo
Passageiros esperam até duas horas para poder embarcar
“Os serviços prestados em Cumbica são péssimos”, avalia Anderson Correia, diretor
da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Transporte Aéreo. “O conforto e a forma de
operação em alguns espaços, como as salas de embarque remotas (em que os
passageiros são levados de ônibus às aeronaves) e as de restituição de bagagens,
receberiam notas D ou E, segundo critérios internacionais. Estão próximas do
colapso.” Viajantes como a paranaense Tatiane Souza, 30 anos, sentem na pele o que
essas notas representam. “Foi um absurdo a forma como trataram a minha família”,
diz. Por mais de 24 horas, ela tentou embarcar com o marido e os filhos para a
Espanha. O calvário começou quando o avião que os trazia de Curitiba não aterrissou
em Guarulhos no horário previsto. Quando finalmente a família conseguiu chegar, o
embarque para Madri estava encerrado. Juscelino, marido de Eliane, conta que
faltavam 25 minutos para o voo decolar, mas os funcionários da TAM não permitiram a
entrada dos retardatários.
Juscelino relata que, depois de muita discussão, eles foram levados para um hotel.
Passava de 2h e não havia mais vagas. A família só conseguiu se hospedar em outro
local, às 4h da manhã. A viagem foi remarcada para a noite seguinte e os
aborrecimentos não cessaram. O aeroporto continuava desconfortável, cheio de filas,
mal iluminado. Na sala de embarque havia cerca de 200 pessoas, mas apenas 75
cadeiras. Alguns tentavam descansar se recostando nas paredes. Outros esticavam
as pernas – ou o corpo todo – sobre os ladrilhos. Antes de deixar o Brasil, os Souza
tiveram de esperar mais de três horas sentados no chão frio. Os 45 dias de férias
acabaram ali, literalmente, em solo brasileiro.
Mesmo nos trechos nacionais, em que não é preciso passar pelos controles da Polícia
e da Receita, os passageiros penam. A empresária Gisele Ribeiro, 22 anos, levou
duas horas para fazer o check-in para a capital do Amazonas na noite da quarta-feira.
“Nunca peguei uma fila tão grande em toda a minha vida, que inferno”, reclama.
Segundo Francisco Luiz Xavier de Lemos, presidente do Sindicato Nacional dos
Aeroportuários, parte da lentidão é fruto da falta de fiscalização. “Muitas vezes, há filas
enormes no check-in, e metade dos boxes das empresas aéreas não tem
funcionários”, diz. “As esteiras ficam rodando vazias porque as companhias não
colocam gente para levar as malas.” Para ninguém sair prejudicado, o aeroporto tem
de funcionar como uma orquestra. Se alguém falha, os efeitos são imediatos.
“Cumbica precisa incorporar as melhores ferramentas de gerenciamento de pistas e
terminais”, acredita Respício do Espírito Santo Júnior, presidente do Instituto Brasileiro
de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transporte Aéreo. Segundo ele,
um “choque tecnológico” é fundamental para melhorar a movimentação das aeronaves
e o conforto dos passageiros.
Os viajantes ficam tanto tempo dentro dos aeroportos que muitos deles se
transformaram em shopping centers. Em Cumbica, há 197 pontos comerciais. A
receita bruta, que inclui tarifas aeroportuárias e arrecadação com o comércio, foi de R$
680 milhões no ano passado. Tem de tudo: chaveiro, consultório dentário e até uma
sala ecumênica – onde há uma rosa dos ventos pregada na parede, com o leste
destacado, para orientar os muçulmanos. A professora baiana Deise Viana, 26 anos,
se sentiu obrigada a experimentar uma das cabines do Fast Sleep, uma espécie de
hospedaria expressa. Pagou R$ 145 para dormir entre cinco e oito horas. Deise
voltava do Chile e perdeu a conexão para Salvador porque o voo em que estava foi
desviado para o Rio de Janeiro. Deise esbravejou, mas não teve ajuda da companhia
aérea. Tentou reclamar à Agência Nacional de Avião Civil (Anac). Passava das 22h e
ela deu com a cara na porta. Ainda que Deise quisesse apelar para Deus, também não
conseguiria. Até a sala ecumênica estava fechada.
Em busca de um candidato
Pela primeira vez os movimentos sociais vão divididos para uma eleição e
alguns até defendem voto nulo
Hugo Marques e Sérgio Pardellas
NOVO RUMO
MST já não marcha mais unânime a favor do PT
“Mas eu já fui à Força Sindical”, respondeu Dilma. “Pôxa, já faz mais de um ano.” A
ministra fez um mea-culpa: “Eu estou longe do movimento social mesmo.” Ela
prometeu que após o Carnaval vai visitar as centrais e as sedes dos movimentos
sociais. Há dificuldade de unificar a Força porque o vice-presidente, Melquíades de
Araújo, é ligado ao tucano Geraldo Alckmin e defende o apoio a Serra. Na União Geral
dos Trabalhadores, o presidente Ricardo Patah, que no passado chegou a ser vaiado
entre os pares por apoiar Lula abertamente, agora prega uma consulta a todos os
candidatos. “Vamos conversar com o Serra e a Dilma, em torno de um projeto de
inclusão social e uma revolução na educação”, diz Patah. “Queremos discutir política
de salário mínimo, terceirização e lucro de resultados.” A única central que defende
voto só em Dilma abertamente é a Central Única dos Trabalhadores (CUT), com sete
milhões de filiados. “Sabemos quem não queremos de volta”, diz o presidente da CUT,
Artur Henrique da Silva Santos. Com a intenção de atrair seus tradicionais aliados, o
governo abriu o saco de bondades.
O Incra fechou convênio com a Confederação de Cooperativas de Reforma Agrária do
Brasil, investigada por desvio de recursos públicos. O vencimento do convênio é só
em 2012. O Ministério da Saúde presenteou o MST com uma participação no Grupo
da Terra, para formular políticas para o campo. Detalhe: mesmo sem CNPJ, o MST
está na portaria publicada em dezembro no “Diário Oficial da União”.
Guerra morna
Obama enfrenta a China e sofre ameaças. Parece sério. Mas não é, pois a
economia dos dois países depende de paz e parceria
Claudio Dantas Sequeira
INTERDEPENDÊNCIA
Obama e Jintao: briga tem limite
A visita do dalai-lama a Washington, prevista para ocorrer este mês, provocou tensão
nas relações entre os Estados Unidos e a China. Pequim considera o líder tibetano um
separatista e vê no encontro dele com o presidente Barack Obama uma afronta grave.
Num encontro privado com Obama, em novembro, o presidente chinês, Hu Jintao,
expressou “resoluta oposição” à presença do religioso em solo americano, o que,
segundo ele, só fomentará o tumulto e a divisão. Na quarta-feira 3, o porta-voz da
chancelaria chinesa fez uma ameaça velada. “Nós apelamos aos EUA que
compreendam a grande sensibilidade da questão tibetana e lidem com o problema de
maneira prudente e apropriada, para evitar danos adicionais às relações”, afirmou. O
apelo, no entanto, não encontrou eco do lado americano. Obama fez que não ouviu e
prometeu endurecer a relação, com ênfase na agenda comercial. “O enfoque que
adotamos é ser muito mais firmes na aplicação das regras existentes”, disse o
presidente a senadores democratas. “A relação bilateral, que com a posse de Obama
prometia avançar, acabou retrocedendo e está em uma fase muito crítica. Talvez o
pior momento em muito tempo”, avalia o historiador Severino Bezerra Cabral,
presidente do Instituto Brasileiro de Estudos de China Ásia-Pacífico.
Ele lembra que, além da questão do dalai- lama e da censura ao Google, o diálogo
entre Washington e Pequim sofreu outro recente abalo numa área sensível que é a
militar. Há cerca de uma semana, os EUA anunciaram a venda de US$ 6,4 bilhões em
armas para Taiwan. Cabral explica que Tibete e Taiwan são temas sensibilíssimos
para a China, e no passado já levaram a crises muito sérias. David Shambaugh,
especialista em China da George Washington University, acha que parte do problema
está na própria diplomacia chinesa. “Eles têm se tornado muito truculentos, às vezes
estridentes, às vezes arrogantes, sempre difíceis”, diz. Segundo ele, esse
posicionamento tem praticamente inviabilizado a execução dos objetivos do
memorando assinado por Obama e Jintao em novembro. Para Lytton Guimarães,
coordenador do Núcleo de Estudos Asiáticos da UnB, a tendência é que as relações
entre EUA e China continue a sofrer altos e baixos. “Mas não acho que essa dinâmica
possa piorar, pois uma ruptura seria catastrófica para ambos os lados, com
consequências para todo o planeta.” Ele se refere à interdependência entre as duas
nações. Se por um lado a China é a maior detentora de títulos da dívida americana,
por outro o mercado consumidor dos EUA é o principal destino das exportações
chinesas. Ou seja, China e EUA estão no mesmo barco e só lhes resta remar na
mesma direção.
PROTEÇÃO AO ISOLADOR
Chapéus chineses, semelhantes ao da foto, serão
instalados na linha de transmissão que deu origem ao
último apagão
As chuvas que já causaram tanta destruição neste verão têm ao menos um aspecto
positivo: poucas vezes os reservatórios das usinas hidrelétricas brasileiras estiveram
tão cheios. É a garantia de que será possível produzir energia elétrica barata e em
abundância nos próximos meses. Os reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste
estão com 77% de sua capacidade ocupada. No Nordeste, o índice chega a 71%; no
Norte, a 91%; e, no Sul, à incrível marca de 97%. É muita água estocada, pronta para
fazer girar as turbinas das hidrelétricas e iluminar o país. Apesar desse quadro
generoso, surpreendeu na semana passada o anúncio do Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS), órgão que controla a geração de energia elétrica no Brasil, de
que será preciso acionar usinas termelétricas - que produzem energia com a queima
de combustíveis fósseis, como óleo diesel, gás e carvão - para manter a oferta de
energia num nível adequado. Se há tanta água armazenada, por que apelar às
térmicas? Normalmente, essas usinas só são acionadas quando o nível dos
reservatórios das hidrelétricas está muito baixo. Em situações normais, as
termelétricas ficam desligadas, porque sua energia é mais cara do que a de origem
hídrica e seu impacto ambiental, maior, pois sua operação produz gás carbônico.
Mas, além da demanda recorde, o Brasil está enfrentando outro problema: a oferta de
energia para a Região Sudeste diminuiu significativamente no último mês. O principal
linhão que leva energia da usina de Itaipu até São Paulo está operando com metade
de sua capacidade. Em vez de entregar 6 000 megawatts à capital, o fornecimento tem
ficado pouco abaixo de 3 000 megawatts. É a mesma linha que foi atingida por três
curtos-circuitos em novembro passado, dando início ao maior apagão da história do
país. Apesar de continuar insistindo na exótica hipótese de que a falha pode ter sido
causada por três raios simultâneos, o governo, discretamente, decidiu investir em
manutenção. Mais de 100 isoladores de cerâmica estão sendo trocados nas linhas de
alta-tensão. Foram esses equipamentos que falharam em novembro. Como há a forte
suspeita de que isso ocorreu porque eles estavam encharcados pela chuva, será
colocado em cima de cada um deles um chapéu chinês, espécie de cone isolante que
fará as vezes de guarda-chuva nas próximas tempestades. Essa operação de troca e
a manutenção se estenderão até maio - quando deve arrefecer a onda de calor. Até lá,
teremos reservatórios cheios e usinas termelétricas em ação.
Dilúvio... 45ºdia
No Rio Grande do Sul, cidades com volume de chuva médio de 100 milímetros no mês
de janeiro, como Santa Maria, Santiago e São Luiz Gonzaga, foram castigadas com
índices de 400 milímetros. A lavoura de arroz gaúcha sofreu perda de 1 milhão de
toneladas de grãos, o suficiente para suprir a demanda do Brasil inteiro por um mês.
Em Minas Gerais, nada menos que 52 cidades decretaram situação de emergência
por causa da chuva. Em nenhuma cidade, contudo, os efeitos da chuvarada foram
sentidos de forma tão constante quanto em São Paulo, a maior cidade do Hemisfério
Sul e polo econômico que produz 12% do PIB do Brasil.
As chuvas fortes não causariam tantos problemas em São Paulo caso a cidade tivesse
sido preparada para elas. Na virada do século XIX para o XX, impulsionada pela
riqueza produzida pelo café e pelas indústrias, São Paulo deixou de ser uma vila
provinciana para assumir sua vocação de metrópole. A partir daí, seus governantes
optaram por canalizar boa parte de seus córregos e rios, transformando-os em
galerias pluviais no subsolo da cidade. Sobre essas galerias foram construídas
grandes avenidas, como 9 de Julho, 23 de Maio, Juscelino Kubitschek e Pacaembu.
As galerias subterrâneas coletam a água da chuva dos bueiros e a levam para galerias
maiores, que a despejam no Rio Tietê. Nesse processo, as enchentes ocorrem de
duas formas. A primeira é quando o volume de água é maior do que aquele que as
galerias comportam. Nesse caso, a água volta à superfície e causa alagamentos. A
segunda é quando os próprios rios não comportam o volume de água despejado em
seus leitos, e transbordam.
Não há cidade que passe incólume por chuvas da intensidade das que desabaram
sobre São Paulo neste início de ano. O que os governos podem fazer – e muitas
vezes deixaram de fazer – é encontrar meios de minimizar os danos, evitar
alagamentos prolongados e garantir que a tormenta atrapalhe o mínimo a vida de seus
habitantes. Os especialistas calculam que um único dia de chuvas torrenciais em São
Paulo, com alagamentos, cause um prejuízo de 95 milhões de reais só com
engarrafamentos no trânsito. O engenheiro Aluisio Canholi afirma que 80% do total de
perdas econômicas decorre dos congestionamentos de trânsito. Motoristas,
mercadorias e bens ficam parados no trânsito, ilhados em pontos de alagamento. Nos
outros 20% da conta entram fatores como perdas materiais e desvalorização dos
imóveis situados em áreas sujeitas a inundações. As ações necessárias para
amenizar as enchentes em São Paulo são conhecidas. O secretário municipal de
Desenvolvimento Urbano de São Paulo, Miguel Luiz Bucalem, resume o que é preciso
fazer:
construir mais piscinões. Na Bacia do Alto Tietê, onde fica a cidade de São
Paulo e outros 35 municípios, há 45 piscinões. Número insuficiente.
aumentar a permeabilidade da cidade ampliando suas áreas verdes. A terra
dos parques ao longo de córregos e rios absorve a água caso o rio transborde.
reforçar as galerias que transportam a água da chuva. Em regiões antigas da
cidade, elas são muito estreitas porque foram construídas quando a cidade era
menos urbanizada e havia mais solo para absorver a água.
transferir para locais seguros os moradores que vivem em áreas de risco,
como o Jardim Pantanal.
coletar o lixo na hora certa, para que ele não se espalhe pelas ruas com a
chuva.
usar mais pisos com capacidade de drenagem. Estacionamentos e calçadas
podem ser construídos com pisos que deixem a água da chuva ir para o lençol
freático, e não para os bueiros.
Em 1947, quando ocorreu o recorde pluviométrico num mês de janeiro em São Paulo,
a cidade tinha 2,2 milhões de habitantes e a chuva provocou problemas similares aos
atuais, embora em escala menor. O principal fator pelo qual os relatos de tragédias em
1947 são menores que os registrados hoje é a forma de ocupação da cidade. Com
ruas de terra, várzeas e lagoas pluviais às margens do Tietê, a água da chuva era
mais facilmente escoada e drenada. Poucas horas depois da chuva, portanto, a cidade
voltava ao normal. "Embora a chuva causasse danos, ela não criava pânico na
população, como acontece hoje", diz o geógrafo Adler Guilherme Viadana, da
Universidade Estadual Paulista. Hoje, ao contrário, é compreensível que os
paulistanos encurralados pela água olhem em pânico para as nuvens de chuva no
céu.
ALÍVIO MOMENTÂNEO
Crianças que foram resgatadas quando cruzavam a fronteira (à esq.) e americanos
presos(Laura Silsby, à frente): e agora?
Quase um mês depois do terremoto, o Haiti já soma 212 000 mortos. Para os que
sobreviveram, não há emprego e a comida depende da nem sempre funcional logística
das organizações de ajuda humanitária. O desespero e a falta de horizonte estão
levando muitos pais ou familiares a entregar crianças a estrangeiros na tentativa de
dar a elas algum futuro. Não se conhecem as dimensões dessa prática nem em que
bases ela se processa, embora haja indícios de que as famílias em muitos casos
recebam dinheiro pelos filhos que cedem para adoção. O que se sabe com certeza é
que essas trocas são feitas ao desamparo de qualquer liturgia legal. Isso ficou claro
com a prisão, na sexta-feira passada, 29, de dez americanos que tentavam atravessar
a fronteira do Haiti com a República Dominicana em um ônibus que dividiam com 33
crianças haitianas com idade entre 2 meses e 12 anos. Os menores não tinham
documentos. A operação pareceu inaceitável mesmo em um país com as instituições
em frangalhos e corrupção oficializada. Os americanos se identificaram como
missionários batistas dispostos a correr riscos para aliviar o sofrimento de órfãos
famintos, desidratados e sem esperança. Foram indiciados por sequestro de menores
e associação criminosa e podem pegar até quinze anos de prisão.
As reais intenções dos missionários são alvo de suspeitas - entre elas a de que a
operação tinha objetivo econômico. Laura Silsby é empresária no estado de Idaho,
onde há dez anos administra o PersonalShopper.com, um claudicante serviço de
internet destinado a orientar mulheres a fazer compras. Silsby responde a diversos
processos na Justiça americana por não pagamento de suas dívidas. Ela
desembarcou no Haiti e logo em seguida conseguiu apresentar a diversas famílias seu
plano, batizado de Refúgio Infantil Vida Nova. Prometia levar as crianças para um
orfanato na vizinha República Dominicana. Sua conversa deu resultado. Muitos pais
levaram pessoalmente seus filhos ao ônibus e os assentos foram rapidamente
preenchidos.
O sucesso da operação, soube-se mais tarde, se deveu aos falsos argumentos, todos
muito convincentes, usados pelos americanos. Aos pais, disseram que seu trabalho
estava autorizado pelo governo haitiano. Deram-lhes a garantia de que poderiam
visitar as crianças na República Dominicana quando quisessem. O mais provável é
que não tivessem a menor intenção de mantê-las em um orfanato, e sim oferecê-las
para adoção como se não tivessem família. Uma evidência forte disso é o fato de os
americanos terem declarado aos policiais haitianos que sua carga humana era
composta apenas de órfãos. Outra mentira. Pelo menos vinte das crianças
embarcadas no ônibus do Refúgio Infantil Vida Nova tinham parentes.
Nenhuma das condições exigidas em uma adoção internacional legal foi cumprida pelo
grupo. Esse processo, quando feito de acordo com as normas, demora em torno de
três anos. As pessoas que querem adotar uma criança são avaliadas por agentes de
serviço social. Os parentes biológicos confiam nas instituições e acompanham os
trâmites. O grupo flagrado na fronteira haitiana desprezava o caminho legal -
demorado e complexo. "A maneira como essas pessoas se conduziram não sugere
que estivessem agindo de boa-fé", diz a advogada Maristela Basso, professora da
Universidade de São Paulo. As 33 crianças aguardam a decisão sobre seu destino,
em Porto Príncipe, capital do Haiti, onde estão sob a guarda da organização europeia
Aldeias Infantis SOS. Disse a VEJA Georg Willeit, pedagogo austríaco daquela
entidade: "Se o governo autorizar, nós as devolveremos a seus pais. Mas, antes,
temos de nos assegurar de que o que se passou com elas não se repetirá". Como
todo inferno, o Haiti está cheio de boas intenções.
"O laser permite separar os átomos, o que significa que pode servir para enriquecer o
urânio com o grau que um queira... Mas por enquanto não pensamos utilizar este
método de enriquecimento", explicou. "Para enriquecer o urânio temos centrífugas
que, se Deus quiser, poderemos utilizar para enriquecer 20% e ser autossuficientes",
detalhou.
Queda de braço
As declarações do presidente abrem um novo capítulo na inflamada queda de braço
que o Irã mantém com grande parte da comunidade internacional por causa das
suspeitas levantadas por seu programa nuclear. Países como Estados Unidos, Israel,
França, Alemanha e Reino Unido acusam o regime iraniano de esconder, sob seu
esforço atômico civil, um projeto de natureza clandestina e aplicações bélicas cujo
objetivo seria a aquisição de um arsenal nuclear, alegação que o Irã rejeita.
O conflito se agravou no final do ano passado depois que Teerã rejeitou uma proposta
de Washington, Paris e Moscou para enviar seu urânio a 3,5% ao exterior e recuperá-
lo tempo depois enriquecido a 20%, nas condições necessárias para manter
operacional seu reator nuclear civil na capital. Em uma aparente mudança de postura,
Ahmadinejad assegurou na terça-feira passada que seu país não tem problema algum
em enviar o urânio ao exterior. A declaração conseguiu abrir de novo a brecha entre
as grandes potências, e em particular entre Washington e Pequim, que mantêm
posturas divergentes sobre a polêmica.
Operadoras têm a primeira reunião com governo para tratar de banda larga
Não foi definida durante a reunião a reativação da Telebrás, nem foi comentado se ela
atuará no mercado. O consenso entre as empresas é que haja condições iguais, tanto
para o governo como para as empresas, de competição no setor. Luiz Eduardo Falco,
presidente da Oi, concordou com o plano do governo de usar todos os ativos em fibra
ótica que tem e se limitou a falar que "Telebrás é uma hipótese". Para Falco, o
encontro foi importante para o setor dar sua colaboração. "Devemos contribuir para
que o modelo funcione da melhor forma", disse. Erenice e Alvarez se reunirão com
provedores de internet para tratar do mesmo assunto.
Em uma reunião para discutir o plano de banda larga, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva afirmou ter a intenção de reativar a Telebrás. Estava presente na reunião o
coordenador do programa Software Livre Brasil, Marcelo Branco, que divulgou aspas
do presidente sobre a sua decisão de reativar a empresa. Alvarez não descarta,
contudo, a reativação da estatal. "É preciso uma empresa de gestão desses ativos [de
fibras ópticas], com papel regulador, a partir principalmente da interconexão com as
redes existentes. A reativação da Telebrás é uma das opções", afirmou.
A Telebrás, ou qualquer outra empresa gestora da rede de fibras, poderá atuar de
forma competitiva no mercado. "Não queremos ser mais uma empresa competindo no
mercado. Mas se é para que o mercado seja regulado de forma melhor, nós viramos
um ator do mercado", disse Alvarez. A proposta do plano de banda larga é que o
governo intervenha onde o mercado está atuando de forma "imperfeita, monopolista e
a preço exorbitante", nas palavras de Alvarez. "Temos um mercado imperfeito. A este
mercado imperfeito, o governo vai tratar de ver os seus elementos regulatórios", disse.
Um vídeo que está sendo periciado pela Polícia Federal reforça a suspeita de que o
governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido), ofereceu R$ 1
milhão para uma testemunha depor a favor dele no inquérito do mensalão do DEM.
Segundo a reportagem, na gravação, um ex-secretário do Distrito Federal, próximo ao
governador, afirma ter ouvido Arruda dizer que precisava da "ajuda" da testemunha, o
jornalista Edson Sombra.
Pela gravidade do fato – Arruda foi acusado por Dodge de obstruir a Justiça ao tentar
subornar o jornalista Edson Sombra –, Gonçalves abriu mão da decisão monocrática e
submeteu seu voto à corte do STJ integrada por 15 ministros. Seu colega Nilson
Naves argumentou que o tribunal não tinha competência para decretar a prisão do
governador sem o prévio respaldo da Câmara Legislativa, mas foi vencido. Os demais
ministros – à exceção de Teori Zavascki e do presidente Cesar Asfor Rocha, que não
votou – apoiaram Gonçalves. Confirmada a prisão de Arruda, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, preocupado com a exposição pública do governador, pediu ao ministro
da Justiça, Luiz Paulo Teles Barreto, que Arruda não fosse submetido aos flashes da
imprensa ao chegar à PF. Destoando do sentimento da população de Brasília, Lula
mostrou-se abatido com a prisão de Arruda e lamentou que o escândalo tivesse
chegado a tal ponto. “Isso não é bom para o País nem para a política brasileira”,
afirmou o presidente. “Não contribui em nada para o desenvolvimento da consciência
política nacional.” O cerco para prender Arruda teve cenas cinematográficas. A PF
colocou um helicóptero e três viaturas nas proximidades da residência oficial de Águas
Claras, onde mora o governador, para evitar sua fuga. A partir dali, as equipes de
policiais tratavam Arruda de “alvo”, como chamam as pessoas que serão presas.
Foram horas de tensão e ansiedade. Arruda, que vivia uma espécie de retiro domiciliar
após as denúncias, ligou para a mulher, Flávia, para avisá-la que almoçaria com um
dos advogados, José Gerardo Grossi. O governador ainda foi alertado pelo seu
secretário de Transportes, Alberto Fraga, sobre boatos da prisão.
“Não existe isso”, sorriu Arruda. No momento em que comia uma paleta de cordeiro
com fetuccine na Trattoria da Rosário, no Lago Sul, o governador viu pela tevê a
decretação de sua prisão. Não deu tempo para a sobremesa. Arruda foi para a
residência oficial de Águas Claras e pensou em se esconder até que o STF julgasse
seu recurso. Ligou para o advogado Nélio Machado, que lhe disse para manter a
calma. Às 17h19, o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, recebeu um
telefonema. “O governador quer se entregar”, disse do outro lado da linha o secretário
de Segurança Pública do DF, Valmir Lemos, que é também delegado federal. “Tudo
bem. Ele pode ir para o edifício-sede da PF ou para a Superintendência”, respondeu
Corrêa. Negociada a rendição, um comboio de seis carros oficiais com vidros escuros
ingressou na Superintendência, no Setor Policial Sul às 17h45. Também tiveram a
prisão decretada o ex-deputado Geraldo Naves, o secretário de Comunicação do DF,
Weligton Moraes, o diretor de operações das Centrais Elétricas de Brasília, Haroaldo
Brasil de Carvalho, e de Rodrigo Arantes, sobrinho e secretário particular do
governador. Inconformado, Nélio Machado, advogado de Arruda, afirmou que “a prisão
foi ilegal e antidemocrática, pois o governador não teve direito de defesa”. Segundo
ele, “trata-se de uma pena antecipada, sem processo legal”. Arruda, por sua vez, disse
que foi alvo de perseguição política. “É uma grande maluquice o que está
acontecendo”, comentou Arruda com um assessor, antes da prisão. Como último
recurso, Machado entrou com um pedido de habeas corpus no STF. O pedido foi parar
nas mãos do polêmico ministro Marco Aurélio Mello, que varou a madrugada
estudando o caso. Na manhã da sexta-feira 12, Mello sinalizou à ISTOÉ que sua
decisão seria dura:
“A lei submete a todos”. Horas depois, negou o habeas corpus. Assim que foi preso,
Arruda ligou para o vice-governador Paulo Octávio. “Estou me entregando, você
assume o governo.” Paulo Octávio acompanhou tudo no escritório de seu advogado,
Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Foi ali que o vice montou a estratégia de
anunciar que não será mais candidato nas próximas eleições, na tentativa de
tranquilizar os adversários. Essa decisão funcionou também como um recado sobre a
gravidade do momento aos seus seguidores, que ensaiavam uma cerimônia de posse.
O vice, no entanto, também está envolvido no escândalo do mensalão do DEM. O
delator Durval Barbosa diz que Paulo Octávio ficava com 30% da propina arrecadada
pelo esquema de corrupção. A permanência de Paulo Octávio no cargo está
ameaçada. Vai depender do desfecho do pedido de intervenção federal no GDF,
apresentado ao STF pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Ele afirma
que há no governo de Brasília uma organização criminosa, que contamina toda a linha
sucessória de Arruda. “Não há dúvida de que o governador era o mandante da
tentativa de corromper testemunhas”, diz Gurgel. “Se for posto em liberdade e
permanecer no governo, continuaremos tendo a máquina pública do DF a serviço do
crime.” O pedido de Gurgel será julgado pelo presidente do STF, ministro Gilmar
Mendes, logo após o Carnaval. Mesmo que recupere sua liberdade, Arruda não tem a
pretensão de reassumir seu cargo. Foi o que ele revelou ao secretário Fraga, em
conversa na prisão. “A intenção do Arruda é esperar a conclusão do inquérito para
voltar ao governo. Inquérito tem prazo para acabar, são 30 dias quando o réu está
preso”, revelou Fraga à ISTOÉ. Como a prisão de um governador é fato inédito no
País, a PF teve de alojar Arruda no gabinete do diretor técnico-científico da PF, Paulo
Roberto Fagundes, uma sala de pouco mais de 20 metros quadrados, com mesa, sofá
e banheiro.
O cerco se fecha
Ahmadinejad enfrenta o mundo com sua política nuclear e o Brasil fica isolado
como o único defensor do iraniano
O Irã ainda não tem capacidade técnica para construir a bomba, mas a decisão de
elevar o teor do enriquecimento de urânio de 5% para 20%, anunciada pelo presidente
Mahmoud Ahmadinejad na terça-feira 9, deixou a comunidade internacional em estado
de alerta. Se fosse um Estado democrático, com amplas liberdades civis e total
transparência em seu programa nuclear, provavelmente seria possível evitar sanções
“enérgicas” como as que estão sendo defendidas pelos Estados Unidos e pela França.
Mas ocorre o contrário. Há pouco mais de quatro meses, descobriu-se que Teerã
construiu em segredo uma usina de enriquecimento de urânio. Para piorar, desde que
foi reeleito num pleito questionado por setores da população, Ahmadinejad tem
endurecido as medidas de controle social e abusado da violência contra
manifestantes. A intransigência dificulta a busca por uma saída pacífica e isola o Brasil
como único defensor da tese contrária a punições a Teerã. “Não sou ingênuo a
respeito das dificuldades de um acordo. Mas o outro caminho, o das sanções, foi
perseguido nos casos do Iraque e do Irã sem nenhum efeito prático”, diz o ministro das
Relações Exteriores, Celso Amorim. Para o chanceler, o povo iraniano será o mais
prejudicado pelas restrições econômicas.
“A intenção brasileira é louvável, mas as janelas de oportunidade estão se fechando
por culpa do próprio presidente iraniano”, afirma Valerie Lincy, pesquisadora do
Wisconsin Project sobre controle de armas nucleares. Com o gesto desafiador,
Ahmadinejad praticamente sepulta o plano que vinha sendo negociado no âmbito da
Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), ligada à ONU. Pela fórmula, aceita
pelas potências negociadoras (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha),
o Irã enviaria 85% de seu estoque de urânio para Rússia e França, onde seria
enriquecido a um nível adequado para fins medicinais. Inicialmente, Teerã pareceu
concordar com a fórmula, mas depois recuou. “Temos que concordar que o acordo
está morto”, diz Valerie. Como ISTOÉ revelou em novembro, a possibilidade de que o
urânio fosse enriquecido no Brasil, um país neutro, chegou a ser considerada pelos
iranianos. Mas o governo brasileiro declinou, basicamente por falta de capacidade
técnica. A produção atual é insuficiente para abastecer as usinas de Angra 1 e 2 e o
plano de expansão do setor nuclear prevê ainda a criação de mais usinas e a
construção de fábricas de radioisótopos, tecnologia que movimenta bilhões num
mercado dominado pelas mesmas potências que tentam punir o Irã.
Modelo falido
Após anos de farra fiscal e distribuição de benesses sem controle, a Europa
agora precisa pagar a conta da irresponsabilidade
Acontece que a própria União Europeia passou por cima dessas regras para expandir
o bloco na tentativa de torná-lo mais influente do que os Estados Unidos. Seus
dirigentes esqueceram, porém, que os EUA têm administração única, ao contrário do
bloco europeu, que, apesar de ter unificado a política monetária (inflação e juros),
possui variadas políticas fiscais (receita e despesa). No ano passado, a festa acabou e
o déficit fiscal da Grécia foi quatro vezes maior, com a dívida pública multiplicada por
dois. O país precisa de 55 bilhões de euros este ano para refinanciar sua dívida e
manter a máquina pública funcionando. “Portugal, Grécia, Itália e Espanha crescem
pouco e têm um gasto social muito grande. Para eles, é difícil reduzir os gastos,
principalmente com a economia desacelerada”, explica o economista sênior do
Santander, Cristiano Souza. Uma saída seria desvalorizar o euro para torná-los mais
competitivos e, assim, acelerar o crescimento, mas os países mais ricos não estão
convencidos a depreciar a cotação, hoje em torno de US$ 1,35. Na quinta-feira 11, o
presidente da União Europeia, Herman Van Rompuy, após reunião com a Alemanha e
a França, anunciou um acordo para evitar que a crise fiscal grega acabe em moratória,
pondo em risco a estabilidade do euro. Mas garantiu que o novo pacto exigirá rigor e
determinação do governo de Atenas, com um plano de “austeridade digno dos piores
tempos do FMI”. “A irresponsabilidade fiscal grega nos últimos anos não pode sair
grátis”, afirmou. O plano inclui cortar despesas públicas em 2 bilhões de euros, reduzir
em 30% as horas extras, congelar salários, aumentar a idade de aposentadoria e os
impostos. “Só haverá ajuda se o governo grego levar a cabo as reformas de grande
alcance”, afirmou o ministro da Economia da Alemanha, Michael Meister. “A Grécia é
o ponto mais crítico no curto prazo. Ela precisa recorrer ou à Europa ou ao FMI”,
explica o economista Paulo Nogueira Batista Jr., representante do Brasil e de mais oito
países no FMI.
Em qualquer tempo, com ou sem crise, é preciso fazer o dever de casa. Agir mais
como formiga do que como cigarra. Na Europa, a conta chegou rapidamente, porque
se apostou no aumento do gasto público, como se a política econômica pudesse
passar ao largo da responsabilidade fiscal. Agora, os PIIGS se veem obrigados a
cortar gastos para provar aos credores que têm capacidade de pagamento. E as
potências do Velho Continente estão pagando o preço pelo passo maior do que as
pernas. Mas a lição da União Europeia vale para todo e qualquer país.