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Realidade Socioeconômica e

Política Brasileira

-feira, 28 de julho de 2010


A QUESTÃO DE GÊNERO E A REALIDADE
SOCIOECONÔMICA DAS APENADAS DO COMPLEXO
PENAL DR. JOÃO CHAVES – NATAL/RN.

Por Claúdia Gabriele*

Para tratar da temática criminalidade no contexto atual brasileiro, é necessário


se fazer uma breve explanação da realidade socioeconômica e política do país. O
Brasil, enquanto um país marcado por uma história, onde o coronelismo,
populismo e a ditadura foram (e são) as principais características da política
econômica, social e política, apresentando-se como formas de apropriação de
esfera pública por interesses particulares, tornando a vivencia das relações
sociais urgidas pela cumplicidade e pelo não reconhecimento jurídico de
cidadãos iguais, dá subsídios para que o neoliberalismo caísse como uma “luva”,
frente a tal modelo.

Temos uma realidade marcada totalmente pela apropriação do capital, por


políticas neoliberais e de globalização e acima de tudo, com um modelo de
produção econômica totalmente excludente, explorador e precarizado, frente
aos direitos trabalhistas. Presenciamos diversas expressões da questão social,
como o desemprego estrutural, trabalho informal, terceirizado, trabalho
escravo, utilização de mão-de-obra infantil e baixos salários, afetando
diretamente a vida dos subalternizados. Segundo o PNAD/IBGE em 2000, o
mercado de trabalho de Natal, sofreu com o maior índice de desemprego,
saltando de 18,5 mil nos anos anteriores para 57,6 mil indivíduos
desempregados. Em 2005, esta taxa saltou para 80 mil desempregados, sendo
os jovens e as mulheres os mais afetados por tais problemáticas – 51,68%
mulheres e 25,77% de jovens entre 10 e 19 anos e 37,99% entre 20 e 29 anos.

As mulheres vivem, historicamente, um processo de lutas e conquistas que já


duram décadas em prol de sua emancipação e respeito pelas diferenças e pela
luta contra as desigualdades entre homens e mulheres. E em se tratando de tais
fatos nós temos a discussão em torno da categoria gênero, que foi conceituada
como o sexo socialmente construído (segundo Barbieri, 1993 apud Lima, s/d) e
sexo, por sua vez, caracteriza-se como aspectos fisiológicos da espécie humana.
Uma categoria defendida por todo o Movimento Feminista Mundial, tomando
uma dimensão pública social.

Alunas da faculdade de Direito da UFRJ em 1988 protestam contra o baixo


número de mulheres inseridas nas universidades brasileiras e a condição de
submissão feminina. O ensino superior no Brasil possuí uma nova realidade.
Mas será que as mulheres de hoje tem mais acesso ao mercado de trabalho?

Por isso a importância do nosso estudo em se prender as questões de gênero,


pois a mulher apesar de todos os avanços ao longo dos anos em relação ao
Movimento Feminista, as mulheres ainda sofrem taxações, discriminações,
assédios, enfim, inúmeros preconceitos que são inerentes a nossa cultura. Estes
fenômenos culturais refletem e são refletidos no âmbito do mercado de
trabalho, pelo fato inerente do trabalho formar o Ser social, ou seja, é a partir do
trabalho, que o individuo produz e reproduz as suas relações sociais.

Podemos ressaltar neste ponto, que a sociedade apesar de necessitar da mão-de-


obra feminina, desde a época da industrialização e da urbanização, em meados
do fim do século XIX, ainda quando se fala em capacidade, habilidade e
competência profissional, a sociedade nos mostra a partir do senso comum, que
a mulher não tem capacidade para tal atividade, e mesmo quando esta ocupa
um cargo equivalente ao homem, o salário é inferior. As mulheres ocupam os
menores patamares de salários, principalmente quando se falam em serviços de
baixos “escalões”, como os serviços domésticos, onde quase 100% delas recebem
até 2 salários mínimos e no comércio este índice chega a 63,76% em reação a
56,45% para os homens.
Mulheres do Núcleo de Gerenciamento em Operações Táticas e Instruções
(Nugoti) da Policia Civil do Espirito Santo. Mulheres oculpando mesmos
cargos de homens ainda é uma realidade muito tímida. Quando dividem os
mesmo espaços no mercado de trabalho destinado ao "cabra macho" acabam
encontrando preconceito e discriminação: Na Polícia Civil há sete anos, a
delegada responsável pela Delegacia do Adolescente em Conflito com a Lei,
Denise Maria Carvalho (que não aparece na imagem), já foi investigadora em
Minas Gerais. Ela conta que sofreu com o machismo e discriminação no início
da carreira. “Alguns subestimam nossa capacidade por conta da vaidade ou
por causa da idade. Eles acham que por ser policial a mulher tem que ser
grosseira, mas isso passa quando se deparam com nossa competência.”

“A mulher sofre discriminação no mercado de trabalho, temos a mesma


capacidade que os homens, por isso merecemos os mesmos salários” (Relato da
apenada X do CPJC, 2008). Para a apenada Y, “o homem tendo uma mulher
trabalhando fica inseguro”. Por isso, a questão é totalmente voltada para a
analise cultural das relações sociais de gênero e poder.

Por outro lado, apesar dos avanços no mercado de trabalho feminino, os


serviços caracterizados pela inserção massiva da mulher ainda são aqueles
considerados tradicionais, que ao longo da história tem a mulher como
protagonista, pela sua representação caricatural de “bondosa”, “educada” e
“solidária”. A exemplo, das 3 apenadas até agora entrevistas, uma era garçonete
de uma lanchonete, outra era ASG e a última desempregada. Marcadas,
também, pelo baixo índice de escolaridade. Enquanto, os dados são favoráveis
para as mulheres em relação aos homens - cerca de 50,17% tem mais de 11 anos
de estudo em ralação a 36,64% dos homens ocupados, segundo IBGE - o que
apreciamos na realidade do Complexo Penal Dr. João Chaves são dados
totalmente contraditórios, a exemplo, do nosso universo entrevistado, temos
uma com o nível médio concluído, outra analfabeta e a última com ensino
fundamental incompleto. Isto não difere da realidade vivenciada pela imensa
maioria da população brasileira, que esta à mercê da precarização do sistema
educacional do nosso país, pois no mercado atual, não vivenciamos apenas um
analfabetismo de símbolos, mas como também um analfabetismo digital frente
às novas tecnologias.

Outro dado preocupante são os grandes números de filhos que estas apenadas
possuem – média de 22 apenadas das 68 que cumprem o Complexo Penal tem 3
ou mais – e também encontram-se em processo de vulnerabilidade social,
contribuindo para o aumento dos índices de pobreza. Das 318 mil pessoas que
estão na linha de pobreza em Natal, 54% são crianças e adolescentes, sendo,
18,18% indigentes e 41,78% de pobres, ou seja, estas crianças e adolescentes já
nascem sem nenhuma perspectiva de melhoria na sua qualidade de vida,
ficando a mercê de políticas seletistas do governo, sobre novos arranjos
familiares (deparando-se com a mãe ou pai presos ou a pobreza) ou inserindo-se
também no meio criminal como alternativa de sobrevivência. “Já chegamos
ficar sem comer, eu e as crianças, mas eu e meu marido conseguimos superar
isso juntos” (Relato da apenada X do CPJC, 2008). A apenada W ,relata: “Fazem
três anos que no vejo meu filho”.
(Foto de
arquivo: Jornal TN) Leonilda da Silva Ferreira, 23 anos, detenta do extinto
presídio Doutor João Chaves, NATAL-RN. O tráfico de drogas também
envolve uma questão de gênero? Grande parte das mulheres detidas pela
prática dessa atividade ílicita sempre relatam que entraram "no mundo das
drogas por via do companheiro". Leonilda é parte de uma estatística
alarmante sobre a realidade das apenadas feminas no Brasil: existem mais de
100 mil presos condenados e desse total apenas 4% são do sexo feminino. De
cada grupo de 100 dessas mulheres, 60 estão envolvidas no tráfico de drogas.
Em Natal, no pavilhão feminino do complexo penal João Chaves, 95% das
detentas foram parar lá pelo mesmo motivo: o envolvimento com traficantes.
"Mulas do tráfico". Mulheres colocam drogas em diversas partes do corpo
para deslocar a "encomenda". Esse é o principal tipo de crime praticado pelo
gênero.

Apenadas confeccionam fantasias de carvaval. O processo de "ressocialização"


de detentos no Brasil ainda é frágil e ineficaz. Atividades ditas
"femininas"(costura, artesanato, cozinha e etc...) são postas sob um falso
discurso de rentabilidade. Após o processo de reclusão, fabricar fantasias
carnavalescas é uma boa opção para sustentar os filhos?

Neste sentido, segundo Iamamoto (2002), a luta pela superação das


desigualdades sociais implica, necessariamente, a luta pela igualdade de gênero,
uma vez que a questão social expressa desigualdades econômicas, políticas e
culturais das classes sociais, mediatizadas por disparidades nas relações de
gênero, características étnico-raciais e formações regionais.

*Claúdia Gabriele é graduada e mestre pela Universidade Federal do Rio Grande


do Norte. Trabalha com a questão da inserção da mulher no "mundo do crime",
dessa forma realiza um debate sobre a questão de gênero, violência e
criminalidade. Atualmente é docente pelo curso de sua formação e
coordenadora efetiva de departamento de Serviço Social por instituições privada
de ensino superior do estado.

REFERÊNCIA:

CAMARGO, Maria Soares de. A Prisão. IN: Revista Serviço Social e Sociedade,
n°33. Editora Cortez. Ano XI. São Paulo. Agosto de 1990.

CASTEL, Robert. As metamorfoses da Questão Social: Uma crônica ao Salário.


4° ed. Petrópolis, RJ:Vozes, 2003.

FREIRE, José Ademir. Dinâmica do Mercado de Trabalho em Natal/RN:uma


contribuição a política municipal de emprego e renda. Natal: Prefeitura
Municipal de Natal, 2005.

IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na Contemporaneidade:


Trabalho e Formação Profissional. São Paulo. Editora Cortez, 1998.

______________. Atribuiçoes Privativas do Assistente Social, em questão.


CEFESS. 2002.

www.ibge.gov.br Acesso em 19/05/2006.

LIMA, Rita de Lourdes de. O conceito de gênero e os mitos sobre as mulheres e


homens. (s/d)

MARTINS, José de Souza. Exclusão Social e Inclusão Marginal. In: A sociedade


vista sob um abismo. 1996.

SILVA, Claudia Gabriele da. O sistema Penitenciário e a Assistência Jurídica as


Apenadas do Complexo Penal Dr. João Chaves: Desafio ao Serviço Social na
garantia de Direitos Humanos. UFRN/CCSA/DESSO. Natal/RN, 2005.

SILVA, Valéria

EXPANSÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E CRESCIMENTO ECONÔMICO


Walter Chaves Marim

Ao longo do processo de industrialização brasileira, período entre as décadas de


1930 e 1970, utilizou-se uma política industrial que inicialmente foi necessária
para, mais adiante, tornar-se bastante nociva, dada a realidade da globalização e
da conseqüente necessidade de melhoria da qualidade dos produtos produzidos e
da elevação do nível de eficiência devido ao aumento da competitividade.
Nas décadas iniciais da industrialização brasileira tornaram-se impositivos, em
muitos segmentos produtivos, os oligopólios privados, os monopólios estatais e as
reservas de mercado. Mas, ao serem mantidos de forma permanente, perpetuou-se
a ineficiência do nosso sistema produtivo devido ao fechamento da economia a um
comércio internacional mais livre e competitivo em decorrência das barreiras
tarifárias e não - tarifárias e, em conseqüência, com elevação dos custos de
produção de nosso produto industrial e, em decorrência, reduzindo o nível de bem-
estar da sociedade devido ao elevado preço de nossos produtos para o consumidor.

O resultado desta histórica prática monopolística é que quase todas as instituições


econômicas brasileiras - desde seu sistema tributário ao comércio internacional,
passando pelo sistema bancário, a infra-estrutura física, o sistema científico e
tecnológico e o sistema educacional - estiveram atolados na inércia, no
descompromisso, na incompetência, nas decisões político-partidárias e,
consequentemente, na ineficiência. As maiores responsáveis por este elevado grau
de ineficiência alcançado pela nossa economia são as instituições ligadas aos
oligopólios privados, aos monopólios estatais, à ciência, à educação, à infra-
estrutura física do país e à política comercial brasileira. Como grande parte destes
monopólios estatais atualmente estão sendo desmontados e, também, em muitos
setores produtivos rompem-se com os oligopólios privados, espera-se, a partir daí,
uma melhora continuada da competitividade brasileira.

Deve-se ressaltar que este contínuo avanço em direção à modernização começou a


ocorrer após a abertura de nossa economia, a eliminação de nosso processo
inflacionário e a estabilidade econômica. No entanto, não se pode desprezar a
importância das reformas constitucionais e que a lentidão com relação às suas
aprovações têm parcialmente comprometida a qualidade e a velocidade de nossos
ganhos em competitividade.

Hoje, com os avanços obtidos através do processo de modernização e a


estabilidade econômica, a meta econômica brasileira deve ser redirecionada para
questões básicas: um longo período sustentado de elevadas taxas de crescimento
econômico suficiente para reduzir os níveis absolutos de pobreza mediante a oferta
de ocupações produtivas para elevar-se o bem-estar material de percentual
significativo da população brasileira que se encontra excluída, atualmente.

Neste momento, é comum colocar-se os seguintes questionamentos: até que ponto


o Brasil está pronto para iniciar a conquista desta meta básica? Estamos
perseguindo o caminho certo direcionado para este objetivo? A realidade sócio-
econômica brasileira é melhor hoje do que a algum tempo atrás? Deve a estratégia
econômica ser mudada ou redirecionada para alcançar-se esta meta básica?
Não há dúvidas de que o Brasil se encontra em situação melhor hoje do que estava
há seis anos ou, mesmo, há dois anos. É apenas analisar dados estatísticos sobre
nossa economia, neste período. Mesmo assim, pode-se ter, ainda, os seguintes
questionamentos: ao longo destes seis anos, a execução de uma política econômica
diferente da executada teria conduzido a população brasileira a um nível mais
elevado de bem-estar? Hoje, para o Brasil garantir um elevado e sustentado índice
de crescimento econômico, é necessário promover algumas modificações em sua
política econômica?

Ao longo das últimas décadas deixaram-se os portos, as telecomunicações, as


rodovias e as ferrovias em péssimas condições operacionais devido a ausência de
investimentos compatíveis à necessidade de modernização já que eram mantidos
por monopólios públicos e, em decorrência, contribuindo para a elevação de custos
e preços dos produtos nacionais e, como conseqüência, gerando perda de poder de
competição de nossas empresas.
Assim, é possível e provável que as condições sócio- econômicas dos brasileiros
pudessem ser mais favoráveis, hoje, se as reformas constitucionais e as
privatizações tivessem sido realizadas mais rapidamente.
Estas reformas e privatizações, se realizadas na intensidade desejada, além de
contribuírem para a redução do chamado Custo-Brasil, a redução das taxas de
juros, elevação do grau de confiança dos investidores nacionais e estrangeiros em
nossa economia, com evidente ampliação do volume de investimentos e o
conseqüente aumento do emprego, da produção e da renda, deve-se destacar,
também, a redução do déficit orçamentário governamental, aumento do volume de
nossa poupança interna e a elevação do volume de nossas exportações.

É incrível, mas o Brasil, com todo seu potencial produtivo, mesmo "ajudado" pelas
privatizações e a magnitude da desvalorização cambial, continua com uma
participação inexpressiva no comércio internacional. O fato que merece destaque
para reforçar esta pequena participação do Brasil no comércio internacional está
ligado, possivelmente, á condição do Brasil ser um país de dimensão continental,
mas os nossos empresários passaram a ver apenas o tamanho de nosso tímido
mercado interno.

Outro fato que merece destaque é o ligado a necessidade de elevada participação


das pequenas empresas no volume de exportação. É um absurdo o Brasil, pela
ausência de uma ação governamental, renunciar a participação deste importante
segmento do setor produtivo na geração de emprego, produção, renda e divisas.
Assim, essa inércia dos empresários e dos governantes tem contribuído para
sustentar a lentidão do desempenho da economia brasileira e a privou da
participação expressivo do comércio externo que conduz ao crescimento econômico
mais acelerado.

Para o Brasil manter sua meta econômica de crescimento acelerado, terá que ser
agressivo no mercado externo. Caso contrário, além de subutilizar o potencial deste
importante segmento produtivo, com reflexo direto sobre o crescimento do
emprego e da renda, está perpetuando as crises em seu balanço comercial.
O Brasil possui as dimensões e uma diversificada estrutura industrial capazes de
fazer de nossa economia uma das mais dinâmicas exportadoras de produtos
manufaturados do mundo necessitando, para isso, de ação e determinação dos
empresários e dos governantes.

Para ter-se idéia de nossa realidade é só observar que a relação entre nossas
exportações atuais e o PIB está em torno de 7% , fazendo do Brasil um dos países
com uma estrutura produtiva menos orientada às exportações em todo o mundo. Já
perceberam o tamanho da estupidez brasileira? Um país pobre, com elevado
potencial produtivo, necessitando gerar emprego e renda, e dando-se ao luxo, por
incompetência, de renunciar a importantíssima participação deste setor na solução
de nosso problema mais premente: a eliminação da pobreza absoluta.

Vamos pensar na solução definitiva para este problema e não perpetua-lo através
do fornecimento continuado de cesta básica e na ausência de uma política capaz de
erradicar esta situação de excessiva pobreza absoluta para um terço da população
brasileira. Uma expansão significativa do volume de nossas exportações conduz a
uma desejada e necessária expansão, também, do volume de emprego, da renda e,
em decorrência, expansão do nosso mercado interno.
Ë imprescindível a elevada participação do comércio internacional para o Brasil
manter uma elevada taxa anual de crescimento econômico sustentado para
alcançar seus objetivos socio-econômicos.

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