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Nº: 090236006
Diz-se que Amadeo passou como um cometa pela pintura moderna: de forma breve mas
intensa.
Em 1905, Amadeo parte para Lisboa com a intenção de seguir o curso de Arquitectura
na Academia de Belas-Artes. É na Capital que desenvolve a actividade de desenhador e
sobretudo de caricaturista, desde logo apoiada e apreciada pelo seu amigo Manuel
Laranjeira.
Nos meses de Junho e Julho do ano seguinte conclui com sucesso três disciplinas de
desenho: Desenho linear geométrico – 11 valores; Desenho de ornato por estampa – 13
valores; Desenho de figura por estampa – 18 valores.
No dia em que completa 19 anos parte para Paris na companhia de Francisco Smith e
vai viver no Boulevard de Montparnasse. Frequenta ateliês de preparação para o
concurso à Escola de Belas Artes com o objectivo de cursar Arquitectura.
Em 1908 aluga o estúdio nº 21, no 14 Cité Falguiére onde reúne artistas portugueses –
Manuel Bentes, Emmérico Nunes, Eduardo Viana, Domingos Rebelo, Francisco Smith
entre outros. Um excerto de uma entrevista de Domingos Rebelo ao jornal “O Século”,
a 20 de Outubro de 1970, deixa vislumbrar um pouco das tertúlias que por lá se faziam.
“ [...] o atelier de Amadeo de Sousa Cardoso, no 14 Cité Falguière, que era de todos
nós o que vivia com maior abastança, pois era filho de uma rica família de Amarante
[...] tornou-se um centro de reunião. Iam lá todas as noites o Manuel Bentes, o Ferraz,
o arquitecto Collin, o Emmérico Nunes e eu. [...] ”.
Ainda nesse ano conhece Lúcia Pecetto com quem viria a casar em Portugal no ano de
1914.
Em 1909 volta a mudar de estúdio, desta feita para o nº 27, Rue des Fleures. É um ano
importante este na medida em que passa a frequentar a Academia Viti dirigida pelo
pintor espanhol Anglada Camarasa
e que conhece o pintor italiano
Amadeo Modigliani.
No ano seguinte participa no Armory Show, em Nova Iorque, com oito trabalhos,
exposição essa repetida em Chicago e Boston. Três destes trabalhos são adquiridos pelo
crítico de arte Arthur Jerome Eddy. Expõe colectivamente no I Salão de Outubro de
Berlim, conhece o pintor alemão Otto Freundlich.
A preocupação pelo bem-estar dos seus familiares está sempre bem patente nas missivas
que o vão mantendo em contacto com a família, exemplo disso é este excerto da última
carta que manda de paris para Portugal: “ [...] vou mandar-lhe por este correio o livro
de Maurras. Queira dizer à Avozinha que muitas vezes penso n’ela e dar-lhe saudades.
Amadeo
Algumas das suas obras são reproduzidas no livro de Arthur Jerome Eddy “Cubist and
Post-Impressionist”. Em Abril de 1914 envia três trabalhos para o London Salon,
exposição que entretanto não se realiza devido ao início da I Grande Guerra Mundial.
No Verão desse ano encontra-se em
Barcelona com o arquitecto Antoni Gaudi e
visita o seu amigo escultor Sola.
Surpreendido pela eclosão da Guerra, em
Madrid, regressa a Manhufe dividindo o
tempo entre a casa materna (já casado com
Lúcia) e a casa de Espinho.
Em Abril realiza-se uma sessão futurista no Teatro da República, da qual surge a ideia
de publicar a revista “Portugal Futurista” que foi apreendida. Nela constavam três
obras de Amadeo.
No ano de 1918 uma doença de pele impede Amadeo de pintar. A 25 de Outubro morre
bruscamente em Espinho, vítima da epidemia “pneumónica” que assolou a Europa no
final da Guerra.
A sua obra fica praticamente desconhecida até 1952 quando se dá o descobrimento que
culmina no S. N. I. Em 1959.
Depois, com Modigliani expõe no XXVII Salon des Indépendents de Paris que o
classifica de um estilo precioso e mundano
com algo decorativo no seu grafismo
estilizado, cujo colorido é espectacular de
influência oriental luxuosa.
Este é um dos estilos das artes plásticas mais salientes no primeiro quartel do século
XX, oposto ao impressionismo, pelo facto de substituir a análise da cor pela das formas
dos objectos, com tendência para a geometrização dessas formas.
Detentor de uma vasta obra, num curto tempo de vida, apresenta dezenas de óleos,
aguarelas e desenhos que se encontram integrados no " Parto da Viola" que é um
conjunto de obras de difícil classificação histórica lembrando Cubismo e Futurismo,
mas já reagindo contra estes. Tudo joga e se contradiz num "non sens".
O cubismo em expansão por toda a Europa foram influências marcantes no seu cubismo analítico.
Amadeo de Souza-Cardoso explora o expressionismo e nos seus últimos trabalhos experimenta novas formas e
técnicas, como as colagens e outras formas de expressão plástica.
Prémio Souza-Cardoso
Em 1925, a França realizou uma retrospectiva do pintor, com 150 trabalhos, bem aceites pelo público e pela
crítica. Dez anos depois, em Portugal, foi criado um prémio para distinguir pintores modernistas, que recebeu o
nome de "Prémio Souza-Cardoso".
Amadeo de Souza-Cardoso era um visionário, vivia fora de seu tempo, tal como outros tantos, pagou um alto
preço por isso.
Cabeça - c. 1913
Óleo sobre tela
61 x 50 cm
Centro de Arte Moderna - Fundação Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal
Paisagem Basca
Óleo s/ cartão
39,7x31,7 cm
c.1914