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” de Catholic
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Citação:
Mas outros escritos, seja dos padres ou dos modernos, com qualquer que seja o
nome que se apresentem, não devem ser de modo algum igualados às Sagradas
Escrituras, mas devem ser estimados como inferiores a elas, de forma que não
sejam recebidos de outro modo senão na categoria de testemunhas, para mostrar
que doutrina se ensinou também depois do tempo dos Apóstolos, e em que partes
do mundo a mais íntegra doutrina dos Profetas e Apóstolos foi preservada.
II. E na medida em que imediatamente depois do tempo dos Apóstolos, inclusive até
enquanto eles ainda estavam vivos, surgiram falsos mestres e hereges, contra os
quais na Igreja primitiva se compuseram símbolos, ou seja, confissões breves e
explícitas, que continham o consentimento unânime da fé Católica Cristã, e a
confissão da ortodoxa e verdadeira Igreja (como o são os Credos dos Apóstolos,
Niceno e de Atanásio): publicamente professamos que os abraçamos, e rejeitamos
todas as heresias e todos os dogmas que alguma vez se trouxeram à Igreja que
sejam contrários às suas decisões.
A Sagrada Escritura contém todas as coisas necessárias para a salvação: assim que
qualquer coisa que aí não se leia, nem possa provar-se por ela, não deve ser exigido
a nenhum homem que seja crido como um artigo de fé, ou considerado um requisito
ou necessidade para a salvação.
F.F. Bruce, Tradition Old and New. The Paternoster Press, 1970, p. 13-14.
Claro que essa questão não preocupa por demais a maioria dos cristãos e,
certamente, são poucos os que tenham se atentado para isto alguma vez.
Em geral, se crê na Bíblia porque é o livro aceito por todos os cristãos, cuja
autoridade não se discute, eis que ainda vivemos em tempos em que os
princípios cristãos têm influência na cultura e no modo de vida da maioria
das pessoas.
Certamente isso pouco importa à maioria dos católicos, coisa que os autores não
parecem valorizar adequadamente; parece que lhes encaixa na perfeição a
parábola acerca do cisco no olho alheio...
Com certeza que assim é tido o Alcorão nos citados países, e com força de lei.
Quanto à Bíblia, é lamentável que muitos cristãos creiam na inspiração da Bíblia
(no caso de entenderem o que é inspiração em sentido teológico em primeiro lugar)
somente por razões culturais; como por outro lado outras pessoas rejeitam a Bíblia
sem tê-la examinado apropriadamente por razões igualmente culturais.
Diga-se o mesmo perante quem sustenta que a família pela qual veio ao
mundo sempre considerou a Bíblia como livro inspirado e "para mim, isso
basta". Seria um bom motivo somente para aquele que não pode fazer um
trabalho de reflexão sério (e não devemos nunca desprezar uma fé
simples, sustentada sobre fundamentos bem mais débeis). Porém, seja
como for, o mero costume familiar ou local não pode estabelecer-se como
base para a crença na inspiração divina da Sagrada Escritura.
Alguns sectários dizem que a Bíblia é um livro inspirado porque "é um livro
que inspira". Porém, a palavra "inspiração" é precisamente o que se quer
provar e observemos que há muitos escritos religiosos antigos que
certamente são muito mais "inspirativos" ou "emotivos" do que muitos
textos e até livros inteiros do Antigo Testamento. Não é falta de respeito
afirmar que certas passagens dos escritos sagrados são tão secos quanto
as estatísticas militares... e algumas partes da Bíblia (Antigo Testamento)
são compostas realmente por isso: estatísticas militares!
Uma coisa chocante deste escrito é a vaguidade de muitas das suas afirmações.
"Alguns sectários"? Não poderia precisar um pouco mais? Eu nunca me encontrei
com os tais.
Por isso, concluímos que não é suficiente crer na Sagrada Escritura por
motivos culturais ou de costume, nem tampouco por seus textos emotivos
ou sua beleza espiritual: há outros livros, alguns totalmente mundanos,
que ultrapassam em beleza poética muitas passagens da Escritura.
E que dizer do que a própria Bíblia ensina sobre sua inspiração? Notemos
que são muito poucas as passagens onde a própria Bíblia ensina sua
inspiração - mesmo que de modo indireto - e a maioria dos livros do Antigo
e do Novo Testamento não dizem absolutamente nada sobre sua particular
inspiração. De fato, nenhum autor dos livros do Novo Testamento diz estar
escrevendo sob o impulso do Espírito Santo, exceto São João, ao escrever o
Apocalipse.
Mas, para sua desgraça, também falha por comissão. Vejamos as seguintes
passagens:
Romanos 9:1-2
Digo a verdade em Cristo, não minto, dando-me testemunho a minha consciência
no Espírito Santo, de que tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração.
1 Coríntios 2:10-16
No entanto, falamos sabedoria entre os que alcançaram maturidade; mas uma
sabedoria não deste século, nem dos governantes deste século, que vão
desaparecendo, mas falamos sabedoria de Deus em mistério, a sabedoria oculta
que, desde antes dos séculos, Deus predestinou para nossa glória; a sabedoria que
nenhum dos governantes deste século entendeu, porque se a tivessem entendido
não teriam crucificado o Senhor da glória; mas como está escrito:
COISAS QUE OLHO NÃO VIU, NEM OUVIDO OUVIU,
NEM ENTRARAM NO CORAÇÃO DO HOMEM,
SÃO AS COISAS QUE DEUS PREPAROU PARA OS QUE O AMAM.
Mas Deus no-las revelou por meio do Espírito, porque o Espírito esquadrinha todas
as coisas, mesmo as profundezas de Deus. Porque entre os homens, quem conhece
os pensamentos de um homem, senão o espírito do homem que está nele? Assim
também, ninguém conhece os pensamentos de Deus, senão o Espírito de Deus. E
nós recebemos, não o espírito do mundo, mas o Espírito que vem de Deus, para
que conheçamos o que Deus nos deu gratuitamente, do qual também falamos, não
com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com as ensinadas pelo
Espírito, combinando pensamentos espirituais com palavras espirituais. Mas o
homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são
loucura; e não as pode entender, porque se discernem espiritualmente. Porém, o
que é espiritual julga todas as coisas; mas ele não é julgado por ninguém. Porque
QUEM CONHECEU A MENTE DO SENHOR, PARA QUE O INSTRUA? Mas nós temos a
mente de Cristo.
1 Pedro 1:12
A eles foi revelado que não se serviam a si mesmos, mas a vós, nestas coisas que
agora vos foram anunciadas mediante os que vos pregaram o evangelho pelo
Espírito Santo enviado do céu; coisas para as quais os anjos desejam atentar.
Ademais, ainda que cada livro da Bíblia começasse com a frase: "Este livro
é inspirado por Deus", semelhante frase não provaria nada: o Alcorão diz
ser inspirado, assim como o Livro do Mórmon e vários livros de algumas
religiões orientais. Mais: os livros de Mary Baker Eddy (a fundadora da
Ciência Cristã) e de Ellen G. White (fundadora do Adventismo do Sétimo
Dia) se auto-proclamam inspirados. Pode-se concluir - com grande senso
comum - que o fato de um escrito atribuir a si qualidades de inspiração
divina não quer dizer que assim o seja na realidade.
Como terá podido perceber o leitor, que os autores sagrados tinham consciência de
falar da parte de Deus não é uma suposição.
De resto, admito livremente como coisa óbvia e verdade de La Palice que nem todo
o escrito que se declare a si mesmo inspirado o é na realidade.
Até que enfim uma citação mais ou menos precisa! É uma pena que o nosso
entusiasta apologista tenha omitido as outras onze regras para compreender a
Bíblia.
Se com esta regra se entende que qualquer pessoa que pedir a Deus para o
guiar na interpretação da Bíblia receberá essa condução do alto - e neste
sentido entendem a maioria dos fundamentalistas - então o imenso
número de interpretações contrárias e contraditórias, mesmo entre os
próprios fundamentalistas, nos apresentaria a preocupante sensação de
que o Espírito Santo não tem trabalhado direito...
Além disso, até o folheto que cita de passagem este católico tem outras onze
regras básicas que ele omite para poder sustentar a sua mal amanhada retórica.
Sinceramente, não sei de ninguém (pelo menos nos tempos modernos) que possa
presumir estar livre de preconceitos ao aproximar-se da Bíblia. Certamente não os
supostos "Fundamentalistas" nem os católicos (em caso de lhes dar para ler a
Bíblia, coisa relativamente pouco frequente), e nem sequer os agnósticos.
O facto é que os cristãos de todos os tempos reconheceram algo que no seu zelo
por desprestigiar os seus fantasmagóricos "fundamentalistas", o nosso autor
esquece. E este algo é que a Revelação é sobrenatural e, embora não seja contrária
à razão, a ultrapassa amplamente. Em outras palavras, sem o testemunho do
Espírito Santo ao nosso espírito, ninguém pode chamar cabalmente a Jesus
"Senhor" nem reconhecer quem inspirou as Escrituras.
Não é verdade desde o ponto de vista histórico que esta seja "a maneira católica de
raciocinar". O Concílio de Trento estabeleceu claramente que a Igreja reconhece a
inspiração do Espírito Santo nas Escrituras canónicas. O fundamento histórico deste
reconhecimento é a autoridade que a própria Igreja de Roma se arroga como
custódia e intérprete das Escrituras.
Por outro lado, embora alguns apologistas católicos adoptem o enfoque que aqui é
proclamado, na verdade não possuem a exclusividade, uma vez que os evangélicos
realizaram um trabalho notável ao compilar evidências históricas que não
demonstram de maneira concludente a verdade da fé cristã mas demonstram que
existem sólidas evidências da fidelidade histórica das Escrituras; ver mais abaixo.
UM TEXTO PRECISO
Outros autores não católicos que compilaram evidência são, por exemplo:
TOMADO HISTORICAMENTE
Também podemos negar que era um louco, não apenas pelo que disse e
ensinou - nenhum louco jamais falou como ele, da mesma forma que
nenhum homem sábio tampouco já tenha falado assim... - mas ainda pelo
que seus discípulos fizeram após a sua morte. Uma fraude (o túmulo
supostamente vazio) poderia ter ocorrido, mas ninguém daria a vida por
uma fraude, ao menos por uma fraude sem perspectiva de proveito. Logo,
devemos afirmar que Jesus verdadeiramente ressuscitou e, portanto, era
Deus como dizia ser e cumpriu o que prometeu fazer.
Outra coisa que Ele disse que faria seria fundar a sua Igreja; e tanto a
Bíblia (ainda que tomada como simples livro histórico e não como livro
inspirado por Deus) como outras fontes históricas antigas nos fazem saber
que Cristo estabeleceu uma Igreja com as características que vemos hoje
na Igreja Católica: papado, hierarquia, sacerdócio, sacramentos,
autoridade para ensinar e, como conseqüência desta última, infalibilidade.
A Igreja de Cristo deveria gozar da infalibilidade de ensinamento se fosse
cumprir aquilo para o qual Cristo a fundou.
Ou seja, a Igreja de Roma em pleno... assim tal e qual de uma assentada. Por
favor!
Que a Igreja "deveria gozar da infalibilidade" é uma petição de princípio que supõe
demonstrado precisamente o que se discute. É intelectualmente desonesto saltar
da evidência histórica da fé cristã para a instituição vaticana sem escalas.
Essa Igreja nos diz que a Bíblia é inspirada e podemos confiar em seu
ensino porque se trata de um ensinamento autorizado, infalível. Só após
sermos ensinados por uma autoridade propriamente constituída por Deus
para nos transmitir as verdades necessárias para a nossa fé - tal como a
inspiração da Bíblia - só então é que podemos usar as Escrituras como um
livro inspirado.
Mas, como indiquei antes, o católico deve aceitar a autoridade da Bíblia porque a
instituição a que pertence o afirma. Contudo, até o próprio Magistério romano
ensina que a Igreja recebe as Escrituras porque foram inspiradas pelo Espírito
Santo, não porque as tenha submetido a escrutínio exaustivo.
UM ARGUMENTO EM ESPIRAL
Há que se notar que o nosso argumento não cai em um círculo vicioso: não
estamos baseando a inspiração da Bíblia na infalibilidade da Igreja e a
infalibilidade da Igreja na palavra inspirada da Bíblia; isso seria
precisamente um círculo vicioso. O que temos feito se chama "argumento
em espiral": por um lado, argumentamos sobre a confiabilidade da Bíblia
como texto meramente histórico; dali sabemos que Jesus fundou uma
Igreja infalível e só então tomamos a palavra dessa Igreja infalível que nos
ensina que a Palavra transmitida pela Bíblia é uma Palavra inspirada,
Palavra de Deus. Não se trata de um círculo vicioso, já que a conclusão
final (a Bíblia é a Palavra de Deus) não é o enunciado do qual partimos (a
Bíblia é um livro historicamente confiável), e este enunciado inicial não
está baseado, em absoluto, na conclusão final. O que demonstramos é que,
se excluirmos a Igreja, não teremos suficientes motivos para afirmar que a
Bíblia é a Palavra de Deus.
A Igreja dá testemunho das Escrituras; não lhes outorga, nem poderia outorgar-
lhes, alguma autoridade que não possuam intrinsecamente.
Nenhum argumento convencerá quem não quer crer. Uma pessoa pode inclusive
admitir a exactidão histórica da Bíblia, sem por isso considerá-la inspirada. O nosso
polémico autor insiste numa linha racionalista que foi censurada inclusive pelo seu
próprio Magistério.
RAZÕES INADEQUADAS
É claro que afecta a interpretação; o católico está obrigado a aceitar sem mais a
interpretação que lhe impõe o seu Magistério (nos escassos textos que foram
objecto de uma interpretação oficial), por mais que vá contra uma sã exegese.
Aqui é feito um enredo de argumentos, que sendo sério não é menos divertido.
Começou por uma linha racionalista e a dado momento introduziu em bloco a Igreja
de Roma. De novo, se a Bíblia é a Palavra de Deus, o é com o consentimento da
instituição vaticana e também sem ele.
O nosso autor deveria esclarecer quem foi o Cardenal Newman e como abandonou
a Igreja Anglicana para abraçar a doutrina romanista.
Se engana Newman ao dizer que não podemos esperar que a Bíblia se interprete a
si mesma. Na verdade pode compreender-se muito dela partindo da analogia da fé:
a Bíblia não se contradiz e as passagens mais claras fazem luz sobre as mais
difíceis. A profecia se compreende à luz do seu cumprimento, os tipos pelos
respectivos anti-tipos, etc.
Além disso, o argumento não se baseia nos textos escriturais, mas em suposições
acerca da clareza da Escritura seguidas de conjecturas acerca de como solucionar o
assunto. Contudo, a própria Bíblia não sugere a conveniência, a possibilidade, nem
a necessidade, de algum intérprete infalível.
Bom, esta é a opinião de dom John Henry Newman, cardeal da Igreja de Roma.
Pelo menos duas objecções surgem de imediato, além do facto de a própria
Escritura não prever intérpretes humanos infalíveis; a primeira é teórica e a
segunda prática:
A única vantagem das elucubrações apresentadas pelo autor, que ele se compraz
em chamar "raciocínio católico", é a de levar, mediante uns passos mágicos, água
para o moinho romanista. Se realmente deseja ser levado a sério, deverá esforçar-
se por elaborar e fundamentar documentalmente as suas falibilíssimas opiniões.