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SETEMBRO 15 1922

k I si x o il MENSABIO^DE ASTE MODERNA


REDACQÀO E ADMIN1STRA£À0;
S. PAULO — Bua Diretta, 33 Sala 5
ASSIGNATURAS - Anno 12$000
Numero avulso - ^ IfOOO
REPRESENTAQÀO:
EIO DE JANEIRO — Sergio Buarque de Hollanda
(Bua S. Salvador, 72-A.)
FRANCA — L. Charles Baudouin (Paris).
SUISSA — Albert Ciana (Genebra Bampe de la TreiBfe, 3).
BELGICA — Boger Avermaete {Antuerpia —.-
Avenue d'Amèrique, n. 16p)
'" *
A Redacgào nào se responsabiliza pelas ideias de seus collaboradores. Todos
os artigos devem ser assignados por extenso ou pelas iniciaes. E' persùtti-
do o pseudonimo, urna vez que fique regìstrada a identidade do autor, uà
redasgao. Na© «e devolvem manuscriptos.
SUMMA RIO
OMNIBUS ., ... ..... . Aà C. Conto de Barro»
AL VOLANTE /. .. Guillerme de Torre
VISIONS (I) . .. Serge Milliet
AS CORTEZÀS , :v . Guilherme de Almeida
EGLOGA SENTIMENTALE Gaetano Cristaldi
POÉME . . . Manoel Bandeira
AOS HOMENS DE
EXPERIENCIA... Rubens de Morae*.
CHRONICAS :
THEATRO DOS BONECOS. R. Avermaete
LIVROS & REVISTAS M.A,
aNEMA M.A.
LUZES E REFRACQÒES
EXTRA-TEXTO . ; , Annita Malfatti
me WAftvI
m\

Omnibus
ESPIBITISMO

e
a resultante de innumèros factores, todos
omecando a medir, o homem creou o hao de convir, por forga, que a simples mu-
dominio scientifico. Poi notavel danca na ordem desses factores ,ou a pre-
acòntecimento, quando a agua ponderancia de uns sobre os demais, e o
deixou de ser considerada um cor- bastante para imprimir urna «nuance» dif-
po simples, passando para o rol dos com- ferente a emoc&o esthetica, corno o simples
postos. Entretanto, esse acòntecimento movimento num kaleidoscopio modifica o
so principiou a ser interessante, no mo- mosaico colorido...
mento em que. se verificou que, para Assim, da mesma maneira que, na chi-
a formacao da agua, o hydrogenio e o oxy- mica organica, existem centenas de Icor-
genio so se combinavam na proporcao de pos isomeros, correspondendo à mesma for-
2:1. E' que introduzir o numero nos phe- mula molecular, tambem existem cen-
nomenos universaes implica submettel-os a tenas de emocóes esthéticas (isomeras),
leis determinadas, Tem-se, desse modo, urna correspondendo aos mesmos factores psy-
visao economica e lisongeira do Kosmos... chologicos... Representando por X a emo-
Todos os phenomenos serào passiveis cào esthetica, estabelecerei a seguinte equa-
de medida? Um delles, até agora rebelde c&o: X=p+q-f-r-f-s... E' evidente que o va-
ao jugo mathematico, é a emocao esthetica. lor de X se modificarà, na proporg&o que
Si fosse possivel determinar a sua qualida- variarem os valores de p, q, r ou s, E' o
de e intensidade, estaria creada, scientifi- que, em algebra, se chama um problema in-
camente, a Esthetica. Ha de parecer que determinado.
incorro em pleonasmo, quando falò em de Estou dizendo todas essas cousas, mais
terminar a «qualidade» da emocào estheti- ou menos cabalisticas, para mostrar que a
ca; Pois si eu puz o adjectivo «esthetica» Esthetica é urna nebulosa, um simples
ao lado do substantivo «emogào», corno po- schema, urna sciencia branca. Consequen-
deria determinar o que de si mesmo jà està cia:
determinado?! Mas, si eu dissesse, agora, Quando alguem ataca musico», pin-
que ella é um pheuomeno complexo; que é tores, poetas, em nome da Esthetica,

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està invocando um espectro, um fantas-
2 là dentro, ficam sem poder sahir, pois que,
m a . . E nesse caso, antes que os quadros deslumbrados com o que vèem, esquecem
comecem a dancar sobre a parede e a meza magicamente a palavra magica. Estes, em
a descrever parabolas no ar, — é sempre geral, enlouquecem... ,
bom que alguem aperte o botfto da luz ele-
ctrica... A JANELLA ABERTA
* • •
PUZZLE O que póde salvar o extremo subjecti-
vismo do hermetismo é a ironia. A ironia,
A sciencia procura dar urna visao cada
sendo o resultado de urna comparacao entre
vez mais impessoal do universo. Nesse sen-
o individuai (que é sempre supposto ser
tido, Einstein, com o seu celebre Inter-
superior, embóra nem sempre venca) e o
vallo, deu mais um passo à frente. Ao in-
collectivo, o «nào eu», presuppóe urna atten-
verso do que acontece com a sciencia, a
evo elastica, repartida entre o mundo sub-
arte inclina-se para o subjectivismo. A arte
jectivo e o objectivo. O individuo, assim,
moderna é, na sua generalidade, profunda-
nunca està encerrado dentro de si mesmo
mente subjectiva. P a r a o poeta de hoje nao
e, de vez em quando, abre a janella para
ha themas preestabelecidos, nem appare-
ver a vida passar tumultuariamente...
Ihos complicados em que deva filtrar as
Além disso, a ironia é um desdobramento
suas emocoes. Seu «eu» deixou de ser mer-
do instincto de conservacelo. E quando as
cadoria vendida a retalho, em caixinhas de
nossas tendencias mais intimas e incons-
differentes tamanhos e feitios, ao gosto do
cientes periclitam, quando se fragmentam
sr. «Todo o Mundo». Agora, o poeta se
ou vào fragmentar-se de encontro as as-
offerece todo, comò elle é, num determi n fi-
perezas do meio em que vivem, entào ella
do ponto do tempo e do espaco. Dahi, às
surge, consolando-nos, auxiliando-nos a vi-
vezes, certas infantilidades, certas associa-
ver . . . As sensibilidades mais delicadas
cóes chocantes. Isto quasi sempre descon-
sao e devem ser, consequentemente, as mais
sola os amadores de puzzle psychologico,
ironicas, porque estào mais expostas, por-
que preferem personalidades retalhadas.
que se lascam mais facilmente..
afim de possibilitarem a volupia ineffavel
• • *
de poderem juntar os fragmentos disper-
O CORVO
sos, formando, desse modo, urna figura
qualquer, amarfanhada, estupida, morta... Certos theoristas do modernismo, de-
» » * pois de enxotarem, dos dominios artistico*,
MIL E UMA NOITES o dogmatismo, — esse corvo «perclied upon
O extremo subjectivismo leva ao her- the bust of Pallas», tomaram-se de tal te-
metismo, — urna porta fechada. E quem mor que elle voltasse, que collocaram em
nào souber dizer: «Sesamo, abre-te!», que frente da A.rte um espantalho. Mas eis, que
passe deante della, sem olhar. Està attitu- de novo, manchando o corpo branco de
de, que é a minha, é milito mais prudente e Pallas, urna sombra ridicula se extende: a
avisada do que a daquelles que, sabendo a sombra do e s p a n t a l h o . . .
formula, conseguem entrar, mas, urna vez A. 0. COUTO DE BARROS.

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3
AL VOLANTE
POEMA ULTRAISTA

a I volante
todas las carreteras se encabritan
En el juego de las velocidades
los pedales
barajan un kaleido&cooic
de perspectivas tornatiles
EI coche es un arco combado
que dispara
travectorias insaciables
Addante Hacia el vertice
Trepanamos aldeas ancladas
v campinas que galopan
En el cross-countrv cosmico
las montanas rivales
enanean sus lomos al saltar
Confido de las manos
paratamente
avanzamos con los cables y los rios
aue permutan sus cauces
Saltos entre las redes de itinerarios
Trepidaciones
EI motor padece taquiarntmia
Las ventanilJas deshoian un albun de paisajes
EI parabrisas multiplica nuestros ojos
aue cosen los panoramas evasivos
Y el viento liquefacciona los sonidos
En la enbriaguez dinamica
el auto siembra
una estela
de células aladas.
GUILLERMO DE TORRE (Madrid, 1922)

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4
VISIOUS l
Ma jeunesse ne fut qu'un ténébreux oragc
(Baudelaire)

Ili a jeunesse ne
Les paquebots
de paysage en
et d'hivers en
fut qu'un long voyage
et les express m'ont
paysage
étés
transporté

à travers totit l'univers


Et &est ainsi
que j'ai contm tous les pays
celui de Baudelaie
celui de Cervantes
celui très grand de Shakespeare
et celui plus grand encore de mon àme...
Simplicité complexe
C'est le blanc de la baite à coleurx
Douleur
non pas larmoyante
enfant de siede
mais pure
bianche
malgré l'invmensité de mon sarcasmi
un jeit facile de jongleur
car devant ma maison il y un beau cirque
où sia) clowns miment la vie
où des cavalières en maillots roses et décorées d'un sourire aimable
dansent sur des chevaux pamaissicns une danse macabre
Moi je ferme les yeux et je souris
mais les clowns qui miment la vie
disent entre deux mots d'esprit que ines doigts son-t crispés sur la chaise

O mon àme... pays de luxe et de mensonge...


J'ai chanté la misere et je suis riclie; je puis vendre de grands trésors
à vii prix sans pour cela me ruiner. Une mine, mon àme, une min** inépui-
sable, tout un monde, avec des pays plus grands que le pays où je sois né,
et des villes plus que celles des légendes somptueuses.
Palais de marbré et d'or, ruer. asphaltées d'argent ou de platine avec
pour réverbères de multicolore^ diamants, jardins susvendus Dar des ballon*
captifs où vivent de plantes interplanétaires...

k 1 a x on
50 féeriques Babylones
Empires décandents
Extases et opiums
Et quelle richesse en philosophies audacieu
ses, explications inédites de l'univers, poèmes absolus dans la relativité
du temps... Et quels tombeaux insondables de douleurs toute saignantes
rouges
bleues
blanches
Vive la France!
Marseillaises enivrantes,
e nthou8Ìastes, symphonies diaphanes, opéras, dadaistes dans des décors
subconscients... en jouir dans ma solitude!
Ah! vous pouvez parcourir tous les pays du monde
photographier tous les paysage»
Le pays de mon àme moi seul le cannais
et moi seul vous peux livrer
quelques bribes difformes
quand il me plait...
Serge MILLIET

As Cortezas
(Das "Cancóes Gregas")

e llas passam no poente, sunto ao caes. Seus vultos


volantes, nos stróphions curtos,
azues, doirados e lilazes,
sào leves e subtis: parecem grandes aves
As cortezas passam no occaso cor de malva.
As suas joias cantam um canto fino de ouro,
e os seus cabellos lavados fazem um rolo
de trigo maduro, sobre a nuca alva.
Na tarde do caes, contra o sol obliquo,
ellas erguem a ventarola
sobre os olhos verdes: e olham o mar longinquo.
E, aos pés de cada urna, o sol desenrola
urna longa sombra róxa sobre as pedras pretas,
corno si atirasse punhados de violetas...
GU1LHERME DE ALME1DA

k 1 a x on
0
EGLOGA SENTIMENTALE
ogni giorno
nell'ora in cui
d'arancio e d'oro e berillo
le nugole bistre bigie grigie
ed il ciel di piombo
lacera a strombo
il Sole —
per la via sgombra
che si dava all'ombra
come l'amore al sonno
flessibile solida ferina felina
tutta di nero come
la notte che già scendea
ella ascendea
Onde veniva? Dove andava?
Passava
Nel globulo latteo nell'iride glauca
lo stanco fluttuar
della malinconia
e nel passo
l'accento d'un sonetto
e nel bistro delle ciglie nel belletto
nel vermiglio carminio
dell'unghie dei labbri dei lobi
l'offerta cromatica
di amore
di passione
di pazzia isterica -
col giorno
per la via sgombra
come l'amore al sonno
si dava all'ombra
Onde veniva? Dove andava?
Passava
Ma più' non ripassò

k l a x on
7
Più' mai nell'ombra che scendea
io la rividi —
Dopo
— qualche tempo dopo —
questo ho sentito
E' morta
Pensai intristito
la fine che il fulgido passato
e quello immondo
tinge ugualmente
di oonta d'elegia di pallore
Dissi
certo bella nel bollore
delia verginità ardente
come Tamor al sonno
dolorosamente
ti desti alla fine
Dopo
— qualche tempo dopo —
questo no sentito
e morta nell'attimo caotico
uci piacere completo
sotto un petto ui mascnio
Torse ocuo certo i o n e
rapita oal primo turbine
01 voiuta
con ìa verginità
voio la Vita
Onde veniva? Dove andava e
L*a ignote scaturigini o amore
torse p ò una Via
eoe ic trafisse 11 core
veniva
rer una meta beila
per la più oeua ane
Deliamente
andava
Passava
GAETANO CRISTALDI.

klaxon
8
POÈMI:
p
etit chat blanc et grisf
Reste encore dans la chambre.

La nuit est si noire dehors!


Et le silence pése.
Ce soir je crains la nuit.
Petit chat, frère du silence,
Reste encore...
Reste auprés de moi,
Petit chat blanc et gris,
Petit chat...

La nuit pése...
II n'y pas de papillons de nuit...
Ou sont donc les bétes?
Les mouches dorment sur le fil de l'éléctricité.
Je suis trop seul vivant dans cette chambre!
Petit chat, frére du silence.
Reste à mes còtés:
— Car il faut que je sente la vie auprés de moi,
Et c'est toi qui fais que la chambre n'est pas vide!
Petit chat blanc et gris,
Reste dans la chambre.
Eveillé, minutieux et lucide.
Petit chat blanc et gris.
Petit chat...
MANUEL BANDEIRA.

k l a x on
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Aos homens de experìencia
e m arte nào ha progresso. O pro-
gresso so existe para as cousas
materiaes e na bandeira brasilei-
ra. Nós nào escrevemos me-
que V Sria. tanto admira, e muito melhor,
em versos:
Tout passe, tout casse, tout lasse . . .

lhor que Machado de Assis, nossos poe- Victor Hugo tinha razào. A prova é que
mas nào sào mais bellos que a Eneida de elle cannoli e passou. Felizmente.
saudosa memoria. Egualar Camóes ou Ba- delles poetas, romancistas, esculptores ge-
cine nào tem a minima importancia. (.) niaes que hào de ser a expressào sublime
que nos importa é traduzir a nossa epocha do tempo em que viveram.
e a nossa personalidade. Os «modernos" tambem passarào corno
Se somos modernos, isto nào quer abso- passaram os romanticos, deixando atraz
lutamente dizer que condemnamos os clas- Ninguem é dono do tempo. V. Sria. que
sicos, romanticos, parnasianos e todos os tèm cabellos brancos sabe disso melhor de
«passadistas". Bilac, Castro Alves, Goncal- que eu que nào os tenho gracas ao tempo.
ves Dias foram grandes poetas. Escreve- O «modernismo" existe, é inutil revoltar-
ram obras romanticas e parnasianas na se. E' um facto, corno os aeroplanos, o
epocha do romantismo e do parnasianis- bolchevismo, o fox-trot e o jazz-band. Ou-
mo. Foram modernos! Bravo! 50 daqui seus gritos de protesto: loucura,
O ridiculo é um poeta acreditar em so- immoralidade ! Nào grite tanto por favor,
neto e em alexandrino neste glorioso anno atrapalha minhas ideias.
do Centenario da Independencia. Se V. Sria. tivesse observado um pouco,
saberia que «a dissolucào dos costumes» é
Se um individuo andasse hoje passeando
urna simples consequencia das guerras e
pelas ruas do Triangulo vestido à moda de
revolucòes. Durante a «Terreur» houve mui-
D. Joào VI, o sympathico guarda civil da
to mais libertinagem nas ideias e costumes
Praya Antonio Prado prenderia o «louco"
do que hoje.
confirmando a fama da nossa Forca Pu-
Esteve em Paris antes da guerra? Bella
blica, a melhor do mundo. cidade, nào? Divertida! Moulin Rouge!
V Sria. é com certeza pae de familia. Se Pois hoje é muito mais. E nào so P a r i s : é
nào é, jà foi, ou sera, é fatai. Logo deve Berlim, Nova York, Vienna, Londres, urna
possuir essa cousa ridicula e perfeitamen- pandega geral! Nào proteste, por favor !
te inutil: a experiencia. Como tal deve sue- Admiro que um homem tao cheio de expe-
cudir a cabeca: «Qual! tudo isso passa!» riencia nào ache tudo isso muito naturai.
Nào pense V Sria. que disse urna grande Quem teve a sorte de escapar ao horror das
novidade. Isso jà foi dicto por V. Hugo trincheiras quer divertir-se um pouco an-

k 1a x o n
tes de comecar a vida seria. Nossa epocha
10 A Arte moderna é urna manifestaci
é o domingo dos seculos. Toda gente se naturai e necessaria. Os artistas moderno
diverte aos domingos, menos eu que me sào homens convencidos de que é precizi
aborreco. procurar novas formas, porque as qu
Mas qual sera o resultado de tudo isso? existem nào traduzem mais a vida contem
Ah! isso é urna pergunta muito sèria, é poranea. Bandeirantes do pensamento el
quasi philosophia. J à ouviu com certeza les estam à procura das esmeraldas.
fallar nos «incroyables" da Revolucào Os philosophos barbudos dizem que a hu
franceza? Pois sào os «almofadinhas» de
manidade dà dois passos para frente e de
hoje. Oonhece com certeza o «Prefacio e a
pois um para traz. Eu que nào sou nem
batalha de Hernani" ? Pois sào as bata-
lha3 dos «modernos». O que provam esses philosopho nem barbudo, digo que é preci
factos? Que os fox-trots, os «futurista^» zo dar dois saltos para frente para ga
as ideias modernas sào perfeitamente nor- nhar um salto que vale dois passos.
maes. Os artistas de hoje, athletas elastiscos, es-
Nào peco aos seus cabellos braneos que tam dando o sublime salto para a frente.
comprehendam a Arte moderna mas que a
acceitem corno um facto. RUBENS DE MORAES

i l i roiii e a*
THEATRO DOS inconveniente, construiram, depois de pacientes
pesquìzas, um boneco de duas dimensóes, chato.
Em vez de vestil-o, pintaram-no. E corno o per-
BONECOS sonagem é chato està, fatalidade physica tem
a vantagem de dar-lhe maior expressao. Urna
(Resumo de um artigo de Roger Avermaete) vez que o artista tem de recorta,r o boneco numa
attitude que sera immutavel, urna vez que tem
de desenbar bragos, cujos movimentos ser&o

n
XNOU'BM està disposto a tornarmi;!- forgosamente limitados, procurarà, antes de tu-
to a sèrio um theatro de bonecos. do, dar, da maneira mais synthetica possivel, o
Entretanto, é elle urna cousa seris- caracter de seu personagem. Os resultados ob-
sima . . O tempo que Roger Aver- tidos, nesse sentido por Henri Van Straten fo-
maete e seus companheiros gasta- ram admiravéis.
ram na sua montagem, demonstra Construido o boneco, restava unicamente en-
corno é elle capaz de absorver a cohtrar um processo pratico de animal-o. Foi
actividade de muitos espiritos graves e reflexi- entSo que Franz Buyle alvitrou que se nào di-
vos.. . rigissem os bonecos de cima para baixo, comò
* ** sempre se fez. E apresentou um systema de
O prlmeiro problema que os preoccupou foi sua invencào, logo enthusiasticamente aeolhido,
o da confeccSo de urna "marionette". Em geral, consistente no seguinte:
os bonecos de engonco s&o informes, sem linba, O boneco é montado em angulo recto sobre
sem estylo, com os movimentos dos membros um tubo duplo, estreitinho, deslizando sobre o
quasi que inexpressivos. Afim de remover esse sólo,' accionado por detraz do panno de fundo

k 1a x o n
11
pelos manobristas. Esse caminho duplo termina
movimento lirico iniciai que condaz às eriagòes
owgmais. (.J^ais ou nienw originai*, pois que tu-
por um cabo, onde vèm ter, fixos por anneis, lio se repecti, em e v o l u t o ; . casini iemus ato-
os tenues t'ios de ago, qué atra vez dos tubos, di- iaiiurfnos wor« "Jiaustu e Anasverus', • L)oin
rigem os movimentos dos bonecos. Desse modo, ouao", -x'Vuoio e .uoiii uoao" e o sur. Alartins
o jogo de scena pode attingir urna precisao no- u'oiices uuiuu escreve urna anequiuada pam
tavel. Quando um dos bonecos tem que passar provar g.ue esimia com aplicagao o dicionariu.
adiante do outro, o caminho duplo do primeiro
u i i u e oo peusauoiei os mUhores livros axiare-
desliza, sobre o do segundo, sem que o especta- ciuos ubSLtsó umnios teinpos taniueni nào pos-
dor perceba. sutui esse assuiupto originai, (.urna ou our.ru
Além da posigào bastante elevada do palco, os i-aia ei.cepfiaoj ^ao pennata suore uma alea,
tubos sào por si mesmos quasi invisiveis. soore uma apstracgao mais ou menos pessoai,
Na primeira representagào dada em Anvers, pensam sooie uma oDra, um autor que ines fa-
no Club Artes, na presenga de 60 artistas, nin- cuite o nascimento ae iaeas. in taivez està fase
guem soube explicar o mechanismo empregado. uo pensamento nacionai se desenne um dia co-
E' preciso dizer que o panno do l'undo e trans- rno eminentemente critica, mas nao criauora.
parente e, desse modo, os manobristas, sem se-
rem vistos, pois ficaon no escuro, estuo ao par, A essa sene de oDras crincas inci*rpora-se
sem difiticuiciade dos menores movimentos exe- agora o "iJ.itonso »Arinos" uo sur. ufistào de
cutados pelos bonecos, sabre a scena iiluminada. Atnayue. n; esce autor aiem de se comparar a
catino por ser um estuo a procura dum assun-
Os décors pintados deram resultades negati- to, taiga-se de passagem: comparacao a qua
vos. Roger Avermaete e Franz Buyle, chegaram nao empresto o minimo sentiao pejorativO),
à solugào de um décor unico, transformavel. E amda se equipara ao clàssico pelo esulo, ,1'em
assim com um scenario, composto de seis partes de Jbatuio aquele verbalismo sonoro e comedi-
distinctas, conseguiram. fazer com'binagòes de do, aqueie bruno, a mesma ca-dencia, a messma
mise-en-scéne quasi innumeraveis. Essas partes equilibrada e metodica frase. Apesar do , ne-
sào l.o um fundo; 2.o e 3.o dous pannos verti- nnum aspecto ae actuaaidade que tal direcgào
caes duplos, formando angulo recto com os bas- apresenta, encanta sensualmente o ouvido: so-
tidores; 4.o um scenario quadrado tendo a di- nora, musical e serena.
mensàò da abertura do palco e fechado em tres
quartas partes; 5.0 um frlzo e finalmente uni Nesse esulo o snr. Tristào de Athayde estu-
panno horizontal — todos elles de seda. O frizo da com perfeigào a figura de Affonso Ari.nos.
é de tres còres (verde, fulvo, preto) ; o fundo, Livro ditatto pela saudaae e peio amor era de.te-
verde, e os demais, cinzentos. A eléctricidade en- mer .que 0 .autor se désmaneriasse em eiogios
carrega-se do resto. exagerados e hinarios de quasi reiigiao. Maa
o astiiìsta e daqueUes poucos que àaDem amar
sem que iste lhes cerceie a faculdatle critica.
E escreveu assim um livro de fina observagào,
LIVROS & de justp elogio, onde o* erudito se entremostra
apenas, sem vaidade, mas seguro de si. Um
REVISTAS pouco especiosa talvez aquela aubdiVisào da li-
teratura uacionalista em: das cidades, das
Alfonso Arino», p w Tristao praias, dos campos, das selvai*, da r o g a . . . mas
isso nào prejudica assolutamente a verdade da
de Athayde. — Annuario do critica. E um livro exacto e bpm, com um pre-
Brasil — Rio 1922. Itàcio de admiraveis consideraveis sobre a critica
de hoje.
isseram de Latino Coelho que era AL de A

d um estilo a procura dum assumptn...


Parecé-me està urna caracteristica
flagrante da lltèratura contempora-
nea brasileìra. Com menos estilo po-
rem. Nestes u'itimos tempos tem si-
do grande a copia de livros em que,
necessitados de exprimir seus pensamentos ou
dar largas à fogosidade alexandrina, pensado-
Le Miracle de vivre — Char-
les Baudouin — Edipèo "Lu-
mière". Belgica - i922.

O snr. Carlos Baudouin envia-nos de Antu-


res e poetas bxasileiros retomam assumptos %ve- erpda seus > uitimos poemae: uh& Miracle de
lhos, velhos temas em que exergam pensamen- Vivre". B' mais urna obra admiràvel do poeta.
to, estilo e metrica. Sentem a necessitade de Espirito contemplativo e sobremaneira delica-
pensar, de poetar; mas pensar sobre que? poe- dp, o sur. Baudouin n5o se.voltou ainda resolu-
tar sobre qué? Parece entao fallar-Ihes aquele tamente para para a realidade contemporanea

k 1a x o n
da vida. Os seus temas, embora
13
tristonhos
quasi sempre, àsperos as vezes, respirami sem-
la vie miraculeuse autour de moi — deflagro."
A ritmica do autor do "Miracle de Vivre" é
pre a suavidade um pouco sceptica, duma al- curiosa, duma cadencia embaladora, multo prò-
ma que ve da vida apenas aspectos gerais, fi- pria para a indole fina e levemente romantica
losoficos, e ainda ve esses mesmos aspectos pela (no bom sentido) do poetia. E corno por outro
reproducSo deles nela e nào directamente na lado, o apuro do dizer, inèdito, mas contido, dà-
realidade tangivel. Os poemas do sr. Baudouin lhe caracterfsticas classicas, o snr. Baudouin
saem-lhe, comò esses quadros da Renascenga ultrapassa o ambito das escolas, para colocar-
italiana; pinturas de atelier, mas ordenag5es se no paiz mais largo e sem limites da Poesia.
muito perfeitas, onde impera uma rara eompre- Nào sera possivel encontrar no livro o mais leve
ensào arquitectónica. O sur. Baudouin tem o impressionismo. E' caracteristicamente um cons-
senso da ordem; seus poemas sào construcèes tructor, e por isso um dos mais legitimos poe-
perfeitas, em que se desenrola corno que uma tas de nossa era. E ainda, para livra-lo do im-
vida marginai, nào vibrante, ridìcula e descortez pressionismo, tem a propensào para o dialogo,
corno a real, mas grave, serena, e levemente pie- para a monologacelo, para a resposta sem per-
dosa. gunta que o tornam eminentemente dramatico
E, tratando embora eternos temas, é de ver- e tea trai. Jà disso era prova sobeja o seu drama
se corno o poeta se renova, pela imagem impre- "Ecce Homo", que, si nào fora a estranha si-
vista e sugestiva, sempre comedida e sem exa- militude de Madalena com a Kundri de Wagner,
geros: seria uma obra integrai.
"des vagues d'humanité, messages des antipo- A edigào do "Miracle de Vivre", corno todas
des; écrasent à nos rives leurs deflagrante» dé- as edigoes de "Lumière", è magnifica. Confes-
charges..."; saremos no entanto que a s xilografios do snr.
"sur mon front, encore endolori de mon sommeil Joris Minne soam, singularmente chocantes, co-
brassé de bruit glissaient les clairs doigts de rno um trombone que entrasse em fortissimo,
giace de l'aube..." no quartetto de cordas dos versos. O snr. Joris
E fica-se, ao sair do livro, com os olhos mais Minne, corno comentador que era do poeta, nào
largos, a ver invisiveis doguras. Desejariamos devia assim sobrepor ostensivamente a sua per-
porém que o snr.. Baudouin seguisse mais o con- sonalidade inquieta e tumultuosa à personalida-
selho que dà, ao terminar o livro: de regrada e calma do poeta. O desenhista é
"O toi qui vas, les yeux et la tète baissés inegavelmente um artista; mas corno tempera-
mente vibrante e màsculo, demasiadamente mo-
de gr&ce, lève la tète, ouvre les yeux—aux choses ! derno e simultàneo, nào soube dobrar-se ao pa-
pel de comentador ; e tem-se a impresalo, si
nos permitirem uma comparagào psicologica, que
Ouvre ta chair, ouvre ton àme, auvre-toi toutt as ilustragSes sào a sensagào e os versos a
le Monde est là!" imagem conservada, sintetica mas enfraquecl-
Readquiriria entao essa forga, essa realidade da. Assim o livro, considerado corno obra de
comica, dolorosamente comica que apenas pas- arte, saiu designai. Cremos porém que com isso
sa nos seus versos comò a lua que os versos do snr. Baudouin nada perderam. Ao
"descend les escaliers du elei, grosse de clameur, contrario: mais se evidenciou assim o seu mi-
[mais suencleuse". lagre de viver uma existencia à parte, que deB-
Além de poeta suavissimo, o snr. Baudouin é lisa entre piedade e paz.
um artista. Totalmente livre de preconceitos,
utiliza-ee da rima apenas quando e*ta lhe surge MARIO DE ANDRADE
naturai à boca da pena. Usa principalmente as-
sonàucias admiraveis. Eis dos exemplos, ao aca-
so :
"Une nuit de la fin l'été, une nuit tiéde encore "Pascal e a inquietarlo mo-
[septembre, derna" — Jackson de Figuei-
redo — Bdi$ao do Centro D.
avec sa vie infiniment en fiamme de veilleuse Vhal —192a.
[qui tremble.
Les faibles étoiles opalines, ces menus coeurs Livro de s&Iida e despretenciosa erudigào. A
[muets qui battent, parte que se refere propriamente a Pascal e
la patience blonde des lampes de la grande ville magnifica, embora por uma evidente sympa-
[ia-bas..." thla para com o escriptor da "Provincias", o
" Et je sais que malgré le gout amer et acre A. lhe perdoe com multa rapidez os erros.
qu'incruste dans ma bouche le pain noir de la Afl notas sobre a inquietacelo moderna care-
[peine, com de vigor e mesmo um tanto de realidade.
quand-mème, mon Dieu, quand-mème

k 1a x o n
0 A. nào no-la apresenta bem viva, e nem lhe
13 e a anecdota da mulher abandonada que por
determina com energia as causas. Demais Ja- sua vez abandona o filho. Talvez haja alguma
ckson de Flgueiredo perde tempo e estudar razào no segundo defeito apontado. Effectiva-
certos pensadores modernos que, apesar de 11- mente o caso cheira um pouco a sub-litteratufa.
gados ao pensamento de Pascal, nào tiveram O que nos indignou foi a poetisa de "POINT DE
malto grande influencia sobre a inquietagào MIRE" criticar o sonho de Carlito. Bis comò o
moderna. Assim a influencia de Secretan so- percebe: "Mas Càriito poeta sonha mal. O so-
bre o pensar irrequieto e vaidoso dos nossos nho objectivado no film choca corno alguns ver-
dias nào nos parece tao evidente quanto ao A. sos de Casimiro Delavigne Intercaladas às "IL-
se sfigura... mas o assumpto era vastissimo; LUMINATIONS" de Rimbaud. Em vez de anjos
e Jackson de Flgueiredo se cingiti especialmen- alados e barrocos, deveria slmplesmente mos-
te às Irradiagoes do genio de P a s c a l . . . O por- trar-nos "pierrots" enfarinhados ou alnda outra
tngués do livro è ruinzinho. O A. lida mal a cousa e seu film conservar-se-hia puro. Mas
lingua. Nào lhe dà relevo nem numero. E é quantos poemas ruins tèm os malores poetas!"
pena. Jackson de Flgueiredo sendo.nào ha ne- Felizmente nào se trata d'um màu poema. O
gar, um dos mais perspicazes e rectos cultores sonho é justo uma das paginas mais formida-
da filosofia, propriamente dita, no Brasil mo- veis de "O GAROTO"- Vejamos: Cariito é o
derno,, està destinado a escrever, com o evolver maltrapilho e o ridiculo. Mas tem pretengdes ao
e o aperfeigoar-se, dos milhores livros que nesse amor e à elegancia. Tem uma instrucào (seria
ramo das sciencias, atè hoje se escr.everam em melhor dizer conhecimentos) superficial ou o
lingua portuguezn. que è pelor desordenada, feita de retalhos, co-
No adinlravel desenvolvimento do seu espiri- Ihidos aqui e além nas correrias de aventura.
. to. Jackson de Flgueiredo, jà agora interamen- E' profondamente egoista corno geralmente o
te catolico, é um dos mais notàveis fildsofos do sào os pobres, mas pelo convivio diurna na des-
Brasil. Seu novo livro e a manifestacào duma graga chega a amar 0 garoto corno a filho. Além
altissima nobreza e duma serenidade orgulhoss disso jà demonstrara sufficientemente no correr
e justn. E demonstrn —<- o que è de grande im- da vida uma religiosidade inculta e ingenua.
portartela neste paiz de cavalgaduras em que Num dado momento eonseguem emfim roubar-
ser oatdlico é Sinai de escravidào e fraqueza — lhe o menino. E a noite adormecida é perturbada
quanto è belo o homem de hoje que, atravès pelo desespero de Carlito que procura o engei-
das escravidoes vaidosas produzidas pelo indi- tado. Com a madrugada, chupado pela dor, Car-
vidualismo, soube, por ser livre, fazer-se cris- lito vae sentar-«e à porta da antiga moradia.
t3o e catolico romano. Linda ligào. Òahe nesse estado de somnolencia que nào é o
somno alnda. Entào sonha. Que sonharia? O
G. d. N. lugar que mais perlustrerà na vida, mas enfel-
tado, ingenuamente enfeitado com fktres de pa-
RECEBBMOS: pel, que parecem tao lindas aos pobres. E os
anjos apparecem. A pobreza inventiva de Car-
Nouvelle Revue Francaise — No summario do lito empresta-lhes as caras, os corpos conheci-
numero de Julho: um artigo de J. Rivière «?obre dos de amigos, inimigos, poljcias e até càos. E
politica interna clonai. Um fragmento de Pierre os lncidentes passados misturam-se às felicida-
Hamp. Poema de Mélot Du Dy. Um conto de des presentes. Tem o filho ao lado. Mas a briga
Louis Aragon. Inedito de Dostoiewsky. RgflexSes com o boxista se repete, E os pólicdas perse-
sobre a litteratura por A. Thibaudet. Chronicas. guem-no. Carlito foge num vóo. Mas (è estaes
La Criée — Numero de Julho com interes- lembrados do sonho de Descartes) agita-se, per-
sante collaboracelo de Marcel Milliet, Leon de o equilibrio, cahe na calgada. E o sonho re-
Frane, etc. pete o accidente: o policia atira e Carlito alado
tomba. O garoto saccode-o, chamando. E' que
Ainda "O CAROTO" na realldade um policia chegou. Encontra o va-
gabundo adormecido e sàccode-o para accor-
CINEMA dal-o. Bste é o sonho que Celina Arnauld con-
sidera um màu poema. Como nào conseguiu ella
penetrar a admiravel perfeicào psychologica que
"O GAROTO" por Charlie Chaplin è bem uma Carlito realizou! Ser-lhe-hia possivel com a
das obras primas mais completas da moderni- mentalidade e os sentimentos que possuia, no
dade para que sobre elle insista mais uma vez a estado psychico em que estava, sonhar pierrots
lrriquleta petulancia de KLAXON. Celina Ar- enfarinhados ou minuetes de aeroplanos! Estes
nauld, pelo ultimo numero fera de serie da aeroplanos imaginados pela adoravel dadaista è
"ACTION", commentando o film com bastante que viriam forgar a intencfto da modernidade
clarividencia, denuncia-lhe dois senoes: o sonho

k 1a x o n
14 tratar de musica, espirrou pelas prelhaa. E, cpn-
em detrimento da observacSo da realidade. Car-
lito sonhou o que teria de sonhar fatalmente, fessamos, enormes de pavilhào devem ellaB ser
necessariamente: urna felicidade angelical per-
turbada por um subconsciente sabio em coisas pois sào estes os espirros do erudito Gaston:
de soffrer ou de ridiculo. 0 sonho é o commen- "Buenos Ayres tornou-se o maior centro dessa
tario mais perfeito que Carlito poderia construir
da sua pessoa cinematographica. Nào choca. cultura, é ella que aspira a tràduzir os idèaès
Commove immensamente, sorridentemente. E, que agitam o Perù', o Equador, o Cbile, o Me-
considerado à parte, é um dos passos mais hu-
manos da sua obra, è por certo o mais perfetto xico, o BRASIL, o Uruguay, etc..."
cerno psychologia e originalidade.
O snr. Henry PrUnières, director da "Rèyue
M. de A. Musicale, naturalmente nào leu o espirro. Quem
comò elle escreveu jà sobre o concerto realizado
no Rio de Janeiro no secujo 18, por occasiào da
LUZES & coroagào do Vice-rei (Feuillets d'Art) ; quem
corno elle jà àbrigou na "Revue Musicale" uni
REFRACgOES artigo do snr. Milhaud spbre a musica brasilei-
ra, certamente teria escoimado das pagina^ de
Està entre nós o escriptor portuguez Antonio sua revista umà tal asnidade.
Ferro. Ao autor dessa adoravel "LEVIANA" Mas nào é a possivel erudìgào causada pelo 'ar-
offereceram os Klaxistas um jantar. Houve ale- tigo nos leitores da " R e m e Musicale" què noi
grià, amizades, discursos e trocadilhos, Num interessa agora. O que nos interessa é a psycho-
dos momentos um dos convivas escreveu no logia do tao argentino quàò erudito Gaston. Pen-
cardaplo: " S . Paulo precisa importar ferro". Ao
sa um pouco lettor, nào te irrites, e riros ulna
que o homenageado immediatamente respondeu:
hora' sem cessar. Pois nào é que um homem, um
"porque Ferro se importa com S. Paulo". O eéu
Gaston ! constipa-se tao patrioticamente, a pon-
escureeeu. A Terra treméu. E muitos morto»
to de ir. espirrar, no coragào da Franga, qtie
ressuscitaram.
Buenos Ayres traduz os anceios musicaes do
Brasil! Caramba! Que valiente! E' impagavel!
Um tal senhor Gaston O. Talamon espirra por Que nos importa se a pianeira de Marselha pro-
"La REVUE MUSICALE" umas indicag5es so- c u r a r nos diecioharios musicaes a historia de
bre "O Estado actual da Musica Argentina" Carlos Gomes, ou no artigo do snr. Milhaud os
Èstava no seu diretto. A Argentina é Um paiz pomes de Nepomuceno e Villas-Lpbos, Nazareth
mui honrado e cantador que tambem deve ter ou Tupinambà, todos, todos compositores argen-
na sua evolugào sonora um estado actual. Era tinos, concorrendo para a grandeza musical de
tambem justo que apparecesse um erudito Gas- Buenos Ayres! Que nos importa? E' tempo de
ton que desse noticia da cousa aos leitores da alegria ! E' o centenario da independencia de
"Revue Musicale" Mas o erudito Gaston, espir- Buenos Ayres que celebramos a 7 de Setembro!
ra suas indicagòes de uma maneira originalis- Demo-nos as màos! Bailemos ante a estatua de
sima. Nào tendo tempo para desoccupar as ven- Monroe! A America para os buenairenses ! E
tas escancaradas que estavam para respirar o enviemos ao erudito Gaston um sorrìdente, mui-
perfume sangrento da carne crua, e talvez por to amigo, espirro de amizade!

k 1a x o n
Em nota de 20 de Agosto passado, fallando
15 quentes. Com fetore. Macrobio-Ephebo, *que se
sobre "Osv Condemnados" de Oswaldo de An- desenvolve corno um adolescente, coberto de es-
drade.affirma o "Jomal do Commercio" que
os mòdernistas ficaram "damriados" com o ap- pinhas", — as reformas — que salta com ala-
pareclmento desse livro de "velha escola". En- cridade, — o jazz-band — e que, às ve*es,
gana-sé o articulista. E enganou-se 3 yezes. O todos os mezes, aposta corrida suffocado, •— à
numero é slnrotomatico. l o enea^o: A expres-
,'sàV "cavallos sobrehumanos" è do autor dos KLAXON! Macrobio-Ephebo!
"Condenttiados". 2.o engano: Chamar de "ve- Sinto jnnto a mim o rumor do Rio de Janei-
lha escolft" à simultaneidade. ao processo cine-
matógraphico. ao eruressionlsmo e principalmen- ro, a cidade diiatada, fetta para r o j o e s . . . e
te ao orincfbio estheMco do unico plano intèl- onde existe um DEUS inìcial e immanente, de
iée,tnal da "Trilogia do Exilio" é desconbecer a
"velha escola" e o sentimento de rhodemìdade. quem ella recebe rythmos e movimentos: BUT
Por une principiòs criticos se nauta o articulis- BARBOSA- Ma» ninguem conhece BUY BAR-
ta? Certamente nào vive, na epoca em qufe vive. BOSA nem ninguem se preoccupa com a Tnde-
Pois saiba oue em todas as enocas de constmc-
gjó'.os creadores sào yerdadeiro« nrimttivos. .AR- pendencia, nào. Quando o policia, nervoso, api-
sfm'fòl coni os das cav»rnas onatèmarias assiro ta, à e>:quina, nès todos corremos é janella.
foi com' os do • nttrip'ln loffi anterior à Renas-
fa+on «««ITTI S<M«^ com '•<* ho»*">Ufl do l.o. e é Dahl o successo das embaixadas. Dahl Antonio
minsi certo ainda 2.o qirrteis do secuìo 20. Os José de Almeida. Dahi a marchà na Avenida.
prtraiHvos aoresentam s*more 2 te^dencias, Dahl Coelho Netto com 130 pulsagoes por mi-
hha<M>o.ue oppostasi o molismo e a ett*vi\w*o*o.
ir«&\rrt<*Tite sTTrìb^'c '"vran co™*""*^' "^m svm- nuto ! ! !
is«.1*f=-)rr»«> mo'-ol. Os^-^ld" de Anc'-^d» embora Que ficarà io Centenario? Talvez unica-
hài&.'v^-n larga risr»*-'"»*n lirica r7^,"» "Condeiri-
WadT". segue a ortmeira dessas t e n d e n d o , o mente as torres que se ergtìeram no recinto da
yapHojn" A de torlo* os. tfliriTifts. sia bentos h»m : Exposigào.
irt"s re^lizal-i cnri .qì*nn1,'3Tiei'iade.. cinPTr><itie'i- Eu adoro as torres, Tèm ancia», coitadas.
nipito facendo cóisas> f->cto«i * a reffle"Hr»m to-
dos n n m s è Diano. COTV>«» fine <y .i«e*,*"";',n d o " u è Està notte pengei numa rua de Sào Bento,
la,* Tifld»rfà c^qrnqr' a nprsnec^va intellectnal è asnhaltada, chela de torres, e que nào tivesse
construir obra in^dernisstma. duma actualidade nunca firn : que emOcào !. . .
l<iù<» o articulista ignora e o Brasil centenario
tambem. Portanto ( 3 o enganol saiba o ar*1cn- Outra cousa tambem me tem commovido: a
tìsta oue o barulho dos monernizantes contìnua- representacao japoijeza, solenne, de seda, aper-
rà. nào corno berros e prantos de damnados, tando a mào de OEpitacio, o brasileiro magnifi-
mas corno epinicios de alegria e orgulho justis-
slmo. co, que, barbeado e radiante, parece ter sahido
bontem do fundo vivo da Natureza.
Adeus ! 38 ,à «sombra.

7 de setembro ! . . .
"Devo assignalar, finalmen-
Abro as_duas janellas do meu quarto para te, està circumstancia agrada-
a palzagem que se repete todos os dias e que rrifissima: na Bahia nào me-
«Ira a nsvchose Iiteraria do
eu decòro todos os dias. "penumbrismo", nem os inno-
33 é e ombra. Centenario!!! vadore» pau. .. liXas sào !e-
vada Cric) a sèrio".
Um calór surprehendente que tudo di'ata, SAUL DE NAVARRO, no
que, tudo expande, que tudo abre, para a festa "AV»ido Literario". Anno 1.
de hoje. N. IV.
O céo, feliz, s6be, azul, uniforme e polido, Assim, nessa linguagem nausea.. .bunda, es#e
annunciando ao europeu, que desembarca, sitan- penhor bahiano cosinha um pessimo vatap.1
do, no Rio, os cem annos do Brasil. Cem annos em homenagem a alguns conterraneos seus que

k 1a x o n
tèm o mào gosto de formar o que elle chama
10 Os cavalheiros que fazem literatura nos cah-
"a pujante intellectualidade bahiana" E cita tos de rua e de salào espantain-se. Antonio
Ferro representa Portugal culto e é Klaxistri.
o senhor bahiano dois sonetos parnasianos, re- Dario Nicodemi sauda Menotti Del Picchia e
presen(ativo& da moderna poetica sua patricia. a geragào Klaxon num telegramma de amor so-
Parnasianismo, na Bahia, é pardoxo. Porque a lidario.
Bahia absolutamente nào prima pela férma,: o E' a onda que cresce para castigo dos que
vatapà, por exemplo, é o prato mais inai apre- acreditam ainda no romancista Canto e Mello *
lemtoràm com saudade declamatoria os bons
sentado que ha no mundo. O senhor bahiano tempo* em que o Sr. Aristeo Seixas era poeta
acha que esses sonetos sao o que se póde cha- e Tina Di Lorenzo eh ora va Rostand no ex-Sant'
mar o "succo" Nào sào o succo, meu senhor! Anna. Bons t e m p i n h o s . . . p i n h o s . . . tempo dos
Sào o bagago. Conhece as laranjas de umbigo p i n h o s . . . punhos cerrados para as Pauiicéasi
que rebentam abundantemente na "doce paz do Antonio Ferro, nas luzes de um hall, è a
*olar avoengo" de Itaparica? Pois em litera- serenala de Portugal. E' bello. Ao meio-dia, é
postante, aggressivo, trepidante corno um Kla-
tura corno em laranjas: chupa-se o succo e xon. Impropriedade. Caixa de soccorro... De-
atira-se fora o bagago. O parnasiahismo jà foi p r e s s a . . . o Sr. Alvaro Guerra!
o succo: agora é so bagago. Creia isso. Nào se espantem, estamos na Idade do Jazz-
Band. Jà vou tornar o b o n d e . . . Al!
Mas o senhor bahiano é incoherente: elogia
muito a vida moderna da sua grande capital (Segue-se o fallecimento do lettor passadista).
e remata; A' mela notte, "o noctivago tem de
tornar o ultimo bonde, pu dormir nos bancos
dos j a r d i n s . . . " Nem tylburis ìia sua linda e Inaugurou-se o primeiro salon paulista. Ao
adeantada metropole, caro senhor? ! la do de appetitosa feira de alexandrinos, ca-
tiras coisas; sargentinhos de Wasth, vallea do
'Numa cousa estamos, porém, de accordo com Sr. Paulo do Valle que valem alguma coisa, ro-
o senhor bahiano: é que a Bahia parece mesmo gas do ISr. Paulo Rossi, ètc. Sd falta o Car-
ser "bea terra" Mas estamos tambem de ac- lito, sim, o Benedicto Carlito, o de Santos.
cordo com o resto da modinha: "ella là e . , Compensag5es. Duas grandes notas de arte
nós aqui"! — Annita Malfatti e Tarcila Amarai.
Emfim, é um eaforgo — jà o disse em dls-
curso o nosso Menotti Del Picchia. E um es-:
forgo que vale mais que todos os officiaes sa-
Depois de Graga Aranha, Antonio Ferro. Ago- lons do Rio de Janeiro. N3o somos optimistas
ra Dario Nicodemi. E' a familia1 de Klaxon Reproduzimos apenas a opiniao dos exposito-
que cresce e se confirma. res paulistas. Estamos com el'es.

k l a x o n
De Mario de flndrade De Oswaldo de ftndrade

Paulicea
Desia ira do

Em todas as Em t o d a s as
hvranas livranas

De Ouilherme de Olmelda De Vin. Ragognetti

BREVEMENTE
BBEUEMONÌE
Natalika edicào KLAXON

Gazarra
Messidor, traducgào
Cittadina
franceza de Serge MILLI ET






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