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CONSERVAÇÃO DE ÁGUA

EM MEIOS URBANOS

Prof. M.Sc. Jordan Henrique de Souza


Engenheiro Civil
ÁGUA NO MEIO URBANO
Introdução
Características do desenvolvimento urbano
Impacto no escoamento do desenvolvimento urbano
Mananciais urbanos

Controle do impacto da urbanização

Controle de enchentes em áreas urbanizadas

Medidas de controle da Macrodrenagem

Plano Diretor de Drenagem Urbana


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INTRODUÇÃO

 A água no meio urbano tem vários aspectos.

 O primeiro, que qualquer pessoa tem sempre na


mente, é o do abastecimento da população.

 No entanto, vários outros aspectos devem ser


considerados,

 principalmente com o aumento e a densificação


populacional que o mundo vem sofrendo nos últimos
tempos.

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INTRODUÇÃO
 Com o crescimento populacional e a densificação,

 fatores como a poluição doméstica e industrial se


agravaram,

 criando condições ambientais inadequadas, propiciando


o desenvolvimento de doenças de veiculação hídrica,

 poluição do ar e sonora, aumento de temperatura,


contaminação da água subterrânea, entre outros.

 Esse processo, que se agravou principalmente a partir


do final da década de 1960,
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INTRODUÇÃO

 mostrou que o desenvolvimento urbano sem qualquer


planejamento ambiental resulta em prejuízos significativos
para sociedade.

 Atualmente tem sido previsto que a crise do próximo século


deverá ser a da água,

 principalmente pelo aumento de consumo e deteriorização


dos mananciais existentes que têm capacidade finita.

 Isso se deve, sobretudo, à contaminação dos mananciais


urbanos pelo despejo dos efluentes domésticos e industriais
e dos esgotos pluviais.

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INTRODUÇÃO

 Neste capítulo, são tratados de forma resumida:

 os principais aspectos do desenvolvimento urbano para


caracterizar a sua evolução;

 escoamento no meio urbano e sua interação com o uso


do solo, identificando os principais impactos devido à
urbanização no escoamento,

 o impacto do escoamento sobre a população que


ocupa espaços inadequados;

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INTRODUÇÃO

 os mananciais urbanos e sua proteção diante dos diferentes


potenciais impactos;

 e as medidas de controle do escoamento no meio urbano.

 No início do século passado, a população urbana compunha


cerca de 15% da população mundial

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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 e previa-se que no final deste, 50% da população mundial


estaria em cidades.

 Nos países desenvolvidos como os Estados Unidos, a


urbanização já atinge 94% da população.

 Isso é consequência natural do desenvolvimento económico,


onde o setor primário representa apenas 2% da economia.

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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Nos países em desenvolvimento existe um acelerado processo


de urbanização.

 Na América Latina e no Caribe, a população urbana cresce a


taxas de 3% a 5% ano.

 No ano 2000, previa-se que cerca de seis cidades deveriam


ultrapassar 10 milhões de habitantes

 e de 30 a 35 cidades deveriam ter população superior a l


milhão (Foster, 1986).

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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 O Brasil apresentou, ao longo das últimas décadas, um


crescimento significativo da população urbana (Figura 1.1).

Figura 1.1 - Evolução da urbanização no Brasil e no mundo.


FONTE: Mega-cities appud Folha de São Paulo 4/2/1996.
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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 A taxa da população urbana brasileira é de 76%.

 O processo de urbanização acelerado ocorreu depois da


década de 1960,

 gerando uma infraestrutura inadequada para a população.

 Era previsto que o Brasil teria pelo menos duas cidades com
mais de 10 milhões de habitantes no ano 2000.

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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Alguns Estados brasileiros já apresentam características de


urbanização de países desenvolvidos, como São Paulo, onde
91% da população é urbana.

 O desenvolvimento urbano brasileiro tem sido concentrado em


regiões metropolitanas,

 na capital dos Estados e cidades pólos regionais.

 O País reduziu fortemente o crescimento populacional


chegando, atualmente, a valores de 1,4% ao ano, em média.

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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Os efeitos desse processo fazem-se sentir sobre todo o


aparelhamento urbano relativo a recursos hídricos:

 abastecimento de água,

 transporte,

 e tratamento de esgotos cloacal e pluvial.

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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 O planejamento urbano, embora envolva fundamentos


interdisdplinares,

 na prática, é realizado dentro de um âmbito mais restrito do


conhecimento.

 O planejamento da ocupação do espaço urbano no Brasil não


tem considerado aspectos fundamentais,

 que trazem grandes transtornos e custos para a sociedade e


para o ambiente.

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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 O desenvolvimento urbano brasileiro tem produzido aumento


significativo na frequência das inundações,

 na produção de sedimentos e na deterioração da qualidade da


água.

 A medida que a cidade se urbaniza, em geral, ocorrem os


seguintes impactos:

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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 aumento das vazões máximas (em até sete vezes,


Leopold, 1968) devido ao aumento da capacidade
de escoamento por meio de condutos e canais e
impermeabilização das superfícies;

 aumento da produção de sedimentos devido à


desproteção das superfícies e à produção de resí-
duos sólidos (lixo);

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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 deterioração da qualidade da água devido à lavagem das ruas,


transporte de material sólido e as ligações clandestinas de
esgoto cloacal e pluvial.

 Adicionalmente, existem os impactos gerados pela forma


desorganizada com que a infraestrutura urbana é implantada,
como:

 (i) pontes e taludes de estradas que obstruem o escoamento;

 (ii) redução de seção do escoamento e de aterros;

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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 (iii) deposição e obstrução de rios, canais e condutos de lixos e


sedimentos;

 (iii) projetos e obras de drenagem inadequados.

 Esses impactos têm produzido um ambiente degradado, que,


nas condições atuais da realidade brasileira, somente tende a
piorar.

 Esse processo, infelizmente não está sendo contido, mas está


sendo ampliado à medida que os limites urbanos aumentam
ou a densificação se torna intensa.

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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 A gravidade dessa tendência ocorre principalmente nas médias


e grandes cidades brasileiras.

 A importância desse impacto está latente pela imprensa e pela


TV,

 onde se observa, em diferentes pontos do País, cenas de


enchentes associadas a danos materiais e humanos.

 As ações públicas atuais, em muitas cidades brasileiras, estão


indevidamente voltadas para medidas estruturais com visão
pontual.

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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 A canalização tem sido extensamente utilizada para transferir a


enchente de um ponto a outro da bacia,

 sem que sejam avaliados os efeitos a jusante ou os reais


benefícios das obras.

 Os custos de canais revestidos, frequentemente utilizados nas


áreas mais urbanizadas, são desde US$ 1,7 milhão/km em
Porto Alegre,

para canais de pequena largura (DEP – Pedrosa, 1996) a 50
milhões/km para um canal retangular de 17 m de largura e
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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 cerca de 7 m de profundidade, com paredes estruturadas no


Ribeirão dos Meninos, em São Paulo.

 O prejuízo público é dobrado, já que, além de não resolver o


problema, os recursos são gastos de forma equivocada.

 Essa situação é ainda mais grave quando se soma o aumento


de produção de sedimentos (reduz a capacidade dos condutos
e canais),

 e a qualidade da água pluvial (associada aos resíduos sólidos).

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CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Essas condições são decorrentes, na maioria das cidades, do


seguinte:

 (i) da falta de considerar o planejamento da rede cloacal e


pluvial e da ocupação das áreas de risco quando se formulam
os planos diretores de desenvolvimento urbano;

 (ii) o gerenciamento inadequado da implantação das obras


públicas e privadas no ambiente.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Tipos de enchentes

 As enchentes em áreas urbanas são devidas a dois processos,


que ocorrem isoladamente ou de forma integrada:

 Enchentes devido à urbanização:

 É o aumento da frequência e magnitude das enchentes devido


à ocupação do solo com superfícies impermeáveis e rede de
condutos de escoamentos.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Adicionalmente, o desenvolvimento urbano pode produzir


obstruções ao escoamento,

 como aterros e pontes, drenagens inadequadas e obstruções


ao escoamento junto a condutos e assoreamento.

 Enchentes em áreas ribeirinhas:

 Enchentes naturais que atingem a população que ocupa o leito


maior dos rios.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Essas enchentes ocorrem, principalmente, pelo processo


natural no qual o rio ocupa o seu leito maior de acordo com os
eventos extremos, em média, com tempo de retorno da ordem
de dois anos (Figura 2.1).

Figura 2.1 - Caracterização dos leitos de escoamento.


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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Impacto no ciclo hidrológico

 O desenvolvimento urbano modifica a cobertura vegetal


provocando vários efeitos que alteram os componentes do ciclo
hidrológico natural.

 Com a urbanização, a cobertura da bacia é alterada para


pavimentos impermeáveis

 e são introduzidos condutos para escoamento pluvial, gerando


as seguintes alterações no referido ciclo:

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

1) Redução da infiltração no solo.

2) 0 volume que deixa de infiltrar fica na superfície,


"aumentando o escoamento superficial".

Além disso, como foram construídos condutos pluviais para o


escoamento superficial, tornando-o mais rápido,

ocorre redução do tempo de deslocamento. Dessa forma, as


vazões máximas também aumentam, antecipando seus picos
no tempo.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

3) Com a redução da infiltração, o aquífero tende a diminuir o


nível do lençol freático,

por falta de alimentação (principalmente quando a área


urbana é muito extensa), "reduzindo o escoamento
subterrâneo".

As redes de abastecimento e cloacal possuem vazamentos


que podem alimentar o aquíferos, tendo efeito inverso do
mencionado.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

4) Devido à substituição da cobertura natural, ocorre uma


"redução da evapotranspiração",

já que a superfície urbana não retém água como a cobertura


vegetal e

não permite a vapotranspiração das folhagens e do solo.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO
 Na Figura 2.2 são caracterizadas as alterações no uso do solo
devido à urbanização e seu efeito sobre o hidrograma e nos
níveis de inundação.

Figura 2.2 - Características das alterações de uma área rural para urbana. FONTE: Schueler, 1987. 30
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

Figura 2.2 - Características das alterações de uma área rural para urbana. FONTE: Schueler, 1987. 31
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

Figura 2.2 - Características das alterações de uma área rural para urbana. FONTE: Schueler, 1987. 32
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Essas são as principais alterações no balanço hídrico


quantitativo.

 A proporção como esses valores se alteram varia de acordo


com as condições de cada localidade em função do tipo de
solo, cobertura, geologia, pluviosidade e clima.

 Na Tabela 2.1 é apresentado um exemplo quantitativo para um


clima temperado.

 Para uma localidade em que a cobertura é rochosa e


impermeável, provavelmente as alterações relativas serão
menores.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 No entanto, para bacias onde o escoamento superficial é


insignificante, o impacto poderá ser maior.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 O impacto da urbanização é mais significativo para


precipitações de maior frequência onde o efeito da infiltração é
mais importante.

 Para precipitações de baixa frequência (alto tempo de retorno)


a relação entre as condições naturais e a urbanização são
relativamente menores.

 A tendência é que, à medida que o risco aumenta, a diferença


relativa entre as vazões máximas pré-urbana e urbana
diminua.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Para uma enchente de risco alto, a proporção da precipitação


que infiltra sobre o total precipitado diminui, pois a infiltração
tende a ser a mesma, independentemente da precipitação, já
que esta é maior que a capacidade de infiltração.

 Como a rede de pluviais está dimensionada para riscos


pequenos, ocorrem alagamentos que funcionam como
amortecedores, também observados nas condições naturais
das bacias.

 Yoshimoto e Suetsugi (1990) apresentaram resultados do


aumento da urbanização numa bacia na vizinhança de Tóquio
no decorrer de um longo período.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO
 Na Figura 2.3, pode-se observar a variação do tempo de
concentração, área impermeável e hidrograma, ao longo dos
anos de desenvolvimento da bacia.

Figura 2.3 - Resultados da evolução urbana na


bacia Tsurumi.
FONTE: Yoshimoto e Suetsugi, 1990.
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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 O impacto quantitativo sobre a vazão máxima foi estimado


para uma bacia de l m2 por Leopold (1968).

 O referido autor estabeleceu o aumento da vazão média


máxima de cheia com base no aumento da percentagem de
área impermeável e de condutos, apresentado na Figura 2.4.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

Pode-se observar nessa


imagem, que o aumento
da vazão máxima de uma
bacia urbanizada pode
chegar, para valores
limites superiores, a seis
vezes a vazão máxima
natural.

% da área urbanizada Figura 2.4 – Efeito da urbanização sobre a vazão média de


enchente numa área de l m2. FONTE: Leopold 1968.
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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Para avaliar o impacto da urbanização na região metropolitana


de Curitiba, Tucci (1997) utilizou os dados de bacias rurais e
urbanas.

 Na Figura 2.5, é apresentada a relação entre a vazão média de


enchente e a área da bacia para postos localizados no Rio
Iguaçu e seus afluentes.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO
 Nessa imagem, o ponto que se distancia da tendência, na parte
superior, se refere à Bacia do Rio Belém, com 42 km2, 100%
urbanizada, com cerca de 60% de áreas impermeáveis.
 Os dois pontos um pouco acima da reta são de duas outras bacias
(Palmital, 7% e Atuba, 15% de áreas impermeáveis), que estão em
processo de urbanização.

Figura 2.5 - Vazão


média de enchente, Q
função da área das
bacias para postos na
região metropolitana
de Curitiba.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Nas demais bacias, pode-se considerar desprezível o nível da


urbanização, se comparado com a bacia total.

 Utilizando a função ajustada com base nos rios não


urbanizados, pode-se estimar qual seria a vazão média de
cheia para o Rio Belém, em condições de pré-desenvolvimento.

 A relação entre a vazão urbani-zada e de pré-desenvolvimento


é de 6 vezes.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

Impacto ambiental sobre o ecossistema aquático

 Com o desenvolvimento urbano, vários elementos antrópicos


que atuam sobre o ambiente são introduzidos na bacia
hidrográfica.

 Alguns dos principais problemas são discutidos a seguir.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO
Aumento da temperatura:
 As superfícies impermeáveis absorvem parte da energia solar
aumentando a temperatura ambiente,

 produzindo "ilhas de calor" na parte central dos centros


urbanos, onde predomina o concreto e o asfalto.

 O asfalto, devido à sua cor, absorve mais energia por causa da


radiação solar do que as superfícies naturais

 e o concreto, à medida que a sua superfície envelhece tende a


escurecer e aumentar a absorção de radiação solar.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 O aumento da absorção de radiação solar por parte da superfície


aumenta a emissão de radiação térmica de volta para o ambiente,
gerando o calor.

 O aumento de temperatura também gera condições de movimento


de ar ascendente que podem criar aumento de precipitação.

 Silveira (1997) mostra que a parte central de Porto Alegre apresenta


maior índice pluviométrico que a sua periferia, atribuindo essa
tendência à urbanização.

 Como na área urbana as precipitações críticas são as mais intensas


e de baixa duração, essas condições contribuem para agravar as
enchentes urbanas.
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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

Aumento de sedimentos e material sólido

 Durante o desenvolvimento urbano, o aumento dos sedimentos


produzidos pela bacia hidrográfica é significativo,

 devido às construções, à limpeza de terrenos para novos


loteamentos, à construção de ruas, avenidas e rodovias, entre
outras causas.

 Na Figura 2.6, pode-se observar a tendência de produção de


sedimentos de uma bacia nos seus diferentes estágios de
desenvolvimento.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

Figura 2.6 - Relação entre área de drenagem, produção de sedimentos e atividade de


47
construção. FONTE: Wolman et ai., 1967.
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 As duas principais consequências ambientais da produção de


sedimentos são as seguintes:

1. Assoreamento da drenagem com redução da capacidade de


escoamento de condutos, rios e lagos urbanos.

A lagoa da Pampulha e um exemplo de um lago urbano que


tem sido assoreado.

O arroio Dilúvio, em Porto Alegre, devido à sua largura e


pequena profundidade, durante as estiagens, tem depositado
no canal a produção de sedimentos da bacia e criado
vegetação, reduzindo a capacidade de escoamento durante
as enchentes;

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

2) Transporte de poluente agregado ao sedimento, que


contamina as águas pluviais.

 Na medida em que a bacia é urbanizada e a densificação


consolidada, a produção de sedimentos pode reduzir (Figura
2.7),

 mas um problema ainda maior tende a se agravar, que é a


produção de lixo. O lixo obstrui ainda mais a drenagem e cria
condições ambientais ainda piores.

 Esse problema somente é minimizado com adequada


frequência da coleta e educação da população com multas
pesadas.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

Figura 2.7 - Variação da produção de sedimentos em decorrèmcia do desenvolvimento urbano.


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FONTE: Dawdy, 1967.
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

Qualidade da água pluvial

 A qualidade da água pluvial não é melhor que a do efluente de


um tratamento secundário.

 A quantidade de material suspenso na drenagem pluvial é


superior à encontrada no esgoto in natura.

 Esse volume é mais significativo no início das enchentes.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO
 Os esgotos podem ser combinados (cloacal e pluvial num
mesmo conduto) ou separados (rede pluvial e cloacal
separadas).

 No Brasil, a maioria das redes é do segundo tipo, somente em


áreas antigas de algumas cidades existem sistemas
combinados.

 Atualmente, devido à falta de capacidade financeira para


ampliação da rede de cloacal, algumas prefeituras têm
permitido o uso da rede de pluvial para transporte do cloacal,

 o que pode ser uma solução inadequada à medida que esse


esgoto não é tratado, além de inviabilizar algumas soluções de
controle quantitativo do pluvial.
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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 A qualidade da água da rede de pluviais depende de


vários fatores:

 da limpeza urbana e sua frequência, da intensidade da


precipitação e sua distribuição temporal e espacial, da
época do ano e do tipo de uso da área urbana.

 Os principais indicadores da qualidade da água são os


parâmetros que caracterizam a poluição orgânica e a
quantidade de metais.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Na Tabela 2.2 são apresentados os valores dos parâmetros


típicos medidos para algumas cidades.

l - Colson (1974); 2- Weibel et ai. "(1964); 3 - AVCO (1970), 4 - Ide (1984); 5 - APWA (1969).

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO
Contaminação de aquíferos

 A contaminação dos aquíferos urbanos se deve a:

 Aterros sanitários que contaminam as águas sub-terrâneas


pelo processo natural de precipitação e infiltração.

 Deve-se evitar que sejam construídos aterros sanitários em


áreas de recarga e deve-se procurar escolher essas áreas
com baixa permeabilidade.

 Os efeitos da contaminação nas águas subterrâneas devem


ser examinados quando da escolha do local do aterro.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Grande parte das cidades brasileiras utilizarem fossas sépticas


como destino final do esgoto. Esse conjunto tende a
contaminar uma parte superior do aquífero.

 Essa contaminação pode comprometer o abastecimento de


água urbano se existir comunicação entre diferentes camadas
dos aquíferos por meio de percolação e de perfuração
inadequada dos poços artesianos.

 As Rede de condutos de pluviais podem contaminar o solo


através de perdas de volume no seu transporte e até por
entupimento de trechos da rede que pressionam a água
contaminada para fora do sistema de condutos.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

Enchentes em áreas ribeirinhas

 As cidades, no passado, localizavam-se próximas a rios de


médio e grande porte, para uso do transporte fluvial.

 A parcela do leito maior, ocupada pela população, sempre


dependeu da memória dos habitantes e da frequência com
que as enchentes ocorriam.

 Uma sequência de anos sem inundação é motivo para que a


sociedade pressione para ocupar o leito maior do rio.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Na cidade de Blumenau existem registros de cotas de


inundações que atingem o leito maior desde 1852.

 No período de 1912 a 1982 (71 anos), não ocorreu nenhuma


enchente com cota superior a 13 m.

 Nos anos mencionados a seguir, ocorreram cotas muito


superiores à mencionada: em 1852, 16,50 m, em 1880, 17,10
m, em 1911, 16,90 m -71 anos - em 1983, 15,34 m e em
1984, 15,50 m.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 No período de baixas enchentes, houve grande ocupação do


vale de inundação, o que resultou em significativos prejuízos
com a enchente de 1983, representando 16% do PIB da
época, de Santa Catarina.

 A Cia. Hering, fundada no ano da maior enchente, 1880,


manteve na memória o nível dessa enchente (17,10 m),
sempre buscou espaços em cotas acima da mencionada e não
sofreu com as inundações posteriores.

 As informações sobre as enchentes existem, mas é necessário


utilizálas tecnicamente no planejamento da cidade.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Outro exemplo é a cidade de Porto Alegre.

 A grande enchente desse século foi em 1941 e atingiu grande


parte do centro da cidade e algumas áreas ribeirinhas.

 Em 1967, ocorreu uma enchente de menor porte, mas depois


dessa data não houve nenhuma cheia importante.

 Na década de 1970, foi construído um sistema de diques de


proteção para a cidade.

60
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO
 A necessidade desse sistema de proteção vem sendo
questionada por parte significativa da população, porque há
muitos anos não ocorre nenhuma enchente que atinja a cota
de proteção.

 Essa falsa idéia de segurança pode representar custos altos se


a proteção for removida, como deseja parte da população.

 Em algumas cidades onde a frequência de inundação é alta, as


áreas de risco são ocupadas por sub-habitações,

 porque representam espaço urbano pertencente ao poder


público ou desprezado economicamente pelo poder privado.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 A defesa civil é constantemente acionada para proteger essa


parte da população.

 A questão com a qual o administrador municipal depara-se,


nesse caso, é que, ao transferir essa população para uma área
segura,

 outros se alojam no mesmo lugar, como resultado das


dificuldades económicas e das diferenças sociais.

62
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO
 Devido a tais impactos, a população pressiona seus dirigentes
por soluções do tipo estrutural, como canalização, barragens,
diques etc.

 Essas obras, em geral, têm um custo que os municípios e,


muitas vezes, os Estados não têm condições de suportar.

 Até 1990, o DNOS - Departamento Nacional de Obras e


Saneamento, no âmbito federal, atendia parte desses
problemas.

 Com a criação da Secretaria de Recursos Hídricos no governo


atual, provavelmente essa atribuição ficou a cargo da entidade,

63
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO
 pois o artigo 21 da Constituição, expressa que "compete à
União "e, no inciso 28, "planejar e promover a defesa
permanente contra as calamidades públicas, especialmente as
secas e as inundações".

 As administrações estaduais, em geral, não estão preparadas


técnica e financeiramente para planejar e controlar esses
impactos,

 já que os recursos hídricos são, normalmente, tratados de


forma setorizada (energia elétrica, abastecimento urbano e
tratamen-to de esgoto, irrigação e navegação), sem que haja
maior interação na administração e seu controle.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO
 A regulamentação do impacto ambiental envolve o controle da
ação do homem sobre o meio ambiente e não a prevenção e o
controle de enchentes.

 Os municípios foram pressionados a estabelecer o Plano


Diretor Urbano, o qual, na sua quase totalidade, não contempla
os aspectos de prevenção contra a ocupação dos espaços de
risco de enchentes.

 Observa-se que os planos diretores já tratam de aspectos de


preservação ambiental do espaço, disseminados pela
divulgação da proteção ambiental,

 mas, por falta de conhecimento e orientação, não se observa


nenhum dispositivo de prevenção da ocupação das áreas de
risco de enchentes.
65
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 O prejuízo médio de inundação nos Estados Unidos, chegou a


cerca de 7 bilhões de dólares anuais (estimativa de 1983,
Hudlow et ai, apud NRC, 1991).

 No Brasil, são raros os estudos que quantificam esse impacto.

 Jica (1986) estimou em 7% do valor de todas as propriedades


de Blumenau o custo médio anual de enchentes para essa
cidade e,

 em 22 milhões de dólares para todo o Vale do Itajaí. O prejuízo


previsto para uma cheia de cinquenta anos foi de 250 milhões
de dólares.

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IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 As medidas de controle de inundações podem ser classificadas


em "estruturais, quando o homem modifica o rio",

 e em "não-estruturais, quando o homem convive com o rio".

 No primeiro caso, estão as medidas de controle por meio de


obras hidráulicas, tais como barragens, diques e canalização,
entre outras.

 No segundo caso, encontram-se medidas do tipo preventivo,


tais como zoneamento de áreas de inundação, alerta e
seguros. Evidentemente as medidas estruturais envolvem
custos maiores que as medidas não-estruturais.
67
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 As principais medidas de controle de enchentes não-


estruturais são:

 zoneamento de áreas de inundação, sistema de alerta ligado à


defesa civil e seguros.

 O zoneamento é baseado no mapeamento das áreas de


inundação dentro da delimitação da cheia de cem anos ou a
maior registrada.

 Dentro dessa faixa, são definidas áreas de acordo com o risco


e com a capacidade hidráulica de interferir nas cotas de cheia
a montante e a jusante.

68
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 À regulamentação depende das características de


escoamento, topografia e tipo de ocupação dessas faixas.

 O zoneamento é incorporado pelo Plano Diretor Urbano da


cidade e regulamentado por legislação municipal específica ou
pelo Código de Obras.

 Para as áreas já ocupadas, o zoneamento pode estabelecer


um programa de transferência da população e/ou convivência
com os eventos mais frequêntes.

69
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 O sistema de alerta tem a função de prevenir com


antecedência de curto prazo,

 reduzindo os prejuízos pela remoção, dentro da antecipação


permitida.

 Além disso, o sistema de alerta é fundamental para os eventos


que atingem raramente as cotas maiores, quando as pessoas
sentem-se seguras.

70
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 A solução ideal deve ser definida para cada caso em função


das características do rio,

 do benefício da redução das enchentes e dos aspectos sociais


de seu. impacto.

 Certamente, para cada situação, medidas estruturais e não-


estruturais podem ser combinadas para uma melhor solução.

 De qualquer forma, o processo de controle inicia pela


regulamentação do uso do solo urbano, através de um plano
diretor que contemple as enchentes.

71
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Em 1936, nos Estados Unidos, foi aprovada uma legislação


federal sobre controle de enchentes,

 que identificava a natureza pública dos programas de redução


de enchentes e caracterizava a implantação de medidas físicas
ou estruturais como um meio de reduzir esses danos.

 Com isso, acelerou-se a ocupação das várzeas, o que resultou


em aumento dos danos ocasionados pelas enchentes.

72
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 Em 1966, o governo reconheceu que as medidas anteriores


eram inadequadas,

 devido ao seu alto custo, e deu ênfase a medidas não-


estruturais, principalmente ao programa de seguros.

 Nesse programa, toda obra financiada pelo governo e outras


entidades particulares, exige que o proprietário que ocupa a
área de inundação pague um seguro de enchentes.

73
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 No Brasil, não existe nenhum programa sistemático de controle de


enchentes que envolva seus diferentes aspectos.

 O que se observa são ações isoladas por parte de algumas cidades.

 Estrela, no Rio Grande do Sul, implementou, dentro de seu Plano


Diretor, a legislação de zonas de uso especial,

 definidas pela restrição de ocupação e de construções abaixo de


determinadas cotas, estabelecidas no zoneamento de inundação
previamente elaborado (Rezende e Tucci, 1979).

74
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 O município prevê, na legislação, a troca de área de inundação


por índice de ocupação em zonas valorizadas, como uma
forma de adquirir áreas de risco para uso público.

 O DAEE (1990), com o apoio de várias Associações ligadas a


Recursos Naturais, desenvolveu recomendações para artigos
da seção de Recursos Hídricos nas leis orgânicas dos
municípios,

 onde, no art. 2, inciso IV, é prescrito que se deve "proceder ao


zoneamento das áreas sujeitas a riscos de inundações..."

75
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 e, no inciso VI, é recomendado o seguinte: "implantar sistema


de alerta e defesa civil, para garantir a saúde e segurança
públicas, quando de eventos hidrológicos indesejáveis".

 Como se observa, não existe nenhum programa sistemático


em qualquer nível para controle da ocupação das áreas de
risco de inundação no Brasil.

 Há, apenas, poucas ações isoladas de alguns poucos


profissionais.

 Em geral, o atendimento à enchente somente é realizado


depois de sua ocorrência.

76
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO
 A tendência é que o problema fique no esquecimento após
cada evento, retornando no seguinte.

 Isso se deve a vários fatores, entre os quais estão:

 falta de conhecimento sobre controle de enchentes por parte


dos planejadores urbanos;

 desorganização, no âmbito federal e estadual, sobre controle


de enchentes;

77
IMPACTO NO ESCOAMENTO DO DESENVOLVIMENTO URBANO

 pouca informação técnica sobre o assunto em nível de


graduação na Engenharia;

 o desgaste político para o administrador público, resultante do


controle não-estrutural (zoneamento),

 já que a população está sempre esperando uma obra


hidráulica;

 falta de educação da população sobre controle de enchentes.

78
MANANCIAIS URBANOS

 Os mananciais urbanos são fontes disponíveis de água,

 nas quais a população pode ser abastecida em suas


necessidades.

 O manancial deve possuir quantidade e qualidade de


água adequada ao seu uso.

 O uso mais nobre é o consumo de água pela população


ou o denominado consumo doméstico.

79
MANANCIAIS URBANOS

 Na medida em que o desenvolvimento urbano aumenta,


envolve duas atividades conflitantes:

 crescimento da demanda de água com qualidade

 e a degradação dos mananciais por contaminação de resíduos


urbanos e industriais.

 A tendência do desenvolvimento urbano é o de contaminar a


rede de escoamento superficial com despejos de esgotos
cloacais e pluviais,

80
MANANCIAIS URBANOS

 inviabilizando o manancial e exigindo novos projetos de


captação de áreas mais distantes, não contaminadas,

 ou o uso de tratamento de água e esgoto mais intensivo, o que


envolve custos maiores.

Caracterização dos mananciais urbanos

 Os principais mananciais de suprimento de água de uma


população são:

 águas superficiais,

 águas subterrâneas.
81
MANANCIAIS URBANOS

 Aguas superficiais

 São encontradas na rede de rios da bacia hidrográfica


onde a população se desenvolve.

 Uma seção de um rio define a sua "bacia hidrográfica".

 Essa bacia é a área definida pela topografia superficial


em que a chuva ali precipitada, potencialmente
contribui com escoamento pela seção que a define.

82
MANANCIAIS URBANOS

 A vazão de um rio varia muito ao longo do ano, portanto, é


necessário conhecer essa variabilidade para melhor definir a
disponibilidade natural do rio no atendimento da demanda.

 A disponibilidade hídrica depende da capacidade de


regularização natural do rio ao longo do ano.

 Poderá existir uma parcela do ano em que o rio não atenderá à


demanda, sendo necessário regularizar a vazão através de um
reservatório.

83
MANANCIAIS URBANOS

 A capacidade máxima de regularização de um reservatório é a


vazão média de longo período da bacia, estimada pela média
das médias anuais.

 A disponibilidade hídrica de uma bacia é avaliada com base na


série hidrológica de vazões afluentes através da sua
distribuição estatística temporal.

 Essas vazões dependem das características da precipitação,


evapotranspiração (total, variabilidade temporal e espacial) e
da superfície do solo, que são os condicionantes naturais.

84
MANANCIAIS URBANOS

 As funções estatísticas hidrológicas mais utilizadas para


avaliação da disponibilidade hídrica são "a curva de
permanência e a curva de regularização".

 A curva de permanência relaciona a probabilidade de que uma


vazão seja maior ou igual durante o ano (ou do período da
série).

 Na Figura 3.1, a vazão de Q75 indica que, no rio, 75% da vazões


são maiores ou iguais a esse valor.

85
MANANCIAIS URBANOS

Figura 3.1 - Curva de permanência de vazões

86
MANANCIAIS URBANOS

 A curva de regularização relaciona vazão, volume necessário


para regularizar a referida vazão e o nível de probabilidade da
relação (Figura 3.2).

Figura 3-2 - Curva de regularização.


87
MANANCIAIS URBANOS

 A demanda urbana usualmente pode ser atendida por


pequenas bacias hidrográficas.

 Nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, as pequenas bacias


(<500 km2) têm vazão específica entre 15 e 25 l/s/km2.

 A demanda usual de cidades médias e grandes é da ordem de


200 l/ha/dia.

 Dessa forma, considerando um valor médio para o intervalo


citado e a possibilidade de regularizar 70% da média,

88
MANANCIAIS URBANOS

 l km2 poderia abastecer cerca de 6 mil pessoas.

 Quando o atendimento da demanda é realizado a partir de


grandes mananciais,

 o risco de atendimento quanto à quantidade é muito pequeno


e pode ser realizado usualmente sem regularização.

89
MANANCIAIS URBANOS

Aguas subterrâneas

 A água subterrânea é a maior reserva de água doce do globo.

 Os aquíferos onde ficam esses reservatórios podem ser


confinados ou não-confinados.

 Os primeiros, devido à formação geológica, possuem pressão


superior à atmosférica e são alimentados por recargas em
cotas superiores ao ponto de captação.

90
MANANCIAIS URBANOS

 Nos aquíferos não-confinados a água não está sob pressão e


pode ser alimentada pelo fluxo local (da mesma forma que
pode ser contaminada).

 A grande variabilidade das condições de solo e geologia fazem


com que a capacidade de armazenamento das águas
subterrâneas dependa dessas condições quanto à sua
exploração para atendimento do abastecimento.

91
MANANCIAIS URBANOS

 Por exemplo, no Rio Grande do Sul, na província hidrogeológica


do "Planalto", existe 80% de chance de que a vazão de um
poço seja maior que 2,2 mVh,

 enquanto na província hidrogeológica do "Botucatu Sotoposto


ao Basalto a Leste" essa vazão é 6,7 mVh.

 No primeiro caso, seria possível atender 264 pessoas por dia e


no segundo, 804.

 Existem regiões onde o subsolo é composto apenas por rochas,


onde a água escoa apenas pelas fraturas e a disponibilidade é
muito baixa.

92
MANANCIAIS URBANOS
 A vantagem do manancial subterrâneo tem sido á capacidade
de atendimento distribuído através de poços,

 no entanto, essa alternativa não tem sido usual no Brasil para


o atendimento a grandes comunidades, devido à alta
demanda.

 Usualmente, o abastecimento por meio de água subterrânea


tem sido realizado para comunidades menores e distribuídas
espacialmente.

 Essas condições dependem da capacidade de exploração das


águas subterrâneas e da contaminação dos aquíferos.

93
MANANCIAIS URBANOS

Contaminação dos mananciais

 A contaminação das fontes de mananciais ocorre devido ao


desenvolvimento urbano e rural por meio de:

 Esgotos domésticos e industriais: principais fontes de


contaminação dos mananciais urbanos.

 A contaminação das águas subterrâneas ocorre principalmente


devido ao seguinte:

94
MANANCIAIS URBANOS

 O desenvolvimento da maioria das cidades é realizado com uso


de fossa séptica que contamina o lençol freático,

 portanto, a tendência é que as águas subterrâneas não-


confinadas sejam contaminadas.

 Contaminação dos aquíferos confinados, que potencialmente


devem possuir melhor qualidade de água,

 através da perfuração de poços sem cuidados específicos para


evitar a ligação entre as camadas do subsolo.

95
MANANCIAIS URBANOS

 A localização dos depósitos de lixo contamina o aquífero pela


lixiviação dos períodos chuvosos.

 A localização desses depósitos deve ser cuidadosa, evitando-


se áreas de recarga, e seu efluente controlado.

 Vazamento de rede de esgotos cloacais e pluviais tende a


contaminar o aquífero com o despejo de poluentes
provenientes dessas fontes.

 Contaminação de áreas de recarga.

96
MANANCIAIS URBANOS

 Uso de produtos fertilizantes e pesticidas na agricultura pode


contaminar as águas subterrâneas após algumas colheitas.

 Despejo de resíduos de cargas industriais sobre áreas de


recarga para depuração de efluentes desse tipo tende a
contaminar águas subterrâneas.

 Existe a tendência de utilizar-se a terminologia de poços


artesianos para poços profundos, mesmo que não-confinados,

 o que leva à falsa ideia de que estão protegidos contra


contaminação.

97
MANANCIAIS URBANOS

 No entanto, mesmo em camadas muito profundas e baixa


percolação, os mananciais podem ser contaminados após um
período longo.

 Portanto, o monitoramento da qualidade das águas de poços


deve ser realizado frequentemente.

 A contaminação das águas superficiais, caracterizada pelos


rios urbanos ou que atravessam cidades, ocorre devido a:

 Despejos de poluentes dos esgotos cloacais domésticos ou


industriais.

98
MANANCIAIS URBANOS

 Despejos de esgotos pluviais agregados com lixo urbano.

 Escoamento superficial que drena áreas agrícolas tratadas


com pesticidas ou outros compostos.

 Drenagem de água subterrânea contaminada que chega ao rio.

99
MANANCIAIS URBANOS

Proteção dos mananciais urbanos


 Legislação
 A Resolução n° 357 de 17 de março de 2005, do Conselho
Nacional de Meio Ambiente (Conama), classifica as águas
doces, salobras e salinas do País.

 A classificação se baseia, fundamentalmente, no uso da água.


Na Tabela 3.1, são apresentadas as classes e os usos,

 e as condições quanto aos parâmetros de qualidade da água


da classe 2 são apresentadas na Tabela 3.2.

100
MANANCIAIS URBANOS

101
MANANCIAIS URBANOS

102
MANANCIAIS URBANOS

 No Paraná, a Lei n° 8.935 de 7 de março de 1989 dispõe


sobre os requisitos mínimos para águas provenientes de
bacias de mananciais destinados a abastecimento público.

 Estabelece que o requisito mínimo deve ser seu


enquadramento na Classe 2 e estabelece como atividades
proibidas na bacia, as seguintes:

 Industriais: fecularia de mandioca ou álcool, indústrias


metalúrgicas que trabalhem com metais tóxicos,
galvanoplastia, indústrias químicas em geral, matadouros,
artefatos de amianto, processadoras de material radiativo.

103
MANANCIAIS URBANOS
 Hospitalares: hospitais, sanatórios e leprosários; depósitos
de lixo.

 Parcelamento de solo de alta densidade: lotes,


desmembramento, conjuntos habitacionais.

Gerenciamento das bacias de mananciais


 As cidades que utilizam intensamente a água como fonte de
vida e desenvolvimento,

 devem ter um plano básico de controle e preservação de seus


mananciais de suprimento dentro de um cenário atual, a
médio e longo prazo.

104
MANANCIAIS URBANOS

 A seguir, descrevemos alguns dos elementos essenciais de


gerenciamento dessas bacias.

 Aspectos Institucionais - Para a maioria das cidades os


mananciais representam bacias pequenas ou aquíferas de
pequena extensão, onde a ação envolve o município ou, no
máximo, o Estado.

 As exceções são as regiões metropolitanas onde a demanda


geralmente exige grandes mananciais.

105
MANANCIAIS URBANOS

 O controle sobre a ocupação e a preservação dos mananciais é


um processo que deverá, cada vez mais, ficar sob a
responsabilidade dos municípios onde a própria ação
predatória se inicia.

 Apenas nas bacias intermunicipais a tendência será de


controle estadual, do comitê de bacia ou mesmo do consórcio
de municípios.

 Planejamento e preservação de mananciais — Os estudos


necessários ao planejamento e controle dos mananciais
envolvem:

106
MANANCIAIS URBANOS
 1) Seleção de potenciais mananciais: bacias ou aquíferos
inseridos em bacias: considerando os custos dos
aproveitamentos, ocupação das bacias e viabilidade de
preservação, são selecionadas as principais alternativas de
mananciais;

 2) Avaliação da disponibilidade dos mananciais : os


mananciais são quantificados em relação ao atendimento da
demanda atual e diferentes cenários futuros do
desenvolvimento da comunidade, verificando a necessidade de
regularização e os custos envolvidos;

 3) Ocupação da bacia e potenciais poluentes: identificação


dos usos atuais e propostos para as bacias dos mananciais,
apontando fontes potenciais de poluentes com as cargas
atuais e projetadas para os cenários;
107
MANANCIAIS URBANOS
 4) Quantificação atual e potencial da qualidade da água dos
mananciais: com base nas fontes atuais e potenciais é
estimada a qualidade da água dos mananciais;

 5) Seleção dos mananciais: com base na qualidade potencial


dos mananciais, no desenvolvimento urbano previsto, nos
custos e na capacidade de controle da ocupação da bacia, são
selecionados os mananciais para a cidade;

 6) Definição de programa de controle do uso do espaço e


preservação da bacia: um programa de conservação da bacia
deve ser elaborado visando preservar as condições de
qualidade e quantidadeda água como fonte de manancial;

108
MANANCIAIS URBANOS

 esse programa poderá conter: ocupação pública de áreas


através de parques, incentivos com impostos de áreas
pre-servadas, reflorestamentos, agricultura sem uso de
defensivos químicos, entre outros;

 7) Projeto de aproveitamento da água: desenvolvimento do


projeto de aproveitamento do manancial dentro dos estágios
de desenvolvimento e uso da comunidade;

 8) Programa sistemático de monitoramento da qualidade da


água dos mananciais selecionados: monitoramento da
quantidade e da qualidade da água em locais estratégicos,
para acompanhamento de qualquer alteração que
eventualmente possa ocorrer;

109
MANANCIAIS URBANOS

 9) Mecanismos de controle institucionais da preservação das


bacias mananciais: legislação estadual ou municipal específica
de preservação dos mananciais selecionados.

 10) Controle do espaço: o monitoramento do espaço da bacia


é essencial devido ao grande número de invasões e
loteamentos clandestinos que ocorrem nas cidades brasileiras;

 esse processo somente é possível com um forte investimento


na educação ambiental da população do município.

110
CONTROLE DO IMPACTO DA URBANIZAÇÃO
Princípios

 Os princípios básicos do controle de enchentes tanto devido às


enchentes naturais da várzea como à urbanização são os
seguintes (Tucci & Genz, 1995):

 A bacia como sistema - O Plano de Controle de Enchentes de


uma cidade ou região metropolitana deve contemplar as
bacias hidrográficas sobre as quais a urbanização se
desenvolve.

 As medidas não podem reduzir o impacto de uma área em


detrimento de outra, ou seja, os impactos de quaisquer
medi-das não devem ser transferidos.

111
CONTROLE DO IMPACTO DA URBANIZAÇÃO

 As medidas de controle no conjunto da bacia - O controle de


enchentes envolve medidas estruturais e não-estruturais, que
dificilmente estão dissociadas.

 As medidas estruturais envolvem custos que a maioria das


cidades não pode enfrentar.

 Além disso, resolvem somente problemas específicos e


localizados, sem criar um programa para toda a bacia ou
região urbana de interesse.

112
CONTROLE DO IMPACTO DA URBANIZAÇÃO

 Isso não significa que este tipo de medida seja totalmente


descartável.

 A política decontrole de enchentes certamente poderá


chegar a soluções estruturais para alguns locais, dentro da
visão de conjunto de toda a bacia, em que as mesmas
estão racionalmente integradas com outras medidas
preventivas (não-estruturais) e compatibilizadas com o
desenvolvimento urbano.

 Os meios - Os meios de implantação do controle de enchentes


são o Plano Diretor Urbano, Legislação Municipal/Estadual e
Manual de Drenagem. O primeiro estabelece as linhas
principais, a Legislação controla e o Manual orienta.

113
CONTROLE DO IMPACTO DA URBANIZAÇÃO

 O horizonte de expansão - Depois que a bacia, ou parte da


mesma, estiver ocupada, dificilmente o poder público
conseguirá responsabilizar aqueles que estiverem ampliando a
cheia,

 portanto, se a ação pública não for realizada


preventivamente, através do gerenciamento, as
consequências econômicas e sociais futuras serão muito
maiores para todo o município.

 O Plano Diretor Urbano deve contemplar o planejamento


das áreas a serem desenvolvidas e a densificação das
áreas atualmente loteadas.

114
CONTROLE DO IMPACTO DA URBANIZAÇÃO

 O critério fundamental de não ampliar a cheia natural - A cheia


natural não deve ser ampliada pelos que ocupam a bacia, seja
num simples loteamento ou nas obras existentes no ambiente
urbano.

 Isso se aplica a um simples aterro urbano, à construção de


pontes, rodovias e, fundamentalmente, à impermeabilização
dos loteamentos.

 O princípio é que, de cada usuário urbano, não deve ampliar


a cheia natural.

115
CONTROLE DO IMPACTO DA URBANIZAÇÃO
 O controle permanente - O controle de enchentes é um
processo permanente, não basta estabelecer regulamentos e
construir obras de proteção, é necessário estar atento às
potenciais violações da legislação e à expansão da ocupação
do solo das áreas de risco.
 Portanto, recomenda-se que:
 nenhum espaço de risco deve ser desapropriado se não
houver uma imediata ocupação pública que evite a sua
invasão;
a comunidade deve ter uma participação nos anseios,
nos planos, na sua execução e na contínua obediência
às medidas de controle de enchentes.

116
CONTROLE DO IMPACTO DA URBANIZAÇÃO
 A educação - A educação de engenheiros, arquitetos,
agrónomos, geólogos, entre outras profissões, da população e
de administradores públicos é essencial para que as decisões
públicas sejam tomadas conscientemente por todos.

 A administração — A administração da manutenção e controle


é um processo local e depende dos municípios, através da
aprovação de prójetos de loteamentos, obras públicas e
drenagens. Os aspec-tos ambientais são também verificados
na implantação da rede de drenagem.

117
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

 As medidas para controle da inundação podem ser do tipo


estrutural e não-estrutural.

 As medidas estruturais são aquelas que "modificam o sistema


fluvial", evitando os prejuízos decorrentes das enchentes,

 enquanto as medidas não-estruturais são aquelas em que os


prejuízos são reduzidos "pela melhor convivência da população
com as enchentes".

 O controle de enchentes pode ser obtido pela combinação de


medidas desse tipo ou isoladamente por uma delas.

118
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS
Medidas estruturais

 As medidas estruturais são obras de engenharia


implementadas para reduzir o risco das enchentes.

 Essas medidas podem ser extensivas ou intensivas.

 As medidas extensivas são aquelas que agem na bacia,


procurando modificar as relações entre precipitação e vazão,

 como a alteração da cobertura vegetal do solo, que reduz e


retarda os picos de enchentes e controla a erosão da bacia.

119
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

 As medidas intensivas são aquelas que agem no rio e podem


ser de três tipos (Simons.et ai, 1977):

 (i) aceleram o escoamento: construção de diques e polders,


aumento da capacidade de descarga dos rios e corte de
meandros;

 (ii) retardam o escoamento: reserva-tórios e bacias de


amortecimento;

 (iii) desviam o escoamento: são obras como canais e desvios.

120
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

 Essas medidas são as que vêm sendo utilizadas na engenharia


com custos muito altos.

 As mesmas não são apresentadas neste texto já que podem


ser encontradas em vários livros de hidráulica.

Medidas não-estruturais

 As medidas não-estruturais não são projetadas para dar uma


proteção completa. Isso exigiria a proteção contra a maior
enchente possível.

121
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

 Essa proteção é fisicamente e economicamente inviável na


maioria das situações.

 A medida estrutural pode criar uma falsa sensação de


segurança, permitindo a ampliação da ocupação das áreas
inundáveis, e futuramente pode resultar em danos
significativos.

 As medidas não-estruturais, em conjunto com as anteriores, ou


sem essas, podem minimizar significativamente os prejuízos
com um custo menor.

122
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

 O custo de proteção de uma área inundada por medidas


estruturais geralmente é superior ao de medidas não-
estruturais.

 As principais medidas não-estruturais são as seguintes:

 instalação de vedação temporária ou permanente nas


aberturas das estruturas;

 elevação de estruturas existentes;

123
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

 construção de pequenas paredes ou diques circundando a


estrutura;

 relocação ou proteção de artigos que possam ser


danificados dentro de uma estrutura existente;

 uso de material resistente à água;

 regulamentação da ocupação da área de inundação por


cercamento;

124
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

 regulamentação do loteamento e código de construção;

 compra de áreas de inundação;

 seguro de inundação;

 previsão de cheia e plano de evacuação;

 construção de novas estruturas sob pilotis;

125
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

 incentivos fiscais para uso prudente da área de


inundação;

 política de desenvolvimento adequado ao município,


evitando prejuízos da inundação.

Zoneamento

 Para definição do zoneamento, é necessário preparar um


"mapa de inundação".

 O mapa de inundação é composto de linhas que indicam as


áreas atingidas para um determinado risco de inundação.

126
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS
 Para construção do mapa de inundação para planejamento da
ocupação, pode-se utilizar a seguinte sequência:

 As cotas para vários tempos de retorno na seção do


rio junto à cidade são determinadas com base na
curva de probabilidade de vazão máxima e transformadas
em cotas através da curva de descarga.

 Para cada tempo de retorno (vazão) é determina-


da uma linha de água ao longo da cidade, por
meio do cálculo de remanso.

 Escolha do tempo de retorno,

127
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

 Determinação da cota correspondente para cada seção do


posto fluviométrico.

 Utilizar a declividade da linha de água para determinar os


níveis das outras seções ao longo do eixo do rio dentro da
cidade.

 Prolongamento da linha da seção do rio, até encontrar a


cota topográfica correspondente na margem.

 Ligar os pontos marcados nas margens definindo a curva


correspondente ao tempo de retorno.

128
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS
 O zoneamento é a definição de um conjunto de regras
para ocupação das áreas de maior risco de inundação,
visando à minimização futura das perdas materiais e
humanas em face das cheias.

 O Watér Resources Council (1971) definiu zoneamento


por "Zoneamento envolve a divisão de unidades
governamentais em distritos e a regulamentação dentro
desses distritos de:

 (a) usos de estruturas e da terra;


 (b) altura e volume das estruturas;
 (c) o tamanho e a densidade de uso".

129
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

 O risco de ocorrência de inundação varia com a respectiva cota


da várzea, como foi apresentado anteriormente.

 A delimitação dos distritos do zoneamento depende das cotas


altimétricas.

 O rio possui um ou mais leitos. O leito menor corresponde à


seção do escoamento em regime de níveis médios ou de
cheias pequenas.

 Esse leito menor co-tuma ser definido naturalmente pela


média das enchentes (tempo de retorno de cerca de dois
anos).

130
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS
 O leito maior é a várzea que sofre inundações com risco
superior a dois anos e tem sido delimitada na cota superior
p,ela cheia de cem anos.

 Para o zoneamento, a seção do rio pode ser dividida em três


partes principais:

 Zona de passagem da enchente - Essa parte da seção


funciona hidraulicamente e permite o escoamento da
enchente. Qualquer construção nessa área reduzirá a de
escoamento, elevando os níveis a montante dessa seção.
Deve-se deixar essa faixa desobstruída.

131
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

 Zona com restrições - Essa é a área restante da superfície


inundável que deve ser regulamentada.

Essa zona fica inundada, mas devido às pequenas


profundidades e baixas velocidades, não contribui muito para o
escoamento.

 Zona de baixo risco - Pequena probabilidade de inundar, mas


necessita de regulamentação para a convivência da população
com as enchentes, na eventualidade dessas cotas serem
atingidas.

132
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

Previsão em tempo real

 O controle de enchentes por meio de zoneamento e depois


com a existência de diques "exige a previsão em tempo real
dos níveis para a cidade".

 Um sistema de alerta de previsão tempo real envolve os


seguintes aspectos:

 sistema de coleta e transmissão de informações;

 sistema de processamento de informações;


133
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

 modelo de previsão de vazões e níveis;

 procedimentos para acompanhamento e transferência de


informações para a Defesa Civil e Sociedade;

 planejamento das situações de emergência através


da Defesa Civil.

 Os três primeiros itens envolvem o estabelecimento de


procedimentos técnicos específicos e a modelagem do local de
interesse.

134
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS
 Normalmente, estas atividades são desenvolvidas por
entidades que operam a rede de alerta estadual.

 Os dois itens seguintes envolvem a transferência dos níveis


para população por meio de diferentes condições que podem
ser as seguintes:

 Nível de acompanhamento - Nível a partir do qual existe um


acompanhamento por parte dos técnicos, da evolução da
enchente.

Nesse momento, é alertada a Defesa Civil, sobre a


eventualidade da chegada de uma enchente. Inicia-se, nesse
momento, a previsão de níveis em tempo real.
135
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

 Nível de alerta - A partir do qual as entidades prevêem que a


cota inferior e prévia à que pode produzir prejuízos será
atingida dentro de um horizonte de tempo da previsão.

A Defesa Civil e as administrações municipais passam a


receber regularmente as previsões para a cidade.

 Nível de emergência — Quando é previsto que dentro do tempo


estimado será atingida a cota que produz prejuízos. A
população passa a receber as informações.

136
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

Essas informações são o nível atual e previsto com


antecedência e o intervalo provável dos erros, obtidos dos
modelos.

 As ações de planejamento envolvem:

 Emergência — A sociedade local, com a prefeitura deve


organizar a Defesa Civil para os atendimentos de emergência.

Esse planejamento deve estabelecer procedimentos de


evacuação e convivência com a inundação para diferentes
partes da cidade, de acordo com faixas de cotas.

137
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS
 O "mapa de alerta" é preparado com valores de cotas em cada
esquina da área de risco.

 Com base na cota absoluta das esquinas, deve-se transformar


esse valor na cota referente à régua.

 Isso significa que, quando um determinado valor de nível de


água estiver ocorrendo na régua, a população saberá quanto
falta para inundar cada esquina,

 o que auxilia a convivência com a inundação durante a sua


ocorrência.

138
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS
 Para que esse mapa possa ser determinado, é necessário
obter todas as cotas de cada esquina e realizar o seguinte:

 para cada cota de esquina, traçar uma perpendicular do


seu ponto de localização com relação ao eixo do rio;

 considerar a cota da referida esquina como sendo a mesma


nesta seção do rio;

 obter a declividade da linha de água. Escolher o tempo de


retorno, aproximadamente pela faixa (mapa de
planejamento) em que se encontra a esquina;

 A cota da régua da esquina será:


139
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

CR=CT±DxDist

 onde CR é cota da régua;


 CTé a cota topográfica da esquina;
 D é declividade ao longo do rio e
 Dist é a distância, ao longo do rio, entre a seção da régua.

 O sinal será negativo se a esquina estiver a montante da seção


da régua, enquanto será positivo se estiver a jusante.

140
CONTROLE DE CHEIAS NAS ÁREAS RIBEIRINHAS

 O valor a ser colocado no mapa é CR. No entanto, caso a


população esteja mais acostumada com o valor da régua, e
não da sua cota absoluta, deve-se utilizar o nível da régua, que
é:
NR= CR-ZR

 onde NR é o nível da régua;


 CR é a cota da régua e
 ZR é a cota do zero da régua.

141
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
Quantificação do impacto da urbanização sobre o escoamento

 Para que se possa efetivamente planejar o impacto do


desenvolvimento urbano, é necessário quantificar os impactos
decorrentes das alterações da bacia hidrográfica.

 A avaliação do impacto da urbanização sobre o escoamento


pode ser realizada pelo método racional em relação à
"microbacia urbana" (alguns hectares), dentro do conceito de
vazão de projeto (Bidone & Tucci, 1995; Tucci e Genz, 1995).

142
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Para a "macrobacia urbana" existem dificuldades adicionais


que são as seguintes:

(i) como a bacia se desenvolverá no futuro?

(ii) considerando que o processo de ocupação normalmente


ocorre de jusante para montante, como quantificar futuros
cenários nos projetos e controle da drenagem?

143
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Os métodos utilizados podem ser os seguintes:

 (i) Métodos estatísticos - Estes métodos utilizam-se de dados


não-homogêneos de vazão para estimar o impacto da
urbanização.

Usualmente, necessitam de uma grande quantidade de


informações em diferentes sub-bacias.

A metodologia se baseia na regionalização de vazões máximas


(Nerc, 1975), utilizando como indicador da urbanização a
parcela urbanizada.

144
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
 Esse tipo de procedimento requer informações que, na maioria
das bacias, não existem.

 Tucci (1996) utilizou e regionalizou a curva de vazão média das


bacias rurais para estimar a vazão média de enchente natural
da Bacia do Rio Belém e comparou com a vazão média de
cheia atual (Figura 2.5).
Figura 2.5 - Vazão média
de enchente, Q função da
área das bacias para
postos na região
metropolitana de Curitiba.

145
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

(ii) Modelos matemáticos - Determinam a vazão máxima com


base na precipitação,

já que dificilmente existem dados hidrológicos monitorados ao


longo do tempo que permitam determinar,

para diferentes tempos de retorno, a diferença entre os


cenários de pré-desenvolvimento e depois de urbanizado,
principalmente em bacias urbanas brasileiras.

146
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 O cálculo é realizado com base no risco (tempo de retorno) da


precipitação, o que não é necessariamente o mesmo risco da
vazão.

 No entanto, as técnicas de determinação da distribuição da


precipitação e definição dos parâmetros buscam maximizar as
condições críticas das cheias (Tucci, 1995), buscando
compensar parte dessas incertezas.

 Para utilizar os modelos hidrológicos, é necessária a


estimativa:

147
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

(i) das áreas impermeáveis e do tempo de concentração para a


rede de drenagem da bacia e para o cenário de futura
urbanização;

(ii) dos parâmetros dos modelos com base em dados de bacias


brasileiras.

 O planejamento urbano é implementado por meio do plano


diretor da cidade e a densidade habitacional é o parâmetro de
planejamento para cada subdivisão desta (e bacia).

 Essa densidade é implementada pelas seguintes restrições:


índice de ocupação e índice de aproveitamento.

148
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 O primeiro estabelece a área ocupada em planta

 e o segundo se refere ao "solo criado", ou seja, a relação entre


a área construída e a área do terreno.

 Para transferir esses elementos para o modelo hidrológico, em


macrobacias urbanas, permitindo a estimativa dos cenários de
planejamento urbano,

 é necessário converter densidade habitacional em áreas


impermeáveis.

149
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Como no planejamento urbano não são especificados o


arruamento e a distribuição das quadras, mas os
condicionantes da ocupação,

 tornou-se necessário estabelecer a relação entre essas


variáveis para as macrobacias.

 SCS (1975) utilizou a área impermeável e o tempo de


concentração da bacia como os indicadores da alteração
urbana para simular os dois cenários em macrobacias
urbanas.

150
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Nesse modelo, os autores apresentam valores típicos de áreas


impermeáveis, de acordo com o tipo de ocupação prevista
(residencial, comercial e industrial).

 Para o tempo de concentração, são apresentados fatores de


correção, de acordo com a área impermeável e a parcela da
bacia com condutos pluviais.

 Motta & Tucci (1984) estabeleceram duas curvas que


relacionam área impermeável e densidade habitacional para a
Bacia do Arroio Dilúvio, em Porto Alegre.

151
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
 Tucci* et ai (1989) estabeleceram essa relação para a cidade
de São Paulo com base em dados de 11 bacias urbanas e,

 recentemente, Campana & Tucci (1994) apresentaram essa


relação com base nos dados de Curitiba, Porto Alegre e São
Paulo.

 Na Tabela 4.1, são apresentados os valores da curva ajustada.


Os dados utilizados não fazem distinção entre o tipo de
concentração urbana, já que abordavam áreas com pelo
menos 2 km2.

 Essa tabela retrata bacias com predominância da ocupação


residencial e declividade média.

152
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
 Pode-se observar na Tabela 4.1, que o valor máximo encontra-
se em 66,7%. O valor adotado pelo SCS (1975) para áreas
residen-ciais com lotes menores que 500 m2, típico da
ocu-pação urbana brasileira, é de 65%.

FONTE: Adaptado de Campana ér Tucci, 1994.

153
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Para o tempo de concentração, Motta & Tucci (1984) eTucci et


ai, (1989), utilizaram um fator de correção, baseado no
comprimento do canal entre bacias urbanizadas e rurais.

 Campana (1995) utilizou geoprocessamento para estimar a


relação entre o tempo de concentração de uma bacia urbana e
rural, através de uma hipotética malha urbana.

 Tucci (2003) apresentou uma equação para o tempo de


concentração em função da área imper-meável com base em
dados de 12 bacias urbanas brasileiras, utilizada em
associação com o hidrograma unitário.
154
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
 A equação é a seguinte:

Tc=712,21. A0,397
AI0,691

 Onde Tc é obtido em minutos,

 A é a área da bacia em km2

 e AI é a área impermeável em %.

155
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Com base nesses elementos, é possível estimar a alteração do


hidrograma devido ao cenário futuro de desenvolvimento
urbano,

 previsto nos Planos Diretores de Planejamento Urbano para


macrobacias urbanas.

 Esses métodos quantitativos são essenciais para estimar as


vazões máximas

 e os volumes para os cenários atuais e futuros do


desenvolvimento urbano e avaliar as medidas de controle.

156
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
Medidas de controle

 As medidas de controle do escoamento podem ser


classificadas, de acordo com sua ação na bacia hidrográfica,
em:

 Distribuída ou na fonte - É o tipo de controle que atua sobre


lotes, praças e passeios.

 Na microdrenagem — E o controle que age sobre o hidrograma


resultante de um ou mais loteamentos.

 Na macrodrenagem - É o controle sobre os principais riachos


urbanos.

157
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 As medidas de controle podem ser organizadas de acordo com


a sua ação sobre o hidrograma em cada uma das partes das
bacias mencionadas acima, em:

Infiltração e percolação — Normalmente, cria espaço para que


a água tenha maior infiltração e percolação no solo, utilizando
o armazenamento e o fluxo subterrâneo para retardar o
escoamento superficial.

158
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Armazenamento - Através de reservatórios, que podem ser de


tamanho adequado para uso numa residência até terem porte
para a macrodrenagem urbana (alguns milhares de m3).

O efeito do reservatório urbano é o de reter parte do volume do


escoamento superficial, reduzindo o seu pico e distribuindo a
vazão no tempo.

159
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Aumento da eficiência do escoamento – Através de condutos e


canais, drenando áreas inundadas.

Esse tipo de solução tende a transferir enchentes de uma área


para outra, mas pode ser benéfico quando utilizado em
conjunto com reservatórios de detenção.

Diques e estações de bombeamento – Solução tradicional de


controle localizado de enchentes em áreas urbanas que não
possuam espaço para amortecimento da inundação.

160
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Medidas de controle distribuído

 As principais medidas de controle localizado no lote,


estacionamento, parques e passeios são denominadas,
normalmente, de controle na fonte (source control).

 As principais medidas são as seguintes:

 o aumento de áreas de infiltração e percolação;

 o armazenamento temporário em reservatórios residenciais


ou telhados.
161
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
 As principais características do controle local do escoamento
são as seguintes (Urbonas & Stahre, 1993):

 aumento da eficiência do sistema de drenagem de jusante


dos locais controlados;

 aumento da capacidade de controle de enchentes dos


sistemas;

 dificuldade de controlar, projetar e fazer manutenção de um


grande número de sistemas;

 os custos de operação e manutenção podem ser altos.

162
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Este tipo de sistema tem sido adotado em muitos países pela


legislação apropriada ou

 como um programa global de controle de enchentes, como


descrito por Yoshimoto & Suetsugi (1990) para a Bacia do Rio
Tsururni,

 onde foram construídos cerca de 500 reservatórios de


retenção de 1,3 m3.

 Instalações comerciais, industriais e esportivas que


impermeabilizam o solo numa proporção significativa devem
ser responsabilizadas pela distribuição de volume,

163
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 evitando que aumente a vazão máxima a jusante;

 caso contrário, reduz-se a capacidade dos condutos de


transportar a cheia, provocando inundação.

 Em geral, o agente causador do acréscimo da vazão fica a


montante do local de sua consequência.

 Sendo assim, se não houver regulamentação e educação


sobre o assunto, os impactos se multiplicarão, como já
acontece em grande parte das cidades brasileiras.

164
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Infiltração e percolação — Os sistemas urbanos, como


mencionado anteriormente,

criam superfícies impermeáveis que não existiam na bacia


hidrográfica,

gerando impactos de aumento do escoamento, que é


transportado através de condutos e canais.

Estes dispositivos hidráulicos apresentam custos diretamente


relacionados com a vazão máxima, aumentada pela
impermeabilização.

165
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Para reduzir esses custos e minimizar os impactos a jusante,

 uma das ações é a de permitir maior infiltração da


precipitação, criando condições, o mais próximas possível, às
condições naturais.

 As vantagens e desvantagens dos dispositivos que permitem


maior infiltração e percolação são as seguintes (Urbonas &
Stahre, 1993):

166
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 aumento da recarga;

 redução de ocupação em áreas com lençol freático baixo;

 preservação da vegetação natural;

 redução da poluição transportada para os rios;

 redução das vazões máximas a jusante;

167
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 redução do tamanho dos condutos;

 os solos de algumas áreas podem ficar impermeáveis com o


tempo;

 falta de manutenção;

 Aumento do nível do lençol freático, atingindo construções


em subsolo.

168
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 A "infiltração" é o processo de transferência do fluxo da


superfície para o interior do solo.

 A "capacidade de infiltração" depende das características do


solo e do estado de umidade de sua camada superior,
denominada também de zona não-saturada.

 A velocidade do fluxo de água através da camada não-saturada


do solo até o lençol freático (zona saturada), é denominada de
"percolação".

 A percolação também depende do estado de umidade da


camada superior do solo e do tipo de solo.

169
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Determinados tipos de solo apresentam maiores dificuldades


de percolação e pequeno volume de armazenamento, o que
inviabiliza seu uso, já que poderão:

 (i) manter níveis de água altos por muito tempo na superfície;

 (ii) ter pouco efeito na redução do volume final do hidrograma.

170
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Os principais dispositivos para criar maior infiltração são


discutidos a seguir.

Planos de infiltração - Existem vários tipos, de acordo com a


sua disposição local.

Em geral, essas áreas são gramados laterais que recebem a


precipita-ção de uma superfície permeável, como residências
ou edifícios (Figura 4.1).

Durante precipitações intensas, essas áreas podem ficar


submersas se sua capacidade for muito inferior à intensidade
da precipitação.

171
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Caso a drenagem transporte muito material fino, a capacidade


de infiltração pode ser reduzida, necessitando limpeza do
plano para manter sua capacidade de funcionamento.

Figura 4. l - Planos de infiltração com valo de infiltração.


172
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Valos de infiltração — Estes são dispositivos de drenagem


lateral, muitas vezes utilizados paralelos às ruas, estradas,
estacionamentos e conjuntos habitacionais, entre outros
(Figura 4.2).

Fig. 4.2 - Valos de infiltração. FONTE: Urbonas Stahre, 1993.


173
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Esses valos concentram o fluxo das áreas adjacentes e criam


condições para uma infiltração ao longo do seu comprimento.

Após uma precipitação intensa, o nível sobe e, como a


infiltração é mais lenta, mantém-se com água durante algum
tempo.

Portanto, seu volume deve ser o suficiente para não ocorrer


alagamento.

174
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Esse dispositivo funciona, na realidade, como um reservatório


de detenção, à medida que a drenagem que escoa para o valo
é superior à capacidade de infiltração.

 Nos períodos com pouca precipitação ou de estiagem, ele é


mantido seco.

 Esse disposifivo permite, também, a redução da quantidade de


poluição transportada a jusante.

175
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Bacias de percolação - Dispositivos de percolação dentro de


lotes permitem, também, aumentar a recarga e reduzir o
escoamento superficial.

 O armazenamento é realizado na camada superior do solo e


depende da porosidade e da percolação.

 Portanto, o lençol freático deve ser baixo, criando espaço para


armazenamento.

176
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Para áreas de lençol freático alto, esse tipo de dispositivo não


é recomendado.

 As bacias são construídas para recolher a água do telhado e


criar condições de escoamento através do solo.

 Essas bacias são construídas removendo-se o solo e


preenchendo-o com cascalho, que cria o espaço para o
armazenamento (Figura 4.3).

177
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 De acordo com o solo, é necessário criar melhores condições


de drenagem. Para o solo argiloso, com menor per-colação, é
necessário drenar o dispositivo de saída.

Figura 4.3 - Exemplo de bacia de percolação. FONTE: Holmstrand, 1984.


178
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 A principal dificuldade encontrada com o uso desse tipo de


dispositivo é o entupimento dos espaços entre os elementos
pelo material fino transportado,

 portanto, é recomendável ô uso de um filtro de material


geotêxtil. De qualquer forma, é necessária a sua limpeza após
algum tempo (Urbonas & Stahre, 1993).

179
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Dispositivos hidráulicos permeáveis - Existem diferentes tipos


de dispositivos que drenam o escoamento e podem ser
construídos de forma a permitir a infiltração.

Alguns destes dispositivos são:

 entradas permeáveis na rede de drenagem: na Figura 4.4a,


observa-se um filtro, na parte superior da caixa, para evitar
entupimento;

180
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Figura 4.4 - Dispositivos hidráulicos permeáveis.


FONTE: Fujita, 1984.

181
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 trincheiras ou valas permeáveis: são um caso especial de


bacia de percolação e consistem de uma caixa com
cascalho e filtro por onde passa um conduto poroso ou
perfurado (Figura 4.4b);

 meio fio permeável: esse dispositivo é utilizado fora do lote


ou dentro de condomínios, indústrias ou áreas comerciais
(Figura 4Ac).

182
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Pavimentos permeáveis - O pavimento permeável pode ser


utilizado em passeios, estacionamentos, quadras esportivas e
ruas de pouco tráfego.

Em ruas de grande movimento, esse pavimento pode ser


deformado e entupido, tornando-se impermeável.

Esse tipo de pavimento pode ser de concreto ou de asfalto e é


construído da mesma forma que os tradicionais, com a
diferença de que o material fino é retirado da mistura.

183
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Além dessas superfícies tradicionais, existem os pavimentos


construídos com módulos de blocos de concreto vazado.

Quando esses pavimentos são construídos para reter parte da


drenagem, é necessário que sua base esteja, pelo menos, 1,2
m acima do lençol freático no período chuvoso.

A base é drenada com canos perfurados espaçados de 3 a


8 m.

184
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
O sistema de drenagem deve prever o esgotamento do volume
existente na camada do solo num período de seis a doze horas
(Urbonas & Stahre, 1993).

As vantagens desse tipo de controle podem ser as seguintes:

 redução do escoamento superficial previsto em relação à


superfície impermeável;
 redução dos condutos da drenagem pluvial;
 redução de custos do sistema de drenagem pluvial e da
lâmina de água de estacionamentos e passeios.

185
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Ás desvantagens são:
 a manutenção do sistema para evitar que fique colmatado
com o tempo;
 maior custo direto de construção (sem considerar o
benefício de redução dos con-dutos);
 contaminação dos aquíferos.

Armazenamento — O armazenamento pode ser efetuado em


telhados, em pequenos reservatórios residenciais, em
estacionamentos em áreas esporti-vas, entre outros.

186
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Telhados - O armazenamento em telhados apresenta algumas


dificuldades, que são a manutenção e o reforço das estruturas.

 Devido às características do clima brasileiro e ao tipo de


material usualmente utilizado nas coberturas, esse tipo de
controle dificilmente seria aplicável à nossa realidade.

 Lotes urbanos - O armazenamento no lote pode ser utilizado


para amortecer o escoamento, em conjunto com outros usos,
como abastecimento de água, irrigação de grama e lavagem de
superfícies ou de automóveis.

187
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Na Figura 4.5, é apresentado um reservatório deste tipo.

Figura 4.5 - Reservatório com usos variados. FONTE: Fujita, 1993.


188
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Em regiões com pequena capacidade de distribuição de água,


a precipitação nos telhados é escoada diretamente para um
poço subterrâneo e, depois, clorada para uso doméstico.

 A água coletada em telhados de centros esportivos pode ser


coletada diretamente para uso de limpeza.

 Considerando-se uma superfície de 120 m2, com uma


precipitação anual de 1500 mm, é possível obter-se 360 m3
por ano, que, distribuídos, representam cerca de 15 m3 por
mês, o suficiente para abastecer uma residência.

189
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
 Evidentemente que, à medida que o reservatório é mantido
com água, reduz-se sua capacidade de amortecimento.

 O volume V (m3) de um reservatório é dimensio-nado com base


numa vazão limite Qa (m3/s) a ser mantida para jusante com
base na equação seguinte (válido para áreas de até 2 km2).

 onde A é a área do lote ou loteamento em km2;


 C o coeficiente de escoamento da área A;
 os coeficientes a, b e d correspondem aos coeficientes da
equação de intensidade duração e frequência para um
determinado tempo de retorno do local e
 t é a duração da chuva.
190
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Esta duração é estimada por:

 Onde:

 Essa equação é resolvida por iteração. O valor de Qa depende


da restrição adotada na regulamentação ou da capacidade
existente no sistema.

191
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 A cidade de Porto Alegre adotou para novos empreendimentos


o limite de 20,8 l/s(km2), baseado no coeficiente de
escoamento de 0,15, chuva de uma hora e dez anos de tempo
de retorno.

 Introduzindo este valor na equação anterior, em unidades


adequadas, e os parâmetros da equação da cidade para dez
anos e a expressão para o coeficiente de escoamento obtida
por Tucci (2000).

C =0,15 +.0,80 AI

 onde AI é a. área impermeável (entre O e 1).

192
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 A equação do volume resulta numa equação em função


apenas da área impermeável que é

V = 4,25. A. AI

 Onde A é a área em hectares, AI é área imper-meável em %


(diferente da anterior) e V o volume em m3.

193
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
Medidas de controle no loteamento
 A medida de controle de escoamento na microdrenagem
tradicionalmente utilizada

 consiste em drenar a área desenvolvida através de condutos


pluviais até um coletor principal ou riacho urbano.

 Esse tipo de solução acaba transferindo para jusante o


aumento do escoamento superficial com maior velocidade,

 já que o tempo de deslocamento do escoamento é menor que


nas condições preexistentes.

194
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Dessa forma, acaba provocando inundações nos troncos


principais ou na macrodrenagem.

 Como foi apresentado anteriormente, a impermeabilização e a


canalização produzem aumento na vazão máxima e no
escoamento superficial.

 Para que esse acréscimo de vazão máxima não seja


transferido a jusante,

 utiliza-se o amortecimento do volume gerado, por meio de


dispositivos como tanques, lagos e pequenos reservatórios
abertos ou enterrados, entre outros.

195
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
 Essas medidas são denominadas de controle a jusante
(downstream control).

 O objetivo das bacias ou reservatórios de detenção é minimizar


o impacto hidrológico da redução da capacidade de
armazenamento natural da bacia hidrográfica.

 Esse controle tem as seguintes vantagens e desvantagens


(Urbonas & Stahre, 1993):

 custos reduzidos, se comparados à um grande número de


controles distribuídos;

196
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 custo menor de operação e manutenção;

 facilidade de administrar a construção;

 dificuldade de achar locais adequados;

 custo de aquisição da área;

 reservatórios maiores têm oposição por parte da


população.

197
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Esse controle tem sido utilizado quando existem restrições, por


parte da administração municipal,

 ao aumento da vazão máxima devido ao desenvolvimento


urbano e, assim, já foi implantado em muitas cidades de
diferentes países.

 O critério normalmente utilizado é que a "vazão máxima da


área, com o desenvolvimento urbano,

 deve ser menor ou igual à vazão máxima das condições


preexistentes para um tempo de retorno escolhido".

198
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
Características e funções dos reservatórios
 Os reservatórios de detenção são utilizados de acordo com o
objetivo do controle desejado.

 Esse dispositivo pode ser utilizado para:

 Controle da vazão máxima — Este é o caso típico de controle


dos efeitos de inundação sobre áreas urbanas.

O reservatório é utilizado para amortecer o pico a jusante,


reduzindo a seção hidráulica dos condutos e mantendo as
condições de vazão preexistentes na área desenvolvida.

199
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Controle do volume — Normalmente, este tipo de controle é


utilizado quando os escoamentos cloacal e pluvial

 são transportados por condutos combinados ou quando


recebe a água de uma área sujeita à contaminação.

 Como a capacidade de uma estação de tratamento é limitada,


é necessário armazenar o volume para que possa ser tratado.

 O reservatório também é utilizado para a deposição de


sedimentos e depuração da qualidade da água, mantendo seu
volume por mais tempo dentro do reservatório.

200
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 O "tempo de detenção", que é a diferença entre o centro de


gravidade do hidrograma de entrada e o de saída,

 é um dos indicadores utilizados para avaliar a capacidade de


depuração do reservatório.

 Controle de material sólido - quando a quantidade de


sedimentos produzida é significativa, esse tipo de dispositivo
pode reter parte dos sedimentos para que sejam retirados do
sistema de drenagem.

201
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
 Esses reservatórios podem ser dimensionados para manterem
uma lâmina permanente de água (retenção)

 ou secarem após o seu uso, durante uma chuva intensa para


serem utilizados com outras finalidades (detenção) (Figura
4.6a).

 A vantagem da manutenção da lâmina de água e do


consequente volume morto é que não haverá crescimento de
vegetação indesejável no fundo,

 sendo o reservatório, mais eficiente para controle da qualidade


da água.

202
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Fig. 4.6 - Reservatórios para controle de material sólido. FONTE: Maidment, 1993.

203
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 O seu uso integrado, junto a parques, pode permitir um bom


ambiente recreacional.

 A vantagem de utilização desse dispositivo seco é que pode ser


utilizado para outras finalidades.

 Uma prática comum consiste em dimensionar uma área com


lâmina de água para escoar uma cheia frequente,

 como a de dois anos, e planejar a área de extravasamento com


paisagismo e campos de esporte para as cheias acima da cota
referente ao risco mencionado.

204
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Quando a mesma ocorrer, será necessário realizar apenas a


limpeza da área atingida, sem maiores danos a montante ou a
jusante.

 Na Figura 4.6, são apresentados, de forma esquemática, o


reservatório mantido seco e o com lâmina de água.

 Os reservatórios ou bacias de detenção mantidas secas são os


mais utilizados nos Estados Unidos, Canadá e Austrália.

205
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Fig. 4.6 - Reservatórios para controle de material sólido. FONTE: Maidment, 1993.

206
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 São projetados, principalmente, para controle da vazão, com


esvaziamento de até seis horas e com pouco efeito sobre a
remoção de poluentes.

 Aumentando-se a detenção para 24 a 60 h, poderá haver


melhora na remoção de poluentes (Urbonas & Roesner, 1994).

 Esse tipo de dispositivo retém uma parte importante do


material sólido.

207
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Os reservatórios de detenção com lâmina de água permanente


são mais eficientes no controle de poluentes.

 Nos reservatórios que se mantêm secos, mas que estão


ligados diretamente à drenagem, existe uma seção menor para
o escoamento durante as estiagens.

 Nesse caso, é conveniente que o fundo dessa drenagem seja


de concreto para facilitar a limpeza.

208
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
 Esse tipo reservatório pode ter um fundo natural, escavado ou
de concreto.

 Os reservatórios em concreto são mais caros, mas permitem


paredes verticais, com aumento de volume. Isso é útil onde o
espaço tem um custo alto.

 ASCE (1985) menciona que as instalações de detenção desse


tipo, que tiveram maior sucesso, foram as que se integraram a
outros usos, como a recreação, já que a comunidade, no seu
cotidiano, usará esse espaço.

 Portanto, é desejável que o proje-to desse sistema esteja


integrado ao planejamento do uso da área.
209
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

Localização

 Como já mencionado, os reservatórios podem ser abertos ou


enterrados, de acordo com as condições de sua localização.

 Em locais onde o espaço seja reduzido ou seja necessário


manter-se uma superfície superior integrada com outros usos,
pode-se utilizar reservatórios subterrâneos;

 no entanto, o custo desse tipo de solução é superior ao dos


reservatórios abertos.

210
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS

 Quando a drenagem utiliza a folga de volume do sistema para


amortecimento, ele é chamado de on – line.

 No caso em que o escoamento é transferido para a área de


amortecimento, após atingir uma certa vazão, o sistema é
denominado off-line.

 A localização depende dos seguintes fatores:

211
CONTROLE DE ENCHENTES EM ÁREAS URBANIZADAS
 Em áreas muito urbanizadas, a localização depende da
disponibilidade de espaço e da capacidade de interferir no
amortecimento.

Se existe espaço somente a montante, que drena pouco


volume, o efeito será reduzido.

 Em áreas a serem desenvolvidas, deve-se procurar localizar


o reservatório nas partes de pouco valor, aproveitando as
depressões naturais ou parques existentes.

Um bom indicador de localização são as áreas naturais que


formam pequenos lagos antes do seu desenvolvimento.

212
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM
 O controle de vazões na macrodrenagem urbana pode ser
realizado por medidas estruturais ou não-estruturais (item
anterior).

 As principais medidas estruturais são:

 canalização, reservatório de amortecimento e diques em


combinação com polders.

213
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM

 As medidas não-estruturais envolvem:

 o zoneamento de áreas de inundações pela regulamentação


do uso do solo com risco de inundação, ocupção com áreas de
lazer, seguros contra inundações e previsão em tempo atual,
entre outras.

214
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM
Planejamento no controle da macrodrenagem
 O controle do impacto do aumento do escoamento devido à
urbanização, na macrodrenagem, tem sido realizado, na
realidade brasileira, pela canalização.

 O canal é dimensionado para escoar uma vazão de projeto


para tempos de retorno que variam de 25 à cem anos.

 Considere a bacia da Figura 4.7. No primeiro estágio a bacia


não está totalmente urbanizada,

 e as inundações ocorrem no trecho urbanizado, onde algumas


áreas não estão ocupadas, pois inundam com frequência.
215
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM

216
Figura 4.7 - A ocupação da bacia hidrográfica e suas consequências.
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM

217
Figura 4.7 - A ocupação da bacia hidrográfica e suas consequências.
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM

 Com a canalização desse trecho, as inundações deixam de


ocorrer.

 Nas áreas que antes eram o leito maior do rio e sofriam


frequentes inundações, existiam "favelas", ou eram
desocupadas.

 Essas áreas tornam-se valorizadas pela suposta segurança do


controle de enchentes.

 O loteamento dessas áreas leva a uma ocupação nobre, de


alto investimento.
218
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM

 Com o desenvolvimento da bacia de montante e o respectivo


aumento da vazão máxima,

 que não e controlada pelo poder público, voltam a ocorrer


inundações no antigo leito maior.

 Nessa etapa, não existe mais espaço para ampliar


lateralmente o canal, sendo necessário aprofundá-lo,

 aumentando os custos em escala quase exponencial, já que é


necessário estruturar as paredes do canal.

 Estes custos podem chegar a valores de US$ 50 milhões/km.


219
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM
 Esse processo, encontrado em muitas cidades brasileiras,
pode ser evitado pelo uso combinado das medidas
mencionadas dentro do planejamento urbano,

 utilízando-se os princípios de controles citados no início deste


capítulo.

 Para o planejamento de controle da bacia, quando a mesma


ainda está no primeiro estágio, pode-se utilizar o seguinte
(Figura 4.8):

220
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM
1) Regulamentação do uso do solo e ocupação, pelo poder
público, das áreas naturalmente inundáveis.

2) Combinar essas áreas, para atuarem como bacias de


detenção urbanas.

Figura 4.8 - Planejamento de controle de bacia no


221
primeiro estágio de urbanização.
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM

3) Regulamentar a microdrenagem para não ampliar a


enchente natural, tratando cada distrito ou sub-bacia de
acordo com sua capacidade e transferência a jusante.

Neste caso, é estudada cada sub-bacia e definido o risco


de inundação que cada empreendedor deve manter nas
condições naturais.

4) Utilizar parques e as áreas mencionadas anteriormente para


amortecer e preservar os hidrogramas entre diferentes sub-
bacias.

5) Prever subsídios de impostos para as áreas de inundações e a


troca de solo criado por compra de áreas de inundações.
222
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM

6) Nenhuma área desapropriada pelo poder público pode ficar


sem implantação de infraestrutura pública, parque ou área
esportiva; caso contrário, será invadida.

 Wisner & Cheung (1982) apresentaram, conforme Tabela 4.2,


uma comparação entre outras alternativas e o uso de parques
para amortecimento.

223
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM

FONTE: Wisner á Cheung, 1982.

224
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM
 Na Figura 4.9, são apresentados o parque e os fluxos numa
área urbana.

b - o parque e a rede de drenagem

Figura 4.9 - Parque de armazenamento.


FONTE: Wisner e Cheung, 1982.
a -parque 225
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM

 Quando a bacia encontra-se num estágio avançado de


desenvolvimento,

 a tendência é que as medidas estruturais predominem, com


custos altos.

 No entanto, pode-se minimizar esses custos através do


aumento da capacidade de amortecimento na bacia urbana,

 buscando recuperar, o máximo possível, o amortecimento


natural pela exploração de todas as áreas possíveis.

226
MEDIDAS DE CONTROLE NA MACRODRENAGEM
 Yoshimoto & Suetsugi (1990) descreveram as medidas
tomadas para reduzir

 a frequência de inundações no Rio Tsurumi, dentro da área da


cidade de Tóquio.

 A bacia foi subdividida em três: retenção, retardo e áreas


inferiores, e definida a vazão de controle.

 Na área de retenção, foram obtidos 2,2 milhões de m3 para


amortecimento através de ação municipal, além de outras
medidas de retardo.

 Essas ações reduziram os prejuízos para enchentes recentes.

227
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA

 O Plano Diretor de Drenagem Urbana é o mecanismo de


planejamento para buscar a sustentabilidade das cidades
quanto aos aspectos da drenagem urbana.

 A realidade brasileira apresenta características que dificultam


a implementação de alguns destes princípios.

 Os principais problemas identificados estão a seguir.

228
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA
1. Nas áreas de periferia das grandes cidades, onde o lote tem
menor valor agregado, existe uma ponderável implementação
de loteamentos clandestinos nas áreas privadas (sem
aprovação legal na prefeitura).

2. Ocorre invasão em áreas públicas (áreas verdes) reservadas


pelo plano diretor ou de propriedade pública.

Devido ao caráter social da população envolvida, a


consolidação se dá pela implementa-ção de água e luz nas
habitações.

3. As áreas ribeirinhas com risco de enchentes têm sido


ocupadas principalmente pela população de baixa renda,
tendo como consequências, frequentes impactos devido às
enchentes.
229
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA

 Como mencionado, as invasões dificultam a regulamentação


das áreas de periferia

 onde o plano diretor é pouco obedecido, no entanto, no


restante da cidade, o processo de densificação (construção de
moradias, comércio e indústria)

 tende a acompanhar a regulamentação, o que permite um


controle sobre áreas em que os loteamentos foram
implantados.

230
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA

Componentes do plano

 O plano possui quatro componentes fundamentais:


 política,

 medidas de controle,

 produtos e

 programas.

 A política define princípios (item anterior), objetivos, cenários e


risco de planejamento, além de outros aspectos estratégicos.

231
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA

 As medidas de controle são:


 estruturais, que atuam sobre os problemas existentes por
meio das obras para conter os impactos,
 e não-estruturais,que atuam sobre a prevenção e envolvem
medidas institucionais e de prevenção de impactos.

 Os produtos são a regulamentação ou a legislação para conter


o impacto futuro, recomendações sobre a gestão da cidade, o
plano de ação para a cidade e para cada sub-bacia urbana e o
manual de drenagem.

232
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA

 Os programas são ações de médio e longo prazo, necessárias


para complementar as ações do plano como capacitação,
monitoramento, estudos específicos.

Objetivos

 Um Plano Diretor de Drenagem Urbana deve buscar:

 (a) planejar a distribuição da água no tempo e no espaço,


com base na tendência de ocupação urbana
compatibilizando este desenvolvimento e a infraestrutura
para evitar prejuízos econômicos e ambientais;

233
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA
 (b) controlar a ocupação de áreas de risco de inundação por
meio de restrições nas áreas de alto risco e;
 (c) convivência com as enchentes nas áreas de baixo risco.

Medidas de controle

 As medidas devem analisar as bacias com potencial de


desenvolvimento urbano e constante do Plano de
Desenvolvimento Urbano da cidade.

 Os cenários de desenvolvimento devem envolver:

 (a) cenário atual;


234
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA
 (b) cenário previsto no plano de desenvolvimento da cidade;
 (c) cenário de ocupação máxima.

 Esse último trata de tendência de desobediência ou mudança


do plano urbano e depende de cada cidade.

 As medidas de controle estruturais são definidas por sub-bacia


de drenagem urbana e estabelecido um plano de ação.

 Em cada sub-bacia deve-se procurar desenvolver o plano nas


seguintes etapas:

 (a) avaliação da capacidade do sistema atual;


235
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA

 (b) identificação dos locais de alagamento para o cenário de


planejamento escolhido;

 (c) medidas de controle para evitar as inundações para o


cenário de projeto, priorizando o amortecimento das
inundações;

 (d) avaliação e planejamento de emergência para cenários


superiores ao de projeto.

 Este plano envolve a definição, em nível de anteprojeto, das


obras de controle, considerando a sub-bacia como um todo e
mantendo a vazão de saída da sub-bacia no mínimo igual à
capacidade existente.
236
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA
 As medidas não-estruturais envolvem:
 (a) a regulamentação do espaço de inundação (zoneamento
das áreas de inundação) para as áreas ribeirinhas em
caráter específico;

 (b) regulamentação sobre a vazão a ser mantida em novos


empreendimentos, que pode ser para toda a cidade (é o
caso usual) ou para áreas diferenciadas. Esse tipo de
medida evita o aumento da vazão para jusante;

 (c) proposta de ges-tão dentro da cidade para


implementação das medi-das e gestão das inundações
urbanas. Essa medida também envolve toda a cidade.

237
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA
Produtos

 Os produtos são os resultados da atividade anterior, além do


desenvolvimento do manual de drenagem urbana.

 O plano de ação deve ser desmembrado em plano por sub-


bacias e estratégia de desenvolvimento do plano e obras entre
as sub-bacias.

 Existirão medidas nao-estruturais para toda a cidade e


específicas de cada sub-bacia.

 Da mesma forma poderão existir medidas de gestão para toda


a cidade como para sub-bacias.

238
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA
Manual de drenagem urbana

 O Manual de Drenagem Urbana tem como objetivo orientar os


planejadores e projetistas quanto às restrições e métodos
aceitos no dimensionamento da drenagem na cidade e deve
conter o seguinte:

 A) Concepção e princípios do Plano Diretor de Drenagem


Urbana:

Neste capítulo devem estar contidos os principais elementos


que norteiam o desenvolvimento do Plano Diretor e os
princípios básicos,
239
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA

como o controle distribuído na bacia hidrográfica, sem


transferência para jusante, a previsão dos cenários futuros
e seus impactos caso não houvesse controle distribuído
sobre a bacia.

 B) Regulamentação: identificar claramente a regulamentação


exigida na cidade em cada sub-bacia,

como a vazão máxima de saída do desenvolvimento,


incentivos existentes para controle de enchentes e
condições de manutenção dos sistemas.

240
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA
 c) Projeto e critérios: o manual deve procurar orientar sobre as
alternativas potenciais disponíveis sobre o controle da vazão
e os principais cuidados.

No entanto, o manual não necessita especificar como devem


ser elaborados os cálculos,

mas deve especificar os critérios e os métodos básicos aceitos


para a avaliação da regulamentação. Isto envolve, entre
outros:
(a) o tempo de retorno para o qual a vazão não pode ser
ampliada;
(b) controle sobre erosão, a jusante de obras de detenção, se
o canal for sem revestimento;
(c) critério para a manutenção.
241
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA

 Esses elementos exigem um detalhamento maior para cada


cidade dentro de suas peculiaridades,

 no entanto, é uma base inicial que pode auxiliar o


desenvolvimento dos planos,

 viabilizando o controle desse processo dentro do País, onde


hoje representa custos significativos para a sociedade.

242
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA

Programas

 Os programas são ações de médio e longo prazo que


devem ser desenvolvidas para complementar ou dar
sustentabilidade ao plano.

 As principais geralmente são:

a) Capacitação: devido à mudança conceituai do


planejamento da drenagem, é necessário promover o
treinamento da população e de técnicos para se habilitarem
à implementação dos projetos e sua fiscalização.
243
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA

b) Monitoramento: ampliar a medida de variáveis hidrológicas,


o uso do solo, o cadastro de drenagem que permita a
revisão dos projetos e planos em bases técnicas mais
consistentes.

c) Estudos específicos como os que relacionam o


desenvolvimento urbano e as variáveis do plano.

244
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA
Gestão integrada

 Os condicionamentos urbanos são resultados de vários fatores


que não serão discutidos aqui,

 pois se parte do princípio que os mesmos foram definidos


dentro âmbito do Plano Diretor Urbano.

 Além disso, existem várias interfaces com outros sistemas da


infraestrutura de água, como o esgotamento sanitário e os
resíduos sólidos.

245
PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA

 Devido à interferência que a ocupação do solo tem sobre a


drenagem,

 existem elementos do plano de drenagem que são


introduzidos no plano diretor urbano ou na legislação de
ocupação do solo.

 Portanto, o Plano de Drenagem Urbana (PDU) deve ser um


componente do Plano Diretor de Planejamento Urbano de uma
cidade,

 da mesma forma que os elementos do Saneamento Ambiental:


abastecimento de água, esgotamento sanitário e resíduos
sólidos.
246
FIM

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