Professional Documents
Culture Documents
Mestre em Direito pela UNIMEP e doutorando em Ciências Jurídicas e Sociais pela UMSA.
Professor de Direito Civil e Empresarial na UNIP. Advogado especializado em Propriedade
Intelectual.
jcardoso@jurisdoctor.adv.br
Resumo: O presente artigo tem como escopo contribuir com a difusão dos direitos autorais
entre os estudantes que vivem à guisa da produção de obras intelectuais quer no âmbito da
graduação ou da pós-graduação. Visa, sobretudo, transmitir informações doutrinárias e
legais, a fim de que produzam seus trabalhos acadêmicos com maior consciência e
segurança, sem que venham a incorrer em crassa violação de direitos de autor por falta de
conhecimento, quer seja o plágio, contrafação ou outros ilícitos civis e penais. Para que a
violação não ocorra, é necessário reconhecer que o trabalho acadêmico é obra intelectual,
caracterizado como documento e, portanto, protegido pela legislação pátria desde a
Constituição Federal até a lei específica de direitos autorais, bem como pelos acordos e
tratados internacionais dos quais o Brasil é país signatário. Logo, sua violação é tipificada
como crime. Além da orientação de que as normas insculpidas na legislação autoral devam
ser seguidas, a fim de se reconhecer a necessidade e a importância das citações de autores
consagrados e suas obras, ainda que estejam em domínio público, em paralelo, chama-se a
atenção para que as normas editadas pela ABNT sejam igualmente seguidas. Desse
conjunto, evidentemente sem se olvidar da leitura, do estudo e da pesquisa, ao redigir os
trabalhos acadêmicos o estudante estará contribuindo para o desenvolvimento do tema e
para a construção do conhecimento.
“Considero o direito de autor um dos direitos sagrados, se posso exprimir-me assim. Cumpre zelá-lo e
defendê-lo. Nada mais belo do que a criação espiritual. Se fosse possível, devia ser pago em mirra, incenso
3
e ouro.”
1
O presente artigo foi publicado na forma livre no livro intitulado “Encontros de Reflexões”, 2006, p. 35-48. O
presente texto foi revisado, atualizado e ampliado.
2
O autor é Mestre em Direito pela UNIMEP e doutorando em Ciências Jurídicas e Sociais pela UMSA. Cursou
pós-graduação em Administração de Empresas na EEP e Direito da Economia e da Empresa na FGV/RJ.
Cursou Propriedade Intelectual, e Direito de Autor e Direitos Conexos, pela Organização Mundial de
Propriedade Intelectual; Propriedade Industrial pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial e pela Escola
da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro; e Propriedade Intelectual para Gestores de Tecnologia,
módulos básico e avançado, pela UNICAMP, INPI e OMPI. É Professor de Direito Civil e Comercial na
Universidade Paulista, nos cursos de Direito e Administração de Empresas. Foi Professor de Propriedade
Industrial na Faculdade de Direito da UNIMEP e nos cursos de pós-graduação em Administração de
Empresas da Escola de Engenharia de Piracicaba e da Faculdade de Engenharia de Sorocaba. É Advogado
especializado em propriedade intelectual e foi Agente da Propriedade Industrial.
1 Introdução
Nos últimos anos, muito se tem digladiado acerca da proteção das obras intelectuais,
representadas por qualquer manifestação, quer sejam as obras escritas, a música, a pintura,
a escultura, a fotografia, as cartas geográficas, as obras arquitetônicas, os projetos de
engenharia, o programa de computador e as demais obras protegíveis pelos direitos
autorais, no âmbito das obras literárias, artísticas ou científicas.
Talvez, seja esta a razão intuitiva pela qual se têm poucos especialistas em direitos autorais
no Brasil, contribuindo sobremaneira para a lenta disseminação da matéria em todos os
segmentos da sociedade, desde os públicos empresarial e consumidor, até mesmo o
acadêmico ou universitário.
Outro fato que chamou a atenção é um crescente número de violação de direitos autorais,
quer no trabalho acadêmico durante os cursos de graduação e pós-graduação, quer nos
trabalhos de conclusão de curso. Desde reproduções de trechos inteiros sem as devidas
citações dos autores até cópias literais de um trabalho todo.
Um dos fatores que em muito tem contribuído para esta prática não só ilegal quanto
antiética, é a farta disponibilidade de trabalhos completos e de artigos publicados na internet,
notadamente para a pesquisa pública, acadêmica ou científica, o que não quer dizer que
estas publicações sejam de domínio público, e autorizariam, em tese, a cópia e/ou
reprodução indevida de textos inteiros ou suas partes, com ou sem citação dos autores e
suas fontes.
3
CEREJEIRA, D. Manuel Gonçalves apud CHAVES, Antônio. Direito de autor. 1987. p. 4.
4
Don Manuel Gonçalves Cerejeira (1888-1977), Estudou na Faculdade de Teologia de Coimbra de 1909 a 1911,
tornando-se professor e sacerdote. Doutorou-se em Letras em 1918. Foi Cardeal Patriarca de Lisboa, o chefe
da Igreja Católica portuguesa, de 1929 a 1971. Em 1967, inaugurou a Universidade Católica Portuguesa. Cf. CITI. Centro
de Investigação para Tecnologias Interactivas. No mesmo sentido: Cf. Paróquias de Portugal. O cardeal. 2002.
5
GANDELMAN, Henrique. De Gutenberg à internet: Direitos autorais na era digital. 1997. p. 26.
6
Ibid. p. 25.
Essa realidade inspirou a produção do presente artigo, que ainda que seja em largas
pinceladas, tem o claro intuito de oferecer uma orientação simples e prática não só aos
acadêmicos que vivem à guisa da produção de trabalhos escritos, quer no âmbito da
graduação ou da pós-graduação, como também aos professores do ensino médio e técnico,
que preparam e dão a base para os alunos freqüentarem a universidade; evitando-se assim,
a prática de atos ilícitos, notadamente da contrafação em propriedade intelectual, ou
violação de direitos autorais.
O presente artigo está dividido em sete partes, iniciando-se com um breve histórico dos
direitos autorais, seguido pela conceituação de propriedade intelectual e de direito autoral,
passando-se a tratar em seguida, de seus fundamentos jurídicos, dos prazos de proteção e
do domínio público. Na seqüência, aborda-se o trabalho acadêmico enquanto obra
intelectual, bem como enquadrando-o na figura jurídica de documento e tratando a seguir
das violações dos direitos autorais, até se chegar à prática da elaboração do trabalho, sem
contudo, se violar as normas, quer sejam de direitos autorais, quanto as NBR’s da ABNT.
CLOVIS BEVILAQUA acentua que “foi com a descoberta da imprensa e da gravura que,
facilitada a multiplicação dos escritos e obras de arte, se tornaram possíveis a exploração
industrial das produções do espírito, e o conseqüente reconhecimento de um novo direito”.
Disserta ainda que inicialmente se concederam os privilégios de reprodução das obras
intelectuais primeiro aos editores e, somente depois, aos autores.8
Somente no início do século XVI é que apareceram os primeiros privilégios concedidos aos
escritores na Inglaterra, sendo um deles a Reginald Wolf; e em 1530, ao londrino Jean
Palsgrave, graduado em Paris, concedeu-se o privilégio de venda de sua gramática
francesa, por sete anos. Neste mesmo século já se concediam privilégios e autorizações
para os autores de obras literárias na França.9
Um dos mais antigos documentos da história do direito autoral alemão foi a Ordenança de
Nuremberg de 1623, que visava reprimir a reprodução não autorizada independentemente
do autor ter o respectivo privilégio, e no mesmo sentido, em 1660, houve uma decisão do
Senado de Frankfurt.10
7
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA. Abc do direito de
autor. 1984. p. 13.
8
BEVILAQUA, Clovis. Direito das coisas. 1956. v. 1. p. 234.
9
Ibid. p. 234-235.
10
Ibid. p. 235.
Somente em 1723 que a primeira norma legal de direito de autor surgiu em França, quando
estabeleceu o seu Droit d’Edition, que consistia no “direito de fixar por signos gráficos e de
publicar uma obra”, nascendo aí a proteção das obras literárias.14
No Brasil, a primeira noção legal de direitos de autor surgiu com a lei de 11 de agosto de
1827, quando Dom Pedro I criou os dois primeiros cursos de Ciências Jurídicas no país,
garantindo aos professores a proteção às obras intelectuais que criarem para o ensino de
suas referidas disciplinas.
Somente a partir desta Convenção internacional que o Brasil incluiu em seu texto
constitucional a proteção dos direitos de autor aos brasileiros e estrangeiros residentes no
país, insculpida na Constituição de 1891, ainda que a Constituição do Império, de 1824, já
dispusesse em seu art. 179, XXVI, os princípios de proteção aos direitos de propriedade
industrial.15
Este importante e complexo ramo do direito veio, ao longo do tempo, sendo estudado e
conhecido por várias nomenclaturas, algumas utilizadas ainda hoje em vários países,
conquanto outras foram sendo abandonadas e substituídas por denominações mais
modernas.
Uma delas é direitos intelectuais, inaugurada por EDMOND PICARD17 antes mesmo da
Convenção de Berna. Como ensina o professor e senador belga, “la division tripartite
romaine: Droits personnels, Réels, Obligationnels. Les droits intellectuels ajoutés comme 4ª
11
SOARES, José Carlos Tinoco. Direitos de autor nas obras artísticas. In: Regime das patentes e royalties.
1972. p. 119.
12
Tradução livre: Lei para o encorajamento do estudo, protegendo as publicações durante o tempo aqui
mencionado.
13
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, op. cit., p. 15.
14
SOARES, op. cit., p. 119-121.
15
CARDOSO, João Augusto. Breve histórico dos direitos autorais no Brasil e no mundo. 2002. p. 9.
16
BEVILAQUA, Clovis. Direito das coisas. 1956. v. 1. p. 235. No mesmo sentido: SOARES, op. cit., p. 121.
17
PICARD, Edmond. Le droit pur. 1899. p. 119.
Cette situation m’avait d’autant plus frappé que je m’étais livré à une étude spéciale des droits
intellectuels protégés par les Brevets d’Invention. Je meditai la question. En 1877, j’eus l’audace
de proposer d’ajouter un quatrième terme à la Division classique des Romains, sous l’étiquette
20
“Droits intellectuels”.
L’expression «droits intellectuels» a fait son apparition voilà longtemps, déjà, dans la terminologie
juridique: E. Picard l’y a introduite (1) a fin de souligner à la fois la raison d’être et la nature dês
droits patrimoniaux, reconnus aux auteurs et aux inventeus: ceux-ci méritent une telle appellation,
22
parce que le monopole qu’ils comportent se justifie par la création d’une œuvre de l’espirit.
On s’y est même appliqué à éviter le mot “propriété” pour désigner la plénitude du droit sur une
24
production de l’intelligence.
No Brasil, país fortemente influenciado pelo direito europeu, adotou-se desde seus
primórdios a expressão propriedade literária, científica e artística, a exemplo do direito
francês, no qual se espelhou, bem como na Convenção de Berna para a proteção das obras
literárias e artísticas, de 1886, que utilizava como título da matéria a propriété littéraire et
artistique, seguida pela maioria dos países signatários da Convenção.
18
Tradução livre: “A divisão romana em três partes: Direitos Pessoais, Reais e Obrigacionais. Os direitos
intelectuais se acrescentam como uma 4ª termo.”
19
PICARD, Edmond, op. cit., p. 120-121.
20
Tradução livre: “Esta situação me tinha tomado ainda mais por eu ter me entregue a um estudo especial dos
direitos intelectuais protegidos pelas Patentes de Invenção. Eu meditei sobre a questão. Em 1877, tive a
audácia de propor que se acrescentasse um quarto termo à Divisão clássica dos Romanos, sob o título de
"Direitos intelectuais”.
21
DESBOIS, Henri. Le droit d’auteur. 1950. p. 294.
22
Tradução livre: “A expressão «direitos intelectuais» teve seu aparecimento há muito tempo; já, na terminologia
jurídica, E. Picard a introduziu com o fim de acentuar ao mesmo tempo, a razão de ser e a natureza dos
direitos patrimoniais reconhecidos aos autores e aos inventores; estes merecem tal distinção, porque o
monopólio que comportam se justifica pela criação de uma obra do espírito.”
23
PICARD, Edmond, op. cit., p. 120-121.
24
Tradução livre: “Também se costuma dizer Propriedade artística, Propriedade literária, Propriedade industrial,
como se diz propriedade de um imóvel ou um móvel material (p. 120). Foi aplicável mesmo evitar a palavra
‘propriedade’ para designar a plenitude do direito sobre uma produção da inteligência” (p. 121).
O “direito de autor” tem atualmente as mesmas denominações em vários países, dos quais
destacamos por sua proximidade lingüística o Droit D'auteur dos franceses, o Diritto D'autore
dos italianos, como o Derecho de Autor dos espanhóis, seguido pelos países de língua
espanhola. Entretanto, os ingleses e os norte-americanos utilizam a expressão Copyright,
cujo sistema de proteção se difere sensivelmente do brasileiro, por se tratar do “direito de
reprodução”.
A primeira expressão supracitada no presente título, qual seja a propriedade intelectual, vem
definida pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual – OMPI, com sede em
Genebra, Suíça, sendo este um dos 14 órgãos especializados da Organização das Nações
Unidas, justamente na Convenção que a criou em 1967, cuja definição que abaixo se
transcreve também é verbete de seu glossário oficial de termos e definições:
26
PROPRIÉTÉ INTELLECTUELLE.
Dans la Convention instituant l’OMPI il faut entendre par “propriété intellectuelle”, les droits relatifs
: aux oeuvres littéraires, artistiques et scientifiques, aux interprétations des artistes interprètes et
aux exécutions des artistes exécutants, aux phonogrammes et aux émissions de radiodiffusion,
aux inventions dans tous les domaines de l’activité humaine, aux découvertes scientifiques, aux
dessins et modèles industriels, aux marques de fabrique, de commerce et de service, ainsi qu'aux
noms commerciaux et dénominations commerciales, à la protection contre la concurrence
déloyale; et tous les autres droits afférents à l’activité intellectuelle dans les domaines industriel,
27
scientifique, littéraire et artistique.
Antes de se definir direito autoral, convém ressaltar que, como se verificou acima, este é
espécie do gênero “propriedade intelectual”, e tem sede no Direito Civil. Didaticamente,
podemos dizer que a propriedade intelectual é o gênero que abarca duas espécies
principais: os direitos autorais e a propriedade industrial, sendo esta segunda, matéria
compreendida pelo Direito Comercial.28 Dentre as espécies, outros autores também
classificam os “conhecimentos tradicionais” e os “cultivares”. Considera-se, aqui, as duas
principais espécies citadas – o Direito de Autor e a Propriedade Industrial – como “direitos
especiais”, quer sejam entendidas como espécies ou subespécies do gênero propriedade
intelectual.
25
MENDONÇA, José Xavier Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro. v. 5. 1963. p. 12.
26
PROPRIÉTÉ INTELLECTUELLE. Cf. ORGANISATION MONDIALE DE LA PROPRIÉTÉ
INTELLECTUELLE. Glossaire: terms et définitions. 2002. p. 49. Cf. Convenio de la OMPI. Art. 2, (viii).
1967.
27
Tradução livre: PROPRIEDADE INTELECTUAL. Na Convenção que instituiu a OMPI ela faz entender por
“propriedade intelectual”, os direitos relativos: às obras literárias, artísticas e científicas, as interpretações dos
artistas intérpretes e as execuções dos artistas executantes, dos fonogramas e as emissões de radiodifusão,
as invenções em todos os campos da atividade humana, as descobertas científicas, os desenhos e modelos
industriais, as marcas de fábrica, de comércio e de serviço, assim como aos nomes e denominações
comerciais, a proteção contra a concorrência desleal, e a todos os demais direitos relativos a atividade
intelectual nos terrenos industrial, científico, literário e artístico.
28
CARDOSO, João Augusto. Direitos autorais dos engenheiros e arquitetos. Juris Doctor: revista jurídica, 2002.
Direito autoral é o que tem o autor de obra literária, científica ou artística, de ligar o seu nome às
produções do seu espírito e de reproduzi-las, ou transmiti-las. Na primeira relação, é
29
manifestação da personalidade do autor; na segunda, é de natureza real, econômica.
Um outro conceito de direito de autor que merece ser considerado é dado pela OMPI30, que
além de tratar dos institutos protegidos, cuida da finalidade e de uma compensação pela
criação intelectual, como se verifica na citação abaixo:
Em breve noção, pode-se assentar que o Direito de Autor ou Direito Autoral é o ramo do Direito
Privado que regula as relações jurídicas, advindas da criação e da utilização econômica de obras
32
intelectuais estéticas e compreendidas na literatura, nas artes e nas ciências.
Em sua obra Diritto D’Autore, AMEDEO GIANNINI33 disserta que “la convenzione di Berna
dispone all’ art. 2, primo comma, che il termine ‘opere letterarie ed artistiche’ comprende
‘toutes les productions du domaine littéraire, scientifique et artistique’.”34
A diferença essencial, que existe entre direito de autor e o de propriedade material, revela-se
tanto pelo modo de aquisição originário (único título: criação da obra), como pelos modos de
aquisição derivados, lembrando Bluntschli que no direito autoral uma perfeita transferência não
29
BEVILAQUA, Clovis. Direito das coisas. 1956. v. 1. p. 233. Também citado por: Cf. CHAVES, Antônio. Direito
de autor. 1987. p. 16.
30
OMPI. El concepto de derecho de autor, antecedentes históricos y marco internacional. In: Curso de derecho
de autor y derechos conexos. 2003. p. 5.
31
Tradução livre: “Por direito de autor se entende um conjunto de direitos exclusivos determinados à proteção
das obras literárias e artísticas. A finalidade do direito de autor é promover as ciências, a cultura e as artes.
Por isso se oferece uma compensação aos criadores de tais obras e se trata de alcançar um equilíbrio entre
os direitos desses criadores e os direitos dos empresários, como os editores, os organismos de radiodifusão,
as empresas discográficas, etc., e os direitos do público.”
32
BITTAR, Carlos Alberto. Direito de autor. 1994. p. 8. No mesmo sentido: Cf. Id., 1989. p. 15.
33
GIANNINI, Amedeo. Il diritto d’autore. 1943. p. 251.
34
Tradução livre: “a Convenção de Berna dispõe em seu art. 2º, inciso primeiro, que o termo obra literária e
artística compreende todas as produções do domínio literário, científico e artístico”.
Em nosso magistério, ao contrário das obras protegidas pela propriedade industrial, como as
marcas, as patentes, os desenhos industriais, etc., sendo que estes institutos só gozam da
proteção legal a partir da expedição do competente certificado de registro ou carta patente,
as obras tuteladas pelos direitos autorais independem do registro.36 Isto é, os direitos do
autor nascem no exato momento da concepção de sua obra intelectual e independem de
quaisquer outras formalidades administrativas ou jurídicas. O registro não é obrigatório por
lei, mas serve de presunção de autoria e como prova documental (que goza de fé pública)
em caso de disputa judicial.
Quanto aos direitos de autor, pode-se dividir didaticamente o direito autoral em duas esferas,
a fim de uma melhor compreensão da matéria e elucidação de uma gama de dúvidas ou
confusões que fazem as pessoas de uma forma em geral, quando tratam indevidamente do
assunto. São elas: os “direitos morais” de autor e os “direitos patrimoniais” (do autor ou do
respectivo titular).
São direitos morais de autor, o direito de paternidade da obra de sua criação intelectual, o
direito de reivindicar a qualquer tempo sua autoria; o direito de ter seu nome associado à
mesma; o direito de ver sua obra original e inalterada, dentre outros. Estes direitos morais
são inalienáveis e irrenunciáveis, na forma do art. 27 da Lei Autoral. Ou seja, após a criação
da obra, o criador sempre será seu autor e jamais poderá renunciar sua autoria nem
transferir a respectiva “autoria” a terceiros, a qualquer título.
Nessa esteira de reprodução é que melhor se enquadra, a nosso ver, o chamado copyright,
que segundo MILLER e DAVIS37, ao traçarem em sua conhecida obra os principais objetivos
do copyright, tem-se o seguinte trecho:
The essence of copyright is originality, which implies that the copyright owner or claimant
originated the work. By contrast to a patent, however, a work of originality need not be novel. An
author can claim copyright in a work as long as he created it himself, even if a thousand people
created it before him. Originality does not imply novelty; it only implies that copyright claimant did
not copy from someone else. From that definition of originality comes the common but true
example that an author could gain a copyright on the Romeo and Juliet story as long as he made it
up himself and did not copy it from Shakespeare. Such a copyright would prevent anyone else
from copying the work of the copyright owner (but it would not prevent others from copying
38
Shakespeare’s creation since that is in the public domain).
35
CHAVES, Antônio. Direito de autor. 1987. p. 16.
36
CARDOSO, João Augusto. Do nome empresarial e sua tutela jurídica em face da marca registrada. 2004.
p. 22.
37
MILLER, Arthur R.; DAVIS, Michael H. Intellectual property: patents, trademarks, and copyright. 1990. p. 290.
38
Tradução Livre: A essência do copyright é a originalidade, que implica que o titular protegido por direitos
autorais, ou pretendente, originaram o trabalho. Ao contrário de uma patente, porém, um trabalho de
originalidade não necessita ser novo, inédito. Um autor pode reivindicar direitos autorais de um trabalho
contanto que ele o tenha criado, até mesmo se mil pessoas tivesses criado isto antes dele. Originalidade não
Por tratar o presente artigo sobre direitos autorais no trabalho acadêmico, muito oportuno
ratificar que Dom Pedro I ao criar os dois primeiros cursos jurídicos no Brasil, através da Lei
de 11 de agosto de 1827, um em São Paulo e outro em Olinda, desde logo estabeleceu a
primeira norma de direitos autorais em seu art. 7º, que abaixo se reproduz, ipsis litteris:
Art. 7.º - Os Lentes farão a escolha dos compendios da sua profissão, ou os arranjarão, não
existindo já feitos, com tanto que as doutrinas estejam de accôrdo com o systema jurado pela
nação. Estes compendios, depois de approvados pela Congregação, servirão interinamente;
submettendo-se porém á approvação da Assembléa Geral, e o Governo os fará imprimir e
fornecer ás escolas, competindo aos seus autores o privilegio exclusivo da obra, por dez annos.
No tocante à natureza jurídica dos direitos autorais, muito se debateu sobre ser esta uma
propriedade ou não; e enquanto propriedade, se atinente aos direitos pessoais, reais ou
intelectuais, e mesmo quanto ao seu enquadramento dentre as antigas nomenclaturas, bem
como modernas, quer como propriedade literária, artística e científica, direitos intelectuais ou
mesmo enquanto propriedade imaterial ou propriedade intelectual. Isso posto, CHAVES
disserta em sua obra que o
implica novidade; só implica que o pretendente de direitos autorais não copiou de outra pessoa. Daquela
definição de originalidade vem a coisa comum, mas verdadeiro exemplo de que um autor pudesse obter
direitos autorais da história de Romeu e Julieta, contanto que ele a tivesse criado e não copiado de
Shakespeare. Esses tais direitos autorais visam prevenir qualquer um de copiar o trabalho de um titular
protegido pelos direitos de autor (mas não impediria outros de copiarem a criação de Shakespeare, desde
que ela esteja em domínio público).
39
Art. 28 da atual Lei de Direitos Autorais: Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra
literária, artística ou científica. Cf. Art. 649 do Código Civil de 1916: Ao autor de obra literária, científica ou
artística, pertence o direito exclusivo de reproduzi-la.
40
BEVILAQUA, Clovis. Código civil dos Estados Unidos do Brasil commentado. 1950. v. 3, p. 206. No
mesmo sentido, Chaves comenta o art. 29 da revogada Lei nº 5.988/73: Cf. CHAVES, op. cit., p. 428.
41
GIANNINI, Amadeo. Il diritto d’autore. 1943. p. 23.
42
Cf. ITÁLIA. Codice Civile. Art. 2575 Oggetto del diritto. Formano oggetto del diritto di autore le opere
dell'ingegno di carattere creativo che appartengono alle scienze, alla letteratura, alla musica, alle arti
figurative, all'architettura, al teatro e alla cinematografia, qualunque ne sia il modo o la forma di espressione.
43
Tradução livre: Art. 511 (atual 2575 cod. civ.) se refere ao conteúdo do direito e dispõe: “Ao autor cabe o direito
exclusivo de publicar sua obra e de utilizá-la economicamente de toda forma e modo, nos limites e pelos
efeitos fixados pela lei”.
Concernente aos fundamentos jurídicos, pode-se afirmar que os direitos autorais classificam-
se dentre os direitos fundamentais, garantidos pela Constituição Federal de 1988 em seu art.
5°, como se transcreve abaixo:
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas
obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
No Brasil, a matéria recepcionada pela constituição é regulada por lei específica, ou seja, a
Lei n° 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998, que “regula os direitos autorais, entendendo-se
sob esta denominação os direitos de autor e os que lhes são conexos”.
Antes disso, o direito de autor era regido pela revogada Lei n° 5.988/73 (apenas o art. 17 e
seus §§ 1° e 2° continuam em vigor até o momento). Somente com a nova lei autoral é que
foram expressamente revogados os arts. 649 a 673 do antigo Código Civil de 1916, que
tratavam no Título II, da Propriedade, Capítulo VI: da Propriedade Literária, Científica e
Artística.
Em sua obra, o professor CHAVES faz uma preleção acerca dos fundamentos dos direitos
autorais, conquanto destaca-se o seguinte trecho:
Além de nossa carta magna e legislação pátria, a proteção autoral das criações intelectuais
também tem assento no art. 27 da Declaração Universal dos Direitos do Homem,
proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1948, da qual o Brasil é país
signatário, como segue:
Artigo 27
44
CHAVES, op. cit., p. 6.
45
BITTAR, Carlos Alberto. Contornos atuais do direito de autor. 1992. p. 26.
46
CHAVES, op. cit., p. 3-4.
II) Todo o homem tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de
qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.
Outro tratado internacional é a Convenção de Roma, para a proteção dos artistas intérpretes
ou executantes, dos produtores de fonogramas e dos organismos de radiodifusão
(Convention de Rome, convention internationale sur la protection des artistes interprètes ou
exécutants, des producteurs de phonogrammes et des organismes de radiodiffusion), de 26
de outubro de 1961.
Também há o Tratado da OMPI sobre Direitos de Autor (Traité de L’OMPI sur le Droit
D’Auteur), adotado pela conferência diplomática de 20 de dezembro de 1996. Estes três
últimos tratados e convenções internacionais são administrados pela Organização Mundial
da Propriedade Intelectual.
47
“A constituição brasileira não determina claramente a sistemática para a aprovação de tratados no Brasil. Na
prática histórica: o Executivo negocia o tratado, remetendo uma mensagem ao Congresso Nacional; se
aprovado nas duas casas legislativas, o Congresso publica um decreto legislativo; o Presidente, então,
determina que se publique o tratado no Diário Oficial da União (geralmente como anexo a um decreto) e
procede à ratificação perante outro Estado ou o depositário, nos tratados multilaterais.” Cf. BARRAL, Welber.
Direito internacional: normas e práticas. 2006. p. 46.
48
“O Congresso Nacional brasileiro, aprovou a Ata Final da rodada Uruguai de Negociações Comerciais
Multilaterais do GATT em 15 de dezembro de 1994, pelo Decreto Legislativo nº 30 de 15/12/94, e o presidente
da República promulgou-a pelo Decreto nº 1355, de 30 de dezembro de 1994, entrando em vigor em 1º de
janeiro de 1995, revogando as disposições em contrário.” Cf. CHINEN, Akira. Know-how e propriedade
industrial. 1997, p. 77.
49
GATT: General Agreement on Tariffs and Trade (Acordo Geral sobre Tarifas Alfandegárias e Comércio).
”Fórum permanente no qual se organizou, desde seu início, grandes conferências para negociar a redução dos
impostos alfandegários e diminuir as barreiras ao comércio internacional. Foi um tratado multilateral
Ainda nesta seara, há nova regra constitucional que complementa o art. 5º da Constituição
Federal, cujo parágrafo terceiro foi incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 30 de
dezembro de 2004, que assim prescreve:
firmado em 1947, em vigor a partir de 1948, que recebeu adesões ao longo de quase 50 anos por países que
representam a mais significativa parcela do comércio mundial. Seu objetivo fundamental foi o de garantir o
funcionamento do princípio de livre comércio no mercado mundial.” Cf. PIMENTEL, Luiz Otávio. Direito
industrial: As funções do direito de patentes. 1999. p. 26, nota nº 21.
50
A importância do acordo sobre o TRIPS: “Com a política de abertura de 1990, visando a globalização, o Brasil
assinou, com outros 120 países, em abril de 1994, em Marrakesh, o acordo sobre o TRIPS (Trade Related
Intellectual Property Rights) Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio, na Ata Final da Rodada Uruguai de Negociações Multilaterais do GATT (General Agreement on
Tariffs and Trade) Acordo Geral de Tarifas e Comércio, onde se estabeleceu a WTO (World Trade
Organization), conhecida entre nós por OMC (Organização Mundial de Comércio), que tem como objetivo
estabelecer entre os países membros, normas gerais para regerem o comércio internacional.” Cf. CHINEN, op.
cit., p. 77.
51
CARMINATTI, Antonella. A aplicação do TRIPS na ordem jurídica interna. Revista da Associação Brasileira
da Propriedade Intelectual, Rio de Janeiro, n. 17, p. 17, jul.-ago., 1995.
No âmbito das convenções, há ainda que se citar a Convenção de Buenos Aires sobre
propriedade literária e artística, assinada em 11 de agosto de 1910, na quarta Conferência
Internacional Americana, que adentrou ao direito interno através do Decreto nº 11.588, de
19/05/1915.
Por todo o exposto, concernente aos fundamentos jurídicos dos direitos de autor, nota-se
pela gama de leis pátrias e tratados ou convenções internacionais, que a matéria já vem
sendo regulada há muito no ordenamento jurídico internacional, desde os primórdios de
1710 com a lei da rainha Ana, na Inglaterra, e timidamente inaugurada no Brasil pela célebre
Lei de Dom Pedro I, de 1827. Mas foi a partir da Convenção de Berna, cujos princípios
basilares se cristalizaram na lei pátria nº 496, de 1898, que estabeleceu a primeira legislação
atinente aos direitos autorais no Brasil.
Atualmente, como se vislumbrou acima, o Brasil contempla a proteção aos direitos de autor
desde a carta constitucional até lei federal específica, sem se olvidar dos tratados ou
convenções dos quais o Brasil é país signatário.
Por fim, em contrapartida ao direito positivo acima amplamente exposto, faz-se das palavras
do professor ANTÔNIO CHAVES as nossas palavras: “se algum direito natural existe, nenhum
poderá ser mais ‘natural’ do que o direito de autor”.56
Dado ao relevo dos direitos morais e patrimoniais que envolvem a matéria atinente à
proteção autoral, estes são regidos tanto pela Constituição Federal e lei nacional própria,
quanto por tratados e convenções internacionais, como já se viu. Apesar dos prazos de
proteção dos direitos de autor serem diferentes em diversos países do mundo, há um prazo
52
BRASIL. Constituição (1891). Constituição da República dos Estados Unidos do Brazil. p. 40 e 44.
53
BEVILAQUA, Clovis. Código civil dos Estados Unidos do Brasil commentado. 1950. v. 3. p. 198.
54
Ibid. p. 200-201.
55
Id. Direito das coisas. 1956. v. 1. p. 236.
56
CHAVES, Antônio. Direito de autor. 1987. p. 4.
O TRIPs adotou em seu texto, especialmente em seu artigo 9º, que os países membros
observarão o disposto nos artigos 1º a 21 da Convenção de Berna. Quanto ao tempo de
proteção das obras intelectuais adotado pelo TRIPs, prescreve em seu art. 12 que o prazo
não será inferior a 50 anos, senão vejamos:
Artículo 12
Duración de la protección
Cuando la duración de la protección de una obra que no sea fotográfica o de arte aplicado se
calcule sobre una base distinta de la vida de una persona física, esa duración será de no menos
de 50 años contados desde el final del año civil de la publicación autorizada o, a falta de tal
publicación autorizada dentro de un plazo de 50 años a partir de la realización de la obra, de 50
años contados a partir del final del año civil de su realización.58
Atualmente no Brasil, a proteção que é dada aos direitos patrimoniais de autor compreende
toda a vida da pessoa e mais 70 anos, contados a partir do dia 1° de janeiro do ano
subseqüente à morte do autor, na forma do art. 41 da Lei nº 9.610/98. À égide da revogada
lei autoral de 1973, bem como e anteriormente, o art. 649, § 1º do Código Civil de 1916,
esses direitos gozavam de 60 anos de proteção.
Entretanto, quando a obra literária, artística ou científica for criada em co-autoria, e esta for
indivisível, o prazo de proteção previsto no art. 41 acima, passará a ser contado a partir da
morte do último dos co-autores sobreviventes, na forma do art. 42. Porém, com relação às
obras anônimas ou pseudônimas, o prazo de proteção será de 70 anos, contudo, contados
da data da primeira publicação da obra. Todavia, se o autor for conhecido durante esse
prazo de vigência da proteção de que trata o art. 43, prescreve seu parágrafo único que a
regra de proteção será aplicada, então, na forma do art. 41, ou seja, de 70 anos após a
morte do autor.
57
Tradução livre: Artigo 7. A duração da proteção acordada para a presente Convenção compreende a vida do
autor e de cinqüenta anos após sua morte.
58
Tradução livre: Artigo 12. Duração da proteção. Quando a duração da proteção de uma obra, que não
fotográfica ou de arte aplicada, for calculada com uma base diferente à da vida de uma pessoa física, esta
duração não será inferior a 50 anos, contados a partir do fim do ano civil da publicação autorizada da obra ou,
na ausência dessa publicação autorizada, nos 50 anos subseqüentes à realização da obra, de 50 anos,
contados a partir do fim do ano civil de sua realização.
59
BEVILAQUA, Clovis. Código civil dos Estados Unidos do Brasil commentado. 1950. v. 3. p. 204. Cf. Art.
649, § 2º do Código Civil de 1916.
60
DOMAINE PUBLIC. Cf. OMPI. Glossaire: termes et définitions. 2002. p. 26.
Ao contrário do que se poderia imaginar, que uma vez em domínio público as obras estariam
sem nenhuma garantia ou proteção, podendo delas se fazer qualquer tipo de uso e que não
haveria ninguém para reclamar, conforme preceitua o § 2º do art. 24 da Lei de Direitos
Autorais, “compete ao Estado a defesa da integridade e autoria da obra caída em domínio
público”. Ainda, a Lei nº 5.805/72, “estabelece normas destinadas a preservar a
autenticidade das obras literárias caídas em domínio público”.
merece ser tratado à parte o direito autoral pela particularidade, com que se apresenta, em face
da ação dissolvente do tempo. Em primeiro lugar, há uma parte do direito autoral, a mais íntima, a
que constitui atributo especial da pessoa, que não se pode perder pela prescrição. Por mais longo
63
que seja o decurso do tempo, um autor conserva sua qualidade.
Quase 2500 anos já passados, Sófocles é sempre o autor de Antígona, Édipo Rei, Electra.
Mesmo que a estátua de Zeus Olímpico (400 anos antes de Cristo) tenha desaparecido,
Fídias é conhecido pela humanidade como seu criador, e igualmente a de Atena, como nos
ensina GANDELMAN.64
O escritor inglês William Shakespeare (1564-1616), autor de Ricardo III, Hamlet e Romeu e
Julieta, dentre tantas outras obras, ainda é considerado o poeta nacional da Inglaterra, e
reconhecido mundialmente como o maior autor dramático de todos os tempos. Luís de
Camões (1525-1580), poeta e dramaturgo português, autor de Os Lusíadas, foi quem,
através de suas obras, contribuiu para que a língua portuguesa se consolidasse.
Isso ocorre porque, como disserta DESBOIS65, “les prérogatives, inhérentes au droit moral,
accompagnent l’œuvre au cours de toute son existence, aussi longtemps qu’elle résistera
aux épreuves du temps”.66
Note-se que, do ponto de vista dos direitos morais de autor, ainda que suas obras já tenham
caído em domínio público, a relação entre o nome do autor e sua obra permanecem,
diferentemente de quando se trata dos chamados direitos patrimoniais de autor.
Imagine que um autor criou uma obra intelectual aos 18 anos. Como já se viu, o direito
nasceu com a concepção da própria obra. Este vem a morrer aos 98 anos. Assim, de acordo
61
No Brasil, os autores estrangeiros domiciliados no exterior gozam da mesma proteção legal que é aplicada em
nosso país, porquanto os brasileiros gozem de reciprocidade de proteção conferida por lei no país em que
tenham domicílio. (Art. 2º e seu parágrafo único da Lei nº 9.610/98).
62
Tradução livre: Domínio público: Pela perspectiva do direito de autor, domínio público significa o conjunto de
todas as obras que podem ser exploradas por qualquer pessoa sem necessidade de nenhuma autorização,
principalmente em razão da expiração do prazo de proteção ou porque não existe um instrumento
internacional que garanta a proteção em caso de obras estrangeiras.
63
BEVILAQUA, Clovis. Theoria geral do direito civil. 1951. p. 411-412.
64
GANDELMAN, Henrique. De Gutenberg à internet: direitos autorais na era digital. 1997. p. 27.
65
DESBOIS, Henri. Le droit d’auteur. 1950. p. 544.
66
Tradução livre: “As prerrogativas inerentes ao direito moral, acompanham a obra ao curso de toda sua
existência, por isto de muito que ela resiste às provas dos tempos”.
Pelo acima exposto, claro está agora, que o fato de uma pessoa adicionar na internet, em
meio digital, publicar ou fazer comunicação ao público de sua obra intelectual, não implica
que esta caiu em domínio público, pois ainda prevalece a proteção de que trata a legislação,
quer quanto aos direitos patrimoniais, quer quanto aos direitos morais de autor. Ainda que o
autor dê expressa autorização para reprodução, implicando ou não na citação da fonte, este
poderá fazê-lo exclusivamente quanto aos direitos patrimoniais, pois está abrindo mão da
possível exploração econômica da obra.
Como já se verificou, a obra somente cai em domínio público, podendo ser “explorada” por
qualquer pessoa, a partir de 70 anos após a morte do autor. A conseqüência prática do
domínio público é a possibilidade de um editor publicar livremente de autorização dos
herdeiros e de proventos de direitos autorais as obras caídas em domínio público, como as
clássicas de Ihering, Maquiavel, Montesquieu, Voltaire, Aristóteles, Gracián e tantos outros
autores, porém, mantendo-se a fidelidade da obra, bem como o nome do autor ou seu
pseudônimo associado à mesma.
À título de exemplo de domínio público e de tradução, este autor do presente artigo, está
traduzindo obra intelectual, cujo original é edição publicada em Amberes, Bélgica, em 1669,
procurando-se manter a fidelidade da obra na tradução, e obrigatoriamente, o nome e o
pseudônimo do autor. Desta futura publicação, somente se possuirá os direitos autorais da
tradução e não do conteúdo intelectual da obra em si, ainda que esteja em domínio público,
pois o autor sempre será seu autor, como já se verificou.
Isso quer dizer que qualquer pessoa poderá publicar e republicar a obra que se encontrar
em domínio público em seu idioma original ou traduzida. Porém, não poderá publicar ou
republicar a tradução ainda protegida pelo direito de autor sem expressa autorização do
tradutor, pois aplica-se ao tradutor os mesmos direitos conferidos ao autor, consoante à
proteção autoral de sua tradução.
Parte-se do princípio que o trabalho acadêmico é fruto da criação intelectual, ou seja, é fruto
da criação da mente humana. Logo, como tal, é obra intelectual, e assim sendo, é instituto
protegido pela legislação autoral.
Contudo, isso não afasta a hipótese de que um dado trabalho acadêmico não possa ser
elaborado através de outro processo qualquer, que não seja simplesmente o escrito,
podendo ser, inclusive, oral, bem como apresentado através da execução de projetos ou
cumprimento de tarefas, cujo resultado final conferirá ao autor os direitos de proteção de
acordo com sua natureza, se obra protegível pelo direito autoral ou pela propriedade
industrial.
em sentido amplo, todos os trabalhos acadêmicos podem ser entendidos como monografias.
Porém, em sentido estrito, dentre os trabalhos acadêmicos, a monografia é o mais basilar. Como
70
expressa a etimologia do vocábulo, é o escrito sobre um tema, com aspectos delimitados.
Ainda que o trabalho acadêmico não vise primeiramente resultados financeiros, EDUARDO
VIEIRA MANSO consigna que,
Conquanto aqui se pretenda demonstrar que além de obra intelectual, o trabalho acadêmico
resulta num documento73, mesmo que NELSON HUNGRIA disserte que “não são documentos
os papéis totalmente datilografados ou impressos (sem firma manuscrita)”, como são a
maioria dos trabalhos apresentados e entregues pelos alunos, porém, mais adiante, o autor
completa sua afirmação prelecionando que também não o são “os escritos que não
representam manifestações de idéias e, em geral, os destituídos de cunho pessoal”.74
Deste modo, ainda que o trabalho acadêmico seja inteiramente impresso, evidentemente,
este é uma obra intelectual, assim, é revestido de cunho pessoal (autoral), bem como
expressa manifestações de idéias, quer sejam particulares do próprio autor do trabalho, ou
67
DISSERTAÇÃO. “Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um
estudo científico retrospectivo, de tema único e bem delimitado em sua extensão, com o objetivo de reunir,
analisar e interpretar informações. Deve evidenciar o conhecimento de literatura existente sobre o assunto e a
capacidade de sistematização do candidato. É feito sob a coordenação de um orientador (doutor), visando a
obtenção do título de mestre.” Cf. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: regra
3.8. 2005. p. 2.
68
TESE. “Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um estudo
científico de tema único e bem delimitado. Deve ser elaborado com base em investigação original,
constituindo-se em real contribuição para a especialidade em questão. É feito sob a coordenação de um
orientador (doutor) e visa a obtenção do título de doutor, ou similar.” Cf. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724. Regra 3.27. 2005. p. 3.
69
TAFNER, Malcon Anderson; TAFNER, José; FISCHER, Juliane. Metodologia do trabalho acadêmico. 1998.
p. 15.
70
CARNEIRO, Maria Francisca. Pesquisa jurídica. 1998. p. 48.
71
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: informação e documentação, trabalhos
acadêmicos, apresentação. 2005. p. 3.
72
MANSO, Eduardo Vieira. Direito autoral. 1980. p. 22.
73
As definições de dissertação e tese, dadas pela ABNT 14724/2005, principiam com a expressão “documento”,
como já se verificou; determinando desde logo, que as monografias são documentos. Segundo a Dra. Maria
Francisca Carneiro, já citada, “dentre os trabalhos acadêmicos, a monografia é o mais basilar”.
74
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal. 1958. v. 9, p. 256.
Para a ABNT, quanto às bases de pesquisa, documento é “qualquer suporte que contenha
informação registrada, formando uma unidade, que possa servir para consulta, estudo ou
prova. Inclui impressos, manuscritos, registros audiovisuais, sonoros, magnéticos e
eletrônicos, entre outros”.75
Documento, in senso proprio, è ogni scrittura fissata sopra mezzo idoneo, dovuta ad un autore
determinato, contenente manifestazioni o dichiarazioni di volontà, ovvero attestazioni di vertà, atte
a fondare o a suffragare una pretesa giuridica o a provare un fatto giuridicamente rilevante, in un
77
rapporto processuale o in altro rapporto giuridico.
São documentos: 1, os escritos em que algum direito ou relação jurídica se afirma; 2, os que se
destinam a provar, ou são afetos a provar qualquer fato de alcance jurídico; 3, os objetos que, por
78
convenção ou pelo costume social, se destinam a provar qualquer fato do “mesmo alcance”.
Documento, en sentido etimológico, es una cosa que docet, esto es, que lleva en sí la virtud de
hacer conocer; esta virtud se debe a su contenido representativo; por eso, documento es una
cosa que sierve para representar otra. Por otra parte, siendo la representación siempre obra del
82
hombre, el documento, más que una cosa, es un opus (resultado de un trabajo).
Mais adiante, CARNELUTTI83 ao referenciar o “autor”, nos ensina que “la importancia de la
consideración del autor del documento resalta porque el documento merece la fe que goce
su autor“.84 Isso quer dizer que, uma vez entregue o documento ou trabalho acadêmico, há
uma simples presunção de autoria, visto que o aluno regularmente matriculado na instituição
75
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação, referências,
elaboração. 2002. p. 2.
76
MANZINI, Vincenzo. Tratatto di diritto penale italiano. 1962. v. 6. p. 645-646. No mesmo sentido: “cioè tutte
le scritture pubbliche o private, fissate sopra mezzi idonei, dovute ad un autore determinato, contenenti
manifestazione o dichiarazioni di volontà, ovvero attestazioni di vertà, atte a fondare o a suffragare una
pretesa giuridica o a provare un fatto giuridicamente rilevante, in un rapporto processuale o in altro rapporto
giuridico”. Cf. op. cit., 1963. v. 9. p. 25.
77
Tradução livre: Documento, em sentido próprio, é toda escrita fixada sobre meio idôneo, provindo de autor
determinado, e contendo manifestações ou declarações de vontade, ou atestações de verdade, aptas a
fundamentar ou apoiar uma pretensão jurídica ou a provar um fato juridicamente relevante, seja em uma
relação processual, seja em qualquer outra relação jurídica.
78
PEREIRA, Virgílio de Sá. Projeto de código criminal. 1933. Artigo 379.
79
CARNELUTTI, Francesco. Teoria del falso. 1935. p. 138-139.
80
Tradução livre: “qualquer coisa idônea à representação de um fato”.
81
Id. Sistema de derecho procesal civil. 1944. v. 2., p. 414.
82
Tradução livre: Documento, em sentido etimológico, é uma coisa que docet, isto é, que leva em si a virtude de
fazer conhecer; esta virtude deve-se a seu conteúdo representativo; por isso, documento é uma coisa que
serve para representar outra. Por outro lado, sendo a representação sempre obra do homem, o documento
mais do que uma coisa, é um opus (resultado de um trabalho).
83
Ibid. p. 415.
84
Tradução livre: a importância da consideração do autor do documento ressalta porque o documento merece a
fé de que goze seu autor.
Logo, uma vez constatada que a autoria do referido trabalho acadêmico é de outrem, ou
seja, em se tratando de plágio, sem prejuízo das sanções civis e penais previstas pela
legislação, o trabalho poderá ser desconsiderado, podendo, inclusive, ser a nota cancelada.
Isso quer dizer que o prejuízo sofrido pelo aluno poderá ser igualmente parcial ou total, ou
seja, se o trabalho acadêmico em questão for requisito fundamental para a obtenção de um
título de licenciado, bacharel, especialista, mestre ou doutor, por exemplo, sua titulação
poderá ser anulada. Se for parcial, poderá ser o aluno reprovado na série ou disciplina em
que a nota do trabalho cancelado for subtraída do cômputo total, e este não obtiver nota
suficiente para promoção ou aprovação.
Como exemplo, note-se que na construção do presente artigo são feitas várias citações de
autores com suas respectivas referências bibliográficas, porquanto fora, também, escrito
com as próprias palavras, com base na experiência profissional, nos conhecimentos
anteriores obtidos através do estudo de muitos livros da área, apostilas, jurisprudência e
legislação, aulas expositivas, cursos, seminários, etc., salvo nos casos, como já foi dito, em
que houve citações de trechos de outros autores, dando-lhes a devida autoria de seus
escritos, bem como da legislação e jurisprudência, que nestes dois últimos casos, embora
não gozam de proteção autoral na forma da lei, também devem ser citados.
Quanto à tutela jurídica do direito de autor, segundo BITTAR, “a tutela dos direitos autorais
estende-se por diferentes níveis, a fim de propiciar ao titular ampla proteção, a saber: civil,
penal e administrativa”.86
Segundo NELSON HUNGRIA, “a lei protege, aqui, o que se denomina ‘direito de autor’ ou
‘direito autoral’, concernente ao interesse econômico e moral que a lei reconhece ao autor de
obra intelectual, nacional ou estrangeira, no campo literário, científico ou artístico”.87
A violação dos direitos autorais implica em ato ilícito, na forma do art. 186 do Código Civil,
também prevista na Lei de Direitos Autorais em seus arts. 101 e seguintes, bem como crime,
tipificado pelo Código Penal. E “as sanções civis de que trata” a lei autoral em seu art. 101,
“aplicam-se sem prejuízo das penas cabíveis”, abaixo indicadas.
Os crimes contra a propriedade intelectual estão elencados no art. 184 do Código Penal, que
trata do crime de “violação de direito autoral e aqueles que lhe são conexos”, prescrevendo
uma pena de três meses a um ano de detenção, ou multa; podendo chegar a uma pena de
reclusão de dois a quatro anos e multa, conforme o caso.
Tal violação, como por exemplo a contrafação, é considerada crime pela legislação em vigor,
que não deve ser entendida de forma restritiva, ou seja, não só a reprodução não autorizada
em exemplares com o intuito de lucro, mas também a reprodução sem menção do nome do
autor merecem atenção da norma penal.
Além das demais cominações legais, o ato de reproduzir obra intelectual de outrem e/ou
colocar seu nome em lugar do autor, ou seja, como se fosse o autor, em nosso entender,
além da clássica violação de direito autoral, é crime tanto de estelionato quanto de falsidade
ideológica, bem como de falsificação de documento particular, considerando o trabalho
acadêmico, como já se considerou, como “documento”. O simples fato de reproduzir obra de
terceiro como se fosse sua, trata-se de obtenção de vantagem ilícita, e como prescreve o art.
171, também do Código Penal:
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Ainda que aparentemente possa se indagar qual seria o “prejuízo alheio” tipificado pelo art.
171 acima, sem o que, poderia não se caracterizar o crime de estelionato, crê-se que tal
prejuízo seja o da própria instituição de ensino em sentido lato, bem como e principalmente,
em sentido stricto, o prejuízo da violação aos direitos morais e patrimoniais de autor;
conquanto a vantagem ilícita é evidentemente a “nota” ou “conceito”, total ou parcial,
necessários para se considerar a aprovação ou reprovação de um aluno.
85
BEVILAQUA, Clovis. Direito das coisas. 1956. v. 1. p. 256.
86
BITTAR, Carlos Alberto. Contornos atuais do direito de autor. 1992. p. 24.
87
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal. 1980. v. 7. p. 335.
Ao comentar o referido art. 299, HUNGRIA ensina que documento “é todo escrito
especialmente destinado a servir ou eventualmente utilizável como meio de prova de fato
juridicamente relevante”88, entretanto, o autor também esclarece que nem todo papel escrito
é documento, mas alarga o conceito abrangendo outros suportes físicos que possam servir
para receber a escrita, e nos dias de hoje, podemos considerar também que o suporte
digital, eletrônico ou magnético possam ser incluídos aí, entre esses que podem ser
englobados como suporte, também considerados como “documentos”.
Ao tratar o trabalho acadêmico como documento (rever item 5), afirma-se que este serve
para se fazer “prova de fato juridicamente relevante”, ou seja, que o trabalho é uma das
formas de avaliação do aluno na atividade acadêmica, educacional ou escolar, e serve como
prova de aproveitamento de seus estudos, através da análise criteriosa de seu conteúdo;
destarte, o fato de se substituir o nome do legítimo autor e simplesmente trocar por outro
nome, além da reprodução, é tipificado como crime.
Infelizmente, tais práticas tem sido bastante comuns nos meios acadêmicos, com as
“pseudo-justificativas” dadas pelos “pseudo-autores”, tão conhecidas pelos professores e
orientadores, que dentre elas estão: a falta ou ausência de tempo para estudar ou pesquisar;
falta de recursos ou bibliografia disponível; enfim, toda sorte de desculpas com o fito de se
furtar do trabalho acadêmico, incluindo-se a máxima de que desconheciam as normas
autorais ou metodológicas, o que sequer pode ser considerado, tendo em vista o disposto no
art. 3º da Lei de Introdução ao Código Civil: “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando
que não a conhece”.
88
HUNGRIA, Nelson, op. cit. 1958. v. 9. p. 250.
Uma das advertências que sempre se deve fazer quando da elaboração do trabalho
acadêmico é a utilização do tipo (espécie, classificação e nível) de leitura apropriado para o
estudo dos vários autores, entender e escrever com as próprias palavras; ou, quando o autor
pesquisado chegou a uma síntese, definição ou conceito e a “citação” nas palavras dele for
importante, pode-se e deve-se fazer tal citação, ou seja, a “menção de uma informação
extraída de outra fonte”90, a fim de se fundamentar com maior profundidade e alcance o
objeto estudado.
DESBOIS91 disserta que “citer, au sens littéral du mot, c’est transcrire fidèlement, et en
indiquant la provenance du passage emprunté, l’œuvre d’un tiers”.92 Mais adiante, o autor
francês preleciona que “le «droit de citation» se caractérise par une certaine immunité, la
dispense de se premunir du consentment d’autrui”.93
Como se verifica, apesar de não ser necessário a solicitação de autorização do autor de uma
certa obra para que a citação seja feita em seu trabalho acadêmico ou científico, há,
entretanto, a obrigatoriedade de se efetuar as devidas referências ao autor citado e à obra
pesquisada.
Outros cuidados simples devem ser tomados a fim de que a citação não implique plágio e
esteja de acordo com a lei.
O primeiro deles é que toda citação dentro do corpo do texto deve estar sempre entre aspas.
O ideal é que as citações dentro do texto não ultrapassem três linhas (no formato A4),
tolerando-se até quatro, pois a partir daí, deve-se destacá-la do texto corrente, como se faz
com a citação de trecho de um acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, cujo
relator foi o Desembargador VILLA DA COSTA, que abaixo se transcreve (da mesma forma
que as demais citações foram feitas no presente artigo):
Condena-se o plágio, que consiste na consciente apresentação de textos elaborados por outrem,
modificando-os ou não, como se fossem de sua autoria.
A forma adequada de se destacar a citação com mais de três linhas no texto deve estar de
acordo com o manual de redação de monografias, dissertações e teses da universidade. De
acordo com a regra 5.3 da NBR 10520, o recuo da margem esquerda deve ser feito com 4
cm. No entanto, alguns manuais universitários recomendam também o recuo da margem
direita.
89
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA. Abc dos direitos
autorais. 1984. p. 13.
90
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: informação e documentação, citações em
documentos, apresentação. 2002. p. 1.
91
DESBOIS, Henri. Le droit d’auteur. 1950. p. 349.
92
Tradução livre: “Citar, no sentido literal da palavra, consiste em transcrever fielmente e indicar a proveniência
da passagem emprestada da obra de um terceiro”.
93
Tradução livre: “o «direito de citação» se caracteriza por uma certa imunidade, a dispensa de se acautelar do
consentimento de outrem”.
94
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Apelação 178.064-1/0, 24 de novembro de 1992, 8ª Câmara Cível. Revista
dos Tribunais, 698, p. 82.
Quanto à citação, GIANNINI95 já dissertava sobre a autorização legal ao comentar a lei autoral
italiana em sua obra, referenciando que:
A própria Lei brasileira dos Direitos Autorais autoriza a citação “na medida justificada” em
seu art. 46, III, abaixo transcrito, determinando que não se trata de violação dos direitos
autorais; porém, como já visto anteriormente através da legislação e jurisprudência,
condena-se a contrafação e o plágio:
III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens
de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a
atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra;
Considerando a citação, o mesmo art. 46 acima referenciado, prescreve em seu inciso VIII a
questão da reprodução de pequenos trechos em quaisquer obras, incluindo-se aí os
trabalhos acadêmicos, que se transcreve ipsis verbis:
Por fim, para uma melhor compreensão de como efetuar corretamente as citações, notas de
referências, notas de rodapé, referências bibliográficas, bem como conhecer as demais
normas atinentes à produção e formatação do trabalho acadêmico, recomenda-se a leitura e
o estudo das Normas Brasileiras de Referência – NBRs, a seguir elencadas: NBR 14724
(Informação e documentação, trabalhos acadêmicos, apresentação, 2005); 6022 (Artigo em
publicação científica impressa, apresentação, 2003); 6023 (Referências, elaboração, 2002);
6024 (Numeração progressiva das seções de um documento escrito, 2003); 6027 (Sumário,
2003); 6028 (Resumo, 2003); 6029 (Livros e folhetos, 2006); 6034 (Índice, 2004); 10520
(Citações em documentos, 2002); 10719 (Apresentação de relatórios técnico-científicos,
1989) e NBR 15287 (Projeto de pesquisa, apresentação, 2005); todas da ABNT –
Associação Brasileira de Normas Técnicas.
95
GIANNINI, Amadeo. Il diritto d’autore. 1943. p. 55.
96
Tradução livre: A citação e a reprodução de trecho ou de parte da obra com o fim de crítica, de discussão ou
mesmo de ensino é livre “no limite justificado à finalidade a ser atingida, desde que não constitua
concorrência” a utilização econômica da obra. Cf. Art. 10 da Convenção de Berna.
Conclui-se, portanto, que a legislação autoral em vigor no Brasil – quer seja a Constituição
Federal de 1988 em seu art. 5º, XXVII e XXVIII ou a Lei pátria (9.610/98), bem como os
Tratados e as Convenções internacionais das quais o Brasil é país signatário –, protege os
direitos de autor, aqui se destacando o trabalho acadêmico, dentre as obras intelectuais
escritas.
Isso significa que o trabalho acadêmico deve ser original, novo, e não pode ser cópia total ou
parcial de outras obras intelectuais pesquisadas, como artigos e monografias, livros ou
apostilas, utilizando-se de textos de outros autores como se fossem seus, sob pena de
plágio e/ou violação de direitos autorais, concorrendo tanto o ilícito civil como o penal, além
de outros crimes em suas possíveis modalidades: contrafação, estelionato, falsidade
ideológica e falsificação de documento particular.
Isso não quer dizer que mesmo que você obtenha a autorização expressa ou consentimento
tácito do legítimo autor ou titular dos direitos patrimoniais de uma obra intelectual, você
possa utilizar a obra como se fosse sua, ou seja, substituindo os nomes e apresentar a obra
como trabalho acadêmico de sua autoria.
Com efeito, as idéias ou mesmo trechos de outros autores devem ser citados
adequadamente, utilizando-se a norma aplicável a cada caso, a fim de que palavras ou
idéias de outrem não se confundam com as suas e não haja, portanto, violação de direitos
de autor. Assim, estará criando obra nova, original, que possa realmente contribuir para o
aprofundamento ou desenvolvimento do estudo em questão, bem como contribuir para a
construção do conhecimento.
Referências
BERNE Convention: 1886. For the protection of literary and artistic works: amended on
September 28, 1979. In: WORLD INTELLECTUAL PROPERTY ORGANIZATION. Database
of intellectual property legislative texts. Geneva, 2003. 29 p.
BEVILAQUA, Clovis. Código civil dos Estados Unidos do Brasil commentado. 8. ed.
atualizada por Achilles Bevilaqua. São Paulo: Francisco Alves, 1950. 6 v.
_________. Theoria geral do direito civil. 5. ed. São Paulo : Francisco Alves, 1951. 444 p.
_________. Direito das coisas. 4. ed. atualizada por José de Aguiar Dias. Rio de Janeiro:
Forense, 1956. 2 v.
BITTAR, Carlos Alberto. Direito de autor. 2. ed. Rio de Janeiro : Forense Universitária,
1994. 168 p.
_________. Contornos atuais do direito do autor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992.
216 p.
BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o código civil: atualizada pela Lei
n° 10.825, de 22 de Dezembro de 2003 e acompanhada de legislação complementar,
súmulas e índices. 55. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 2058 p.
BRASIL. Lei nº 3.071, de 1º de Janeiro de 1916. Código civil. 7. ed. São Paulo: Saraiva,
1992. 702 p. Revogada.
BRASIL. Lei de 11 de agosto de 1827. Crêa dous Cursos de Sciencias Juridicas e Sociaes,
um na cidade de S. Paulo e outro na de Olinda. Revista Jurídica, Brasília, v. 6, nº 63, ago.,
2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_63/LeisHistoricas.htm.
Acesso em: 25 abr. 2007.
CARDOSO, João Augusto. Do nome empresarial e sua tutela jurídica em face da marca
registrada. 2004. 533 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade Metodista de
Piracicaba, UNIMEP, Piracicaba-SP, 2004.
_________. Direitos autorais dos engenheiros e arquitetos. Juris Doctor: revista jurídica,
Limeira, 2002. Disponível em: <http://www.jurisdoctor.adv.br/revista/rev-01/art15-01.htm>.
Acesso em: 15 out. 2006.
__________. Direitos autorais no trabalho acadêmico. In: MORAES, Wagner Fróes. (Org.).
Encontros de reflexões. Limeira: Letras da Província, 2006. p. 35-48.
CARNELUTTI, Francesco. Teoria del falso. Padova: Antonio Milani, 1935. 199 p.
___________. Sistema de derecho procesal civil: composición del proceso. Buenos Aires:
Uteha, 1944. 4 v.
CHINEN, Akira. Know-how e propriedade industrial. São Paulo: Oliveira Mendes, 1997.
198 p.
FRANCO, Alberto Silva et al. Código penal e sua interpretação jurisprudencial. 5. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. 2 v.
ITÁLIA. Codice Civile. 16 marzo 1942. Gazzetta Ufficiale [della] Repubblica Italiana,
Roma, n. 79 del 4 aprile 1942. Disponível em: <http://www.gazzettaufficiale.it/>. Acesso em:
16 maio 2006.
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1980. 9
v. em 10.
MANSO, Eduardo Vieira. Direito autoral: exceções impostas aos direitos autorais:
derrogações e limitações. São Paulo: José Bushatsky, 1980. 412 p.
MANZINI, Vincenzo. Trattato di diritto penale italiano: delitti contro la fede pubblica. 4. ed.
Torino: UTET, 1962. 10 v.
MENDONÇA, José Xavier Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro. 7. ed.
Atualizado por Roberto Carvalho de Mendonça. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1963. 8 v.
em 12.
MILLER, Arthur R.; DAVIS, Miclael H. Intellectual property: patents, trademarks and
copyright. Saint Paul: West, 1990. 438 p.
PEREIRA, Virgílio de Sá. Projeto de código criminal. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,
1933.
PICARD, Edmond. Le droit pur. Bruxelles: Veuve Ferdnand Larcier, 1899. 546 p.
PIMENTEL, Luiz Otávio. Direito industrial: as funções do direito de patentes. Porto Alegre:
Síntese, 1999. 278 p.
SOARES, José Carlos Tinoco. Direitos autorais nas obras artísticas. In: Regime das
patentes e royalties. São Paulo : Revista dos Tribunais, 1972. p. 119-149.
VENOSA, Sílvio de Salvo. (Org.). Novo código civil: texto comparado: código civil de 2002:
código civil de 1916. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. 928 p.
Revista Jurídica
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/revistajuridica/index.htm