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Editoria de exatas
Os calendários baseiam-se em três ciclos astronômicos: o dia solar, o mês lunar e o ano
solar. O dia solar é o tempo que o Sol leva para ocupar novamente a mesma posição no
céu. Sua duração varia um pouco ao longo do ano, mas podemos considerar um dia
solar médio de 24 horas. O mês lunar é a duração de um ciclo completo de fases da Lua,
que corresponde a aproximadamente 29 dias e meio. Finalmente, o ano solar é o período
entre dois inícios consecutivos de uma mesma estação — o verão, por exemplo. Sua
duração é praticamente a mesma do ano sideral, que corresponde ao tempo que a Terra
leva para completar uma volta em torno do Sol: aproximadamente 365 dias solares e
seis horas (um quarto de dia).
Os primeiros calendários
Alguns dos primeiros calendários usavam o ciclo da Lua. O calendário dos babilônios,
por exemplo, tinha 12 meses lunares de aproximadamente 30 dias cada um. Com ele, o
ano durava 354 dias (o mês lunar tem 29 dias e meio, 29,5 × 12 = 354). Assim, a cada
ano, as estações ficavam atrasadas em 11 dias e um quarto (365,25 – 354 = 11,25). Esse
atraso acumulava-se com o passar dos anos.
O primeiro calendário dos egípcios também era lunar, com correções periódicas para
acertar o ciclo das estações do ano. O ajuste era feito observando-se a estrela Sírio:
próximo ao início das cheias do Nilo, essa estrela surgia na aurora, pouco antes do
nascer do Sol. Quando esse evento, que praticamente coincidia com o solstício de verão,
encontrava-se muito atrasado, um novo mês era incluído no calendário, para compensar.
Mais tarde, os egípcios adotaram um calendário solar, com 12 meses de 30 dias cada,
mais 5 dias especiais, chamados de epagômenos (dedicados aos deuses Osíris, Hórus,
Ísis, Set e sua mulher, Néftis), totalizando 365 dias. Faltava ainda o pequeno atraso de
1/4 de dia, que os egípcios já conheciam mas nunca fizeram nada para corrigi-lo. A
correção foi feita apenas na época do imperador romano Júlio César.
O calendário juliano
Durante muito tempo, os romanos não administraram bem seu calendário. Apesar de
seu espírito prático, trabalhavam com um calendário bastante desorganizado. Contavam
10 meses lunares, e março era o primeiro mês do ano: não havia janeiro nem fevereiro.
Por isso os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro têm esses nomes:
correspondiam ao sétimo, oitavo, nono e décimo mês, respectivamente. Meses extras
eram encaixados de vez em quando, na tentativa de manter o calendário em passo com
as estações do ano. Mas isso era decidido pelas autoridades locais, de forma bastante
arbitrária.
Sosígenes sabia que os anos solares duravam 365 dias e um quarto; então propôs que
fevereiro recebesse, no novo calendário, um dia a mais a cada quatro anos. Para que os
erros do passado fossem corrigidos, acertando-se o passo com as estações, o primeiro
ano do calendário juliano teve a duração de 445 dias. Ficou conhecido como o "ano da
confusão total".
A reforma do papa
O sistema juliano era muito melhor do que o anterior, porque considerava anos com
365,25 dias de duração, em média (um ano de 366 dias para cada três com 365). Mas
esse número também não é exato: hoje sabemos que o ano solar dura 365 dias, 5 horas,
48 minutos e 46 segundos. Assim, o ano solar é cerca de 11 minutos mais curto do que
o valor assumido no calendário juliano.
Em 1267, o monge inglês Roger Bacon escreveu ao papa Clemente IV. Fazia um apelo
para que o calendário fosse corrigido, porque, segundo seus cálculos, o ano do
calendário era cerca de 11 minutos mais longo do que o ano solar. Isso implicaria um
erro de um dia inteiro a cada 125 anos. Com o passar dos séculos, desde a implantação
do calendário juliano, esse erro já acumulava 9 dias, segundo Bacon.
Sua descoberta tinha conseqüências sérias. Se estivesse certo, a Páscoa e todas as outras
festas religiosas estavam sendo celebradas nas datas erradas. Bacon arriscava-se com
suas declarações, pois desafiava a veracidade do procedimento adotado pela Igreja e
podia ser considerado herege.
Não se sabe a reação de Clemente IV aos apelos do monge, pois esse papa morreu
subitamente em 1268, antes que pudesse tomar qualquer atitude. O papa seguinte,
Gregório X, ignorou completamente o trabalho de Bacon, que insistiu com sua tese até
ser preso. Foram necessários mais três séculos para que o calendário fosse finalmente
arrumado, pelo papa Gregório XIII, no ano de 1582.
Gregório XIII nomeou uma comissão para estudar o calendário, liderada pelo
matemático bávaro Clavius. Essa comissão sugeriu uma nova regra de atribuição para
anos bissextos, que desse conta dos 11 minutos de erro apontados por Bacon. Segundo
essa regra, são anos bissextos todos os anos múltiplos de 4, como no calendário juliano,
mas com exceções: os anos seculares (terminados em 00), embora múltiplos de 4, não
recebem o dia extra, a menos que sejam múltiplos também de 400.
Por exemplo, o ano 1000 é múltiplo de 4. Segundo a regra anterior, seria bissexto. Mas,
com a nova regra, como não é múltiplo de 400, não recebe o dia extra. O ano de 1100
também não. Mas 1200 é múltiplo de 400, portanto bissexto, assim como o ano 2000.
Para compensar o erro acumulado nos anos de uso do calendário juliano, a reforma de
Gregório XIII subtraiu 10 dias do mês de outubro, no ano de 1582: o dia 4, uma quinta-
feira, foi sucedido pelo dia 15, sexta-feira.
No calendário gregoriano, com esse sistema de anos bissextos, a duração média dos
anos é de 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 8 segundos – apenas 38 segundos menor que o
ano solar. Alguns milhares de anos irão se passar antes de o nosso calendário atrasar-se
um dia apenas em relação às estações!
Da Roma antiga. Os dias que representavam o início de cada mês eram chamados de
calendas pelos romanos. Com o calendário juliano, que acrescentava um dia extra a
cada quatro anos, era costume incluir esse dia após o dia 24 de fevereiro: o sexto dia
anterior às calendas de março. Como esse dia ficava repetido (bis), era chamado de bis
sexto ante calendas martii ("bis sexto antes das calendas de março"). Por isso os anos
que possuem esse dia extra passaram a ser chamados de bissextos.
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