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A progressão na carreira de cada professor depende, não apenas da sua própria classificação,
como também da que os outros professores da mesma escola tiverem. Avaliados e avaliadores
pertencem à mesma escola e são muitas vezes concorrentes aos mesmos escalões da carreira, o
que (por si só) constitui forte motivo de impedimento.
E, mesmo quando pertencem a escalões diferentes, é óbvio que o avaliador tem interesse directo
nas classificações que atribui ao seu avaliado: se estiver posicionado em escalão igual ou
superior, só terá a perder com a subida de escalão daquele; se, o que a lei também permite, o
avaliador pertencer a um escalão de carreira inferior ao avaliado, é-lhe oferecida a possibilidade
de o fazer marcar passo na carreira e poder alcançá-lo.
2. A divisão entre professores e professores titulares não acabou. Foi substituída pela divisão
entre avaliadores e avaliados.
Embora o Estatuto de 2010 tivesse retomado (em teoria) a carreira única, o novo modelo de
avaliação reintroduziu (na prática) a divisão dos professores em duas categorias. Com a
agravante de a actual divisão conseguir ser ainda mais artificial e arbitrária que a anterior.
A pirâmide dos avaliadores é encimada pelo director da Escola que nomeia e avalia os
coordenadores de departamento. Estes escolhem e avaliam os relatores que vão, por sua vez,
avaliar o restante corpo docente. A legislação estabelece que o relator deve em princípio
pertencer ao mesmo grupo disciplinar que os seus avaliados e ter maior ou igual posicionamento
na carreira e grau académico do que estes, mencionando ainda uma hipotética “formação
especializada em avaliação do desempenho”. É porém completamente omissa quanto ao modo
como estes diferentes critérios são ponderados e compatibilizados.
Mas a ambiguidade não fica por aqui. No caso do docente com maior posicionamento na carreira
não ser escolhido, a lei prevê que possa ser escolhido como seu relator um docente situado em
escalão inferior. Por outras palavras, o posicionamento na carreira poderá nada valer. E como
conceber que um coordenador de grupo disciplinar possa não ser o relator dos docentes do seu
grupo? Ou que um relator seja avaliado por um coordenador pertencente a grupo diferente do
seu? E outras situações não menos absurdas são igualmente possíveis.
Outro aspecto não menos gravoso, por acentuar o impacto da falta de imparcialidade no
processo de avaliação, é a ausência completa de padrões e metas de avaliação objectivos, bem
como de instrumentos de avaliação fiáveis e precisos. Apesar de tudo, nas fichas de avaliação do
modelo de 2007, aspectos como a assiduidade ou a formação contínua eram traduzidos de forma
objectiva em classificações a atribuir aos respectivos parâmetros.
Foi mantida a farsa da entrevista individual entre avaliado e avaliador, que apenas serve dois
propósitos: limita as possibilidades de defesa do avaliado, pois este, se não for à entrevista, não
poderá reclamar; permite ao avaliador fundamentar melhor a sua proposta, ao ter prévio
conhecimento dos argumentos que o avaliado poderá usar.
Por outro lado, antes, quando o avaliado reclamava da classificação, o avaliador ficava sujeito ao
parecer da comissão de coordenação de avaliação de desempenho, ao passo que agora a
apreciação da reclamação recai nos mesmos que a tomaram. E se a classificação for mantida e o
avaliado quiser recorrer? No modelo anterior, a apreciação do recurso cabia ao director regional
de educação. Agora cabe a um júri de três membros, presidido por elemento designado pela
direcção regional (que, como é da praxe, pedirá ao director que o sugira), mas dele fazendo parte
o próprio avaliador. Como pode alguém decidir o recurso que recaiu sobre a sua própria
decisão? Atente-se, mais uma vez, no artigo 44º do CPA, “Nenhum titular de órgão ou agente
da Administração Pública pode intervir em procedimento administrativo ou acto: e) Quando se
trate de recurso de decisão proferida por si ou com a sua intervenção.”
Em todo o caso e para além do desenlace do recurso ser por demais evidente – classificação,
reclamação e recurso são decididos no interior do mesmo círculo de pessoas – mais uma vez é
patente o desprezo de quem elaborou estas normas pelas leis gerais que regulam os princípios da
justiça, da transparência e da imparcialidade que devem presidir a todos os actos de um Estado
de Direito.
6. Os professores centram o seu trabalho na sua própria avaliação e desvalorizam o trabalho
com os alunos.
Sendo claro que esta versão da ADD só poderá ter como consequência a degradação da qualidade do
trabalho pedagógico nas Escolas, com consequências nefastas, para alunos e professores, propõe-se a
sua imediata suspensão, com vista à substituição (em tempo útil) por um modelo alternativo que
obedeceria aos seguintes princípios-base:
1. O único avaliador em cada Escola é o director (ou equivalente), ou o seu substituto legal, em
caso de impedimento, terminando a divisão artificial entre avaliados e relatores, sucedânea da
que havia entre professores e professores titulares.
3. São três menções a atribuir (por exemplo, BOM – SUFICIENTE – INSUFICIENTE), de acordo
com a pontuação atribuída nos parâmetros avaliados.
4. A classificação final é atribuída a cada professor no final de cada ano lectivo e é tornada pública
na respectiva escola, com a indicação da pontuação em cada um dos parâmetros.
5. Caberá aos serviços centrais do Ministério da Educação decidir todos os recursos apresentados.
Estas linhas gerais têm pontos comuns com o sistema de avaliação introduzido pelo Estatuto de
Carreira de 1990, que durante quase duas décadas permitiu (sem constrangimentos, nem
instabilidade) que cada professor crescesse profissionalmente. A principal diferença reside na
pontuação agora associada a cada parâmetro de avaliação e na maior diferenciação nas menções
qualitativas a atribuir, o que reflecte um maior nível de exigência e de objectividade.
Estamos convictos que a adopção de um modelo baseado nestes princípios possibilitará que todos os
professores encarem a sua avaliação, não como um entrave à sua actividade profissional e uma fonte
inesgotável de injustiças e conflitos, mas como o corolário sereno da actividade desenvolvida no
decorrer do ano lectivo, e também a recuperação pelas Escolas do ambiente de trabalho efectivo e de
tranquilidade, desaparecido desde há vários anos.
Até porque as duas versões de ADD do Estatuto de 2007 falharam clamorosamente mesmo na tão
propalada intenção de diferenciar os professores com base no mérito. Os números oficiais são, a
esse respeito, lapidares. Havendo cinco menções qualitativas a atribuir, da aplicação da versão
original, em 2007/08, a cerca de 12 mil professores, resultou que mais de 99,5% tiveram
classificações de Excelente, Muito Bom ou Bom; por sua vez, a aplicação do chamado simplex, em
2008/09, a mais de 121 mil professores, deu como resultado que mais de 99,7% obtivessem
igualmente boas classificações, havendo em todo o país uns escassos 332 professores com Regular e
16 (menos de um por distrito!) com Insuficiente. E, mesmo com estes resultados, foram apresentadas
quase duas mil reclamações. Tudo isto, com um sistema de avaliação, apesar de tudo, mais credível e
objectivo do que aquele que agora se pretende implementar.