Proposições para subsidiar a declaração de salamanca – linhas de ação
1. Os municípios de todo o território nacional devem criar, o quanto antes,
suas assessorias para assuntos da pessoa com deficiência, constituídas de um assessor, nos municípios menores e dois assessores, nos municípios maiores. Essas assessorias não acrescentam, por si só, grandes despesas aos municípios e podem realizar com facilidade o trabalho de base que está faltando. Funcionarão como instrumento de orientação e elo entre a prefeitura e as pessoas com deficiência, suas famílias e os serviços da comunidade, inclusive Ministério Público e meios intelectuais, visando a promoção social dessas pessoas. Defendemos a proposta como ação-político-social da mais alta importância para o resgate da dignidade humana de todos os brasileiros com deficiência, que ainda continuam mergulhados no analfabetismo e relegados à margem do desenvolvimento social. Porém é preciso abrir o canal de comunicação, envolvendo todas as instituições empenhadas no processo de inclusão, com apoio da mídia, para levar a idéia a todos os municípios com a presteza que a situação exige.
2. O empreendimento objetivo da inclusão educativa – Vontade Política. É
conveniente que organizações governamentais e não-governamentais, seus administradores e administrados, bem como seus beneficiários, estejam sempre motivados à prática de uma filosofia ética, verdadeiramente favorável aos objetivos da educação e da reabilitação, sem disfarces de possíveis eventos distorcivos. Para chegar a essa realidade, as organizações terão de adotar, desde o seu planejamento, objetividade e propósito de fazerem o melhor que for possível. Ás vezes, as organizações têm objetividade, mas lhes falta a vontade de fazer melhor. Estão convencidas de que fazem o bom. Por essa razão, muitas vezes, caem na estagnação, não sendo capazes de identificar as próprias falhas e promover as mudanças necessárias para o melhor. Assim, por entenderem que já fazem o bom, quase sempre suas mudanças se tornam inócuas ou acontecem para pior. Portanto, progredir, sem o convencimento de que tudo já está como deveria estar.
3. Da formação de profissionais na inclusão social.
São de vital importância o treinamento do pessoal de serviços contratados na comunidade para detecção precoce de deficiências, a prestação de cuidados básicos, o encaminhamento a serviços apropriados e as medidas de acompanhamento, bem como o treinamento de equipes médicas e de pessoal dos centros de orientação. Sempre que possível, todos esses aspectos devem ser integrados em serviços correlatos, tais como os cuidados básicos de saúde, as escolas e os programas de desenvolvimento comunitário. A formação especializada de professores de nível básico constitui um âmbito dinâmico e, sempre que possível, deve ser realizada no país essa educação será ministrada ou, pelo menos, em locais onde o ambiente cultural e o grau de desenvolvimento não sejam demasiadamente diversos. Para que a integração tenha êxito, é necessário que se criem programas adequados de formação de professores de Ensino Fundamental, tanto regulares quanto especializados. Esses programas devem ser o reflexo do conceito de educação integrada. Na formação de professores especializadas do Ensino Fundamental, é importante que abranja uma gama tão ampla quanto possível, visto que, em muitos países em desenvolvimento, o professor especializado do Ensino Fundamental irá fazer as vezes da equipe multidisciplinar. Cabe observar que nem sempre é necessário ou conveniente um alto grau de preparação e que, na sua maioria, o pessoal tem instrução de nível médio ou menos.
4. A contribuição da mídia na inclusão social.
Devem-se desenvolver pautas, em consulta com as entidades de pessoas deficientes, para estimular os meios de informação a veicularem uma imagem abrangente e exata, assim como uma representação e imagem equânimes sobre as deficiências e as pessoas portadoras, no rádio, no cinema, na fotografia e na imprensa. Um elemento fundamental de três pautas seria que as pessoas deficientes tivessem condições de apresentar elas próprias, os seus problemas ao público e de sugerir as formas de resolvê-los. É necessário estimular a inclusão de informação sobre a realidade das deficiências nos currículos para formação de jornalistas.
5. Cada cidadão docente ou não e os setores envolvidos assumirem suas
culpas e responsabilidades. Grande parte da sociedade está confundindo a inclusão como “passe livre”. Se fala tanto em inclusão, mas não se sabe incluir. A sociedade pensa que a inclusão é só uma permissão para que eles participem da vida, para que eles fiquem e convivam. Mas como incluir se não são respeitados, se suas necessidades não são supridas, se não há apoio para que o projeto de inclusão alcance os objetos esperados? É COMO SE FOSSE ASSIM: VOCÊ PODE ENTRAR, PODE FICAR, MAS EU NÃO SEI O QUE FAZER POR VOCÊ! Muitos políticos usam a condição de deficiente para mobilizarem a opinião pública, querendo transformar a inclusão em plataforma, como meio de subir ao pódio, para conseguir o voto do povo. Inclusão é uma questão de respeito humano e social. Temos que acabar com o jogo de empurra e empurra. Os pais matriculam seus filhos, valendo-se da LDB e da carta de Salamanca. Mas os professores e escolas se julgam despreparados para essa proposta. Então as crianças agrupadas nessa situação permanecem ainda segregadas dentro de salas de aula regulares. Para que a inclusão obtenha sucesso, é necessário incluir objetivos específicos e fundamentais para o trabalho com diversidade. As atitudes do professor revelam que elas são fatores determinantes no tipo de relacionamento que estabelece na sala de aula. Uma atitude igualitária e positiva encorajará a aprendizagem da criança, a interação com os colegas e o apoio ao aluno. Uma atitude discriminatória e segregadora trará discriminação, isolamento e fracasso educacional. Para que se possa transformar a escola na direção de um ensino de qualidade e, em conseqüência, inclusivo, é necessário agir urgentemente: colocando a aprendizagem em 1º lugar; garantindo tempo e condições para que todos possam aprender; garantindo o atendimento educacional especializado, preferencialmente, na própria escola comum da rede regular de ensino; estimulando, formando continuamente e valorizando o professor, que é o responsável pela tarefa fundamental da escola-aprendizagem dos alunos. Dessa forma, a escola deve ter um compromisso social não só com base na inclusão, mas também com a educação como um todo, visto que ela determina a aprendizagem como eixo da escola, garantindo aos alunos o conhecimento e reprovando a repetência, assegurando mais uma vez a aprendizagem como direito e dever de todos. Mas não é isso que as escolas têm feito, pois os professores continuam com a ilusão de que seus alunos apresentarão um desempenho semelhante, em um tempo estipulado pela escola para aprender um dado conteúdo. As escolas deveriam assumir que as diferenças humanas são normais. A aprendizagem deveria ser adaptada às necessidades da criança, ao invés de se exigir a adaptação da criança às condições prepreconcebida aos regimentos internos, respeitando o ritmo e a natureza do processo de aprendizagem. A distância entre discurso e prática inclusiva das escolas particulares é enorme. Uma Pedagogia centrada nas necessidades da criança e na melhoria do ambiente escolar é benéfica para todos os estudantes e ao conjunto de sociedade.