Professional Documents
Culture Documents
CURSO DE FONOAUDIOLOGIA
INTERVENÇÃO FONOAUDIOLÓGICA
NA AFASIA DE BROCA
Manaus - AM
2009
GLÓRIA DE OLIVEIRA SILVA
INTERVENÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA
AFASIA DE BROCA
Manaus - AM
2009
Manaus - AM
2009
Silva, Glória de Oliveira.
Intervenção Fonoaudiológica na Afasia de Broca. Centro
Universitário Nilton Lins. Manaus, 2009.
XX f.: Il.
CDU 615.8:616.831-005.1
Monografia defendida e aprovada em........./........../.........pela banca
examinadora constituída pelos professores:
__________________________________
Nome do professor Orientador
__________________________________
Nome do professor Examinador
__________________________________
Nome do professor Examinador
DEDICATÓRIA
LISTA DE QUADROS
(em desenvolvimento)
Quadro 1
Quadro 2
Quadro 3
Quadro 4
Quadro 5
Quadro 6
Quadro 7
Quadro 8
Quadro 9
Quadro 10
Quadro 11
Quadro 12
Quadro 13
Quadro 14
Quadro 15
Quadro 16
Quadro 17
Quadro 18
Quadro 19
LISTA DE FIGURAS
(em desenvolvimento)
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Figura 9
Figura 10
Figura 11
Figura 12
Figura 13
Figura 14
Figura 15
Figura 16
Figura 17
Figura 18
Figura 19
Figura 20
LISTA DE ANEXOS
(em desenvolvimento)
ANEXO I
ANEXO II
ANEXO III
ANEXO IV
ANEXO V
ANEXO VI
SUMÁRIO
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO.............................................................................. XX
1.1 Tema.............................................................................................................. XX
1.2 Delimitação do Tema..................................................................................... XX
1.3 Formulação do Problema............................................................................... XX
1.4 Hipótese......................................................................................................... XX
1.5 Objetivos......................................................................................................... XX
1.5.1 Objetivo Geral......................................................................................... XX
1.5.2 Objetivos Específicos.............................................................................. XX
1.6 Justificativa...................................................................................................... XX
1.7 Revisão da Literatura...................................................................................... XX
ABSTRACT
This research aims to address the speech-language intervention in the Broca Aphasia. The
aphasia concerns the amendment of expressive language and / or open the individual due to a
function of a brain injury. The holder of aphasia show difficulties to formulate, understand and express
meaning. The main cause of aphasia is related to cerebrovascular accident (CVA) or "leakage" that
results in damage to the brain. Therefore, this condition is certainly the greatest sequel or limitation
from a personal, social or economic, generated by a brain damage. The problem that led to this
research finding about whether to address the involvement of speech in Broca Aphasia. As possible
results, indicates that the intervention in the speech of Broca Aphasia is made by means of specific
treatment that saw the rule requires a long period and should be as constant as possible. The therapy
is based on exercises that stimulate oral and written language. Successful treatment requires planning
sessions prior to considering the patient's age, level of education and their personal preferences, and
the degree of loss observed. The general objective is to verify the involvement of speech in Broca
Aphasia; As for specific objectives, Search: the concept of Broca Aphasia as a product of the
implications of chronic degenerative diseases; know its etiology, diagnosis, treatment and other
implications and find ways to treatment whose effectiveness may add knowledge on the subject in
question.
TEMA E PROBLEMA
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) Conc
eituar a Afasia de Broca como produto das implicações de doenças crônico-degenerativas;
b) Conh
ecer sua etiologia, diagnóstico, tratamento e demais implicações;
c) Pesq
uisar as formas de tratamento cuja eficácia possa agregar conhecimento científico sobre o tema em
questão.
13
METODOLOGIA
HIPÓTESE
Esta pesquisa visa não só fazer uma abordagem fonoaudiológica evidenciando etiologias,
classificação e tratamento, mas também, incluir uma abordagem psicológica por entendermos que os
aspectos emocionais em um paciente afásico é um fator relevante, haja vista que o mesmo pode
estar apresentando baixa estima.
JUSTIFICATIVA
sociedade em geral que especialmente irá beneficiar em termos de informação. Este estudo não
almeja esgotar o tema em questão, mas colaborar com uma pequena parcela que poderá ser
empregada em trabalhos maiores, cujo conteúdo tenha propósito de um maior alcance, tendo em
vista o seu caráter científico. Tem o propósito de esclarecer alguns pontos sobre a intervenção
fonoaudiológica no desenvolvimento de linguagem em crianças.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Na afasia, diversos destes processos estão comprometidos. Por este motivo, a pesquisa da afasia
pode proporcionar dados para um melhor entendimento do funcionamento cerebral da produção de
linguagem. A capacidade de linguagem consiste num processo que mobiliza diversas estruturas do
hemisfério cerebral esquerdo (HE). Entretanto, algumas capacidades lingüísticas podem ser afetadas
por lesões do hemisfério cerebral direito (HD) – prosódia, compreensão de humor e provérbios, etc.
–, o que sinaliza que o seu controle é realizado por áreas localizadas nesta região. Uma lesão
cerebral situada em estruturas que se julgam estarem envolvidas no processamento da linguagem
pode, então, produzir afasia (CASTRO-CALDAS, 2008).
Para Casanova (1997), a afasia diz respeito à alteração da linguagem expressiva e/ou
receptiva do indivíduo devido a uma lesão cerebral. O afásico então se deparará com problemas no
momento de formular, compreender ou expressar significado (NEGRÃO; BARILE, 2003).
A afasia consiste na perda da capacidade para usar a linguagem em função de uma lesão na
área do cérebro que a controla. Os portadores de afasia estão parcial ou completamente
incapacitadas para entender ou expressar as palavras. Em muitas delas, o lobo temporal esquerdo e
a região adjacente do lobo frontal são os que controlam a função da linguagem. Qualquer parte desta
área minimizada que venha a sofrer uma lesão (por um icto, um tumor, um traumatismo craniano ou
uma infecção) gera uma interferência, pelo menos, em algum aspecto da função da linguagem.
Uma lesão que afete ao mesmo tempo o lobo temporal esquerdo e o frontal pode
primordialmente gerar o emudecimento quase que total. Ao longo da recuperação desta afasia
completa (global), a pessoa apresenta limitações em falar (disfasia), em escrever (agrafia ou
disgrafia) e em entender as palavras.
15
Afasia consiste na perturbação de linguagem que decorre de uma lesão cerebral nas
estruturas que se supõe serem responsáveis pelo processamento da linguagem (por ex., acidente
vascular cerebral, traumatismo crânio-encefálico, tumor, infecção). Os conceitos sobre a afasia têm
evoluído ao longo do tempo desde o século XIX. Mesmo sendo rapidamente contestado, Franz
Joseph Gall (1796), fundador da frenologia, inseriu a noção revolucionária de que no córtex cerebral
estariam órgãos capazes de executar funções, que pelo seu desenvolvimento moldavam a calote
craniana e por meio da análise da cabeça de cada indivíduo seria possível prever as suas
competências e aspectos da sua personalidade (Castro Caldas, 2000). Estas idéias serviram como
embasamento para dar início à discussão a respeito de diferentes partes do cérebro seriam
responsáveis por capacidades mentais distintas (BASSO, 2003).
Os primeiros passos no estudo da afasia foram dados por Paul Broca (1861)
e Carl Wernicke (1874), com pioneiros estudos post mortem em indivíduos
que tinham sofrido lesões cerebrais, tentando estabelecer uma relação entre
a área cerebral afectada e as perturbações de linguagem. Broca descobriu
que ocorriam alterações na linguagem após lesão no hemisfério esquerdo e
16
Na concepção de Basso (2003) e Castro Caldas (2000), tal classificação é útil para fins
médicos e para pesquisas de casos com atributos idênticos, conforme se agrupa e faz um resumo
dos sintomas do doente e porque prospectam algumas regularidades nas perturbações da linguagem.
Tais autores consideram ainda que não é útil para a pesquisa nem para a reabilitação, porque o mais
relevante é ter uma “(…) perspectiva multidimensional, atendendo às idiossincrasias que podem
permitir (…) adaptar o programa de reabilitação, que deve ser sempre feito por medida.” (CASTRO
CALDAS, 2000, p. 167).
Basso (2003) afirma que em meados dos anos 1950, surge a Neuropsicologia Cognitiva, cujo
objetivo principal era pesquisar mais sobre o funcionamento da mente e formular descrições sobre os
processos que ocorrem durante a execução de uma atividade mental, tal como falar, memória,
reconhecimento, etc. O sistema de processamento humano foi comparado ao de um computador,
com sub-sistemas e diagramas.
a) Modularidade – Cada função cognitiva complexa diz respeito à uma série de sub-
componentes funcionalmente independentes, ou seja, módulos. Estes sistemas são ilustrados por
diagramas, com caixas que representam os módulos e setas para as vias de acesso e fluxo de
informação.
c) Subtracção – Não são criadas estruturas cognitivas novas como conseqüência de uma
lesão; apenas algumas operações do sistema estão perturbadas. As transformações patológicas
podem ser inferidas a partir da análise da estrutura normal.
A localização da lesão é um bom ponto de partida para a decisão subseqüente quanto aos
objetivos da intervenção. No entanto, para se iniciar o processo terapêutico é necessário fazer um
claro diagnóstico funcional dos componentes afetados, que permita restringir as escolhas terapêuticas
mais adequadas a cada caso.
19
(HABIB, 2000). Entretanto, será mais correto falar-se em “incapacidade de introduzir no discurso
algumas das suas regras” (CASTRO-CALDAS, 2008), considerando que a grande maioria destes
indivíduos entende as relações sintáticas geradas pelos outros.
É a afasia de expressão mais comumente encontrada. Trata-se de um tipo não fluente, sendo
que a expressão oral pode está comprometida em diversos graus. O entendimento está preservada
ou levemente comprometida, podendo o paciente evidenciar dificuldade na compreensão der frases
complexas, textos e elementos gramaticais. A escrita também pode evoluir na fase aguda com a
minimização de agramatismo e paragrafia. A compreensão da escrita pode estar mais modificada que
a compreensão oral (NEGRÃO; BARILE, 2003).
2.6 Etiologia
a) Infarto Cerebral: gerado pelo não suprimento de sangue numa determinada área do
cérebro);
f) Traumatismo Craniano: são responsáveis pela maior parte das afasias infantis.
A duração do tratamento está atrelada ao prognóstico inicial realizado após uma avaliação.
Alguns afásicos recuperam-se em tempo relativamente curto enquanto outros podem recuperar-se
totalmente. Além do tratamento médico, a combinação das terapias fisioterápica, fonoaudiológica,
ocupacional e psicológica são o melhor para o afásico. De forma que cada profissional dará sua
contribuição para o bom prognóstico deste paciente (VAN RIPER, 1994 apud NEGRÃO; BARILE,
2003).
2.8 Classificação
Para os afasiologistas, clínicos de afasia, estas doenças são divididas conforme a linguagem
(escutando a palavra ou lendo) e a expressão (falando e escrevendo) (NEGRÃO; BARILE, 2003).
c) Afasia global: diz respeito ao tipo de afasia mais grave, assinalada pelo comprometimento
rigoroso da emissão oral e gráfica. O paciente evidencia mutismo na emissão oral ou ela está limitada
a estereótipos e automatismos. É apresentada a supressão da emissão gráfica (JACKUBOVICZ,
1996 apud NEGRÃO; BARILE, 2003).
2.9 A Linguagem
A linguagem verbal consiste num código que usa expressões faladas ou escritas. Para
entender o pensamento verbal, Vygotski, psicólogo russo, afirma que essa unidade consiste no
significado das palavras, que é o seu aspecto fundamental. Para ele, embora a natureza do
significado não seja clara ainda, sua convicção é a de que, na tradução da palavra, o pensamento e a
fala se agregam em pensamento verbal. No significado, também estão as respostas às questões no
que trata do pensamento e fala.
A linguagem não-verbal consiste naquela cujo código não é a palavra, ou seja, a que usa
outros códigos (o desenho, a dança, os sons, os gestos, a expressão fisionômica, as cores). As
pessoas não interagem somente por palavras. Os movimentos faciais e corporais, os gestos, os
olhares, a entoação são ainda importantes: são os elementos não verbais da comunicação. Os
significados de alguns gestos e comportamentos oscilam muito de uma cultura para outra e em
diferentes períodos históricos.
O conhecimento humano é comunicado por meio da linguagem, que pode ser não verbal
(sem o uso de palavras) (...) é localizada em muitas expressões: na pintura, pelas cores, figuras e por
outros componentes usados pelo artista; na dança, pelo movimento e ritmo; na escultura, pelas
proporções, formas, volume; na caricatura, na charge, nos cartuns (RIBEIRO, 2003, p. 12).
O não-verbal, de forma crescente, divide o espaço do verbal não só na mídia, mas ainda em
todos os setores da comunicação realizada para grandes públicos e dessa forma, aumenta a
familiaridade desse artifício nas escolas, já que atinge um grande número de pessoas. A mídia
moderna evidenciou que o que se pode dizer por meio de imagens não deve ser dito por meio de
palavras. Além do mais, as palavras que se atém a descrever uma imagem, nunca conseguem
esgotá-la completamente.
A importância da imagem também foi percebida por Lacan. Diz o autor;
(...) A partir da idade de seis meses (...) um bebê (...) diante do espelho,
ainda sem ter o controlo da marcha ou sequer da postura ereta, mas
totalmente estreitado por um suporte humano ou artificial, supera (...) os
entraves desse apoio, para sustentar sua postura numa posição mais ou
menos inclinada e resgatar, para fixá-lo, um aspecto instantâneo da
imagem. (Lacan, 1996,: 97) A criança ora citada releva a importância da
imagem ao despertar para a inteligência a sensibilidade e subjetividade.
Se o centro cerebral da linguagem está sua maior parte situada no hemisfério esquerdo, os
seus usos, em termos de compreensão ou de produção possuem também eles próprios localizações
específicas. Dessa forma, a região cerebral ativada no momento da compreensão localiza-se na parte
posterior do hemisfério esquerdo, área de Wernicke, enquanto que atividades de produção ativam a
área de Broca, na parte anterior do mesmo hemisfério.
Estes quadros repetem-se com certa freqüência na população de doentes que sofreram
acidentes vasculares cerebrais (AVC), refletindo a perda da função cerebral nas áreas irrigadas pelas
diferentes artérias. A dificuldade em conferir o nome correto a cada objeto encontra-se alterada e
pode ir desde uma incapacidade total a uma redução rápida na capacidade de evocação. Estes
doentes apresentam obstáculos em localizar a posição articulatória correta durante a produção
verbal, gerando erros e distorções (Leal, 2003 apud COLAÇO, 2008) .
Doente: Panela.
A comunicação trata de uma atividade social, rica e complexa, que abrange competências lingüísticas, cognitivas e
pragmáticas. Relativamente às competências lingüísticas temos, então, a “linguagem”, que diz respeito a um sistema de sinais simbólicos
usados por uma pessoa para interagir com outras. Uma linguagem eficaz abrange múltiplos processos: o desenvolvimento dos
pensamentos a serem comunicados; a seleção, formulação e ordenação das palavras; a aplicação das regras gramaticais; e o início dos
movimentos musculares para gerar discurso verbal (Hoeman, 1996). Na afasia, inúmeros destes processos estão afetados. Por este
motivo, a pesquisa da afasia pode fornecer dados para um melhor entendimento do funcionamento cerebral da produção de linguagem.
A capacidade de linguagem consiste num processo que abrange múltiplas estruturas do hemisfério cerebral esquerdo (HE).
Entretanto, algumas capacidades lingüísticas podem ser lesadas por lesões do hemisfério cerebral direito (HD) – prosódia, entendimento
do humor e provérbios, etc. –, o que dizem respeito ao seu controle é realizado por áreas aí situadas. Uma lesão cerebral situada em
estruturas que se julgam estarem envolvidas no processamento da linguagem pode, então, gerar afasia (CASTRO-CALDAS, 2000).
Estruturas essenciais de mediação classifica atividade dos centros cerebrais. Alguns destes
centros são especializados no desenvolvimento dos conceitos, outros, na de palavras e frases. Os
neuropsicólogos que pesquisam a linguagem tentam entender como utilizamos e combinamos
palavras (ou signos, no caso de uma linguagem gestual) para desenvolver as frases e transmitir os
conceitos elaborados pelo cérebro. Averiguar ainda como entende-se palavras expressas por outros e
de que forma o cérebro as transforma em conceitos.
Nas concepções mais clássicas, a semiologia das afasias tem evidenciado as modificações
na linguagem escrita como se estas se relacionassem a uma mera transposição da fala. Jakubovicz e
Cupello (1996: 30), por exemplo, ao desenvolverem uma pesquisa a respeito de múltiplos testes
tradicionais para investigação e classificação das afasias, relatam que a aprendizagem da escrita
baseia-se na associação da palavra escrita ao seu homólogo oral, e não na associação desta aos
atributos do objeto a que se refere.
Não obstante, considerando que por diversas situações os testes sinalizarem que o nível de
escolaridade do sujeito avaliado deva ser considerado, isso de maneira nenhuma induz a alterações
na natureza de tarefa reivindicada ou na escolha dos textos e tipos de escrita que são usados. O
pesquisa de Santana (1999) evidenciou de forma significativa que uma parcela majoritária dos testes
aplicados apresentam a mesma preocupação extrema com procedimentos metalingüísticos que em
nada se relacionam à uma concepção de linguagem enquanto uma atividade lingüístico-discursiva em
que a leitura e a escrita são situações discursivos (MACEDO, 2006).
Como já declarava Santana (1999), a escrita nas afasias tem sido pouco investigada e mal
tratada. Como base nessa premissa forma investigados mais minuciosamente as situações que
circundam as atividades de escrita com sujeitos afásicos e foram escolhidos com base na refacção
textual escrita, tendo-a como um acesso às representações do sujeito em relação ao contexto
estimado e ao efetivamente constituído. A refacção pode apresentar aspectos sobre os processos
discursivos e neurolingüísticos de sujeitos afásicos, como a presença constitutiva do letramento e da
interação nas atividades e ilingüísticas (MACEDO, 2006).
2.15.1 O que o trabalho com linguagem escrita dos Afásicos diz sobre a semiologia
O ser ou estar afásico torna ímpar a linguagem do sujeito (em todas as suas expressões: oral,
escrita, gestual). E segundo Abaurre, Fiad e Mayrink-Sabinson, (1997: 23): a contemplação da forma
escrita da língua induz o sujeito a refletir sobre a própria linguagem, chegando, por determinadas
vezes, a manipulá-la de forma consciente, de uma maneira diferente pela qual manipula a própria fala
(MACEDO, 2006).
Destarte, Wernicke pesquisou a causa de doenças mentais causarem danos nos centros da
fala e dos movimentos. Ele considerou três partes basilares no esquema, que evidenciam de que
forma um estímulo pode atingir o cérebro, ser desenvolvido pela consciência e após devolvido ao
mundo externo. Ao longo do percurso, os estímulos podem atravessar algum tipo de interrupção ou
desvio, gerando danos no entendimento e/ou execução da linguagem e dos atos.
Como exemplo, Wernicke revela que nem sempre as alucinações visuais podem ser geradas
por deficiências no sistema ocular do cérebro, no entanto, podem proceder de um centro de memória
que se irradia para o centro de projeção ocular. Assim sendo, a causa da alucinação precisa ser
avaliada mais profundamente antes de se desenvolver um diagnóstico.
A concepção de afasia leva a crer, dessa forma que esse problema é causado, em maior ou
menor grau, por lesões na condução das idéias até o estímulo final. Para começar a compreensão da
30
obra de Wernicke deve-se entender a divisão feita em seu diagrama cerebral: a Alopsique, ou
consciência do mundo externo; a Somatopsique, ou consciência do corpo; e a Autopsique, ou
consciência da personalidade (CAMPOS FILHO, 2002-2003).
Essas noções são fundamentais para o entendimento de sua obra, uma vez
que mostram o início de uma integração entre duas maneiras distintas da
abordagem da mente humana: a psicológica e a neurológica, ou
localizacionista. Dessa forma, Wernicke tentava conciliar a complexidade do
cérebro humano, seu funcionamento, com as ações e resultados da
elaboração mental ao qual ele é instigado. Na Somatopsique, Wernicke
reúne as sensações produzidas pelo próprio corpo. Ou seja, todo
movimento ou sensação produzido pelo corpo do indivíduo gera um impulso
que é armazenado na memória. Isso inclui toda contração muscular
necessária para realizar um movimento ou pronunciar uma palavra. Por
causa dessa memória motora, como também Wernicke denominava esse
tipo de memória, alguns pacientes com afasia conseguiam escrever ditados
ou repetir palavras, ainda que o entendimento do idioma não fosse
completo. (CAMPOS FILHO, 2002-2003).
O paciente recordava-se de como escrever ou falar e, por isso, executava os atos, não
obstante as dificuldades infligidas por interrupções na condução normal das idéias. No diagrama de
Wernicke essa região é apontada pela parte Zm do esquema, que agrega as imagens de memória e
de memória motora (CAMPOS FILHO, 2002-2003).
Qualquer anormalidade, patológica ou estrutural, que venha a surgir nesse segmento gerará
no indivíduo obstáculos na concretização dos atos. As sensações do corpo, como concebia Wernicke,
objetivam recordar ao indivíduo a existência de seu corpo. Tais estímulos também atingem o cérebro
carregado com conteúdo emocional.
Por isso, nos casos de afasia em que o paciente consegue executar os atos,
mas sem seu completo entendimento, Wernicke pressupunha que as
sensações do corpo estariam armazenadas nas imagens de memória e
memória motora. Quanto mais esses estímulos chegassem ao indivíduo
antes do acometimento da doença, mais facilmente ele poderia executar os
movimentos, uma vez que sua bagagem de memória estaria carregada de
estímulos já existentes (CAMPOS FILHO, 2002-2003).
O tratamento para afasia demanda um longo período e deverá ser o mais constante possível.
A terapia fundamenta-se em atividades que promovam a estimulação da linguagem oral e escrita.
Para isso devem-se delinear previamente as sessões levando em consideração a idade do paciente,
o nível de instrução e suas preferências pessoais, além do nível de perda observado. O prazo de
duração do tratamento está atrelado ao prognóstico inicial executado depois de uma avaliação.
Alguns afásicos recuperam-se em tempo relativamente curto enquanto outros podem recuperar-se
totalmente (NEGRÃO; BARILE, 2003).
31
Nesse contexto, trabalhos realizados com a refacção textual escrita pode induzir a uma
melhor compreensão dos processos de escrita nas afasias, além de observar formas de melhor
descrever e compreender a semiologia das alterações nos mesmos. Isso assim como os limites da
afasia sugerem se impor sobre a forma como o trabalho sobre a língua/linguagem é desenvolvido
pelo sujeito afásico (MACEDO, 2006).
A expectativa de vida não é afetada pela afasia por si só. O prognóstico para recuperação da
linguagem depende da natureza da lesão, de sua extensão, da idade e da saúde geral do paciente. O
potencial de recuperação é relativamente bom para pacientes com afasia tipo Broca ou Wernicke,
mas é virtualmente nulo para pacientes com tumores cerebrais intratáveis ou doenças
neurodegenerativas.
A afasia consiste num sintoma ou seqüela, não uma doença, e pode vir acompanhada por
múltiplas lesões cerebrais. Em pacientes vitimas de AVC, o déficit geralmente é súbito e óbvio. No
entanto, em pacientes com demência, a modificação pode ser insidiosa e de diagnóstico tardio. É
importante ressaltar que a esclerose múltipla e a doença de Parkinson não costumam associar-se a
alterações da linguagem.
A afasia gera enormes danos físicos e psicológicos para quem a adquire. O indivíduo afásico
demonstra enormes dificuldades em sua vida social e pessoal. Caracterizam-se como dificuldade no
que trata da comunicação, locomoção e realização de atividades como mastigar e deglutir levam,
muitas vezes, ao desânimo e a pouca força de vontade de enfrentar essas limitações. O afásico, em
sua grande parte, não evidencia condições de desempenhar todas as atividades sozinho, nem
mesmo de optar pela melhor forma de tratamento da sua patologia pela dificuldade de falar, de
compreensão e pela fragilidade gerada pela doença.
32
b) dificuldade para começar a falar (às vezes, a fala pode explodir) no início da elocução e
depois permanecer lenta e irregular. Os pacientes que apresentam problemas apráxicos ou
articulatórios tem dificuldades como:
b) dificuldade no controle da energia muscular (às vezes há muita força e às vezes pouca
força).
Dessa forma, estes obstáculos emergem em indivíduos que evidenciam algum tipo de lesão
na área de Brocá. As estruturas que são responsáveis pelo mecanismo de produção de fala são
complexas quanto à sua natureza. Isto porque, além de contribuir dessa função, ainda que colaboram
de outras como, respiração, mastigação, deglutição, sucção e funções estomatognáticas (DOUGLAS,
1998). O afásico de Brocá, em geral, evidencia, evidencia obstáculos na mastigação e sucção de
alimentos em função da falta de coordenação motora dos músculos orofaciais.
Dessa forma, percebe-se que os problemas de fala na afasia são causas de seqüelas de
lesões no Sistema Nervoso Central. Observa-se ainda que funções orgânicas como respiração,
mastigação e deglutição ainda são comandadas por esse sistema. Desta forma, o indivíduo e a sua
voz fazem parte do complexo e eterno desejo e necessidade de comunicação entre os homens.
Quando algum ruído interrompe esta comunicação e a mensagem não pode ser transmitida
claramente por problemas na fala, o fonoaudiólogo estará presente para derrubar obstáculos e tornar
a comunicação clara.
O exame físico deve incide em uma avaliação minuciosa devido à linguagem como um todo.
Uma avaliação neuropsicológica especializada pode estar apropriada em alguns casos.
b) Repetição: inserir palavras, frases simples e frases complexas. Se o paciente não for
capaz de repetir verbalmente, é recomendado pesquisar sua capacidade de copiar a sentença. A
modificação na repetição é patognomônica das afasias perisilvianas (Afasia de Broca, de Wernicke,
de Condução e Afasia Global).
d) Denominação: fazer um paralelo adequado aos objetos com seus nomes. A anomia pode
refletir múltiplas alterações, incluindo Doença de Alzheimer. Pacientes com ‘afasia óptica’ não
conseguem dar nomes aos objetos apresentados visualmente (estes casos freqüentemente
significam agnosia visual exposta por meio do teste da linguagem)
35
e) Escrita e Leitura: a leitura silenciosa pode ser mais efetiva, e o paciente pode então ser
analisado por meio de testes de compreensão. Isto é especialmente comum pacientes com afasia de
condução e em alguns casos de afasia de Wernicke.
Lesões idênticos às deste paciente nas regiões anteriores e médias dos dois lóbulos
temporais deterioram o sistema conceituai do cérebro. As lesões do hemisfério esquerdo, próximo à
cissura de Sylvius, alterar mais a formação de palavras e frases. Tal área é a mais pesquisada pelos
especialistas em linguagem, desde que Paul Broca e Carl Wernicke descobriram, há mais de 150
anos, que as estruturas da linguagem aí se localizam. Broca e Wernicke evidenciam ainda que ainda
o fenômeno da dominância cerebral: na maior parte dos seres humanos - 99% dos destros e 30% dos
canhotos - os centros da linguagem estão no hemisfério esquerdo.
Visto de outro ângulo, os surdos que evidenciam lesões no hemisfério direito, longe das áreas
da linguagem, tornam-se por vezes incapazes de ver os objetos localizados na metade esquerda de
seu campo visual ou de observar as relações espaciais entre os objetos, ainda que cultivar a
capacidade de entender usar a linguagem gestual. Assim sendo, o hemisfério esquerdo contém os
centros de processamento da linguagem, quaisquer que sejam as vias de transmissão dos signos
lingüísticos.
36
Figura 7:
Fonte: DAMÁSIO, A. DAMÁSIO, A. O Cérebro e a Linguagem. Revista: Viver Mente & Cérebro
Scientific American Ano XIII Nº143 - Dezembro 2004. Disponível em:<
www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/cerebro_e...>.Acesso em: 07 junho 2009.
Os Centros Cerebrais que processam a cor são ordenados como estruturas de entendimento
de uso da linguagem. O estudo de pacientes com lesões cerebrais evidencia que um centro neuronal
particular rege os conceitos das cores (em azul); um segundo centro comanda as palavras que
nomeiam as cores (em vermelho) e um terceiro garante a mediação entre os conceitos e as palavras
(flechas) (BASSO, 2003).
39
Figura 8:
Fonte: DAMÁSIO, A. DAMÁSIO, A. O Cérebro e a Linguagem. Revista: Viver Mente & Cérebro
Scientific American Ano XIII Nº143 - Dezembro 2004. Disponível em:<
www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/cerebro_e...>.Acesso em: 07 junho 2009.
1) Yamada
He was saying that I lost my battery powered watch that I loved; I just loved that watch;
Last year at school when I first went there, three tickets were gave out by a police last year.
2) Christopher
- Gênio de 29 anos
- IQ: 60-70
- fluente nas 15 línguas diferentes que aprendeu através dos livros ou das conversas.
A noção de metalinguagem foi incorporada aos estudos afasiológicos por Jakobson que
definiu o déficit afásico de operar com unidades lingüísticas como a “perda da capacidade de realizar
operações metalingüísticas” (1954). Considerando os potenciais ganhos explicativos advindos da
definição de afasia como um problema de metalinguagem e a necessidade de compreensão das
bases pelas quais foi admitida pela Neurolingüística, examinamos, em nossa pesquisa, determinadas
implicações derivadas do peso epistemológico da noção de metalinguagem na compreensão da
41
afasia presente na reflexão teórica de Jakobson, perscrutando o ganho explicativo de seu enfoque
inaugural, mais propriamente lingüístico, no campo afasiológico.
No enfrentamento desse objetivo foram considerados os textos nos quais o autor explora
mais explicitamente a afasia como um problema teórico para a Lingüística. Como pudemos observar,
a tomada da afasia como problema de metalinguagem implica outra via explicativa para o fenômeno,
deslocamento teórico que permite que a afasia seja considerada uma questão lingüística. Apesar da
estrutura binária de seu método analítico, a inspiração funcionalista da reflexão de Jakobson permite
entrever um desconforto em relação a dicotomias clássicas, possibilitando também o aprofundamento
de uma perspectiva não internalista de metalinguagem (e de cognição).
2.11.2 A AFASIA
A afasia é um campo interdisciplinar, pois várias disciplinas contribuem para o avanço dos
estudos nessa área. Dentre elas, há a Neurolingüística, um campo cujo objeto de estudo é o cérebro-
cogniçãolinguagem. Em se tratando de campos interessados na afasiologia, podemos apontar de
forma especial à área médica e fonoaudiológica, porque num primeiro instante a afasia é decorrente
de uma lesão cerebral, seguida por alteração da linguagem. Esta área é atribuída à área
fonoaudiológica, pois a área médica não consegue tratar esta alteração devido ao seu objeto de
estudo ser o corpo-biológico-organismo. Aquele, então, é de interesse médico, responsável em
propor um diagnóstico e um tratamento adequado à recuperação cerebral
2.11.3 A NEUOLINGUÍSTICA
42
As afasias estão entre os distúrbios de Linguagem mais freqüente, que podem levar a uma
dificuldade em produzir um discurso dentro dos padrões da língua, na cultura vigente. Uma vez que a
linguagem do afásico pode apresentar falta de fluência traduzida por muitas hesitações e pausas,
bem como agramatismo, anomia, etc. Esta situação de modificação na linguagem pode produzir uma
condição de exclusão social, ao tornar difícil a manutenção dos laços sociais e até mesmo a criação
de novos. Esta pesquisa tem base teórica na Lingüística estruturalista articulada com a Psicanálise e
a Análise de Discurso da Escola francesa, inaugurada por Michel Pêcheux. O estudo investiga
indícios da subjetividade (re) constituída pós-afasia, priorizando a enunciação, no que concerne à
posição de quem está falando e interagindo durante a relação. Especificamente a análise se propõe à
escuta de um discurso heterogêneo, que irrompe em seu processo de produção, e oferece uma
possibilidade de perceber incidências subjetivas. Nesse percurso, será necessário o conhecimento
teórico sobre o sujeito e o inconsciente estruturado como linguagem, inicialmente apontado em Freud
e amplamente revisto por Lacan.
2.12.1 ANAMNESE
43
2.16.1 DIAGNÓSTICO
2.16.2 TRATAMENTO
plasticidade do sistema nervoso central. A plasticidade neuronal permite estabelecer novas ligações
entre os neurônios. No tratamento da afasia, a estimulação controlada, auditiva e visual, tem por
objetivo ajudar a pessoa a construir cadeias para ultrapassar os déficits provocados pela lesão, de
modo a tornar as palavras novamente disponíveis.
2.16.3 RECOMENDAÇÕES
É sempre possível melhorar a afasia, embora o nível dos resultados possa depender de
alguns fatores como extensão da lesão, motivação e idade do doente e de suas condições gerais de
saúde. O portador de afasia deve ser estimulado para fazer um tratamento que o ajude a reabilitar as
capacidades comprometidas, sejam elas de fala, escrita ou compreensão.
Tem sido muito discutida por profissionais da área da saúde, a importância da família na
reabilitação do paciente afásico. Sabe-se que a perda da capacidade de se comunicar pelo emprego
adequado da linguagem constitui-se um grave problema, que não só atinge o paciente, como a todos
que com ele convivem ou que dele dependem.
O indivíduo, ao ficar afásico, percebe que não mais tem controle sobre sua forma de
exteriorização verbal, parecendo ser uma pessoa diferente daquela que era antes. O afásico vive o
peso da solidão mais profunda, sentindo-se incompreendido. Para a família, muitas vezes sua
presença torna-se um incômodo e ele se sente aprisionado dentro de si e embora o deseje não
consegue ter uma relação com o mundo exterior. Tudo isso porque não consegue mais compreender
o que os outros dizem ou dizer o que pensa.
Tendo em vista essa realidade, é importante buscar respostas para as seguintes questões: a)
qual a importância da família na reabilitação do paciente afásico? b) Até que ponto a família tem
consciência de sua importância no processo de reabilitação do paciente? c) que ajuda a família pode
lançar mão para estimular e incentivar o afásico?
Uma vez que o papel da família é considerado, por diversos autores, como estruturante na
reconstrução não somente da linguagem do afásico, mas também das relações sociais e afetivas, fica
nítida a importância de novos estudos para o enriquecimento da fonoaudiologia, áreas afins, além de
também orientar os familiares do paciente afásico.
Quando se fala em afasia logo se pensa na família do paciente. Isso porque é comum a
mesma não saber lidar com o sujeito no dia-a-dia, tratá-lo como criança, falar alto ou devagar com ele
45
e, pior ainda, falar no lugar dele, tentando adivinhar sua vontade. Não é raro, também que a família
reaja contra as poucas expressões que o afásico consegue produzir.
O ambiente familiar é o lugar mais apropriado para que o afásico se reconstrua como sujeito,
independentemente das restrições de seu novo estado pessoal. Diante disso, é de extrema relevância
conhecer a família e o modo como esta concebe e lida com o afásico.
Quando uma família está vivendo com um doente, ela toda pode ficar doente. A saúde de
todos os membros é importante para que haja uma ajuda eficaz.. O presente estudo foi inspirado pelo
interesse em dois assuntos pouco explorados por mim: afasia e família. Assuntos esses que se
fundiram, para dessa forma contribuir para a fonoaudiologia, áreas afins, bem como para os pacientes
e os familiares.
Acredita-se que a família pode ajudar, incentivar o afásico não só na reabilitação de sua
linguagem, mas também na recuperação de sua auto-estima, proporcionando momentos de
independência e autonomia no que se refere a situações hábeis.
Acredita-se que as famílias que estão sendo bem atendidas e orientadas possuem
consciência de sua importância no processo de reabilitação do paciente afásico.
As causas da afasia são danos cerebrais e/ou acidentes encefálicos (derrames) e que
cientificamente recebem a sigla de AVC (acidente vascular cerebral) e/ou AVE (acidente vascular
encefálico). Dentre eles encontram-se as embolias, os infartes, os aneurismas, as tromboses, os
ferimentos por quedas ou armas de fogo quando atingem a massa encefálica, e, às vezes, tumores
cerebrais (JAKUBOVICZ e MEINBERG, 1992).
dizer, pela maior exposição aos acidentes automobilísticos, ferimentos de guerra, fumo, álcool e pela
própria tensão do trabalho dentro e fora de casa.
A afasia não é uma doença nova e nem mesmo rara. É conhecida e estudada desde o final
do século XIX por clínicos interessados, como o francês Paul Broca (1865) ou o alemão Carl
Wernicke (1874), que até legaram os seus nomes para formas clínicas particulares de afasia
(PONZIO, LAFOND, DEGIOVANI et al., 1995).
É importante ressaltar que na maioria das vezes o afásico é mal compreendido pelos que o
cercam. Alguns pacientes, como os que possuem afasia de Wernicke são considerados como
doentes psiquiátricos ou como tendo problemas intelectuais.
A afasia afeta o indivíduo, tanto no que diz respeito a sua capacidade de compreender ou de
se expressar como também no que se refere ao seu estado psíquico. A afasia é, provavelmente, a
seqüela ou limitação mais importante, mais incapacitante, seja no plano pessoal, social ou
econômico, provocada por uma lesão cerebral. Ela atinge a pessoa em vários níveis, tanto no plano
intelectual quanto afetivo (COUDRY, 1988).
Neste contexto, não é raro encontrar sujeitos afásicos que apresentam mudanças radicais em
sua personalidade, parecendo não se tratar da mesma pessoa. Outros fatores como o prognóstico, a
qualidade dos cuidados tanto da família quanto da equipe clínica, e o nível de qualidade de vida que
o afásico pode esperar de seu futuro imediato (volta ou não para casa, possível retomada de suas
atividades preferidas) também desempenham um importante papel na determinação das condições
emocionais do indivíduo afásico (PONZIO, LAFOND, DEGIOVANI et al., 1995).
De acordo com estes autores, uma série de comportamentos ou reações psicológicas fazem
parte do quadro clínico encontrado nos pacientes afásicos (em média de seis à doze meses após a
lesão) e consideram que essas atitudes devem ser compreendidas, pois derivam de momentos de
adaptação diante da perda e do fracasso em que estão passando. Tais comportamentos são:
a) Ansiedade
47
b) Negação
O afásico muitas vezes faz de conta que nada está acontecendo, ou seja, recusa tomar
consciência de seus limites, tanto físicos quanto psicológicos. Freqüentemente a negação pode
funcionar como uma proteção contra a depressão.
c) Regressão
d) Egocentrismo e Infantilismo
Algumas vezes, a pessoa afásica pode se comportar como se fosse o centro de tudo,
exigindo atitudes imediatas. A dificuldade de perceber uma situação em sua totalidade pode aumentar
esse tipo de comportamento.
e) Danos a Auto-Estima
O afásico por se sentir profundamente atingido e ferido pode chegar a perder o senso de
identidade. Ele vê desaparecer boa parte daquilo que podia dar-lhe importância ou prestígio. Pode
encontrar-se na impossibilidade de cumprir seus papéis familiares e sociais, como fazia antes.
Durante algum tempo, seus meios de valorização ficam inibidos e alguns talvez nunca mais voltem.
f) Solidão e Isolamento
As pessoas afásicas possuem com bastante freqüência uma tendência a chorar de modo
inapropriado, devido à limitação dos processos de inibição e de controle das emoções ligados à lesão
cerebral. Pode ocorrer também a tendência a passar rapidamente de um estado emocional para
outro, sem que a realidade exterior justifique.
h) Agressividade
i) Vergonha e Culpa
O fato de se ver diminuído enquanto pessoa pode provocar vergonha no afásico. Ele
freqüentemente tem vergonha do que lhe ocorreu, chega a se sentir como alguém que não vale nada.
Pode também achar que está sobrecarregando as pessoas que lhe são próximas (cônjuge, família e
colegas) devido a suas limitações físicas e ou psicológicas. Se a causa dos déficits não for bem
compreendida, a família e o círculo próximo também podem ter vergonha do afásico ou se sentirem
incomodados ao acompanhá-lo fora de casa.
j) Dependência e Passividade
Considerando-se tudo de negativo que acontece com o afásico, não é de estranhar que ele
seja tentado a se resignar e a se abandonar aos cuidados dos outros. Muitas vezes as limitações são
tantas que a pessoa afásica não pode deixar de depender do meio por algum tempo, implicando um
golpe na auto-estima e dessa maneira provocando agressividade ou desencorajamento.
l) Desinibição
reação do meio e da qualidade do apoio que ele pode oferecer, da rapidez e qualidade dos cuidados
oferecidos pela equipe de reabilitação.
Neste processo, a família possui uma função fundamental, pois ela é o local de relações
privilegiadas, ou seja, é o lugar da estruturação da vida psíquica (REIS, 1984). Entretanto, a afasia
pode provocar tanto um estritamento, quanto um distanciamento dos laços familiares. Isso não
depende somente das relações anteriores, ou seja, do tipo de vínculo, mas também das reações dos
membros em resposta a esse evento perturbador. Tais reações podem ser: indiferença, rejeição,
superproteção e entusiasmo frente a resultados espetaculares, quer dizer, melhoras.
Minuchin (1990), refere-se à família como sendo um sistema aberto em transformação, que
se adapta às diferentes exigências das fases de desenvolvimento que enfrenta. Desta maneira, a
família precisa se reestruturar e encorajar o crescimento de todos os seus membros. Quanto mais
flexibilidade e adaptabilidade dos membros, mais significativa se tornará a família, como a fundante
do desenvolvimento psicossocial.
Segundo este mesmo autor, a família é uma unidade social que enfrenta uma série de tarefas
de desenvolvimento. Estas diferem junto com parâmetros de diferenças culturais, mas possuem
raízes universais.
O envolvimento familiar é algo que antecede até mesmo o nascimento. Sendo assim, a
família contribui para a formação da personalidade do indivíduo, pois exerce uma série de influências
extremamente significativas que acabam por gerar seu perfil psicológico (FRANCO, 1992).
Para Ackerman (1986), o grau de adaptação do indivíduo à sua família é determinado pela
sua personalidade bem como por processos interpessoais na família, que podem colaborar ou não
com as suas buscas.
Em seus estudos sobre a família Poster (1979) afirma que ela é a formadora de nossa
primeira identidade social. O autor coloca que a família: “... é o lugar onde se forma a estrutura
psíquica e onde a experiência se caracteriza, em primeiro lugar, por padrões emocionais. A função de
socialização está claramente implícita nesta definição, mas a família não está sendo conceptualizada
primordialmente como uma instituição investida na função de socialização. Ela é, em vez disso, a
localização social onde a estrutura psíquica é proeminente de um modo decisivo.”
A família tem uma estrutura, que pode ser observada somente em movimento. São preferidos
certos padrões, que são suficientes em resposta às exigências costumeiras. Mas a força de um
sistema depende de sua capacidade de mobilizar padrões transacionais alternativos, quando
condições internas ou externas da família exigem a sua reestruturação. Uma família se adapta ao
estresse de uma maneira que mantenha a continuidade familiar, embora tornando possível a
reestruturação. Se uma família responde ao estresse com rigidez, ocorrem padrões disfuncionais
( MINUCHIN, 1990).
Ponzio, Lafondi, Degiovani et al. (1995) relatam em seus trabalhos que o afásico dificilmente
retoma as relações sociais que tinha antes da doença, desde sua relação com o cônjuge como seu
relacionamento com os filhos. Seu papel perante o grupo familiar parece estar modificado, ameaçado.
A família por sua vez também encontrará dificuldades em situar o seu papel frente ao indivíduo
doente. Alguns membros entram em pânico diante da amplitude da tarefa para com o afásico, outros
encontram dentro de si possibilidades até então desconhecidas e consideram seus novos papéis
satisfatórios ou até mesmo gratificantes.
Diante dessa perspectiva, fica nítido a necessidade de haver um trabalho de orientação por
parte da equipe multidisciplinar para com a família do paciente afásico. Um trabalho que busque a
conscientização e que informe o que é a doença, como será o tratamento, que benefícios poderão
ocorrer, etc.
Jakubovicz e Meinberg (1992), por sua vez, descrevem uma série de incentivos que a família
pode prestar para o afásico, afim de favorecer e acelerar sua recuperação, dentre eles estão: falar
com o paciente de maneira clara, pausada, procurando olhá-lo; não interrompê-lo no momento em
que estiver falando; encorajá-lo sempre para participar de atividades familiares; compreender o
aparente egoísmo do afásico; se esforçar para entender o que o paciente quer dizer ou fazer e não
isolá-lo no seu convívio, mas tampouco colocá-lo em situações estressantes.
ainda uma possível intervenção que ajude na modificação dessa dinâmica, quando necessário,
permitindo à família facilitar o processo terapêutico (FRANCO, 1992).
Existem famílias que não só aceitam como estimulam, tanto a coesão familiar, como a
individualidade de seus membros, reagindo bem diante de certas desorganizações que possibilitam o
crescimento, o encontro com novos papéis e com novas formas de equilíbrio mais amadurecidos.
Neste tipo de organização familiar, segundo Andolfi (1984;20), “cada um sabe que pode compartilhar
seu espaço pessoal com os outros sem sentir-se forçado a existir apenas como função deles”.
Por outro lado, há famílias mais rígidas, que reagem a qualquer tipo de mudança, buscando
manter seus equilíbrios sempre constantes, dificultando, desta forma, a individualidade, o crescimento
e a maturidade de seus membros e impossibilitando a existência de limites interpessoais claros.
Neste tipo de relacionamento, Andolfi (1984;20) analisa que o “espaço pessoal é confundido com o
espaço interativo”. Portanto, neste caso, “a única possibilidade para coexistência pode então tornar-
se a intrusão no espaço pessoal dos outros, acompanhada pela perda de seu próprio espaço
pessoal”.
A medida em que o clínico conhece mais a fundo o paciente e sua família, e observa que,
embora a terapia seja centrada no indivíduo (o que se oporia a uma terapia centrada na família) MAIA
(1986), descreve que suas modificações geram também mudanças perceptíveis na família. Isto indica
que, mesmo um atendimento individual repercute sobre a família: as transformações do afásico
afetam suas representações sobre si mesmo e sobre sua família, assim como alteram as
representações dos familiares sobre o afásico e sobre si mesmos.
Desta forma, movimenta-se a dinâmica das relações familiares como um todo. De acordo
com Andolfi (1984), a família é um sistema relacional, que se configura como um sistema aberto. Ou
seja, a família estrutura uma rede de relações interna, numa progressão por mútuas influências.
No interior desta unidade familiar, vamos encontrar subsistemas, ou seja, uma forma de
organização fundadas nas relações de papéis familiares. Assim, numa família nuclear intacta,
encontramos os subsistemas dos pais, dos esposos, dos filhos e dos irmãos, cada um desses
subgrupos possui tarefas específicas dentro da família (CALIL, 1987).
Através da forma que estes subsistemas (que devem ter uma delimitação própria) se
relacionam entre si e com o sistema global é que a família terá sua organização e estrutura
específica. É a partir deste todo estruturado que vai se relacionar com o mundo externo,
influenciando-o e sendo por ele influenciado.
Neste sentido, podemos entender a família como um todo coeso que formula implícita ou
explicitamente uma série de regras de funcionamento, num jogo de atribuições e assunção de papéis,
52
que vai buscar equilíbrio e estabilidade. Este processo é difícil e turbulento por circunstâncias
inerentes à convivência social. Em primeiro lugar porque a família deve corresponder minimamente
às solicitações do meio social em que está inserida, meio este que está em constante transformação.
Em segundo, porque é dentro deste sistema interacional que os indivíduos se desenvolvem em
direção à uma progressiva personalização, a se tornarem uma singularidade, até o ponto de se
tornarem independentes e formarem sua própria família. E em terceiro, porque a própria unidade
familiar está em constante transformação, por mais rígidas que sejam suas relações. Isto posto,
podemos entender a família e o indivíduo como dois sistemas em evolução (ANDOLFI, 1984).
Assim sendo, a família, para cumprir sua função de permitir a maturação biológica e o
desenvolvimento psicossocial, ao mesmo tempo em que deve manter-se unida, deve ser capaz de
tolerar situações de crise e conflito, tendo uma espécie de norte: a estabilidade possível que lhe
permita a própria sobrevivência como grupo social. Mas nem sempre a sobrevivência da família se dá
através de padrões interacionais funcionais. Por vezes, a família pode equilibrar-se em torno de
padrões disfuncionais, pois não suporta a ameaça de desintegração (GOMES, 1994).
De acordo com Calil (1987), as famílias preparadas para desempenhar seu papel,
apresentam flexibilidade para lidar com as situações de mudança e conflito. Além disso, no interior
destas famílias, existe uma predominância de mensagens recíprocas (os parceiros são capazes de
aceitar as diferenças individuais, levando ao respeito mútuo e à confiança no respeito do outro, o que
equivale a uma confirmação realista e recíproca de semipermeabilidade nas fronteiras que delimitam
a família e seus subsistemas, ou seja, há uma possibilidade de diferenciação de seus subsistemas ao
mesmo tempo em que há possibilidade de trocas entre os membros e entre os subsistemas. De outro
lado, há famílias que, como já foi mencionado, se organizam.
CONCLUSÃO
A primeira tarefa do terapêuta é acompanhar o afásico, mostrando que ele não está só e em
seguida, progressivamente, mostrar-lhe como recuperar o acesso ao discurso. De acordo com a
pesquisa realizada, conclui-se, principalmente, que:
Contudo, o objetivo não foi abordar a afasia enquanto entidade patológica, mas sim o afásico
enquanto indivíduo que é posto diante de um problema que, não só diminui ou acaba com suas
possibilidades de comunicação, como, freqüentemente, é acompanhado por problemas familiares e
ou sociais.
A pesquisa mostra as conseqüências da afasia sobre a família e sobre a pessoa por ela
atingida, o afásico, que nesta obra é considerado como sujeito de sua própria história.
No âmbito profissional, nas poucas vezes que tive contato com pessoas afásicas pude
constatar através de seus relatos ou de relatos de familiares o quanto a afasia é ruptura. Ao meu ver,
é ruptura pessoal, quando a afasia torna difícil a expressão do pensamento, colocando o indivíduo em
um universo fechado.
É ruptura familiar, pois pode transformar o afásico em um ser estranho no dia a dia de sua
própria casa. É ruptura conjugal, quando anos ou dezenas de anos de vida em comum são
destruídos, diante da impossibilidade de compartilhar sentimentos e idéias.
Dentre todas as doenças que uma pessoa pode sofrer durante a vida, a afasia é,
provavelmente a que mais diretamente repercute sobre a família. Como ela interrompe a
comunicação bruscamente, sem aviso prévio, e freqüentemente de modo permanente, todo sistema
de interações familiares é perturbado. A súbita perda da capacidade de se comunicar afeta todos os
aspectos da vida dos afásicos e de suas famílias. O afásico é alguém que intimida seus familiares.
Ele se sente envergonhado de sua condição atual quando comparada às suas capacidades
anteriores; ele provoca pena e sugere indulgência, da mesma forma como pode ser considerado uma
criança ou uma pessoa com deficiência mental. O afásico percebe esse sentimentos e sofre por ser
vítima dessa fatalidade. Ele procura uma razão que explique o porquê desse golpe trágico. Estes
fatos vem ressaltar o que COUDRY (1988) disse antes: a afasia é provavelmente a seqüela ou
limitação mais importante, mais incapacitante, seja no plano pessoal, social ou econômico. Ela atinge
a pessoa em vários níveis, tanto no plano intelectual quanto afetivo.
Outros autores vem confirmar estas perspectivas, revelando que uma série de
comportamentos ou reações psicológicas fazem parte do quadro clínico encontrado nos pacientes
afásicos.
Sendo a linguagem a forma de comunicação mais eficiente, eu acredito que a sua perda gera
no indivíduo uma limitação, não apenas na sua capacidade de compreender ou de se expressar, mas
64
também em seu estado psíquico. Não é difícil imaginar o estigma que pode representar, para uma
pessoa, o fato de não poder mais se comunicar efetivamente. Ela fica repentinamente fora do circuito.
Diante disso, eu quero salientar que não é só o indivíduo afásico que sofre com o seu atual estado,
mas também todos os que o cercam. Familiares muitas vezes apresentam reações diversificadas, tais
como: rejeição, superproteção, negação para com o indivíduo doente.
Antes de iniciar este estudo, achava que era obrigação da família entender o indivíduo
afásico, principalmente quando as conseqüências cognitivas, psicológicas e sociais da afasia eram
bastante significativas.
Diante disso, o trabalho em um primeiro momento de sua construção foi voltado para uma
relação considerada ideal entre família e pessoa afásica. Nesta etapa, foi enfocada a questão do que
a família deve e não deve fazer com o indivíduo afásico. Enfatizou-se desta forma um modelo de
interação considerado perfeito, no qual, a família age sempre de forma muito satisfatória, visando
totalmente a evolução do membro doente.
Entretanto, a medida em que a monografia foi se realizando, pude notar através das
bibliografias pesquisadas que o que foi descrito anteriormente não acontece com freqüência.
A doença, e a afasia, criam uma grave crise no seio da família e provocam alterações nos
laços fundamentais. Desse momento em diante, a doença ocupa o lugar permanente de um terceiro,
às vezes aliado, às vezes inimigo.
Com o decorrer da pesquisa, constatei que uma convivência harmoniosa na família, apesar
da afasia, deve-se à qualidade da relação que existia entre os membros antes da doença.
O movimento realizado pela família que convive com um afásico, dependerá do grau de
flexibilidade e abertura para mudanças. Esta dicotomia foi demonstrada por CALIL (1987), que
descreve as características tanto das famílias funcionais como também das disfuncionais. Neste
contexto, ele coloca que existem famílias mais preparadas para desempenhar seu papel,
apresentando flexibilidade para lidar com as situações de conflito e mudança. E outras famílias que
possuem padrões de interação mais rígidos, mesmo quando uma mudança favorece o
desenvolvimento geral.
Acredito que a minha posição no início do estudo (achar que a família era obrigada a
entender o afásico) ocorreu devido a idéia que fazia do indivíduo afásico e de sua família. Tinha como
concepção o afásico como aquela pessoa que não possuía um passado, uma vida marcada por
atitudes / relações boas e más. Quanto a família, considerava que tinha que aceitar esse membro
doente de qualquer forma. Diante disso, analiso que valorizava mais o afásico do que o seu próprio
grupo familiar.
65
Ao chegar no final desta monografia, concluo que tanto o afásico como sua família merecem
ser considerados. O indivíduo afásico deve ser considerado, conforme já dito anteriormente, como um
sujeito de sua própria história. A família por sua vez, necessita ser bem orientada e compreendida,
pois ao meu ver, sofre tanto quanto a pessoa que sofreu a lesão cerebral.
Verificou-se durante a pesquisa, o quanto a família é abalada pela afasia. Quando ocorre uma
crise importante na vida de um homem, de uma mulher, ou de um adolescente, os laços familiares
fundamentais podem ser questionados em todas as suas dimensões.
No sentido biológico, a família pode ser comparada a uma célula, com suas relações internas
e externas. No interior, o núcleo, constituído pelo casal e pelos filhos. Nas proximidades do núcleo,
quer envolvendo-o ou constituindo uma outra unidade à distância, os parentes.
Constatou-se também que algumas vezes o indivíduo afásico prefere relacionar-se com
parentes mais distantes. Esse relacionamento é considerado satisfatório pois o afásico nestas
situações sente-se bem a vontade, deixando vir à tona sua identidade real, o que ajuda a aceitar a
regressão e a impotência. Além disso, os parentes mais distantes tem menos necessidades de se
defenderem e aceitam reações que seriam intoleráveis para os parentes muito próximos.
A análise das atitudes familiares, permitiu observar como a família pode incentivar
adequadamente o paciente. Desta forma, quero ressaltar o que Jakubovicz e Meinberg (1992)
sugeriram: falar com o paciente de maneira clara, procurando olhá-lo; não interrompê-lo no momento
em que estiver falando; encorajá-lo sempre para participar de atividades familiares; compreender o
aparente egoísmo do afásico; se esforçar para entender o que o paciente quer dizer ou fazer e não
isolá-lo no seu convívio, mas tampouco colocá-lo em situações estressantes.
Entretanto, como já citado anteriormente, nem sempre estas atitudes são possíveis,
ocorrendo muitas vezes reações adversas, como indiferença e rejeição, surgidas algumas vezes por
um sentimento de ódio que estava reprimido, pois como descreve GOMES (1994), não existem
relações isoladas da família às adversidades. A família não inventa um padrão relacional totalmente
alheio aos seus padrões usuais para responder aos problemas que enfrenta.
Esta monografia evidenciou a difícil, porém importantíssima relação entre o indivíduo afásico
e sua família. Observou-se o quanto a afasia afeta o sujeito e o seu grupo familiar.
Eu acredito que apoiar e estimular o afásico tornam-se mais fácil para a família quando ela
está informada e compreende a natureza do problema que deve enfrentar. Atitudes contrárias são
encontradas também em famílias que subestimam os distúrbios da comunicação ou que atribuem as
reações e comportamentos do afásico a problemas de memória ou a outros déficits cognitivos.
66
Diante do exposto, ficou nítido que a família possui um papel importantíssimo na reeducação
do sujeito afásico, mas nem sempre é capaz de exercê-lo. Porém não cabe julgar os padrões
interacionais realizados pela família. Ao meu ver, a nós fonoaudiólogos cabe orientar e entender a
dinâmica familiar, visando dessa forma uma melhora na qualidade de vida familiar em geral e sendo
assim, uma melhora conseqüente do indivíduo afásico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACKERMAN, N.W. Diagnóstico e tratamento das relações familiares. Porto Alegre, Artes Médicas,
1986.
ANDOLFI, M.; ANGELO, C.; MENGHI, P.; NICOLO, A.M.; CORIGLIANO, A. Por trás da máscara
familiar. Porto Alegre, Artes Médicas, 1984.
BOONE, D.R. & PLANTE, E. Comunicação humana e seus distúrbios. Porto Alegre, Artes
Médicas, 1994. 402 p.
BUCK, M. - Dysphasia: professional guidance for family and patient. In: PONZIO, J.;
67
LAFONDI, D.; DEGIOVANI, R. et al. O afásico: convivendo com a lesão cerebral. Prentice Hall,
Englewood Cliffs,1968.
CALIL, V.L.L. Terapia familiar e de casal. São Paulo, Summus Editorial, 1987.
COUDRY, M.I.H. Diário de narciso. São Paulo, Martins Fontes, 1988. 205p.
GOODGLASS, H. & KAPLAN, E. The assessment of aphasia and related disorders. Philadelphia,
Lea & Febinger, 1984.
KINSELLA, G.J. & DUFFY, F. The spouse of the aphasic patient. Amsterdam, Y & R. Hoops, 1978.
MINUCHIN, S. Famílias funcionamento & tratamento. Porto Alegre, Artes Médicas, 1990. 238p.
PONZIO, J. ;LAFOND, D. ;DEGIOVANI, R. et al. O afásico: convivendo com a lesão cerebral. São
Paulo, Santos, 1995. 255p.
POSTER, M. Teoria critica da família. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1979. 251p.
WILLIAMS, S.E. & FREER, C.A. Aphasia: its effects on marital relationships. New York, Arch Phys
Med Rehabil, 1986.
69
Esta pesquisa visa não só fazer uma abordagem fonoaudiológica evidenciando etiologias,
classificação e tratamento, mas também, incluir uma abordagem psicológica por entendermos que os
aspectos emocionais em um paciente afásico é um fator relevante, haja vista que o mesmo pode
estar apresentando baixa estima.
6. QUAL A JUSTIFICATIVA?
Compreende-se que este trabalho será interessante do ponto de vista acadêmico, especialmente aos
egressos dos Cursos de Farmácia e áreas afins, quanto do ponto de vista da sociedade em geral que
especialmente irá beneficiar em termos de informação. Este estudo não almeja esgotar o tema em
questão, mas colaborar com uma pequena parcela que poderá ser empregada em trabalhos maiores,
cujo conteúdo tenha propósito de um maior alcance, tendo em vista o seu caráter científico. Tem o
propósito de esclarecer alguns pontos sobre a intervenção fonoaudiológica no desenvolvimento de
linguagem em crianças.
7. O QUE É COMUNICAÇÃO?
A comunicação consiste numa atividade social, rica e complexa, que abrange
competências lingüísticas, cognitivas e pragmáticas. Particularmente no que trata
das competências lingüísticas obtêm-se, então, a “linguagem”, que diz respeito à um
sistema de sinais simbólicos usados por uma pessoa para estabelecer comunicação
com outras.
A dificuldade em atribuir o nome correto a cada objeto encontra-se comprometida e pode incorrer em
desde uma incapacidade completa a uma redução rápida na capacidade de evocação. Estes doentes
evidenciam dificuldade em encontrar a posição articulatória certa durante a produção verbal, gerando
com isso erros e distorções (LEAL, 2003).
É a afasia de expressão mais comumente encontrada. Trata-se de um tipo não fluente, sendo que a
expressão oral pode está comprometida em diversos graus. O entendimento está preservada ou
levemente comprometida, podendo o paciente evidenciar dificuldade na compreensão der frases
complexas, textos e elementos gramaticais. A escrita também pode evoluir na fase aguda com a
minimização de agramatismo e paragrafia. A compreensão da escrita pode estar mais modificada que
a compreensão oral (NEGRÃO; BARILE, 2003).
f) Traumatismo Craniano: são responsáveis pela maior parte das afasias infantis.
contínuos e freqüentes, no entanto, em alguns casos a escrita espontânea está mantida, entretanto,
existe disortografia significativa (LOPES FILHO, 1997).
A duração do tratamento está atrelada ao prognóstico inicial realizado após uma avaliação. Alguns
afásicos recuperam-se em tempo relativamente curto enquanto outros podem recuperar-se
totalmente. Além do tratamento médico, a combinação das terapias fisioterápica, fonoaudiológica,
ocupacional e psicológica são o melhor para o afásico. De forma que cada profissional dará sua
contribuição para o bom prognóstico deste paciente (VAN RIPER, 1994 apud NEGRÃO; BARILE,
2003).
c) Afasia global: diz respeito ao tipo de afasia mais grave, assinalada pelo comprometimento rigoroso
da emissão oral e gráfica. Via de regra, o paciente evidencia mutismo na emissão oral ou ela está
limitada a estereótipos e automatismos. É apresentada a supressão da emissão gráfica
(JACKUBOVICZ, 1996 apud NEGRÃO; BARILE, 2003).
Se o centro cerebral da linguagem está sua maior parte situada no hemisfério esquerdo, os seus
usos, em termos de compreensão ou de produção possuem também eles próprios localizações
específicas. Dessa forma, a região cerebral ativada no momento da compreensão localiza-se na parte
posterior do hemisfério esquerdo, área de Wernicke, enquanto que atividades de produção ativam a
área de Broca, na parte anterior do mesmo hemisfério.
Por meio da observação do comportamento verbal de sujeitos afásicos, em outras palavras, com
problemas de uso da linguagem, é possível relacionar déficits lingüísticos a lesões antecipadamente
reconhecidas.
A dificuldade em conferir o nome correto a cada objeto encontra-se alterada e pode ir desde uma
incapacidade total a uma redução rápida na capacidade de evocação. Estes doentes apresentam
obstáculos em localizar a posição articulatória correta durante a produção verbal, gerando erros e
distorções (Leal, 2003 apud COLAÇO, 2008) .
A afasia afeta o indivíduo com dificuldades ao nível da linguagem mas também a interrelação que
este constitui com os seus parceiros de comunicação. Ao longo do processo de reabilitação, todos os
profissionais que se relacionam com o paciente afásico são, destarte, responsáveis por lhe adequar
uma comunicação eficaz.
Uma linguagem eficaz abrange múltiplos processos: o desenvolvimento dos pensamentos a serem
comunicados; a seleção, formulação e ordenação das palavras; a aplicação das regras gramaticais; e
o início dos movimentos musculares para gerar discurso verbal (Hoeman, 1996). Na afasia, inúmeros
destes processos estão afetados. Por este motivo, a pesquisa da afasia pode fornecer dados para um
melhor entendimento do funcionamento cerebral da produção de linguagem.
A capacidade de linguagem consiste num processo que abrange múltiplas estruturas do hemisfério
cerebral esquerdo (HE). Entretanto, algumas capacidades lingüísticas podem ser lesadas por lesões
do hemisfério cerebral direito (HD) – prosódia, entendimento do humor e provérbios, etc. –, o que
dizem respeito ao seu controle é realizado por áreas aí situadas. Uma lesão cerebral situada em
estruturas que se julgam estarem envolvidas no processamento da linguagem pode, então, gerar
afasia (CASTRO-CALDAS, 2000).
Jakubovicz e Cupello (1996: 30), por exemplo, ao desenvolverem uma pesquisa a respeito de
múltiplos testes tradicionais para investigação e classificação das afasias, relatam que a
aprendizagem da escrita baseia-se na associação da palavra escrita ao seu homólogo oral, e não na
associação desta aos atributos do objeto a que se refere.
74
Ou seja, elas acabam mostrando que os testes que procuram avaliar a linguagem escrita nas afasias
propõem basicamente a realização de tarefas descontextualizadas e que avaliam predominantemente
a função metalingüística da linguagem, reduzindo-a a apenas esse nível (MACEDO, 2006). Para
realização dos testes, o investigador que os aplica solicita ao afásico que soletre, escreva palavras
que lhe são ditadas, faça cópias, nomeie e descreva figuras, faça leituras em voz alta e explique
conteúdo de textos e frases.
Não obstante, considerando que por diversas situações os testes sinalizarem que o nível de
escolaridade do sujeito avaliado deva ser considerado, isso de maneira nenhuma induz a alterações
no natureza de tarefa reivindicada ou na escolha dos textos e tipos de escrita que são usados. O
pesquisa de Santana (1999) evidenciou de forma significativa que uma parcela majoritária dos testes
aplicados apresentam a mesma preocupação extrema com procedimentos metalingüísticos que em
nada se relacionam à uma concepção de linguagem enquanto uma atividade lingüístico-discursiva em
que a leitura e a escrita são situações discursivos (MACEDO, 2006).
Para estudar a refacção, utilizei-me de postulados teóricos que levam em conta uma perspectiva
enunciativo-discursiva da relação entre linguagem, cérebro, cognição e práticas sociais. Considerei
como autores representativos destes postulados: Morato, Coudry, Novaes-Pinto; Vygotsky, Luria,
Tomasello; Bakhtin, Smolka, Geraldi, Rojo; Mondada, Maingueneau, Koch, Marcuschi (MACEDO,
2006).
26. O QUE O TRABALHO COM LINGUAGEM ESCRITA DOS AFÁSICOS DIZ SOBRE A
SEMIOLOGIA?
O ser ou estar afásico torna ímpar a linguagem do sujeito (em todas as suas expressões: oral, escrita,
gestual). E segundo Abaurre, Fiad e Mayrink-Sabinson, (1997: 23): a contemplação da forma escrita
da língua induz o sujeito passe a refletir sobre a própria linguagem, chegando, por determinadas
vezes, a manipulá-la de forma consciente, de uma maneira diferente pela qual manipula a própria fala
(MACEDO, 2006).
O tratamento para afasia demanda um longo período e deverá ser o mais constante possível. A
terapia fundamenta-se em atividades que promovam a estimulação da linguagem oral e escrita. Para
isso devem-se delinear previamente as sessões levando em consideração a idade do paciente, o
nível de instrução e suas preferências pessoais, além do nível de perda observado. O prazo de
duração do tratamento está atrelado ao prognóstico inicial executado depois de uma avaliação.
Alguns afásicos recuperam-se em tempo relativamente curto enquanto outros podem recuperar-se
totalmente (NEGRÃO; BARILE, 2003).
De acordo com a tradição, as pesquisas a respeito das afasias buscam reconhecer os obstáculos
com a linguagem escrita decorrentes de lesões cerebrais da mesma forma que se identificam as
modificações com a linguagem oral. Entretanto, mesmo sendo comprovadas pesquisas evidenciaram
que nas afasias a linguagem escrita está sempre modificada, os trabalhos desenvolvidos apresentam
que tais alterações, por diversas vezes, não se assemelham às da oralidade, como a primordialmente
se pensava.
Nesse contexto, trabalhos realizados com a refacção textual escrita pode induzir a uma melhor
compreensão dos processos de escrita nas afasias, além de observar formas de melhor descrever e
compreender a semiologia das alterações nos mesmos. Isso assim como os limites da afasia
sugerem se impor sobre a forma como o trabalho sobre a língua/linguagem é desenvolvido pelo
sujeito afásico (MACEDO, 2006).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANTES, L. Diagnóstico e clínica de Linguagem [tese de doutorado]. São Paulo (SP): Lingüística
Aplicada e Estudos da Linguagem/ PUC-SP; 2001.
FONSECA SC. O afásico na clínica de linguagem [tese de doutorado]. São Paulo (SP): Lingüística
Aplicada e Estudos da Linguagem/ PUC-SP; 2002.
FONSECA SC. Afasia: a fala em sofrimento [dissertação de mestrado]. São Paulo (SP): Lingüística
Aplicada e Estudos da Linguagem/ PUC-SP; 1995.