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O CAMINHO PASTORAL
“Pastoreai o Rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem
por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos
modelos do rebanho.”
Na Primeira Carta de S. Pedro 5:2-3
Um depoimento e um conselho
Há uma coisa que deveria ser pejorativamente chamada de "espírito de pastor", e essa tal coisa é uma
casta existencial difícil de deixar a gente.
O fato é que há muita gente "possessa desse espírito", o qual tira da pessoa a possibilidade de ser ela
mesma, fazendo dela um clone psicológico de um modo de sentir completamente artificial, e sem
espontaneidade humana com os outros e com a própria pessoa.
Eu só tinha 18 anos e meio, e era apenas um menino amante de Jesus. Pregava em toda parte. Não
queria ser pastor e nem ordenado. Desejava apenas pregar, e pregava. Aos 21 anos, me ordenaram,
mesmo sem que eu tenha aceitado as imposições da denominação para ordenar ministros.
Então, logo começaram a me chamar de "Reverendo". Aquele garoto livre, agora, de súbito, da noite
para o dia, era o "Reverendo Caio". Aí o tratamento passa a mudar: O melhor lugar na casa, na mesa,
na sala, no salão, no aniversário, no funeral, nas festas de casamento, nas bodas, etc. As pessoas
começam a ver o "sacerdote", o homem diferente dos homens, o santo, o ungido do Senhor, o anjo da
igreja...; e também se percebe que as pessoas mudam com você; mas raramente se percebe que depois
de um tempo, muito suave e lentamente, você também aceita a mudança que fizeram acerca de você.
Ora, é aí que nasce o "espírito de pastor"!
Então, começa a transformação do ser humano numa figura totêmica, um totem erguido para a
manutenção de tudo: Ele é santo pelos outros; é puro pelos demais; é quem não se diverte pelos que se
divertem; é quem não fica doente para poder curar; é quem "estuda Deus" e "entende de Deus", a fim
de poder explicar; e é quem é exemplo para se fazer clones comunitários. Se ele não casa os que se
casam, eles se ressentem e magoam. Se ele está viajando quando alguém morre, ele abandonou o
moribundo. Se ele está de férias, a igreja pode esvaziar. Ou seja: sem ele, nada do que foi feito de fez ou
se faz! Vivendo sob tais responsabilidades e honras, o indivíduo vai virando pajé e não sente. Ou, em
muitas ocasiões, passa a gostar mesmo de ser essa figura totemizada para a "igreja".
Ora, é nesta necessidade que o povo tem de ter "sacerdotes" e "figuras cultuadas", que tanto os bem
intencionados se corrompem entregando-se ao "espírito de pastor"; como também os lobos se
aproveitam e tiram as carnes do rebanho.
Eu tenho por certo que todos os modos de clericalismo são malignos em relação à saúde do indivíduo
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E a comunidade também fica adoecida! Sim, porque enquanto ela vê o líder com tais olhos, ela não
cresce; ao contrário, se infantiliza; e jamais aprende a andar com as próprias pernas.
Ora, o verdadeiro pastor cuida, não domina; ajuda, não controla; alimenta, não explora; só se faz
notado em caso absolutamente necessário; e deixa a porta aberta, de tal modo que todos entram e saem
e acham pastagem.
A analogia do Bom Pastor em João 10, todavia, é perfeita no seu todo apenas em relação a Jesus, e a
mais ninguém. Isto porque em relação a Jesus todos nós somos apenas ovelhas do rebanho.
Porém, em relação a nenhum "outro pastor", nós devemos ser "ovelhas do rebanho"; posto que ser
ovelha de Jesus já nos põe na condição de só ouvir a voz de um homem se ela for de acordo com a Voz
do Único Pastor; do contrário, a ordem de Jesus é para não "seguir a voz do estranho", pois somos o
Rebanho de Deus.
Portanto, o verdadeiro pastor de homens é apenas mais um do rebanho único, sendo somente uma
ovelha que já se deixou ensinar um pouco mais pela voz do Único Pastor. É na Sua fidelidade e
reconhecimento à Voz do Pastor que ele se qualifica para ser pastor entre ovelhas, pois, conforme
Pedro, ele se torna "modelo do rebanho".
Assim, é o caminho da ovelha seguindo o Pastor, o que a torna uma ovelha-pastor; visto que seu passo
e obediência estabelecem referência para as demais.
O problema é que alguns "pastores" e clérigos pensam que são os "Jesuses" da comunidade; e,
diferentemente de Jesus, transformam-se nos lobos que não amam as ovelhas, mas apenas os privilégios
e poderes que delas "arrancam".
E como agravante, a "igreja", por ser pagã ainda em sua essência, precisa desses "pastores tiranos",
pois, como associam a "figura clerical" ao "representante de Deus", sentem-se objeticamente mais
seguras se têm um déspota dizendo o que fazer, o que não fazer, com quem casar ou não, e quem é
quem.
Foi por esta razão que Jesus tirou as roupas de cima e se cingiu de uma toalha e passou a lavar os pés
dos discípulos. Sim, porque liderar é, sobretudo, poder lavar pés e servir em nudez.
Na realidade, além de tudo o que o gesto de Jesus ensina, nele também vemos o modelo existencial do
significado da liderança: O líder serve em revelação de sua humanidade. E os liderados são servidos
aceitando a humanidade de quem lidera servindo de modo humano. E Jesus disse a Pedro que ou seria
assim, ou Pedro não teria parte com Ele!
Somente quando os líderes tiverem a coragem de fazer como Paulo e Barnabé, que rasgaram as roupas
e expuseram sua nudez quando foram chamados de "deuses", é que aqueles que crerem no que as
lideranças disserem, não ficarão ainda mais adoecidos de idolatria.
Hoje se dá o contrário da experiência dos apóstolos: a maioria dos líderes faz todo o possível para
passar por deuses; e, o povo, vai se ameninando na fé, apenas trocando de "pai-de-santo", ou de pajé
ou de sacerdote; porém existindo sob a escravidão da espiritualidade da idolatria; adorando e servindo a
criatura, mesmo que se vistam de pastores, bispos ou apóstolos.
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No Caminho nós temos buscado diante de Deus e conforme o Evangelho, quebrar todos esses
paradigmas totêmicos. Sugiro que todos, em todo lugar, e com todo bom coração, assim o façam
também, em nome de Jesus, o Bom Pastor!
Nele, Que é o Caminho, a Verdade e a Vida, e em Quem "Caminho" é apenas um nome da jornada de
fé.
Caminho da Graça