You are on page 1of 21

HIPÓTESES PRÁTICAS DE DIREITO COMERCIAL

Jorge Brito Pereira


Ano Lectivo 2003/2004
Sub turmas 1, 2 e 13

HIPÓTESE Nº 1

Armindo (escultor de sucesso) e Bento (pintor sem uma única obra vendida) partilhavam o
mesmo atelier. Um dia adquiriram em conjunto um automóvel pelo preço de 2.000 contos à
sociedade comercial VendeAutomóveis, Lda., para facilitar o transporte das matérias-primas
necessárias para o trabalho de ambos. Nos termos do acordo celebrado, o pagamento devia ser
realizado 60 dias após a entrega do carro. Entretanto, Armindo e Berto zangaram-se, não tendo
cumprido a obrigação de pagamento do preço a que estavam vinculados. Pode a
VendeAutomóveis demandar apenas Armindo para o cumprimento integral da obrigação de
pagamento do preço de aquisição do automóvel?

HIPÓTESE Nº 2

Dário (comerciante) entrou em sérios problemas financeiros e foi obrigado a vender parte
substancial do seu património. Para o efeito, Armindo (comerciante de automóveis), Berto
(comerciante de automóveis) e Carlos (artista plástico) adquiriram conjuntamente a Dário 1000
acções da EDP e 3 automóveis, tudo pelo preço global de 150.000 Euros. Depois do negócio
estar acordado, Armindo, Berto e Carlos zangaram-se por causa da divisão dos automóveis e
não cumpriram o contrato. Duas questões – (i) admitindo que todos os compradores são
casados, qual o regime da dívida? (ii) a obrigação de pagamento do preço a Dário é solidária ou
conjunta?

HIPÓTESE Nº 3

Abel é um escultor frustrado a quem ninguém comprava esculturas. Já quase falido, surge uma
oportunidade de negócio – um amigo tinha para venda 6 conhecidos quadros de Malhoa. Abel
decide então adquirir esses quadros para posterior revenda. Só que Abel não tinha condições
para guardar e conservar as pinturas. Contratou então com o Museu Gulbenkian o depósito dos
quadros por seis meses. Contratou também um guarda com a incumbência específica de
guardar estas pinturas. Estes actos são comerciais ou civis?

HIPÓTESE Nº 4
Armindo é um Advogado casado com Carlota. Para ocupar as suas horas vagas, iniciou, faz já
algum tempo, um pequeno comércio de moedas antigas, num quiosque de jardim. Como
Armindo apenas tinha disponibilidade para estar no quiosque entre as 18h e as 19h (porque
durante o resto do dia estava no seu escritório), contratou Berto, como seu empregado, para o
auxiliar. O negócio tem no entanto corrido mal e Armindo deixou de pagar os ordenados a Berto.
Podem os bens comuns do casal ser executados para pagar a dívida de Armindo a Berto?

HIPÓTESE Nº 5

Abel, casado com Berta em regime de comunhão de adquiridos, era o dono de uma pequena
mercearia de bairro. Um dia surgiu-lhe na mercearia Carla, alegre moçoila de atraente figura,
que vendia batatas. Abel de imediato se apaixonou. E porque o amor tem destas coisas, entrou
em desvario com o pouco que Carla lhe ligava. Foi ao Casino e perdeu uma pequena fortuna,
ficando a dever avultada quantia. Deixou passar o prazo para pagamento de um fornecimento de
queijo, tendo contra si sido intentada acção judicial. Tentando captar a atenção de Carla, propôs-
lhe um fornecimento de cebolas, pagando tão caro como diamantes. Carla vendeu as cebolas e
encetou uma relação ardente com Abel. Este nunca pagou a dívida ao casino, a dívida ao
fornecedor de queijo e a dívida a Carla. Berta, quando soube da pecadora traição, embruxou-se.
São por tais dívidas responsáveis os bens comuns do casal?

HIPÓTESE Nº 6

B e C dedicam-se à construção de pequenas pontes, tendo vindo a desenvolver um lucrativo


negócio nos últimos anos. Em Janeiro deste ano adquiriram por € 500.000 os materiais de que
necessitavam para a construção de uma pequena ponte no Norte do país a A, ficando acordado
que o preço seria pago daí a 60 dias. Acontece que, durante a construção, a ponte caiu e B e C
não têm fundos que permitam o pagamento da dívida. A obrigação de pagamento é conjunta ou
solidária?

HIPÓTESE Nº 7

Armindo é agricultor e é casado com Berta. Em 1998, farto dos baixos preços de venda dos seus
produtos, decidiu iniciar um pequeno comércio para venda de legumes. Para o efeito, tomou de
arrendamento uma pequena loja, adquiriu o mobiliário necessário a Dário e a Dária e celebrou
um contrato de “leasing” sobre um computador. A meio do projecto, faltou-lhe o dinheiro - a loja
nunca chegou a abrir e Armindo não pagou nem o preço do mobiliário nem as rendas do
“leasing”. Farta de tanto insucesso, Berta, a mulher de Armindo, decidiu assumir as rédeas do
negócio. O seu primeiro acto foi trespassar a loja que Armindo, sem sucesso, tinha tentado abrir.
Fez um acordo com Dário e Dária, que também pretendiam vender produtos agrícolas, – estes
perdoavam a dívida de Armindo e ainda pagavam 500 contos. Dário e Dária nunca pagaram os
500c. O trespasse é válido? A responsabilidade de Dário e Dária é solidária ou conjunta?

HIPÓTESE Nº 8

A sociedade ComeBem, Lda, explorava uma conhecida e centenária pastelaria num espaço
arrendado na zona do Saldanha. Um dia, sob protestos de milhares de fieis clientes, a pastelaria
encerrou as suas portas, foi desmantelada (tendo todo o mobiliário sido leiloado) e todos os
trabalhadores foram despedidos. Nada restava da velha pastelaria. Passado pouco tempo, a
ComeBem, Lda, trespassou a pastelaria a favor da NovoBolo, Lda, que iniciou um mesmo
negócio de pastelaria, e logo voltaram todos os velhos clientes. O senhorio do prédio clama, no
entanto, que o trespasse não é válido. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 9

Elisa é proprietária de uma livraria on-line que tem vindo a ter muito sucesso. Em 5/1 acordou
com Guiomar um contrato de fornecimento de livros por um período de um ano, contra o
pagamento de € 10.000. Em 10/1 trespassou a livraria a Fernando, nada se dizendo sobre o
referido contrato de fornecimento. Uma vez que a livraria funcionava pela Internet, o trespasse
não abrangeu qualquer espaço físico. Guiomar nunca recebeu os seus € 10.000. Elisa está
desaparecida na selva da Amazónia. Pode Guiomar exigir os € 10.000 a Fernando?

HIPÓTESE Nº 10

A Mercados, SA, que explora um conhecido hipermercado na região da Grande Lisboa, decidiu
iniciar a exploração de um supermercado “online”. Para o efeito criou uma unidade de negócio
independente para a qual contratou pessoal, criou um site na Internet, tomou armazéns de
arrendamento e celebrou contratos com os fornecedores. Poucos dias antes do lançamento do
projecto um concorrente – a sociedade Hiper, SA – apresentou uma excelente proposta de
aquisição desse negócio, tendo as partes celebrado o respectivo contrato de trespasse em
5/1/99. Agora, passados quase três anos, a Mercados, SA, decidiu lançar um novo projecto de
supermercado “online”. No entanto, a Hiper, SA, opõe-se a esse projecto alegando que viola as
obrigações de não concorrência. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 11

A ENGIL, a EDIFER e o BES celebraram um acordo designado de "consórcio" para a construção


do metropolitano do Porto. Nos termos do contrato, a ENGIL era responsável pela construção
dos carris; a EDIFER era responsável pela construção das carruagens; e o Banco Espírito Santo
era obrigado a contribuir com € 1.500.000 para as despesas gerais do projecto. Qualifique o
contrato e determine o regime jurídico aplicável.

HIPÓTESE Nº 12

Arlindo (pintor) e Berta (comerciante de automóveis) celebraram um designado contrato de


consórcio, nos termos do qual ficou prevista a seguinte actividade - A e B adquiririam velhos VW
Carocha; Berta procederia a todas as reparações necessárias; Arlindo pintaria os carros com
malmequeres em cores berrantes; e posteriormente os carros seriam vendidos a Carlos. Para o
efeito, A e B compraram 6 carros a Dário, tendo ficado estipulado que o preço seria pago 3
meses depois. Arlindo, é bom de dizer, nutria uma galopante paixão por Berta mas esta não
correspondia. Um dia, ao chegar à oficina de Berta, Arlindo viu esta a dar um tórrido Beijo em
Eliseu, seu inimigo desde os Bancos de escola. Arlindo zangou-se com Berta, o negócio correu
mal e nunca pagaram o preço até hoje. Esta obrigação é solidária ou conjunta?

HIPÓTESE Nº 13

A sociedade Perfumes Europeus, SA, celebrou com Américo um contrato de agência para a
venda dos seus produtos em Portugal. Américo fez um excelente trabalho, mas por diversas
vezes foi além dos seus poderes, contratando em nome do principal e recebendo dinheiro dos
clientes, o que nunca levantou problemas. Um dia, no entanto, recebeu € 1.000 de um cliente e
gastou tudo num Casino, tendo entregue um cartão comercial da Perfumes Europeus, com o seu
nome, como recibo. Agora a Perfumes Europeus recusa-se a entregar os perfumes, alegando
nunca ter recebido o preço. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 14

João Agrião, agricultor, celebrou em 10/1/95 com Armindo um contrato de agência, sem
representação, para a distribuição de produtos agrícolas na zona de Lisboa, com exclusividade.
Em Fevereiro de 1996, Armindo nomeou Beltrão como sub-agente. Estavam Armindo, Beltrão e
João a comemorar com as famílias, num regado jantar, os excelentes resultados do ano de
1996, quando o inesperado aconteceu – Armindo apaixonou-se pela mulher de João. A partir daí
nada foi igual. Em Janeiro de 1997, João nomeou um concessionário para a venda dos mesmos
produtos em Lisboa. Logo a seguir, em Fevereiro de 1997, Armindo recebeu de um conjunto de
clientes o preço dos produtos vendidos, preparando-se para fugir com a mulher de João. Esta,
quando já estava no aeroporto e numa cena digna de filme, arrependeu-se e deitou-se aos pés
do marido pedindo perdão. João, tendo conhecimento dos factos, resolveu o contrato de agência
e voltou à sua vida de sempre. (i) João violou a exclusividade de Armindo ao nomear um
concessionário? (ii) os clientes que pagaram a Armindo ficaram liberados da sua obrigação
perante João? (iii) Tem Armindo ou Beltrão direito a receber de João a “indemnização de
clientela”?

HIPÓTESE Nº 15

João Balão, fabricante de balões, celebrou por escrito em 10/1/93 um contrato de agência com
Adriano. Ficou previsto um prazo de 5 anos de duração do contrato, a exclusividade do agente
na zona de Lisboa e a inexistência de poderes de representação. Em Março de 1997, por uma
única vez, Adriano procedeu à cobrança de créditos junto de um cliente, nunca tendo entregue a
quantia a João. Este, zangado com a situação, nomeou um concessionário para a mesma zona.
Adriano protestou, alegando estar a seu violado o seu direito de exclusividade. As discussões
continuaram durante o ano de 1998 e o contrato continuou a ser executado para além do dia
10/1/98. Em 30 de Fevereiro de 1998, para acabar de vez com a situação, João Balão denunciou
o contrato de agência com cinco dias de pré-aviso. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 16

A Telecomunicações SA celebrou com B um acordo de concessão comercial com exclusividade


para o território nacional. O acordo não foi reduzido a escrito, embora tenha sido acordado um
prazo de 5 anos. Questão 1 – admita que a Telecomunicações, ao terceiro ano, celebrou um
contrato de agência com B, também para o território nacional. Quid juris? Admita que a
Telecomunicações denunciou o contrato ao terceiro ano. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 17

António celebrou com a McDonalds um contrato de franquia para a abertura do primeiro


restaurante da marca em Portugal. O contrato tinha vigência por período indeterminado. Ao
longo dos primeiros anos a relação de António com o Franqueado foi excelente. A pouco e
pouco, com a abertura de mais lojas da marca na cidade de Lisboa, a relação foi-se
deteriorando. Tinha o contrato já 5 anos de vigências e o Franqueados denunciou-o com seis
meses de antecedência. Quais os direitos de António?

HIPÓTESE Nº 18

Armindo, lavrador de hábitos empedernidos, avisado dos perigos da tradicional prática de


guardar os valores da casa por baixo do colchão, dirigiu-se ao Banco Agrícola, onde, após ter
aberto uma conta, entregou para depósito: (i) a quantia de € 100.000 em notas devidamente
marcadas); (ii) um cheque de € 50.000 emitido por Baco; (iii) uma moeda de € 500 comemorativa
do EURO 2004; e (iv) uma jóia de família. Sempre desconfiado, voltou ao Banco dois dias e
exigiu o levantamento dos bens entregues, onde, para seu espanto e terror, verificou que: (i) as
notas que tinha entregue eram agora substituídas por notas diferentes que perfaziam a mesma
quantia; (ii) o cheque tinha sido cobrado e o Banco já não o tinha em seu poder, pretendendo
agora entregar o dinheiro a que o mesmo correspondia; (iii) a moeda de € 500 tinha-se
transformado em cinco correntes notas de € 100; a jóia de família tinha sido vendida e o Banco
pretendia entregar apenas o valor da venda. Armindo ficou muito - mas muito - zangado. Quid
juris?

HIPÓTESE Nº 19

Face ao incumprimento de Clotilde, a LeasingFin concedeu-lhe um prazo suplementar para


cumprir as suas obrigações, após o que resolveu o contrato de leasing. Exige agora a restituição
do bem, o pagamento das rendas vencidas, das rendas vincendas e o ainda pagamento de uma
cláusula penal que visa compensar a sociedade de leasing da desvalorização do bem. As
cláusulas contratuais gerais acordadas suportam esta pretensão Quid juris?

HIPÓTESE Nº 20

Armindo vendeu 1000 garrafas de vinho do Porto a um cliente Inglês. Na sequência, contratou
com a sociedade TransPorTudo o transporte dessas mercadorias, tendo ficado acordada uma
cláusula COD. A TransPorTudo procedeu ao transporte das mercadorias até França, tendo
celebrado um contrato com a TransFrança para o resto do percurso. Quando os bens estavam a
ser descarregados, já em Londres, partiram-se 100 garrafas; os empregados da TransFrança
beberam outras 50 garrafas. Agora o cliente Inglês afirma não pagar enquanto não receber
essas 150 garrafas em falta. Armindo quer responsabilizar a TransFrança, empresa com maior
solidez financeira. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 21

Armindo dirigiu-se à SeguraTudo para celebrar contrato de seguro automóvel. Não declarou que
o seu veículo tinha problemas de travões, facto que era do seu conhecimento, tendo antes
declarado que o veículo estava em boas condições. Passados trinta dias, vendeu o automóvel a
Berta, tendo o facto sido comunicado à SeguraTudo. 4 meses depois, Berta teve um grave
acidente com o automóvel, que ficou destruído. A apólice nada refere sobre a validade territorial
da cobertura de seguro. Berta ficou hospitalizada e apenas declarou o sinistro 45 dias depois.
Quid juris?

HIPÓTESE Nº 22
O automóvel de António foi furtado por Baco. Este, embriagado, embateu contra 5 veículos num
parque de estacionamento. António entende que não é responsável porque não era o condutor.
A Seguradora entende que também não é responsável pela mesma razão. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 23

Armindo, Berto e Carlos constituíram uma sociedade por quotas com o capital social de €
30.000. Armindo e Berto realizaram imediatamente a sua entrada, enquanto que Carlos diferiu a
sua entrada para quando a sociedade necessitasse dos fundos. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 24

Asdrúbal era titular de um direito ao arrendamento, pelo período de 10 anos, de uma fracção
autónoma sita na Av. da Liberdade. Em Janeiro de 1999 decidiu constituir uma sociedade por
quotas com Berto e Carlos – Armindo contribuía com o direito ao arrendamento; Berto contribuía
com € 50.000, através de um cheque; Carlos contribuía com um ano de trabalho gratuito para a
sociedade; o capital social ficava um terço para cada sócio. Uma vez que a sociedade não tinha
grandes necessidades de fundos, ficou acordado que a entrada de Berto seria diferida em 60%,
devendo ser realizada dois anos depois. Um revisor oficial de contas avaliou as contribuições de
todos os sócios, considerando que as mesmas valiam, pelo menos, € 50.000 cada. Decorrido um
ano, os sócios zangaram-se e põem em causa a licitude de todas as prestações. Berto e Carlos
afirmam que Asdrúbal não podia contribuir com um direito (ainda para mais de carácter
temporário). Asdrúbal e Carlos afirmam que Berto não podia ter diferido a sua entrada. Asdrúbal
e Berto afirmam que Carlos não podia ter contribuído com os seus serviços. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 25

Em 15 de Janeiro de 2000 foi constituída a Santos, SA, sociedade que, nos termos do seu
objecto social, se dedica à comercialização de figuras de santos e mártires, tendo por accionistas
cinco padres da cidade de Lisboa. Estava acordado entre os accionistas que todos os lucros
provenientes da actividade da sociedade seriam, uma vez recebidos pelos accionistas, doados a
instituições de caridade. Em Março de 2000, os administradores da sociedade entenderam
praticar dois actos distintos – o primeiro foi prestar uma fiança a uma dívida contraída pela
Universidade Católica junto de uma instituição de crédito; o segundo foi adquirir uma cadeia de
televisão. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 26

A sociedade Panificadora Ideal, Lda, tem como objecto social a “produção e comercialização de
pão e bolos”. Um dia, achando que o negócio dos bolos era pouco lucrativo, a Panificadora
iniciou um negócio de tecnologias de informação, adquirindo um site na INTERNET dedicado à
compra e venda de roupas usadas. É este negócio válido face às regras de capacidade da
sociedade?

HIPÓTESE Nº 27

Em 5/1/99, A, B e C celebraram a escritura de constituição da SOQUOTAS, Lda, tendo desde


logo A e B sido designados como gerentes. No dia seguinte requererem a inscrição no registo
comercial da constituição da sociedade a qual, no entanto, veio a ser recusada 2 meses depois,
nunca tendo a sociedade sido registada. Durante esse período de dois meses, A e B celebraram
diversos contratos na sua qualidade de gerentes com várias entidades. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 28

Abel estava muito triste porque Berta, o amor da sua vida, fugiu com um artista de circo. – Oh,
que grande desgraça me aconteceu!, dizia ele todos os dias, num lamento sem fim. Passados
uns meses conheceu Carla, uma atraente moçoila. – Que fazes tu na vida?, perguntou ele, ao
que Carla respondeu, com o seu mais bonito sorriso, ao mesmo tempo que piscava os olhos –
Nas horas vagas, sou contorcionista. Quando ouviu isto – isto dos amores recalcados é mesmo
assim – apaixonou-se perdidamente. Só que Carla era uma espertalhaça e logo convenceu Abel
a formar uma sociedade consigo e com mais 3 amigos comuns – Dário, Estela e Fernando. O
capital social era de € 100.000, cada sócio subscrevia 20% do capital total (mas C, D, E e F só
realizaram 30%) e a sociedade foi constituída sob a forma de SA, tendo por objecto a compra e
venda de artigos circenses. Na data de constituição da sociedade, Carla disse – Meus Amigos,
que fique claro: eu só entro na sociedade se todos votarem de acordo com as minhas instruções
durante um ano. Todos disseram que sim, acenando com a cabeça e Abel beijou-a, encantado
com a capacidade de liderança da moça. Mas a vida é mesmo assim e Abel nasceu para ser
enganado – é que Carla e Dário mantinham um tórrido romance secreto. Um dia, Carla e Dário,
que eram administradores da sociedade, tomaram um restaurante de trespasse, em nome da
sociedade, a Guilherme, por € 50.000, desconhecendo os outros sócios o negócio. Só que os
estatutos da sociedade dispunham que qualquer aquisição de valor superior a € 40.000 dependia
de acordo da assembleia geral. Entrava Abel em casa, no fim de um dia de trabalho, quando
encontrou Carla e Dário languidamente deitados no leito conjugal. Disse – Ai meu Deus, porque
me castigas tanto? Mais disse – seus #?%&&$#!!, seus traidores, hão-de pagar por isto! Zangou-
se e contou o sucedido aos outros sócios. Estes, tomando como suas as dores de Abel,
convocaram uma assembleia geral e votaram contra a compra o negócio a Guilherme (que já
estava executado); a deliberação foi aprovada com maioria de 60% (só C e D é que aprovaram a
compra). (i) pronuncie-se sobre a regularidade das entradas para o capital da sociedade; (ii)
pronuncie-se sobre a validade do trespasse; (iii) pronuncie-se sobre a validade da deliberação,
do acordo de voto e sobre a possibilidade de, com base no incumprimento do mesmo, Carla
impugnar a deliberação. Fique a saber que, depois de tudo isto acontecer, Abel encontrou quem
o mereça e vive hoje com um cão.

HIPÓTESE Nº 29

Abel, aquando da revogação do seu contrato de trabalho com a XPTO, SA, acordou que durante
um período de dois anos não exerceria qualquer actividade concorrente com a da sociedade. Por
ter acordado este período de não concorrência recebeu a quantia de € 50.000. Passado menos
de um ano Abel constituí uma sociedade por quotas com o seu irmão Bento, de que Abel é o
único gerente, a qual celebra um contrato de prestação de serviços com a TTT, SA, grande
concorrente da XPTO. Esta entende que o acordo de não concorrência foi violado. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 30

A, B e C procederam à constituição de uma sociedade por quotas. Na data da escritura pública,


celebraram um contrato nos termos do qual A e B se obrigavam, nos cinco anos subsequentes, a
votar nas assembleias-gerais sempre de acordo com as instruções dadas por C. Um dia A e B
incumpriram o acordo e aprovaram uma proposta contra a vontade de C. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 31

A assembleia-geral da B, Lda, deliberou em 5/01/01 a realização de prestações suplementares


em dinheiro pelos sócios da sociedade, nos termos do art. 210 do CSC, devendo essas
prestações ser realizadas no prazo de 15 dias. A proposta foi aprovada por unanimidade. B não
realizou as prestações no prazo estipulado. Alega agora, passados alguns meses, que a
deliberação é nula, por violação do art. 211.1 do CSC. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 32

Um dia uma galinha de Armando bebeu um frasco de perfume e, para surpresa de todos,
cresceu e cresceu. Quando já não cabia no galinheiro foi morta por Armando e a família deste
provou a mais deliciosa carne de galinha que haviam saboreado. Armando percebeu que estava
ali um bom negócio. Começou por vender galinhas perfumadas na aldeia e rapidamente
expandiu o negócio. Contratou então Berta e Carlos como seus agentes para expandir o negócio
nas grandes cidades. Berta e Carlos ficavam com o exclusivo para Lisboa e Porto, com a
obrigação de promover a venda de, pelo menos, cem mil galinhas por ano, com a obrigação de
cumprir regras estritas de publicidade. Berta e Carlos pagaram € 10.000 no momento da
celebração do contrato e receberiam depois 5% das vendas. O contrato não foi reduzido a
escrito. O primeiro ano de execução do contrato foi um sucesso – Berta e Carlos venderam
200.000 galinhas a partir de um escritório arrendado aberto na zona das Amoreiras com mais de
100 trabalhadores. Logo Armando percebeu que podia ganhar mais dinheiro e contratou mais
dois agentes para as mesmas cidades. Entretanto Berta e Carlos foram abordados pela
multinacional Global Chicken que lhes propôs a compra do seu negócio contra o pagamento de €
1.000.000. O contrato de trespasse foi celebrado uma semana depois sem que Armindo fosse
ouvido ou achado. Armindo resolve o contrato e logo o caos se instala, ficando os trabalhadores
sem receber mais remunerações e pretendendo o senhorio da fracção arrendada intentar acção
de despejo.

a) Armando viola as suas obrigações quando contrata outros agentes?


b) O contrato de trespasse é válido? Qual é a sua natureza (civil ou comercial)?
c) Quem tem a obrigação de pagar aos trabalhadores e qual a natureza – civil ou
comercial – dessa obrigação?

HIPÓTESE Nº 33

A e B celebram contrato de concessão comercial pelo período de três anos, renovável por iguais
períodos a não ser que qualquer das partes se opusesse à sua renovação com a antecedência
de 15 dias em relação ao termo do período em causa. Esta estipulação é válida?

HIPÓTESE Nº 34

A Petrogal, SA, é titular de uma plataforma petrolífera ao largo do Alentejo que, por estar
desactivada, pretendia destruir e afundar. Esta era, note-se, a decisão economicamente
acertada face aos enormes custos de manutenção da plataforma. A intenção, no entanto,
provocou a ira das associações ambientalistas que iniciaram um movimento de boicote à
Petrogal e aos seus postos de abastecimento. Face ao enorme sucesso do boicote, a Petrogal
decidiu (i) cancelar o afundamento da plataforma e (ii) fazer uma grande doação a um grupo de
associações ambientalistas, o que foi, aliás, largamente publicitado nos jornais. Um dos credores
da sociedade intenta uma acção em Tribunal pedindo a declaração de nulidade de ambas as
decisões por serem contrárias ao fim lucrativo da sociedade. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 35

André encomendou a Berto 5 toneladas de azeitonas. Ficou acordado entre as partes que André
pagaria o preço acordado tão logo as mercadorias iniciassem o transporte. Berto contratou a
sociedade Transportes Rápidos SA para fazer o transporte, tendo sido incluído na guia de
transporte a cláusula FOB (free on board). Iniciou-se o transporte e André, como combinado,
pagou logo o preço. Só que o transportador, por deficiente climatização do contentor, deixou as
mercadorias deteriorarem-se e quando as azeitonas chegaram a André estavam já podres.
André deve responsabilizar quem e em que termos?
HIPÓTESE Nº 36

Abel depositou no Banco Bimbo € 10.000. O depósito foi feito com o prazo de um ano e com
uma taxa de juro de 3,5% ao ano. Abel tinha, algum tempo antes, contraído um empréstimo para
aquisição de habitação no mesmo Banco que, dois meses depois de ter feito o depósito, veio a
incumprir. Face a tal incumprimento, o Banco Bimbo compensou os créditos. Abel afirma que
essa compensação não é válida. Quid juris?

HIPÓTESE Nº 37

Abel, Bento, Carlos, Dário e Estela constituíram em Janeiro de 2003 a XPTO, SA, tendo cada um
dos sócios subscrito e realizado 20% do capital social. Na data de constituição da sociedade
celebraram um acordo parassocial em que se obrigaram conjuntamente a distribuir todos os
anos o máximo de dividendos que fosse possível. Por esquecimento, nunca procederam à
inscrição da sociedade no registo comercial. Em Fevereiro de 2004 reuniram-se na Assembleia-
geral anual da sociedade e, apesar dos enormes lucros da sociedade, deliberaram por
unanimidade não distribuir dividendos aos accionistas. Passados três meses, Abel zangou-se
com os demais sócios e pretendeu vender a sua participação à própria sociedade. Os outros 4
sócios deliberaram em Assembleia-geral aprovar a compra das acções de A pela sociedade.
Passado algum tempo, B também se zangou com os outros sócios; só que agora nem a
sociedade nem ninguém pretende adquirir as suas acções. Avançou para Tribunal, afirmando
que: (i) a assembleia que deliberou a não distribuição de dividendos é nula por violação do art.
294º do CSC e por incumprimento do acordo parassocial; e (ii) a deliberação de aquisição das
acções de A é nula por violação do art. 317º do CSC. Os outros sócios defendem-se alegando,
nomeadamente, que a sociedade não está sequer registada. Quid juris?

EXAME DE DIREITO COMERCIAL

1. Armindo é agricultor e é casado com Berta. Em 1998, farto dos baixos preços de venda dos
seus produtos, decidiu iniciar um pequeno comércio para venda dos legumes por si
produzidos. Para o efeito, tomou de arrendamento uma pequena loja, adquiriu o mobiliário
necessário a Dário e a Dária e celebrou um “leasing” sobre um computador. A meio do
projecto, faltou-lhe o dinheiro - a loja nunca chegou a abrir e Armindo não pagou nem o
preço do mobiliário nem as rendas do “leasing”. Berta é responsável por essas dívidas?
2. Em 1999, a situação ia de mal a pior. Armindo decidiu então, em 2 de Janeiro, celebrar um
contrato com a CompraTudo, SA, uma multinacional de distribuição de produtos agrícolas,
para que esta, durante um ano, promovesse e venda dos legumes produzidos por Armindo.
Armindo estava descontente porque, apesar de a CompraTudo estar a fazer um bom
trabalho, os preços eram baixos. Em 5 de Fevereiro de 2000, Armindo procedeu à denúncia
do contrato, com 15 dias de pré-aviso. Quais os direitos da CompraTudo?. Admita que,
durante a vigência do contrato, a CompraTudo havia recebido de um cliente a quantia de
200 contos pela venda de produtos de Armindo, não estando para isso autorizada e não
tendo Armindo, na altura, conhecimento desse facto. Tem Armindo o direito de exigir essa
quantia, de novo, ao cliente?
3. Farta de tanto insucesso, Berta decidiu assumir as rédeas do negócio. O seu primeiro acto
foi trespassar a loja que Armindo, sem sucesso, tinha tentado abrir. Fez um acordo com
Dário e Dária, que também pretendiam vender produtos agrícolas, – estes perdoavam a
dívida de Armindo e ainda pagavam 500 contos. Dário e Dária nunca pagaram os 500c. O
trespasse é válido? A responsabilidade de Dário e Dária é solidária ou conjunta?
4. O segundo acto de Berta foi constituir uma sociedade para a produção e comercialização de
produtos agrícolas. Em Março de 2000 foi celebrada a escritura de constituição da
Sementes, SA, tendo por sócios Armindo, Berta e mais 3 agricultores da zona – Elisa,
Fernando e Guilherme (cada sócio detinha 20% do capital). Logo na data de constituição
da sociedade, as partes acordaram que, durante um ano, votariam sempre seguindo as
instruções de Berta. Na passagem para o novo milénio, Armindo apaixonou-se por Elisa;
Berta, furiosa, iniciou um projecto concorrente. Em Março de 2001, aquando da assembleia
geral para distribuição de dividendos, Armindo, Elisa e Fernando votaram a não
distribuição de dividendos; Berta e Guilherme votaram contra. Em Maio de 2001, Berta
entra com uma acção em Tribunal alegando a irregularidade da deliberação da Assembleia
Geral. Quid juris?

II
Responda a dois dos seguintes quatro casos práticos:

1. Em 5/5/01 a sociedade A, SA, foi declarada falida. Após essa declaração, os credores
apuraram que: em 1998, os sócios da falida tinham constituído a B, Lda, que passou a
prestar de serviços de agência à A junto dos mercados externos, tendo com retribuição
3 milhões de contos/ano; que em 1999 a falida tinha vendido ao pai de um dos sócios,
por 5000 contos, três armazéns que haviam sido comprados por 50 000 contos; e que,
com data da falência, foi fechada, com saldo negativo para a falida, a conta corrente
celebrada com um dos seus compradores. Quid juris?
2. Em Setembro de 2000, a P, Lda, celebrou com a I, companhia de seguros, S.A., um
contrato de seguro multirisco tendo por objecto toda a maquinaria da fábrica de P. O
contrato tinha a duração de um ano, renovável. Em Abril de 2001, P vendeu parte da
maquinaria segura à M, sua subsidiária. Em 3 de Maio, uma das máquinas vendidas à M
explodiu devido a curto-circuito. Por não terem sido accionados os mecanismos de
combate a incêndio, o fogo provocado pela explosão estendeu-se a toda a fábrica,
destruindo o restante equipamento, também ele vendido pela P. A seguradora, tendo
recebido a participação, recusa-se a pagar a indemnização, alegando o seguinte: a) a 3º
prestação do prémio inicial não havia sido paga, conforme estipulado, em Março de
2001; b) a seguradora apurou que a máquina que explodiu era considerada pelos
técnicos da especialidade como pouco fiável, facto não comunicado pela P; c) a M não
era tomadora ou segurada no contrato; d) a M não evitou o alastramento do fogo pelo
que a indemnização nunca poderá abranger as máquinas destruídas após a explosão.
Quid Juris ?
3. António é sócio da sociedade TransporTir, Lda. Um dia, decidiu dar em penhor parte
da sua quota e alienar a restante a Rita. Em face de implicações fiscais, António
simulou o preço, que corresponde a metade do valor nominal da quota. Reunida a
Assembleia Geral, foi recusada a alienação e o penhor atendendo a que Rita é
divorciada de um dos outros sócios. Quid juris? Seria a resposta diferente caso se
tratasse de uma S.A.?
4. António, empreiteiro, e Berta, engenheira civil, celebraram um contrato com o fim de
concorrerem a uma empreitada lançada pela Câmara Municipal de Coimbra para a
construção de uma ponte sobre o Rio Mondego. O objectivo seria instruir o processo de
candidatura onde se exigia a assinatura de um engenheiro civil, embora fosse clara a
intenção das partes em que apenas António assumisse a responsabilidade de construir
a referida obra. A candidatura que se apresentou sob o nome de “A&B em consórcio”
saiu vencedora. No entanto, António pretende que a expressão “em consórcio” não
implica a celebração de um contrato de consórcio, mas sim de colaboração pelo qual
António recorreria aos serviços de Berta no âmbito da instrução do processo, só ele
pretendendo contratar com a Câmara Municipal de Coimbra e ficando livre de recorrer a
terceiros para o trabalho de engenharia civil. Berta contrapõe que não era essa a
intenção e que também ela deveria ser parte no contrato de construção e receber
directamente da Câmara de Coimbra os montantes indicados relativos ao projecto de
engenharia. Quid juris?

GRELHA DE CORRECÇÃO

1. A eventual responsabilidade de Berta resultará da aplicação dos arts. 15º do CC e


1691.1.d) do Código Civil e a aplicação destas regras dependerá da qualificação de
Armindo como comerciante e do regime de bens do casamento. A qualificação do
contrato de leasing como acto de comércio por analogia, a qualificação do arrendamento
como acto de comércio e a qualificação da compra e venda do mobiliário como acto não
comercial (para Armindo), não levam a nenhuma conclusão útil, porque o art. 15º é uma
regra de estatuto. Na qualificação de Armindo como comerciante – o cerne do problema
em análise - levantam-se dois tipos de problemas: (i) o primeiro problema passa pelo
facto de a loja nunca ter aberto; existe no entanto diversa doutrina (entre nós, por
exemplo COUTINHO DE ABREU) que entende já derivar a qualificação de comerciante
da realização dos actos preparatórios da empresa, o que seria o caso; (ii) o segundo
problema resulta da compatibilização do parágrafo segundo do art. 230 CC e do art.
464.2 com o nº 2 do art. 230 e com o art. 13º - se Armindo pretendia apenas vender os
legumes por si produzidos, daí não resultaria, à partida, a sua qualificação como
comerciante, uma vez que a empresa não é comercial e os actos projectados não
seriam actos de comércio objectivos (embora se possa discutir se a excepção das
referidas regras se refere a vendas de produtos pelo produtor a comerciantes ou
também à venda por este dos produtos numa estrutura comercialmente organizada
como, no caso, a loja). Apenas assim não seria, se a loja fosse vender também produtos
não vendidos por Armindo, sub-hipótese que também pode ser contemplada.
2. O contrato celebrado entre Armindo e a CompraTudo é um contrato de agência (vd. art.
1º do DL 178/96). Nada na hipótese leva a admitir estarmos perante uma concessão (e
muito menos perante uma franquia); em todo o caso, aqueles que erraram na
qualificação vão também ser conduzidos para o regime da agência, pelo que o resto da
hipótese será avaliada normalmente. Suscitam-se dois problemas. (i) Problema da
denúncia - O contrato foi celebrado a termo certo em 2 de Janeiro de 1999; quando
passa um ano e o contrato continua a ser executado, aplica-se o art. 27.2; quando o
contrato é denunciado já é um contrato por tempo indeterminado; face ao art. 28.4,
entende-se que o contrato teve a duração de mais de um ano; por isso, o prazo de
denúncia é o previsto no art. 28.1.b); os direitos da CompraTudo serão os previstos no
art. 29º. Uma vez que se verifica ter existido um mal entendido de diversos alunos
quanto à data de celebração do contrato (2 de Janeiro de 1999 e não 2 de Janeiro de
2000) e porque, efectivamente, o enunciado não é claro, devem ser admitidas as
respostas que tomam o pressuposto de celebração do contrato em 2 de Janeiro de
2000. Nesse caso, não há lugar a denúncia porque o contrato é por tempo determinado,
pelo que essa “denúncia” ou não produz efeitos ou pode ser interpretada como
resolução, o que revela incumprimento por parte de Armindo, gerando responsabilidade
obrigacional nos termos gerais. Além deste direito, a CompraTudo terá ainda direito à
indemnização de clientela, se e na medida em que estejam reunidos os pressupostos do
art. 33º. (ii) Problema do recebimento do crédito – uma vez que Armindo desconhecia o
facto, parece que estamos no âmbito do art. 3.3, pelo que o cliente apenas ficará
liberado se existir ratificação nos termos do art. 770º do Código Civil; poderá ser aberta
a sub hipótese de aplicação do art. 23.2, se Armindo tiver contribuído para a confiança
do terceiro (nada no entanto leva a entender ser o caso, até porque Armindo
desconhecia o facto e apenas aconteceu uma vez, pelo que a aplicação do art. 23.2
apenas deve ser admitida como sub hipótese). A aplicação do art. 22º é um erro, porque
não se está neste caso perante a celebração de negócios pelo agente, sem poderes de
representação, e porque, face à regra do art. 3º, inexiste lacuna.
3. A validade do trespasse depende de três problemas. (i) A loja nunca abriu e, por isso,
não tem clientela, pelo que se poderá questionar a existência de um estabelecimento
comercial; é no entanto entendido geralmente entre nós que o elemento essencial do
estabelecimento é o aviamento e que este poderá existir se a loja estiver pronta a
operar, ainda que nunca tenha aberto ao público (podendo no entanto ser questionado
se a unidade funcional do negócio já existia ou não, ponto em relação ao qual a hipótese
não é clara). (ii) Este trespasse opera por dação em pagamento e não por compra e
venda; este facto não obsta à qualificação do acto como trespasse, uma vez que este
representa um negócio “plástico” que pode produzir os seus efeitos em função de uma
multiplicidade de contratos base ou títulos (veja-se, por exemplo, o art. 116º RAU a
confirmar a ideia da licitude da realização do trespasse por dação em pagamento). (iii)
Para aqueles que tenham entendido, nomeadamente face ao art. 230º, que a loja não
revela uma empresa comercial, poderá ser discutida a validade do trespasse, muito
embora seja por muitos entendido que a noção de estabelecimento para efeitos de
trespasse está para além da noção restrita de estabelecimento comercial. O outro
problema – a responsabilidade solidária ou conjunto de Dário e Dária – depende da
aplicação do art. 100º CC. Se Dário e Dária forem comerciantes, o artigo será sempre
aplicável. Não o sendo, o artigo 100 aplicar-se-á na mesma, na medida em que o
trespasse é um acto de comércio objectivo (regras do RAU são regras comerciais, pelo
que o art. 2º do Código Comercial conduz à qualificação dos negócios aí previstos como
actos de comércio objectivos). Por isso, a responsabilidade será sempre solidária,
independentemente da qualificação de Dário e Dária como comerciantes.
4. O acordo entre os 5 accionistas qualifica-se como um acordo parassocial e é em
princípio válido face ao art. 17 do CSC – apenas assim não seria se, sendo Berta
administradora da sociedade, a obrigação de seguir instruções resultasse dessa sua
qualidade (17.3). Quando o acordo é incumprido pelo sentido da votação de A, E e F é
gerada responsabilidade obrigacional. Uma vez que o acordo não é oponível à
sociedade (art. 17.1) nunca a deliberação poderia ser impugnada com base neste facto.
No entanto, a deliberação viola o disposto no art. 294.1 do CSC, uma vez que é
aprovada apenas por uma maioria de apenas 60%. Deve questionar-se se esse facto
conduz a uma nulidade ou anulabilidade da deliberação e a justificação deste ponto
corresponde à passagem mais importante da alínea. Tendo presente o círculo de
interesses protegido pela norma, parece claro que se trata de uma anulabilidade (art.
58.1.a) do CSC), uma vez que estão em causa os interesses dos accionistas e, de entre
estes, dos accionistas actuais. Nos termos do art. 59.1, Berta tem legitimidade para
interpor a acção; no entanto, já decorreu o prazo de 30 dias previsto no art. 59.2. Poderá
ainda ser discutido o problema da obrigação de não concorrência de Berta, embora esta
só seja relevantes se Berta for administradora (art. 398.3 do CSC) e poderá também ser
discutida a obrigação de não concorrência de Armindo e Berta face ao trespasse
efectuado (embora não seja claro se a sociedade faz concorrência directa à loja).

II

1. Noção de falência e aplicação do CPEREF: artigo 128º e ss. do CPEREF. Efeitos da


falência: artigos 147º e ss. do CPEREF. Contrato de agência: distinção entre resolução e
impugnação, artigos 156º e 157º; análise do artigo 158º/d; inaplicabilidade por
ultrapassagem do período de suspeição. CV: análise do artigo 158/a (aplicação analógica;
aplicação do artigo 158/d. Conta-corrente: noção de contrato de Conta Corrente: artigo 344º
e ss. do CComercial; contraposição entre 153º do CPEREF e 344º e ss. CComercial:
Possível aplicação analógica do artigo 162º/1 CPEREF. Efeitos da resolução/impugnação
artigo 159º CPEREF.
2. Qualificação do contrato de seguro como seguro contra riscos, incluindo fogo; aplicação dos
dois regimes artigo 432º e ss. e 442º e ss. do C. Com. Argumento a): aplicação dos artigos
6º a 8º do Decreto-Lei 142/2000: até ao decurso dos 30 dias contados da recepção do aviso
de pagamento, a cobertura é eficaz. Argumento b): aplicação dos artigos 429º e 437/2 do C.
Com através da extensão às situações em que o tomador devesse conhecer. Argumento c):
aplicação do artigo 431º; ponderação das limitações doutrinais a este artigo; aplicação do
artigo 446º. Argumento d) contraposição entre 437º/3 e 443º /1, aplicação deste como norma
especial; análise da expressão «não criminoso»; aplicação do princípio da Boa Fé artigo
762º/2 do Ccivil.
3. SQ: Noção de quota artigo 219º CSC/ unidade e divisão 221º CSC; transmissão da quota
artigo 228º a 230º CSC - necessidade de consentimento; ponderação da aplicação do 228º e
ss à criação de ónus ou encargos. Desnecessidade de fundamento na recusa artigo 231º.
Simulação de preço: 231º/2/d. SA: Regra da livre transmissibilidade 328º - necessidade de
previsão expressa; necessidade de fundamentação da recusa 329º/1.
4. Objecto do Contrato de Consórcio. A hipótese refere que as partes pretendiam instruir uma
proposta com vista a um concurso público para a construção de uma ponte. Ora se
entendermos que o objecto é apenas o concurso, não poderá tratar-se de um consórcio ou
será atípico. Devem referir-se as questões da tipicidade delimitativa e as suas implicações
na resolução do caso. Natureza do contrato. A hipótese diz-nos que as partes se
apresentam com “A&B em Consórcio”. Tal parece indiciar que se trata (i) de um consórcio, e
ainda (ii) que tal consórcio seria externo. Aqui haverá que definir com clareza se o consórcio
seria externo ou interno. Atente-se a que a hipótese refere que a Berta apenas entra no dito
consórcio por ser engenheira civil, já que a “responsabilidade pela construção” seria do
António. Daqui resulta que as partes apenas pretendem que seja António a contratar com a
CM de Coimbra. Justificação da solução. A coerência na análise e tomada de posição nos
pontos (a) e (b) resulta a solução. A mim parece-me que sendo um consórcio, a Berta tem
razão em que o António não poderá subcontratar o projecto de engenharia a terceiros. No
entanto, visando as partes apenas que António fosse o “responsável pela construção”, tal
não dará o direito a Berta a ser parte no contrato com a CM de Coimbra. Este é, contudo, o
ponto mais controverso uma vez que admite a resposta contrária, ou seja completamente
favorável a Berta. A posição de António é de todo injustificável atendendo a que as partes se
apresentam “em consórcio”.

EXAME DE DIREITO COMERCIAL

1. Mário Jardel, tendo decidido abandonar a carreira desportiva, entendeu constituir uma
sociedade de comercialização de caracóis com 4 outros jogadores de futebol. Os 4 sócios
contribuíram para o capital da sociedade com terrenos localizados no centro da cidade e
avaliados em € 20.000 cada. Jardel contribuiu para o capital com um crédito indemnizatório
sobre o seu empresário, por alegados maus-tratos psicológicos, no montante de € 80.000.
Todas as contribuições foram avaliadas por um Revisor Oficial de Contas. Os sócios
celebraram a escritura pública e promoveram o respectivo registo comercial. Pouco tempo
depois verificou-se que: (i) o PDM da zona em que se encontravam os terrenos proibiu
construções, pelo que os terrenos não valiam mais que € 2.000 cada; (ii) um Tribunal
entendeu que o alegado crédito de Jardel sobre o seu empresário não existia. A sociedade
tem já vários credores que pretendem responsabilizar os sócios. Quid juris?
2. Jardel saiu triste desta situação, mas cedo se recompôs e pouco depois começou a
transaccionar acções na bolsa de valores. Com os lucros que teve adquiriu, juntamente
com três comerciantes de arte, 4 óleos de Dali a um jogador inveterado. Só que vida não
está fácil e (i) os investimentos em bolsa começaram a correr mal e Jardel deve já €
50.000; (ii) Jardel e os comerciantes nunca se entenderam sobre a divisão dos quadros,
razão pela qual nunca pagaram o respectivo preço. Pretende-se saber se Karen, com
quem Jardel é casado em comunhão de adquiridos, tem algum tipo de responsabilidade
por essas dívidas e se, no que aos quadros respeita, a dívida dos adquirentes é solidária
ou conjunta.
3. A vida vai correndo cada vez pior a Jardel. Juntando as poucas poupanças que ainda lhe
restavam, torna-se agente de uma marca de artigos desportivos – a ARDIDAS. O contrato
foi celebrado oralmente, por cinco anos e com exclusividade no território de Portugal.
Jardel inicia a sua actividade, mas ninguém lhe compra nada. Triste, torna-se preguiçoso;
dorme e nada faz durante um ano. A ARDIDAS ameaça resolver o contrato. As dívidas
acumulam-se. Jardel trespassa então o negócio a Berto. Quando toma conhecimento do
facto, a ARDIDAS resolve o contrato. Jardel afirma que as dívidas se transmitiram. Karen, a
mulher de Jardel, está preocupada com a situação. Quid juris?
4. Drama de vida. Tudo corre mal ao pobre homem. Jardel, depois de sem sucesso ter pedido
várias vezes emprego ao Sporting, já não trabalha e vive do que lhe é dado pelos amigos.
Um amigo, generoso, deu-lhe € 1.000. Jardel, feliz, foi logo ao Banco depositar o dinheiro.
Quando o entregou ao Caixa, um assaltante roubou tudo, após o que roubou os cofres
alugados do Banco, onde Jardel ainda tinha algumas jóias. Quid juris?

II

Responda a duas das seguintes questões:

A. 3 Sócios de uma SA celebraram um acordo parassocial em que se obrigaram a votar


seguindo as intruções de Abel. Numa assembleia estava ser votada a destituição de Abel
dos seus cargos de administração. Abel estava inibido de votar, mas instruiu os outros 3
sócios para se oporem à destituição e, por isso, Abel não foi destituído. Um sócio afirma
que a deliberação é nula. Quid juris?
B. Abel contratou Berto para transportar um quadro de Lisboa para o Porto. Berto sub
contratou Carlos. O quadro nunca chegou ao destino. Berto afirma que foi roubado e que
não tem responsabilidade. Abel sabe que Carlos se embriagou no percurso e vendeu o
quadro. Abel pretende responsabilizar Carlos pelo sucedido. Quid juris?
C. Abel encomendou um Ferrari a Berto. A pedido de Abel, o Banco Bola garantiu que pagaria
o preço logo que esse pagamento fosse solicitado por Berto. Este, tendo recebido a
garantia, enviou a Abel um Mini. Este diz que não paga o preço enquanto não receber o
Ferrari. Berto vai ao Banco e exige o cumprimento da garantia. O Banco, tendo pago a
Berto, exige a Abel o reembolso dos montantes desembolsados. Quid juris?
D. Em 5/5/02 a sociedade A, SA, foi declarada falida. Após essa declaração, os credores
apuraram que: em 1999, os sócios da falida tinham constituído a B, Lda, que passou a
prestar de serviços de agência à A, tendo como retribuição 3 milhões de Euros/ano; que
em 1999 a falida tinha vendido ao pai de um dos sócios, por € 5000, três armazéns que
haviam sido comprados por € 50 000; e que, com data da falência, foi fechada, com saldo
negativo para a falida, a conta corrente celebrada com um dos seus compradores. Quid
juris?

EXAME DE DIREITO COMERCIAL


Grelha de Correcção

I
1. As entradas dos cinco sócios representam contribuições em espécie (incluindo o crédito
indemnizatório). A resposta aos problemas suscitados dependerá do tipo de sociedade
que haja sido constituída, problema que a hipótese deixa propositadamente em aberto.
Caso se trate de uma sociedade em nome colectivo (SNC), os sócios poderiam optar por
uma de duas soluções – ou pela verificação das entradas por um ROC, nos termos do art.
28º CSC; ou pela assunção de responsabilidade solidária pelo valor atribuído aos bens,
nos termos do art. 179º CSC. Parece ter sido a primeira hipótese a adoptada. Verificando-
se um erro na avaliação das 5 entradas pelo ROC, aplica-se o art. 25.2 do CSC, de onde
resulta a responsabilidade do sócio até ao valor nominal da sua participação. Caso ainda
assim o património social seja insuficiente para satisfazer as dívidas da sociedade, resulta
do art. 175.1 do CSC que os sócios serão responsáveis pelas mesmas (subsidiariamente
em relação à sociedade e solidariamente entre si). Caso se trate de uma Sociedade por
Quotas ou de uma Sociedade Anónima, apenas a via do art. 28º está disponível,
aplicando-se também o art. 25.2, com idêntica responsabilidade do sócio até ao valor
nominal da entrada. Caso o património social, ainda assim, seja insuficiente, não existirá
responsabilidade adicional dos sócios (para a SQ, por força do art. 197.3, salvo a
excepção do art. 198 e para a SA via art. 271). Em qualquer dos casos, verificada a não
realização das entradas, os credores poderiam recorrer, directamente ou por analogia, ao
disposto no art. 30.º.
2. Jardel apenas poderia ser qualificado como comerciante caso se entenda que a aquisição
de acções se realiza de forma profissional (art. 13 e art. 463.5, ambos do Código
Comercial), no que a hipótese não é clara. (i) os investimentos em bolsa representam
actos de comércio objectivos por força do art. 463.5 do Código Comercial; serão, ou não,
actos de comércio subjectivos dependendo da qualificação de Jardel como comerciante.
(ii) a compra dos quadros não parece ser qualificada como acto de comércio objectivo
para Jardel (a não ser que a compra fosse para revenda, o que não parece ser o caso) e
será ou não acto de comércio subjectivo dependendo da qualificação de Jardel como
comerciante (o que não parece ser o caso) e da possibilidade de do próprio acto resultar o
contrário; para os comerciantes, a compra será, em princípio, acto de comércio subjectivo
(comerciantes no exercício do seu comércio) e objectivo (compra para revenda). No que
respeita a (i) e a (ii) a aplicação do art. 15º apenas será possível se Jardel for qualificado
como comerciante, uma vez que se trata de uma regra de estatuto, não sendo relevante
se se trata ou não de acto de comércio objectivo. No que respeita a (ii), caso se entenda
que Jardel é comerciante ou que o acto é objectivamente comercial (o que não será de
assumir em qualquer dos casos, sendo apenas relevante em sede de sub-hipótese), será
aplicável o art. 100º; se se entender o contrário, deve ser discutido se pode existir uma
relação de solidariedade imperfeita com o credor (dívida solidária perante os comerciantes
mas conjunta perante Jardel).
3. Nos termos do art. 4º do DL 178/86, a concessão de exclusividade ao agente implica
redução a documento escrito. A falta da forma, gera nulidade e redução do negócio, sendo
o mesmo válido em tudo o mais. A reiterada falta de actividade de Jardel gera
incumprimento das suas obrigações de meios, de onde resulta o direito do principal de
resolver o contrato nos termos do art. 30.a). Em princípio, o trespasse do negócio não
implica sem mais a transmissão da posição de agente, uma vez que esta depende do
acordo do principal nos termos gerais (podendo, para justificar solução contrária, ser
desenvolvida a ideia de analogia entre os contratos de distribuição e o arrendamento ou
de inserção desta posição contratual nas situações jurídicas exploracionais). A ser assim,
poderá ser posta em causa a qualificação do negócio transmissivo como trespasse, mas
daqui apenas resulta: (i) a possibilidade de requalificação do negócio (transmissão de um
conjunto de bens que não constituem uma unidade económica) e a anulação do negócio,
caso se aceite existir um erro relevante; (ii) ou, a ser admitida a sub-hipótese de estar a
ser transmitido um direito ao arrendamento, a possibilidade de resolução do contrato pelo
senhorio. As dívidas não se transmitem por mero efeito do trespasse; caso de adopte o
entendimento de OLIVEIRA ASCENSÃO, apenas as dívidas exploracionais se teriam
transmitido. A preocupação da mulher de Jardel convoca o problema da qualificação do
agente como comerciante – pelas regras gerais, parece que a qualificação não é possível
(porque os efeitos comerciais se repercutem no principal, numa situação análoga à do
mandatário comercial), mas o art. 230.3 do Código Comercial parece levar a conclusão
distinta. Caso Jardel seja qualificado como comerciante, aplica-se o art. 15º do CC +
1691.º/1/d) do Código Civil.
4. O depósito de dinheiro representa um depósito de coisas fungíveis (depósito irregular), ao
qual se aplicam, por força do art. 1206º do Código Civil, as regras do mútuo. Nos termos
do art. 1144º, a propriedade sobre o dinheiro transmite-se para o Banco por efeito da sua
entrega, sendo gerado um direito de crédito do depositante. O dinheiro roubado não é
assim de Jardel, mas do Banco depositário que, evidentemente, fica devedor do
depositante. O depósito em cofre gera o problema da natureza do negócio (depósito,
locação ou contrato misto); em todo o caso, independentemente da resposta, existem
deveres de custódia do Banco que, a serem incumpridos geram responsabilidade
obrigacional. Por conseguinte, o Banco suportará risco de perda do dinheiro e Jardel e,
estando reunidos os requisitos da eventual responsabilidade obrigacional do Banco (tendo
presente, pelo menos em sub-hipótese, a possibilidade de o Banco ilidir a sua presunção
de culpa), suportará o risco de perda das jóias.

II

A. Trata-se de acordo parassocial que aparenta ser válido. Face ao art. 17º do CSC os
acordos sobre voto são indiscutivelmente válidos. O elemento subordinante do acordo é
um accionista e não é o facto de ser simultaneamente administrador que gera a nulidade
do acordo. Deve ser discutido se a inibição de voto de Abel se estende aos outros
signatários do acordo, caso em que se gera uma invalidade da deliberação (voto abusivo)
A resposta parece ser afirmativa. Mas a ser assim, terá que se aceitar a eficácia do
parassocial perante a própria sociedade (pois a invalidade resulta do cumprimento do
parassocial), o que põe em causa os próprios fundamentos de concepção da figura.
B. Trata-se de um contrato de transporte e são gerados dois problemas. O primeiro é o da
responsabilidade do transportador em caso de furto, que é resolvido pelos arts. 377 e
383º, ambos do Código Comercial. O segundo é o problema da responsabilização directa
do sub transportador que, em princípio, não é admitida (a não ser que se parta do
pressuposto da eficácia externa das obrigações geradas, numa análise similar àquela que,
a propósito da sub-empreitada, é seguida por ROMANO MARTINEZ). Só que, como refere
a pouca jurisprudência Portuguesa sobre o assunto, a responsabilidade do sub
transportador será sempre possível quanto a imputação seja extra obrigacional, por via do
art. 483º do Código Civil, o que parece ser o caso. Poderá discutir-se a natureza comercial
do transporte: os dados da hipótese não permitem concluir que Berto seja titular de uma
empresa.
C. Qualificação do compromisso assumido pelo Banco. Trata-se claramente de uma garantia
bancária. Fora isso, poderá discutir-se a qualificação como (i) fiança bancária; (ii) garantia
bancária (autónoma) on first demand ou (iii) garantia bancária (não autónoma) on first
demand. A hipótese sugere que o Banco pagará ao primeiro pedido, embora não afaste a
possibilidade de invocação de excepções resultantes da relação garantida, apontando
para a solução referida em (ii). Embora a jurisprudência retire a autonomia à
automaticidade (constitui, de facto, um forte indício nesse sentido), a doutrina aceita
garantias (não autónomas) ao primeiro pedido, solução que determina a legitimidade
passiva na acção de regresso (Berto em vez de Abel).
D. Noção de falência e aplicação do CPEREF: artigo 128º e ss. do CPEREF. Efeitos da
falência: artigos 147º e ss. do CPEREF. Contrato de agência: extinção (art. 168.º);
distinção entre resolução e impugnação, artigos 156º e 157º; análise do artigo 158º/d;
inaplicabilidade por ultrapassagem do período de suspeição. CV: análise do artigo 158/a
(aplicação analógica; aplicação do artigo 158/d. Conta-corrente: noção de contrato de
Conta Corrente: artigo 344º e ss. do CComercial; contraposição entre 153º do CPEREF e
344º e ss. CComercial: Possível aplicação analógica do artigo 162º/1 CPEREF. Efeitos da
resolução/impugnação artigo 159º CPEREF.

You might also like