“Compreender” o ser humano não indica apenas algo relativo ao intelecto.
Etimologicamente – do latim “cum” e “prehendere” – sugere os significados de “abraçar”, “acolher”, “aceitar”, “perdoar”. O vocábulo compreender possui uma conotação afetiva. Compreender o ser humano a partir da realidade do limite gera uma atitude de profunda compaixão por ele. Trata-se de uma consideração do ser humano que parte de dentro, das vísceras da pessoa. A importância de rezar o limite está em estimular o exercitante a se tornar testemunha “misericordiosa” dos próprios limites. Só na aceitação do limite é que a pessoa poderá encontrar o conteúdo do humano, a reconciliar-se consigo mesma. É paradoxal que o ser humano se humanize precisamente na aceitação daquilo que constitui para ele o risco e a ameaça maior: o limite. O limite não é uma ilusão, mas o que existe de mais real na realidade do ser humano; ele se apresenta, de fato, solidamente ancorado no limite. O limite é um dado primordial, no sentido de que é a primeira realidade que funda a nossa experiência humana. O limite é a dimensão na qual o ser humano nasce, vive, cresce, se move e experimenta a si mesmo. De fato, o limite é aquilo que preenche tanto a essência quanto a existência do ser humano. O ser humano não pode evitar o encontro com o próprio limite. Ele “vive” no limite. Nele, o li- mite atua em todas as dimensões do seu ser (físico-psíquico-espiritual). O homem é definido como “ser-no-limite”. O limite jaz na esfera da existência, na dimensão mais profunda, no santuário do ser humano. A partir desse santuário, o limite age incessantemente sobre toda a realidade da pessoa. Todas as nossas operações e atividades cognitivas e volitivas são marcadas pelo limite. Nossa maneira de pensar, perceber, compreender, estabelecer relações, comunicar, desejar, amar, crer, confiar, esperar, perdoar... serão sempre “exercícios” limitados e defeituosos. A contradição, a incoerência, a instabilidade, a indecisão, a indeterminação, a desarmonia... nos acompanham por toda a nossa vida.
No entanto, o limite não permanece estático, parado. Ele é dinâmico, vigoroso. É
ativo como um gerador A perspectiva do limite introduz no nosso sistema interior um constante exercício de adaptação à realidade e, portanto, à mudança. Melhora, por isso, a qualidade da mudança, da maturação... O que parecia ser um defeito revela-se como a verdade do ser do homem: o limite é a plataforma de lançamento. O ser humano lança-se para fora de si mesmo alavancado pela própria finitude. Porque se sente carente, indigente, limitado... lança-se numa busca de algo que o preenche e dê sentido à sua existência.Desse modo, o “ser-no-limite” revela-se como um ser que se abre continuamente. A fragilidade mesma revela-se necessariamente fonte de uma transcendência inesgotável. A transcendência preenche todo o espaço da fragilidade. Ao permitir a transcendência, a indigência torna também possível o processo mesmo de “humanização” do ser humano. Essa própria condição de miséria é também a verdadeira riqueza do ser humano. A indigência nunca atinge a sua medida; nada e ninguém parece aquietá-la. Nenhum horizonte parece ser capaz de contê-la. Segue-se que a única maneira de realizar-nos como seres hu- manos é através da consciência do limite, que faz nascer a disposição para a compaixão.
Texto bíblico: 1Cor. 1,17-31
* Reconhecer os próprios limites não é sinal de medio- cridade. É um gesto que requer muita coragem. * Encontrar Deus nos faz mais humanos. E quando nos humanizamos, assumindo a nossa condição humana - os nossos limites e potencialidades, alegrias e tristezas, esperanças e frustrações, pecados e conversões – nos aproximamos mais de Deus. * Esta é a forma de compreender o mistério da Encarnação: o caminho para Deus e o caminho para o ser humano são um único e o mesmo caminho. * Como você lida com seus erros e fracassos? Eles são ocasião de crescimento, de superação...? Que sentimentos você experimenta e como reage diante das fragilidades, limites...?