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do movimento, à medida que os Vs mudam de direcção e criam Donald ]udd (1928-1994) composta por caixas de cobre, em que
novas linhas de movimento. Como Stella se serviu de um vocâ- a forma e o espaço entre as caixas foram determinados mate-
bulário artístico despojado e determinava com frequência as suas maticamente (cada caixa mede 22,8 x 101,6 x 106,7 cm, com
composições segundo princípios geométricos, é frequente os intervalos de22,8 cm entre si), não por intuição ou por sensibi-
críticos incluírem as obras deste período na Arte Minimalista. lidade artística, à semelhança de David Smith (ver fig.29.6),
Como as pinturas de Stella, a obra de )udd foi construídâ por
A Escultura Formalista uma repetição em série de elementos, pelo que a composição
lio início dos anos 60 surgiu um grupo de escultores que ficou não é regida por qualquer hierarquia nem por uma evocação
conhecido por compor as suas obras com base em premissas de emoções. A escultura é um objecto real, um "objecto especí-
matemáticas ou conceptuais, em paralelo com a pintura de Stella. fico", como fudd lhes chamava, para distinguir o Minimalismo
Neste conjunto de esculturas, a geometria privilegiava o con- das obras de arte tradicionais, e os críticos louvaram â suâ pre-
teúdo conceptual sobre o emocional e favorecia os meios e os cisão, consistência, cor, textura e escala.
materiais da produção em série. Estas esculturas ficaram conhe- Além de possuir as propriedades de um "obiecto real" bem
cidas como Arte Minimalista. Era comum os artistas evitarem executado, as caixas de fudd ocupam espaço, tal como qualquer
produzir as peças, preferindo entregar a um artesão as indicações obiecto real. Não são apresentadas sobre um plinto, nem se exibem
de fabrico, um pouco como numa fábrica. Como as pinturas dentro de uma caixa de vidro. Esta obra de Judd surge-nos do
Pop, a escultura minimalista não trai a mão do artífice, que mesmo modo que uma cadeira ou uma mesa. Ao prescindir dos
servia tradicionalmente como sinal de emoção e expressão pes- acessórios que anunciâm que um objecto é uma obra de arte, o
ml bem como prova do apuro técnico do artista. Aqui não Minimalismo intensifica a nossa consciência dos espaços em que
cÍrcontÍamos qualquer sinal do artista. Além disso, os artistas se encontram as obras de arte. Por outras palavras, o espaço em
sen'iram-se de materiais não convencionais para a produção de redor do objecto passa â integrar a obra e a experiência ârtística.
arte - plexiglas, tubos fluorescentes, aço galvanizado e mosaicos
de magnésio - continuando a exploração de novos materiais, DAN FLAYTN O escultor de néon Dan Flavin (1933-1996)
ráo característica da produção artísticâ do final da década de 50 étalvez o artista que mais severamente submeteu a sua obra a
c da década de 60. Ao mesmo tempo, insistiam na criação de fórmulas matemáticas. Conhecido pelo seu uso de tubos fluores-
eÍte que não se assemelhasse a arte. Como Stella, queriam que centes comuns, com os quais esculpiu elri-luz branca e colorida,
assuas obras fossem compreendidas como objectos independen- Flavin servia-se de materiais comprados na loja, nos comprimen-
E, sem quaisquer referências exteriores. tos de 60 cm, 1,20 m, 1,80 e 2,40.
Embora as ilustrações não permitam a apreensão total da
DONALD luDD senz Título (fig.29.23), de 1969, apresenta obra, as obras de Flavin, ainda que iludam pela simplicidade, são
odas as características do Minimalismo. É uma escultura de espectaculares pela sua beleza, ainda que usem apenas luzbranca,
29.27. Robert Smithson. Pontão em Espiral. 1970. Comprimento total 457,2 m; largura do pontão 4,57 m.
Great Salt Lake, Utah. Fotografia @ Herdeiros de Robert Smithson/Sob licença de VAGA/Nova Iorque
observador. Numa peça ainda mais assustadora, Serra colocou suas esculturas nonsite, paisagens compostâspor rochas e pedr:s
no chão umâ enorme chapa de chumbo rectangular e outra oriundas de lugares específicos (muitas vezes da vizinha \-orz
irnediatamente acima, em ângulo recto, suspensa do tecto. Ao férsia), que Smithson dispunha em caixotes de formas geométri-
observador, pedia-se que caminhasse sobre essa placa, o que cas ou em caixas espelhadas no chão da galeria. O local de
implicava passar sob â outra. As esculturas de Serra talvez se "paisagem" era representado por meio de mapas ou de fotografias
assemelhem a obras de arte minimalistas, mas estão, incontes- aéreas, sendo que a paisagem propriamente dita era representâde-
tavelmente, cheias de narrâtiva e emoção. não através de uma pintura, mas sim do que se assemelhava e
uma escultura minimalista. Ao olhar do observador apresentasa-
Earthutorfu (obras realizadas a ?artir -se a entropia, ou degradação progressiva, da terra, enquanto escr
era removida de um local e transportada para outro.
da manipulaçã,o da Natureza)
Tal como a escultura de Flesse, a escultura aparentemente
e Arte Site-Specific minimalista de Smithson está cheia de referências e suscita vária-s
Quando a década de 60 chegava ao fim, a estética pós-minimalista questões, pâtentes em Pontão em Espiral. Com 457 metros de
operava já a uma escala absolutamente desmesurada, que se esten- comprimento e 4,5 metros de largura, a obra exigiu o transpone
dia para lá dos limites das galerias de arte e do próprio mundo de 6,650 toneladas de lama, basalto negro e cristais de sal, que
artístico em geral, estendendo-se a áreas remotâs e desabitadas. formam as linhas brancas que acompanham a espiral, de cada
Vários artistas começaram a esculpir com terra, neve, vulcões, um dos lados. A escultura está localizada em Rozel Point, uma
relâmpagos e em áreas submarinas, criando obras efémeras, que área remota do Grande Lago de Sal do estado do Utah que parece
muitas vezes apenas existem em fotografias e desenhos. Era fre- um deserto industrial pelo equipamento de mineração abandonado
quente as suas obras possuírem um cariz fortemente geométrico, que abunda por toda a área. O tempo consome a civilização e
reflectindo a influência da arte minimalista e do abstraccionismo todasas outras coisas, pelo que a espiral de Smithson desaparecerí
geométrico. Porém, em contrâste, este tipo de escultura estava progressivamente, com os seus componentes erodidos pelo movi-
cheio de referências, muitas vezes ambientais e ecológicas, onto- mento das águas do lago. A própria forma, enrolada sobre si
lógicas (ou seja, ocupavam-se da natureza do ser) e com própria em direcção a nenhures, aprisionando organismos que-
preocupações políticas, como veremos nas obras de Robert Smi- por seu turno, avermelham a água, parece uma relíquia de uma
thson e na equipa formada por Christo e por feanne-Claude. qualquer civilização pré-histórica. Em vez de forma minimalisa
geométrica destinada a ser admirada por si, Pontão em Espiral
ROBERT SMITHSON Uma das criações mais famosas de constitui-se como poderosa escultura, em que o tempo éo elemento
earthtuorfu, produzidas através da manipulação da natureza, é supremo, narrador da entropia final de todas as coisas.
o Pontõo em Espiral, (ftg.29.27), executado por Robert Smithson
er-:.1970. Smithson, que era amigo de Serra, tornou-se uma figura c H R IS To E JE ANN E- c L AU D E Christo (Christo Iavacheff;
destacada no meio artístico nova-iorquino durante a segunda n. 1935) é um artista norte-americano nascido na Bulgária. A sua
metade da década de 60 graças aos seus artigos sobre arte, que mulher, feanne-Claude (feanne Claude de Guillebon, n. 1935), e
discutiam a terra ea natureza a partir de uma perspectiva ambien- ele conheceram-se em Paris, em 1958. Ainda em Paris, Christo
tal. Além disso, a fama de Smithson ficou também a dever-se às interessou-se pela criação de um diálogo social, levando o seu
cido ao embrulhar vários objectos nãc, identitlcados em vários l97l - Quatro estudantes são assassinados na Kent State University enquanto
protestavam contra a guerra doVietname
quilómetros de pano, estimulando a curiosrciade do observador
1976 - Running Fence, de Christo e Jeanne-Claude
acerca do objecto e das razões que [er aram ao gesto artístico. Em
7964, o casal mudou-se para Nora Iorque. Trabalhando com
1977 - Estreia de StorWors (Cuerro dos Estrelos)
- : ---,-,!tes de aço. Porém, a obra (que permaneceu no lugar 3,2 milhões de clólares, pago pelo ârtista e por |eanne-Claucle.
,-:::.:. duas semanas) não era exclusivamente :iuto-referente
- : - -:: rodo o processo que conduziu à implementção do con- Arte Conceptual: a Arte Enquanto ldeia
:: : -r-!!le as intermináveis negociações levadas a câbo com os Ainda que Marcel Duchamp já tivesse abordado a ideia
o francês
.-: ::r -i,, gor-erno e proprietários (quase todos rancheiros) como arte na década de 1910 (ver página 970) e que o americano
f.aÉi!1."
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IO94 PARTE Iv o MUNDo MoDERNo
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durante a Segunda Guerra NÍunclial, na LufttL,aJfe de Hitler e a
cheg:rda a Düsse ldorf, em 1963, dos artistas do mor.irnento Fluxus
(r,er pírgina 1081). Beuys fez correr que o se u avião fbi abaticlo em
1943 sobre a Crimeia, numa tempestade de neve, de que ele, Beuvs,
tbi salvo por um grupo <le Tirtaros nómadas que o cobriram com
camadzrs de feltro e de gordura animal, que se tornar:1m nos mate-
riais cle base da sua obra escultórica. Seia como for, a experiência
Je Beuys foi claramentc traumática. Depois de concluir os estudos
r.r .\cademia de Arte cle Düsseldorf, no Íinal de 1940, o artista
-l3sapareceu e passou dois anos a trabalhar como criado de lavoura,
iuma tentativa de se purgar da sua culpa c ansiedacle.
Porém, em 1961, Beuys ensinava já na Academia de Düssel-
- ,rl-. Dois anos depois, foi apresentado ao movimento Fluxus,
'-rtando-se âos seus ârtistas dur:rnte um segmento da statournée
r'. :c!lor à lebre morta aninhad:r nos seus braços. Preso à sola
.,:eto do pé esquerdo foi colado um pedaço de feltro; no da
::.:-1. Llma châpa rugosa de ferro. A primeira representava "calor
: .:,:',r.ri": a segunda evocâva a" razão dura". A cabeça de Beuys
- ., --,rberta com mel e folha cle ouro, transformando-o num
--,. :um irlto sacerdote que recorre à magia para curar males
,::,,:s. O n-rel, por seu turno, representâva uma força vital.
. . - .-,, -orntttnz'r, misteriosâmente ritualística, destinava-se
--. -.: .r tutilidade da pintur:r tradicional - pinturas que têm
- :'.plicadas - e a necessidade de substituilas com formas
..:
-.--. ia clécada de 60, o músico coreano Nam fune a corrente ininterrupta de informação que é característica das
Í ..r - -:- :.::iou composição com John Cage em Damstadt, emissões televisivas. A obra celebra a cultura vernácula dos
Estados Unidos, tanto no seu uso de néon e da televisão como
. :.: ,,:editt não convencionais. Sediado em Düssel- media como nas imagens da vida norte-americana apresentadas
"- -- " : :=iticipante nos programas do Fluxus, começou pelos vídeos. A televisão é a América - é o que nos diz Paik.
ü - .' , -- ,-:.. -:. lric com monitores de televisão, a que cha- Com efeito, a televisão é a vida real, porque a maior parte dos
: - "=irr;r(lâ electrónica". Declarando-a o medium norte-americanos experienciam o mundo através dos ecrãs de
,üÍitr-rr í: : - -: . \.rrn Iune Paik centrou toda a sua obra nela'
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televisão. Paik não emite qualquer juízo de valor sobre omedium,
L -.: .::- -::.::--tJou-se para Nova Iorque onde, com o o que iria contrâ as posições de um artista do Fluxus, mas limita-
irumlr:;- n :
' -. ::,:-=-.irr câmara de vídeo familizrr pela Sony, -se â expor o seu poder na definição da vida contemporânea.