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Introdução

Este caderno teórico apresenta a descrição dos “Dez Princípios de Yang


Cheng Fu”, segundo tradução directa do Inglês efectuada a partir do Livro
“Authentic Yang Tai Chi Sabre” do Grão Mestre Fu Sheng Yuan, onde são
citados estes princípios, sendo de referir que a tradução Inglesa, refere que o
texto foi traduzido a partir de narração de Yang Chen Fu, registada por Chen
Wei Ming e posteriormente, alargada pelo Grão-Mestre Fu Sheng Yuan.

Realça-se, ainda, que as considerações efectuadas nas notas de rodapé deste


caderno teórico são da responsabilidade do autor do mesmo, visando dar um
entendimento adequado de dadas expressões que por vezes são mal
interpretadas ou traduzidas inadequadamente por outros autores. Assim,
pretendeu-se realizar a interpretação correcta, segundo os ensinamentos do
Grão Mestre Fu Sheng Yuan, no seguimento do que lhe foi transmitido pelo seu
pai, o Grão-Mestre Fu Zhong Wen, discípulo directo de Yang Cheng Fu.

Os Dez Príncipios de Yang Cheng Fu1

1. Manter a Cabeça Levantada, Sem Esforço

A cabeça deve manter-se erecta de modo a permitir que o espírito tenha


capacidade de se elevar. Se existir esforço a parte posterior do pescoço
apresentará rigidez, o que impedirá a boa circulação do sangue e do Qi.

1
Versão Traduzida directamente do Livro “Authentic Yang Tai Chi Sabre” do Mestre Fu Sheng Yuan.
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Deve existir uma sensação natural de leveza e delicadeza (sensibilidade),
caso contrário, o espírito2 não poderá elevar-se.

De modo a alcançar o acima descrito, é importante manter o pescoço direito


(alinhado com a coluna), relaxado, mas cheio de energia. Deve manter-se a
boca natural e a língua tocar o palato superior, evitando-se cerrar os dentes
e ter uma expressão na feição de zangado. Deve manter-se o sacro direito
e levemente contraído3, caso contrário, a coluna será afectada e o espírito
não terá a capacidade de se elevar.

2. Entranhar4 o Peito e Erguer as Costas

Deve abrir-se5 ligeiramente o peito, de modo a permitir que o Qi do Dantien


se interiorize. O corpo tem de estar direito necessariamente.

Deve evitar-se a protusão do peito, pois tal causará a subida do Qi e


consequentemente, gerar-se-á uma sensação de peso na parte superior do
corpo (cabeça) e na base dos pés de flutuação6.

2
Espírito abrange diversos significados, aqui é utilizado no sentido de “Energia Vital” ou “Vitalidade”.
3
O cóccix é ligeiramente “empurrado” no sentido interno, de modo a proporcionar a postura correcta da
coluna.
4
Geralmente a expressão utilizada por diversos autores / tradutores é “afundar” e não “entranhar” ou
“abrir”. Contudo ao observar a prática do Grão Mestre Fu Sheng Yuan torna-se nítido que o peito não está
“afundado”, mas aberto. Assim, realça-se que muitas vezes as traduções que são feitas da escrita
ideográfica Chinesa para o Inglês não são as mais adequadas. No livro do Grão Mestre Fu Sheng Yuan
utiliza-se a expressão inglesa “sink” que pode significar “afundar”, mas, esta expressão inglesa, também,
pode traduzir-se como “entranhar”, considerando-se ser a mais adequada nesta situação ou seja
identifica-se com o efectuar um movimento de deslocação para dentro. Esta deslocação para dentro é
consequência da ligeira contracção do cóccix referida no item 1. e do consequente erguer da coluna.

5
Na tradução original em inglês utiliza-se a expressão “drawing in of the chest”. Ora “a tradução de
“draw” pode ser “abrir”, no sentido de “abrir o chá, ou as folhas de chá quando se elabora este” e neste
caso será o que se aplica, com as necessárias adaptações. Este é um facto que reitera as considerações
efectuadas na nota de rodapé anterior.
6
Os pés devem estar bem enraizados no solo, para que todo o corpo esteja estável.
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Erguer as costas, significa que o Qi adere às costas. Ao conseguir
“entranhar” o peito, consequentemente, as costas erguem-se de forma
natural. Deste modo, a força surgirá desde a coluna, permitindo que se
vença qualquer adversário. Entranhar o peito e erguer as costas,
assemelha-se à postura de um gato7 quando repentinamente lança um
ataque sobre a sua presa.

3. Relaxar a Cintura

A cintura comanda o corpo. Se a cintura estiver relaxada e solta, a base, ou


seja as pernas estarão estáveis, proporcionando a criação de energia e
força. As mudanças de sólido para vazio advêm do movimento da cintura.
Diz-se que a “cintura8 é a fonte e o manancial da energia vital”. Se existir
perda de força nos movimentos, deve procurar-se detectar a origem dessa
debilidade na cintura e nas pernas.

4. Distinguir o Sólido do Vazio

Este é um princípio fundamental da Forma de Tai Chi Chuan que, também,


se aplica à forma de espada. Se o corpo assenta sobre a perna direita, esta
está / é sólida e a perna esquerda está / é vazia, e vice-versa. Quando o
praticante consegue fazer de forma clara esta distinção, os seus
movimentos serão leves, ágeis e fáceis de realizar. Caso contrário, os
passos serão pesados e trôpegos e facilmente se é desequilibrado, devido
à instabilidade da postura.

7
Esta referência à postura de ataque de um gato, demonstra bem que em determinadas fases da prática,
em determinadas posturas e consoante a intenção da mente (atacar, defender, desviar, etc.), a
deslocação do movimento interno do peito terá mais ou menos ênfase.
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A expressão “cintura” está para além da mera linha circular que rodeia o abdómen superior, o
significado de cintura, inclui toda a área do abdómen inferior, envolvendo os músculos da área lombar e
articulações da área pélvica, bem como o órgão rins (centro do Jing) que rege a energia vital do ser
humano. Por outro lado, também, nós ocidentais, sabemos que esta área conota-se com o centro de
equilíbrio e estabilidade do corpo humano.
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5. Manter os Ombros e os Cotovelos em Baixo9

Os ombros devem estar relaxados e caírem para baixo. Se os ombros


estiverem levantados, o Qi elevar-se-á e o corpo não conseguirá colocar em
circulação a energia e consequentemente gerar a força interna (Jin Dian).
Os cotovelos também devem estar relaxados e apontar para baixo, porque
se estiverem subidos, os ombros ficarão tensos e inibirão a capacidade de
“disparar / descarregar” sobre o oponente e empurrá-lo a qualquer
distância. Elevar os ombros e os cotovelos será o mesmo que quebrar o Jin,
o que ocorre nos Sistemas de Artes Marciais Externas10.

6. Usar a Mente e Não a Força Bruta

De acordo com os clássicos de Tai Chi Chuan, deve usar-se a mente e não
a força bruta, coordenando todas as partes do corpo. Na prática todo o
corpo está relaxado, nunca usando qualquer tipo de força bruta.

Ao utilizar a força bruta, restringe-se o fluxo da energia que circula nos


músculos, tendões, nervos, ossos e vasos sanguíneos. O que inibirá a
liberdade de movimentos, impedindo o praticante de alcançar a agilidade,
sensibilidade, vivacidade, “circularidade” e naturalidade, desejadas e
necessárias.

Como se consegue obter potência (Jin Dian) sem força bruta? A resposta é,
usando os meridianos de energia do corpo. Os meridianos são uma rede de
canais que transportam a energia (Qi) através de todo o corpo, fazendo a
ligação entre a superfície e as partes interna, superior, inferior do corpo
humano, estabelecem a união de todas as partes do corpo humano, num
Todo orgânico.

9
Também, na tradução original inglesa se usa nesta situação a expressão “sink” que traduzido para
Português deve ser “manter em baixo” e não “afundar”.
10
O Yang Tai Chi Chuan é uma Arte Marcial Interna.
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Os meridianos são similares aos rios e regatos da Terra, Se os rios estão
abertos (sem obstruções), então a água flui livremente. Se os meridianos
estão abertos (sem bloqueios), o Qi flui. Mas, se os meridianos estiverem
bloqueados, como resultado do uso de força bruta, consequentemente a
circulação do Qi e do Sangue torna-se lenta e sem vitalidade.
Consequentemente, os movimentos não serão ágeis, vivos e rápidos e se
um simples cabelo é puxado, todo o corpo ficará num estado de
desequilíbrio.

Apesar do abdómen estar repleto de energia, não se utiliza qualquer força


bruta. Para que o Qi desça lentamente e naturalmente ao Dantien, a mente
deve estar relaxada. Relaxando profundamente, enquanto se praticam os
movimentos de Tai Chi, o Qi mover-se-á livremente para todas as partes do
corpo, o que trará inúmeros benefícios ao corpo.

Por outro lado, se a mente estiver tensa e se o praticante tentar forçar o


movimento do Qi, ou usar métodos não naturais para promover a circulação
do Qi, é mais que provável que se gerem bloqueios na circulação do Qi, o
que pode acarretar danos para a saúde.

Quando o praticante é capaz de usar a mente e não a força bruta, então,


onde quer que a mente vá, o Qi segui-la-á. Após um longo período de
prática diligente que permitirá uma boa circulação do Qi diariamente,
desenvolve-se o Jin (uma força interna que se distingue da força bruta). É
isto que os Clássicos de Tai Chi pretendem dizer, com a expressão “Da
verdadeira Suavidade, surge a verdadeira Firmeza e Força”. Os braços do
praticante que tem a excelência na performance de Tai Chi, serão
extremamente firmes, como aço envolvido por algodão. Os praticantes de
Artes Marciais Externas parecem fortes quando usam a força bruta.
Contudo, quando não empregam a força bruta, parecem leves e como se
flutuassem. Observava-se que se trata de um mero tipo de força superficial.

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Em vez de usarem a mentem sobre, os praticantes de Artes Marciais
Externas usam a força bruta, o que os torna fáceis de manipular e por isso,
não merecem elogios, nem qualquer louvor.

7. Coordenar as Partes Superior e Inferior do Corpo

De acordo com os Clássicos de Tai Chi “a essência está enraizada nos pés,
é lançada pelas pernas, controlada pela cintura e expressa nos dedos das
mãos”. Desde os pés, às pernas e até à cintura forma-se um Qi
harmonioso. Quando se movem as mãos, cintura e os pés, o olhar deve ser
uníssono com o movimento. É isto que significa a harmonia das partes
superior e inferior do corpo. Se uma das partes do corpo não está em
concordância com a outra, o resultado será o caos.

Quando se começa a aprender Tai Chi, os movimentos são mais amplos e


mais abertos do que os de um praticante mais avançado. Os movimentos
amplos asseguram que as pernas e a cintura se movam de forma
coordenada e deste modo, todas as partes do corpo estão em harmonia.

8. Unificar o Externo e o Interno

O Tai Chi treina o espírito. Diz-se que “o espírito é o líder e o corpo segue
as suas ordens”. Se o praticante conseguir elevar o seu espírito, os seus
movimentos serão naturalmente ágeis e vivos. As posturas consistem
apenas em nos conceitos de sólido e vazio, abrir e fechar. Abrir não envolve
apenas as mãos e os pés, pois devem trabalhar de modo coordenado com
a abertura do coração / mente. Fechar não respeita apenas às mãos e aos
pés, mas também, com a coordenação de fechar o coração / mente.
Quando o Interno e o Externo estão unificados como um Qi Único e
harmonioso, então, não existem quaisquer falhas.
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A relação coração / espírito é como uma espada oculta, uma vez que do
exterior a prática tem uma aparência de relaxamento e conforto, mas no
interior, o coração / espírito do praticante está focado (concentrado) e
acutilante (afiado) como uma espada.

9. Continuidade: Não Parar

Os Sistemas de Artes Marciais Externos usam a força bruta, que é rígida e


não natural. Este tipo de força advém de paragens e recomeços constantes,
e os movimentos fazem-se de forma brusca e irregular. Quando a força
anterior termina, antes da seguinte se iniciar, existe um período em que o
praticante de Artes Marciais Externas está vulnerável a ataques. No Tai Chi
usa-se a mente e não a força bruta. Desde o princípio até ao final, os
movimentos são contínuos, sem paragens., como um círculo infindável. Os
Clássicos de Tai Chi referem “ um grande rio fluindo continuamente, nunca
parando”, citam, ainda “movendo o Jin como enrolar o fio da seda a partir
do casulo”. Estas frases transmitem a ideia de colocar numa sequência
unificada os movimentos, de modo a formar um todo (Qi) harmonioso.

Se os movimentos tiverem paragens e recomeços, o praticante perderá


facilmente a vantagem sobre o opositor, uma vez que consequentemente
esvazia a força interna inerente ao movimento que termina, antes que a do
movimento seguinte brote.

10. Procurar Obter Serenidade na Actividade

Os Sistemas de Artes Marciais Externos consideram que saltar e inclinar


são movimentos valiosos. Dessa forma esvaziam a sua energia e após a
prática estão ofegantes.

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O Tai Chi usa a serenidade para as actividades de ataque e contra-ataque.
Mesmo quando o praticante se move, permanece tranquilo. Quando se
pratica, quanto mais lento o praticante se mover, melhor será o resultado
obtido. A prática lenta possibilita aprofundar e prolongar a respiração, bem
como, interioriza o Qi no Dantien, o que de forma natural, evitará que a
pulsação cardíaca se eleve. Os estudantes de Tai Chi devem pensar
intensamente no acima referido, de modo a entender o seu significado.

É importante executar o movimento de forma lenta, para que se possa


compreender o significado e a essência que existe em cada movimento. A
execução lenta favorece a regulação da respiração conduzindo a um
aprofundar e prolongar da mesma e desde logo, conduzindo à interiorização
do Qi no Dantien. Ao praticar desta forma, também, se previne que surja a
sensação de peso na parte superior do corpo (cabeça), causada pela
elevação do Qi.

Referências:
Livro da Forma de Sabre de Yang Tai Chi Chuan do Grão Mestre Fu Sheng
Yuan

Mestre Nelson Barroso – Discípulo do Grão Mestre Fu Sheng Yuan

Tradução: Diana Roque

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