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Dos títulos de crédito rural.

Os títulos de crédito rural são instrumentos utilizados para a formalização do


crédito rural, sem afastar, no entanto, a possibilidade de formalização do crédito rural
por meio de contrato, no caso de peculiaridades insuscetíveis de adequação aos títulos
de crédito rural previstos em lei. Portanto o acesso ao crédito rural não se encerra por
meio dos títulos de crédito rural. Contudo, não se poderá inovar ou criar títulos de
crédito diversos dos previstos numerus clausus nas legislações específicas que tratam de
crédito rural.

Os títulos de crédito rural são promessas de pagamento sem ou com garantia real
cedularmente constituída, isto é, no próprio título. A garantia pode ser ofertada pelo
próprio financiado, ou por um terceiro. Embora seja considerado um título civil, é
evidente seu conteúdo comercial, por sujeitar-se à disciplina do direito cambiário.

De acordo com a legislação vigente, a formalização do crédito rural pode ser


realizada por meio dos seguintes títulos:

1. Nota Promissória Rural;


2. Duplicata Rural;
3. Nota de Crédito Rural;
4. Cédula Rural Pignoratícia (CRP);
5. Cédula Rural Hipotecária (CRH);
6. Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária (CRPH);
7. Cédula de Produto Rural (CPR);
8. Cédula de Produto Rural Financeira (CPRf)
9. Certificado de Depósito Agropecuário (CDA) e Warrant Agropecuário (WA)
10. Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA)
11. Letra de Crédito do Agronegócio (LCA)
12. Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA)

Os títulos de crédito rural submetem-se a regimes específicos, decorrentes de


leis próprias, não estando inclusos na vedação do art. 890 do Código Civil, que
considera não escrita no título a cláusula de juros. A exceção provém não só do que
estabelece art. 903 do mesmo código, como também da regra de que a lei geral não
revoga a lei especial do art. 2º § 2º da Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro.

Assim, quando autorizado pela lei, os títulos de crédito rural admitem cláusulas
dos encargos financeiros que gravitam em torno de operações de financiamento. Devem
constar da cédula ou da nota de crédito os juros sobre a dívida, capitalizados ou não, os
critérios de sua incidência e, se for o caso, a periodicidade de sua capitalização, bem
como as despesas e os demais encargos decorrentes da obrigação. Entretanto, deve-se
compreender que não há plena abertura para que sejam inseridos quaisquer encargos
financeiros. A admissibilidade dos encargos que incidem sobre o mútuo rural deve ser
restritiva e de aplicação numerus clausus, quando os encargos são especificados na lei.

Limitação dos Juros

Segundo Keynes os juros constituem “a recompensa da renúncia da liquidez por


um período determinado, pois a taxa de juros não é, em si, outra coisa senão o inverso
da relação existente entre uma soma de dinheiro e o que se pode obter desistindo, por
um período determinado, do poder de comando da moeda em troca de uma dívida”.

Os juros refletem o preço do dinheiro emprestado. É o valor pago pela perda de


liquidez por determinado período. Reduzem ou permite o desenvolvimento da economia
do país, na medida em que a elevação das taxas impedem o fomento das atividades
produtivas.

O Supremo Tribunal Federal, consagrou que as instituições financeiras estão à


salvo da limitação da taxa de juros prevista na Lei da Usura Lei da Usura (Decreto
nº.22.626, de 1933), ou no Código Civil, pois a Lei nº.4.595 de 1964, posterior, confere
a atribuição de regular os juros do Sistema Financeiro Nacional ao Conselho Monetário
Nacional, conforme firmado na Súmula n° 596.

O Supremo Tribunal Federal também firmou o posicionamento, em sede de


Ação Direta de Inconstitucionalidade, que o art. 192 § 3º da Constituição Federal, que
previa a limitação das taxas de juros a doze por cento ao ano, não tinha aplicabilidade
pois dependia da edição de lei complementar. A limitação prevista em tal disposição
veio a ser revogada pela Emenda Constitucional nº.40/2003, que deu nova redação ao
art. 192 da Constituição Federal, suprimindo os parágrafos.

Assentando, em caráter definitivo, que não havia limitação de juros, mesmo no


período anterior à Emenda Constitucional nº. 40/2003. Em razão de inúmeras decisões,
o Supremo Tribunal Federal editou a súmula nº. 648:

STF – Súmula 648 - A norma do § 3º do art. 192 da Constituição, revogada


pela EC 40/2003, que limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua
aplicabilidade condicionada à edição de lei complementar.

A plena liberdade vem assegurando aos bancos a obtenção dos lucros recordes
que, por si só demonstra claramente a distorção presente no Sistema Financeiro
Nacional. O fenômeno do enriquecimento de Bancos no Brasil é perverso e sem similar
na atualidade mundial.

O problema se relaciona com a possibilidade de impor limites aos ganhos das


instituições financeiras, ou seja, o chamado spread bancário, que constitui a diferença
entre a taxa de juros que o sistema financeiro paga a quem aplica o dinheiro, e a taxa
que cobra nos empréstimos.

No âmbito do crédito rural, tal taxa não está completamente a salvo de limitação.

Isto porque, a previsão dos incisos I e II do art. 187 da Constituição Federal, c/c
o art. 85 do Estatuto da Terra, Lei nº. 4.504/64 assegura ao produtor rural o direito de
obtenção de um lucro mínimo de 30%.

Portanto, qualquer ajuste acerca da taxa de juros incidente nos mútuos rurais,
deve assegurar ao produtor rural, pelo menos, tal percentual de lucro.

Capitalização dos juros

A capitalização dos juros no financiamento rural é admitida por lei, quando


expressamente contratada.

O artigo 5º do Decreto-lei nº.167/67, permite a capitalização anual, semestral ou


na data da liqüidação, podendo ser contada mesmo antes do vencimento do título.

A Súmula 93 do STJ assim enuncia:

STJ – Súmula 93 – A legislação sobre cédulas de crédito rural,


comercial e industrial admite o pacto de capitalização de
juros.

Considerações finais

O crédito rural não deve ser tratado como uma operação de crédito qualquer,
pois se reveste de importância social e econômica, exercendo relevante papel na
implementação de políticas agrícolas voltadas às necessidades básicas dos cidadãos,
além de representar, atualmente, relevante função no equilíbrio e superávit da balança
comercial.

Até meados da década de 1990, o financiamento do agronegócio brasileiro


caracterizou-se por uma forte dependência de recursos oficiais e o governo exercia
grande interferência no mercado. Nesse contexto, o sistema financeiro reduziu sua
atuação no crédito rural em razão do elevado risco da atividade.

As garantias tradicionais do crédito rural (penhor e hipoteca) foram substituídas,


em parte, por novos mecanismos mitigadores de risco, bem assim como a existência de
nos títulos financeiros, com mercados futuros e opções, propiciando verdadeira
revolução no agronegócio brasileiro, tornando-o muito competitivo no mercado
globalizado.

Criada como alternativa para financiar a produção agropecuária, a Cédula de


Produto Rural mostrou-se extremamente versátil, caracterizada por ser de recebimento à
vista, com entrega futura (na colheita), tendo virtudes e competências da sua natureza
cambiária, liquidez garantida, podendo ser transferida por endosso e ser negociada em
bolsa ou balcão, ou seja, tanto no mercado financeiro como no mercado de capitais.
Além disso, sua emissão é possível em qualquer fase, antes ou durante o
empreendimento, faculta a realização de seguros e é protegida com privilégios em
processo de execução.

A Cédula de Produto Rural, portanto, inverteu a tradição de que primeiro era


preciso plantar para somente depois vender, viabilizar a antecipação dos recursos,
constituindo-se, pois, em um poderoso e versátil instrumento de financiamento rural.

Porém, entraves macroeconômicos à queda nas taxas de juros impedem a


redução consistente do custo do dinheiro obtida com vendas antecipadas lastreadas em
títulos financeiros, e condicionam no curto prazo a potencialidade e o dinamismo da
inserção setorial no mercado financeiro.

Portanto, a modernidade dos títulos rurais, encontra limites macroeconômicos


explícitos que impedem o avanço de sua potencialidade.

Referências Bibliográficas

MAMEDE, Gladstone. Direito Empresarial Brasileiro: Títulos de Crédito. São


Paulo: Atlas, 2005.

PEREIRA, Lutero de Paiva. Crédito Rural: Limites da Legalidade. Curitiba: Juruá,


1992.

COSTA, Wille Duarte. Títulos de Crédito. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.

KEYNES, John Maynard. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São


Paulo: Nova Cultural, 1988.

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