Direktorsmag Núm.

3
Set / 2009

OS PADRES E
SEUS MAUS HÁBITOS
Religião

NOTAS PROMISSORAS
Assuntos ímpares

UMA RURAL E MUITA

HISTÓRIA PARA CONTAR
Projetos de vida

LOS HERMANITOS Y
LA MARIJUANA
Comportamento

UM MILHÃO DE PESSOAS
ENRIQUECENDO
Livro

LGA PRESS
DIREKTORSMAG Núm. 3 Set / 2009

OS PADRES E
Editorial SEUS MAUS HÁBITOS
Religião
A DIREKTORSMAG #2 trouxe grandes avanços gráficos,
pelo menos do ponto de vista de um redator que não sabe
lhufas de Adobe. Pois é, eu ainda não sei fazer a revista no NOTAS PROMISSORAS
InDesign, então, estou indo pelo bom e velho Corel, mas já
aprendi como não deixar o texto feio e as colunas estão bem Assuntos ímpares
bonitinhas. Tudo isso facilita a sua leitura, nobre organismo
vivo de estrutura complexa, também conhecido como
'pessoa'. A matéria do @xumbo rendeu bons comentários pelo UMA RURAL E MUITA
Twitter. O mesmo aconteceu com a nossa epopeia no show do HISTÓRIA PARA CONTAR
Iron Maiden. É legal! É legal ver as pessoas dizendo em tempo
real o que estão achando da revista. O trabalho é difícil. Só Projetos de vida
para contar um pouquinho sobre como ela é feita, eu chego
em casa depois de um dia de trabalho, janto alguma coisa
rapidinho e já venho pro notebook fazer os textos e a LOS HERMANITOS Y
diagramação. A pauta já é definida logo após a edição corrente
ir para o ar. Então, eu subo a revista no servidor, coloco no
LA MARIJUANA
blog, aviso pelo Twitter e já começo a próxima. Comportamento
Nesta edição, vamos prestigiar o trabalho de um grande
músico paulistano chamado André Bordinhon. É difícil rasgar
seda com ele porque ele é meu amigo de infância e participou
de grandes momentos da minha vida, desde a minha primeira
UM MILHÃO DE PESSOAS
banda, chamada Handcaft Blues, até dividir a alegria de viver ENRIQUECENDO
quatro meses comigo em Nova Iorque, na casa dos tios dele. Livro
Quem sabe até não rola uma matéria em memória a esse
tempo pré 11 de Setembro, onde participávamos de jam
sessions e perambulávamos pela Maçã respirando arte.

Boa leitura!

Editor-en-jefe /
textos / diagramação :
Luiz Guilherme Amaral
@diretordeletras
Colaborador:
Everton Maciel
Um projeto da divisão
@capetaonline
Propaganda da última página:

LGA PRESS Mande-me um e-mail que

a gente discute.

DIREKTORSMAG é uma edição de

periodicidade duvidosa do blog Diretor de
Letras, mantido por Luiz Guilherme Amaral.

Creative Commons 2.0
Você pode distribuir esta revista online
para quem quiser, mas não pode fazer dinheiro
com ela nem alterar seu conteúdo.
Contato: lgla80@gmail.com
(éle gê éle á oito zero arroba gmail ponto com)
Jornalista Reponsável: Era só o que me faltava,
né?
 DIREKTORSMAG
PADRES E SEUS
MAUS HÁBITOS
Beberrões, pedófilos
e com o perdão garantido
Q
ue a Igreja Católica é uma
bagunça todo mundo já
sabe. O Iluminismo foi um
dos - senão o maior - culpado para
que a instituição cristã tivesse as
piores reações contra o pensa-
mento crítico e racional, que
foram o estopim para a
Inquisição. Na verdade, foram
três reações distintas: a primeira
foi o massacre contra tudo e todos
que eram contra o catolicismo; a
segunda, uma posição de reta-
guarda, apenas xingando as
ovelhinhas que se desviavam para
um mundo muito mais amplo do
que dogmático; e a terceira, a
adaptação de certos costumes
para que não perdessem ainda
mais fiéis para o protestantismo e
outras religiões, sejam elas mono
ou politeístas. Para os teólogos (os
sérios) e a ateuzada em geral, a
Igreja Católica promove lamban-
ças internamente: ela mesma
define se há limbo ou não, é
contra métodos contraceptivos,
ferra a ciência com a história de
que feto tem alma, impossibili-
tando pesquisas com células-
tronco e continua transformando
todo mundo que é bonitinho e
dividiu um pão velho com
cachorro em santo (Rubinho
Barrichelo é o próximo da lista).
Mas, alguns hábitos estão
chamando a atenção. E não é de
hoje! Nessa mistura louca de
sensação de impunidade por fazer
parte de uma instituição religiosa
e desvio mental, os padres estão
cada vez mais expostos por seus
comportamentos esdrúxulos e
que os colocam no nível de
qualquer outro criminoso civil
comum. O histórico de pedofilia é
extenso. Há padres com uma
capivara (ficha corrida da polícia)
maior que papel de parede de
castelo. E é sabido também que, a
cada caso que estoura na mídia,
eles são transferidos em surdina
para o Vaticano, onde não fazem
nenhum cursinho de reciclagem,
apenas são excluídos do foco.
Poucos são realmente presos.
Existem relatos sérios sobre isso,
inclusive.
A mídia tem desmascarado
muitos desses pedófilos, não
apenas da religião católica, como
judeus, muçulmanos e outras
denominações. Mas vê-se que o
que é mostrado não é nem o
começo da história; existem
muitos outras tramoias sendo
Núm. 3 Set / 2009
Luiz Guilherme Amaral
@diretordeletras
tecidas nos corredores escuros filme V for Vendetta (filme bem
dos lugares ditos sagrados. doido, por sinal). Onde isso vai
Existem muitos religiosos que se parar? Em lugar algum, claro. Em
veem acima de qualquer lei e um país onde o presidente é
continuar a influenciar cargos católico, os políticos dependem
minoritários a arregimentar dos religiosos para ter votos e o
meninos e meninas para que eles sincretismo religioso é um show
se lambuzem. Este é o tipo de de piadas, esconder o que padres
conduta que deve ser seriamente fazem já virou lugar comum.
investigado mesmo dentro desses Ninguém se espanta. Nem os fiéis.
locais, com batida de polícia, Afinal, padre não é Deus, certo?
escutas telefônicas e o tudo de
tecnologia que está disponível v
hoje é capaz de promover. Se os
métodos funcionam para pegar
traficantes, estupradores e seja
mais lá quem for, também têm
que estar disponíveis para dar fim
a essa prática execrável. Vamos
tirar as batinas dos religiosos e ver
o que se esconde embaixo delas.
No país laico com mais feria-
dos religiosos do mundo, e que
agora instituiu mais um - o Dia
Nacional da Marcha para Jesus -,
os representantes do messias são
fichados na polícia por beberem
embriagados, viram a bola da vez
em toda discussão sobre pedofilia
e até são retratados como come-
dores de criancinhas pela mídia,
como naquela "sena" (desculpem,
fui alfabetizado em inglês) no
3
 DIREKTORSMAG Núm. 3 Set / 2009

Luiz Guilherme Amaral

NOTAS PROMISSORAS @diretordeletras

QUEREMOS PANCADARIA MAIS RISONHO

NO SENADO QUE LÍMPIDO
Porque essa verborragia já O vexame da Vanusa já é
deu no saco! um clássico da década.

O A
s vídeos dos políticos velocidade que determina-
chineses se estapeando no das bobagens se propagam
Congresso são febre na na internet é indiscutível.
internet. O povo gosta de ver o Mas é igualmente indiscutível
circo pegar fogo, isso é fato, mas que, se não fosse por isso, nós não
esse negócio de "cangaceiro de nos divertiríamos tanto. A
merda" e cartão vermelho não última, entre tantas, certamente
está sendo suficiente. Até mesmo será um clássico para a década,
as caretas e o português impecá- algo que o VMB, aquele concurso
vel de Fernando Collor na hora de muito discutível da MTV, perdeu
mandar o excelentíssimo Pedro e não fez emenda no regulamento
Simon enfiar as palavras no para incluí-lo. É a Vanusa cantan-
próprio rabo viraram motivo de do o Hino Nacional. É lindo! É
piada na internet e fora dela, mas primoroso! É impressionante
sabe. Eu proponho uma campa- enxerida que só ela, acabou
nha para que isso seja feito com rápido com a brincadeira: achou o
outros hinos. Tem aquele projeto bigodudo, acabou com as piadas e
Music for a Change, em que anulou uma promoção nordesti-
músicos do mundo todo colabo- na que dava um engradado de
ram em um específico tema (aliás, cerveja para quem soubesse do
um projeto lindo que todos você paradeiro do artista. Chatos de
pode conferir no You Tube). Pois galocha! v
então, um projeto onde pessoas
ao redor do mundo enchem a cara
HAJA TALENTO PARA
e cantam seus respectivos hinos A TALENT
pode ser uma ótima. Não há
Agência contrata 20. E vem
hipérbato que se sustente! v mais por aí.

A
a i n d a n ã o f o i s u f i c i e n t e . como uma pessoa fora de si pode agência de publicidade
Queremos mais! desgovernar uma letra de hino. Talent divulgou a contra-
A Coreia é um ótimo exemplo. Parecia uma ópera. Começou
SEMPRE tação de 20 profissionais de
LATINOAMERICANO
Sempre que eles entram em com aquela parte calminha, propaganda para cuidar da conta
E acharam que ele tinha
divergência, o pau quebra. E é ambientando toda a situação, ido pra Zorópa...
de um dos seus clientes, o Grupo
interessantíssimo ver os velhi- colocando todos os personagens Santander Brasil. Nessa leva, 10

Q
nhos mostrando as artes marciais em seus devidos lugares e, de ue Europa, que nada! criativos, 6 atendimentos, 2
que aprenderam na juventude, a repente, começou o entrave. As Belchior está mesmo é mídias e 2 webs passarão a comer
mulherada puxando cabelo uma famílias rivais começaram suas enfurnado em um sítio no pizza em outro prédio. Mas seria
da outra, a turma do deixa-disso... rixas para ver quem dominava a Uruguai! Claro, continua latinoa- bom se fosse só isso. O Grupo
E o mais importante: TUDO SE região, e nenhum dos filhos mericano sem dinheiro no banco Santander Brasil investe pesadís-
RESOLVE! Aqui, não. Aqui no queria se apaixonar para dar uma devido a todas as dívidas que simo em mídia e, pelo perfil das
Brasil, os parlamentares ficam apimentada na relação. Não! Foi deixou aqui no Brasil antes de se últimas campanhas apresentadas,
xingando, fazendo caretas, todo mundo descambando, todo entocar para fazer seu próximo tem bastante arrojo. É uma
falando mal um do outro e tudo mundo enfiando a faca um no projeto. Então começaram as equipe premiadíssima e que sabe
continua a mesma coisa de outro até que... a imaaaaaaa- especulações sobre seu sumiço. E, dar conta desse recado. A "briga"
sempre. Eu aposto que se o gem.... Amigos, é tétrico. Ela não com as especulações, as piadi- entre os bancos nos intervalos
Fernando Collor, faixa preta em acertou nem a letra, tampouco a nhas, óbvio. Que nos diga minha comerciais parece que vai ficar
caratê que é, desse uns sopapos no métrica, muito menos ainda a amiga @corinthiana, que fez a ainda mais quente. Ótimo,
Pedro Simon, tudo ficaria mais dose do remédio que tomou. primeira piada e não recebeu os porque novela, mesmo, é um pé
emocionante. Por mais que a Dizem as reportagens que merecidos créditos pela obra: nos fundilhos. v
agressão física não leve a nada, trata-se de um remédio para colocou o Belchior em um
absolutamente nada, pelo menos labirintite. Eu duvido. Aquilo cenário de Onde Está Wally
as emoções aumentariam e uma tinha mais cara de Lexotan com (primeiro em baixa resolução,
limpeza começaria a acontecer. Dreher, mesmo. E é perfeitamen- depois consertou). Sucesso
Aliás, se nós realmente pudésse- te normal. Fora o Lexotan, faz imediato. Foi parar na Época, na
mos copiar algo dos orientais, que bem tomar um golinho para MTV e em vários outros sítios
copiássemos a veneração pela aquecer as cordas vocais, dar internéticos. Mas, como ela
honra que eles têm. Seria pelo aquela desestressada antes de mesma disse: meus 15 minutos de
menos 10 suicídos por dia. E uma apresentação. Qualquer fama, ou, alegria de pobre. Não
Brasília seria um lugar melhor. v músico sabe disso. Não sei se sei se foi alegria de pobre, porque
todos fazem, mas qualquer um o talento foi enorme. E a Globo,
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DIREKTORSMAG Núm. 3 Set / 2009

Immer und immer

Tudo que eu faço é esperar

ver o dia passar
outra noite, outra primavera
para que, assim, o nosso dia
fique cada vez mais perto

Tão dilacerante ter você tão longe

vendo as florzinhas balançarem no vento
lendo e relendo livros antigos
procurando novas palavras
porque as que eu escrevi já foram sacramentadas

Eu te espero
sempre e sempre
immer und immer
Para você me dizer
se eu acerto a pronúncia
do meu ich liebe dich.

Luiz Guilherme Amaral

@diretordeletras
 DIREKTORSMAG
COMO TER UM CASAMENTO
EMOCIONANTE
Estradas e votos de
fidelidade.
xistem maneiras e maneiras
E de se pedir alguém em
casamento. Ao que tudo
indica, ajoelhar-se na
frente de todo mundo já não é
mais um método muito românti-
co. Mas é aquela história: não
precisa ser necessariamente de
papel passado, um vai para a casa
do outro, dividem o mesmo
copinho de escovas de dentes e a
vida segue. Este roteiro não traz
muitas novidades, a não ser que os
pombinhos decidam fazer algo
completamente inusitado e que
seja o selo de parafina do amor
que os une. É o que fizeram Carlos
Knebel e Inajara Trentin, que se
casaram depois de uma viagem
pela América do Sul.
Carlos conta que preparou o
trajeto de maneira ávida e com o
apoio insuperável da internet.
Juntou mapas, fez orçamentos,
participou de fóruns sobre o
trajeto, conheceu e estudou cada
rodoviária e albergues que
estariam pelo caminho. Tendo
todas as informações em mãos,
passou a fazer o check-list da
mochila. "Se algo der errado, será
pela minha própria burrice",
assume. Uma viagem como essa
não precisa apenas de planeja-
mento, mas também de pessoas
realmente a fim de segurar o
tranco. Antes, os amigos se
empolgavam com a ideia, depois
iam dando alguns passinhos para
trás até declinarem solenemente.
Então, com a debandada geral,
chamou Inajara, que topou na
hora. "Se ela resolver fugir, vai
para onde? Correr pelo pampa
uruguaio chamando a mãe?".
Além de zelar pela integridade
dele e da namorada, era necessá-
rio também não fazer a sogra ter
palpitações. A viagem que seria
em uma moto de 250 cilindradas
acabou acontecendo com trans-
portes mais, digamos, alternati-
vos. Então, com sua fiel escudeira
a postos e tudo programado, lá
foram eles. Seguiram de rodoviá-
ria em rodoviária e pedindo
carona cordilheira acima até o
deserto do Atacama.
Alguns sonhos que acontece-
riam durante a viagem foram
interrompidos. Era de suma
importância passar pela casa de
Pablo Neruda, mas estava meio
fora do percurso. Quando se
depende dos outros para se
locomover, não se pode ser muito
emotivo. A volta desta viagem foi
pela fronteira de Alba Pose/Porto
Mauá, paradinha estratégica para
Carlos rever parentes e amigos. A
primeira missão foi concluída
com sucesso. Rendeu um álbum
cheio de fotos e paradas em
muitos computadores para dizer
que estavam bem e que já iriam
para o próximo ponto da viagem.
Carlos, que carrega o livro "Cem
Sonetos de Amor e Uma Canção
Desesperada", do poeta chileno,
debaixo do braço por onde quer
que vá, tem tanta história que
pode virar um belo livro.
Depois do que Carlos propor-
cionou à vida de Inajara, não
tinha como o amor bater fundo.
Eles, que já namoravam há algum
tempo, decidiram se casar, com a
benção das famílias e das curvas
sulamericanas que conheceram.
É porque eles conseguiram
encontrar o que falta em alguns
casais: uma camaradagem sem
tamanho. Inajara é conhecida-
mente uma pessoa que não coloca
seu sorriso no criado-mudo nem
por um minuto; vive com ele para
cima e para baixo. Carlos, apesar
de ter uma profissão metódica,
como a mecatrônica, parece não
querer ter a mesma exatidão na
rotina de sua vida. Os dois combi-
nam, é inegável. A receita de
felicidade, para eles, é dividir
momentos únicos que marcam a
vida.
Agora, eles planejam uma
nova viagem a bordo de uma
Rural Willis 1968. O possante
Núm. 3 Set / 2009
Luiz Guilherme Amaral
@diretordeletras
pertence a um tio que faz modifi-
cações e revitalizações em veícu-
los, e vê-la correndo por 13 mil
quilômetros será uma satisfação.
A Patagônia, incluída no novo
roteiro, é uma viagem que deve
ser feita com carro próprio para
que nenhum cenário seja perdi-
do. Além dessa, eles passarão
também por Península Valdez,
Trelew, Ushuaia, Punta Arenas,
Puerto Madryn, El Calafate, El
Chaltén, Esquel, Bariloche,
Pucón, Ilhas Chiloé, Valdívia e
Rosário. Se para os jovens ameri-
canos cruzar a rota 66 é quase que
uma obrigatoriedade, para eles a
rota é mais tortuosa, mas não
menos emocionante. Tudo em 28
dias. Para que a nova viagem seja
um sucesso, basta que Úrsula, a
Rural Willis, não os deixem na
mão e que Inajara não tenha
ciúme do novo amor de Carlos.
Aliás, nem precisa. Já disseram
que Úrsula é a filha. v
Acompanhe a próxima
viagem de Carlos e
Inajara:
O blog:
patagoniaderural.wordpress.com
Twitter:
twitter.com/patagoniadrural
Comunidade no Orkut:
Patagônia de Rural
*Com a colaboração de
Everton Maciel
@capetaonline
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 DIREKTORSMAG
LOS HERMANOS Y LA
MARIJUANA
Na Argentina pode. E o
tráfico?
uem assistiu ao filme "Meu
Q nome não é Johnny" viu
como a juíza, interpretada
por Cássia Kiss, foi coerente
ao dizer que João Estrela não
tinha a menor capacidade de ser
um megaempresário do tráfico, já
que vivia em condições nada
favoráveis. O negócio dele era o
de um viciado em drogas que, por
ter uma boa rede de contatos,
conseguia vender o que usava.
Apesar do tráfico internacional,
mesmo assim teve a pena aliviada
e ficou dois anos em uma clínica
(dá para chamar aquilo de clíni-
ca?). Depois de cumprir a pena,
foi solto e hoje leva uma vida,
digamos, mais regrada. (E quem
não assistiu, desculpe-me pelo
spoiler).
Na Argentina, país cuja seleção
recentemente tomou um belo de
um cacete da nossa, cinco jovens
foram aliviados de ir para a cadeia
por portarem três cigarros de
maconha. A alegação da defesa,
entendida pelo juiz, neste caso, é
a de que os cigarros seriam para
consumo próprio em local
particular, o que não agrediria
outras pessoas e, portanto, não
afetaria a moral vigente por
aquelas bandas. Comparando a
ficção com a realidade, o juiz quis
o mesmo que a Cássia Kiss (e
quem me conhece já esperava por
essa), só que em níveis diferentes.
Não é que os argentinos entraram
no "legalize" total e agora tudo é
permitido, mesmo porque o
governo de lá investe pesado
contra o tráfico de entorpecentes.
É que sai ainda mais caro para o
Estado julgar casos pequenos,
como o desses garotos, e a con-
centração de esforços para pegar
os peixes grandes acaba sendo
desviada. A Argentina continua
sendo a maior consumidora de
cocaína da América Latina e, por
isso, alguns pequenos detalhes
nos processos jurídicos serão
revistos nas próximas semanas.
Quando o processo pelo porte de
pequenas quantidades de drogas
torna-se inconstitucional, isso
abre muita discussão. O primeiro
grupo a dar sua opinião, é, adivi-
nhem só?, os religiosos, claro.
Para eles, a descriminalização
pode fazer com que famílias
tenham mais usuários de drogas e
que os que já a utilizam passem a
fazê-lo em maior quantidade e
frequência. Não dá para afirmar
se isso é verdade ou não, uma vez
que, se mesmo aqui no Brasil,
com todo o esforço que o governo
faz para equiparar um cigarro de
maconha a uma Uzi, a coisa
desanda de forma magistral, com
Núm. 3 Out / 2009
Luiz Guilherme Amaral
@diretordeletras
essa aliviada pelas bandas de lá o
cenário pode ser tanto bom
quanto ruim. Uma pessoa pode
querer ainda mais, ou ela pode se
contentar com a quantidade
permitida e viver a vida da
maneira que ela quiser. O docu-
mento oficial declarou que "Todo
adulto é livre para tomar decisões
sobre o estilo de vida sem a
intervenção do Estado", o que
quer dizer claramente que,
enquanto um não invade o espaço
do outro, está tudo bem.
Com relação ao tráfico, nada
muda. Não é certo gerar renda
com drogas ilícitas e, mesmo se
uma pessoa for pega com uma
grande quantidade, dá para
desconfiar que não pode ser para
uso próprio. Então, aí, muda tudo
de figura. E as custas de um
processo para esta pessoa são
novamente levadas em conta.
Hoje apenas a Colômbia e o
México descriminalizaram as
drogas em pequena quantidade
por completo. O Brasil e o
Equador estudam o caso. O que
sabemos é que, independente-
mente de qualquer quantidade, a
demanda existe, e esta deve ser
combatida. Não com repressões e
violência, mas com discernimen-
to e clareza. v
7
 DIREKTORSMAG
UM MILHÃO DE PESSOAS
ENRIQUECENDO
Livro de auto-ajuda comemora
500 mil vendas
distribuição de riqueza no
A mundo, no geral, é uma
vergonha. Mas, existe um
seleto grupo de pessoas que
devem ter saído da estatística de
"isentos de imposto de renda",
como diria o Morróida. Tudo
porque o livro "Casais inteligen-
tes enriquecem juntos" (Gustavo
Cerbasi, Editora Gente) acabou
de comemorar 500 mil edições
vendidas. Ou seja, existe um
milhão de pessoas por aí afora
ficando ricas a partir de técnicas
simples de contenção de gastos e
investimentos. Certamente o
mais rico de todos é o próprio
autor do livro. Não há como dizer
o que é rico em valores absolutos;
tudo depende da agressividade de
cada casal, mas o que se sabe é que
envolve ter dinheiro para fazer o
que quiser (a médio e longo
prazo) e, principalmente, garan-
tir uma velhice bacana.
Para Gustavo Cerbasi, a maioria
dos casais só falam sobre dinheiro
quando "a bomba já estoura", ou
seja, quando sobra mês no salário.
Aí, começam as discussões, as
acusações de que um esbanja mais
do que o outro e, mesmo se sobra
um pouquinho, começam novas
discussões sobre como investir ou
comemorar com este dinheiro.
Parece que tudo se resolve na
base da porrada, não é? Nem
sempre. Quando há comprometi-
mento com metas estabelecidas,
não há o que discutir, afinal, o
combinado nunca sai caro. Então,
o que ele sugere é que haja a
mesma regra que há em empre-
sas, sejam elas grandes ou peque-
nas: foco. Sim, o matrimônio é
uma joint venture, mas ainda não
se sabe se o produto é o amor ou a
paz na convivência. Então os
"sócios" (!!) precisam saber onde
vão gastar, como e em qual
período. Também, devem saber
onde investir o que sobra. De
repente aquele chopp de sexta-
feira não é a melhor ideia quando
há uma poupança para a faculda-
de do filho. Ou então atrasar
aquela viagem para o nordeste
por mais seis meses para que os
pombinhos possam ficar mais
tempo no destino planejado.
Tudo é uma questão de foco.
Gustavo Cerbasi é formado em
Administração pública pela FGV.
É mestre em Administração e
Finanças pela FEA/USP e tem
especialização em Finanças pela
Stern School of Business, em
CATHY BLACK
Nova Iorque. Nota-se que o que
ele diz deve ser levado muito a
sério, pois com uma formação
dessa, o cara gosta (e muito) de
dinheiro. Além de ser um admi-
nistrador experiente, ele também
visualizou um mercado que por
vezes é tipo como um mercado de
ideias baratas: livros de autoaju-
Núm. 3 Out / 2009
Luiz Guilherme Amaral
@diretordeletras
da. Ora, não é uma coisa Paulo
Coelho, com certeza. É um filão
de mercado que movimenta
bilhões anualmente, com títulos
como "Quem mexeu no meu
queijo" e "Homens são de Marte e
Mulheres são de Vênus". Aliás,
este último tem tantas variações
que, se o próximo se chamar
"Homens são da puta que pariu e
Mulheres são da casa do cacete"
todo mundo compra. Gustavo
Cerbasi soube dizer a coisa certa
na hora certa. E deu certo!
Eu li o livro "Casais Inteligentes
Enriquecem Juntos". Rápido, mas
li. É interessante. Porém, eu não
consigo aplicar as técnicas, e não
é porque eu sou solteiro, mas
porque não me sobra dinheiro
para investir. O que entra, sai.
Um dia a situação muda.
Enquanto isso, sigo observando o
que todos estes especialistas em
"faz-me-rir" dizem a respeito de
ser feliz à base de dinheiro. E aí eu
vejo catadores de papel fazendo
mais dinheiro do que muito
recém-formado e me pergunto:
em que mundo nós estamos? v
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