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JESUS É BAPTIZADO.

O NOSSO BAPTISMO
– Jesus quis ser baptizado. Instituição do Baptismo cristão. Agradecimento.

– Efeitos do Baptismo: limpa o pecado original, nova vida, filiação divina, etc.

– Incorporação à Igreja. Chamada à santidade e ao apostolado. Baptismo das crianças.

I. NA SOLENIDADE DE HOJE, comemoramos o baptismo de Jesus por São


João Baptista nas águas do rio Jordão. Sem ter mancha alguma que purificar,
Jesus quis submeter-se a esse rito tal como se submetera às observâncias da
Lei de Moisés, que também não o obrigavam.

O Senhor desejou ser baptizado, diz Santo Agostinho, “para proclamar com
a sua humildade o que para nós era uma necessidade”1. Com o baptismo de
Jesus, ficou preparado o Baptismo cristão, directamente instituído por Jesus
Cristo e imposto por Ele como lei universal no dia da sua Ascensão: Todo o
poder me foi dado no céu e na terra, dirá o Senhor; ide, pois, ensinai a todos
os povos, baptizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo2.

O dia em que fomos baptizados foi o mais importante da nossa vida, pois
nele recebemos a fé e a graça. Assim como “a terra árida não dá fruto se não
recebe água, assim também nós, que éramos como lenha seca, nunca
daríamos frutos de vida sem esta chuva gratuita do alto” 3. Antes de recebermos
o batismo, todos nós nos encontrávamos com a porta do Céu fechada e sem
nenhuma possibilidade de dar o menor fruto sobrenatural.

A nossa oração pode ajudar-nos hoje a agradecer por termos recebido esse
dom imerecido e a alegrar-nos por tantos bens que Deus nos concedeu. “A
gratidão é o primeiro sentimento que deve nascer em nós da graça baptismal”4.
Devemos agradecer a Deus que nos tenha purificado a alma da mancha do
pecado original, bem como de qualquer outro pecado que tivéssemos naquele
momento. Todos nós somos membros da família humana, que foi danificada na
sua origem pelo pecado dos nossos primeiros pais. Este “pecado original
transmite-se juntamente com a natureza humana, por propagação, não por
imitação, e está em cada um como algo próprio” 5. Mas Jesus dotou o Baptismo
de uma eficácia especialíssima para purificar a natureza humana e libertá-la
desse pecado com que nascemos. A água baptismal significa e actualiza de
um modo real o que é evocado pela água natural: a limpeza e a purificação de
toda a mancha e impureza6.

“Graças ao sacramento do Baptismo tu te converteste em templo do Espírito


Santo: não te passe pela cabeça – exorta-nos São Leão Magno – afugentar
com as tuas más acções um hóspede tão nobre, nem voltar a submeter-te à
servidão do demónio, porque o teu preço é o sangue de Cristo”7.

II. DEUS ETERNO e todo-poderoso, que, quando Cristo foi baptizado no


Jordão, e sobre ele pairou o Espírito Santo, o declarastes solenemente vosso
Filho, concedei aos vossos filhos adoptivos, renascidos da água e do Espírito
Santo, a perseverança contínua no vosso amor8.

O Baptismo iniciou-nos na vida cristã. Foi um verdadeiro nascimento para a


vida sobrenatural. É a nova vida pregada pelos Apóstolos e da qual Jesus
falara a Nicodemos: Em verdade te digo que quem não nascer do alto não
poderá ver o Reino de Deus... O que nasce da carne é carne, mas o que nasce
do Espírito é espírito9. O resultado desta nova vida é uma certa divinização do
homem e a capacidade de produzir frutos sobrenaturais.

A nossa dignidade mais alta – a condição de filhos de Deus, que nos é


comunicada ao sermos baptizados – é consequência dessa nova geração. Se
a geração humana dá origem à “paternidade” e à “filiação”, de maneira
semelhante aqueles que são gerados por Deus são realmente seus
filhos: Vede que amor nos teve o Pai em querer que nos chamássemos filhos
de Deus, e que o sejamos realmente! Caríssimos, agora nós somos filhos de
Deus...10

No momento do baptismo, pela efusão do Espírito Santo, produz-se, pois, o


milagre de um novo nascimento. Numa das orações que se rezam quando a
água baptismal é abençoada na noite da Páscoa, pede-se que assim como o
Espírito Santo desceu sobre Maria e produziu n’Ela o nascimento de Cristo, da
mesma forma desça Ele sobre a sua Igreja e produza no seu seio materno (a
pia baptismal) o renascimento dos filhos de Deus. Estas palavras tão
expressivas correspondem a uma profunda realidade: o baptizado renasce
para uma vida nova, a vida de Deus, e por isso é seu “filho”. E se somos filhos,
também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo11.

Agradeçamos ao nosso Pai-Deus que tenha querido conceder-nos dons tão


incomensuráveis, tão fora de qualquer padrão. Como pode fazer-nos bem
considerar frequentemente estas realidades! “«Padre» – dizia-me aquele
rapagão (que será feito dele?), bom estudante da [Universidade] Central –,
«estava pensando no que o senhor me falou..., que sou filho de Deus! E me
surpreendi, pela rua, de corpo «emproado» e soberbo por dentro... Filho de
Deus!» – Aconselhei-o, com segura consciência, a fomentar a «soberba»”12.

III. NA IGREJA, ninguém é um cristão isolado. A partir do baptismo, o cristão


passa a fazer parte de um povo, e a Igreja apresenta-se como a verdadeira
família dos filhos de Deus. “Foi vontade de Deus que a santificação e a
salvação dos homens não se dessem isoladamente, sem nenhuma conexão
entre uns e outros, mas constituindo todos um povo que o confessasse em
verdade e o servisse santamente”13. Ora, o Baptismo é a porta por onde se
entra na Igreja14.

“E na Igreja, precisamente pelo Baptismo, somos todos chamados à


santidade”15, cada um no seu próprio estado e condição. “A chamada à
santidade e a consequente exigência de santificação pessoal são universais:
todos, sacerdotes e leigos, estamos chamados à santidade; e todos
recebemos, com o baptismo, as primícias dessa vida espiritual que, por sua
própria natureza, tende à plenitude”16.

Outra verdade intimamente unida a esta, a da condição de membros da


Igreja, é a do carácter sacramental do Baptismo, “um certo sinal espiritual e
indelével” impresso na alma17. É como um selo que exprime o domínio de
Cristo sobre a alma do baptizado. Cristo tomou posse da nossa alma no
momento em que fomos baptizados. Ele nos resgatou do pecado com a sua
Paixão e Morte.

Com estas considerações, compreendemos bem por que é de desejar que


as crianças recebam sem demora esses dons de Deus18. Desde sempre a
Igreja pediu aos pais que baptizassem os seus filhos quanto antes. É uma
demonstração prática de fé. Não é um atentado contra a liberdade da criança,
da mesma forma que não foi uma ofensa dar-lhe a vida natural, nem alimentá-
la, limpá-la, curá-la, quando ela própria não podia pedir esses bens. Pelo
contrário, a criança tem direito a receber essa graça. No Baptismo está em jogo
um bem infinitamente maior do que qualquer outro: a graça e a fé; talvez a
salvação eterna. Só por ignorância e por uma fé adormecida se pode explicar
que muitas crianças sejam privadas pelos seus próprios pais, já cristãos, do
maior dom da sua vida.

A nossa oração dirige-se hoje a Deus, para que não permita que isso
aconteça. Que bom apostolado podemos e devemos fazer, em tantos casos,
com amigos, colegas, conhecidos...

(1) Santo Agostinho, Sermão 51, 33; (2) Mt 28, 18-19; (3) Santo Irineu, Tratado contra as
heresias, 3, 17; (4) Columba Marmion, Le Christ, vie de l’âme, Abbaye de Maredsous, 1933,
págs. 186 e 203-204; (5) Paulo VI, Credo do povo de Deus, Roma, 1967, 16; (6) cfr. 1 Cor 6,
11; Jo 3, 3-6; (7) São Leão Magno, Homilia de Natal, 3; (8) Colecta da Missa do domingo
depois da Epifania; (9) Jo 3, 3-6; (10) cfr. 1 Jo 3, 1-9; (11) cfr. Rom 8, 14-17; (12) São
Josemaría Escrivá, Caminho, n. 274; (13) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 9;
(14) cfr. ibid., 14; Decreto Ad Gentes, 7; (15) cfr. ibid., 11 e 42; (16) A. del Portillo, Escritos
sobre o sacerdócio, 5ª ed., Palabra, Madrid, 1979, pág. 111; (17)Dz, 852; (18) Sagrada
Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução, 20-X-1980; cfr. Código de Direito Canónico, c.
867.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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