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3º Curso Virtual de Teologia do Corpo – 2010 ____________________________________________________ 2
7. O homem, a quem Jesus se refere aqui, é interioridade humana e ao mesmo tempo se refere
precisamente o homem "histórico", aquele cujo ao "outro". (TdC 28)
"princípio" e "pré-história teológica" traçamos na
precedente série de análises. Mais diretamente, ele 12. A vergonha, que sem dúvida se manifesta na
é aquele que escuta, com os próprios ouvidos, o ordem "sexual", revela uma dificuldade específica
Sermão da Montanha. (...) Este homem é, em em perceber a essencialidade humana do próprio
certo sentido, "cada" homem, "cada um" de nós. corpo. ―Fiquei com medo, porque estava nu‖. Por
(TdC 25) meio destas palavras revela-se certa fratura
constitutiva no interior da pessoa humana, uma
ruptura da unidade espiritual e somática original
do homem. Este se dá conta pela primeira vez que
seu corpo cessou de beber da força do espírito,
que o elevava ao nível da imagem de Deus. A sua
vergonha original traz em si os sinais de uma
específica humilhação comunicada pelo corpo.
Esconde-se nela o germe daquela contradição, que
acompanhará o homem "histórico" em todo o seu
caminho terrestre, como escreve São Paulo: "Sinto
prazer na lei de Deus, de acordo com o homem
interior. Mas vejo outra lei em meus membros, a
lutar contra a lei da minha razão‖ (Rom 7, 22-23)
– (TdC 28)
8. O "coração" é esta dimensão da humanidade,
com que está ligado diretamente o sentido do
13. A vergonha (pudor) imanente, e ao mesmo
significado do corpo humano, e a ordem deste
tempo sexual, é sempre, ao menos indiretamente,
sentido. Trata-se aqui, tanto daquele significado
relativo. É a vergonha da própria sexualidade ―em
que, nas precedentes análises, chamamos
relação‖ a outro ser humano. (TdC 28)
"esponsal", quanto daquele que denominamos
―procriador‖ ou ―gerador‖. (TdC 25)
14. O homem tem vergonha do corpo por causa
da concupiscência. Mais exatamente, ele tem
vergonha não tanto do corpo, e sim mais
A Vergonha “Entra em Cena” - precisamente da concupiscência: tem vergonha
O Significado da Vergonha do corpo guiado pela concupiscência. (TdC 28)
9. Falando sobre o pecado original, diz o Papa:
―Pondo em dúvida, no seu coração, o significado
mais profundo da doação, ou seja, o amor como
motivo específico da criação e da Aliança
original, o homem volta as costas para Deus-
Amor, ao "Pai". Em certo sentido, lança-O para
fora do próprio coração‖. (TdC 26)
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mulher. (...) A necessidade de se esconder ante o significado esponsal do corpo, e tanto menos se
―outro‖ mostra a fundamental falta de confiança, torna sensível ao dom da pessoa. (TdC 32)
que já em si aponta para o colapso da relação
original ―de comunhão‖. (TdC 29) 23. O "desejo" [luxurioso] de que Cristo fala
em Mateus 5, 27-28 aparece no coração
17. À luz da narrativa bíblica, a vergonha sexual humano de muitas formas: nem sempre é
tem o seu profundo significado, que está evidente e manifesto, às vezes é obscuro, de
conectado precisamente com a incapacidade de maneira que se passa como "amor", embora
satisfazer a aspiração de realizar, na "união mude o seu autêntico aspecto e obscureça a
conjugal do corpo", a comunhão recíproca de limpidez do dom. Isto quer dizer que devemos
pessoas. A mulher, cujos "desejos a arrastarão desconfiar do coração humano? Não! Quer
para seu marido" (Gen 3, 16), e o homem, cuja somente dizer que devemos permanecer no
resposta a tal instinto, como lemos, é de "dominá- controle dele. (TdC 32)
la" (Gen 3, 16), formam indubitavelmente o
mesmo par humano, o mesmo matrimônio de
Gênesis 2, 24, e até mesmo a mesma comunidade
de pessoas: todavia, são agora alguma coisa de
diverso. Já não são apenas chamados à união e
unidade, mas também ameaçados pela
insaciabilidade daquela união e unidade. (TdC
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O Homem da Concupiscência
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29. O "Desejar" [luxurioso], ou o "olhar com 34. A concupiscência que nasce como ato interior
desejo [redutivo]", indicam uma experiência do muda a própria intencionalidade do existir da
valor do corpo em que o seu significado esponsal mulher "para" o homem, reduzindo a riqueza do
cessa de ser esponsal, precisamente por causa da perene chamado à comunhão de pessoas
concupiscência. (...) Portanto, quando o homem unicamente à satisfação do "impulso" sexual do
―deseja‖ e "olha com desejo" (como lemos em Mt corpo. Tal redução faz com que a pessoa (neste
5, 27-28), ele experimenta mais ou menos caso, a mulher) se torne para a outra pessoa (o
explicitamente a ruptura com o significado do homem) acima de tudo um objeto para a possível
corpo, que (segundo já observamos nas nossas satisfação de seu próprio "impulso" sexual. O
reflexões) está na base da comunhão das pessoas. homem que "olha" de tal modo, como escreve Mt
(TdC 39) 5, 27-28, "se utiliza" da mulher, da sua
feminilidade, para satisfazer o próprio "instinto".
30. O "desejo" nascido precisamente da Mesmo que não o faça em um ato exterior, já
concupiscência da carne passa sobre as ruínas do tomou essa atitude no seu íntimo. Um homem
significado esponsal do corpo para satisfazer só o pode cometer tal adultério ―no coração‖ mesmo
impulso sexual do corpo. Tal redução intencional com a própria esposa, se a trata apenas como
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objeto para a satisfação de impulsos. (...) Não é maniqueístas no pensamento e na atitude. (TdC
possível chegarmos a essa segunda interpretação 45)
das palavras de Mt 5, 27-28, se nos limitamos à
interpretação puramente psicológica da
concupiscência, sem ter em conta aquilo que “Mestres da Suspeita”
forma o seu específico caráter teológico. (TdC
43) 41. Na hermenêutica de Nietzsche, o juízo e a
acusação do coração humano correspondem, em
certo modo, ao que na linguagem bíblica é
O Coração – Acusado ou Chamado? chamado "soberba da vida"; na hermenêutica de
Marx, ao que foi chamado "concupiscência dos
35. Se nas palavras analisadas do Sermão da olhos"; e na hermenêutica de Freud, pelo
Montanha o coração humano é "acusado" de contrário, ao que é chamado "concupiscência da
concupiscência (ou se é posto em guarda contra carne". (TdC 46)
aquela concupiscência), simultaneamente
mediante as mesmas palavras é ele chamado a 42. O significado do corpo é, em certo sentido, a
descobrir o sentido pleno daquilo que no ato de antítese da libido freudiana. (TdC 46)
concupiscência constitui para ele um "valor não
suficientemente apreciado". (TdC 45) 43. As palavras de Cristo segundo Mateus 5, 27-
28 não nos permitem parar na acusação contra o
36. Uma segunda questão surge de mãos dadas coração humano e colocá-lo em estado de suspeita
com essa, uma questão mais ―prática‖: Como contínua, mas devem ser entendidas e
alguém que aceita as palavras de Cristo no interpretadas sobretudo como apelo dirigido ao
Sermão da Montanha ―pode‖ e ―deve‖ agir? (TdC coração. Isto deriva da própria natureza do ethos
44) da redenção. A redenção é uma verdade, uma
realidade, em cujo nome o homem deve sentir-
37. O homem "histórico" valoriza sempre, a seu se chamado, e "chamado com eficácia". (TdC
modo, o próprio "coração", assim como julga 46)
também o próprio "corpo": e assim passa do pólo
do pessimismo ao pólo do otimismo, da
severidade puritana ao permissivismo
contemporâneo. (TdC 44)
Maniqueísmo
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Conclusão
49. A carne, então, para S. Paulo, não deve ser
54. Seguindo a referência que fez Cristo ao
identificada com o sexo ou o corpo físico. Na
"princípio", dedicamos uma série de reflexões aos
verdade, está mais perto do sentido Hebreu de
relativos textos do Livro do Gênesis, que tratam
personalidade física – o ―si mesmo‖, incluindo os
precisamente daquele "princípio". Ao mesmo
elementos físicos como veículos da vida exterior.
tempo, é preciso todavia considerar, entender e
O termo ―carne‖, para São Paulo, indica não
interpretar a mesma verdade fundamental sobre o
apenas o homem ―exterior‖, mas também o
homem, o seu ser de varão e de mulher, no prisma
homem ―interiormente‖ sujeito às coisas ―do
de outra situação: isto é, daquela que se formou
mundo‖. O homem que vive ―segundo a carne‖ é
mediante a ruptura da primeira aliança com o
o homem voltado apenas para o que vem ―do
Criador, ou seja, mediante o pecado original.
mundo‖: é o homem ―sensorial‖, o homem da
Convém ver tal verdade sobre o homem —varão e
tríplice concupiscência. (...) Para Paulo a vida
mulher— no contexto da sua pecaminosidade
―segundo a carne‖ se opõe à vida ―segundo o
hereditária. E é precisamente aqui que nos
Espírito‖ não apenas no interior do coração do
encontramos com o enunciado de Cristo no
homem, mas se expande no campo das obras (ver
Sermão da Montanha. (TdC 58)
Gal 5, 19-23). (TdC 51)
55. Qual é esta verdade? Indubitavelmente, é uma
50. O homem encontra sua justificação não apenas
verdade de caráter ético e, portanto, afinal, de uma
observando preceitos individuais da lei do Antigo
verdade de caráter normativo. "Não cometerás
Testamento, mas sua justificação vem ―do
adultério". A interpretação deste mandamento,
Espírito‖ (de Deus), e não ―da carne‖. Nesse
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