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Exmo.

Senhor
Director da Escola S/3 de S. Pedro,
Dr. Manuel Conceição Coutinho
VILA REAL

Vila Real, 28.JAN.2011


ASSUNTO: Declaração de oposição, enquanto relator, a
este modelo de avaliação do desempenho
docente.

Designado ao abrigo do n.º 1, do art.º 13º, do Decreto-Regulamentar nº 2/2010, de 23 de


Junho, de acordo com os critérios estabelecidos nas alíneas a) e b), do nº 3, do art.º 13º,
do Decreto-Regulamentar nº 2/2010, de 23 de Junho, pelo docente Xcghjkl Mietuhs
Gfnqd Fyop, do grupo disciplinar de Educação Física, posicionado no escalão nono,
com o grau académico de Licenciatura em Educação Física, para o exercício das
funções de relator com as competências mencionadas nas alíneas a), b), c), d) e e) do nº
2 do art.º 14º do citado Decreto-Regulamentar, em 20 de Julho de 2010, venho, nessa
qualidade, expressar a V. Ex.a, a minha declaração de protesto após os dois actos
oficiais da avaliação do desempenho docente em que participei.
A prerrogativa que me concede a alínea a), do ponto 2, do art.º 5º, do Estatuto da
Carreira Docente, assim como os condicionalismos que emergem deste modelo de
avaliação de desempenho docente, não me permitem, em consciência, abster-me de
deixar de apresentar esta minha declaração face, por um lado, aos fundamentos da
filosofia subjacente a todo o processo de avaliação de desempenho docente e aos
processos de que enforma este modelo, e, por outro, à enormidade de imprecisões,
incertezas e indefinições que decorrem da aplicação prática deste processo avaliativo.
No entanto, esta posição por mim agora assumida em nada inviabilizará o acatamento e
cumprimento dos meus deveres profissionais enquanto sobre a matéria não for tomada
deliberação oficial.
Os fundamentos que me levam a apresentar esta minha declaração assentam em
princípios, em evidências factuais e em razões.

Da ordem dos princípios, saliento:

1. As virtualidades pedagógicas, consistência tecnocientífica e seriedade deste


modelo de avaliação estão profundamente desacreditadas face a escolhas
arbitrárias bem evidentes na casuística de quem hoje é avaliador e avaliado
comparativamente à avaliação de desempenho docente que decorreu no biénio
anterior.

2. O rigor desta avaliação está definitivamente posto em causa face às inexistentes


formação, capacitações específicas e treino requeridos a uma avaliação séria
que, do ponto de vista dos saberes e das competências, assume características
completamente divergentes do usual processo de avaliação de discentes.

3. A linearidade com que se pretende considerar como um dado adquirido a


adequação, a transparência e as implicações positivas para a valorização do
trabalho e da profissão docente que sejam decorrentes de uma avaliação de
desempenho feita por pares é um cabal despautério em virtude de não estarem
garantidas a autoridade e a legitimidade reconhecidas por uma formação
superior e especializada de carácter científico, técnico e profissional.

4. A inexistência de formação dos coordenadores e dos relatores inviabiliza a


qualificação e homogeneização de processos avaliativos, bem como a definição
de padrões ou modelos de docência eficazes promovendo-se, assim, a
implementação, amadorística, de concepções e práticas casuísticas e
individualizadas.

5. Assume foros de irrelevante a preconizada observação de duas ou três aulas num


processo que se pretende consistente, fiável e rigoroso o que só se torna
possível, ao arrepio da perspectiva desta filosofia avaliativa, através de um
procedimento continuado que inviabilize as implicações das esporádicas
constatações de saberes e competências.
6. A legislação sucessivamente publicada e os esclarecimentos que a DGRHE tem
vindo a disponibilizar às escolas, remetem para interpretações de legalidade
duvidosa, nomeadamente, no que respeita ao tempo, já que o Decreto
Regulamentar nº 2/2010 de 23 de Junho, refere explicitamente no artigo 14º,
ponto 3, e cito: "Os relatores que não exerçam em exclusividade as funções …
beneficiam da redução de um tempo lectivo por cada três docentes a avaliar". Já
o Despacho n.º 11120-A/2010 de Organização do Ano Lectivo, publicado em 6
de Julho de 2010, refere no art.º 8º, ponto 1, e novamente cito: "Para efeitos de
avaliação do desempenho do pessoal docente deve considerar-se o critério, por
relator, de um tempo lectivo semanal para avaliação de três docentes" e a
informação da DGRHE – Organização do Ano Escolar, de 26 de Julho de 2010,
refere, e passo a citar: "As horas de redução, a que os relatores têm direito para
o exercício das funções de avaliação de desempenho de outros docentes,
aplicam-se em 1º lugar sobre as horas de redução da componente lectiva que o
docente beneficia ao abrigo do art.º 79 do ECD e sobre horas da componente
não lectiva de estabelecimento e só depois, em caso de insuficiência, na
componente lectiva". A interpretação que é feita da hierarquia legislativa tem-
me, pois, penalizado ao longo deste ano lectivo com a introdução de duas horas
a mais do que era devido no meu horário.

Da ordem das evidências factuais, saliento:

1. Não foi garantido o preceituado no ponto 1, alínea a), do art.º 6º do Estatuto da


Carreira Docente.

2. A designação como relator de professores que frequentam uma formação


complementar de grau superior à formação académica do professor relator.

3. As condicionantes da arbitrariedade das quotas, ainda a definir, promoverão uma


inadmissível avaliação promotora de ficção uma vez que as classificações a
atribuir terão que respeitar as percentagens permitidas obrigando a acertos em
nada consentâneos com os procedimentos e registos efectuados em todo o
processo.

4. A avaliação do desempenho empreendida entre colegas, que se relacionam na


base de vários anos de convivência diária, de amizades/conflitos relacionais, de
contiguidade de anos de serviço/experiências/habilitações será sempre geradora
de suspeições e desconfianças que serão complementadas pelo recurso, mais que
provável, ao preceituado na alínea d), do artigo 48º do Código do Procedimento
Administrativo.

5. Aplica-se, na minha designação de relator, o estipulado na alínea d), do artigo


48º do Código do Procedimento Administrativo face ao percurso académico e
profissional de vários dos colegas por mim a serem avaliados.

6. As dificuldades inerentes a uma conciliação de horários compatíveis entre


relator e avaliados implicarão, ao relator, situações inadmissíveis de uma
sobrecarga horária em muito superior às trinta e cinco horas de trabalho
preconizado no Estatuto da Carreira Docente. Neste particular, e após reunião
entre relator e avaliados de que foi lavrada a respectiva acta, constata-se que, em
quatro semanas, a condição de relator, implicará um acréscimo de permanência
de horas na Escola, para além do que consta no horário recebido no princípio do
ano lectivo, distribuído do seguinte modo:

- semana de 21 a 25 de Fevereiro: 3 horas / 2 blocos de aulas


assistidas e mais 3 horas / 2 blocos de reuniões com os avaliados, o
que perfaz um total de 6 horas / 4 blocos;

- semana de 14 a 18 de Março: 1 hora e 30 minutos / 1 bloco de aulas


assistidas e mais 1 hora e 30 minutos / 1 bloco de reunião com o
avaliado, o que perfaz um total de 3 horas / 2 blocos;

- semana de 21 a 25 de Março: 1 hora e 30 minutos / 1 bloco de aulas


assistidas e mais 1 hora e 30 minutos / 1 bloco de reunião com o
avaliado, o que perfaz um total de 3 horas / 2 blocos;

- semana de 2 a 6 de Maio: 1 hora e 30 minutos / 1 bloco de aulas


assistidas e mais 1 hora e 30 minutos / 1 bloco de reunião com o
avaliado, o que perfaz um total de 3 horas / 2 blocos.

7. A parafernália de itens e descritores, muitos dos quais irrelevantes e alguns


apenas susceptíveis de avaliação aleatória e fundada em meras impressões,
fazem deste modelo um desiderato de elevada dificuldade de consecução como
facilmente se constata através do que a seguir passo a expor de um modo por
demais sucinto.
7.1. Como se torna viável um modelo de avaliação do desempenho docente
que é composto por trinta e nove indicadores que, segundo o Ministério
da Educação, traduzem a operacionalização do desempenho docente em
evidências? Esses trinta e nove indicadores reportam-se a onze domínios
que, por sua vez, são a operacionalização, em planos mais restritos, das
quatro dimensões caracterizadoras da actuação profissional do docente.
Os trinta e nove indicadores referem-se a cinco níveis. Cada um destes
níveis tem múltiplos descritores que, no total, são setenta e dois. A
contabilidade final aponta, então, quatro dimensões, onze domínios,
cinco níveis, trinta e nove indicadores, setenta e dois descritores.

7.2. O relatório de auto-avaliação tem de revelar o contributo que deu para a


prossecução dos objectivos e metas da escola o que pressupõe a
apresentação evidências para cada um dos domínios de avaliação. Como
existem quatro domínios e como para cada domínio podem ser
apresentadas quatro evidências, o professor poderá/deverá apresentar
quarenta e quatro evidências. Sabendo nós que uma evidência pode
assumir diferentes configurações, como sejam: a identificação da
actividade ou tarefa realizada, o enquadramento dessa actividade ou
tarefa no projecto educativo e no plano anual e plurianual de escola, a
identificação dos destinatários dessa actividade ou tarefa, a explicação do
processo de desenvolvimento dessa actividade ou tarefa, a indicação das
metodologias utilizadas nessa actividade ou tarefa, a explicação das
estratégias seguidas nessa actividade ou tarefa, a apresentação dos
resultados obtidos nessa actividade ou tarefa e a sua apreciação e, se for
caso disso, diz o Ministério da Educação, deve ser incluído o respectivo
grau de cumprimento dessa actividade ou tarefa, face aos objectivos
individuais apresentados, e sem nos debruçarmos sobre a análise do
conteúdo de cada uma das quatro dimensões, de cada um dos onze
domínios, de cada um dos cinco níveis, de cada um dos trinta e nove
indicadores e de cada um dos setenta e dois descritores, este é o modelo,
considerado pelo Ministério da Educação, simples e claro para a
avaliação do desempenho dos professores mas que se assume como uma
tarefa hercúlea impraticável quer em termos de execução de quem é
avaliado quer em termos de avaliação propriamente dita por parte do
relator.

7.3. A excessiva complexidade e pouca clareza entre os descritores que


operacionalizam os níveis de desempenho referentes aos indicadores,
domínios e dimensões definidos nos Padrões de Desempenho Docente
fixados em Anexo ao Despacho n.º 16034/2010, de 22 de Outubro,
dificultam a objectividade que deve estar inerente a qualquer processo de
avaliação. Neste particular, tomo a liberdade de remeter V. Ex.a para o
Anexo I que acompanha esta minha declaração.

7.4. Face ao referenciado em 6.3., torna-se particularmente inexequível a


aplicação criteriosa dos descritores que operacionalizam os níveis de
desempenho referentes aos indicadores, domínios e dimensões definidos
nos Padrões de Desempenho Docente fixados em Anexo ao Despacho nº
16034/2010, de 22 de Outubro.

Da ordem das razões, saliento:

1. A avaliação do desempenho empreendida entre colegas tende a desencadear


potenciais conflitos de interesses e perdas de isenção entre os diversos
intervenientes, arruinando ou deteriorando o desejável trabalho de cooperação
entre os docentes.

2. A aplicação deste modelo de avaliação tem implicações negativas, quer no


funcionamento da escola, nomeadamente a nível das relações interpessoais, quer
em termos de valorização das aprendizagens dos alunos.

3. A prioridade estabelecida para este processo e o tempo que inevitavelmente


consumirá, terá implicações na redução das horas requeridas ao
acompanhamento dos alunos.

4. A referência das quotas atribuídas por escola desencadeará um conflito de


interesses quando elementos da Comissão de Avaliação e relatores concorrem à
mesma quota dos professores a quem atribuem Excelente ou Muito Bom.

5. O tempo necessário para fazer o acompanhamento de todos os professores,


tendo em conta padrões de desempenho, definição de instrumentos de avaliação,
preenchimento das fichas de avaliação, realização de reuniões da Comissão de
Avaliação e Júri de Avaliação, assistências a aulas, entrevistas, etc., acabará
inevitavelmente por prejudicar a componente de trabalho individual dos
professores, tão essencial à preparação de aulas, produção de materiais e
correcção de trabalho sobrecarregando, assim, o seu horário definido em
conformidade com o estipulado no Estatuto da Carreira Docente.

6. A conjuntura de permitir que os coordenadores assistam a aulas dos relatores e o


Director a aulas dos coordenadores, não avaliando a qualidade científica do
trabalho e separando-a da dimensão pedagógica, coloca inultrapassáveis
problemas de desigualdade na avaliação e de elisão da dimensão fundamental da
docência.

7. Todo este processo se, por um lado, coloca em causa o profissionalismo dos
docentes, por outro, poderá ter repercussões extremamente prejudiciais no futuro
profissional, e pessoal, de muitos docentes.

Pelo exposto, e face a este burocrático, inoperacional e contraproducente modelo de


avaliação que, ao contrário do que nele é afirmado de "contribuir para melhorar a
prática pedagógica, valorizar o trabalho e a profissão, promover o trabalho de
colaboração", antes acaba a fomentar conflitualidades/perturbações e a revelar a sua
inexequibilidade com implicações negativas na prática pedagógica e na qualidade da
escola pública, não me resta, senão, declarar, em nome da coerência e perante a minha
consciência e demais intervenientes em toda esta hediondez, a minha completa
discordância por este modelo de avaliação de desempenho completamente
desacreditado.

Respeitosos cumprimentos,

José Aníbal Félix de Carvalho

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