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“ISTO É O MEU CORPO”

Capela Sixtina (Roma): Michelangelo, em lugar de pintar a Criação por meio da


palavra, o faz por um
contato pessoal, sensível. Através dos dedos que se tocam, flui a
corrente de vida que une o céu e a terra. Para afirmar a
reciprocidade entre Deus e o ser humano o artista usou o corpo e
o emprestou a Deus.
O nosso corpo e o dos demais nos pede espaço, tempo, atenção, alimento e
sobretudo nos pede descanso e bem-estar, sabedoria e inspiração...
O corpo não é só a unidade de meus membros, mas a presença de minha
pessoa; por ele estou e sou.
No entanto, do corpo temos tido suspeitas e o temos olhado com desconfiança.
A primeira constatação que surge é a vivência de um corpo ao qual se teme e do qual se desconfia.
O corpo passa a ser vivido como lugar de suspeita e não de encontro; por isso, reprimimo-lo,
censuramo-lo quando surge prazer naquilo que ele realiza.
O estranhamento e a distância do próprio corpo termina em alienação e desconhecimento.
Não aceitar o corpo é atentar contra a vida.

Uma boa concepção do corpo supõe evitar a parcialização, a polarização e a


dicotomia e buscar a harmonia e a integração. Para ter uma visão e intuição
completa do corpo é necessário contemplá-lo em sua totalidade e em sua
originalidade: é “meu” corpo; conheço-o e reconheço-o; sei descrevê-lo;
não é um estranho para mim.
Com, em e pelo corpo, vivo minha história, caminho pelo vida e tenho minha
aventura de crescimento e
de queda, de amor e de conhecimento, de encontrar-me com
os outros e comigo mesmo, com meus desejos e minhas
fobias, minhas alegrias e minhas dores, minhas esperanças e
meus desesperos, minhas desilusões e minhas vitórias...
Tudo isso está escrito em minha “carne”.
Este corpo me limita e me define. Cada corpo é original e irrepetível; o meu
também.
Ele me situa no espaço e no tempo, me separa e me une aos outros; conhece o
que é bom e belo e também o que é desagradável e mau.
Não há dúvida que quando nos encontramos com uma pessoa rica em bondade, entrega generosa aos
outros, simplicidade e humildade, de coração grande e capaz de perdoar, nos damos conta que seu
rosto é luminoso, sereno, cheio de uma beleza única, interior, espiritualizada; irradia alegria, serenida-
de, harmonia, paz...
Não é fácil chegar a uma relação madura, feita de simpatia e de acolhida para com nosso corpo.

O corpo é o companheiro inseparável de nosso caminho. É preciso começar por


sentí-lo, percebê-lo, escutá-lo. Mas é preciso ir mais longe: podemos afirmar
que o corpo se transforma em caixa de ressonância da “voz de Deus” que nos
previne contra caminhos equivocados e nos orienta para uma vida natural e
plena.
Quem não escuta nem percebe seu corpo não pode compreender o sentido da
vida, do amor, das relações... pois cairá no narcisismo de seu próprio ego. É
necessário dar tempo ao corpo, apreciá-lo, cuidá-lo, querê-lo, comunicar-se com
ele com carinho. Não é possível viver feliz sem relações amistosas e próximas
com o corpo, para poder entendê-lo e expressar-se adequadamente com ele.
Para conhecer-se é necessário possuir o corpo, querer o corpo, observar o
corpo, olhar para dentro do corpo com atitude reverente.
É preciso sentir para poder conhecer-se; é preciso expressar-se para dar-se a
conhecer.
Minha própria casa é meu corpo; o templo onde Deus se revela a mim. Só eu posso habitar e possuir
meu corpo. Eu me identifico com meu corpo, sem o qual não posso viver. Deus anima meu corpo;
mas não pode habitar em mim a graça de Deus sem a colaboração e a abertura de meu corpo. Eu sou
meu corpo animado, com vida e com sentido.
Eu decido com meu corpo e graças a ele.
Texto bíblico: 1Cor. 6,15-20 Mt. 6,25-34

Na oração: Você vive a relação com seu corpo como ob-


jeto de suspeita ou como lugar de encontro?
- “Senta-te! Senta-te como uma montanha!” Sentar-se como uma montanha quer dizer enraizar-se,
descer...
- Orar não é decolar, mas aterrissar, reencontrar sua terra, suas raízes...

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