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4 a 7/08/2010, Recife, PE
“POLITICA NA ESCOLA”:
AVALIANDO UMA ATIVIDADE DE PESQUISA AÇÃO (2003-08)
Tatiára Monteiro
tatiara.monteiro@gmail.com
Instituição de Ensino: Universidade de Brasília (UnB)
Instituto de Ciência Política (IPOL)
1. INTRODUÇÃO
Segundo Jelin (1996), nos dias de hoje não existe uma linearidade entre o
funcionamento formal da democracia e a democratização da sociedade, que pode ser
determinada por indicadores de igualdade, participação, controle cidadão e expansão dos
direitos individuais e coletivos. Assim, corrobora para o entendimento de que normas e
procedimentos são necessários para regular as relações sociais, porém, são insuficientes para
solucionar os problemas sociais e econômicos.
A partir desta perspectiva, este trabalho destaca a importância da inserção na
Universidade e na Sociedade de atividades como o projeto de extensão de ação contínua
“Política na Escola”, que espera estimular, junto ao conteúdo escolar e a partir dele,
discussões que permitam a criação de uma viva consciência política, capaz de possibilitar
futuramente uma participação sensível dos envolvidos no seio da sociedade. Promovendo,
assim, alternativas de intervenção e conscientização das crianças e jovens em relação à
importância da participação política e comunitária na construção e fortalecimento de uma
sociedade democrática (Monteiro, 2007).
A segunda seção deste trabalho aborda a extensão na universidade, destacando a
construção histórica do conceito de extensionismo e o conceito atualmente utilizado pelas
universidades públicas brasileiras. A partir desta definição inserem-se no debate as atividades
de extensão na Universidade de Brasília (UnB) e a classificação do Projeto de Extensão de
Ação Contínua Política na Escola no escopo de projetos desenvolvidos na UnB. A terceira e
a quarta seção tratam sobre o projeto Política na Escola com ênfase em seus objetivos e
algumas considerações sobre o funcionamento da proposta. A quinta sessão apresenta
resultados de análises realizadas com os dados coletados pelas avaliações do Projeto,
realizadas por meio de questionários aplicados a professores e alunos das escolas que
participaram do Política na Escola. Na sexta e última seção, são destacadas algumas
considerações a respeito de como são importantes e necessárias as atividades como o
Política na Escola, que visam o estímulo a uma cultura política em que a cidadania e a
participação possam ser (re)pensadas e aprofundadas.
O projeto “Política na Escola” surgiu da idéia de que uma maior integração entre a
universidade e a comunidade é possível e necessária, pois atua de forma que a extensão, em
sintonia direta com o ensino e a pesquisa, possa estabelecer canais de produção de
conhecimento que possibilitem ganhos para a universidade e para a sociedade.
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O conceito de extensão universitária na América Latina pode ser analisado com base
em sua construção e reconstrução como um processo histórico e que enquadra ações que
não possuem a denominação “extensão”, isto é, são designadas de extensionismo. Essas
ações são decorrentes do exercício da extensão universitária em suas várias modalidades
(cursos; atividades de assistência técnica; prestação de serviços sociais, educacionais,
jurídicos e culturais; projetos de ação contínua; assessorias e consultorias; difusão de
resultado de pesquisa; dentre outras).
Desta forma, é um conceito que foi construído historicamente em decorrência dos
tempos vivenciados e dos processos e movimentos sociais existentes, levando em
consideração a realidade sociopolítica e econômica do momento (Rocha, 2001). No Brasil, o
Fórum Nacional de Pró-Reitores das Universidades Públicas Brasileiras assumiu uma
conceituação de extensão que expressa a postura da Universidade diante da Sociedade, ou
seja:
Assim, segundo o Fórum, este conceito retira o caráter assumido pela extensão de
“terceira função” da Universidade. Com ele, a extensão universitária é formulada como
filosofia, ação vinculada, política, estratégia democratizante e metodologia que se volta às
universidades e aos problemas sociais. Contudo, visa um feedback no processo de ensino e
aprendizagem que interliga a Universidade, em suas atividades de ensino e pesquisa, com as
demandas da sociedade.
A atual caracterização da extensão universitária é questionada e criticada por muitos
autores estudiosos da educação e de suas instituições. Demo (2001), professor da
Universidade de Brasília, por exemplo, questiona a atual posição ociosa da extensão dentro
da Universidade e propõe sua colocação no centro do sistema universitário, tornando-se
referência da formação universitária. Portanto, não deveria ser “extensão”, ou seja, não
deveria ser vista como função eventual, acessória, voluntária, enfim, acrescentada.
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1
A Câmara de Extensão (CEX) tem as atribuições de emitir pareceres, analisar propostas e projetos de extensão e
regulamentar normas do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da Universidade de Brasília.
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discussões que permitam a criação de uma viva consciência política, capaz de possibilitar
futuramente uma participação sensível no seio da sociedade. Formando, uma cultura política
em que a cidadania e a participação possam ser (re)pensadas e aprofundadas.
Com a linguagem apropriada, os extensionistas não deixam de lado a discussão sobre
aspectos institucionais da política, mas enfocam, acima de tudo, o desenvolvimento de uma
cultura política democrática. As atividades de ensino desenvolvidas têm a finalidade de levar
conceitos básicos de cidadania e política acompanhados de reflexões, discussões e atividades
lúdicas.
De acordo com Fávero (2005), a orientação principal da didática é levar os alunos a
deduzir, concluir, analisar, comparar, relatar, criticar, ao invés de apenas repetir e memorizar
e para isso, situações lúdicas devem ser utilizadas. Com as brincadeiras, a criança associa e
resgata o valor dos objetos e a natureza sociocultural das distintas situações.
“Assim, o brincar percorre certa linha de desenvolvimento que vai da situação imaginária
explícita, que contém, portanto, regras implícitas à situação regida por regras explícitas, que
contém uma situação imaginária implícita” (Fávero: 2005, p. 285)
Considerando que nos dias atuais a atividade política está restrita a obediência cívica
de cumprir leis e pagar os impostos, ou até mesmo só de depositar votos nas urnas; e que a
participação social e humanitária está cada vez mais sendo realizada apenas por repartições
estatais e governantes (Freire, 2006); o projeto “Política na Escola” partiu da idéia corrente
de que a atividade política e a participação dos cidadãos estão ocorrendo
predominantemente por meio do canal eleitoral, fato que está arraigado à cultura cívica
brasileira e abrange também as crianças.
Assim, o Projeto busca trazer à realidade infantil os conceitos relativos ao exercício
da cidadania, de modo a estimular a percepção de que a participação pode ocorrer por
outros canais que não apenas o eleitoral. Ensina-se que a vida em comunidade exige, a todo
o momento, tomada de decisões em que são necessários acordos entre os atores sociais. E
isso está presente no convívio familiar e na vida escolar, bem como no âmbito
governamental.
Neste contexto, o projeto considera a importância de construção e desenvolvimento
de processos de formação de capital social, de cultura e socialização política de jovens.
Segundo Baquero (2004), a configuração da cultura política brasileira é profundamente
afetada pelas adversidades sociais e econômicas que o país enfrenta. A diminuição de
recursos financeiros e materiais e o aumento das demandas societárias afetam diretamente os
7
“Os maiores contingentes de desempregados são jovens que não encontram nas instituições
atuais caminhos que sinalizem sua saída dessa situação. Tais dificuldades que não são novas
agravam-se num contexto de globalização e têm produzido atitudes e comportamentos da
juventude, de ceticismo, desesperança, distanciamento e desconfiança em relação à política.
(...) Tal situação tem gerado preocupações nos meios acadêmicos e políticos sobre os níveis
declinantes de engajamento político por parte dos jovens.” (Baquero, 2004, p. 121)
origens do “Behavioralism” (Connell, 1971; Greenstein, 1965; Easton e Dennis, 1965, 1967,
1969; Easton e Hess 1962; Hess e Torney, 1967). Assim, destaca-se que apesar destas
questões serem parte da fundação da Ciência Política Norte-americana, elas continuam em
debate até os dias de hoje (Schacter, 1998; Ostrom, 1996; Farr, 2004; Leonard, 1995, 1999;
Snyder, 2001).
Nos estudos sobre o tema no Brasil, destaca-se que a formação da cultura política é
tão importante quanto à formação de um eficiente sistema partidário, de mecanismos
adequados de representação política e de controle público dos governantes. Para Moisés
(1995), a cultura política envolve um conjunto de valores, orientações para a ação, atitudes e
comportamentos políticos, e advém de processos originários de socialização e da experiência
política ao longo da vida de seus membros.
A partir deste debate, Moisés (1995) relata que muitos dos autores que tratam sobre
cultura política não determinam de modo conclusivo se são as instituições democráticas que
geram a cultura política favorável à democracia ou vice-versa. Porém, um aspecto pontual da
relação entre cultura política e a estrutura política é que as disputas políticas, as concepções
com que os atores participam delas e os padrões de comportamento, que são herdados do
passado ou transformados no presente, ajudam a moldar a cultura quanto à estrutura política
de uma sociedade.
Portanto, a formação de um capital social entre os jovens possibilita uma
estruturação da cultura política desse segmento da sociedade, que demonstra um senso de
anomia e alienação e uma indiferença em relação à política. Cada vez mais, alternativas que
viabilizem os processos de socialização política da juventude são repensadas e, neste sentido,
o projeto “Política na Escola” é visto como uma forma de promoção desta perspectiva, pois
considera que a insatisfação dos jovens (e da sociedade como um todo) possui impacto
negativo no processo de construção democrática.
O processo de socialização política pode ser definido como “processo de formação de
atitudes políticas nos indivíduos ou de interiorização da cultura política existente em um meio social por parte
das novas gerações” (Schmidt, 2004, p. 161) e é um procedimento permanente da vida dos
indivíduos. Os estudos destes processos apontaram que a socialização pode ser latente (em
função de fatores difusos no ambiente) e manifesta (transmissão intencional e programa de
atitudes e orientações). Assim, o aprendizado político das novas gerações, de acordo com
Schmidt (2004), advém das experiências, contatos e influências que as pessoas têm durante
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no Brasil e suas implicações para a sociedade. Essa aula traz o conceito de democracia,
proporcionando uma revisão geral dos conteúdos já explanados, além de traçar um paralelo
entre o regime político em que vivemos e regimes políticos anteriores, sem, contudo
idealizar ou estereotipar o democrático. O objetivo é estimular um questionamento, por
parte das crianças, sobre as formas de exercício de poder. Assim, o conteúdo do encontro é
permeado pelo antagonismo entre o modelo atual de democracia e as demais formas de
governo. Portanto, as noções de liberdade, igualdade, direitos e deveres permeiam todo o
encontro.
Segundo Monteiro (2007), no projeto Política na Escola, a democracia está
relacionada à noção de um sistema de participação política do povo nos assuntos políticos,
como proposto por Torres (2003). Isto é, a democracia é vista pelo seu conteúdo e não
apenas como um método de representação política, pois prioriza o poder do povo sobre as
instituições reguladoras, enfatiza os direitos iguais para todos os cidadãos e promove o
desenvolvimento da participação política e social.
Por fim, o sexto encontro, Eleição, realiza um processo eleitoral com alunos da
terceira e quarta séries para a escolha de membros componentes de um Conselho
Deliberativo da Escola. Este encontro possui o intuito de realizar uma revisão dos temas dos
encontros anteriores, pois promove de forma prática a inserção de todos os conceitos
abordados durante o semestre. Não é somente a concretização de um pleito eleitoral, mas
sim de um processo de escolha de representantes que acarreta durante o resto do ano letivo
tarefas e responsabilidades com os colegas, professores e funcionários da escola. Com a
finalidade de incentivar a participação política dos alunos eleitos e dos demais alunos ao
levantarem demandas à comunidade escolar, ou até mesmo, oferecendo cooperação na
resolução de possíveis conflitos.
Desta maneira, o projeto Política na Escola objetiva promover o desenvolvimento
do espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas idéias, aberto ao
diálogo e à livre troca de opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com espírito
crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua
transformação progressiva e da sociedade como um todo.
aperfeiçoamento do que está sendo avaliado (Weiss, 1998). Neste sentido, a escolha da
metodologia de avaliação mais adequada ao projeto “Política na Escola” derivou de suas
próprias especificidades, pois cada intervenção influencia o seu tipo de avaliação (Cotta,
1998).
Segundo Monteiro (2007), o processo de avaliação no projeto Política na Escola está
aderido à definição de avaliação dada por Aguilar e Ander-Egg (1994):
avaliação do projeto realizado por Monteiro (2007) foi essencial para a consolidação do
processo de avaliação do Política na Escola.
Neste trabalho, a autora trata sobre o processo de avaliação utilizado no projeto
Política na Escola, enfatizando definições, características, descrições dos métodos utilizados
e debate sobre as mudanças nos instrumentos de coleta utilizados pelo projeto. As
informações apresentadas em seu trabalho são agrupamentos primários dos dados coletados
através dos questionários aplicados às escolas. Com isso, permitiu a análise dos dados
gerados ao longo dos anos de 2004 e 2005, com a identificação e o cruzamento de variáveis
e o estabelecimento das freqüências às respostas dadas.
Segundo Monteiro (2007), o processo de avaliação no projeto “Política na Escola”
estabeleceu ao longo dos anos quatro características definitivas de sua formação: interna,
processo, resultado e formativa. A Figura 2 e o Quadro 1 ilustram a interação e
complementaridade destas características.
P R
Figura 2: O Processo de Avaliação no “Política na Escola”
P R
I F
Avaliação de Avaliação de
Avaliação Interna Avaliação Formativa
Processo Resultado
As avaliações de processo são viabilizadas por meio dos questionários aplicados aos
professores das escolas participantes do projeto. Além dos questionários, eles participam
deste processo com suas sugestões e críticas que são realizadas durante os encontros com
docentes e dirigentes da escola e ao término do programa, quando são solicitados a
escreverem suas percepções acerca do Política na Escola, por meio de uma avaliação aberta
e não-estruturada. Os questionários e redações, neste caso, serviam como referência
documental das mudanças necessárias. Ambos a fim de extrair, a visão geral que os docentes
possuíam sobre os aspectos abordados pelo projeto e como essa abordagem deveria ser feita
pelos extensionistas.
Em todas as escolas trabalhadas, ocorreram reuniões com os docentes, direção e
coordenação. A primeira reunião, chamada de Visita de Apresentação, possui a intenção de
apresentar o projeto, perceber as expectativas e conhecer a realidade da escola (quantidade
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Figura 3: Sistema de Categorias para a Avaliação do Questionário dos Professores (Monteiro, 2007: 27)
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ilustração das respostas dadas a este questionamento, destaca-se que a partir do projeto
“Política na Escola” os docentes refletiram suas atitudes enquanto cidadãos e (re)pensaram
suas práticas enquanto professores:
(i) passaram a ter maior atenção em relação aos assuntos do cotidiano, que são
importantes para discutir em sala de aula;
(ii) perceberam que o projeto acrescentou uma riqueza de informações e inseriu
dinamismo ao processo de ensino e aprendizagem, possibilitando a orientação do
trabalho no decorrer da semana seguinte ao oferecer um tema gerador de
conteúdo escolar, como também, identificou a possibilidade cada vez maior de
integrar a vida acadêmica a uma prática;
(iii) compreenderam a importância da política para a construção de uma sociedade mais
justa e igualitária; e, obtiveram um maior conhecimento sobre a história política
do Brasil e sua evolução.
simples e visa prover mais uma análise da estrutura (temas e forma de aplicação) do que uma
análise de desempenho do projeto.
O segundo modelo, foi elaborado no semestre após a aplicação do primeiro
(2º/2004) com o propósito de fornecer dados para análises da nova estrutura do projeto e da
satisfação dos alunos participantes. Já o terceiro modelo é o mais completo, pois possibilita
uma análise da estrutura, do grau de satisfação e da importância do projeto para os
participantes, bem como analisar o impacto da proposta. Desta maneira, viabiliza uma
comparação concreta das percepções dos alunos participantes antes e depois de participarem
do projeto “Política na Escola”.
Nos anos de 2006, 2007 e 2008 o processo de avaliação do projeto foi inviabilizado.
Esta limitação da pesquisa ocorreu devido a falhas institucionais da proposta. Isto é, por ser
um projeto integrado por estudantes de graduação e que inicialmente ainda não era uma
proposta institucionalizada na universidade, os extensionistas que desenvolveram os
modelos iniciais de avaliação do projeto concluíram suas graduações e se desligaram da
instituição. Apesar de o projeto ter sido criado com o objetivo de constante aprimoramento
e renovação, houve falha de comunicação e transmissão de conhecimento já adquirido.
Neste sentido, os novos integrantes do projeto não deram continuidade aos modelos de
avaliação já desenvolvidos e coletaram dados que possibilitam apenas uma análise estrutural
da proposta, como havia sido feito no início da trajetória de avaliação (1º modelo).
Neste sentido, esta sessão apresentará apenas os dados referente à avaliação de
resultado desenvolvida a partir do 3º modelo de avaliação do “Política na Escola”2, ou seja,
dados coletados em duas escolas durante o primeiro semestre do ano de 2005, que permitem
uma análise do impacto do projeto. As escolas participantes serão genericamente
denominadas de “Escola Delta” e “Escola Gama”, nessas escolas participaram do projeto
“Política na Escola”, aproximadamente, 500 crianças.
Assim, os resultados do processo de avaliação selecionados para este artigo, foram
coletados por dois questionários aplicados aos alunos das escolas participantes. O primeiro
foi aplicado antes do início do projeto, com o intuito de se obter a percepção do jovem a
respeito do tema a ser tratado (Política) e de seu conhecimento adquirido até o momento do
início das aulas (situação inicial). O questionário final visa mensurar o conhecimento
adquirido com a participação no projeto. Ele foi aplicado após a realização dos seis
2
Os dados e as análises provenientes dos outros dois modelos de avaliação desenvolvidos no projeto
“Política na Escola” podem ser verificados no trabalho desenvolvido por Monteiro (2007).
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encontros, com o intuito de depreender dos participantes uma avaliação do projeto, como
opinião em relação às visitas, suas preferências e sugestões (situação final). Neste sentido,
estes instrumentos de coleta de dados viabilizam uma comparação concreta das percepções
dos alunos antes e depois de participarem do projeto “Política na Escola”.
O questionário inicial foi respondido por 350 alunos das escolas Gama e Delta. A
caracterização sócio-demográfica dos alunos pesquisados é composta por duas variáveis:
idade e gênero. A idade média foi de nove anos, variando de 7 a 15 anos de idade. Com
relação ao gênero dos participantes destaca-se que mais da metade (52,6%) eram do sexo
feminino. As Tabelas abaixo ilustram a freqüência e o percentual de cada um destas
variáveis:
Tabela 2: Relação do Gênero por Idade dos Alunos Pesquisados (situação inicial)
Idade
Gênero
média min max missing
Masculino 10 8 15 11
Feminino 9 7 13 4
Com relação ao questionário final, 278 alunos das escolas Gama e Delta responderam
a este instrumento. A caracterização sócio-demográfica dos alunos pesquisados
posteriormente também é composta pelas variáveis: idade e gênero. A idade média foi de
nove anos, variando de 8 a 13 anos de idade. Quanto ao gênero dos participantes destaca-se,
novamente, que mais da metade (52,52%) eram do sexo feminino. As Tabelas abaixo
ilustram a freqüência e o percentual de cada um destas variáveis:
Tabela 4: Relação do Gênero por Idade dos Alunos Pesquisados (situação final)
Idade
Gênero
média min max missing
Masculino 10 8 13 4
Feminino 9 8 13 12
Situação Inicial
50,74% 42,14% 7,12% Gostaria Muito /
(Gostaria de Aprender?)
Gostou Muito
Gostaria /
Gostou
Situação Inicial
47,84% 49,38% 2,78%
(Acha Importante?)
Muito Importante
Importante
Não Importante
Situação Final
73,55% 26,09% 0,36%
(Achou Importante?)
O Gráfico acima demonstra uma relação positiva crescente no que tange ao grau de
importância dado ao aprendizado sobre política. Esta afirmação comprova-se pelo fato de
que há uma diminuição na porcentagem de repostas de alunos que não acham importante
aprender sobre política, de 2,78% foi para 0,36%; e no grande aumento de respostas dadas
para a categoria muito importante, pois de 47,84% foi para 73,55%.
Com o intuito de avaliar o impacto do projeto, com base na percepção dos próprios
alunos, os questionários perguntaram aos participantes do projeto sobre a possibilidade e,
depois, a concretização de ocorrência de mudanças no jeito de pensar sobre política. O
Gráfico 3 ilustra esta comparação.
Gráfico 3: Comparação Inicial x Final sobre Mudanças no Jeito de Pensar sobre Política
Comparação sobre mudanças no jeito de pensar
sobre política
6,90%
Situação Inicial Bastante
28,16% 15,52% 49,43%
(Pode mudar o jeito de pensar?)
Pouco
Não
‘Mudou Bastante’. Desta forma, destacam-se os motivos declarados pelos alunos que disseram
que mudou bastante seu jeito de pensar sobre política (Gráfico 4), dentre estes dados tem-se
que 36% desses alunos mudou porque “pergunta mais sobre política à seus familiares ou tenta
explicar para eles o que viu nas aulas” e 29% mudou porque “conversa mais sobre política com seus
colegas e com a(o) professora(o)”.
13%
29% Conversa mais sobre política
Pergunta mais sobre política
22%
Procura notícias sobre política
Mudou de outra forma
36%
Eleições
23% Participação
3%
2% 3%
Fonte: Banco de Dados do Projeto “Política na Escola”
25
7% Eleições
23% Participação
Pontos Negativos
5% Pontos Positivos
48% 1% Representação
A análise dos gráficos acima apresenta três relevantes aspectos: (i) a diminuição no
percentual da categoria de desenhos sobre eleições, isto é, de 42% na situação inicial regrediu
para 23% na situação final. Destaca-se que inicialmente os desenhos sobre campanha eleitoral
representam 54% da categoria eleições, que também foi composta por desenhos sobre urna,
sessão eleitoral e legislação eleitoral; (ii) a redução nos desenhos sobre representação, pois de 27%
diminuiu para 13%, os desenhos feitos sobre pessoas (Lula, Roriz e Marisa), cargos
(governador, prefeito) e status decorrentes das funções públicas exercidas (eventos,
transporte, moradias e empregos); e (iii) um aumento significativo nos desenhos
categorizados como símbolos/instituições, de 23% na situação inicial aumentou para 48% na
situação final, que foi detalhada no Gráfico 7.
1% Constituição
Escola
Família
74%
Palácio do Planalto
Teatro Nacional
Nesta última seção, são destacadas algumas considerações a respeito de como são
importantes e necessárias as atividades como o Política na Escola, que visam o estímulo a
uma cultura política em que a cidadania e a participação possam ser (re)pensadas e
aprofundadas.
Segundo Schmidt (2001), a participação política é fruto da educação, ou seja, a
predisposição para a participação é prejudicada pela ausência de mecanismos de participação
na família, na escola e no local de trabalho. Assim, o processo de constituição das atitudes
políticas condiciona o comportamento do indivíduo, que está relacionada com a sua própria
trajetória, seja como sujeito politicamente ativo ou como politicamente passivo.
Além da assimetria informacional e do baixo nível educacional (formal ou político),
outra explicação para o desencanto e apatia política da população relaciona-se com a
exclusão histórica do povo brasileiro dos processos de participação da vida pública. José
Murilo de Carvalho (1997) destaca que essa supressão do povo reflete a atuação da
sociedade nos dias de hoje, com atitudes cínicas e pragmáticas e com baixa identidade
político-partidária.
Consoante com a abordagem da supressão da população, Marcello Baquero (2001a)
ressalta que atualmente a democracia na América Latina relaciona-se diretamente com os
processos de globalização, que integram os países. Porém, geram altos índices de
fragmentação social e cultural ao excluir a maioria da população que é carente de
conhecimentos específicos e atualizados. Baquero enfatiza como resultado desta dinâmica a
fragilização dos laços sociais e a individualização das relações sociais, predominando valores
particulares em detrimento do bem estar coletivo.
Com base neste contexto, este trabalho apresentou que o projeto Política na Escola
considera relevante a influência da escola nas decisões políticas dos jovens e que o
desenvolvimento do processo de socialização política é também fortemente influenciado
pela instituição escolar. Segundo Ferreira (1995), é também no interior da instituição escola
(nas relações com colegas e professores) que são inicialmente constituídos os conteúdos e as
atitudes políticas dos indivíduos.
Tendo como pressuposto estas considerações, este trabalho, como os outros já
desenvolvidos sobre o projeto, pretendeu indicar a necessidade da existência de atividades
27
(re)elaboração das experiências construídas e reconstruídas que se convertem em novos saberes” (Souza,
2004, 156).
Isto posto, mostrou-se com este trabalho a importância e a viabilidade de atividades
como o projeto “Política na Escola”, tanto como atividade de extensão e pesquisa
acadêmica, quanto como instrumento de fomento à socialização política; e, sendo assim, um
incentivo à consolidação de uma cultura política democrática.
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