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Perfil do Executivo em Logística Brasileiro

Instituto de Logística e Supply Chain - 2008 - Mônica Barros

Este trabalho tem por objetivo apresentar o perfil do executivo de logística brasileiro. Grande parte
das análises é resultado da pesquisa “Perfil do Executivo de Logística”, realizada
anualmente durante o Fórum Internacional de Logística no Rio de Janeiro. Serão apresentadas as
transformações no ambiente empresarial e, conseqüentemente, na carreira do executivo de
logística, além de algumas estatísticas descritivas sobre o perfil do profissional de logística
brasileiro. INTRODUÇÃO O perfil do profissional brasileiro, independentemente da sua área de
atuação, vem sofrendo alterações nos últimos anos. A maior competitividade exigida pelo mercado
de trabalho, aliada à globalização, à evolução da tecnologia e à grande disponibilidade de
informações, faz com que o executivo moderno tenha que desenvolver novas competências. Se no
passado o diploma de graduação era praticamente sinônimo de emprego certo, hoje o executivo
que deseja manter-se na vanguarda de sua especialidade deve fazer investimentos contínuos em
capacitação. No caso específico do profissional de logística, além das mudanças no ambiente de
trabalho, nos últimos anos o conceito de logística sofreu alterações, passando a ter um escopo
mais abrangente. Isso é positivo para o executivo, já que novas oportunidades de trabalho
passaram a existir. O reflexo desta evolução pode ser percebido através dos organogramas das
empresas, visto que atualmente é comum a logística ter uma função de destaque, semelhante às
áreas comercial, de marketing ou finanças.

Modelos organizacionais mais tradicionais, criados quando a concorrência era menor, os ciclos dos
produtos mais longos e a incerteza mais controlável, buscavam perseguir a excelência nos
negócios através da gestão eficiente de atividades isoladas, como vendas, finanças, compras e
transportes, dentre outras. Desta forma, as atividades logísticas eram desempenhadas na maioria
das vezes por especialistas focados em sua área de atuação. Esses profissionais, por serem
avaliados por indicadores como custos de transportes mais baixos, menores estoques e compras
ao menor preço, preocupavam-se apenas com as suas tarefas, esquecendo-se muitas vezes de
que faziam parte de uma organização única. O reflexo disso no organograma é a fragmentação das
atividades logísticas em diferentes áreas, em geral pouco integradas. Essa fragmentação
geralmente implica em execução de tarefas sem coordenação interfuncional, frequentemente
resultando em duplicação de ações, desperdícios e conflitos de interesses entre as gerências, além
da não otimização dos custos totais da organização. Hoje em dia, os mercados globalizados e
dinâmicos e os clientes cada vez mais exigentes, geraram uma necessidade de readequação das
empresas de forma a garantir a perpetuidade do negócio. A coordenação da gestão de materiais,
da produção e da distribuição teve que se adaptar e apresentar soluções mais eficazes aos
objetivos de excelência que os negócios exigiam. O aumento da complexidade na gestão logística
e a identificação de oportunidades de melhoria de eficiência motivaram o surgimento do conceito de
logística integrada, associada a uma visão de processo. O reflexo dessa mudança nas empresas
pode ser observado no organograma, já que a logística ganhou status de independência e passou
a ser uma competência central. Os profissionais de logística tiveram, então, a possibilidade de
também ocupar cargos de alta gerência e diretoria, e os organogramas das empresas passaram a
dar destaque à área. Pesquisas desenvolvidas na Universidade de Ohio (EUA), em intervalos
regulares nas últimas duas décadas, avaliaram os padrões da carreira profissional entre executivos
norte-americanos de logística. Os resultados gerais obtidos no decorrer do período de estudo
identificam e confirmam várias tendências, como por exemplo:
1- Reposicionamento ascendente do principal executivo de logística, com um maior número de
diretores e vice-presidentes;
2- Responsabilidade ampliada para incluir mais funções;
3- Mudança de foco no sentido de se voltar mais para fora, com uma interação bem maior com
marketing, produção, finanças e processamento de dados;
4- Mudança de ênfase das questões voltadas às atividades para as questões mais amplas, ligadas
à tecnologia e economia;
5- Crescente reconhecimento do enfoque mais “científico” da logística. Portanto,
assim como o próprio conceito de logística, as empresas e os profissionais de logística evoluíram
ao longo dos anos. E, para acompanhar essa evolução, os profissionais devem ser capazes de
desenvolver competências que permitam o trabalho em atividades mais sofisticadas. Se antes um
profissional de logística tinha como principal responsabilidade a contratação do transporte, hoje
esse mesmo profissional deve ser capacitado para trabalhar com diferentes tecnologias de gestão,
ser habilidoso nas relações com clientes, saber gerenciar e avaliar as diversas vertentes da
qualidade do serviço, dentre outras competências. Executivos de níveis mais elevados devem ainda
desenvolver expertise para tomar decisões estratégicas, como o replanejamento de redes logísticas
e a adoção de uma cadeia de suprimentos global. Desta forma, aqueles profissionais que desejam
estar à frente em suas áreas vêm cada vez mais ampliando sua capacitação através de cursos,
como pós-graduação, MBA ou mestrado, assim como cursos mais curtos sobre temas específicos
de cada área de atuação da logística. Cabe ressaltar que muitos executivos da área não puderam
optar por graduarem-se em logística porque este curso simplesmente não existia à época de suas
escolhas. Dessa forma, ou aprendiam “on the job” ou buscavam cursos de
aperfeiçoamento ou especialização como forma de se manterem capacitados. Atualmente, ainda
são poucas as ofertas de cursos de graduação em logística. Em levantamento realizado através do
site do MEC (Ministério da Educação) constata-se que aproximadamente 85% dos cursos
oferecidos pelas universidades na área de logística são para formação de tecnólogos, e não de
bacharéis. Ou seja, são cursos que levam em média dois anos para serem concluídos. Em cursos
regulares de quatro ou cinco anos, o mais comum é existir a habilitação em logística. Como ocorre,
por exemplo, com o curso de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro
–UFRJ. Essa baixa oferta de cursos de graduação acaba por incentivar os profissionais da
área de logística a realizarem cursos que complementem a sua formação. Resultados da pesquisa
Os profissionais que hoje trabalham com logística têm formação bastante diversificada. Uma
pesquisa realizada pela Universidade de Ohio e preparada com o auxílio do CSCMP (Council of
Supply Chain Management Professionals) revela que a formação acadêmica do profissional de
logística nos Estados Unidos apresenta algumas similaridades e algumas diferenças quando
comparadas com a pesquisa realizada no Brasil. A principal semelhança é com relação à
graduação dos profissionais em logística. Nas duas pesquisas, constata-se que os cursos de
Administração e Engenharia são predominantes entre os profissionais. Entretanto, enquanto no
Brasil o curso de Engenharia predomina sobre o de Administração, nos EUA esta relação é inversa.
O curso de Administração é o mais comum entre os profissionais de logística norte-americanos. O
gráfico da Figura 2 apresenta essa relação.

Apesar de hoje, no Brasil, Engenharia ser o principal curso de graduação dos profissionais de
logística, os formandos em Administração vêm cada vez mais aumentando sua participação. Isto
fica evidente quando analisamos o perfil dos jovens profissionais que trabalham com logística, entre
os quais 32% fazem Administração e outros 32% cursam Engenharia. Analisando ainda o perfil do
jovem executivo em logística, constata-se que a participação feminina em cursos de especialização
nessa carreira é expressiva. Grande parte dos alunos do curso de formação em logística do
CEL/Coppead é composta por mulheres. Aliás, a participação feminina entre os profissionais de
logística no Brasil representa quase 23%, enquanto que nos EUA esse índice é de apenas 11%.
Dados norte-americanos indicam que a participação feminina na área de logística permaneceu
constante entre 1999 e 2006.

No Brasil, apenas 14% dos profissionais em logística possuem mestrado, contra 51% nos EUA.
Entretanto, 73% dos profissionais nacionais possuem alguma especialização, seja pós-graduação,
MBA ou mestrado. Uma das principais diferenças apontadas entre a pesquisa realizada pela
Universidade de Ohio e a realizada pelo CEL/Coppead foi a importância dada pelos
norte-americanos aos certificados profissionais. Enquanto 31% dos norte-americanos possuem
certificados, no Brasil apenas 8% dos executivos de logística afirmaram já possuir pelo menos um
certificado profissional.

Vale ressaltar que, ao certificar um profissional, a entidade avaliadora está afirmando que aquele
executivo é competente nas capacidades avaliadas. Da mesma forma, ao negar esse certificado a
um profissional, a entidade está assegurando que esse executivo ainda não atingiu o nível mínimo
de conhecimento necessário. Devido a esta grande responsabilidade das entidades avaliadoras em
emitir um certificado, é muito importante que esta seja reconhecida, renomada e idônea, além de
ter boa reputação e credibilidade. Dado isso, vale lembrar que os profissionais de logística
norte-americanos, diferentemente dos brasileiros, têm uma cultura forte de se organizarem em
torno de suas categorias. Como, por exemplo, o Council of Supply Chain Management
Professionals – CSCMP, para os executivos de logística. O certificado não deve ser
encarado pelos profissionais apenas com o objetivo de obtenção de um documento, e sim como
uma forma de aprendizado contínuo. Isto porque, de tempos em tempos, o que varia de acordo
com cada certificado, é preciso que o profissional o renove, garantindo assim um aprendizado
cíclico e permanente. Em virtude desse aprendizado contínuo, o profissional de logística vem
investindo bastante em sua formação. Nos últimos três anos, apenas 7% dos profissionais de
logística investiram R$ 1.000 em suas carreiras, enquanto 44% declararam ter gasto entre R$ 1.001
e R$ 10.000, 40% entre R$ 10.001 e R$ 30.000, e 9% mais de R$30.001. Vale ressaltar que
investimentos até R$ 10.000 correspondem a cursos de extensão, como, por exemplo, os cursos de
formação ou de idiomas. Entre os principais temas procurados pelos executivos encontram-se
“Custos Logísticos”, “Cadeias de Suprimentos” e “Serviços
Logísticos”. Investimentos entre R$ 10.000 e R$ 30.000 correspondem a cursos de
especialização, tais como MBAs ou pós-graduação realizados no Brasil. E, por fim, investimentos
superiores a R$ 30.000 podem ser associados a cursos de especialização realizados no exterior ou
mestrados. Com relação aos treinamentos oferecidos pelas companhias, 75% dos profissionais de
logística afirmaram que suas empresas proporcionam cursos internos e 87% confirmaram que
também são oferecidos cursos externos. As empresas do setor de mineração são as que mais
oferecem treinamentos internos aos seus profissionais. Por outro lado, empresas dos setores
públicos, como serviços, agências e instituições governamentais, são as que mais proporcionam
cursos externos. O responsável pela escolha dos cursos, em 57% dos casos, é o superior imediato,
embora cerca de 48% dos profissionais afirmassem que eles próprios também eram responsáveis
pela escolha. Ao se comparar a faixa etária do executivo nacional com seus pares
norte-americanos, observa-se que o perfil do profissional de logística brasileiro é composto por
pessoas mais novas. A idade média do executivo brasileiro é de 38 anos; já a dos norte-americanos
é de 47 anos. O gráfico da Figura 5 apresenta essa comparação.
Enquanto que no Brasil 55% dos profissionais têm até 37 anos nos EUA este percentual cai para
apenas 10%. Um dos fatos que pode explicar isto é que nos EUA os conceitos de logística e supply
chain estão consolidados há mais tempo, tornando, portanto, a área de atuação mais conhecida de
todos os profissionais. Como no Brasil o conceito e o ensino associados à logística são bastante
recentes, muitos dos profissionais brasileiros conheceram a aplicação da logística de forma mais
ampla há relativamente pouco tempo. Pode-se dizer que no passado havia, inclusive, um
preconceito com as pessoas associadas ao transporte e à armazenagem. Na maioria das vezes,
esses profissionais tinham pouca escolaridade e a própria hierarquia das empresas não colocava a
logística em um papel de destaque, o que tornava esta especialização pouco atraente aos
profissionais de uma forma geral. Isto fica mais claro ao se comparar o tempo de atuação em
logística dos executivos brasileiros com o dos norte-americanos. Nos cargos pesquisados, os
americanos sempre têm mais tempo (em anos) de trabalho do que os brasileiros. O gráfico da
Figura 6 apresenta essa relação.
Além disso, na maioria dos casos, existem diferenças significativas quanto ao custo de obtenção
de crédito por cada agente da cadeia. Em geral, empresas maiores conseguem taxas de juros
menores e, com isso, conseguem ter custos mais baixos em suas operações do que seus parceiros
comerciais de menor porte. Isto, por si só, representa uma grande oportunidade de otimização dos
fluxos financeiros na cadeia de suprimento. Parte do custo de R$ 3 do granjeiro é referente aos
juros pagos pelo empréstimo para compra de insumos de produção, tais como ração, água e
medicamentos. Este custo é integralmente repassado para a indústria de alimentos no preço de
venda do frango. Considerando R$ 0,20 como o custo dos juros pagos pelo granjeiro para a
produção de cada frango, pode-se concluir que a indústria está pagando R$ 0,22 de juros por
frango comprado (R$ 0,20 + 10% da remuneração do granjeiro). No entanto, a taxa de juros paga
pela grande indústria para aquisição de insumos é metade da obtida pelo granjeiro, o que poderia
significar uma economia de aproximadamente R$ 0,11/unidade ou R$ 11.000 (aumento de 10% no
resultado da indústria).
Com relação à remuneração do profissional de logística, constata-se que cerca de 70% recebem
até R$ 150 mil por ano, incluindo benefícios. O gráfico da Figura 8 demonstra o percentual de
executivos de logística por faixa de salário anual. Apenas 3% dos profissionais recebem acima de
R$ 300 mil por ano, ou seja, no mínimo um salário mensal aproximado de R$ 20 mil, considerando
12 salários mensais, décimo terceiro e mais dois salários extras de bônus.

A relação “nível hierárquico versus remuneração” é direta. Ou seja, profissionais com


as maiores remunerações tendem a ser os que possuem maiores níveis hierárquicos. O gráfico da
Figura 9 demonstra a probabilidade de um profissional de logística ocupar um determinado nível
hierárquico e estar em uma faixa salarial específica.
Observa-se que, para os profissionais que recebem mais de R$ 100 mil/ano, entre salários e
benefícios:
• Há 9% de probabilidade de o executivo ocupar cargos operacionais ou de gerência júnior;
• Há 69% de probabilidade de o executivo estar posicionado na média ou alta gerência; e
• Há 22% de probabilidade de o executivo ser diretor ou presidente.
Vale ressaltar que, como existem mais vagas de gerentes do que de diretores e presidentes, a
probabilidade de um profissional de logística ocupar uma vaga de gerente e simultaneamente
receber mais de R$ 100 mil é maior.
Ao se analisar a satisfação do profissional de logística com relação à sua remuneração anual,
constata-se que pouco mais da metade dos executivos (53%) está satisfeita. Profissionais com
maior nível hierárquico tendem a estar mais satisfeitos com a remuneração recebida. Ao segmentar
os profissionais com relação à escolaridade, constata-se que, quanto maior é a escolaridade, maior
a probabilidade de o executivo em logística estar satisfeito com a remuneração recebida. Da
mesma forma, ao segmentar os executivos com relação à remuneração recebida, verifica-se que,
quanto maior a remuneração anual, maior é a satisfação do profissional. Dos executivos em
logística, 19% já trabalharam no exterior. Os EUA são o principal destino: 37% dos profissionais
que trabalharam no exterior foram para aquele país. Entretanto, ter uma experiência internacional
não é garantia para estar satisfeito com a remuneração recebida. Os profissionais com experiência
internacional são mais insatisfeitos com sua remuneração, representando em média 14% dos
executivos insatisfeitos com este quesito. Os executivos que não possuem experiência
internacional, seja trabalhando, seja estudando, tendem a investir mais na sua formação, elevando
o nível de sua escolaridade como forma de compensação. Além da capacitação contínua, outro
fator de crescente reconhecimento do profissional de logística moderno é sua habilidade na
utilização de ferramentas analíticas e softwares para ajudar a resolver problemas logísticos, já que
soluções que demandam programas de otimização ou simulação estão cada vez mais difundidas
entre as empresas. Por exemplo, para identificar qual o melhor dimensionamento de equipamentos
em um armazém, ou onde e quantos devem ser os centros de distribuição numa cadeia logística, é
necessário não apenas ter conhecimento em pesquisa operacional e simulação, mas também saber
operar esses softwares específicos.

CONCLUSÃO A área logística agregou novas atividades e responsabilidades nos últimos anos, e
com isso passou a ter um destaque maior nas organizações. O reflexo disso pode ser visto nos
organogramas das empresas, onde já é bastante comum a existência do cargo de diretor de
Logística/Supply Chain. Pode-se afirmar que os profissionais de logística brasileiros são na maioria:
• Homens,
• Formados em Engenharia ou Administração,
• Com idade média de 38 anos e
• Com dez anos de experiência em logística. Nos cargos mais estratégicos, é maior a
probabilidade de o profissional de logística ganhar mais. E, quanto maior a remuneração anual,
maior é a satisfação do profissional. Em geral, aqueles profissionais que não possuem experiência
internacional, normalmente investem mais na sua capacitação como forma de compensação. Com
atividades mais estratégicas e de planejamento, o profissional de logística que deseja ter sua
empregabilidade alta precisa desenvolver novas competências e, por isso, investir sempre em
capacitação.

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